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Sebenta Práticas Natália 2018

Direito Fiscal (Universidade de Coimbra)

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Descarregado por Joaquim Varandim (felizmauricio@gmail.com)
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DIREITO FISCAL I – ano letivo 2017/2018


Aulas práticas Profª Natália de Almeida Moreno

1ª AULA
DIA 27/02/2018

DIREITO FINANCEIRO, DIREITO TRIBUTÁRIO E DIREITO FISCAL


O Direito Fiscal é um ramo autónomo do
Direito Tributário que, por sua vez, é um ramo
autónomo do Direito Financeiro.

O Direito Financeiro é o conjunto de normas


aplicadas às finanças do Estado, que regulam o
orçamento estatal/público e, como todo o
orçamento, o direito financeiro tem duas faces:
dos gastos e das receitas. O Direito Financeiro
procura regular o Orçamento Público e lida
tanto com as receitas do Estado como com os
dispêndios do Estado.

Tanto o Direito Fiscal como o Direito Tributário são conjuntos de normas que regulam as
receitas coativas do Estado. No entanto, dentro do Direito Tributário está o Direito Fiscal.

As RECEITAS DO ESTADO podem ser de vários tipos:

As que o Estado arrecada por arrendar os seus imóveis ou


PATRIMONIAIS concessionar a particulares a exploração de espaços ou
serviços públicos.

A principal fonte de receita pública. São igualmente


TRIBUTOS designados de receitas coativas, porque não há hipótese de o
particulares escolher se paga ou não, isto é, uma vez
ou receitas coativas verificado o facto gerador, o contribuinte é obrigado a pagar
(trata-se de uma imposição legislativa).

Estes são regulados, em geral, pelo direito tributário e têm diferentes espécies – 3º/1 LGT:´

a) fiscais e parafiscais;

b) estaduais, regionais e locais.

Os tributos compreendem – 3º/2 LGT e 165º/1/i CRP:

→ Impostos, incluindo os aduaneiros e especiais;


→ Outras espécies tributárias criadas por lei, designadamente:
► as taxas;
► demais contribuições financeiras a favor de entidades públicas.

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Aulas práticas Profª Natália de Almeida Moreno
O Direito Tributário regula todos os tributos, todas
as receitas coativas do Estado. DIREITO FISCAL
Já o Direito Fiscal apenas regula um tipo de tributo, =
que são os impostos. DIREITO DOS IMPOSTOS

IMPOSTO, TAXA E CONTRIBUIÇÕES


Se os impostos e as outras figuras são tributos é porque têm pontos em comum, que as
remetem todas para o género de “tributo”. O QUE TÊM EM COMUM?

• São todas receitas coativas;


• Para além disso, o que caracteriza um tributo são 3 elementos:
ELEMENTO São prestações de natureza:
OBJETIVO – Obrigacional;
– Pecuniária: ou seja, são prestações monetárias ou
equivalentes (é importante dizer que são prestações pecuniárias
porque antes podia entregar-se animais ou bens valiosos e porque
já existiram prestações de natureza pessoal, por exemplo, o
trabalho forçado);
– Coativa: isto é, são uma obrigação ex lege, por força da lei e
não por força da vontade do particular.

ELEMENTO Só o poder público pode instituir tributos (devido ao seu poder de


SUBJETIVO império), sendo estes a favor de entidades que exercem funções ou
tarefas públicas exigidas de contribuintes. Isto significa que as
receitas tributárias são pagas pelos contribuintes em favor do
Estado, para o Estado remunerar as suas atividades públicas, que
irão, por sua vez, ser garantidas aos contribuintes.

ELEMENTE Este elemento vincula os tributos a um fim, um fim que legitima a


TELEOLÓGICO própria cobrança dos tributos: realização do interesse público
ou finalístico (através de tarefas ou funções públicas).
Os tributos não podem nunca perder de vista a sua natureza de
receita do Estado ou a sua justificação enquanto receita do Estado.
Os tributos existem para que o Estado consiga arrecadar receitas,
para financiar as funções e tarefas públicas, de tal forma que os
tributos não podem ser de natureza ou caráter sancionatório,
nunca podem ser sanções.

O artigo 3º da LGT e a própria CRP no artigo 165º/1/i estabelecem que os tributos podem
ser impostos, taxas ou contribuições. No entanto, HÁ DIVERGÊNCIAS DOUTRINAIS:

CORRENTE Há duas espécies de tributos: impostos e taxas; diferenciam-se quanto à


DICOTÓMICA natureza (material) unilateral ou bilateral.

O fundamento da corrente dicotómica é que no Direito Fiscal, sobretudo,


o que importa é a substância/conteúdo das coisas e não a sua forma. O
Direito Fiscal tem um princípio da prevalência da substância das coisas.
Embora o legislador reconheça a existência de 3 espécies de tributo, a
corrente dicotómica defende que, de acordo com a substância das coisas,

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apenas existem 2 tipos de tributos. Isto porque as contribuições, embora
tenham forma de contribuição, quanto à sua substância vão ter natureza
jurídica de imposto ou de taxa.

CORRENTE Há três espécies de tributos: impostos, taxas e contribuições; alocações


TRICOTÓMICA típicas (formais) jurídico-positivas.

O fundamento da corrente tricotómica é o que está escrito no direito


positivo, na lei. É uma posição meramente formal, seguindo aquilo que diz
a lei.

POSIÇÃO DO Corrente dicotómica.


CURSO
Não se justifica uma terceira espécie tributária como as contribuições.
DR. CASALTA
NABAIS O curso defende que no Direito Fiscal o que releva é a substância das
coisas, isto é, o conteúdo! A forma é o que de menos importa. Aceita-se
que existam três formas, mas quanto aos tipos, é defendida a corrente
dicotómica. As contribuições ou são imposto ou são taxas. Apesar destas
terem uma designação própria, quando à sua substância, não se justifica
uma autonomização das contribuições.

IMPORTÂNCIA DA DISTINÇÃO ENTRE IMPOSTO E TAXA:

1. O conjunto de normas que regula os impostos, ou seja, o regime jurídico dos impostos
é diferente do regime jurídico das taxas:

IMPOSTO TAXA

PRINCÍPIO O artigo 165º/1/i CRP prevê que é da competência da AR, salvo


DA autorização ao Governo, criar impostos e regime geral das taxas e
LEGALIDADE contribuições.
LEGALIDADE FISCAL LEGALIDADE TRIBUTÁRIA
O artigo 103º/2 CRP dizem que os Ao encontro do artigo 165º CRP,
impostos têm de ser criados por lei somente o regime geral das taxas
e essa lei não pode ser qualquer está sujeito à competência exclusiva
uma. Esta tem de determinar os (reserva relativa, salvo autorização ao
seus elementos essenciais. Governo) da Assembleia da
República.
Este artigo enuncia estes elementos
essenciais: Para a criação da taxa é necessário
- A incidência dos impostos (o tal apenas que o regime geral da sua
facto gerador, isto é, a conduta criação seja preenchido. Isto porque
da realidade que vai gerar a a legalidade basta-se com o seu
obrigação de cobrar o imposto); regime geral.
- A taxa;
- Os benefícios fiscais; As autarquias locais podem criar
- As garantias dos contribuintes. taxas, não sendo para isso
Para a criação de cada imposto, é necessário que o Estado crie uma lei
necessária uma lei específica. para cada taxa. As taxas podem ser

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instituídas por outros tipos de atos,
que não a lei do Estado. Assim, a
concreta criação do tributo pode ser
efetuada por outros diplomas
legislativos

PRINCÍPIO Não podem ser retroativos (103º/3 Podem ser retroativas, desde que
DA CRP). Este princípio autonomiza-se proporcionais.
no princípio da proibição da Incide o princípio da segurança e da
SEGURANÇA
retroatividade. proteção da confiança geral.
JURÍDICA E
DA
PROTEÇÃO
DA
CONFIANÇA
PRINCÍPIO A igualdade é assente na A igualdade é assente na
DA capacidade contributiva de proporcionalidade.
contribuir para os encargos públicos
IGUALDADE
(4º LGT).

2. Para além do mais, o IMPOSTO é uma prestação pecuniária unilateral definitiva


coativa, enquanto a TAXA é uma prestação patrimonial bilateral definitiva coativa. Isto
entende-se quando se olha para o artigo 104º CRP e 4º/2 LGT, respetivamente:

Nos impostos (104º CRP) os factos geradores Nas taxas (4º/2 LGT) os factos geradores, que
são assentes na capacidade contributiva. geram a obrigação de a pagar, são três:

O que significa capacidade contributiva? É a • A prestação de um serviço público: A taxa


capacidade de contribuir para os encargos só é devida se o particular receber um
públicos, para dar dinheiro para o Estado. A serviço público do Estado.
capacidade contributiva trata-se de • A utilização de um bem de domínio
manifestação de riqueza. público: O particular paga uma taxa, neste
caso, porque o Estado deixou o particular
Existem três manifestações de capacidade utilizar um bem de domínio público.
contributiva, ou seja, factos geradores: • Remoção de um obstáculo jurídico
• Rendimento; (=proibição) ao comportamento dos
• Património; particulares: Quando o Estado remove o
• Consumo. obstáculo jurídico ele está a conceder um
direito ao particular.

Trata-se de uma prestação unilateral porque: Trata-se de uma prestação bilateral porque:
- Financiam as atividades públicas em geral - É uma prestação concreta de serviço
(103º/1 CRP); público, utilização de um bem do domínio
- O facto gerador é não vinculado: capacidade público e/ou remoção de um obstáculo
contributiva; jurídico a particulares;
- O produto arrecadado é não afetado ou não - Tem natureza específica, determinada ou
vinculado: O Estado não fica obrigado a afetar individualizada.

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a receita de um imposto ao serviço que a - O produto arrecadado é afetado, o Estado
realizou, ao contrário do que acontece com as fica obrigado a afetar a receita de uma taxa
taxas. ao serviço que a realizou;
(exceção: Lei do Jogo) - É sempre a contrapartida de uma prestação
- A contraprestação feita por parte do Estado feita pelo Estado. Assim, só é devida a taxa se
não é individualizada/personalizada, como se tiver verificado um dos 3 factos geradores.
acontece na taxa.
Por exemplo, quando vou ao Fórum e compro uma
camisola, pago IVA. Essa prestação serve para
cobrir, p.e., a segurança que me foi dada durante o
percurso, a eletricidade, os transportes públicos,
etc.
- No imposto há um poder de império estatal.
O contribuinte está na posição jurídica de
mera sujeição.

2ª AULA
DIA 06/03/2018

E AS CONTRIBUIÇÕES?

Embora o nome da contribuição seja contribuição, na verdade as contribuições ou são


impostos ou são taxas. Não são autónomas, isto significa que ou seguem o regime jurídico do
imposto ou o regime jurídico da taxa, dado que as contribuições não têm regime jurídico
próprio.

Estas podem ser (4º/3 LGT):

→ Especiais (de melhoria ou por maiores despesas): Grupos de pessoas ligados por uma
particular manifestação de capacidade contributiva decorrente do exercício de uma atividade
administrativa. Ex.: aumento de valor de prédios após obras de urbanização ou infraestruturas.

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→ Financeiras (taxas de regulação ou taxas de supervisão): Partilha de uma específica
contraprestação de natureza grupal. Ex.: atividade do estado regulador e supervisor.

(o produto das receitas pode ou não ser afetado)

Existem 2 TESTES CUMULATIVOS para saber se um tributo é imposto ou é taxa:

TESTE DA BILATERALIDADE TESTE DA PROPORCIONALIDADE

É o primeiro a ser realizado! A base do tributo decorre de manifestação


da capacidade contributiva ou da
Embora o imposto e a taxa sejam prestações proporcionalidade entre a ação/prestação
obrigacionais pecuniárias coativas que pública e os respetivos custos?
servem para financiar o Estado e as • Se a medida do tributo assentar na
atividades públicas, os impostos são capacidade contributiva estamos
unilaterais e as taxas são bilaterais. perante um imposto;
• Se um tributo se mostrar unilateral, se • Se assentar na proporcionalidade
houver na relação entre o Estado e o estamos perante uma taxa.
particular um nexo verticalizado, vai
ser um imposto; PORQUE É QUE NÃO BASTA A
• Mas se a relação entre o Estado e o BILATERALIDADE? Porque se não houver
particular for uma relação bilateral, o essa proporcionalidade, isto é, um equilíbrio
tributo vai ser uma taxa. das prestações, entre o tributo que está a
ser cobrado e a prestação que está a ser
Basicamente é saber: O Estado dá alguma oferecida, ainda que haja uma relação
coisa específica em troca de quem está a bilateral, vamos estar perante um imposto.
pagar o tributo? Quem paga o tributo recebe Até pode haver a relação bilateral, mas se a
uma utilidade individual (individualizado, medida do tributo for desconectada dessa
posso usar em exclusão dos demais) em troca relação, ou seja, se não houver
do pagamento do tributo? O pagamento proporcionalidade, diz-se que o caso é de
decorre de uma contraprestação a um imposto, porque é o tributo que
serviço público, utilização de bem público ou desconsidera a relação de
remoção de um obstáculo jurídico ao proporcionalidade, então está atrás da
comportamento dos particulares? Trata-se riqueza daquela pessoa.
de um pagamento vinculado a uma atividade
estatal?
Se sim o tributo é uma taxa.

MAS NÃO BASTA FAZER ESTE TESTE DA


BILATERALIDADE, porque enquanto a
medida dos impostos é a capacidade
contributiva, a medida da taxa é a
proporcionalidade.

CONCEITO DE CAPACIDADE CONTRIBUTIVA

Conceito especial do direito tributário que só diz respeito aos impostos. Tem a ver com a
possibilidade/capacidade que uma pessoa tem de contribuir para financiar as atividades

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públicas. A capacidade contributiva tem a ver com manifestação de riqueza, ou seja, ter algum
tipo de rendimento, património ou poder de consumo, só aí é que se é obrigado a pagar
imposto. Quem não tem capacidade contributiva (vive de caridade), não tem de contribuir
para nada e seria bastante injusto obrigar alguém que não tem dinheiro para si, financiar o
Estado.

É com base nesta capacidade contributiva que o Estado vai pegar dinheiro para financiar as
suas funções. E é essa capacidade contributiva que não depende de qualquer nexo de
proporcionalidade: o imposto é independente da utilização efetiva de qualquer atividade que
o Estado coloca em disposição das EXERCÍCIO:
pessoas. NaTAXAS
taxa jáVS.não, só paga quem usar realmente a
IMPOSTOS
coisa, quem for usuário de um serviço público específico, quem usar um bem público ou quem
A empresadoXPTO
se beneficiar é concessionária
levantamento dos serviços
de um obstáculo de distribuição
jurídico. No caso dae comercialização
taxa a medida édedagás no
Município de Coimbra
proporcionalidade, e instalou em
paga relativamente ao2013 novas tubulações
que receber em troca. para expansão do serviço em áreas
outrora não abastecidas por gás natural. Em 3/1/14 recebeu uma notificação da autoridade
municipal determinando o pagamento da quantia 170.000,00€ referente à ocupação do subsolo
com tubagens de gás, relativa ao ano de 2013. A notificação fundamenta-se no art. X
do Regulamento de Taxas e Licenças Municipais da Câmara Municipal de Coimbra e confere um
prazo de quinze dias para quitação sob pena de execução fiscal. A empresa XPTO consulta-o
quanto à legitimidade da cobrança realizada e informa que, em pesquisa prévia, não identificou
qualquer norma da Assembleia da República autorizando ou delegando poderes à Camara
Municipal para a cobrança.

• De que decorre a legitimidade da cobrança?

1) Validade (unilateral ou bilateral – princípio da legalidade estrita?)

2) Base do tributo (capacidade contributiva/proporcionalidade)

O que estava em causa era a legalidade do tributo: Se estivéssemos perante um imposto a


Câmara não podia criar esse tributo, porque só tem legitimidade para tal a AR ou o Governo se
autorizado. Sendo, no caso prático, o fundamento invocado por base num regulamento e o
regulamento não é lei aprovada pela AR, não pode ser um imposto. Se o tributo for uma taxa,
nesse caso, a Câmara Municipal pode criar uma taxa e cobrá-la, desde que ela respeite o regime
geral que a AR editou para as taxas.
Posto isto, é necessário saber se o tributo se trata de um imposto ou uma taxa.

• Que tipo de tributo?

1) Imposto

2) Taxa

Qual é a natureza jurídica deste tributo? Temos de fazer os dois testes: teste da bilateralidade e
o teste da proporcionalidade.

• Testes: Bilateralidade e Proporcionalidade

1) Bilateralidade
- A cobrança pela ocupação do subsolo é exigida como contraprestação a alguma
atividade da Câmara Municipal solicitada ou desencadeada pela empresa XPTO?
- A ocupação do subsolo pelas tubulações da empresa XPTO constitui o vínculo bilateral
justificativo da configuração de taxa? Há utilidade (divisível) a ser auferida
especificamente pelo particular?

Argumentos:
7
→ Imposto:

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- Por se tratar de um serviço público, no qual o próprio Estado é o concedente, o


licenciamento municipal para a realização de quaisquer obras inerentes à rede de
distribuição de gás foi dispensado.

- Inexistindo obrigação de prévio licenciamento (remoção de um obstáculo jurídico


ao comportamento dos particulares) e sendo a empresa XPTO a prestadora, não
usuária, de um serviço público, não tem lugar a bilateralidade típica da taxa.

→ Taxa:

- A taxa tem por base também a utilização de um bem do domínio público.

- O subsolo é domínio municipal.

- A utilização do subsolo é o fato gerador da cobrança.

A colocação de condutas e tubos no subsolo pela empresa XPTO consubstancia uma


utilização divisível e individualizada deste, com proveito para o particular que, somente
assim, pode realizar a prestação dos serviços e receber a respetiva remuneração.

A utilização do mencionado bem pela empresa XPTO exclui a sua utilização para fins
coletivos.

Na porção em que passam as tubulações, a utilização do bem público foi conferida à


empresa XPTO, de forma específica e individualizada.

2) Proporcionalidade
- A contraprestação por parte do ente público é direta e específica relativamente
ao particular?
- O valor cobrado é proporcional à vantagem concedida, sendo suscetível de
avaliação monetária?

Não basta a bilateralidade e colocou-se também o problema da proporcionalidade.


Porque é que não basta a bilateralidade? (página 6).

O valor cobrado é proporcional à utilização do bem, calculando-se relativamente à


extensão do subsolo ocupado. Porque que é que o valor cobrado foi considerado
proporcional? Porque a medida do tributo considerava o valor imobiliário. Assim, a relação
é passível de aferição monetária.

A natureza jurídica da cobrança é de TAXA, dispensando prévia autorização ou


delegação por parte da Assembleia da República (acórdãos do TC n° 365/2003, 14.07.2003;
366/2003, 14.07.2003; 354/2004, 19.05.2004; 55/2004, 19.05.2004; 396/2006, 28.06.2006). Como
se trata de uma taxa a Câmara Municipal poderia a ter criado.

Podia a empresa instalar os tubos em 2011 e a Câmara só cobrar em 2013? Sim, porque
na taxa não há nenhuma vedação especifica que proíba a retroatividade (assim, como não
há proibição à priori da retroatividade tudo vai depender do caso concreto) , só nos impostos. No
entanto, há aplicação dos princípios gerais de segurança jurídica e proteção da confiança.

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DIREITO FISCAL: O DIREITO DOS IMPOSTOS

3ª AULA
DIA 13/03/2018

Art. 5º da LGT: 1 - A tributação visa a satisfação das necessidades financeiras do Estado e de


outras entidades públicas.
Arrecadar dinheiro para o
Estado (principal finalidade). FINALIDADES FISCAIS, ou
O elemento teleológico do seja, próprias do direito
imposto trata-se da sua fiscal (finalidade
finalidade de financiar as arrecadátória)
FINALIDADES atividades públicas em geral
FISCAIS DOS
IMPOSTOS FINALIDADES EXTRA OU
Alcançar outros objetivos PARAFISCAIS, ou seja,
legítimos (coletivos) que o finalidades que não sejam
Estado tem que perseguir arrecadar dinheiro para o
Estado
Caso da proteção da saúde pública e do meio ambiente

Exemplo: Contribuição dos sacos plásticos. O nome é de contribuição,


mas a natureza é de imposto, porque com essa contribuição o que o
Estado quer é evitar a prática do facto gerador, ele não quer que seja
produzido e utilizado mais sacos plásticos. Ele tributa a produção e
utilização do saco para evitar a ocorrência do facto gerador para proteger
o meio ambiente.

EXERCÍCIO: PREVALECE FINALIDADES FISCAIS OU EXTRAFISCAIS?

a) Imposto sobre o rendimento: Finalidade fiscal.

b) Alíquota especial e acrescida por cada 100m3 de CO2 emitido por usinas termelétricas:
Finalidade extrafiscal, o que o Estado quer é que seja emitido menos CO2.

c) Majoração de alíquota de 3 para 12 por cento sobre o “imposto de importação de


calçados”: Finalidade arrecadatória, mas, neste caso, prevalece uma finalidade extrafiscal
de evitar as importações para fomentar a indústria portuguesa.

d) Redução de alíquota de 3 para 12 por cento do “imposto sobre transferência de bens


imóveis”: Finalidade fiscal, o Estado quer arrecadar.

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COMO SE DESCOBRE QUAL A FINALIDADE? Olhando para o facto gerador.

COMO REGRA:

→ Se abaixa a alíquota não quer arrecadar mais, por isso é parafiscal. O que o Estado
pretende é fomentar alguma coisa;
→ Majoração do imposto coloca a dúvida. O imposto pode querer ou não arrecadar
mais, ou seja, pode ter uma finalidade fiscal ou parafiscal (evitar a prática do facto
gerador). Nestas situações tem de se olhar para o facto gerador.

O QUE É O FACTO GERADOR? É o comportamento, na realidade, que cria a obrigação fiscal,


por isso se fala que a obrigação fiscal surge com a prática do facto gerador. Em direito fiscal o
facto gerador tem de assentar/tem de ser manifestação da capacidade contributiva. A
capacidade contributiva é a capacidade de uma pessoa contribuir para os encargos públicos, é
uma manifestação de riqueza, que se expressa através do rendimento, do património ou do
consumo. Quem aufere rendimento tem capacidade contributiva, à partida, quem tem
património manifesta capacidade contributiva e o consumo também, só consome quem tem
dinheiro para tal, quem não tem vive de caridade, doação. Então, a base do imposto, que é o
facto gerador, tem que partir de uma manifestação de capacidade contributiva. Só pode ser
obrigado a financiar as despesas públicas quem tem capacidade de contribuir para financiar o
Estado. Daí que a ideia contributiva esteja diretamente conectada ao princípio da
solidariedade social. Quem contribui para financiar o Estado vai dar coisas, em sentido amplo,
para quem não tem dinheiro, património, rendimento, não pode consumir. Quem tem
contribui, quem não tem não pode contribuir. Por isso, que um limite do imposto é o mínimo
existencial. O Estado nunca pode tributar o mínimo existencial de ninguém. O núcleo do
mínimo existencial não pode ser tributado, trata-se do mínimo para viver bem com dignidade.
Dentro desse mínimo não existe capacidade contributiva, o rendimento que tem é para
sobreviver. O Estado só pode tributar do mínimo existencial para cima, porque daí é que há
capacidade contributiva, para além de utilizar o dinheiro para viver com dignidade e ainda dar
dinheiro para o Estado.

EXERCÍCIO: O QUE É A CAPACIDADE CONTRIBUTIVA?

Assenta na CC um imposto que:

a) Determine a todos os médicos que contribuam com 2 por cento do seu


rendimento para a Fazenda Pública? O facto gerador do imposto é auferir
rendimentos, porque a obrigação de pagar imposto tem a ver com o rendimento.
Os médicos têm de pagar 2% de imposto quanto ao rendimento auferido. O que
gere a obrigação de pagar? Auferir rendimento. É uma manifestação da
capacidade contributiva? À partida, sim. Está a manifestar riqueza, isto é, ter
dinheiro para consumir relativamente à contribuição para os encargos públicos.
Este imposto assenta na capacidade contributiva? Sim.

b) Determine que indivíduos que possuem dois ou mais veículos devam pagar um
“imposto sobre bens duplicados”? Assenta na capacidade contributiva? Sim. Qual
é o facto gerador? Ter mais de um veículo. Este facto gerador manifesta
capacidade contributiva? Sim, património.

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c) Determine que os maiores de 18 anos devam pagar imposto de 100 euros por
ano? Qual o facto gerador? Ser maior de 18 anos. É manifestação de capacidade
contributiva? Não. O simples facto de ser maior de 18 anos não manifesta
capacidade contributiva. Então, este imposto não estaria conforme a CRP, porque
não assenta na capacidade contributiva.

d) Determine que os detentores de património bruto superior a 3.000.000 euros


devam pagar um imposto sobre grandes fortunas? Qual o facto gerador? Ter
património superior a 3M€. É uma manifestação de capacidade contributiva? Sim.

SE UM IMPOSTO TEM QUE ASSENTAR NA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA NÓS PODEMOS


EXTRAIR:

1) A CAPACIDADE CONTRIBUTIVA MANIFESTA-SE, NA REALIDADE,


INDEPENDENTEMENTE DA LICITUDE DA CONDUTA. Uma pessoa que compra um
carro no valor de 10 mil€ manifesta capacidade contributiva, é proprietária do
veículo. Uma pessoa que rouba um carro de 10 mil€, ainda que de modo ilícito, está a
manifestar capacidade contributiva. A capacidade contributiva independe da licitude
da conduta, por isso que o caráter ilícito da obtenção dos rendimentos, da aquisição,
titularidade ou transmissão de bens não obsta à tributação (artigo 10º LGT).
2) Porém, O IMPOSTO NÃO PODE TER NATUREZA SANCIONATÓRIA. Ou seja, o Estado
não pode criar um imposto para sancionar um ato ilícito. Porquê? A mera prática de
um ato ilícito manifesta capacidade contributiva? Não. Então, o imposto não pode
servir para sancionar ninguém. A base do imposto é a manifestação da capacidade
contributiva e a finalidade do imposto é o financiamento dos encargos públicos, não
é penalizar ninguém. Se o Estado quiser penalizar, ele vai pela via das
contraordenações ou do direito penal. Porque é que em alguns casos a incidência do
imposto parece ser sancionatória? Sobretudo, quando o valor do imposto é muito
elevado? Se a incidência do imposto, num caso concreto, for uma verdadeira sanção,
o que o Estado quer não é o financiamento das suas atividades, mas reprimir o
contribuinte, se a natureza do imposto for sancionatória, o imposto não é válido.

COMO SE DESCOBRE SE A TRIBUTAÇÃO É UMA RESPOSTA AO ATO ILÍCITO OU SE A


TRIBUTAÇÃO INCIDE SOBRE A CAPACIDADE CONTRIBUTIVA? A pergunta que se deve fazer é:
se fosse uma pessoa a auferir os mesmos rendimentos, o mesmo património ou comprando e
vendendo bens de forma lícita ela seria tributada da mesma forma? Se a resposta for sim, o
imposto não é sanção.

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EXERCÍCIO:

Em uma inspeção realizada em 1/3/12, descobriu-se que o café XYZ negociava com
consumidores a venda ilegal de cannabis, sendo encontrados 10kg da substancia
entorpecente no depósito do estabelecimento. Após análise dos documentos,
comprovantes de pagamento e recebimento, anotações e recibos de transações
financeiras encontrados no estabelecimento, apurou-se, que, nos dois anos anteriores, o
valor de tais negociações montou 70.000 euros. Pergunta-se:

A) Os 10kg da substancia encontrada podem ser apreendidos pelo poder público?

Podem.

B) Pode a Fazenda Pública cobrar IVA sobre a base dos 70.000 euros comercializados?

Se a compra e venda é ilegal como é que o Estado vai tributar algo que não pode ser
vendido? A cannabis não podia ter sido vendida, mas foi vendida, com um lucro de 70
mil€. Houve transação, a transação manifesta capacidade contributiva, logo pode ser
cobrado o IVA, dado que não interessa que a capacidade contributiva vem de ato ilícito.

C) Pode a Administração adotar ambas as medidas ou são elas alternativas?

Isto é, pode a Administração apreender a droga e aplicar o imposto? A apreensão é uma


medida sancionatória. Em direito penal vigora o princípio segundo a qual para a mesma
infração não pode haver mais do que uma sanção. A incidência do imposto era uma
resposta à ilicitude ou não? Porque se a incidência fosse resposta, o imposto seria uma
sanção e imposto não pode ser uma sanção. A incidência era uma resposta à ilicitude?
Não. A incidência do imposto não era para sancionar a prática, mas para tributar a
manifestação de capacidade contributiva. Qualquer pessoa que comercialize bens e
manifeste 70 mil€ de capacidade contributiva vai ser tributada da mesma forma. A
tributação não tinha a ver com ilicitude.

EXERCÍCIO:

É editada uma lei pela Assembleia da República proibindo emissões de CO2 superiores a
300.000m3 por mês para a indústria cimenteira e instituindo um tributo incidente sobre o
valor de cada saco de cimento comercializado a ser calculado progressivamente nos
seguintes termos: 300.001 a 420.000m3 de CO2 emitidos por mês: taxa de 2 por cento;
420.001 a 700.000m3 de CO2 emitidos por mês: taxa de 4 por cento, acima de 700.001m3
C02 emitidos por mês: taxa de 7 por cento. Pergunta-se: é constitucional a cobrança?

É constitucional esta cobrança? O imposto é válido? Sim, formalmente foi criado por lei.
Materialmente (questão da capacidade contributiva) a capacidade contributiva reflete-se
na comercialização do cimento. Mas se o Estado quer atingir essa capacidade contributiva
porque não tributa todos os sacos de cimento? Há uma intenção de não produção de mais
CO2. A parafiscalidade é uma indução do comportamento, se o comportamento já está
proibido qual é a resposta do direito a um comportamento proibido? A sanção. Se o
legislador já proibiu a conduta o particular pode decidir se segue ou não? Não. Se o fizer, há
sanções. A parafiscalidade serve para os casos em que o particular é livre. E aí, pela via do
imposto parafiscal, o Estado orienta o comportamento do particular, mas se o particular
não quiser seguir essa orientação não há sanção, mas é tributado, porque na
parafiscalidade o comportamento não é proibido (Ex.: sacos plásticos. A sua produção não 12 é
proibida, (próx. pág.)

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logo o Estado quer reduzir a sua produção e uso. Quem quiser utilizar ou produzir pode, mas para o
seu desincentivo ele criou uma contribuição sobre o saco plástico. É um desincentivo económico.
Quem quiser não está a cometer nenhum ato ilícito). O imposto quando é parafiscal a conduta
não pode ser ilícita, porque a resposta do direito à ilicitude é a sanção. Neste caso, se o
legislador quisesse atingir a capacidade contributiva ele tributava os cimentos desde o
início. O imposto está a servir como resposta para a ilicitude, só é tributado quem comete
o ato ilícito, ou seja, emitir mais do que x CO2. Quem emite mais do que x CO2 está a
cometer um ato ilícito, qual a resposta do legislador ao ato ilícito? Tributar. Não pode! Não
é a prática do ato que manifesta a capacidade contributiva, ela já existe antes do ilícito.
Não é o ilícito que faz cingir a capacidade contributiva, por isso que fica claro a natureza
sancionatória. O legislador está a penalizar, está a responder a um ato ilícito, como sanção.

CLASSIFICAÇÃO DOS IMPOSTOS


A capacidade contributiva expressa-se em 3 principais campos: o rendimento, o património
e o consumo (bases da arrecadação). Por isso é que se fala de:

Aqueles que atingem/tributam sobre


manifestações diretas ou imediatas
da capacidade contributiva.

De que forma é que a capacidade


contributiva se manifesta
diretamente? No rendimento e no
património, estes são manifestações
imediatas da capacidade
contributiva. Obtenho rendimentos,
logo tenho capacidade contributiva,
tenho um imóvel, logo, tenho
capacidade contributiva.
Dentro desta
diferença, há uma
Aqueles que incidem sobre manifestações indiretas ou
subclassificação que mediatas da capacidade contributiva.
é a classificação dos
impostos diretos e De que forma é que a capacidade contributiva se manifesta
dos impostos indiretamente? No consumo. Porque é a manifestação da
capacidade contributiva no consumo é indireta? Para uma
indiretos.
pessoa consumir tem que ter dinheiro, como é que na
Em que consiste sociedade atual se obtém dinheiro? Pela via do rendimento ou
esta classificação? pela via do património. Eu posso transformar o património em
Na forma com que a rendimento (riqueza líquida, normalmente dinheiro) e o
património é riqueza imobilizada. Porque é que é riqueza
capacidade
imobilizada? Porque se eu quiser comprar algo e se não tiver
contributiva se
dinheiro, dinheiro líquido, eu não posso utilizar o património
manifesta. para a pagar. A minha riqueza enquanto proprietária existe,
mas esse valor do património está imobilizado. Se quiser
utilizar a riqueza tenho de vender o imóvel. O consumo
depende sempre de uma manifestação da capacidade
contributiva. Só consome quem tem rendimentos ou quem tem
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património. Por isso que o consumo é uma manifestação
mediata da capacidade contributiva, ou seja, é preciso ter
rendimentos ou património para poder consumir.
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PORQUE A DIFERENÇA ENTRE IMPOSTOS DIRETOS E INDIRETOS É IMPORTANTE? PORQUE
EXISTE ESTA DIFERENÇA?

1. Em primeiro lugar, desde logo, porque o constituinte, o legislador faz essa diferença,
ou seja, formalmente, de modo positivado, essa diferença existe, mas ela existe por uma razão
material. Porque nos impostos indiretos, se eles são manifestações indiretas da capacidade
contributiva, significa que já houve tributação nas manifestações diretas da capacidade
contributiva. No caso dos rendimentos, obter rendimentos é manifestação direta da
capacidade contributiva e incide sobre o rendimento. Pelo facto de ter rendimento, tem de
pagar imposto.

Imagine-se, 10 mil€ de rendimento, no ano de 2014, sobre o qual incidiu o imposto sobre o
rendimento de 10%. O meu rendimento já foi tributado em 10%, então 1 mil€ ficaram para o
Estado e eu fiquei com 9 mil€. Com esse valor vou poder consumir. Nas manifestações diretas
da capacidade contributiva o Estado tributa quase toda. Desses 10 mil€ só se fica com 9 mil€,
com esses 9 mil€ eu posso consumir (comida, sapatos, roupa). A minha capacidade
contributiva está a ser manifestada, mas de modo indireto.

A carga tributária, o quanto do imposto, pode ser igual num imposto direito e num
imposto indireto? Não. Nos impostos indiretos trata-se de uma capacidade contributiva
menor, por isso que os impostos indiretos não podem ter o mesmo regime jurídico que os
impostos diretos, porque a capacidade contributiva não é a mesma. O legislador fez bem essa
diferença e deixou-a clara no artigo 104º CRP e no 6º LGT. No artigo 104º/1 e 2 CRP, o
legislador criou regimes de tributação específica para a tributação dos rendimentos, no 104º/3
CRP, o legislador criou um regime jurídico para a tributação do património e no 104º/4 CRP
para a tributação do consumo. No 6º LGT, o legislador concretiza as normas constitucionais. E
de que modo o faz? Primeiro, quanto aos impostos diretos, a tributação direta, ele estabelece
que o imposto direto tem que ter em conta a necessidade da pessoa singular e do agregado
familiar a que pertença, dispondo de bens necessários a uma existência digna (mínimo
existencial), depois estabelece que os impostos diretos têm que ter em conta a situação
patrimonial do agregado familiar. Quanto aos impostos diretos o mínimo existencial é
protegido de modo específico. Para os impostos indiretos, o legislador estabelece que a
tributação tem de favorecer os bens de primeira necessidade, porque são os bens conectados
com o mínimo existencial. A forma de proteger o mínimo existencial nos impostos diretos e
nos impostos indiretos é diferente.

4ª AULA
DIA 20/03/2018

(continuação – importância/porquê da distinção entre impostos diretos e indiretos)

O regime constitucional da tributação direta é diferente do regime constitucional da


tributação indireta. A finalidade dos impostos diretos é diversa dos indiretos, embora ambos
satisfaçam as necessidades de financiamento do Estado. No artigo 104º da CRP, o constituinte
estabeleceu nos nº 1, 2 e 3 os objetivos dos impostos diretos, enquanto no nº 4 ele apresenta
os principais objetivos da tributação pela via de impostos indiretos. Também na LGT o
legislador ordinário aplica essa diferença e aplica essa diferença sobretudo quanto à forma de

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assegurar o mínimo existencial. O mínimo existencial da tributação do rendimento vai ser
assegurado através da consideração do agregado familiar e dos rendimentos de bens
necessários para uma existência digna. É desse modo que o código do IRS estabelece o limite
mínimo para tributação. No IRS, cumprindo o que está CRP e no 6º LGT, o legislador
estabeleceu que rendimentos inferiores a um determinado constante não podem ser
tributados. Quanto à tributação do património, o legislador estabeleceu que se deve ter em
conta a situação patrimonial do agregado familiar. No regime jurídico dos impostos sobre o
património faz diferença o número de pessoas que residem num imóvel tributado. Nos
impostos indiretos, a consagração do mínimo existencial fica mais difícil de se concretizar. Uma
pessoa mesmo que tenha pouco dinheiro tem de consumir e aí de que modo o legislador
diferencia quem tem muita ou pouca capacidade contributiva (nos impostos sobre consumo)?
É a partir do bem de consumo que o mínimo existencial vai ser assegurado nos impostos
indiretos, de modo que os bens de consumo de primeira necessidade, o que é necessário para
sobreviver, vão ser tributados a menor, enquanto os bens de consumo de luxo vão ser
tributados a maior. No IVA os bens de consumo de primeira necessidade são tributados em 6%
enquanto os outros são em 23%.

2. Mas a distinção entre impostos diretos e indiretos é importante também para saber
quem pode regular esses impostos. Porquê?
Os impostos indiretos, sobre o consumo, podem distorcer a concorrência. As empresas, no
mercado, concorrem entre si e aí na tributação do consumo essa tributação pode gerar efeitos
distorcidos da concorrência, se for tributada a menos, a empresa tem uma vantagem no
mercado. Então os impostos sobre o consumo sempre vão ter que ser regulados ao nível
estadual, ou seja, as regras dos impostos sobre o consumo vão ter de ser igual para toda a
gente, daí que tenham de ser regulados ao maior nível administrativo do Estado. Por acaso, já
que somos membros da UE, o imposto geral do consumo é regulado a nível europeu, já que
pode gerar distorções de concorrência e na EU não pode haver (o IVA é regulado pela EU), de
modo que o Estado tem de tomar sempre muito cuidado quando estabelece impostos sobre o
consumo para não criar distorções no jogo livre do mercado. Não é por acaso que a CRP só
deixa os municípios participarem do resultado da tributação dos impostos sobre o consumo,
ou seja, o Estado cria os impostos, regula-os, arrecada-os, e aí com o resultado dessa
arrecadação ele dá uma parte para os municípios e é só quanto à receção desse dinheiro, ou
seja, à participação dos resultados da tributação, que os municípios podem fazer alguma coisa
nos impostos do consumo, só podem receber dinheiro (254º/1 CRP).
Quando aos impostos diretos, sobretudo o património, os municípios participam na
regulação desses impostos. Na lei do IMI, há um artigo que diz que são os municípios que
definem os tipos de imóveis para efeitos de tributação, assim eles participam na regulação.

Faz-se, ainda, uma classificação que tem a ver com alíquota do imposto, também chamada
de taxa do imposto.

A alíquota é um percentual do imposto e porquê percentual? Os impostos incidem sobre o


rendimento, património e consumo, sobre as manifestações da capacidade contributiva. Só
que o Estado não pode tributar a capacidade contributiva toda. Que parte o Estado fica? Saber
quanto que o Estado vai tributar é muito importante. Esse quanto é a tal da alíquota
percentual, por isso que essa alíquota é um elemento essencial do imposto e as pessoas
precisam de saber desde logo quanto vão pagar de imposto para o Estado. A alíquota está no
artigo 103º/2 como elemento essencial do imposto que tem de estar na lei. O legislador tem

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de estabelecer na lei que cria o imposto a alíquota. Só que essa alíquota pode ter 3 naturezas
diferentes. A alíquota pode ser:

Aquele em que a alíquota aumenta


à medida que a matéria coletável
aumenta. Quanto maior a matéria
coletável maior a alíquota
(MC>,TX>)

Aquele em que a alíquota diminui à


medida que a matéria coletável
aumenta. Quanto maior a matéria
coletável menor a alíquota
(MC>,TX<).

A depender do tipo O legislador pode Aquele em que a alíquota


de alíquota vamos estabelecer: permanece a mesma, não varia.
ter um tipo de Taxa uniforme, indiferente ao valor
→ só uma alíquota, ou
imposto. da matéria coletável (MC>/<,TX=).
seja, não há variação
O parâmetro da (será sempre
distinção é a proporcional);
variação da
→ mais de uma, que é
alíquota ou da taxa
o normal (abre-se esta
do imposto.
possibilidade de a
alíquota ser
progressiva, regressiva
ou a proporcional).

O QUE É MATÉRIA COLETÁVEL?

A matéria coletável é a base do imposto sobre a qual vai incidir o percentual ou alíquota, é
o total dos rendimentos, o valor do património ou o valor do consumo, é a manifestação da
capacidade contributiva.

Então, há impostos que quanto maior a matéria coletável, capacidade contributiva, maior o
percentual, tributa-se mais a pessoa. Porquê? Porque pode pagar mais, é uma questão de
justiça social e de redistribuição da riqueza por via dos impostos. Se isso acontecer o imposto é
progressivo; se o oposto acontecer, quanto maior a matéria coletável menor a alíquota, é
regressivo; se a alíquota se mantiver uniforme o imposto é proporcional.

EXERCÍCIO:

A) O IVA possui três taxas diferentes: 6% para os bens e serviços de primeira necessidade;
13% para bens e serviços “intermédios”; e 23% para as restantes importações,
transmissões de bens e prestações de serviços.

O IVA é que imposto? O IVA tem uma alíquota variável, tem 3 alíquotas, mas a variação da
alíquota depende da matéria coletável? Depende do valor do bem? Não! Depende do tipo
de bem, ou seja, a alíquota permanece uniforme independentemente da matéria coletável.
A taxa do IVA é proporcional. 16
B) O IRS possui as seguintes taxas:

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É um imposto progressivo, quanto maior o rendimento maior a alíquota.

C) Um imposto sobre bens e serviços médicos (ICM) possui as seguintes taxas: 15% sobre
bens e serviços até € 2.000,00; 10% sobre bens e serviços de €2.001,00 a € 5.000,00; e 5%
sobre bens e serviços superiores a € 5.001,00.

Notas Falta uma última classificação que é a mais importante:


especiais
A obrigação fiscal nasce de modo instantâneo, com a prática do facto
sobre a
IMPOSTO ÚNICO gerador que é instantâneo, bem delimitado no tempo e esgota-se aí.
aplicação
É possível identificar um único momento no tempo em que surge a
temporal
obrigação fiscal.
da lei fiscal
Incidência sobre um ato único, isolado, independentemente de
IMPOSTO PERIÓDICO ou
imposto sobre relações poder ou não ocorrer a repetição dos mesmos tipos de ato.
jurídicas duradouras É típico dos impostos sobre o consumo serem únicos

Esta classificação tem a


ver com o tempo. Não é possível identificar de modo claro o momento no
tempo em que o facto gerador é praticado.
Porquê? A capacidade
contributiva é dinâmica, Exemplo: Imposto sobre um imóvel. Quando manifesto a
capacidade contributiva de ser proprietário de um imóvel?
só que para efeitos de
Quando se pratica o facto gerador? A todo o tempo.
tributação o legislador
precisa de estabelecer Para essas realidades é impossível identificar, pela natureza
um momento no tempo das coisas, quando é que a capacidade contributiva se
para tributar. A forma de manifesta. Mas o legislador precisa de estabelecer um
ele estabelecer esse momento, precisa de tributar em algum momento e aí ele
momento no tempo é decide estabelecer um momento no tempo. Se não é
através do facto gerador possível pela natureza das coisas identificar o momento e o
do imposto (que é o tal legislador precisa de estabelecer um momento, que
comportamento, na realidade, parâmetro temporal? Um ano. A cada ano o Estado precisa
que expressa capacidade
de preparar o orçamento de Estado, ele precisa de saber
contributiva que gera a
quando terá de receita, logo precisa de ter uma ideia de
obrigação de pagar o imposto).
quanto irá arrecadar de impostos, por isso é que os
A partir de quando se
impostos são anuais.
tem de pagar imposto?
Assim, o legislador considera que o facto gerador vai sendo
Esta distinção tem a ver
praticado/formado ao longo de um ano civil (começa a 1 de
com esse quando.
jan. e termina a 31 de dez.).
Quando é que nasce a
obrigação fiscal? 17
Incidência ao longo do tempo sobre a mesma situação
jurídica.

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PORQUE É QUE ESTA DISTINÇÃO É IMPORTANTE?

Porque é a prática do facto gerador que faz nascer a obrigação fiscal. Só quando este é
praticado é que se tem de pagar o imposto, é quando nasce a obrigação fiscal. Enquanto o
facto gerador não for praticado ainda não há obrigação fiscal. Porque é relevante?

1. REGIME JURÍDICO APLICÁVEL: Primeiro, para saber qual é o regime de tributação


aplicável. Qual é o regime fiscal que vai vigorar sobre os impostos? O regime fiscal em vigor no
momento em que nasce a obrigação fiscal, em que o facto gerador é praticado.
Quanto aos impostos únicos saber isso é fácil porque é possível identificar no tempo o
momento em que o facto gerador é praticado.
Quanto aos impostos periódicos há problemas quando a lei muda a meio do caminho. Se o
facto gerador começa a 1 de jan e só se se considera praticado a 31 dez, se a lei fiscal mudar
em julho ela vai se aplicar ao facto gerador que está em formação? Tem a ver com um
problema retroatividade.
2. QUESTÃO DA RETROATIVIDADE: Em direito fiscal a retroatividade é permitida? Não.
3. INÍCIO DA CONTAGEM DOS PRAZOS LEGAIS, COMO O DE CADUCIDADE DO DIREITO
DE LIQUIDAÇÃO (45º/4 LGT) E PRESCRIÇÃO DAS DÍVIDAS TRIBUTÁRIAS (48º/1LGT): E aí as
relações que o direito tem com o tempo não se resumem só a problemas de retroatividade. O
direito e o tempo relacionam-se também quanto à extinção das obrigações, direitos, etc. É
através do decurso do tempo que decorre a prescrição e a caducidade. Essa diferença entre
impostos únicos e periódicos também é importante no âmbito da prescrição e da caducidade
dos impostos da obrigação fiscal.
Para que se possa entender questões de caducidade e prescrição em Direito Fiscal é preciso
adiantar parte da matéria que será dada mais à frente, que tem a ver com os momentos da
vida dos impostos:
1º Definição normativa: criação, instituição ou incidência
→Base/facto gerador: o que dá origem à incidência do imposto
→Sujeitos ativos e passivos: Administração fiscal, contribuinte, responsáveis,
substitutos
→Montante: sobre que valor recai (ex.: rendimento global, lucro, valor de mercado do
imóvel) e percentagem do valor ou quantidade por unidade a exigir (a taxa ou
alíquota)
→Benefícios fiscais: isenções vs. não- incidências

2º Aplicação e efetivação administrativa ou gestão: momento administrativo do


imposto
→Lançamento: identificação concreta dos contribuintes, da matéria coletável e da
alíquota (ou taxa)
→Liquidação: aplicação da alíquota (ou taxa) à matéria coletável verificação da
existência de deduções a operar: fixação do valor a ser pago (a “coleta”)
Como se descobre o quanto a pagar de imposto? Através da alíquota ou taxa da
matéria coletável. Aplica-se o percentual do imposto à matéria coletável. A esta
operação se chama de liquidação do imposto, porquê? Porque esta operação torna
líquida, certa, determinada a obrigação fiscal. Sei desde que pratico o facto gerador
que tenho obrigação fiscal, mas o seu conteúdo só descubro com a liquidação. Antes
da liquidação eu tenho como cumprir a obrigação? Não. A certeza e determinação do

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conteúdo das obrigações é necessário para tornar a obrigação exigível, trata-se de um
pressuposto da sua eficácia. Antes de determinar o conteúdo de qualquer obrigação, a
obrigação não pode produzir efeitos jurídicos, só a partir da delimitação do conteúdo
das obrigações é que a obrigação passa a produzir efeitos jurídicos e um dos efeitos
jurídicos das obrigações é a exigibilidade.
Então, o momento da prática do facto gerador é relevante porque cria a obrigação, é
o momento da existência. E o momento da liquidação é relevante porque atribui
eficácia ou exigibilidade à obrigação fiscal.
→Cobrança/pagamento: entrada do imposto nos cofres do Estado de forma voluntária
ou não (execução fiscal)
Esse pagamento pode ser voluntário ou não. Se o pagamento, cumprimento ou
satisfação de uma obrigação jurídica não for de feita de modo voluntária é feita de
modo coercivo. Deve recorrer-se ao tribunal e ir a tribunal depende do exercício de
uma ação que se concretiza numa pretensão de cobrar. Porquê? Porque a caducidade
tem a ver com o direito de liquidação do Estado, o prazo de caducidade é um prazo
para liquidar a obrigação fiscal, enquanto a prescrição tem a ver com o prazo para
deduzir a pretensão de cobrar. A diferença entre caducidade e prescrição tem a ver
com a diferença de um direito ou de uma pretensão. Se há prescrição não se pode
mais pretender, mas ainda há direito, enquanto a caducidade extingue o próprio
direito e não só a pretensão. Então, se ocorrer a caducidade em Direito Fiscal o Estado
não tem mais direito de cobrar nada da pessoa, ele não pode mais exercer o direito de
cobrança. E se a pessoa pagar posteriormente? O Estado tem de pagar de volta. Se
caducou o direito de liquidar o Estado não pode mais receber esse dinheiro, já a
prescrição tem a ver com a cobrança coerciva da dívida, se prescreveu o Estado não
pode mais executar o devedor, cobrar coercivamente a dívida. Mas tanto a caducidade
como a prescrição têm prazos. O prazo começa quando na obrigação fiscal? Quando a
obrigação nasce, com a prática do facto gerador. Nos impostos de obrigação única a
prática do facto gerador é instantânea, nos impostos duradouros ou periódicos não.

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Estes dois esquemas são a expressão desenhada do que se falou. O esquema de cima diz
respeito a um imposto único, para cada facto gerador há um momento no tempo para cada
um deles e uma obrigação fiscal diferente. O esquema de baixo é um imposto periódico em

que o facto gerador começa a ser praticado a 1 de janeiro e vai sendo praticado ate 31 de
dezembro, e só em 31 de dezembro é que é considerado praticado o facto gerador, só a 31 de
dezembro é que surge a obrigação fiscal e, portanto, o termo a quo dos prazos de prescrição e
caducidade.

Resumindo, a relação do Direito Fiscal com o tempo está neste último esquema, os
momentos da vida do imposto ao longo do tempo. Primeiro tem de ser criada a lei de
incidência do imposto, por lei a AR, salvo autorização ao Governo pela via de decreto. Depois
pode haver uma vacacio legis (quando a lei já existe, mas ainda não está em vigor; trata-se do
período entre a publicação e a entrada em vigor da lei). A lei é criada, entra em vigor e depois
de em vigor todo o facto gerador praticado delimitado na lei gera a obrigação fiscal. Após a
prática do facto gerador a Administração Tributária tem o prazo de 4 anos para liquidar a
obrigação. Como regra a Administração Tributária obriga os próprios contribuintes a
autoliquidarem os seus impostos. Se não liquidar em 4 anos caduca o direito, não pode
liquidar mais o imposto, a obrigação fiscal some. Depois tem o prazo de prescrição que
também começa a contar da prática do facto gerador, prazo de 8 anos desde a prática do facto
gerador, este tem a ver com a cobrança da obrigação fiscal. A relevância imensa que a
diferença entre impostos de obrigação única e periódicos têm é no inicio da vida do imposto,
da prática do facto gerador, as diferenças vão produzir ao longo da vida do imposto.

EXERCÍCIO:

a) O Sr. XYZ compra um café no bar ABC Restauração. É tributado em IVA: Imposto único.

b) O Sr. XYZ possui um imóvel em seu nome há 3 anos. É tributado em IMI: Imposto
periódico.

c) O Sr. XYZ transfere o imóvel que é de sua propriedade ao Dr. JJB. É tributado em IMT:
Imposto único, imposto de consumo.
20
d) O Sr. XYZ aufere rendimentos pagos mensalmente no valor de 1.200 € pela empresa
RST S.A. É tributado em IRS: Imposto periódico, o facto gerador é praticado a 31 de dez.
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5ª AULA
DIA 03/04/2018

PRINCÍPIOS DO DIREITO FISCAL:


Vamos estudar o regime jurídico dos impostos, e, como todos os regimes jurídicos, a
primeira fonte que temos de analisar é a CRP – que estabelece um quadro jurídico
constitucional para todos os regimes jurídicos, incluindo os regimes jurídicos dos impostos. Na
CRP há princípios fundamentais que orientam a tributação pela via dos impostos, ou seja, que
orientam o Direito Fiscal. Que princípios são esses?

Princípios que limitam FORMALMENTE o Princípios que limitam MATERIALMENTE o


Direito Fiscal: Direito Fiscal:

Princípio da Respeito aos


segurança Princípio da direitos
Princípio da
jurídica, Proibição do não fundamen-
Princípio da igualdade
nomeada- referendo discrimina- tais e
legalidade fiscal (pela
mente não fiscal ção da princípio do
cc)
retroativi- família Estado
dade Social

PRINCÍPIOS QUE LIMITAM FORMALMENTE O DIREITO FISCAL:

• PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

A legalidade dos impostos é diferente da legalidade das taxas (como estudado na 1ª aula).
A legalidade do Direito Fiscal é uma legalidade fiscal e, com efeito, diferente da legalidade dos
demais tributos. Porquê? Porque a legalidade dos impostos traduz-se em duas regras
constitucionais: artigo 165º/1/i CRP cumulado com o artigo 103º/2 CRP. Com efeito, a
legalidade fiscal decorre destes dois artigos combinados. A legalidade fiscal estabelece o quê,
afinal?
Se violados levam → O artigo 165º CRP estabelece que é da exclusiva competência da AR, salvo
sempre a autorização ao Governo, a criação de impostos. Para criar impostos, tem que
inconstitucionalida Se violados
haver lei da AR ou DL autorizado do Governo. levam sozinho,
O Governo, a inconstitucionalidades
não pode criar
de formais. materiais.
imposto; os municípios, por sua vez, não podem criar impostos (como já vimos);
Os parâmetros → Mas o princípio da legalidade fiscal Os nãoparâmetros
se basta com o artigo
materiais, 165º, porque
previstos na CRP,osão
formais têm que essencialmente
artigo 103º CRP estabelece que os impostos parâmetros
são criados de determina
por lei que justiça. (1)
ver com a forma/o a incidência, (2) a alíquota, (3) os benefícios fiscais e (4) as garantias dos
trâmite com que contribuintes. Então, impostos que não tenham sido criados por lei são
os impostos inconstitucionais, assim como aqueles criados por decreto lei não autorizado pela
podem ser criados AR. Com efeito, a lei não se pode limitar a criar um imposto, a lei que cria um
e implementados, imposto tem de determinar os elementos essenciais do imposto (incidência, a
liquidados ou
cobrados na 21
realidade.

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alíquota, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes). E o que é a
incidência? A incidência é o que gera a obrigação de pagar o imposto, a incidência
é o facto gerador do imposto. Mas há também uma incidência subjetiva - quem
pratica o facto gerador, sujeitos passivos do imposto, quem vai pagar imposto.

Na LGT, no artigo 8º, o legislador estabeleceu mais elementos que tem e estar previstos na
lei, mas o coração do princípio da legalidade fiscal é o que esta na CRP (criação de impostos pela
AR, salvo autorização ao Governo + a lei que cria os impostos tem que prever os seus elementos
essenciais).
Porquê? Isto é assim porque, antigamente, quando não estávamos num Estado de Direito
os impostos eram criados pelo monarca, não interessando as condições monetárias das
pessoas, ou se eram justos ou legítimos ou impostos. Num Estado de Direito, democrático,
social, que é o Estado português, é óbvio que não é qualquer um que pode criar impostos. Por
isso é que só a AR, que é o órgão que estabelece melhor o princípio democrático, pode decidir
criar ou não impostos.
O princípio da legalidade fiscal foi um princípio fundamental conseguido a partir das
revoluções liberais (desde a revolução inglesa e espalha-se na revolução francesa). Ninguém
pode ser obrigado a pagar impostos se não tem autorização expressa dos representantes do
povo. A ideia da legalidade fiscal vem com o slogan inglês no taxation without representation,
por isso é que são os parlamentos que criam e instituem impostos. Este é um parâmetro
fundamental da democracia.

A legalidade fiscal expressa a ideia de autoimposição, i.e., é o próprio povo que impõe a
cobrança de impostos. Se os impostos existem para financiar as atividades públicas em geral e
o Estado, eles só se legitimam mediante a ideia de autoimposição. Os impostos são a via
principal para financiar o Estado, mas só os representantes do povo decidem quais os
impostos e quais os seus parâmetros, os elementos essenciais (o que é que gera a obrigação
de pagar o imposto, e sobretudo o quanto do imposto – alíquota).

O princípio da legalidade existe para legitimar democraticamente a cobrança de impostos.


Aí, embora haja a criação de impostos com a determinação dos elementos essenciais pela AR,
a ideia da legalidade fiscal subsiste a cada ano, porque toda vez que a AR vota o OE, ela reitera
a sua vontade de cobrar aqueles impostos/a legitimação democrática dos impostos. Então em
toda a lei do OE, há lá uma ratificação/confirmação de todos os impostos que incidem em
Portugal.

No entanto, o princípio da legalidade não acaba aqui, porque o parâmetro da legalidade


fiscal resulta na vedação de analogia em Direito Fiscal – artigo 11º/4 LGT (analogia – em termos
gerais, método colmatar lacunas, se não existe uma regra especifica para um caso concreto o juiz pode
valer-se da analogia para decidir o caso concreto). Em Direito Fiscal a analogia é proibida/vedada,
porque se é a AR que cria os impostos e determina a incidência dos mesmos, só quem praticou
o facto gerador tal como delimitado na lei é que está sujeito ao pagamento de impostos, se
uma pessoa praticar uma conduta que não conste na lei como facto gerador, a pessoa não
pode pagar imposto. Por isso é que o juiz não pode utilizar analogia para cobrar imposto. Por
outras palavras, as lacunas em Direito Fiscal não podem ser colmatadas pela via da analogia.

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Exemplo: O legislador cria um imposto para quem é proprietário de animais domésticos
caninos, quem tem cão paga, e quem tem gato? Por uma questão de igualdade quem tem gato
também pagaria por serem parecidos e demonstrarem mais ou menos a mesma capacidade
contributiva. Pela via da analogia o juiz teria esta posição. Só que esta analogia é proibida em
Direito Fiscal, de modo que se a lei estabelece que só os proprietários de cães devem pagar
imposto, os proprietários de gatos não o pagam, dado que paga apenas quem a lei
expressamente delimitar. Alguns autores defendem que por conta do princípio da igualdade
fiscal a analogia não poderia ser proibida, porque quem tem cão manifesta a mesma
capacidade contributiva do que quem tem gato. Contudo, com base no princípio da legalidade
fiscal só paga quem tem cão. Ou seja, por via do princípio da igualdade fiscal, os proprietários
de gatos também teriam que pagar o imposto, mas não é isso que o princípio da legalidade
prevê, dado que só quem pratica o facto gerador expressamente delimitado na lei é que paga
o imposto

A vedação da analogia não impede que conceitos jurídicos abertos ou indeterminados


sejam aplicados na lei fiscal, isso não fere o princípio da legalidade.

Exemplos de conceitos abertos/indeterminados (artigo 30º/3 CIRC e artigo 2º/2, 3 e 4


CIVA): o conceito existente no código do IVA de distorção da concorrência. O parâmetro de
distorcer ou não a concorrência é um parâmetro de incidência do IVA, que não coloca em
causa o princípio da legalidade fiscal, porque os conceitos abertos/indeterminados podem
sempre ser descobertos através da interpretação sistemática (IAD). Não colocam em causa o
princípio da legalidade porque o conteúdo deles pode ser descoberto olhando para o resto do
sistema jurídico que já está normalmente delimitado em lei.

• PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA FISCAL:

Existe um princípio geral da segurança jurídica (que se aplica em todas as áreas do direito),
mas a segurança jurídica em sede fiscal traduz-se num subprincípio específico: a não
retroatividade da lei fiscal, que está expressamente previsto no artigo 103º/3 CRP e 12º/1
LGT.
A vedação de retroatividade traduz-se em duas regras:

1ª: LEIS FISCAIS DESFAVORÁVEIS NÃO PODEM RETROAGIR, ou seja, não podem ser
aplicadas a factos tributários/factos geradores já praticados. E se for favorável? Nesse caso,
pode ser aplicada a factos geradores já praticados, como, aliás, no Direito Penal.

Por exemplo: A 1 de janeiro de 2017, todo e qualquer roubo era crime em Portugal. A partir
do dia 30 de março de 2017, o legislador estabelece uma nova lei penal a considerar que só é
crime o roubo de objetos acima de 15€. O João roubou um saco de rebuçados no valor de 5€ e
foi à esquadra policial. No entanto, no dia 30 de março, a AR descriminalizou a conduta do
João (não é mais crime). Esta lei, mais favorável, tem que retroagir. A lei mais favorável
retroage; se a conduta está a ser descriminalizada, não faz mais sentido continuar a mandar a
pessoa para a prisão. Em Direto Fiscal, a lógica é a mesma: se a lei fiscal muda para melhorar a
situação do contribuinte (10% de imposto para 3% - lei posterior é mais favorável do que a
anterior), então a lei posterior, mais favorável, deve retroagir.

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2ª: VEDAÇÃO DE LIVRE REVOGABILIDADE E ALTERABILIDADE DAS LEIS FISCAIS
FAVORÁVEIS, ou seja, as leis fiscais favoráveis não podem ser livremente revogadas, se
revogadas os efeitos da revogação nunca podem retroagir. Assim, a retroatividade de uma lei
menos favorável iria alcançar todos os factos geradores já praticados, agora os efeitos da
revogação de leis favoráveis para o contribuinte não podem retroagir. O que aconteceu sobre
a lei mais favorável não pode ser desfeito. É a mesma coisa com a lei penal.

Por exemplo: Se a 1 de janeiro de 2017, o João (pequeno empresário) tinha um benefício


fiscal, ele começa a exercer a atividade empresarial dele contando com o benefício fiscal
(isenção fiscal total durante 5 anos). No dia 30 de março, a lei que era favorável para o João
era revogada. E agora? Daqui para a frente, o que acontece (depois de 30 de março) é que o
problema não é de retroatividade, mas sim de confiança legítima. O problema da
retroatividade é o que acontece para trás: se a lei fosse retroativa, o João teria que dar ao
Estado. E isto o princípio da não retroatividade não deixa acontecer. O que aconteceu,
aconteceu. O João não pode ser obrigado a pagar imposto, pois ele estava isento, até 30 de
março, de pagar imposto. A lei que vem no dia 30, o máximo que ela pode fazer é obrigar o
João a pagar imposto dali para a frente, para o futuro; nunca para trás.

O PROBLEMA DA RETROATIVIDADE foi criado pelo Tribunal Constitucional: era um


problema que não existia, mas o TC complicou, porque o TC inventou um parâmetro para
estabelecer a partir de quando é que se conta a retroatividade.

O parâmetro para incidência da lei fiscal no tempo é a prática do facto gerador; praticou o
facto gerador, surge a obrigação fiscal, só que essa obrigação fiscal só se torna certa e
determinada com a liquidação do imposto (liquidação: o que dá certeza e determinabilidade à
obrigação fiscal). Só depois de liquidada a obrigação fiscal é que o imposto pode ser cobrado.
Há prazos diferentes para liquidação (caducidade, 4 anos) e para cobrança (prescrição, 8 anos).

Rever momentos da vida de um imposto → Página 19, 20 e 21

Grande parte Por lógica, o momento do tempo que tem de ser considerado para
da doutrina, efeitos de retroatividade é o momento da prática do facto gerador,
incluindo Drº quando surge a obrigação fiscal. Ou seja, qualquer lei que modifique o
Casalta Nabais imposto do primeiro momento para a frente, não pode se aplicar a
obrigação fiscal aqui.
Tribunal O TC decidiu o quê? Não foi por base jurídica, mas sim política.
Constitucional Porque o TC decidiu isso relativamente a leis fiscais que foram passadas
depois da troika, ou seja, o Estado passou novas leis ao longo do ano
piorando a situação jurídica dos contribuintes, que iria prejudicar para
trás. Porquê? Tese que prevalece hoje no tribunal – o parâmetro da
retroatividade não é a prática do facto gerador (para o TC); para o TC o
parâmetro nem sequer é o da liquidação; o parâmetro é o do
lançamento do imposto (que já foi liquidado e cuja obrigação já surgiu
muito antes com o facto gerador).

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Para o TC, há uma diferença entre:

RETROATIVIDADE PRÓPRIA – Única retroatividade totalmente proibida para o TC


(proibida pelo artigo 103º/3 CRP).
A retroatividade própria tem por parâmetro um facto gerador já praticado, isto é,
uma nova lei não se aplica à obrigação fiscal já configurada, exigível e lançada (ou
seja, facto tributário já praticado, com liquidação e cobrança).
O momento no tempo que o TC considera é o 3º momento, o da cobrança, do
lançamento, o último momento da vida do imposto.

– RETROATIVIDADE IMPRÓPRIA OU INAUTÊNTICA – Não está totalmente proibida


pelo 103º/3 CRP.
A retroatividade imprópria dá-se nesse espaço temporal entre os 2 primeiros
momentos: entre a prática do facto gerador e o lançamento do imposto. Isto
significa que uma nova lei pode vir a se aplicar a obrigação fiscal já configurada, mas
ainda não exigível e/ou lançada (i.e., facto tributário já praticado, mas com imposto
ainda não liquidado/lançado).
Nesse caso, o TC diz que é possível a retroatividade, não se aplicando o 103º/3, mas
somente o princípio constitucional geral da proteção da confiança legítima. Toda a
vez que o princípio da proteção da confiança vai ser aplicado, há lugar a ponderação.
Ponderação que obedece a 4 parâmetros (cumulativos) – AC. 128/2009:
1) O Estado (mormente o legislador) tem que ter encetado comportamentos
capazes de gerar nos agentes privados expectativas de continuidade;
2) Tais expectativas que o Estado cria no particular, têm que ser legítimas,
justificadas e fundadas em boas razões, em que se analisa a “boa fé dos
particulares”;
3) Tem que estar demonstrado que o particular realizou “planos de vida” tendo
em conta a perspetiva de continuidade do “comportamento” estadual.
4) Teste de proporcionalidade em sentido estrito, em que se coloca na balança de
um lado, os interesses arrecadatórios do Estado, do outro lado, a proteção do
particular. O que prevalece? Este teste está sujeito a uma ponderação subjetiva.

– Retrospetividade – O TC diz não ser retroatividade nenhuma: nova lei aplica-se a


obrigação fiscal ainda não configurada, i.e., ao facto gerador tributário ainda não
configurado/praticado, enquanto ele ainda está em formação - impostos periódicos.

IMAGINEMOS O IRS: A 1 de janeiro de 2011 existiu uma lei (lei nº 1/2011) que estabelecia
que a taxa/alíquota do imposto era de 10%; no dia 5 de junho de 2011, o legislador passou
uma lei (lei nº 2/2011), dizendo que a alíquota era de 15%; no dia 1 de janeiro de 2012, entrou
em vigor a nova lei do OE que dizia agora que a alíquota do IRS subia para 20%.

Temos 3 leis que colocam o problema da incidência fiscal ao longo do tempo. A 31 de


dezembro o facto gerador foi praticado, logo a obrigação do João surge no dia 31 de
dezembro. Por outras palavras, neste mesmo dia, consuma-se o facto gerador do IRS. Só que
no dia 1 de janeiro do ano seguinte há uma nova alíquota do IRS, de 20%. E o IRS, embora o

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facto gerador seja praticado ou se consuma no dia 31 de dezembro, a liquidação do IRS só se
dá em abril. Só depois da declaração é que o Estado liquida o imposto. A liquidação do IRS do
João foi no dia 10 de abril de 2012. E no dia 20 de maio do mesmo ano houve um lançamento.
Pergunta: qual é a alíquota de imposto que o João tem de pagar?

Para o TC, a data que tem de ser considerada para efeitos de retroatividade própria é 20
de maio. Se no dia 21 de maio de 2012 vier uma nova lei dizendo que a alíquota do IRS sobe
para 30%, para o TC o parâmetro da retroatividade do 103º/3 CRP é o de 20 de maio de 2012.
Desse dia para a frente, qualquer lei que seja criada não pode retroagir, ou seja, a lei de 21 de
maio não pode de jeito nenhum ser aplicada com base no artigo 103º/3 CRP. Não há discussão
em relação à retroatividade própria.

No entanto, as coisas passam-se de maneira diferente no que se refere à retroatividade


imprópria. A lei do dia 1 de janeiro de 2012 (ditada depois da prática do facto gerador, mas
antes do lançamento), o TC não chama isto de retroatividade: é retroatividade imprópria, que
não está à partida proibida pelo artigo 103º/3. O TC diz que essa lei pode ser aplicada, mas
com os testes da proteção da confiança (4 testes cumulativos):

 1º teste: Sim, o Estado encetou comportamentos capazes de gerar nos privados


expectativas de continuidade;
 2º teste: As expectativas dos particulares são legitimas? O João agiu de boa fé? Sim!
 3º teste: Sim, devia ter feito planos de vida.
 4º teste: Parâmetro jurídico. O intérprete coloca na balança o que o Estado quer
arrecadar e a proteção do contribuinte. O TC decidiu pelo maior peso os interesses
do Estado.

A retroatividade neste caso é imprópria, sujeita aos testes da proteção da confiança que
sempre vão chegar aos interesses arrecadatórios do Estado, que pode sacrificar os interesses
dos particulares. Normalmente os 3 primeiros testes passam. Por isso é que se diz que os
testes da proteção da confiança, apesar de cumulativos, normalmente culminam no teste da
proporcionalidade em sentido estrito.

Essa lei que subiu a alíquota para 15% a meio do ano, coloca algum problema de
retroatividade? Durante o tempo em que o facto está a ser praticado nos impostos periódicos,
a mudança da lei não coloca problemas de retroatividade, mas sim de retrospetividade. O TC
acha que sempre pode mudar a lei a meio do caminho; a prof. acha isto um absurdo.

DOUTOR CASALTA NABAIS: A diferença entre retroatividade própria e imprópria é virtual.


“O que releva para efeitos de estarmos perante um imposto retroativo ou não é, e é só, o facto
tributário em todas as suas vertentes (subjetiva e objetivas em que temos os elementos
quantitativos, espaciais, temporais), e não a liquidação e cobrança do imposto”.

6ª AULA

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DIA 10/04/2018

NOTA: Consultar acórdão N.º 399/10 do TC acerca da retroatividade da lei fiscal. A


interpretação foi da maioria, nem todos os magistrados que compõem o TC concordaram. No
acórdão é importante ler os argumentos que prevaleceram, mas é importante também ler os
argumentos vencidos, porque fazem mais sentido juridicamente do que os prevaleceram.
Consultar, igualmente, acórdão 128/2009, 18/2011 do TC e o acórdão STA Processo
01078/12.

• PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO REFERENDO FISCAL:

No artigo 115º/4/b CRP diz que estão excluídas do âmbito do referendo, ou seja, não
podem ser submetidas a referendo as questões e os atos de conteúdo orçamental, tributário
ou financeiro. Então, não podemos de modo direto, exercendo a democracia direta, decidir se
queremos ou não pagar os impostos. Só o legislador, a A.R. que é o órgão que exerce de modo
indireto o princípio democrático, pode decidir se vai ser cobrado e de que modo vai ser
cobrado o imposto.

PRINCÍPIOS QUE LIMITAM MATERIALMENTE O DIREITO FISCAL:

• PRINCÍPIO DA IGUALDADE FISCAL:

Trata-se de um princípio importantíssimo em matéria fiscal. Porquê? Porque vimos que os


impostos existem para suprir as necessidades financeiras do Estado, ou seja, o Estado precisa
de dinheiro e a principal forma para ganhar dinheiro é tributar as pessoas por via dos
impostos. Só que a tributação pela via dos impostos tem que ser pautada por um parâmetro
de igualdade. Assim:

PRINCÍPIO DA IGUALDADE FORMAL PRINCÍPIO DA IGUALDADE MATERIAL


Todos têm de contribuir. A igualdade de hoje não é a igualdade liberal
do século XIX, ou seja, o princípio da
igualdade hoje não se basta com a igualdade
formal. A igualdade é também uma
igualdade material, isto é, a igualdade hoje
significa tratar igual o que é igual e diferente
o que é diferente, na igual medida/porção
dessa diferença.

Essa fórmula da igualdade material que reconhece que nem todas as pessoas podem ser
tratadas da mesma forma é o requisito de validade fundamental dos impostos. Porquê?
Porque todos têm de contribuir para os encargos públicos, no entanto, é necessário que
tenham capacidade patrimonial/contributiva para o fazer.

Decorrências lógicas/regras da igualdade material:

1ª: Só pode ser obrigado a pagar imposto quem tenha capacidade contributiva;

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2ª: IGUALDADE HORIZONTAL - Iguais impostos para todos que dispõem de igual
capacidade contributiva.

3ª: IGUALDADE VERTICAL - Diferentes impostos para os que dispõem de diversa


capacidade, na proporção da diferença.

A CAPACIDADE CONTRIBUTIVA É O PARÂMETRO DA IGUALDADE FISCAL: o princípio da


igualdade fiscal pauta-se/assenta na capacidade contributiva:

▪ É um parâmetro universal, vale para todos (igualdade formal) - UNIVERSALIDADE;


▪ É um parâmetro que respeita a igualdade material porque diferencia o regime
jurídico fiscal na medida da diferença da capacidade contributiva e iguala o regime
jurídico fiscal para iguais manifestações da capacidade contributiva. Igual critério
para todos: a capacidade contributiva – UNIFORMIDADE.

Essa igualdade material que existe para todos os impostos é aprofundada, mais intensa na
tributação do rendimento pessoal. Porque é que essa igualdade é aprofundada no IRS (tributa
o rendimento pessoal)? Artigo 104º/1 CRP → Porque esse imposto é progressivo: quanto mais
rendimento uma pessoa tem, maior a taxa ou alíquota do imposto. Todavia, o IRS não se basta
com essas regras gerais da igualdade fiscal. O IRS não só realiza a igualdade fiscal, como vai
além da igualdade fiscal, porque a incidência do IRS existe também para realizar a
redistribuição de riqueza. O imposto serve para tirar de quem é mais rico para dar a quem é
mais pobre, que é uma implicação intensa da igualdade material. Posto isto, todos os impostos
têm de cumprir os parâmetros mínimos, mas há impostos, como o IRS, que vão mais além dos
parâmetros mínimos e aplicam a igualdade material numa dimensão mais intensa.

• PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃO DA FAMÍLIA

É aquela igualdade que é fundamental no domínio dos impostos que se reflete num outro
princípio constitucional que é o princípio da consideração fiscal da família (104º/1 CRP). Em
diversas passagens da CRP o constituinte determina que o Estado, quando vai tributar pela via
de impostos as pessoas, tem que considerar a condição das pessoas que vão ser tributas como
membros ou não de um agregado familiar (67º/2/f CRP e 6º LGT). Porquê? Porque uma coisa é
uma pessoa ganhar 5 mil euros e utilizar o dinheiro só para si, outra coisa é uma coisa uma
pessoa ganhar 5 mil euros e ter filhos para sustentar. Então, quem ganha 5 mil só para si tem
mais capacidade contributiva para contribuir para os encargos públicos, do que quem tem de
sustentar x filhos. Por isso é que o constituinte determina que a família, o agregado familiar, a
condição de ser um membro de uma família, tem de ser considerado.

O conceito de família é um conceito amplo. Para o Direito Fiscal o conceito de família pode
envolver várias pessoas que não dependentes do contribuinte: os filhos menores são
dependentes, mas não só; os ascendentes também podem ser dependes dos contribuintes.

No regime dos impostos vê-se que há normas específicas, especiais que diferenciam a
tributação de quem está numa família, da tributação de quem não está num agregado familiar.
O agregado familiar é tratado de modo diferente, é beneficiado no regime dos impostos,
sobretudo no regime do IRS. E é só no IRS que a família é considerada? Não. Quando no

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regime do IVA o legislador estabelece, p. e., que materiais escolares estão sujeitos a uma taxa
reduzida de imposto, isso é considerado família; no regime do IMI o parâmetro da tributação é
diferente caso o imposto incida sobre um imóvel de residência familiar ou comercial, o
legislador também considera a família, sendo tributada menos. A forma de concretizar o
princípio é diferente para cada imposto, mas todos os impostos têm de considerar os
princípios constitucionais. Se as leis fiscais não respeitarem, serão leis inconstitucionais.

• RESPEITO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E AO PRINCÍPIO DO ESTADO SOCIAL

O último parâmetro constitucional do Direito Fiscal é o respeito aos direitos fundamentais e


ao princípio do Estado Social. Onde é que se encontra na CRP? Nos artigos que consagram
DLG’s (igualdade, liberdade de expressão, propriedade privada, etc) que constringem ou
colocam limites estritos ao Direito Fiscal. Porquê? Porque junto com o Direito Penal, o Direito
Fiscal é o mais intrusivo na esfera individual, é o coloca maiores problemas a nível dos direitos
e liberdades individuais. O Direito Penal é super intrusivo na esfera individual porque limita o
direito fundamental que é o direito de liberdade, já o Direito Fiscal coloca restrições e limites
intensos numa outra esfera fundamental do individuo que é o direito de propriedade: tira a
propriedade das pessoas e dá para o Estado. Por isso é que todos os DLG’s do indivíduo têm de
ser considerados no âmbito fiscal, ou seja, o Estado Fiscal só pode tributar no limite dos DLG’s
individuais. Quando ele ultrapasse esse limite, quando viola os DLG’s ele é inconstitucional.

Decorre, apesar de não haver nenhuma regra na CRP que o diga (trata-se de uma
interpretação sistemática da mesma), do RESPEITO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS (DLG’s)
duas fórmulas:

1. A INCOLUMIDADE OU A INDISPONIBILIDADE DO MÍNIMO EXISTENCIAL: Não pode


haver tributação que coloque em causa o mínimo existencial, que viole o núcleo da dignidade
da pessoa humana, então o mínimo existencial é um limite material do Direito Fiscal, dos
impostos. Dentro do limite do mínimo existencial não pode incidir imposto, porque a pessoa
que vive no mínimo existencial não tem capacidade contributiva, só tem o mínimo para existir.
O que compõe o mínimo existencial? Depende do tipo de sociedade, de Estado em questão.
Para Estados mais pobres o mínimo existencial é baixo, para os Estados mais ricos o mínimo
existencial é maior (fala-se de comida, saúde, educação, água). Independentemente do que
integre o mínimo existência nunca pode haver tributação desse mínimo, os impostos só
podem incidir para além do mínimo existencial.

2. PROIBIÇÃO DE CONFISCO/VEDAÇÃO AO MÁXIMO CONFISCATÓRIO: O Estado pode tirar


património das pessoas, pode tributar, cobrar impostos, mas há um limite ao que ele pode
tirar dessas pessoas. Porque há um limite? Porque vivemos numa sociedade capitalista que dá
direito de propriedade privada às pessoas. As sociedades capitalistas assentam na propriedade
privada. O Estado não pode confiscar a propriedade privada, ele não pode expropriar o que é
dos indivíduos - o confisco é uma expropriação. E como se sabe se a incidência de um
imposto é ou não confiscatória? Olhando para a carga fiscal, qual é o impacto da tributação na
esfera patrimonial do individual.

Saber quando esse confisco esta configurado é um problema:

– O TC acha que saber se os impostos são ou não confiscatórias depende da alíquota de


cada imposto, ou seja, um imposto que tenha uma alíquota de 50% não é confiscatório,

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mas se tiver 70% já é confiscatório. O TC fala que só isso pode ser considerado para
analisar se há ou não confisco.
– Parte da doutrina discorda do TC e entende que saber se há ou não confisco depende
de uma análise geral de todos os impostos. Isto porque uma pessoa não é tributada num
imposto só, paga-se imposto sobre o rendimento, propriedade dos veículos, dos bens
imóveis, consumo, ou seja, paga-se vários impostos.

Exemplo: O João ganhou, em 2017, 100 mil euros. Em IRS é tributado em 48%. Fica com
quanto para ele? 52 mil. Ele compra coisas, toda a vez que compra incide o IVA, a alíquota do
IVA é 23%, para bens que não são bens de primeira necessidade. Aí ele tem um carro para o
qual paga imposto, p. e., 15%. Assim, não dá só 48% para Estado, ele dá 23% de todos os
gastos, 15% do automóvel e o que fica para ele? Quanto é que dos 100 mil que ganhou ficam
só para ele?

Para o TC saber se imposto é confiscatório ou não, é olhar para uma realidade estática,
olhar para os 48% de 100 mil; para parte da doutrina saber se a proibição de confisco está a
ser respeitada depende de uma realidade dinâmica, considerando a carga fiscal total que
incide sobre a pessoa.

A segunda questão tem a ver com o PRINCÍPIO DO ESTADO SOCIAL. Porquê? Porque há
vários tipos de Estado, a depender do tipo de ideologia política que uma determinada
sociedade escolhe para si. Como assim ideologia política? Liberal, socialista, comunista, etc. As
sociedades decidem que tipo de ideologia elas querem aplicar na realidade. Onde está a
decisão? Na CRP, a CRP são as opções fundamentais que uma determinada sociedade realiza
para si.

A CRP diz que o Estado português é um Estado Social, ou seja, é um Estado que assenta nas
liberdades privadas, reconhece que é um Estado capitalista (deixa o mercado funcionar, mas
orienta os agentes privados à consecução do bem público/social). Mas o Estado português não
é o Estado liberal do século XIX que se limitava a cumprir e só isso 3 funções essenciais: defesa
da nação, administração da justiça e manutenção das infraestruturas essenciais para o
funcionamento do mercado (obra A riqueza das nações, de Adam Smith). O Estado Social tem
um compromisso com a justiça e a igualdade social, como bem-estar social. Não se limita a
garantir a justiça, a garantir a proteção do território e a garantir as condições mínimas para o
funcionamento do mercado, ele assegura o bem-estar social.

E se a sociedade portuguesa fez essa opção, comprometendo-se com a justiça e bem-estar


social, o Direito Fiscal tem de realizar essas funções do Estado Social. E como ele realiza isso?
Promovendo justiça e igualdade social pela via dos impostos: tributando mais quem tem mais,
tributando menos quem tem menos, e não tributando nada a quem não tem nada. E de que
modo realiza tão intensamente os desígnios do Estado Social? Redistribuindo riqueza, e essa
redistribuição de riqueza dá-se, sobretudo mediante a incidência de taxas progressivas: quanto
maior a matéria coletável, a capacidade contributiva, maior a taxa ou alíquota do imposto.
Todo o imposto progressivo é redistributivo. Em Portugal é só o IRS. De que outro modo os
impostos podem cumprir a sua função redistributiva? Tributando grandes fortunas, p. e.,
impostos sobre o consumo de luxo. Este seria também uma forma fiscal de cumprir os
desígnios do Estado Social.

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EXERCÍCIO

Analise cada uma das medidas sob o ponto de vista jurídico-constitucional:

A) Em setembro de 2017, o Governo aprova um decreto-lei com vigência imediata relativo ao


IRC para reduzir a taxa para 12%.

É constitucional? Para saber se uma lei fiscal é constitucional tem de se olhar para os princípios
constitucionais do Direito Fiscal. Para que uma lei fiscal seja constitucional todos os princípios
têm de ser respeitados, se atuar fora dos limites da CRP a lei inconstitucional.

1º teste da norma fiscal: Princípio da legalidade

O que estabelece? Os impostos têm de ser criados por lei, com exclusiva competência da AR,
salvo autorização ao Governo (165º CRP 1ª parte). O artigo 165º estabece é que a AR é a única
que pode criar imposto. Assim, pelo 165º, não é inconstitucional, pois o Governo não criou um
imposto novo.

No entanto, o princípio da legalidade não se baste só com 1ª parte do artigo 165º. A legalidade
fiscal é criação de impostos com competência exclusiva da AR, mas o 103º diz que a lei tem de
determinar os elementos essenciais do imposto e então qualquer elemento essencial de
imposto que seja criado, modificado que não seja por lei é inconstitucional. Neste caso, o
Governo não criou um imposto novo, mas ele modificou um dos elementos essenciais do
imposto. Que elemento? A taxa ou alíquota do imposto. Se é elemento essencial do imposto o
Governo não pode fazer nada sozinho.

Posto isto, este decreto é inconstitucional, porque viola o princípio da legalidade fiscal.

Mas e se esse decreto lei tivesse sido autorizado? Seria inconstitucional? Qual seria o princípio
que poderia estar em causa? O princípio da segurança jurídica, este proíbe a retroatividade de
leis desfavoráveis ou a revogação livre de leis favoráveis. É o caso? Não. O Governo está a
melhorar. Não coloca problema de retroatividade. A lei fiscal mais favorável sempre retroage.

B) Em setembro de 2017, a Assembleia da República aprova uma Lei com vigência imediata
para majorar a taxa do IS para 33%.

O princípio da legalidade está preenchido.

O problema seria no âmbito da segurança jurídica. Problema da incidência da lei fiscal no


tempo. Mas esse problema de saber se pode mudar ou não mudar lei fiscal no tempo coloca-
se para que tipo de impostos? Sucessivo ou periódico. O imposto de selo é um imposto único,
de obrigação única. Então, a AR pode, em setembro, majorar a taxa de imposto selo? Pode.
Dali para a frente todos os factos tributários previstos no código do imposto de selo são
tributados em 33%. Não há inconstitucionalidade. Retroatividade autêntica proibida pelo
103º/3 CRP.

C) Em setembro de 2017, o Governo aprova uma decreto-lei com vigência imediata para
alterar o mês de liquidação do IRS de abril para junho de 2018.

O Governo criou o imposto? Não. Não é um problema de criação, mas pode ser de modificação
dos elementos essenciais do imposto. O Governo está a violar a legalidade fiscal? Está a criar

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imposto? Não. Então, não infringiu 165º. Está a modificar algum elemento essencial do
imposto? Não.

O Governo pode fazer isso, porque a liquidação, a aplicação da taxa à matéria coletável, é um
momento administrativo do imposto e regido pelo Direito Administrativo. Então, o Governo
pode regular.

D) Em setembro de 2017, a Assembleia da República aprova uma Lei com vigência imediata
para majorar em 1% todas as taxas do IMI.

O imposto municipal sobre bens imóveis coloca em causa o princípio da legalidade? Não, é
uma lei da AR. Mas pode colocar em causa o princípio da segurança jurídica. O IMI é um
imposto periódico para quem é proprietário, a 31 de dezembro, de um bem imóvel urbano. O
IMI considera um ano fiscal que coincide com um ano civil.

Aqui coloca-se o problema de saber se o princípio da segurança jurídica está ou não está a ser
violado. Está a modificar para pior a situação do contribuinte? Sim. Se melhorasse não haveria
problema. Modificar a lei fiscal no meio do ano pode? Depende de estar em causa uma
retroatividade autêntica, inautêntica ou retrospetividade. A importância desta distinção é se
pode ou não pode. Consoante o TC pode. No caso é retrospetividade, dado que facto gerador
ainda está a ser praticado, ainda não se consumou, só a 31 de dez. E aplica-se o 103º/3?
Depende. Segundo a jurisprudência do TC só se aplica o 103º para os casos de retroatividade
autêntica. Só ocorre retroatividade autêntica quando os efeitos dos impostos já foram todos
consumados. Se ainda não foram consumados o caso é de retroatividade inautêntica, nesta
não se aplica o 103º/3, só o princípio da confiança legítima.

7ª AULA
DIA 17/04/2018

INCIDÊNCIA TERRITORIAL
Já tendo começado a ver a incidência temporal do Direito Fiscal, quando incide a lei fiscal,
como o Direito Fiscal funciona ao longo do tempo, hoje, veremos uma outra dimensão da
incidência da lei fiscal, a dimensão territorial/geográfica. Porquê? Porque como os factos
geradores, que geram a obrigação de pagar imposto, são condutas que as pessoas realizam na
realidade, condutas que se expressam na auferição de rendimentos, de património ou na
realização do consumo (expressões da capacidade contributiva), essas condutas, condutas da
realidade, são praticadas em algum lugar. E aí o Direito Fiscal precisa de estabelecer regras de
incidência territorial.

O QUE É A INCIDÊNCIA TERRITORIAL? É o que o Estado português considera que é


praticado aqui em Portugal, são os fatos geradores considerados como praticados em
Portugal. E porque isso é relevante? Evidentemente, por uma questão de soberania dos
Estados/do poder estadual; Portugal não pode estabelecer um regime fiscal para, p.e., para a

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França. Os Estados só podem tributar o que eles consideram que é realizado dentro do seu
território, por isso que o Direito Fiscal precisa de estabelecer parâmetros de incidência
geográfica da lei fiscal.

E QUE PARÂMETROS SÃO ESSES DA INCIDÊNCIA GEOGRÁFICA/ TERRITORIAL? Artigo 13º


LGT:

• 13º/1 LGT: Como é evidente o primeiro parâmetro (e nem poderia ser diferente)
estabelece que AS NORMAS TRIBUTÁRIAS SÓ SE APLICAM NO TERRITÓRIO
NACIONAL. Porém, há casos em que o legislador considera que o facto gerador é
praticado em território nacional, embora a sua expressão se dê no estrangeiro. Se as
pessoas só vivessem dentro do território dos Estados, não era necessário este tipo de
normas; só que hoje em dia, no mundo globalizado, as pessoas viajam, consomem,
auferem rendimentos noutros Estados, então os legisladores nacionais precisam de
estabelecer critérios.
Os parâmetros que o artigo 13º estabelece no seu número 1 são para impostos
sobre o consumo e sobre o património, como regra, há exceções (que não se
estudam na disciplina). Só é tributado o consumo ou o património se o facto gerador
for praticado dentro do território português: é o que se chama de princípio da
territorialidade – a lei fiscal aplica-se no território em que ocorre o facto gerador. Ou
seja, se o consumo ocorreu dentro do território português vai ser tributado aqui, se o
património foi adquirido aqui e a propriedade do bem sujeito ao imposto é considera
obtida em território nacional esse facto gerador é tributado em Portugal.

Qual é o problema sobre os impostos sobre o património? Quando o património é


imóvel, não há problema nenhum; no imóvel é fácil saber se este está em Portugal
ou não. O problema dos impostos sobre o património ocorre no que concerne aos
impostos sobre o património móvel (navios, automóveis), porque esse património
móvel pode estar em vários territórios em momentos diferentes. O parâmetro da
territorialidade estabelece que, embora os bens possam estar fora do território
nacional, tem que se descobrir quem é o proprietário, quem praticou o facto
gerador, isto é, ser detentor do direito de propriedade. Se o proprietário reside em
Portugal o direito de propriedade dele existe dentro do território nacional, então vai
incidir imposto em Portugal. Mas se esse proprietário não for residente em Portugal,
o imposto sobre o património não vai ser devido aqui, vai ser devido no estrangeiro.
Exemplo de um casal francês que compra um carro e vem para Portugal. Eles pagam
imposto sobre o veículo em Portugal? Não. A propriedade do carro, que é o facto
gerador, não é regulada pela lei portuguesa.

• 13º/2 LGT: Porque é que os impostos sobre o rendimento têm uma regra especial?
Porque esse rendimento pode ter fonte em território nacional ou no estrangeiro.
Quem tributa os rendimentos? É Portugal ou os outros países? Precisa-se de
estabelecer uma regra para isso. A regra é a seguinte: independentemente da
nacionalidade da pessoa, o parâmetro é a residência. Considera-se residente em
território português quem esteja dentro de Portugal pelo menos 6 meses, 183 dias.
→ Para quem é RESIDENTE (obrigação pessoal) aplica-se o princípio do
rendimento global ou universal: a globalidade ou universalidade dos
rendimentos, todos os rendimentos que aufira, vai ser tributada em Portugal.

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→ Para o NÃO RESIDENTE (obrigação real) aplica-se o princípio da fonte do


rendimento: só vão ser tributados quanto aos rendimentos que tiverem
fonte/surgiram em Portugal.
Este tipo de regra pode dar ensejo no que se chama dupla tributação
internacional: dupla tributação significa que quanto ao mesmo facto gerador,
ao mesmo rendimento, incide duplamente o imposto, quanto ao mesmo facto
gerador, incide mais de um imposto; internacional porque esses impostos, que
incidem sobre um mesmo facto gerador, são impostos que pertencem a
ordenamentos jurídicos diferentes. Seria justo quanto à mesma manifestação
da capacidade contributiva ter de se pagar dois impostos? Não! O que é que os
Estados fazem para resolver esse problema? Celebram acordos, tratados
(espécies da convenção), celebram uma convenção internacional para eliminar
ou evitar a dupla tributação internacional (está-se dependente de um
instrumento de direito internacional público). Assim, a dupla tributação será
eliminada só e se houver uma convenção internacional que estabeleça a forma
como os Estados vão tributar esses rendimentos. A OCDE, atualmente, tem
encabeçado, tem se colocado na frente das convenções no âmbito da dupla
tributação. No entanto, a dupla tributação pode ocorrer se não haver
convenção ou se o Estado não quiser assinar uma convenção (este não é
obrigado a fazê-lo – é uma questão de soberania dos Estados), isto é, a dupla
tributação nem sempre vai ser eliminada, aplicando-se, assim, de modo duplo.

EXERCÍCIO

1. O Sr. JJB, nacional e residente na Argentina, é proprietário de um imóvel situado em


Coimbra. Decide vender o mencionado imóvel à Sra. ABC, de nacionalidade brasileira e
detentora de um visto de permanência de seis meses em Portugal para conclusão de seus
estudos. É devido IMT pela operação?

Sim. O IMT é diferente do IMI. Não se trata de um imposto sobre o património, mas sim um
imposto sobre o consumo. No caso, compra e venda de imóvel; o imposto sobre o consumo
incide sobre a transmissão de bens. O consumo, a transmissão de bens ocorreu no território
nacional? Sim. Vai incidir imposto português? Sim. Importa a nacionalidade do devedor e a
compradora? Não. O facto gerador foi praticado em Portugal, logo aplicasse a lei fiscal
portuguesa.

2. A Sra. XYZ, nacional portuguesa e residente em Aveiro, compra do Sr. RRS, nacional
português e residente em Lisboa, uma casa de campo no Vale do Loire, França. A
transferência onerosa do bem imóvel está sujeita a imposto em Portugal?

Não interessa a nacionalidade dos sujeitos, porque o parâmetro para a incidência da lei fiscal
portuguesa, para impostos sobre a transferência de bens sobre o património é o parâmetro da
territorialidade. Nos impostos sobre o consumo e sobre o património o parâmetro é o da
territorialidade. O facto foi praticado em Portugal? Não. Vai dever imposto em Portugal? Não.
No caso, a residência não interesse, só interessa nos os impostos sobre o rendimento.

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3. A Sra. ABC, nacional e residente em Portugal, é Professora da Faculdade de Economia
Universidade de Coimbra, auferindo uma renda anual de €34.000. Labora, ainda, como
profissional liberal, mediante a prestação de serviços de consultoria empresarial. Os ganhos
auferidos com a atividade de consultoria somaram €130.000 em 2014. Aproximando-se a
data para declaração e pagamento do IRS, a Sra. ABC consulta-o quanto à obrigatoriedade
de pagar imposto em Portugal sobre os rendimentos auferidos com a prestação do serviço de
consultoria em França, Brasil e Angola, que montaram € 70.000 em 2014.

Sendo um imposto sobre o rendimento qual é o parâmetro? Da residência. Essa senhora é


residente em Portugal? Sim. Ela é tributada de acordo com o princípio do rendimento global
ou universal. Se é residente paga imposto em Portugal sobre todos os rendimentos que aufira
dentro ou fora de Portugal. Logo, ela tem de pagar imposto em Portugal em relação ao
dinheiro que ganhou no estrangeiro? Sim.

4. O Sr. MMP, residente em China e nacional da Inglaterra, é investidor de um fundo de


infraestrutura português. Em 2014 recebeu deste fundo de infraestrutura a quantia de
€80.000 e questiona-o quanto às suas obrigações tributárias em Portugal.

Qual seria o imposto? Imposto sobre o rendimento. Ele investiu num produto financeiro que é
um fundo de investimento de infraestrutura e o banco paga-lhe rendas de capital; trata-se de
rendimento de capital. Sendo rendimento o parâmetro para a incidência territorial do imposto
é a residência. Ele é residente ou não? Não. Vai ser tributado com base no princípio da fonte.
Esse rendimento teve fonte em Portugal? Sim, porque esse rendimento adveio de um fundo
português, o fundo está em Portugal, o banco que administra o fundo é um banco português.
Esse rendimento saiu de Portugal, tem de ser tributado aqui. Ele tem de pagar imposto em
Portugal? Sim.

5. A empresa angolana PLL, com sede e direção em Luanda, instalou um escritório de


representação de exportações em Lisboa, cujo volume de negócio montou 300.000€ no ano
2012, somando-se ao lucro total da empresa que montou 900.000€ no mesmo ano. O
gerente jurídico da empresa consulta-o quanto à existência de obrigações tributárias
relativamente ao Estado português e a sua eventual extensão.

Que tipo de manifestação da capacidade contributiva está em causa? Rendimento. Uma


empresa que compra e vende coisas está a obter rendimentos dessa atividade económica.
Lucro é rendimento da empresa. O imposto sobre o rendimento tem por parâmetro a
residência. A empresa é residente em Portugal? Não, é em Angola. Então, vai ser tributada
com base no princípio da fonte. Dos 900 mil euros que ganhou no total, alguma parte teve
fonte em Portugal? Os 300 mil. Ela não auferiu esses 300 mil de rendimento vendendo coisas
em Portugal? Abriu um escritório para a representar empresarialmente, para vender coisas e
vendou 300 mil euros, que tiveram fonte em Portugal. Para esses 300 mil aplica-se imposto
português? Sim, o IRC. E o resto? E os 600 mil euros? Portugal não tem nada a ver.

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RELAÇÃO JURÍDICA FISCAL


(impostos únicos vs. Impostos periódicos)

PORQUÊ RELAÇÃO JURÍDICA? Porque está em causa, no direito fiscal, uma obrigação
jurídica. Qual é? Pagar imposto (36º LGT). Se é uma obrigação jurídica ele tem de estar no
meio de uma relação jurídica, ninguém se obriga juridicamente perante si próprio. Logo, se
está em causa uma obrigação jurídica, tem de ter pelo menos duas pessoas envolvidas. E
quando temos duas pessoas envolvidas surge uma relação, que no direito é uma obrigação
jurídica e que no âmbito fiscal é uma obrigação jurídica fiscal (30º LGT).

QUEM SÃO AS PESSOAS/OS SUJEITOS da relação? De um lado, tem o credor da obrigação,


quem recebe o pagamento da obrigação e, do outro lado, tem o devedor, quem tem de
cumprir a obrigação jurídica.

OBJETO DA RELAÇÃO JURÍDICA FISCAL (30º LGT)

O objeto da relação jurídica fiscal comporta uma obrigação principal e várias obrigações
acessórias.

OBRIGAÇÃO FISCAL OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS


(31º/1 LGT) (31º/2 LGT)

Junto da obrigação principal o legislador


cria várias outras, todas acessórias,
relacionadas com a obrigação principal,
Pagar o imposto (se praticou o facto mas cada uma delas tem de ser
gerador). satisfeita/cumprida autonomamente.

Têm a ver com a administração do


imposto.
30º/1/a LGT 30º/1/b, c, d, e LGT

Há um órgão da Administração Pública que o faz, o órgão das finanças, mais


especificamente a Administração Tributária.

PORQUE EXISTEM ESSAS OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS? Para facilitar a vida da Administração


Pública, para permitir/tonar efetiva, na realidade, a gestão administrativa dos impostos,
para assegurar que a Administração Tributária vai conseguir controlar a prática dos factos
geradores e, depois, controlando a prática dos factos gerados, controlar a liquidação e o
pagamento dos impostos.

COMO É QUE A ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA FAZ ISSO? De um modo geral, o que essas
obrigações acessórias fazem é obrigar o contribuinte a informar a Administração
Tributária. 36

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No caso das empresas elas têm a obrigação de emitir fatura, é uma obrigação fiscal
acessória para controlar o IVA. A mesma coisa para os restantes impostos, sobre o
rendimento. Como a Administração Tributária sabe quanto uma pessoa ganhou? Uma
pessoa confessa à Administração Tributária, declarando, IRS e IRC. Para as pessoas
coletivas não basta, tem de ter todo o suporto documental, caso de manutenção de
contabilidade atualizada.

Posto isto, a obrigação fiscal (principal) é uma obrigação jurídica:

• Especial;

• De caráter coercivo/coerciva: Ela independe da vontade. Se praticou o facto gerador


é devedor da obrigação fiscal.

• Unilateral: No Direito Fiscal a obrigação fiscal é bilateral? Só se dá algo quando se


recebe? Não, a relação jurídica fiscal só tem um credor e um devedor, não sendo, por
isso, uma relação bilateral.
Nas taxas há dois credores e dois devedores. O Estado na relação jurídica tributária
das taxas é credor e devedor, nos impostos não.
Quem é o credor da obrigação fiscal? O Estado. E quem é o devedor? O
contribuinte. Como se sabe quem é o contribuinte? É quem pratica o facto gerador,
a obrigação fiscal surge com a prática do facto gerador. Basta que na realidade
alguém realize uma conduta estabelecida numa lei como facto gerador de imposto
para surgir a obrigação fiscal. Logo, temos um sujeito ativo, o credor, e temos um
sujeito passivo da obrigação, que é o devedor.
Na realidade, há mais de um sujeito passivo e mais de um ativo (veremos na próxima
aula), hoje basta a ideia da relação jurídica fiscal.

• Ex lege: Tem fonte na lei, por isso que o princípio da legalidade fiscal é tão
importante (todos eles são). Então, a obrigação fiscal como a mera subsunção da
realidade/do facto gerador à lei. O que a lei prescreve aconteceu na realidade? Se
sim, surge a obrigação fiscal. Esta surge de modo automático com o encontro da lei
relativamente à conduta da realidade, que é o tal do facto gerador.

• Surge no momento da prática do facto gerador: Uma coisa é o momento do


surgimento da obrigação, surge com a prática do facto gerador, e outra coisa
diferente é essa obrigação se tornar exigível, passar a produzir efeitos. Qualquer
obrigação jurídica para ser exigível, ou seja, para que o credor possa exigir a
obrigação do devedor, a obrigação tem de ser certa e determinada. Enquanto as
obrigações não forem certas (dar o que, quanto de dinheiro) e determinadas não
pode ser exigível. Uma coisa é o momento do surgimento, mas ela só se torna certa e
determinada com a liquidação, ou seja, ela se torna exigível, pode passar a produzir
os seus efeitos, com a liquidação, a incidência da taxa do imposto, a alíquota sobre a
matéria coletável.

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• De natureza pública: atração das características especiais dos atos e poderes públicos
→ presunção de legalidade e legitimidade, exigibilidade, etc.

• Exequível e executiva: Não é auto-exequível. A sua execução depende somente do


ato tributário. O Estado, que é o credor, pode executar o devedor para que este
cumpra a obrigação. Como assim executar? Obrigar que ele satisfaça a dívida. Se ele
não paga o tribunal determina a penhora. A execução passa-se em tribunal, se não
paga voluntariamente, paga coerciva, com a venda forçada do seu património. Só
que é óbvio para a obrigação fiscal poder ser executada ela tem de ter sido liquidada.

• Semi-executória: Existe uma divisão de competências entre os tribunais e a


Administração Tributária. É a própria administração tributária que realiza quase
todas as competências da execução fiscal, o juiz, o tribunal, só faz uma coisa ou
outra, só tem poucas competências no âmbito do processo de execução fiscal. Ou
seja, o próprio órgão que liquida e lança a obrigação vai ser o órgão que vai executar
a obrigação. A Administração Tributária quase que auto-executa a obrigação fiscal; é
semi porque o tribunal tem competências a meio do caminho.

• Indisponível e irrenunciável: Salvo nos casos previstos na lei, os créditos tributários


não são suscetíveis de cessão a terceiros e as obrigações tributárias não são
suscetíveis de transmissão inter vivos (29º/1 e 3 LGT).
A indisponibilidade tem a ver com disponibilidade, possibilidade de transmitir. A
obrigação fiscal é indisponível, como regra, não pode ser transmitida. Nem o credor,
nem o devedor podem transmitir a obrigação. O credor não pode transmitir o seu
direito de crédito, como regra, e o devedor não pode transmitir a obrigação para
outras pessoas; só pode se a lei expressamente o permitir, em casos excecionais
(30º/2, 36º/3 e 37º/2 LGT).
A obrigação fiscal também é irrenunciável, significa que o credor não pode renunciar
ao crédito, o Estado não pode abrir mão do pagamento imposto, não pode perdoar
as dívidas. Se surge a obrigação fiscal, se ela é exigível, se lançada, o Estado tem a
obrigação de cobrar, mais do que um direito é um poder-dever. Há exceções, essas
exceções estão expressamente previstas na lei, tem de ser assim.

8ª AULA
DIA 24/04/2018

(a relação jurídica fiscal - continuação)

Na última aula referiu-se que a relação jurídica fiscal é unilateral porque só tem credor e
um devedor. É isso que diferencia os impostos das taxas. Do lado do credor estava o Estado e
do lado do devedor a pessoa que pratica o facto gerador, mas não é bem assim. Hoje veremos
o porquê.

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Tanto do lado do credor quanto do lado do devedor a relação fiscal é complexa, isto é, tem
mais de uma pessoa no polo ativo da relação fiscal (credor(es), i. é, quem vai receber o
dinheiro) e mais de uma pessoa no polo passivo (no âmbito de devedor). Então, os credores da
relação jurídica fiscal são também conhecidos como sujeitos ativos e os devedores são
conhecidos como sujeitos passivos.

QUEM SÃO OS SUJEITOS ATIVOS/TITULARES, OU SEJA, OS CREDORES, EM SENTIDO AMPLO, DA


RELAÇÃO FISCAL? (18º/1 e 2 LGT)
O Estado, mas o Estado tem um monte de órgãos, o Estado tem os seus poderes (executivo,
legislativo e judicial) e dentro desses poderes há órgãos e sub-órgãos e no poder local os órgãos
administrativos também têm uma organização complexa. Nos sujeitos ativos fala-se, principalmente,
de 4 tipos de sujeitos/órgãos do Estado:

LEGISLADOR: ADMINISTRAÇÃO SUJEITO ATIVO DA TITULAR DA RECEITA:


TRIBUTÁRIA: RELAÇÃO DE CRÉDITO:
É quem tem o poder de É o titular ou
tributar/poder tributário É o órgão público (do Sujeito ativo/credor em consignatário das
(princípio da legalidade Estado) que tem sentido estrito, é quem receitas do imposto
fiscal). competência tributária. tem o direito de receber (consignação subjetiva).
O 1º pressuposto para É quem administra, o crédito do imposto,
que seja formado uma liquida, lança e cobra os quem tem o direito de
relação jurídica fiscal é a impostos. exigir o seu pagamento,
lei, ninguém pode ser é em favor dele que o
obrigado a pagar imposto é instituído. É
qualquer imposto que quem tem a capacidade
não tenha previsão legal. tributária ativa.
É o legislador que, pela Trata-se de um órgão
via e lei, cria a obrigação diverso/diferente da
de pagar imposto. Administração Tributária.

EXEMPLO: LEI 2/2017, DE 15 DE JANEIRO:

Art. 10º: Constituem receitas dos municípios:

a) O produto da cobrança dos impostos municipais a cuja receita têm direito,


designadamente o imposto municipal sobre imóveis (IMI), o imposto municipal sobre as
transmissões onerosas de imóveis (IMT) e o imposto municipal sobre veículos (IMV), sem
prejuízo do disposto na alínea a) do artigo 17.º da presente lei;

b) O produto da cobrança de derramas lançadas nos termos do artigo 14.º;

c) O produto da cobrança de taxas e preços resultantes da concessão de licenças e da


prestação de serviços pelo município, de acordo com o disposto nos artigos 15.º e 16.º;

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d) O produto da participação nos recursos públicos determinada nos termos do disposto nos
artigos 19.º e seguintes; (…).

Art. 14º/1: Os municípios podem deliberar lançar anualmente uma derrama, até ao limite
máximo de 1,5% sobre o lucro tributável sujeito e não isento de imposto sobre o rendimento
das pessoas coletivas (IRC), que corresponda à proporção do rendimento gerado na sua área
geográfica por sujeitos passivos residentes em território português que exerçam, a título
principal, uma atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola e não residentes com
estabelecimento estável nesse território.

Art. 20º:

1 — Os municípios têm direito, em cada ano, a uma participação variável até 5% no IRS
dos sujeitos passivos com domicílio fiscal na respetiva circunscrição territorial, relativa aos
rendimentos do ano imediatamente anterior, calculada sobre a respetiva coleta líquida das
deduções previstas no n.º 1 do artigo 78.º do Código do IRS.
2 — A participação referida no número anterior depende de deliberação sobre a
percentagem de IRS pretendida pelo município, a qual deve ser comunicada por via eletrónica
pela respetiva câmara municipal à Direcção-Geral dos Impostos, até 31 de Dezembro do ano
anterior àquele a que respeitam os rendimentos.

Existe um imposto em Portugal chamado IMI, tem um outro imposto o IMT e tem mais um
que é o IMV:

O poder tributário está sempre no legislador ou no Governo quando seja autorizado pela
AR. A competência tributária é da Administração Tributária, que é quem vai liquidar, lançar e
cobrar o imposto. Mas o imposto não é municipal? A Administração Tributária é um órgão do
Estado, não do município, no entanto, o legislador manda que seja Administração Tributária.
Temos um órgão do Estado com a competência tributária, mas a natureza da capacidade
tributária e da titularidade da receita está conexionada a um outro órgão administrativo que
é o poder local.

O polo ativo inclui, assim, o legislador, a Administração Tributária e o município. Envolve 3


sujeitos diferentes, os 3 têm interesse nessa relação jurídica fiscal e os 3 estão no polo ativo da
relação. Normalmente, como a maioria dos impostos são para financiar o Estado português
essa dissociação dos sujeitos ativos não existe, mas no caso dos impostos municipais, os
municípios é que têm o direito de crédito.

Quem é que assegura a cobrança e lançamento? A Administração Tributária, não é um


órgão do poder local, mas o oposto também acontece, por isso é que é importante de fazer
essa diferente.

Os municípios podem ser titulares da receita de imposto que são estabelecidos em favor
do Estado. Ex: IRS e IRC. O poder de tributar está no legislador, a competência tributária é da
Administração Tributária, mas a capacidade tributária ativa é do Estado português. O IRS e o
IRC são impostos instituídos para financiar o Estado português. Quem é o credor do IRS e do
IRC? É o Estado, mas o legislador estabelece que os municípios são titulares da receita desses
impostos. O legislador estabelece que tudo o que o Estado português arrecadar como IRS e IRC
ele tem que dar 1,5% desse dinheiro (do valor das receitas do IRS e IRC) para os municípios.
Embora a capacidade tributária seja do Estado português, não é só o Estado português que é o

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Aulas práticas Profª Natália de Almeida Moreno
titular da receita, os municípios também são. Essa consignação das receitas do IRS e IRC é uma
forma de distribuir a receita dos impostos para financiar os poderes locais, estes também
precisam de ter fontes de receitas.

O polo ativo da relação jurídica tributária subdivide-se nessas 4 dimensões que podem ser
preenchidas por órgãos diferentes da Administração Pública, Estado, municípios, etc.

QUEM SÃO OS SUJEITOS PASSIVOS, OU SEJA, OS DEVEDORES DA RELAÇÃO FISCAL? (18º/3 e 4 LGT)
O mais importante é o polo passivo, dado que quem está no polo passivo é quem tem de cumprir a
obrigação ou obrigações fiscais, quem está neste polo é que é o devedor das obrigações. Quem é o
devedor? De quem é que o sujeito ativo pode exigir o pagamento dessas obrigações? No polo passivo
também pode haver mais de uma pessoa. Como é que é possível? Pode ser o caso de mais de uma
pessoa praticar o mesmo facto gerador. Como? Quem está a comprar um imóvel pode ser mais de uma
pessoa (pode ser um casal, p. e.) e quem está a vender pode ser mais de uma pessoa também.
Mas a complexidade do polo passivo da relação jurídica fiscal não está aí. A complexidade do polo passivo
está em mecanismos que a Administração Tributária, ou melhor, o Estado Fiscal criou para assegurar o
cumprimento das obrigações fiscais. Há, portanto, três tipos de sujeitos passivos, que integram o polo
passivo da relação jurídica fiscal:

CONTRIBUINTE: SUBSTITUTO TRIBUTÁRIO: RESPONSÁVEL TRIBUTÁRIO:

É a pessoa que pratica o facto Há dois tipos de substitutos Tanto no caso de substituição
gerador. tributários, ou melhor, há dois total como no caso de
tipos de substituição substituição parcial, o dinheiro
No entanto, nem sempre vai tributária: a substituição total tem de ser entregue para o
ser o contribuinte a cumprir as e a substituição parcial. Estado. O artigo 28º LGT
obrigações fiscais. Em teoria, explica quem tem que
Como nome indica, o
quem pratica o facto gerador é entregar esse dinheiro para o
substituto é quem substitui o
que deveria cumprir a Estado, isto é, quem é o
contribuinte no cumprimento
obrigação principal (pagar o responsável tributário. É a
das suas obrigações fiscais: de
imposto) e cumprir as pessoa cujo património vai ser
modo total, no caso da
obrigações acessórias, dado executado, vai responder com
substituição total, ou de modo
que é a capacidade o seu património, pela
parcial, no caso da
contributiva do contribuinte quitação da dívida do
substituição parcial, onde
que se quer atingir. imposto; se não pagar vai ser
parte das obrigações vão ser
executado pelo Estado.
cumpridas pelo substituto,
Mas, para facilitar a vida do mas a outra parte continua
Estado Fiscal, nem sempre vai A responsabilidade varia se se
com o contribuinte, só ocorre
ser o contribuinte a cumprir as tratar de substituição total ou
a substituição em algumas
obrigações fiscais, pode parcial, por isso é que a
obrigações.
acontecer de estas terem de diferença é relevante, porque
ser cumpridas por uma outra vai ter efeitos a nível da
pessoa que não é o responsabilidade tributária.
contribuinte, i. é, o substituto
tributário e/ou o responsável
tributário.

O artigo 20º estabelece que a substituição tributária se verifica quando, por imposição da
lei, a prestação tributária for exigida a pessoa diferente do contribuinte, o substituto
substitui o contribuinte no cumprimento das obrigações de modo total ou parcial. Mas não
explica como isso se opera, apenas diz que a substituição tributária é efetivada através do
mecanismo de retenção da fonte + 33º e 34 LGT + leis especiais: v. g., 21º e 103º CIRS.
41
Quem ajuda a entender o artigo 20º é o artigo 28º que explica os diferentes tipos de
substituição tributária, que não estão esclarecidos no 20º, e as consequências da
substituição tributária.
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Para que possamos entender a substituição temos um exemplo: Imagine-se que a relação
jurídica fiscal seja uma relação respeitante ao IRS.

O contribuinte vai ser a pessoa que ganhou os rendimentos, praticou o facto gerador. No
IRS, como em todos os outros impostos, há uma obrigação principal (pagar o IRS, entregar o
dinheiro para o Estado) e várias obrigações acessórios (realizar a declaração de IRS, etc). A
regra seria a de que quem auferiu rendimentos, quem praticou o facto gerador do IRS,
cumprisse todas as obrigações, dado que é ele o contribuinte é ele que tem as obrigações.

Só que se o Estado fosse deixar na mão das pessoas singulares o cumprimento de todas as
obrigações fiscais, que são obrigações complexas, o grau de invasão fiscal seria imenso. Isto
porque nem sempre é simples descobrir e fazer o que o Estado quer que se faça; nem sempre
o contribuinte tem condições de cumprir ele próprio as suas obrigações perante o Estado
Fiscal e aí, se nem sempre tem condições de cumprir ele próprio as suas obrigações perante o
Estado Fiscal, o Estado arrecadará o mesmo valor se deixar nas mãos das pessoas singulares o
cumprimento dessas obrigações? Arrecadará muito menos.

O que o Estado faz para facilitar a vida do Estado Fiscal e evitar a invasão fiscal? Em vez de
ser o Estado Fiscal a prestar auxílio, esse auxílio é prestado pelos particulares e pelo Estado
quando é empregador de alguém. Se as empresas sabem como calcular os impostos delas, se
têm contabilista, advogado, consultor, então, além de pagar o imposto delas, elas vão ajudar
as pessoas singulares a cumprir as suas obrigações.

O mecanismo pelo qual o Estado consegue fazer isso é a substituição tributária em que o
legislador (sempre tem de estar na lei) estabelece na lei que outra pessoa, diversa da pessoa
do contribuinte, tem de cumprir as obrigações fiscais, normalmente as mais complexas e
difíceis. E o mecanismo pela qual essa substituição ocorre é a tal da retenção na fonte. Como
assim retensão na fonte?

RETENÇÃO NA FONTE Fonte do rendimento,


de onde sai o dinheiro

Significa que quem está a pagar o rendimento ao contribuinte retém


alguma coisa na fonte, na origem do rendimento.

Ocorre uma retenção, mas retenção de que? Do imposto.

O que acontece no âmbito da retenção da fonte?

Imagine a Empresa X que tem o senhor J como empregado. O senhor J é o contribuinte do


IRS, é quem aufere os rendimentos, é o senhor J que pratica o facto gerador. No entanto, o
Estado estabelece que quem paga os rendimentos do senhor J (o seu salário) é que está
obrigado a realizar a retenção na fonte. Dado que é a Empresa X a fonte do rendimento do
senhor J, é ela que fica obrigada a realizar a retenção na fonte.

Como isso acontece?

Quando a empresa paga o salário, ela retém o imposto correspondente na fonte. Se a


Empresa X retém o imposto na fonte significa que quando ela entrega o salário ao senhor J ela
entrega o salário menos o que ficou retido na fonte.

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Como funciona isso?

Imagine-se que o senhor J recebe 800€ p/mês de salário (salário bruto). São os rendimentos
do senhor J que somados a longo do ano estão sujeitos a imposto. Só que o legislador, para
assegurar que esse imposto vais ser pago, faz com que a empresa tenha de reter o imposto na
fonte. Se esse imposto está redito na fonte, a empresa não vai entregar 800€ para o senhor J,
vai entregar os 800 menos o que ficou retido na fonte.

Como o salário bruto do senhor J está na alíquota de 14,5% do IRS, então o que a Empresa
X faz? Antes de pagar o salário do senhor J, ela vai aplicar a alíquota de 14,5% sobre os 800€, o
que dá 116€, isto é, 116€ é o correspondente do imposto naquele mês. Então, a Empresa X
não vai entregar os 800€, mas os 800€ menos o que ficou retido na fonte, menos 116€, ou
seja, vai entrega 684€ para o senhor J.

O imposto que o senhor J deve para o Estado, vai ser entregue para o Estado, não por ele,
mas pela Empresa X. É por isso que ela retém na fonte esse imposto, porque é ela que o
entrega para o Estado; não só entrega o imposto, como ela preenche a declaração do
trabalhador. É a empresa que é a substituta, pois a empresa está mais bem colocada para
cumprir as obrigações do que o senhor J, ela tem contabilista, está bem organizada, etc. As
fiscalizações que o Estado faz em sede de IRS não recai na pessoa do contribuinte, recai antes
na pessoa da fonte, quem paga o rendimento da pessoa singular.

No artigo 28º diz como essa fiscalização se traduz em sede tributária.

HÁ DOIS TIPOS DE RETENÇÃO NA FONTE e esses tipos são muito relevantes para saber o
tipo de substituição tributária que ocorre no caso concreto:

RETENÇÃO NA FONTE A TÍTULO RETENÇÃO NA FONTE A TÍTULO


DEFINITIVO PROVISÓRIO
Porque é Da retenção na fonte a título Da retenção na fonte a título
relevante? definitivo vai resultar uma provisório vai gerar uma substituição
substituição tributária total. tributária parcial.

O imposto que fica retido na fonte é O imposto que fica retido na fonte a
definitivo, fica retido definitivamente, título provisório pode ser depois
como o nome indica. corrigido/modificado. Então, o
imposto que fica retido na fonte a
título provisório não vai ser
necessariamente o imposto total a ser
pago (pode ser mais ou menos).

Explicação das duas situações:

No exemplo da Empresa X que paga o salário do senhor J e retém na fonte os 14,5%. Aí


quando se falou que, com base no salário, provavelmente a alíquota a ser aplicada é de 14,5%
é provavelmente mesmo, porque o que pode acontecer é que o senhor J além dos
rendimentos do salário que ganha, pode auferir outros rendimentos. Imagine-se que o senhor
J além de trabalhar para a Empresa X arrenda um apartamento dele para à senhora M. A

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senhora M paga renda e o que senhor J recebe de renda - é seu rendimento. O senhor J
também pode ter ganho no ano uma indemnização que é igualmente rendimento. No final do
ano, ou seja, quando for praticado o facto gerador do IRS, todos esses rendimentos têm de ser
somados e não necessariamente a alíquota irá ser a mesma. O IRS é um imposto progressivo,
quanto mais rendimento maior a alíquota. Pode acontecer que no final do ano o senhor J estar
sujeito a uma alíquota de 27,5%, mas o que ficou retido na fonte foi só os 14,5% e aí o que se
faz? O imposto retido na fonte não satisfaz/não quita a obrigação fiscal, assim o que ficou
retido tem de ser corrigido, tem de pagar mais. Neste caso fica retido a título provisório.

Posto isto, quando uma pessoa é trabalhador dependente, assalariado, trabalha por conta
de outrem, ocorre substituição tributária; as relações do empregador com o seu empregado
ensejam a substituição tributária. O empregador é obrigado a reter na fonte o correspondente
do imposto a ser pago pelo trabalhador, mas essa retenção dá-se a título provisório. E porque
é que o tipo de substituição, quando a retenção na fonte é provisória, é chamada de parcial?
Porque parte da obrigação fiscal do contribuinte é cumprida pelo substituto, o empregador,
no caso pela Empresa X, o que ficou retido na fonte ele entrega para o Estado, ele está a
cumprir uma parte da obrigação, mas não desonera o trabalhador, no caso o senhor J, de
cumprir a outra parte da obrigação: o resto do imposto que tem de pagar, mais algumas
obrigações acessórias, a declaração de rendimento, p.e; quando o trabalhador tiver de
declarar o IRS ele pode ter mais rendimentos que vão modificar a obrigação do imposto. Daí
que a substituição ocorra de modo parcial: o contribuinte continua com obrigações, só foi
substituído em parte.

Na substituição total não! Na substituição total - cuja retenção na fonte se dá a título


definitivo - o contribuinte fica desonerado totalmente (daí a natureza total da substituição)
das obrigações fiscais. Isto se realizada por intermédio das denominadas taxas liberatórias,
que incidem - como se pode verificar no artigo 71º do CIRS - somente sobre alguns tipos de
rendimentos (e.g., os rendimentos de capital) e, também, sobre determinados tipos de
contribuintes (os não residentes, como regra, há exceções).

Imagine-se uma Empresa Y que tem sede na França. Mas essa empresa investe a bolsa de
valores portuguesa, em ações na bolsa de valores, e ganha dinheiro com essas ações. Se ganha
dinheiro a fonte do rendimento está em Portugal, tem de pagar imposto aqui. Para o Estado
português é mais fácil cobrar esse imposto da empresa que está na França ou de quem paga o
rendimento para essa empresa que tem sede em Portugal? De quem é residente ou não
residente em Portugal? De quem é residente. E se o imposto não for pago? Pode executar os
bens de cá. Como é que o legislador facilita a vida da Administração Tributária? Estipulando
para esses tipos de rendimento quando estejam em causa não residentes, sobretudo, ocorre
retenção na fonte, mas essa retenção na fonte é diferente do senhor J, porque essa retenção
na fonte é definitiva, o que ficar retido quita a obrigação fiscal do contribuinte.

Exemplo: IRS. Em vez de ser uma empresa francesa, imagine-se que é uma pessoa singular
francesa que investiu em um fundo de infraestrutura português, fundo esse que é mantido
pelo banco ABC português e cujo rendimento de capital foi de 10 mil euros. Se há retenção na
fonte, o banco não vai pagar a integridade dos 10 mil euros, vai reter o imposto
correspondente, assim o que o banco vai entregar para à pessoa singular é 10 mil euros menos
o imposto devido. E aí o que o banco ficar com ele a título de imposto irá quitar a obrigação
fiscal. Porque irá quitar a obrigação fiscal? Porque substitui totalmente a pessoa singular nas
suas obrigações, a pessoa não tem pagar mais nada de imposto em Portugal. O que ficou
retido, o que o banco ficou com ele, libera o contribuinte das suas obrigações fiscais,

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ocorrendo, assim, uma substituição total, isto é, foi totalmente substituído nas suas obrigações
pelo banco ABC. Daí o nome do instrumento de retensão na fonte a título definitivo ser taxa
liberatória, uma vez aplicada libera o contribuinte das obrigações fiscais.

9ª AULA
DIA 15/05/2018

SUBSTITUIÇÃO TOTAL SUBSTITUIÇÃO PARCIAL


A retenção dá-se a título definitivo
(Libera/desonera totalmente o contribuinte das
suas obrigações fiscais; as suas obrigações fiscais A retenção dá-se a título provisório.
quanto a esses rendimentos estão quitadas.
Quem fica com a obrigação é o substituto).

Como regra, opera-se através das Como regra, opera-se através de pagamento
denominadas taxas liberatórias. por conta.

Exemplo: 71° do CIRS – Estão sujeitos a Exemplos: 98° e 99° do CIRS – O 98º
retenção na fonte, à taxa liberatória (…): estabelece que nos casos previstos no artigo
a) Os rendimentos de capitais (…) 99° e seguintes a entidade devedora dos
(elementos da categoria E do IRS); rendimentos, isto é, quem paga os
b) Os rendimentos de valores rendimentos, sujeitos a retenção na fonte,
mobiliários (…). as entidades registadoras ou depositárias,
consoante o caso, são obrigadas no ato do
pagamento, do vencimento, ainda que
presumido, da sua colocação à disposição,
da sua liquidação ou do apuramento do
respetivo quantitativo, consoante os casos,
essas entidades pagadores são obrigadas a
deduzir-lhes as importâncias
correspondentes à aplicação das taxas neles
previstas por conta do imposto respeitante
ao ano em que esses atos ocorrem.

Um dos casos em que surge esta obrigação


de reter na fonte deduzindo as importâncias
devidas a título de imposto do montante
que será pago é o caso das entidades
patronais que pagam rendimentos de
trabalho dependente, assim como as
entidades que pagam pensões (99º/1).

Tanto as taxas liberatórias, como no pagamento por conta são espécies de retenção na
fonte, por isso que a LGT estabelece que a substituição tributária se estabelece por retenção
na fonte.

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PORQUE É RELEVANTE? Para efeitos de responsabilidade tributária (22º e ss. LGT)

É preciso ver a última figura: os responsáveis tributários (página 42).

Em direito, responsabilidade, no sentido tradicional da palavra, significa dizer que a pessoa


responde com o seu património para a quitação/pagamento de obrigações jurídicas, isto
porque nem sempre as obrigações são quitadas de modo voluntário. Se não se quitar a
obrigação precisa-se de saber quem é que vai responder com o seu património pelo
pagamento da obrigação, ou seja, se não foi paga voluntariamente, a obrigação será paga de
modo coercivo. A obrigação vai ser cobrada com ações judicias e as formas de quitação
forçada das obrigações jurídicas se chama execução. É o que distingue as obrigações jurídicas
das obrigações morais.

O que significa essa execução? Se a pessoa não paga por bem, paga por mal. Logo, quem é
o responsável fica com o seu património sujeito a execução, é quem pode ser executado, ou
seja, quem tem de pagar/quitar a dívida/obrigação.

Posto isto, a obrigação não é só fiscal, é também jurídica. Se se fala de uma obrigação fiscal
o tipo de execução irá ser uma execução fiscal e só os responsáveis tributários podem ser
executados fiscalmente.

COMO REGRA, QUEM É QUE TEM LÓGICA SER O RESPONSÁVEL TRIBUTÁRIO? O


contribuinte, foi ele que praticou o facto gerador.

No entanto, há casos em que não será o contribuinte sozinho a responder pelo


pagamento da dívida (EXCEÇÃO À REGRA): responsabilidade tributária por dívida(s) de
outrem/alheias/de terceiros - quando uma pessoa diversa do contribuinte tem de pagar a
dívida.

Todas as hipóteses de responsabilidade tributária por dívida de outrem têm de estar


previstas na lei, isto porque trata-se de uma situação excecionalíssima, pois, em regra,
ninguém tem de pagar uma dívida que não é sua. Para alguém pode ser obrigado a pagar uma
dívida que não é sua o legislador tem de o determinar; se não tiver previsto na lei, então, não
se é obrigado a pagar nada de ninguém. Assim, as hipóteses de responsabilidade tributária
estão exaustivamente enumeradas na lei; a enumeração legal das hipóteses de
responsabilidade não é exemplificativa é exaustiva.

Quando há mais de uma pessoa responsável por uma mesma obrigação/dívida (artigo
22º/2), a relação que essas pessoas, que são os responsáveis, têm entre si pode ser:

→ Horizontalizada, ou seja, quando os responsáveis estão no mesmo patamar, no mesmo


estrato jurídico, na mesma situação jurídica.

Aqui a responsabilidade é solidária, pois se eles estão no mesmo patamar ambos, têm
as mesmas obrigações/deveres. Assim, as dívidas podem ser cobradas de qualquer um
dos responsáveis. Nas responsabilidades do tipo solidário o credor, no caso o Estado
Fiscal, como ambos são solidários, pode escolher se vai cobrar a dívida:

▪ De todos os responsáveis em conjunto;


▪ De apenas um dos responsáveis.

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Os responsáveis têm responsabilidade relativamente à obrigação toda, perante o credor
todos os devedores devem a integralidade da dívida, por isso é que o credor pode
cobrar a dívida de só um deles.

Então: o Estado quer receber 100 euros de imposto. Pode cobrar só de B, só de A ou


cobrar 100 euros dos dois. E se o B pagar a totalidade? Para o Estado não há problema
algum, mas para com o A logo se verá, é com B.

→ Verticalizada, ou seja, quando há uma ordem de preferência que não pode modificada,
para a cobrança da dívida.

Aqui a responsabilidade é subsidiária. Se os devedores forem subsidiariamente


responsáveis, a execução tem de ser movida primeiro contra o devedor
originário/responsável principal. Só se uma parte ou o total da dívida não conseguir ser
paga pelo principal é que o credor pode ir atrás dos responsáveis subsidiários.

Mas para isso acontecer, para o credor que vai executar o devedor original poder ir atrás
dos bens do devedor ou responsável subsidiário, alguma coisa tem de acontecer no
processo de execução, porque quando o credor está a cobrar a dívida do responsável
principal o subsidiário não sabe de nada sobre o processo. Por uma questão de mínimo
de segurança jurídica, tem de haver um ato formal que informe o devedor subsidiário
sobre o processo, de forma a que a execução fiscal que primeiro estava a ser movida
contra A possa passar a ser movida sobre o B. Esse ato chama-se de reversão, por isso
que a LGT diz que a responsabilidade subsidiária se opera através da reverão da
execução fiscal, porque a execução fiscal que estava a ser movida contra A reverte para
o B (23º LGT).

Então, o tipo de responsabilidade é importante para saber quem responde com o seu
património para o pagamento das dívidas e quando responde.

É obvio que a responsabilidade solidária é muito mais onerosa do que a subsidiária: uma
coisa é estar sempre com o património sujeito a execução outra coisa é estar sujeito a
execução se o outro não pagar. É por isso que o legislador estabelece que a responsabilidade
tributária por dívidas de outrem será, como regra, salvo determinação em contrário
expressamente prevista na lei, apenas subsidiária (22º/4). Há, todavia, exceções. No entanto,
essas exceções não são bem exceções porque os casos de responsabilidade solidária não são
casos próprios de responsabilidade por dívida de outrem.

O primeiro caso de responsabilidade solidária é o seguinte: artigo 21º/1 - quando os


pressupostos do facto tributário se verifiquem em relação a mais de uma pessoa, todas são
solidariamente responsáveis pelo cumprimento da dívida tributária. Porque não é caso de
responsabilidade por dívida de outrem? Se o pressuposto do facto gerador é verificado em
relação a mais de uma pessoa significa que mais de uma pessoa pratica o facto gerador em
conjunto, se duas praticam juntas o facto gerador são ambas contribuintes, então esse caso
não é de responsabilidade por dívida de terceiro é, antes, por dívida própria, pois os dois
deram surgimento a obrigação fiscal juntos, tendo todos de pagar a dívida, pois todos são
devedores da dívida como um todo.

Exemplo: duas pessoas compram juntas um imóvel, praticam o facto gerador do IMT.

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Um outro caso de responsabilidade solidária dá-se nas hipóteses de liquidação de
sociedade: artigo 21º/2 - quando a sociedade entra em falência, p. e., quando a sociedade vai
sair do mundo jurídico, alguém precisa de pagar as suas dívidas. Aqui todos os sócios da
sociedade são responsáveis pelo pagamento da dívida.

Os casos de responsabilidade subsidiária, ou seja, quando há um devedor principal, como


regra, o contribuinte e há o devedor subsidiário que ao vai ser executado se o património do
devedor principal não for suficiente para pagar a dívida: 23º e ss.

O 23º estabelece que a responsabilidade subsidiária se opera por reversão da execução


fiscal e os números subsequentes estabelecem como funciona essa reversão: os credores têm
de aguardar os devedores subsidiários serem notificados, os responsáveis subsidiários têm
direito de defesa, a reversão é precedida de audição do responsável subsidiário.

Os artigos seguintes enumeram as hipóteses de responsabilidade tributária subsidiária.

Todas as hipóteses de responsabilidade tributária subsidiária se relacionam com um dever


de cuidado e supervisão que os responsáveis subsidiários têm de ter para com o devedor
originário. Tanto as hipóteses da norma do artigo 24º, 25º, 26º e 27º tem a ver com pessoas
que têm o dever legal de motorização e fiscalização, sobretudo no caso das pessoas coletivas.
São as pessoas físicas individuas que administram as pessoas coletivas e aí os administradores,
gestores, sócios das pessoas coletivas têm o dever legal de cuidar da pessoa coletiva e
assegurar que a pessoa coletiva esta a cumprir a lei. A pessoa coletiva é uma ficção jurídica,
por isso os casos de responsabilidade subsidiária existem para que as pessoas que tem
obrigação de cuidar de outra pessoa, é o caso dos administradores, gestores e gerentes de
pessoas coletivas (24º). Para além disso, todas as hipóteses de responsabilidade subsidiária
têm a ver com uma posição de garante, pois as pessoas têm de assegurar o cumprimento de
terceiros relativamente às suas responsabilidades jurídicas. Se as sociedades não pagarem as
suas dívidas, o Estado vai executar a sociedade, vai executar os responsáveis subsidiários, os
administradores, os gestores, os sócios.

Dentro da cadeia de responsabilidade subsidiária, num dos degraus de responsabilidade


subsidiária, pode haver responsabilidade solidária. Exemplo: caso dos sócios das sociedades.

Imagine-se a sociedade A que tem 4 sócios: o B, C, D e E. Os sócios são subsidiariamente


responsáveis pelas dívidas da sociedade, assim como os gestores, gerentes e administradores.
Então, se o Estado primeiro executa a sociedade, mas se ela não tiver dinheiro suficiente o
Estado vai atrás do património dos sócios, mas o B , C, D e E estão todos na mesma posição
jurídica, então eles são responsáveis solidários. Entre eles há solidariedade, mas entre eles e a
sociedade a relação é de subsidiariedade.

E aí, evidentemente, que nos casos de subsidiariedade tributária há hipóteses de


responsabilidade por dívida de outrem. Quem cumpre a obrigação fiscal é responsável.

O 28º diz quem, quando e quanto será responsável nos casos de subsidiariedade. O que
estabelece? Em caso de substituição tributária a entidade obrigada à retenção (o substituto) é
responsável pelas importâncias retidas e não pagas ao Estado, ficando o substituído
desonerado de qualquer responsabilidade no seu pagamento.

No caso de subsidiariedade parcial, em que o substituto só substitui parcialmente o


contribuinte, o substituto é responsável totalmente da sua parte, mas o contribuinte tem mais

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responsabilidades, porque a substituição foi parcial. O contribuinte tem de quitar mais
obrigações para com o Estado.

Na substituição total o substituto substituí o substituído, o contribuinte fica totalmente


desonerado. Na parcial, o contribuinte ainda fica com responsabilidades.

Porém, o tipo de substituição (total ou parcial) faz diferença quando o substituto não
cumpre o que deveria, que é reter na fonte o imposto. E aí se coloca a dúvida: se quem
deveria realizar a retenção na fonte não realizou, quem é o responsável pelo pagamento
desse dinheiro do imposto? E isso que o 28º/2 e 3 respondem:

→ Quando for substituição parcial: 28º/2 - cabe ao substituído, ao contribuinte, a


responsabilidade originária pelo imposto. Então, nos casos de substituição parcial, se o
substituto não realizar a retenção na fonte quem responde, em primeira linha, é o contribuinte
e o substituto responde de modo subsidiário (responsável principal/originário:
contribuinte/substituído; responsável subsidiário: substituto);

→ Quando for substituição total: 28º/3 - o substituído, ou seja, o contribuinte, é apenas


subsidiariamente responsável e é subsidiariamente responsável pela diferença entre o que
ficou retido na fonte e o que deveria ter ficado (responsável principal/originário: substituto;
responsável subsidiário: contribuinte/substituído).

Resumindo, se o substituto realizar de modo certo a retenção na fonte aplica-se do 28º/1, o


substituto é o responsável; se o substituto não cumprir com todas as suas obrigações vai
depender do tipo de substituição: se a substituição for parcial aplica-se o 28º/2, se a
substituição for total o 28º/3.

EXERCÍCIO

A Sra. XYZ aufere renda mensal de € 800,00 pagas pela empresa ABC Restauração Ltda. a
título de trabalho dependente (categoria A) e, a cada mês, tem retido na fonte o percentual
de 14,50. Relativamente ao IRS devido a título dos rendimentos desta natureza auferidos,
identifique:

(i) sujeito(s) ativo(s):

Sujeitos ativos:

→ O detentor do poder tributário, o legislador;

→ O detentor da competência tributária, a AT;

→ O detentor da capacidade tributária ativa, o Estado português e quem concretiza é a AT;

→ O detentor da titularidade da receita: tanto o Estado como os municípios (no caso do


IRS).

(ii) contribuinte: quem pratica o facto gerador, a senhora XYZ, quem aufere os
rendimentos.

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(iii) devedor(es) do imposto: Há substituição tributária? O 98º e 99º CIRS estabelece que as
entidades patronais que pagam salários de trabalho dependente estão obrigadas a reter na
fonte a título de pagamento de conta do percentual do imposto. No trabalho dependente e no
pagamento de pensões há substituição tributária, mas substituição tributária do tipo parcial.
Regra, categoria A e H do IRS substituição tributária parcial. Rendimento de capital, taxa
liberatória. Quem são os devedores? O contribuinte e a entidade patronal que é o substituto.

(iv) responsável(is) tributário(s): Para casos de responsabilidade tributária decorrente de


substituição o 28º prevê 3 hipóteses diversas. Quem vai ser o responsável tributário?
Depende! O substituto reteve na fonte tudo o que devia? Se sim o contribuinte fica totalmente
desonerado quanto ao que ficou retido na fonte. O que e o que está a ser perguntado, (desta
natureza). Daí que se não realizou a retenção na fonte aplica-se o nº 2 do 28.

EXERCÍCIO

O Sr. XYZ, residente em Argentina, é sócio da empresa ABC Comércio Ltda., sociedade por
quotas com sede em Lisboa, e, no ano de 2016, auferiu, em decorrência de sua participação
de 40% nas quotas da sociedade, € 45.000,00 a título de rendimentos de capital. Identifique:

Rendimento de capital: categoria E de IRS.

O senhor é não residente. Rendimento de capital de não residente.

(i) sujeito ativo: Idêntico ao anterior.

(ii) contribuinte: O senhor XYZ, quem pratica o facto gerador.

(iii) devedor do imposto: Há substituição tributária? Rendimento de capital é de não


residente é substituição total (71º) taxa liberatória. Quem são? O contribuinte (o substituído) e
a empresa (o substituto).

(iv) responsável(is) tributário(s): Depende se entregou tudo ou não. Se sim aplica-se o 28º
nº1, se não o 28º nº 3.

10ª AULA
DIA 22/05/2018

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Aulas práticas Profª Natália de Almeida Moreno

EXTINÇÃO DA OBRIGAÇÃO FISCAL: Como é que a relação jurídica morre?


A obrigação fiscal/relação jurídica fiscal nasce com a prática do facto gerador, se
desenvolve entre os sujeitos ativos e os sujeitos passivos e tem por objeto as obrigações fiscais
(principal e acessórias). O que se precisa de saber agora é como que a relação jurídica fiscal
acaba/se extingue:

• Pagamento em dinheiro (40º LGT e 84º e 148º CPPT): é o caminho natural de


extinção relação jurídica fiscal, trata-se do pagamento/quitação das obrigações.
Sendo uma das caraterísticas da obrigação fiscal o seu caráter pecuniário, se o
caráter é pecuniário a forma normal de quitar a obrigação fiscal é entregar dinheiro
para o Estado.

No entanto, de modo excecionalíssimo, pois a obrigação fiscal é pecuniária, existe a


possibilidade de o sujeito passivo poder entregar outra coisa para o Estado, diversa de
dinheiro. E essa outra coisa pode ser:

• Entrega de um bem e aí se configura a tal de dação em pagamento (40º/2 LGT e 87º,


201º e 202º CPPT): Na dação em pagamento acontece o que o nome desse instituto
indica, alguém dá um bem para o Estado em pagamento. Só que essa dação em
pagamento, como coloca em causa a natureza pecuniária da obrigação fiscal, está
sujeita a várias condições:

→ É necessária a previsão expressa em lei. O Direito Fiscal é um direito


extremamente legalista. Tem de estar prevista em lei a possibilidade de
entregar coisa diversa de dinheiro.

→ O credor tem de aceitar, se o "combinado" está previsto na lei. O Estado


tem de aceitar a dação em pagamento até porque isso coloca um ónus ao
Estado de liquidar/vender esse bem, transformar o bem imobilizado em
dinheiro.

Essas condições mudam a depender da fase em que a relação fiscal se encontra:

→ Se o devedor quiser pagar a dívida, entregando um bem para o Estado, ou


seja, pela via da dação em pagamento, antes da execução fiscal, ou seja, ele
ainda está a pagar de modo voluntário, ainda não está a ser executado, essas
condições são muito mais estritas;

→ se o devedor já estiver a ser executado, as condições são facilitadas para


quitar a dívida fiscal, pela via da dação em pagamento. Porque será que na
execução fiscal é mais fácil para o devedor dar um bem em pagamento?
Porque o resultado da execução fiscal será a penhora e a venda judicial de um
bem dele, do património dele, o resultado será o mesmo. Entre o juiz penhorar
e alienar o bem e entregar o bem em pagamento, se o resultado final vai ser
tendencialmente o mesmo, é muito mais fácil para o devedor dar um bem
quando a execução fiscal já está instaurada e isso encontra-se expressamente

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previsto na lei porque o pagamento não voluntário, está fora do prazo normal,
é regulado não só pela LGT, como por dois outros diplomas legislativos,
principalmente o CPPT (Código de Procedimento e Processo Tributário).

Se o devedor não paga no prazo a dívida, a A.T. vai tomar providências para
satisfazer o seu crédito e sendo um órgão do Estado como é que ele atua?
Mediante a emissão de atos administrativos, que se estiverem em
sequência/encadeados, formam um procedimento administrativo. E se a
Administração Tributária não resolver o problema administrativamente, vai
resolver judicialmente (há em Portugal tribunais especializados para julgar
matérias fiscais, os tribunais administrativos e fiscais). Então, os
procedimentos e processos tributários têm regras especiais, uma vez que se
trata de uma relação entre a Administração e os administrados, relação que é
especial e que, por tal razão, tem normas especiais de regulamentação. Mas é
evidente que tanto o CPA, quanto o CPTA, que regulam as relações
administrativas em geral, se aplicam, de modo subsidiário, às relações fiscais.
No entanto, nessas matérias envolvendo pagamento, sobretudo pagamento
forçado, nós vamos ver as normas do CPPT.

O CPPT estabelece, quanto à dação em pagamento, que a dação em


pagamento antes der ser iniciado o processo de execução fiscal só é admissível
no âmbito de processo conducente à celebração de acordo entre o credor e o
devedor, entre o Estado e o sujeito passivo. Daí que, antes da execução fiscal,
i. é., no processo conducente à celebração do acordo, o Estado tem de
concordar em receber um bem a título de pagamento; todavia, se não quiser
não está obrigado a aceitar um bem em pagamento.

Há alguns requisitos quanto à avaliação desses bens. Importância da avaliação do


bem oferecido em pagamento: é com base no valor da avaliação que o bem vai ser
alienado para se converter em dinheiro para pagar ao Estado. Aí tem várias questões
específicas quanto a esse procedimento de avaliação, quem realiza, se o devedor
pode impugnar ou não a avaliação, tem procedimentos específicos para avaliação
desses bens.

• Entrega de um direito de crédito e aí se configura a compensação (40º/2 LGT e 89º a


90ºA CPPT): Como assim um direito de crédito? O Estado Fiscal e os sujeitos passivos
encetam/realizam várias relações fiscais, dado que para cada facto gerador surge
uma relação fiscal, pode acontecer de em alguma relação que o sujeito passivo tenha
com o Estado, o Estado dever dinheiro a essa pessoa. Isto é, de entre das diversas
relações que o sujeito passivo tem com o Estado, numa das relações esse sujeito
passivo, em vez de ser devedor ele é credor do Estado, ele tem o direito de crédito
perante o Estado.

Há vários exemplos que podem ser dados: no âmbito do IVA os sujeitos passivos que
exportem bens para fora da UE têm direito de ser reembolsados pelo Estado quanto
ao IVA que eles suportaram em determinado período, logo o Estado tem de entregar
dinheiro para essas pessoas, assim, nesta hipótese, o particular é credor do Estado.

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Imagine-se que o Estado tem de entregar 2 mil euros para e empresa XPTO, em
dezembro de 2016, mas o Estado não entrega o dinheiro e aí relativamente ao IRC
essa mesma empresa deve ao Estado 5 mil euros a título de pagamento do IRC. Aí o
que a empresa pode fazer? O que o Estado pode automaticamente fazer? Compensar
os créditos e as dívidas. Se o Estado tem de entregar 2 mil euros à empresa XPTO e
tem de receber 5 mil euros da empresa XPTO, ele pode compensar as duas coisas e
assim a XPTO só tem de pagar 3 mil euros para o Estado.

Posto isto, ele paga a dívida dele, dando o direito de crédito, compensando o crédito
que ele tem perante o Estado. Todavia, há condições para isso acontecer. Que
condições são essas? São as condições do artigo 40º/2 LGT mais 89º a 90ºA do CPPT.

Os nº 2 e 3 do artigo 89º do CPPT estabelecem regras para o caso de o valor do


crédito não ser suficiente para o pagamento total da a dívida fiscal (que é o caso do
exemplo). O legislador estabelece ordens de preferência (nº 2) – os créditos são
compensados para pagar:
1. os juros de mora,
2. outros encargos legais e do capital da dívida.

O nº 3 estabelece uma ordem de preferência quanto ao tipo de dívida que primeiro é


compensada:

1. Com dívidas da mesma proveniência (crédito de IRC com dívida de IRC, IVA
com IVA, IRS com IRS) e, se respeitaram a impostos periódicos, relativas ao
mesmo período de tributação;
2. Com dívidas da mesma providência e, se respeitam a impostos periódicos,
respeitantes a diferentes períodos de tributação;
3. Com dívidas provenientes de tributos retidos na fonte ou legalmente
repercutidos a terceiros e não entregues;
4. Com dívidas provenientes de outros tributos (p. e. um crédito de IVA sendo
compensado relativamente a uma dívida do IRC).

A compensação (compensar créditos com dívidas) pode dar-se:


→ ex officio pela Administração Tributária: significa de ofício a A.T. faz sozinha,
ninguém lhe pede, ela decide fazer sem requerimento da outra parte. E se o
contribuinte não quiser? Azar, quem tem de decidir a forma que a obrigação vai ser
satisfeita é a A.T..
→ A pedido/por iniciativa do contribuinte (90º e 90ºA CPPT): se não se der de
modo automático, ex officio, pela A.T., o próprio contribuinte pode solicitar a
compensação e aí ele tem de formalizar esse pedido, tem de apresentar uma petição
ao dirigente máximo da A.T., vai ser aberto um processo tributário para analisar o
pedido do contribuinte e no final o pedido pode ou não ser deferido, ou seja, a A.T.
decide se vai ou não diferir o pedido de compensação.

Então, para além dessas formas de pagamento voluntário (40º LGT e 84º CPPT) …

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▪ Em espécie (regra: natureza pecuniária da obrigação fiscal) – 40º/1 LGT. Há a
possibilidade de requerer o pagamento em prestações (42º LGT + 86º/2 CPPT);
▪ Dação em pagamento/em cumprimento (exceção) – 40º/2 LGT.

… há o pagamento forçado, há execução fiscal, mas a execução fiscal é uma forma coerciva
de quitação, não é voluntária, nenhuma execução judicial de dívidas é voluntária.

Assim, se o pagamento for voluntário ótimo, todos os problemas relativos à relação jurídica
fiscal acabaram. Se quem tem de quitar a obrigação ou obrigações (principais e acessórias)
realizar a quitação extingue-se a relação jurídica tributária. Mas pode acontecer de o
pagamento não se dar de modo voluntário e aí quem não paga por bem paga por mal: pode
acontecer de esse pagamento ser um pagamento forçado e aí, já se viu que uma das
caraterísticas da obrigação fiscal, a sua natureza executiva e semi-executória. Significa isto que
se o pagamento não se der de modo voluntário, o Estado pode executar diretamente o
responsável tributário para satisfazer o cumprimento da obrigação. Daí a execução forçada das
obrigações fiscais ter o nome de execução fiscal. E no processo de execução fiscal o que o
Estado vai fazer é verificar os bens dos responsáveis tributário e, eventualmente, aliená-los
para satisfazer o pagamento devido. (Viu-se na aula passada) se o responsável principal não
conseguir quitar a dívida, o Estado reverte a tal de execução fiscal relativamente aos
responsáveis subsidiários.

Mas há outra forma de obrigação fiscal sumir do mundo jurídico:

• Prescrição (48º LGT e 297º/2 CC): uma dívida prescrita não pode mais ser exigida,
muito menos executada. Por isso é importante a diferença entre a caducidade da
prescrição:
- A prescrição (prazo de 8 anos, contados desde a prática do facto gerador) tem a ver
com o direito/pretensão de exigir o pagamento. Não é o próprio direito de crédito
que desaparece, por isso que as dívidas prescritas podem ser pagas voluntariamente
e não dão aso a repetição do pagamento, porque o direito de crédito continua
existente, o que o credor não pode fazer é exigir o pagamento.
- Já a caducidade (prazo geral de 4 anos, contados desde a prática do facto gerador –
45º LGT) tem a ver com o próprio direito de crédito. Se houve caducidade
desaparece o direito de crédito e no caso fiscal ele nem sequer se aperfeiçoa, pois se
a obrigação nunca foi certa, nem determinada (não foi liquidada), ela nunca se
aperfeiçoou, nunca produziu efeitos no mundo jurídico, nunca foi eficaz
juridicamente.

TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES FISCAIS/MODIFICAÇÕES NOS POLOS


ATIVO E PASSIVO DA RELAÇÃO TRIBUTÁRIA
As modificações no polo ativo e passivo da relação jurídica fiscal são muito excecionais.
Porquê? Como regra, a obrigação fiscal é intransmissível, inalienável e irrenunciável (29º
LGT). Assim, a regra é da intransmissibilidade, inalienabilidade e irrenunciabilidade do direito
de crédito e da intransmissibilidade do dever jurídico/obrigação do devedor de pagamento.
Então, o Estado abrir mão da sua qualidade de sujeito ativo é excecional, bem como os sujeitos
passivos transmitirem as obrigações fiscais é excecional.

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Como assim intransmissível se pode haver mais de uma pessoa no polo passivo da relação
jurídica tributária? Ter substituo tributário ou responsável tributário não significa que houve a
transmissão da obrigação para essas pessoas, ninguém transmitiu nada para ninguém porque
a qualidade de substituto e de responsável tributário são atribuídas pela lei; então não há
transmissão, não se transmite responsabilidade e não obriga ninguém a ser substituto. Quem
estabelece essas posições jurídicas é o legislador e tanto o substituto quanto o responsável
integram o polo passivo desde o início/nascimento da obrigação fiscal (quem está obrigado a
realizar retenção na fonte já integra o polo passivo, bem como quem está obrigado a
responder com o seu património pelas obrigações fiscais, ainda que no caso de responsável
subsidiário possa nunca ser ativada).

O QUE CONFIRA A TRANSMISSÃO DA DÍVIDA? A transmissão da dívida é muito excecional.


A regra é da intransmissibilidade, mas há exceções e essas exceções são duas e duas somente
e essas exceções estão expressamente previstas na lei de modo exaustivo:

• TRANSMISSÃO DE DÍVIDA CAUSA MORTIS (29º/1 LGT): isto é, quando o devedor morre.
Quando uma pessoa morre tudo o que tem (em termos de dívidas, direitos, património,
bens) forma a herança. Antes de terminar o inventário, antes de dar a cada herdeiro
cada parte da herança, a herança chama-se indivisa.
Nos casos de sucessão causa mortis o juiz, normalmente, vai pegar tudo o que pessoa
tem de positivo (património, dinheiro, eventuais direitos), mas também vai ver se tem
dívidas, se tem deveres, obrigações e responsabilidades a serem satisfeitas (a dívida
fiscal entra aqui). Aí o que se vai realizar? De tudo o que a pessoa tem de património,
direitos, rendimento, vai se subtrair ao que ela deve, inclusive as dívidas fiscais e os
herdeiros só vão receber a diferença. E se não for suficiente? Os herdeiros não assumem
as dívidas do morto, a herança é que vai ser a recetora da dívida. A transmissão causa
mortis da obrigação fiscal não é uma transmissão que se dá entre o morto e os
herdeiros, os herdeiros não se tornam sujeitos passivos da obrigação fiscal, a
transmissão dá-se entre o morto e a herança. A herança, embora não tenha
personalidade jurídica própria, ela é uma entidade desprovida de personalidade jurídica
que recebe tratamento autónomo pelo direito. E pela possibilidade das coisas positivas
que a pessoa deixou não serão suficientes para pagar todas as dívidas é que existe uma
ordem de preferência para a quitação das dívidas e em quase todos os ordenamentos
jurídicos os créditos fiscais costumam estar em primeiro na ordem de preferência.

• TRANSMISSÃO DE DÍVIDA INTER VIVOS – Sub-rogação (29º/3 e 41º LGT): se a


transmissão não é causa mortis, então será inter vivos, entre pessoas vivas e nesse caso
uma pessoa, que não é o devedor, paga a obrigação fiscal. E aí porque é que se diz que
há transmissão da obrigação? Porque o terceiro que paga a obrigação fiscal se sub-roga
nos direitos da A. T.. Como assim? Como regra, ninguém está obrigado a pagar dívida
alheia, salvo nos casos de responsabilidade tributária, quem tem de pagar a dívida é o
contribuinte. No entanto, se um terceiro, uma pessoa fora da obrigação fiscal tributária,
pagar a dívida do sujeito passivo ele passa a ser o credor da obrigação, ele se sub-roga
no direito de crédito do Estado Fiscal. Todavia, isto não pode acontecer sempre,
porquê?
Exemplo: Imagine-se que dois colegas, o João e o José, brigam e ficam inimigos. Aí o João tem
uma dívida perante a A.T. e o José, porque é inimigo do João, paga a dívida do João e fica a
atazanar a vida dele para o obrigar a pagar a dívida, ou seja, passa a estar numa posição de

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credor e, estando nessa posição, está numa posição de poder e de potestade que subjuga o
devedor.

Por isso é que o legislador não permite, sobretudo no âmbito fiscal, que seja qualquer
pessoa a pagar a dívida alheia. Por isso é que o legislador estabelece uma norma, ou
melhor, uma condição, para que esse terceiro possa pagar a dívida do sujeito passivo e
essa condição é o interesse jurídico: só quem tem interesse jurídico é que pode pagar
uma dívida que não é sua. E o que é isso do interesse jurídico? É o interesse que uma
pessoa tem, numa determinada situação, que pode afetar a sua esfera jurídica; sempre
que uma pessoa estiver numa posição em que a sua esfera jurídica de direitos, deveres e
responsabilidades pode ser afetada, surge o interesse jurídico. Assim, para isso
acontecer, para que o terceiro proceda ao pagamento de dívidas alheias (91º CPPT):

1. Ele tem de demonstrar interesse jurídico;


2. Requerer à A.T. a declaração de sub-rogação;
3. O devedor tem de autorizar.

Uma vez sendo esse requerimento aprovado pela A.T. ocorre a tal da sub-rogação, essa
sub-rogação acontece de modo parecido na prática com a substituição tributária só que
se dá no lado do credor. O terceiro que paga a dívida recebe o direito de crédito com
todas as garantias que a A.T. tinha, inclusive a executoriedade fiscal da dívida; o crédito
é repassado com as mesmas garantias, pessoais e reais, que tinha o crédito da A.T. (50º
LGT + 92º/1 CPPT), tendo ao seu dispor o processo da execução fiscal (92º/2 CPPT).

Então, antes a relação era A.T. vs. sujeito passivo; aí o terceiro mete-se no meio da
relação jurídica e paga a dívida e a relação tributária passa a ser entre o terceiro que
pagou a dívida vs. devedor e esse terceiro sub-rogado pode fazer tudo o que A.T. podia
para receber o devedor o valor devido, inclusive instaurar a execução fiscal.

EXERCÍCIO

Imagine que em 2/5/2016 tenha expirado o prazo para pagamento do IMI/2015 referente ao
imóvel sito à R. das Flores, nº 1, Coimbra, no montante de € 1.500,00. O Sr. ABC, proprietário
do imóvel, deixa transcorrer in albis o prazo para pagamento voluntário. Diante disso,
questiona-se:

a) Poderá a Sra. ABC, esposa em regime de comunhão de bens do Sr. ABC, realizar o
pagamento? Que efeitos decorreriam?

As dívidas relacionadas a bens imóveis aderem ao imóvel, a satisfação dessas dívidas se dá


prioritariamente com a alienação do imóvel, é o caso da as hipotecas.

As dívidas fiscais relativas ao património também configuram dívidas de natureza real,


incidem sobre o património. Se não paga o IMI é sujeita a uma execução fiscal, é a primeira
coisa que se coloca em jogo para pagar a dívida é o imóvel.

Há uma dívida de IMI. A senhora ABC que é esposa em regime comunhão de bens do
senhor ABC quer realizar o pagamento. Ela pode? Embora o imóvel esteja no nome do senhor
ABC se são casados em regime de comunhão de bens a senhora tem direito a metade da
dívida. É um dos casos de responsabilidade solidária. Se é responsável solidária ela sempre
pode pagar a dívida, integra o polo passivo desde o início. Ela é tão devedora como o marido.

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Se nós temos um responsável tributário a quitar a dívida qual é o efeito do pagamento do IMI
pela senhora? Não há sub-rogação, ela não se sub-roga no direito de crédito da A.T., mas
depois tem o direito de regresso contra o outro responsável.

b) Poderá o Sr. XPTO, arrendatário do referido imóvel, realizar o pagamento? Que efeitos
decorreriam?

O Sr. XPTO está no polo passivo da relação desde o início? Não! Mas ele tem interesse
jurídico em pagar a dívida do imóvel? Sim, porque se o senhor ABC não pagar a dívida o imóvel
vai ser alienado judicialmente e isso mexe com a esfera jurídica do arrendatário do imóvel,
pois coloca em causa o contrato de arrendamento. O senhor XPTO é um terceiro com interesse
jurídico em pagar a dívida. Pode pagá-la? Sim. Quais os efeitos? A sub-rogação.

c) Poderá o Sr. ABC oferecer um automóvel de sua propriedade como pagamento do


imposto? Que efeitos decorreriam?

Questão da dação em pagamento, que depende da anuência da A.T..

d) Considerando que o Sr. ABC pagou a mais € 850,00 a título de IRS/2015, poderá
compensar o crédito?

Aplica-se os parâmetros para a compensação por iniciativa da A.T. ou por requerimento do


devedor. No caso, porque são impostos diferentes (a dívida de IMI ele quer compensar com o
crédito do IRS) é muito relevante indicar a ordem de preferência das compensações.

11ª AULA
DIA 23/05/2018

CESSÃO DE CRÉDITOS POR PARTE DA A.T.


A A.T. está autorizada por lei a vender/ceder/transferir onerosamente os créditos que ela
tem, tanto créditos de impostos, como de taxas e contribuições, para outra pessoa
(normalmente um banco).

A cessão de créditos tem efeitos iguais àqueles da sub-rogação: o novo sujeito que vai
integrar o polo ativo, que é o cessionário do crédito, adquire o crédito tributário com todas as
suas caraterísticas e especialidades; o cessionário do crédito fica com todas as caraterísticas do
credor tributário, pode mover execução fiscal, tem todas as garantias. A diferença entre a
cessão e sub-rogação é que na cessão a iniciativa de transferir a posição ativa da relação
jurídica tributária (ceder os créditos) para terceiro é da própria A.T..

Porque o Estado faz isso? Porque os créditos tributários são cobrados pela A.T. só que essa
cobrança, mesmo pela via da execução fiscal, leva tempo e custa dinheiro. Assim, quando
precisa de dinheiro rápido, de receber de forma rápida créditos (p. e., para fechar o ano fiscal,
fechar o orçamento anual) ela aliena, cede a sua posição ativa na relação jurídica
fiscal/tributária e recebe dinheiro em contrapartida. É evidente que sendo a obrigação

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tributária, como regra, intransmissível, inalienável e irrenunciável o legislador coloca vários
requisitos para que a cessão possa ocorrer: lei 103/2003, de 5 de dezembro.

ATIVIDADE ADMINISTRATIVA
FISCAL
O Estado Fiscal não deixa de ser Estado. Os
órgãos responsáveis por dar seguimento ao
Estado Fiscal são órgãos administrativos e toda
a atividade administrativa, sobretudo uma
atividade administrativa de caráter tipicamente
público, cuja expressão fiscal apresenta poderes
públicos monopolizados pelo Estado, como o poder de cobrar de modo coercivo prestações
dos particulares (os impostos são obrigações ex lege, coativas). No âmbito fiscal, o Estado tem
poderes próprios que somente ele e mais nenhum outro sujeito de direito tem. O Direito Fiscal
expressa uma demonstração máxima dos poderes públicos. Se a A.P. em geral já tem de seguir
inúmeros parâmetros, princípios, procedimentos para levar a efeito as suas funções, por
maioria de razão a Administração Fiscal está sujeita a inúmeros parâmetros jurídicos para
realizar as suas competências e funções. E são esses parâmetros jurídicos gerais (há vários
especiais), e tal como as demais entidades da Administração, as competências e funções em
sede fiscal, ou melhor, a atividade administrativa fiscal, o exercício das funções de natureza
fiscal da Administração, se expressa através de atos, procedimentos e processos. Então, o
Estado Fiscal para emitir atos administrativos e, especialmente, atos fiscais ou tributários, leva
a efeito procedimentos e processos.

Posto isto, há uma CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS ATOS bastante relevante, sobretudo para
efeitos de reação dos particulares. No âmbito fiscal, os sujeitos passivos da relação fiscal
também têm meios de reação, meios de demonstrar que eles não concordam com os atos
expedidos pela A.T. e aí a classificação dos atos do Estado Fiscal, da Administração Fiscal, é
importante para saber que meios/instrumentos de reação os sujeitos passivos da relação
fiscal vão ter à sua disposição: atos administrativos em matéria tributária, atos tributários e
atos relativos a questões tributárias.

EM QUE MEDIDA OS ATOS TRIBUTÁRIOS SE DIFERENCIAM DOS DEMAIS?

Tanto os atos administrativos em matéria tributária quanto os atos administrativos


relativos a questões tributárias são largamente regulados pelo CPA e pelo CPTA, são atos
administrativos, mas que dizem respeito a coisas do Estado Fiscal, mas a natureza desses atos
é idêntica à natureza dos atos administrativos em geral. Então, os atos administrativos em
matéria tributária e os atos administrativos relativos a questões tributárias vão ser
principalmente, salvo uma ou outra regra especial de Direito Fiscal, regulados pelos diplomas
gerais que regulam a atividade da A.P.. Os atos tributários não, estes são especiais e são
regulados por diplomas especiais: a LGT e o CPPT.

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Faz diferença porque num conflito entre leis sempre vai prevalecer a lei mais especial.
Então, no universo de todos os atos da A.P. há um conjunto de atos que é especialíssimo que
são esses atos tributários (regulados por regras especiais), logo essas normas especiais sempre
vão prevalecer. Em sede fiscal, aplica-se, como norma, o CPPT e subsidiariamente o CPA e o
CPTA, porque o CPPT, por ser um diploma de natureza especial, tem prevalência aplicativa
relativa aos diplomas gerais que regulam atividade geral da A.P..

• ATOS ADMINISTRATIVOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA: São todos os atos praticados


pela A.T. para possibilitar/viabilizar a cobrança do imposto.

O principal exemplo destes atos são os atos praticados para apurar/determinar a


base do imposto (a matéria coletável; quantum material sobre que incide o imposto),
que são logicamente conectados aos atos tributários, pois para liquidar um imposto é
necessário apurar a sua base, i. é., a sua matéria coletável.
Esse apuramento pode ser feito por:
→ Liquidação realizada por particulares: Autoliquidação (realizada pelo
contribuinte) [ex.: 27º CIVA] ou liquidação em substituição (realizada pelo
substituto tributário – o substituto quando realiza a retenção na fonte do imposto,
tem de liquidar o imposto correspondente) [ex.: 71º CIRS];
É importante ter em mente que tem sido cada vez mais frequente uma
atuação privada nestes domínios - daí, p. ex., o fenómeno da autoliquidação.
Em sede de delimitação da matéria coletável nos impostos sobre o rendimento
- outro exemplo -, são os próprios contribuintes (ou substitutos tributários,
sendo o caso), pela via das declarações de rendimentos, que acabam por
delimitar a matéria coletável, cabendo à AT somente confirmar os atos
praticados pelos agentes privados - ou, sendo o caso, determinar a revisão e
retificação daqueles atos. Daí falar o Doutor Casalta Nabais de uma
"administração ou gestão privada dos impostos" - o que só analisamos mais
aprofundadamente em Fiscal II.
→ Liquidação administrativa: Realizada pela Administração Tributária [ex.: 113º
CIRS].
Métodos de avaliação da matéria coletável:
– Apuramento direto/avaliação direta (83º/1, 82º/1 LGT, 104º/1 e 2
CRP): Quando a A.T. apura a matéria coletável mediante provas
concretas/da realidade. Esta é a regra, mas porquê? A matéria
coletável do imposto é o que expressa a capacidade contributiva do
sujeito passivo, só quem tem capacidade contributiva pode pagar
imposto.
– Apuramento indireto/avaliação indireta (83º/2, 82º/2 a 4, 85º, 87º ss.,
77º (especialmente nº 4 e 5) e 84º/3 LGT LGT): São situações
excecionais, pois a regra é apurar a matéria coletável mediante as

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provas da realidade. Nestes casos, a A.T. presume a capacidade
contributiva, pois apura a matéria coletável com base em presunções.
Se parte de presunções/aproximações ela não está a apurar a
verdadeira capacidade contributiva do contribuinte. A A.T. não tem
provas dos efetivos rendimentos que o contribuinte teve, ela fixa a
matéria coletável e tributa com base nessa matéria coletável
presumida. Em que caso isso pode acontecer? Quando haja fundada
suspeita de que o contribuinte está a tentar burlar o fisco, a A.T.;
quando o contribuinte está a aplicar métodos fraudulentos ou ilegais
para fugir da cobrança de imposto. Nesta situação, A.T., diante da
fundada suspeita, pode abrir um procedimento administrativo, chamar
o contribuinte e pedir-lhe para comprovar os seus rendimentos
(métodos diretos), mas se a A.T. não estiver satisfeita, se tiver
fundamentos suficientes, vai avaliar de modo indireto a matéria
coletável.

Quanto aos atos administrativos em matéria tributária de avaliação, como estes


apuram a base do imposto, são logicamente anteriores à liquidação (para liquidar é
preciso saber a matéria coletável). Mas pode ser o caso de serem praticados também
posteriormente, quando a matéria coletável precise ser revista ou retificada (seja por
erro ou qualquer suspeita/prova de ilicitude).

• ATOS TRIBUTÁRIOS [em sentido estrito] (os que são mais importantes para nós): São
os atos de liquidação administrativa dos impostos, ou seja, atos que consistem em
aplicar a taxa/alíquota do imposto à matéria coletável, significa que são operações
destinadas a apurar o montante do imposto. E esse ato de aplicar a taxa do imposto à
matéria coletável, que é especialíssimo, é um ato exclusivo da A.T.. O ato/momento
de liquidação é um momento relevante em sede tributária porque é a liquidação que
confere exigibilidade e eficácia à obrigação fiscal, a obrigação fiscal passa a produzir
efeitos, bem como, esse ato de liquidação da obrigação fiscal, aperfeiçoa-se com a
liquidação da obrigação fiscal, isto é, torna essa obrigação perfeita e acabada (aqui
reside a importância destes atos, tal como a sua diferença relativamente a todos os
atos administrativos em geral). Antes da liquidação, a obrigação já existe, mas não
pode ser exigida, nem há um efetivo/exigível direito de crédito do Estado, este
depende da liquidação – o direito de crédito é meramente potencial (só se efetiva
com a liquidação). Se o Estado não liquidar em 4 anos o seu direito de crédito
caduca, o Estado perde esse direito de crédito, pois nunca chegou a se efetivar. É
diferente da prescrição, aqui existe o direito de crédito, o Estado não pode é mais
cobrar de modo coercivo/coativo. A prescrição tem a ver com a possibilidade de
cobrar forçadamente a obrigação, já a caducidade tem a ver com o direito subjetivo
do Estado, o direito de crédito.

Embora alguns autores só falem dos atos de liquidação nesse sentido estrito, e a
liquidação em sentido estrito é a aplicação da taxa à matéria coletável, há outros
autores que falam de uma liquidação em sentido amplo, que engloba a liquidação em
sentido estrito como os demais atos que complementam essa liquidação em sentido
estrito, porque depois que a taxa é aplicada à matéria coletável o resultado dessa

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operação é tal da coleta do imposto, é o quantum do imposto a pagar. Só que da
maioria são impostos, sobretudo os impostos sobre o rendimento, preveem
deduções à coleta, ou seja, pegam o quantum do imposto, a coleta, o resultado da
liquidação, e subtraem alguns valores de modo que se houver as tais deduções à
coleta o valor efetivo/final do imposto a pagar se dá com a aplicação da taxa à
matéria coletável e com tais operações de deduções à coleta.

Exemplo: O IRS trata-se de um imposto pessoal; é o imposto pessoal do


ordenamento jurídico português. Pessoal significa que todas as caraterísticas
pessoais têm de ser consideradas aquando da operação. No 78º e ss. CIRS, há várias
normas para apurar a matéria coletável às taxas do IRS, taxas de natureza
progressiva (o IRS é um imposto progressivo), aí a A.T. aplica a taxa à matéria
coletável e liquida o IRS e o resultado disso é a coleta. Só que nesse Código do IRS há
inúmeras deduções à coleta, isto é, o que a pessoa gasta com a educação e a do
agregado familiar, saúde, despesas com lares, etc.

Imagine-se uma coleta de 3 mil euros, mas temos despesas de educação, saúde,
pagamento do lar e apresenta um monte de dedução à coleta num valor de 1.200
euros. O valor final do IRS a pagar vai ser 3 mil menos 1.200 que dá 1.800, i. é., o
valor do imposto a pagar final é de 1.800.

Por isso que alguns autores falam da liquidação em sentido amplo, porque embora o
ato da liquidação apure a coleta do imposto, se houver dedução à coleta o resultado
final vai depender dessas deduções. Daí alguns autores incluírem os atos de dedução
à coleta como atos tributários, como atos de liquidação do imposto em sentido
amplo porque esses atos interferem no resultado final do imposto a pagar.

• ATOS ADMINISTRATIVOS RELATIVOS A QUESTÕES TRIBUTÁRIAS: Tratam-se de atos


proferidos em procedimentos administrativos especiais. São atos administrativos,
não são atos tributários em sentido estrito e são atos diferentes dos atos em
matérias tributárias, mas esses atos administrativos relativos a questões tributárias
acabam por produzir efeitos na relação jurídica tributária.
São, em uma imagem, "paralelos" aos atos tributários e ao procedimento tendente à
liquidação e posterior cobrança dos impostos, embora os seus efeitos possam
modificar a relação jurídica fiscal (e.g., na concessão de um benefício fiscal, o
contribuinte pode ficar isento, total ou parcialmente, do pagamento do imposto).
Temporalmente, os atos administrativos relativos a questões tributárias podem ser
praticados anterior, concomitante (em procedimentos administrativos autónomos)
ou posteriormente aos atos tributários.

O principal exemplo dos dois principais exemplos passíveis de serem apresentados


são:

✓ Todos os atos relacionados a concessão de benefícios fiscais. Os benefícios


fiscais, como o próprio nome indica, são vantagens que o Estado dá aos
particulares em sede fiscal, que aliviam a carga fiscal dos contribuintes e
normalmente se expressam como isenções fiscais totais ou parciais, sendo
necessária a sua previsão na lei.

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Exemplo: isenções em até 70% para as microempresas. O microempresário
solicita à Administração o reconhecimento desse benefício fiscal e a A.T. tem
de abrir um procedimento para processar o requerimento do particular e
normalmente esses procedimentos são especiais, regulados por normas
especiais. Já aí os atos praticados para reconhecer ou não a microempresa o
benefício fiscal são atos relativos a questões tributárias, são atos
relacionados com o Direito Fiscal porque afinal se o benefício for reconhecido
o sujeito não vai pagar na totalidade do imposto, ele só pagará 30% do
imposto.

São atos que produzem efeitos na relação jurídica fiscal, mas não são atos
internos à relação jurídica fiscal, são externos, não fazem surgir ou delimitar
a relação fiscal, são acessórios a essa relação, orbitam a obrigação fiscal,
produzem efeitos positivos ou negativos na obrigação, mas não são atos
próprios e internos da relação.

✓ E o outro exemplo que se dá quanto a esses atos tem a ver com as cláusulas
anti-abuso, que podem ser gerais ou especiais. A cláusula de abuso geral
encontra-se no 38º LGT e as especiais encontram-se espalhadas em vários
códigos, como a do 73º/10 do CIRC. Essas cláusulas de abuso para serem
aplicadas dependem da instauração de um procedimento administrativo
próprio. Todos os atos relacionados à aplicação dessas cláusulas são atos
administrativos relativos a questões tributárias, orbitam a relação fiscal, mas
não são internos à relação. E o que são as cláusulas anti-abuso? São cláusulas
que tentam limitar as possibilidades de fraude e elisão fiscal. No abuso de
direito o que acontece? Não há a violação direta de nenhuma norma jurídica,
não há prática de nenhuma ilicitude em sentido estrito, não há um
incumprimento formal de qualquer norma, mas apenas a pessoa que age de
modo abusivo viola as finalidades do ordenamento jurídico, viola o fim de
norma e isso também acontece em sede fiscal, também há abuso de direito.
O contribuinte não viola diretamente nenhuma norma fiscal, não pratica um
ato ilícito em sentido estrito, embora pratique um ato anti-jurídico e
contrário ao propósito/finalidades do sistema jurídico. Infringe
materialmente o direito. É um ato que não é ilícito, mas é anti-jurídico. Se for
praticado abuso de direito em sede fiscal essas cláusulas anti-abuso são
aplicadas.

Exemplo: O contribuinte, a empresa ABC, quer comprar um imóvel da


sociedade XPTO, SA. Comprar um imóvel é facto gerador de imposto, a
transferência onerosa de bens imóveis é facto gerador do IMT, só que a
empresa ABC e a empresa XPTO entram num acordo para fugir do IMT, para
economizar em sede fiscal. Como fazem isso? Em vez de celebrarem um
contrato de compra e venda do imóvel, que é a realidade da relação, elas
decidem fazer uma fusão societária em que o capital social que a XPTO tem
de contribuir para se tornar sócia da ABC é dado na forma de um imóvel; a
XPTO entrega um imóvel para a ABC para se tornar sócia. A partir daí esse
imóvel já faz parte das sociedades fundidas. Aí, 2 meses depois, as
sociedades separam-se, há a cisão das sociedades. O que acontece? A ABC

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fica com o imóvel e a XPTO fica com dinheiro. O resultado é idêntico a uma
compra e venda, uma que tinha um imóvel dá o imóvel à outra e a outra dá
dinheiro. Só que formalmente não foi realizada nenhuma compra e venda e
as operações de fusão e a cisão não são facto gerador de imposto;
formalmente não são tributáveis, mas a realidade económica da relação é
diversa da que está no papel. As cláusulas anti-abuso desconstroem o que
está no papel para tributar a realidade económica e assim atingir os fins do
direito fiscal. Trata-se de uma operação simulada, o conteúdo económico da
relação é uma compra e venda.

No final do processo em que a A.T. decide aplicar a cláusula, a A.T. vai ter de
abrir um novo processo que vai ser um processo envolvendo atos tributários,
porque depois que decide que o IMT é devido, ele tem de liquidar.
Então, os atos administrativos em matéria tributária, os atos tributários e os
atos administrativos relativos a questões tributárias podem estar
intercetados entre si, mas é importante saber identificá-los e diferenciá-los,
até porque os meios de reação dos contribuintes são diferentes.

NOTA: Os atos administrativos em matéria tributária e os atos relativos a questões


tributárias podem ser anteriores ou posteriores ao ato tributário de liquidação. A
distinção não se dá necessariamente no aspeto temporal da emissão dos atos.

Depois temos os procedimentos tributários (54º LGT, 44º CPPT, 55º e ss LGT [princípios]) e
os processos tributários (101º LGT, 103º LGT e 148º CPPT [execução fiscal - o mais
importante]).

COMO É QUE AS COISAS SE PASSAM EM DIREITO FISCAL? COMO É A ORDEM NATURAL


DO SEGUIMENTO DA RELAÇÃO JURÍDICA FISCAL? De entre diversos atos, p. e., a aplicação da
taxa à matéria coletável, a identificação do sujeito passivo, a notificação do contribuinte para o
pagamento, etc, todos os estes atos essenciais da relação jurídica fiscal, há uma ordem.

Exemplo: No que concerne à incidência do imposto municipal sobre bens imóveis situado
na Rua das Flores, nº 1, Sé Nova, Coimbra:

Quanto ao IMI devido pelo proprietário do imóvel, pelo facto de ele ser proprietário do
imóvel em 31 de dezembro (imposto periódico). Uma vez praticado o facto gerador já existe a
obrigação fiscal.

O que tem de ser feito do início até ao fim para os fins deste imposto serem cumpridos? E
qual o fim ou finalidade dos impostos? É uma finalidade arrecadatória, do início ao fim o que
Estado tem de fazer é realizar todos os atos possíveis para conseguir o pagamento da
obrigação.

Se o estado quiser cobrar o imi do sujeito passivo que tem de fazer? QUAL O TRÂMITE POR
QUE PASSA A RELAÇÃO JURÍDICA FISCAL?

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1. Apurar a base do imposto, a matéria coletável. Como é que ele vai aplicar a taxa à
matéria coletável, se não sabe a matéria coletável? Quanto vale o imóvel? Qual é a base
do imposto?
2. Aplicar a taxa à matéria coletável, ou seja, liquidar o imposto.
3. Depois da prática do facto gerador e da liquidação, a A.T. tem de fazer o lançamento, ela
formaliza a obrigação tributária no lançamento. Então, a A.T. já sabe o quantum que tem
de ser pago no lançamento, tem de identificar o quem, o sujeito (é no lançamento que
ela consolida a identificação do sujeito passivo).
4. Notificar o contribuinte. É partir da notificação o contribuinte tem um prazo para pagar:
• Se o pagamento é voluntário, acabou a relação jurídica fiscal;
• Mas se acabou o prazo e o contribuinte não pagou, haverá pagamento forçado.
Mas antes do pagamento forçado, antes de ir para a via judicial, tem de tentar
resolver o problema na via administrativa, daí os procedimentos administrativos
tributários em que a A.T. vai instaurar um procedimento de contraordenação
(CPPT). Além do valor do imposto pode ter de ser paga uma coima, p. e., por juros
de mora. Nesse procedimento tributário o contribuinte vai poder se defender
(princípio do contraditório), ele tem a oportunidade de impugnar a dívida
tributária. Se no final do procedimento todas as defesas foram rejeitadas e o
contribuinte ainda assim não pagou o imposto, aí a A.T. vai iniciar-se a execução
fiscal, mas antes desta sempre tem um procedimento administrativo de
contraordenação. Assim, se continuar sem pagar, há execução fiscal e esta já é
instaurada quanto a todos os valores devidos à A.T. principais e acessórios (IMI,
mais juros, mais as coimas e sanções não pagas). Na execução fiscal o património
do sujeito passivo e dos responsáveis tributários vai estar à disposição dos órgãos
judiciais para satisfazer a dívida.

12ª AULA
DIA 29/05/2018

AS GARANTIAS DOS
CONTRIBUINTES
Como o Direito Tributário e o
Direito Fiscal são espécies dentro do
Direito Administrativo é evidente
que os contribuintes, os sujeitos
passivos, têm garantias perante a
Administração, perante o Estado
Fiscal. As garantias são regidas pelos
princípios gerais da A.P.: princípio
da legalidade, princípio da

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fundamentação dos atos administrativos, princípio da segurança jurídica e proteção da
confiança; no D.F. o princípio da proibição da retroatividade.

No âmbito dessas garantias, há diversos meios jurídicos passíveis de serem ativados pelos
contribuintes para exercer as garantias constitucionais, legais e regulamentares que têm
perante a A.T.. Esses meios podem ser:

→ Impugnatórios: dão ensejo a uma relação contenciosa com a A.T.;


→ Não impugnatórios: não dão necessariamente ensejo a uma relação contenciosa com
a A.T..

Quanto aos diversos meios colocados à disposição dos contribuintes, esses meios vão
depender do tipo de ato que é praticado no caso concreto: para os atos administrativos
tributários há meios impugnatórios próprios que o contribuinte pode operar; para os atos
tributários há outros meios; e para os atos administrativos relativos a questões tributárias há
outros meios impugnatórios. Tudo isso está regulado na LGT, no CPPT, no CPA e no CPTA. A lei
regula os meios passiveis de serem suscitados pelos contribuintes para fazer valer as suas
garantias perante a A.T..

GARANTIAS GERAIS:

→ Nulidade: 161º e ss. CPA

→ Anulabilidade: 163º e ss. CPA

→ Requisitos gerais de legalidade e motivação + requisitos/formalidades especiais para


cada tipo de ato

→ Revisão:

▶ Por iniciativa (78º LGT):


– do sujeito passivo:
– da A.T.

▶ Revisão ordinária:
– Por iniciativa do sujeito passivo:

▪ Prazo de 120 dias contados a partir dos fatos previstos no n.º 1


do artigo 102.º CPPT;

▪ Fundamento em qualquer ilegalidade;

▪ Via da reclamação administrativa.

– Por iniciativa da A.T.

▪ Prazo de 4 anos contados da liquidação

▪ A qualquer tempo se o imposto não tiver sido pago

▪ Fundamento em erro imputável ao serviço

▶ Revisão extraordinária:

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– Por duplicação da coleta no prazo de 4 anos
– Injustiça grave quando autorizada pelo dirigente máximo do serviço
nos três anos posteriores ao do ato tributário

*** Das decisões cabe impugnação administrativa e recurso judicial

→ Revogação, ratificação, reforma, conversão e retificação: 79º LGT

- Quando for prejudicial ao contribuinte, aplicação, conforme o caso, dos princípios


do contraditório, proporcionalidade e segurança jurídica/legítima confiança

- Aplicação subsidiária dos arts. 165 e ss. CPA

- Cabível impugnação administrativa e judicial

GARANTIAS ESPECÍFICAS:

Atos administrativos em matéria tributária:

- Avaliação direta:

86º/1 e 2 LGT (1 - A avaliação direta é suscetível, nos termos da lei, de


impugnação contenciosa direta. 2 - A impugnação da avaliação direta depende do
esgotamento dos meios administrativos previstos para a sua revisão).

54º CPPT (Salvo quando forem imediatamente lesivos dos direitos do contribuinte
ou disposição expressa em sentido diferente, não são suscetíveis de impugnação
contenciosa os atos interlocutórios do procedimento, sem prejuízo de poder ser
invocada na impugnação da decisão final qualquer ilegalidade anteriormente
cometida) + 95º/2 LGT.

97º/1/b CPPT (O processo judicial tributário compreende: (…) b) A impugnação da


fixação da matéria tributável, quando não dê origem à liquidação de qualquer tributo).

Somente se pode valer diretamente da via judicial nesta hipótese.

Nas demais hipóteses – em que a fixação da matéria tributável dê origem à


liquidação – depende do esgotamento dos meios administrativos e poderá ser
invocada na impugnação da decisão final de liquidação do tributo).

- Avaliação indireta:

86º/3 (A avaliação indireta não é suscetível de impugnação contenciosa direta,


salvo quando não dê origem a qualquer liquidação. 4 - Na impugnação do ato
tributário de liquidação em que a matéria tributável tenha sido determinada com base
em avaliação indireta, pode ser invocada qualquer ilegalidade desta, salvo quando a
liquidação tiver por base o acordo obtido no processo de revisão da matéria tributável

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regulado no presente capítulo. 5 - Em caso de erro na quantificação ou nos
pressupostos da determinação indireta da matéria tributável, a impugnação judicial da
liquidação ou, se esta não tiver lugar, da avaliação indireta depende da prévia
reclamação nos termos da presente lei).

91º e ss. LGT (1 - O sujeito passivo pode, salvo nos casos de aplicação do
regime simplificado de tributação em que não sejam efetuadas correções com base
noutro método indireto, solicitar a revisão da matéria tributável fixada por métodos
indiretos em requerimento fundamentado dirigido ao órgão da administração
tributária da área do seu domicílio fiscal, a apresentar no prazo de 30 dias contados a
partir da data da notificação da decisão e contendo a indicação do perito que o
representa. 2 - O pedido referido no número anterior tem efeito suspensivo da
liquidação do tributo (…))

Somente se pode valer diretamente da via judicial na hipótese de não dar origem à
liquidação do tributo

Nas demais hipóteses (em que a fixação da matéria tributável dê origem à liquidação):
depende, como regra, do esgotamento dos meios administrativos previstos nos arts.
91 e ss. e somente poderá ser invocada na impugnação da decisão final de liquidação
do tributo

O pedido de revisão constitui, como regra, pressuposto essencial para posterior


impugnação da liquidação com fundamento em ilegalidade por erro na quantificação
ou nos pressupostos de determinação da matéria coletável

Art. 117, n. 1 CPPT: “1 - Salvo em caso de regime simplificado de tributação ou quando


da decisão seja interposto, nos termos da lei, recurso hierárquico com efeitos
suspensivos da liquidação, a impugnação dos actos tributários com base em erro na
quantificação da matéria tributável ou nos pressupostos de aplicação de métodos
indirectos depende de prévia apresentação do pedido de revisão da matéria
tributável”

Se não solicitar a revisão administrativa, impugnação judicial só poderá ser


fundamentada em outros factores que não a ilegalidade por erro de quantificação

O responsável subsidiário somente fica sujeito ao condicionamento legal se for


notificado da decisão de avaliação da matéria tributável.

Atos tributários (liquidação)

Atos de liquidação administrativa são atos definitivos: “Os atos tributários praticados
por autoridade fiscal competente em razão da matéria são definitivos quanto à fixação
dos direitos dos contribuintes, sem prejuízo da sua eventual revisão ou impugnação
nos termos da lei” (art. 60º CPPT)

São suscetíveis de impugnação contenciosa direta para os tribunais (art. 97, n. 1, al. a
CPPT)

A impugnação administrativa é facultativa

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• Prazo: art. 102 CPPT: “1 - A impugnação será apresentada no prazo de três meses
contados a partir dos factos seguintes: a) Termo do prazo para pagamento
voluntário das prestações tributárias legalmente notificadas ao contribuinte; (…) 3
- Se o fundamento for a nulidade, a impugnação pode ser deduzida a todo o
tempo”

• Art. 85 CPPT: “1 - Os prazos de pagamento voluntário dos tributos são regulados


nas leis tributárias. 2 - Nos casos em que as leis tributárias não estabeleçam prazo
de pagamento, este será de 30 dias após a notificação para pagamento efectuada
pelos serviços competentes”

• A eficácia do ato de liquidação depende de notificação do devedor do imposto


(art. 77, n. 6 LgT e 36, n. 1 CPPT)

• Conteúdo da notificação: arts. 39 CPPT

• Liquidação pelo contribuinte (autoliquidação):

- Impugnação judicial depende de reclamação administrativa prévia: art. 131 CPPT

“1 - Em caso de erro na autoliquidação, a impugnação será obrigatoriamente precedida de


reclamação graciosa dirigida ao dirigente do órgão periférico regional da administração
tributária, no prazo de 2 anos após a apresentação da declaração.”

- Reclamação graciosa: art. 68 e ss. CPPT

“1- O procedimento de reclamação graciosa visa a anulação total ou parcial dos actos
tributários por iniciativa do contribuinte, incluindo, nos termos da lei, os substitutos e
responsáveis. 2 - Não pode ser deduzida reclamação graciosa quando tiver sido apresentada
impugnação judicial com o mesmo fundamento”

- Requisitos do art. 69 CPPT

- Como regra não possui efeito suspensivo, exceto quando prestada garantia nos termos
dos arts. art. 170 e 199 CPPT

• Prazo: art. 70 CPPT: 120 dias

• A decisão final desfavorável pode ser objeto de: recurso hierárquico ou impugnação
judicial

• Recurso hierárquico: arts. 66 e 67 CPPT

“1 - Sem prejuízo do princípio do duplo grau de decisão, as decisões dos órgãos da


administração tributária são susceptíveis de recurso hierárquico.

2 - Os recursos hierárquicos são dirigidos ao mais elevado superior hierárquico do autor do


acto e interpostos, no prazo de 30 dias a contar da notificação do acto respectivo, perante o
autor do acto recorrido.

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3 - Os recursos hierárquicos devem, salvo no caso de revogação total do acto previsto no
número seguinte, subir no prazo de 15 dias, acompanhados do processo a que respeite o acto
ou, quando tiverem efeitos meramente devolutivos, com um seu extracto.

4 - No prazo referido no número anterior pode o autor do acto recorrido revogá-lo total ou
parcialmente.

5 - Os recursos hierárquicos serão decididos no prazo máximo de 60 dias”

“1 - Os recursos hierárquicos, salvo disposição em contrário das leis tributárias, têm natureza
meramente facultativa e efeito devolutivo.

2 - Em caso de a lei atribuir ao recurso hierárquico efeito suspensivo, este limita-se à parte da
decisão contestada”

• Impugnação judicial: prazos art. 102 CPPT: “1 - A impugnação será apresentada no


prazo de três meses contados a partir dos factos seguintes: b) Notificação dos
restantes actos tributários, mesmo quando não dêem origem a qualquer liquidação
(…) d) Formação da presunção de indeferimento tácito”

• Indeferimento tácito: art. 57 LgT: “1 - O procedimento tributário deve ser concluído no


prazo de quatro meses, devendo a administração tributária e os contribuintes abster-
se da prática de actos inúteis ou dilatórios.(…) 5 - Sem prejuízo do princípio da
celeridade e diligência, o incumprimento do prazo referido no n.º 1, contado a partir
da entrada da petição do contribuinte no serviço competente da administração
tributária, faz presumir o seu indeferimento para efeitos de recurso hierárquico,
recurso contencioso ou impugnação judicial”

• Exceção: n. 3 do art. 131 CPPT: “3 - Quando estiver exclusivamente em causa matéria


de direito e a autoliquidação tiver sido efetuada de acordo com orientações genéricas
emitidas pela administração tributária, não há lugar à reclamação necessária prevista
no n.º 1”

• Liquidação em substituição ou liquidação por terceiro: no caso da substituição


tributária total ou parcial: arts. 132 e 133 CPPT

- Art. 132: “1 - A retenção na fonte é susceptível de impugnação por parte do substituto em


caso de erro na entrega de imposto superior ao retido.

2 - O imposto entregue a mais será descontado nas entregas seguintes da mesma natureza a
efectuar no ano do pagamento indevido.

3 - Caso não seja possível a correcção referida no número anterior, o substituto que quiser
impugnar reclamará graciosamente para o órgão periférico regional da administração
tributária competente no prazo de 2 anos a contar do termo do prazo nele referido.

4 - O disposto no número anterior aplica-se à impugnação pelo substituído da retenção que


lhe tiver sido efectuada, salvo quando a retenção tiver a mera natureza de pagamento por
conta do imposto devido a final.

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5 - (Revogado)

6 - À impugnação em caso de retenção na fonte aplica-se o disposto no n.º 3 do artigo


anterior”

- Art. 133: “1 - O pagamento por conta é suscetível de impugnação judicial com fundamento
em erro sobre os pressupostos da sua existência ou do seu quantitativo quando determinado
pela administração tributária.

2 - A impugnação do pagamento por conta depende de prévia reclamação graciosa para o


órgão periférico local da administração tributária competente, no prazo de 30 dias após o
pagamento indevido.

3 - Caso a reclamação seja expressamente indeferida, o contribuinte poderá impugnar, no


prazo de 30 dias, o ato nos mesmos termos que do ato de liquidação.

4 - Decorridos 90 dias após a sua apresentação sem que tenha sido indeferida, considera-se a
reclamação tacitamente deferida”

• Somente podem ser impugnadas mediante prévia impugnação administrativa

• Prazos aplicáveis

• Obs: art. 102 CPPT: “1 - A impugnação será apresentada no prazo de três meses
contados a partir dos factos seguintes: (…) d) Formação da presunção de
indeferimento tácito”

• Impugnação judicial: art. 97 e ss CPPT: para atos que comportem a apreciação da


legalidade do ato de liquidação e demais atos autonomamente impugnáveis

- Requisitos, formalidades e prazos dos arts. 102 e ss CPPT

• Recurso contencioso (art 37, nº 1, “a” e 50 e ss do CPTA e 99 e ss do CPPT) para a


impugnação dos atos administrativos relativos a questões tributárias que não
comportem a apreciação da legalidade do ato de liquidação (art. 97, n. 2 CPPT)

• Execução fiscal: arts. 148 e ss CPPT

• Competências partilhadas entre os tribunais e a AT (art. 151 CPPT)

• Trâmite: arts. 188 e ss.

• Instauração da execução --» citação do(s) executado(s) --» prazo de resposta:


apresentar oposição, requerer o pagamento em prestações, requerer dação em
pagamento

• Oposição à execução fiscal: arts. 203 e ss CPPT

- Prazo de 30 dias a contar da citação pessoal

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- Objeto: arts. 204 CPPT: ilegalidade/inexistência da dívida

*** Somente poderá ser admitida a discussão da ilegalidade do ato tributário se a lei não
assegurar nenhum meio judicial de impugnação ou recurso específico contra este acto

• Julgamento da oposição --» extinção da execução, correcção da dívida, manutenção


dos valores --» apreensão de bens e penhora --» convocação dos credores --» venda
dos bens --» extinção da execução fiscal, declaração em falhas, reversão da execução
contra terceiros.

OS IMPOSTOS EM PORTUGAL
1) PEQUENAS NOTAS GERAIS SOBRE OS REGIMES JURÍDICOS FISCAIS DOS PRINCIPAIS
IMPOSTOS EXISTENTES NO ORDENAMENTO JURÍDICO PORTUGUÊS:

O que é importante? Os elementos essenciais/indispensáveis desses impostos.

E quais são?

→ Incidência: Têm de estar


– Objetiva: o facto gerador/tributável; delimitadas e
– Subjetiva: os sujeitos passivos. previstas na lei
→ Base do imposto ou matéria coletável; (princípio da
→ Taxas ou alíquotas do imposto; legalidade fiscal)

Quais são os principais impostos que existem no ordenamento jurídico português?

• IRS: imposto sobre o rendimento das pessoas singulares;


• IRC: imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas,
• IMT: imposto municipal sobre as transmissões onerosas de bens imóveis;
• IMI: imposto municipal sobre imóveis;
• IS: imposto de selo;
• IUC: imposto único de circulação;
• ISV: imposto sobre veículos;
• IVA: imposto sobre o valor acrescentado; e além deste há 3 impostos especiais sobre o
consumo:
• IT: imposto sobre o tabaco;
• ISP: imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos;
• IABA: imposto sobre o álcool e as bebidas alcoólicas.

Esses são os principais. Há outros? Sim. Há outros que inclusive nem têm o nome de
imposto, podem ter nome de contribuição, pois, por força da corrente dicotómica defendia
por nós, as contribuições podem ter natureza jurídica de imposto ou de taxa, pois não são uma
espécie tributária autónoma (Dr. Casalta Nabais).

Há diferentes tipos de impostos, impostos sobre o consumo, sobre rendimento e sobre


património. Cada um deles exprime uma manifestação da capacidade contributiva; a

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capacidade contributiva apresenta-se sob a forma de património, rendimento ou consumo
(rever classificações dos impostos – página 14 a 21). Faltou ver a CLASSIFICAÇÃO DOS
IMPOSTOS REAIS E DOS IMPOSTOS PESSOAIS. Entendeu-se deixar para agora esta
classificação porque o principal imposto de natureza pessoal do ordenamento jurídico
português - não é o único, mas é o principal - é o IRS.

A grande diferença entre estes impostos tem a ver com o tipo de consideração que o
legislador faz para apurar, na prática, a capacidade contributiva do sujeito passivo. O facto
gerador é o que expressa, em abstrato, a capacidade contributiva, mas, na prática/em
concreto/em termos objetivos, é a matéria coletável que expressa a capacidade contributiva. É
com base no cálculo da matéria coletável, e, sobretudo, no cálculo da coleta, que já é o
resultado após a operação de liquidação, é com base na forma de delimitar a expressão em
concreto da matéria coletável e da coleta, que estes impostos se diferenciam.

A delimitação do cálculo da matéria coletável e do cálculo da


IMPOSTO REAL
coleta dão-se com base em parâmetros reais/objetivos, que
IRC independem do sujeito passivo, das suas qualidades e
caraterísticas pessoais. Estes só se preocupam com números.

IMPOSTO PESSOAL
A delimitação da matéria coletável e da coleta vão ter
IRS elementos que expressam caraterísticas pessoais do sujeito
passivo. Estes auferem a capacidade contributiva em cada
caso concreto, tomando em consideração as circunstâncias
gerais e pessoais da vida do sujeito passivo (se é casado ou
solteiro, com filhos ou sem filhos, se sim quantos, é doente ou não,
gasta com a educação ou não, se tem pessoas dependentes) . São
mais sensíveis ao apuramento efetivo da capacidade
contributiva dos sujeitos, sendo esta modificada de acordo
com a realidade pessoal de cada sujeito de imposto.

Esta dicotomia entre impostos apresenta-se de modo paradigmático nos impostos sobre o
rendimento: no IRS (imposto pessoal) e no IRC (imposto real). Embora sejam impostos sobre o
rendimento, a forma de apurar a verdadeira capacidade contributiva dos sujeitos passivos é
diferente. É assim porque o IRC é o imposto das pessoas coletivas e estas não têm
caraterísticas pessoais. Só o IRS é pessoal. Onde é que estão as expressões da pessoalidade do
IRS? Todo o regime jurídico do IRS é orientado pela natureza pessoal do imposto.

QUADRO GERAL DOS IMPOSTOS PORTUGUESES (incidência objetiva, incidência subjetiva


[quem é o sujeito passivo] matéria coletável e alíquota ou taxa do imposto)

→ IMT
– Incidência objetiva: artigo 1º CIMT: 1 - O imposto municipal sobre as
transmissões onerosas de imóveis (IMT) incide sobre as transmissões previstas
nos artigos seguintes, qualquer que seja o título por que se operem; artigo 2º
CIMT: 1 - O IMT incide sobre as transmissões, a título oneroso, do direito de
propriedade ou de figuras parcelares desse direito, sobre bens imóveis situados
no território nacional.

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– Incidência subjetiva: artigo 4º CIMT: O IMT é devido pelos adquirentes dos
bens imóveis, sem prejuízo das seguintes regras: (...).
Embora muitos autores classifiquem o IMT como um imposto sobre a
propriedade, o IMT é um imposto sobre o consumo, sobre a despesa. O
imposto sobre a propriedade é o IMI.
– Base do imposto/matéria coletável: artigo 12º CIMT: 1 - O IMT incidirá sobre
o valor constante do ato ou do contrato ou sobre o valor patrimonial tributário
dos imóveis, consoante o que for maior. 2 - No caso de imóveis omissos na
matriz ou nela inscritos sem valor patrimonial tributário, bem como de bens ou
direitos não sujeitos a inscrição matricial, o valor patrimonial tributário é
determinado nos termos do CIMI. 3 - Ao valor patrimonial tributário junta-se o
valor declarado das partes integrantes, quando o mesmo não esteja incluído no
referido valor patrimonial (…).
O valor patrimonial tributário é apurado pela via da avaliação direta pela A.T..
– Taxas: artigo 17º CIMT. São taxas diferentes a depender do tipo de operação
que é feito e do uso do imóvel, principalmente.

→ IMI

É um imposto periódico - o facto gerador do IMI é praticado ao longo do ano.

– Incidência objetiva: artigo 1º CIMI: 1 - O imposto municipal sobre imóveis (IMI)


incide sobre o valor patrimonial tributário dos prédios rústicos e urbanos
situados no território português, constituindo receita dos municípios onde os
mesmos se localizam + artigo 9.º CIMI.
– Incidência subjetiva: artigo 8º CIMI: 1 - O imposto é devido pelo proprietário
do prédio em 31 de dezembro do ano a que o mesmo respeitar. 2 - Nos casos
de usufruto ou de direito de superfície, o imposto é devido pelo usufrutuário ou
pelo superficiário após o início da construção da obra ou do termo
daplantação. 3 - No caso de propriedade resolúvel, o imposto é devido por
quem tenha o uso e fruição do prédio (...)
– Base do imposto: artigo 7º CIMI: 1 - O valor patrimonial tributário dos prédios
é determinado nos termos do presente Código (...) + artigo 14º e ss.
(avaliações).
– Taxas: artigo 112º CIMI: 1 - As taxas do imposto municipal sobre imóveis são
as seguintes: a) Prédios rústicos: 0,8%; b) (Revogada.) c) Prédios urbanos - de
0,3 % a 0,45 % (...) 5 - Os municípios, mediante deliberação da assembleia
municipal, fixam a taxa a aplicar em cada ano, dentro dos intervalos previstos
na alínea c) do n.º 1, podendo esta ser fixada por freguesia.
– Adicional: artigo 135º-A e ss. CIMI.

→ IS
– Incidência objetiva: artigo 1º CIS: 1 - O imposto do selo incide sobre todos os
atos, contratos, documentos, títulos, papéis e outros factos ou situações
jurídicas previstos na Tabela Geral, incluindo as transmissões gratuitas de bens;
2 - Não são sujeitas a imposto as operações sujeitas a imposto sobre o valor

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acrescentado e dele não isentas. 3 - Para efeitos da verba 1.2 da Tabela Geral,
são consideradas transmissões gratuitas, designadamente, as que tenham por
objeto: (…) 5 - Para efeitos da verba 1.2 da tabela geral, não são sujeitas a
imposto do selo as seguintes transmissões gratuitas (…) + artigo 4º CIS.
Ele fica entre o imposto sobre o património e o imposto sobre o consumo. Os
factos geradores são muito diferentes uns dos outros.
– Incidência subjetiva: artigo 2º CIS.
– Base do imposto: artigo 9º CIS: 1 - O valor tributável do imposto do selo é o
que resulta da Tabela Geral, sem prejuízo do disposto nos números e artigos
seguintes.
– Taxas: artigo 22º CIS.

→ IVA

Imposto geral sobre o consumo.

– Incidência objetiva: artigo 1º CIVA: 1 - Estão sujeitas a imposto sobre o valor


acrescentado: a) As transmissões de bens e as prestações de serviços efetuadas
no território nacional, a título oneroso, por um sujeito passivo agindo como tal;
b) As importações de bens; c) As operações intracomunitárias efetuadas no
território nacional, tal como são definidas e reguladas no Regime do IVA nas
Transações Intracomunitárias + artigos 3º e 4º CIVA.
– Incidência subjetiva: artigo 2º CIVA: 1- - São sujeitos passivos do imposto: a)
As pessoas singulares ou coletivas que, de um modo independente e com
carácter de habitualidade, exerçam atividades de produção, comércio ou
prestação de serviços, incluindo as atividades extrativas, agrícolas e as das
profissões livres, e, bem assim, as que, do mesmo modo independente,
pratiquem uma só operação tributável, desde que essa operação seja conexa
com o exercício das referidas atividades, onde quer que este ocorra, ou
quando, independentemente dessa conexão, tal operação preencha os
pressupostos de incidência real do imposto sobre o rendimento das pessoas
singulares (IRS) ou do imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas
(IRC); b) As pessoas singulares ou coletivas que, segundo a legislação
aduaneira, realizem importações de bens; c) As pessoas singulares ou coletivas
que mencionem indevidamente IVA em fatura; d) As pessoas singulares ou
coletivas que efetuem operações intracomunitárias, nos termos do Regime do
IVA nas Transações Intracomunitárias (...).
Embora, seja o imposto sobre o consumo o sujeito passivo do imposto não é o
consumidor. O sujeito passivo do IVA é quem vende, quem presta o serviço,
não quem compra, nem quem recebe o serviço que é prestado. No IVA o
consumidor final não é sujeito passivo, não integra o polo passivo da relação
fiscal, mas ele suporta a carga económica do imposto. Ele é o que se chama
suportador do encargo económico do imposto (18º LGT). A forma com que o
consumidor final, embora não seja sujeito passivo do IVA, suporta o encargo
do imposto é através do método de operação do IVA que é o método
subtrativo indireto. De forma simplificada, a capacidade contributiva que o

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legislador quer atingir é a do consumidor final, mas seria impossível colocar os
consumidores finais como sujeitos passivos do imposto. Era impossível que por
cada compra cada consumidor tivesse de ir à A.T. pagar o IVA. Por isso que
quem é o sujeito passivo são, principalmente, as empresas, quem vende, quem
presta o serviço, mas aí a carga económica do imposto é repassada pelo
consumidor final de modo obrigatório. Quem vende, quem presta o serviço,
repassa/repercute na esfera do consumidor final a carga económica do
imposto. O vendedor é que entrega o valor do IVA para o Estado: o
consumidor suporta, mas quem paga o IVA é quem vende.
– Base do imposto: artigos 16º e 17º CIVA.
– Taxas: artigo 18º CIVA. São 3 diferentes a depender dos tipos de produtos: 6%
para os produtos de primeira necessidade; 13% para produtos intermédios;
23% para os restantes.

→ IRC
– Incidência objetiva: artigo 1º CIRC: O imposto sobre o rendimento das pessoas
coletivas (IRC) incide sobre os rendimentos obtidos, mesmo quando
provenientes de atos ilícitos, no período de tributação, pelos respetivos sujeitos
passivos, nos termos deste Código.
– Incidência subjetiva: artigo 2º CIRC: 1 - São sujeitos passivos do IRC: a) As
sociedades comerciais ou civis sob forma comercial, as cooperativas, as
empresas públicas e as demais pessoas coletivas de direito público ou privado,
com sede ou direção efetiva em território português; b) As entidades
desprovidas de personalidade jurídica, com sede ou direção efetiva em
território português, cujos rendimentos não sejam tributáveis em imposto
sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS) ou em IRC diretamente na
titularidade de pessoas singulares ou coletivas; c) As entidades, com ou sem
personalidade jurídica, que não tenham sede nem direção efetiva em território
português e cujos rendimentos nele obtidos não estejam sujeitos a IRS.
– Base do imposto: artigo 3º CIRC: 1 - O IRC incide sobre: a) O lucro das
sociedades comerciais ou civis sob forma comercial, das cooperativas e das
empresas públicas e o das demais pessoas coletivas ou entidades referidas nas
alíneas a) e b) do n.º 1 do artigo anterior que exerçam, a título principal, uma
atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola; b) O rendimento global,
correspondente à soma algébrica dos rendimentos das diversas categorias
consideradas para efeitos de IRS e, bem assim, dos incrementos patrimoniais
obtidos a título gratuito, das pessoas coletivas ou entidades referidas nas
alíneas a) e b) do n.º 1 do artigo anterior que não exerçam, a título principal,
uma atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola; c) O lucro
imputável a estabelecimento estável situado em território português de
entidades referidas na alínea c) do n.º 1 do artigo anterior; d) Os rendimentos
das diversas categorias, consideradas para efeitos de IRS e, bem assim, os
incrementos patrimoniais obtidos a título gratuito por entidades mencionadas
na alínea c) do n.º 1 do artigo anterior que não possuam estabelecimento
estável ou que, possuindo-o, não lhe sejam imputáveis.

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– Taxas: artigo 87º CIRC: regra dos 21% para as empresas residentes e 25% para
sujeitos passivos não residentes.

2) VAMOS VER MAIS A FUNDO O IRS:

É o imposto cujo regime jurídico aprofundado é cobrado em DFI.

O IRS é o imposto sobre o rendimento das pessoas singulares.

• INCIDÊNCIA OBJETIVA: artigo 1º CIRS: 1 - O imposto sobre o rendimento das pessoas


singulares (IRS) incide sobre o valor anual dos rendimentos das categorias
seguintes, mesmo quando provenientes de atos ilícitos, depois de efetuadas as
correspondentes deduções e abatimentos:
Categoria A - Rendimentos do trabalho dependente;
Categoria B - Rendimentos empresariais e profissionais;
Categoria E - Rendimentos de capitais;
Categoria F - Rendimentos prediais;
Categoria G - Incrementos patrimoniais;
Categoria H - Pensões.
2 - Os rendimentos, quer em dinheiro quer em espécie, ficam sujeitos a tributação,
seja qual for o local onde se obtenham, a moeda e a forma por que sejam auferidos.

No IRS os rendimentos são categorizados, são divididos em categorias que têm a


ver com a natureza do rendimento: cada categoria tem o seu regime jurídico
próprio.
É importante saber as categorias do IRS, bem como saber localizar os rendimentos
consoante as categorias.
Hoje, as categorias do IRS são: A, B, E, F, G e H. E a C e D? Essas categorias já
existiram, mas foram unificadas, não existem mais, pois a categoria B passou a
abranger os rendimentos que estavam nessas categorias.
A incidência objetiva é auferir rendimentos ao longo de um ano de pelo menos uma
dessas categorias, pode ser de mais de uma.

• INCIDÊNCIA SUBJETIVA: artigo 13º CIRS: 1 - Ficam sujeitas a IRS as pessoas


singulares que residam em território português e as que, nele não residindo, aqui
obtenham rendimentos. → Rever regras da incidência territorial dos impostos
(página 33 a 36).

2 - Quando exista agregado familiar, o imposto é apurado individualmente em


relação a cada cônjuge ou unido de facto, sem prejuízo do disposto relativamente aos
dependentes, a não ser que seja exercida a opção pela tributação conjunta.

3 - No caso de opção por tributação conjunta, o imposto é devido pela soma dos
rendimentos das pessoas que constituem o agregado familiar, considerando-se como
sujeitos passivos aquelas a quem incumbe a sua direção.

4 - O agregado familiar é constituído por:

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a) Os cônjuges não separados judicialmente de pessoas e bens, ou os unidos de facto,
e os respetivos dependentes;

b) Cada um dos cônjuges ou ex-cônjuges, respetivamente, nos casos de separação


judicial de pessoas e bens ou de declaração de nulidade, anulação ou dissolução do
casamento, e os dependentes a seu cargo;

c) O pai ou a mãe solteiros e os dependentes a seu cargo;

d) O adotante solteiro e os dependentes a seu cargo (…).

Primeira nota de pessoalidade do IRS: o agregado familiar. O agregado expressa a


natureza pessoal do imposto, porque se o sujeito passivo do IRS integrar um
agregado familiar ele pode optar pela tributação conjunta (não está obrigado). Se
houver opção pela tributação conjunta do agregado familiar o sujeito passivo do
imposto, para o agregado familiar como um todo é aquele a quem incumbe a direção
do agregado familiar e tem de ser indicada à A.T. e é esta pessoa que vai ser a
responsável tributária principal.
O que forma o agregado familiar? Como se sabe que alguém esta ou não num
agregado? 13º/4 CIRS (o legislador fiscal aplica um conceito amplo de agregado
familiar)

O sujeito passivo do IRS vai ser ou a pessoa singular sozinha ou a pessoa singular a
quem incumbe a direção do agregado familiar; o agregado não é sujeito passivo do
imposto, quem o é, é aquele expressamente referido no nº 3 que é o sujeito a quem
incumbe a direção do agregado familiar.

Mas em IRS, sobretudo, não é só quem pratica o facto gerador/o


contribuinte/quem aufere os rendimentos, que integra o polo passivo da relação
jurídica fiscal, porque, no IRS, há várias hipóteses de retenção na fonte, retenção na
fonte que se existir necessariamente resulta num caso de substituição tributária. E
quem é substituo? Quem opera a retenção na fonte. O artigo 21º CIRS, de modo
expresso, refere-se à substituição tributária: quando, através de substituição
tributária, este Código exigir o pagamento total ou parcial do IRS a pessoa diversa
daquela em relação à qual se verificam os respetivos pressupostos, considera-se a
substituta, para todos os efeitos legais, como devedor principal do imposto,
ressalvado o disposto no artigo 103.º.
O substituto também é sujeito passivo da relação: 21º cumulado com 103º CIRS: 1 -
Em caso de substituição tributária, é aplicável o artigo 28.º da lei geral tributária,
sem prejuízo do disposto nos números seguintes. 2 - (Revogado.) 3 - (Revogado.) 4 -
Tratando-se de rendimentos sujeitos a retenção que não tenham sido contabilizados
nem comunicados como tal aos respetivos beneficiários, o substituto assume
responsabilidade solidária pelo imposto não retido. 5 - Em caso de não cumprimento
do disposto no n.º 3 do artigo 101.º e no artigo 120.º, as entidades emitentes de
valores mobiliários são solidariamente responsáveis pelo pagamento do imposto em
falta.

E em que casos é que há substituição tributária em IRS?


O 98º CIRS estabelece a regra geral.

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O 99º CIRS estabelece as hipóteses de retenção na fonte operada a título de
pagamento por conta, que ensejava a substituição tributária parcial, e os
pagamentos por conta no IRS são devidos para as categorias A (trabalho dependente,
com exceção dos rendimentos em espécie e dos previstos na alínea g) do n.º 3 do
artigo 2.º) e H (pensões, com exceção das de alimentos) + regras especiais dos artigos
subsequentes.
Os rendimentos da categoria E estão sujeitos a taxas liberatórias (artigo 71º CIRS),
opera a retenção na fonte a título definitivo e, portanto, a substituição é total.
Para as outras categorias as regras são aquelas dos artigos 101º CIRS e ss. Este
estabelece as hipóteses de retenção em outras categorias (categoria B e F) quando a
entidade pagadora dos rendimentos disponha ou deva dispor de contabilidade
organizada, sendo ainda de ressaltar que os artigos 101º-B e -C do CIRS estabelecem
hipóteses de dispensa de retenção na fonte - i.e., hipóteses em que a retenção na
fonte é facultativa, não legalmente vinculada. Assim, as retenções das categorias B e
F estão nos artigos 101º e ss CIRS, mas sempre que o montante for inferior ao limite
de isenções em IVA (artigo 53º, n.º 1, CIVA), estão dispensadas pelo 101º-B (dentre
outras hipóteses).
As retenções na fonte obrigatórias são as das categorias A e H que geram
substituição tributária parcial e as taxas liberatórias, que o pagador das receitas dos
rendimentos não pode optar por não reter na fonte o imposto devido.

• ÂMBITO DE SUJEIÇÃO: artigo 15º CIRS:


1 - Sendo as pessoas residentes em território português, o IRS incide sobre a
totalidade dos seus rendimentos, incluindo os obtidos fora desse território.
O artigo 15º/1 CIRS prevê e o princípio da universalidade da tributação dos
rendimentos dos residentes: quem é residente em território português é tributado
pela totalidade dos seus rendimentos, incluindo os obtidos fora de Portugal.

2 - Tratando-se de não residentes, o IRS incide unicamente sobre os rendimentos


obtidos em território português.
O artigo 15º/2 estabelece o princípio da fonte: prevê que se tratando de sujeitos
passivos não residentes, o IRS incide unicamente sobre os rendimentos obtidos em
território português, com fonte em Portugal. Que rendimentos são esses? O
legislador considera no artigo 18º CIRS obtidos em território português diversos tipos
de rendimentos (é um número exemplificativo, e não taxativo).

3 - O disposto nos números anteriores aplica-se aos casos de residência parcial


previstos nos n.os 3 e 4 do artigo seguinte, relativamente a cada um dos estatutos de
residência.
Há uma norma especial para os nacionais de outros Estados da União. Para efeitos de
incidência territorial (trata-se de uma norma voluntária, não obrigatória), o artigo
17º-A CIRS define que o sujeito passivo (o detentor dos rendimentos) pode optar por
seguir o regime jurídico português se forem preenchidos os requisitos do artigo 17.

• BASE DO IMPOSTO OU RENDIMENTO/MATÉRIA COLETÁVEL: O artigo 22º/1 CIRS


estipula como é que se calcula a matéria coletável do imposto: o rendimento
coletável em IRS é o que resulta do englobamento dos rendimentos das várias

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categorias auferidos em cada ano, depois de feitas as deduções e os abatimentos
previstos nas secções seguintes (específicos de cada categoria).

Cada categoria do IRS tem a sua norma própria de liquidação dos rendimentos.
A liquidação de rendimentos é de importante e diferente, porque o que uma pessoa
aufere/recebe de rendimento ao longo do ano é o rendimento bruto. No entanto, é
necessário fazer as deduções e abatimentos de cada categoria e aí, após as deduções
e abatimentos, nós passamos a ter rendimentos líquidos. Isso fica claro nos casos de
rendimentos empresariais e profissionais.

ATENÇÃO: Artigo 22º/3 – Não são englobados para efeitos da sua tributação:
a) Os rendimentos auferidos por sujeitos passivos não residentes em território
português, sem prejuízo do disposto nos n.os 8 e 9 do artigo 72.º;
b) Os rendimentos referidos nos artigos 71.º e 72.º auferidos por residentes em
território português, sem prejuízo da opção pelo englobamento neles previsto…
4 - Ainda que não englobados para efeito da sua tributação, são sempre incluídos
para efeito de determinação da taxa a aplicar aos restantes rendimentos, os
rendimentos isentos, quando a lei imponha o respetivo englobamento.
5 - Quando o sujeito passivo exerça a opção referida no n.º 3, fica, por esse facto,
obrigado a englobar a totalidade dos rendimentos da mesma categoria de
rendimentos.

DETERMINAÇÃO/APURAMENTO DO RENDIMENTO COLETÁVEL (RENDIMENTO GLOBAL =


BASE DO IMPOSTO) DO IRS:

1ª OPERAÇÃO: Distribuir ou alocar os rendimentos brutos na categoria respetiva. É


importante porque cada categoria tem as suas normas próprias para liquidar os rendimentos.

▶ Os rendimentos da categoria A (trabalho dependente) estão


delimitados positivamente no artigo 2º CIRS e delimitados
negativamente no artigo 2ºA CIRS.
Para qualquer rendimento que se enquadre no artigo 2º e que não
esteja excluído pelo artigo 2ºA vai ser rendimento da categoria A.
Os principais exemplos de rendimentos da categoria A estão nas alíneas
a) a c):
– Alínea a): o legislador considera rendimento da categoria A
quando o nome do trabalho formalmente é de prestação de
serviço, mas, materialmente, a substância da relação é de
trabalho dependente. Como se sabe se a substância é de

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trabalho dependente? Alínea b): para confirmar uma
prestação de serviços de verdade quem presta o serviço tem
de o prestar de modo independe e autónomo.
– Alínea c): funcionários e servidores públicos.

▶ Os rendimentos da categoria B (rendimentos empresariais e


profissionais) estão estipulados no artigo 3º/1 CIRS. No artigo 4º CIRS o
legislador explica e complementa o artigo 3º, definindo o que é que ele
considera atividade comercial e industrial. No 151º CIRS encontra-se a
lista de serviços.

▶ Os rendimentos da categoria E (rendimentos de capital - é dinheiro


gerando dinheiro, quando investido o capital gera rendimentos) estão
estipulados no artigo 5º/1, 6º e 7º CIRS.
• Se houver incidência da taxa liberatória os rendimentos da
categoria E não formam ou não entram no cálculo do
englobamento. Se os rendimentos de capital forem sujeitos à taxa
liberatória eles não podem ser englobados, porque se não haveria
dupla tributação. O que a taxa liberatória faz é reter na fonte a
título definitivo o imposto, se é a título definitivo, se há
substituição tributária total, quanto àqueles rendimentos o
contribuinte fica, relativamente àqueles rendimentos, totalmente
desonerado. Se aqueles rendimentos já tributados formassem o
englobamento resultaria na dupla tributação.
• Se o contribuinte realizar a opção pela não incidência da taxa
liberatória, os rendimentos da categoria E vão ser englobados.

▶ Os rendimentos da categoria F (rendimentos prediais - são rendimentos


assim denominados porque são rendimentos auferidos/gerados a partir
de prédios/imóveis) estão estipulados no 8º CIRS.

▶ A categoria G (incrementos patrimoniais em geral que uma pessoa teve


ao longo do ano) é a categoria residual do IRS porque esta é a categoria
de todos os rendimentos que não são de nenhuma das outras. Estão
estipulados no artigo 9º CIRS.
O exemplo mais importante são as mais-valias (artigo 10º CIRS). Estas,
em sede fiscal, só são consideradas quando realizadas. O que é a mais
valia? O valor de um bem é determinado pelo mercado, de acordo com
a lei da oferta e da procura, i. é., esse valor flutua de acordo com o
mercado, sobretudo o valor dos bens duradouros. Qualquer pessoa que
compre um bem, a diferença entre o valor da venda e o valor da compra
é que constituí a mais-valia, se for positivo, quando há incremento
patrimonial. Se for negativo vai constituir uma menos-valia, quando há
prejuízo.

▶ Os rendimentos da categoria H são pensões de vários tipos (artigo 11º


CIRS) e estão sujeitas a retenção na fonte por pagamento por conta,
excecionando as pensões de alimentos.

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NÃO INCIDÊNCIA DO IRS - Delimitações negativas → artigo 12º CIRS.

2ª OPERAÇÃO:

A. Aplicar as regras específicas de cada categoria para realizar a liquidação dos


rendimentos, ou seja, para APURAR OS RENDIMENTOS LÍQUIDOS. Exemplos:
▶ Categoria A: 25º CIRS.
▶ Categoria B: 28º CIRS.
▶ Para as outras: 28º a 39ºA.

B. Após o apuramento dos rendimentos líquidos pro categoria → ENGLOBAMENTO


(artigo 22º CIRS), ou seja, soma-se os rendimentos líquidos de cada categoria. Por
isso é que a matéria coletável do IRS também é chamada de rendimento global,
porque é o rendimento das categorias que foi englobado.

C. Há DEDUÇÕES à matéria coletável (artigo 55º CIRS).

O prejuízo no IRS é importante, porque só se pode considerar os prejuízos em cada


categoria.

Imagine-se que um advogado montou o escritório em 2016 e teve despesas para o


arrendamento, secretária, etc. E o investimento não resultou e ele gastou mais do
que ganhou, ou seja, o rendimento líquido dele da categoria B vai ser negativo. Aí em
2017 já conseguiu ter lucro, o rendimento líquido da categoria B dele já foi de 3 mil
euros. O legislador deixa pegar o prejuízo de 2016 e deduzir do rendimento positivo
que ele tem para o futuro, em 2017. Eventualmente em 2018, até um limite de 12
anos - são dedutíveis por até 12 anos.

O que não pode acontecer no IRS é o entrecruzamento das categorias, os prejuízos


são intracategoria, não se comunicam. Os prejuízos só podem ser deduzidos dos
rendimentos da categoria. Ou seja, prejuízos da categoria B não podem ser
deduzidos de rendimento da categoria A, nem no mesmo ano fiscal nem em
qualquer outro ano.

Depois que há o englobamento pode haver a dedução desses prejuízos dentro de


cada categoria. Se houver prejuízos a matéria coletável será menor, por isso é que é
antes da incidência da taxa. Se houver prejuízos, há deduções à matéria coletável, se
houver a hipótese do 56º também há abatimentos da matéria coletável.

D. EVENTUAIS ABATIMENTOS: Há um caso muito específico que é o do artigo 56º-A


CIRS (aplica-se quando o sujeito passivo tiver deficiência e se houver prejuízos
fiscais).
Esses abatimentos denotam a natureza pessoal do imposto, a categoria de ter ou não
deficiência é pessoal, e parâmetro para abatimento da matéria coletável é mais uma
caraterística pessoal do IRS.

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E. QUOFICIENTE FAMILIAR: Depois, se o agregado familiar for tributado de modo
conjunto, aplica-se o 69º CIRS, que determina que, para efeitos da incidência da taxa,
ou seja, antes da liquidação, a matéria coletável do imposto tem que ser divida por
duas, divide-se por 2.

Imagina-se 100 mil euros de matéria coletável, para um agregado familiar que
decidiu pela tributação conjunta. Antes de aplicar a taxa, tem de se pegar na matéria
coletável e dividir por 2. No caso, daria 50 mil euros e é esse o valor que é
considerado para efeito de incidência das taxas, não 100. Mais uma consideração de
natureza pessoal do IRS. Fazer parte ou não do agregado é uma caraterística pessoal
do sujeito passivo e modifica o regime de tributação.

3ª OPERAÇÃO: Depois de já ter a matéria coletável, a base do imposto calculada


totalmente, agora sim, aplica-se a taxa, liquida-se o imposto (artigo 68º CIRS). Como é que se
liquida o IRS? Aloca-se a matéria coletável no escalão correspondente.

68º/1 CIRS: As taxas do imposto são as constantes da tabela seguinte:

O IRS tem mais de uma taxa. É um imposto progressivo: a taxa ou alíquota do imposto sobe
à medida de que sobe a matéria coletável; quanto mais rendimentos líquidos uma pessoa
tiver, mais rendimento global, maior a taxa.

No IRS não se aplica uma taxa: 68º/2 CIRS: O quantitativo do rendimento coletável, quando
superior a € 7 091 é dividido em duas partes:

→ uma, igual ao limite do maior dos escalões que nele couber, à qual se aplica a taxa da
col. (B) correspondente a esse escalão;

→ outra, igual ao excedente, a que se aplica a taxa da col. (A) respeitante ao escalão
imediatamente superior.

Uma pessoa que tenha rendimento global de 100 mil euros, coloca-a no último escalão.
Mas não são todos os 100 mil que estão nesse escalão, isto é, não paga os 48% sobre os 100
mil euros; só pagará 48% para os rendimentos que se enquadram nesse escalão, ou seja, dos
80.641 até os 100 mil. Para o primeiro escalão de rendimento, para os 7.091 euros, vai pagar
14,5%, para os 7.092 até 10.700 vai pagar 23%, para 10.701 até 20.271 incide 28,5% e assim
progressivamente até o último escalão. Assim, dos 100 mil só 19.360 (100.000 – 80.640) estão

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no último escalão, esse é o valor que vai ser tributado à taxa do escalão, que é a taxa normal
de 48%, e o resto (80.640) vai ser tributado à taxa média, que é a média de todos os outros
escalões de rendimentos, que é 37.613%. A taxa média existe para calcular a média de todas
as taxas que incidem sobre os escalões de rendimento anteriores.

Em conclusão, o que é superior é tributado na taxa normal, o que está abaixo vai ser
tributado na taxa média do escalão anterior.

Imagine-se que está nos 37%: O 37% (taxa normal) só se aplica para o que está a cima dos
25 mil. Para o que está abaixo de 25 mil aplica-se a taxa média do escalão de cima/anterior.
Por isso que último escalão não tem a média.

O IRS depois da troika passou a ter impostos acessórios que são as taxas adicionais: taxa
adicional de solidariedade no pagamento da dívida do Estado (artigo 68-Aº CIRS): sem
prejuízo do disposto no artigo 68.º, ao quantitativo do rendimento coletável superior a € 80
000 incidem as taxas adicionais de solidariedade constantes da tabela seguinte:

Esta taxa aplica-se de modo cumulativo à taxa normal e média do IRS.

2 - O quantitativo da parte do rendimento coletável que exceda € 80 000, quando superior a


€ 250 000, é dividido em duas partes:

→uma, igual a € 170 000, à qual se aplica a taxa de 2,5 %;


→outra, igual ao rendimento coletável que exceda € 250 000, à qual se aplica a taxa de 5
%.

3 - No caso de tributação conjunta, o procedimento referido nos números anteriores aplica-


se a metade do rendimento coletável, sendo a coleta obtida pela multiplicação do resultado
dessa operação por dois.

Depois de aplicar a taxa à matéria coletável temos o resultado, a COLETA DO IMPOSTO e


o resultado da liquidação. No IRS, porque é um imposto de natureza pessoal, há várias
deduções à coleta: artigo 78º e ss. CIRS. Depois do resultado da coleta e se realizar as
deduções, essa diferença tem o nome de coleta líquida e é esse o valor o da coleta líquida que
o sujeito passivo vai ter de entregar para o Estado.

E se as deduções a coleta tiverem um total de 3 mil euros e a coleta era de 2 mil? Tem de
entregar algo para o Estado? Não, ele tem direito de receber do Estado; o sujeito passivo tem
direito ao reembolso de imposto.

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O artigo 70º CIRS concretiza o princípio da incolumidade do mínimo existencial no Direito
Fiscal, salvaguardando os rendimentos essenciais à sobrevivência ao sujeito passivo:

Por isso que o legislador estabelece que da aplicação das taxas do artigo 68º não pode
resultar, para os titulares dos rendimentos, a disponibilidade de um rendimento líquido
inferior a 1,5 x 14 do salário mínimo. Mas se o resultado for superior o sujeito pode ser
tributado, pois, está a cima do mínimo existencial, mas tem direito as deduções à coleta do
imposto.

EXERCÍCIO

Identifique a que categoria de IRS se reportam os seguintes rendimentos auferidos no ano de


2016:

- € 50.000,00 de honorários de advogado: Categoria B

- €5.000,00 de auxílio refeição e subsídio de residência: Categoria A

- € 80.000,00 de mais-valia entre o valor da compra e da venda de imóvel situado à r. das


Flores, n. 1, Coimbra: Categoria G

- € 8.500,00 de juros de depósitos bancários à ordem: Categoria E

- € 100.000,00 de pagamentos recebidos pela empresa individual ABC Restauração: Categoria


B

- € 14.000,00 de total de salário de funcionário da fábrica XPTO: Categoria A

- € 20.000,00 de total de pagamentos mensais recebidos do Estado por um ex-condutor


inválido: Categoria H

- € 12.000,00 de indeminizações por danos morais em razão de injúria perpetrada pelo


jornalista ABC: Categoria G

- € 4.000,00 de pagamentos de rendas de prédio urbano situado à Praça da República,


Coimbra: Categoria F

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