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1ª AULA
DIA 27/02/2018
Tanto o Direito Fiscal como o Direito Tributário são conjuntos de normas que regulam as
receitas coativas do Estado. No entanto, dentro do Direito Tributário está o Direito Fiscal.
Estes são regulados, em geral, pelo direito tributário e têm diferentes espécies – 3º/1 LGT:´
a) fiscais e parafiscais;
O artigo 3º da LGT e a própria CRP no artigo 165º/1/i estabelecem que os tributos podem
ser impostos, taxas ou contribuições. No entanto, HÁ DIVERGÊNCIAS DOUTRINAIS:
1. O conjunto de normas que regula os impostos, ou seja, o regime jurídico dos impostos
é diferente do regime jurídico das taxas:
IMPOSTO TAXA
PRINCÍPIO Não podem ser retroativos (103º/3 Podem ser retroativas, desde que
DA CRP). Este princípio autonomiza-se proporcionais.
no princípio da proibição da Incide o princípio da segurança e da
SEGURANÇA
retroatividade. proteção da confiança geral.
JURÍDICA E
DA
PROTEÇÃO
DA
CONFIANÇA
PRINCÍPIO A igualdade é assente na A igualdade é assente na
DA capacidade contributiva de proporcionalidade.
contribuir para os encargos públicos
IGUALDADE
(4º LGT).
Nos impostos (104º CRP) os factos geradores Nas taxas (4º/2 LGT) os factos geradores, que
são assentes na capacidade contributiva. geram a obrigação de a pagar, são três:
Trata-se de uma prestação unilateral porque: Trata-se de uma prestação bilateral porque:
- Financiam as atividades públicas em geral - É uma prestação concreta de serviço
(103º/1 CRP); público, utilização de um bem do domínio
- O facto gerador é não vinculado: capacidade público e/ou remoção de um obstáculo
contributiva; jurídico a particulares;
- O produto arrecadado é não afetado ou não - Tem natureza específica, determinada ou
vinculado: O Estado não fica obrigado a afetar individualizada.
2ª AULA
DIA 06/03/2018
E AS CONTRIBUIÇÕES?
→ Especiais (de melhoria ou por maiores despesas): Grupos de pessoas ligados por uma
particular manifestação de capacidade contributiva decorrente do exercício de uma atividade
administrativa. Ex.: aumento de valor de prédios após obras de urbanização ou infraestruturas.
Conceito especial do direito tributário que só diz respeito aos impostos. Tem a ver com a
possibilidade/capacidade que uma pessoa tem de contribuir para financiar as atividades
É com base nesta capacidade contributiva que o Estado vai pegar dinheiro para financiar as
suas funções. E é essa capacidade contributiva que não depende de qualquer nexo de
proporcionalidade: o imposto é independente da utilização efetiva de qualquer atividade que
o Estado coloca em disposição das EXERCÍCIO:
pessoas. NaTAXAS
taxa jáVS.não, só paga quem usar realmente a
IMPOSTOS
coisa, quem for usuário de um serviço público específico, quem usar um bem público ou quem
A empresadoXPTO
se beneficiar é concessionária
levantamento dos serviços
de um obstáculo de distribuição
jurídico. No caso dae comercialização
taxa a medida édedagás no
Município de Coimbra
proporcionalidade, e instalou em
paga relativamente ao2013 novas tubulações
que receber em troca. para expansão do serviço em áreas
outrora não abastecidas por gás natural. Em 3/1/14 recebeu uma notificação da autoridade
municipal determinando o pagamento da quantia 170.000,00€ referente à ocupação do subsolo
com tubagens de gás, relativa ao ano de 2013. A notificação fundamenta-se no art. X
do Regulamento de Taxas e Licenças Municipais da Câmara Municipal de Coimbra e confere um
prazo de quinze dias para quitação sob pena de execução fiscal. A empresa XPTO consulta-o
quanto à legitimidade da cobrança realizada e informa que, em pesquisa prévia, não identificou
qualquer norma da Assembleia da República autorizando ou delegando poderes à Camara
Municipal para a cobrança.
1) Imposto
2) Taxa
Qual é a natureza jurídica deste tributo? Temos de fazer os dois testes: teste da bilateralidade e
o teste da proporcionalidade.
1) Bilateralidade
- A cobrança pela ocupação do subsolo é exigida como contraprestação a alguma
atividade da Câmara Municipal solicitada ou desencadeada pela empresa XPTO?
- A ocupação do subsolo pelas tubulações da empresa XPTO constitui o vínculo bilateral
justificativo da configuração de taxa? Há utilidade (divisível) a ser auferida
especificamente pelo particular?
Argumentos:
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→ Imposto:
→ Taxa:
A utilização do mencionado bem pela empresa XPTO exclui a sua utilização para fins
coletivos.
2) Proporcionalidade
- A contraprestação por parte do ente público é direta e específica relativamente
ao particular?
- O valor cobrado é proporcional à vantagem concedida, sendo suscetível de
avaliação monetária?
Podia a empresa instalar os tubos em 2011 e a Câmara só cobrar em 2013? Sim, porque
na taxa não há nenhuma vedação especifica que proíba a retroatividade (assim, como não
há proibição à priori da retroatividade tudo vai depender do caso concreto) , só nos impostos. No
entanto, há aplicação dos princípios gerais de segurança jurídica e proteção da confiança.
3ª AULA
DIA 13/03/2018
b) Alíquota especial e acrescida por cada 100m3 de CO2 emitido por usinas termelétricas:
Finalidade extrafiscal, o que o Estado quer é que seja emitido menos CO2.
COMO REGRA:
→ Se abaixa a alíquota não quer arrecadar mais, por isso é parafiscal. O que o Estado
pretende é fomentar alguma coisa;
→ Majoração do imposto coloca a dúvida. O imposto pode querer ou não arrecadar
mais, ou seja, pode ter uma finalidade fiscal ou parafiscal (evitar a prática do facto
gerador). Nestas situações tem de se olhar para o facto gerador.
b) Determine que indivíduos que possuem dois ou mais veículos devam pagar um
“imposto sobre bens duplicados”? Assenta na capacidade contributiva? Sim. Qual
é o facto gerador? Ter mais de um veículo. Este facto gerador manifesta
capacidade contributiva? Sim, património.
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c) Determine que os maiores de 18 anos devam pagar imposto de 100 euros por
ano? Qual o facto gerador? Ser maior de 18 anos. É manifestação de capacidade
contributiva? Não. O simples facto de ser maior de 18 anos não manifesta
capacidade contributiva. Então, este imposto não estaria conforme a CRP, porque
não assenta na capacidade contributiva.
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EXERCÍCIO:
Em uma inspeção realizada em 1/3/12, descobriu-se que o café XYZ negociava com
consumidores a venda ilegal de cannabis, sendo encontrados 10kg da substancia
entorpecente no depósito do estabelecimento. Após análise dos documentos,
comprovantes de pagamento e recebimento, anotações e recibos de transações
financeiras encontrados no estabelecimento, apurou-se, que, nos dois anos anteriores, o
valor de tais negociações montou 70.000 euros. Pergunta-se:
Podem.
B) Pode a Fazenda Pública cobrar IVA sobre a base dos 70.000 euros comercializados?
Se a compra e venda é ilegal como é que o Estado vai tributar algo que não pode ser
vendido? A cannabis não podia ter sido vendida, mas foi vendida, com um lucro de 70
mil€. Houve transação, a transação manifesta capacidade contributiva, logo pode ser
cobrado o IVA, dado que não interessa que a capacidade contributiva vem de ato ilícito.
EXERCÍCIO:
É editada uma lei pela Assembleia da República proibindo emissões de CO2 superiores a
300.000m3 por mês para a indústria cimenteira e instituindo um tributo incidente sobre o
valor de cada saco de cimento comercializado a ser calculado progressivamente nos
seguintes termos: 300.001 a 420.000m3 de CO2 emitidos por mês: taxa de 2 por cento;
420.001 a 700.000m3 de CO2 emitidos por mês: taxa de 4 por cento, acima de 700.001m3
C02 emitidos por mês: taxa de 7 por cento. Pergunta-se: é constitucional a cobrança?
É constitucional esta cobrança? O imposto é válido? Sim, formalmente foi criado por lei.
Materialmente (questão da capacidade contributiva) a capacidade contributiva reflete-se
na comercialização do cimento. Mas se o Estado quer atingir essa capacidade contributiva
porque não tributa todos os sacos de cimento? Há uma intenção de não produção de mais
CO2. A parafiscalidade é uma indução do comportamento, se o comportamento já está
proibido qual é a resposta do direito a um comportamento proibido? A sanção. Se o
legislador já proibiu a conduta o particular pode decidir se segue ou não? Não. Se o fizer, há
sanções. A parafiscalidade serve para os casos em que o particular é livre. E aí, pela via do
imposto parafiscal, o Estado orienta o comportamento do particular, mas se o particular
não quiser seguir essa orientação não há sanção, mas é tributado, porque na
parafiscalidade o comportamento não é proibido (Ex.: sacos plásticos. A sua produção não 12 é
proibida, (próx. pág.)
logo o Estado quer reduzir a sua produção e uso. Quem quiser utilizar ou produzir pode, mas para o
seu desincentivo ele criou uma contribuição sobre o saco plástico. É um desincentivo económico.
Quem quiser não está a cometer nenhum ato ilícito). O imposto quando é parafiscal a conduta
não pode ser ilícita, porque a resposta do direito à ilicitude é a sanção. Neste caso, se o
legislador quisesse atingir a capacidade contributiva ele tributava os cimentos desde o
início. O imposto está a servir como resposta para a ilicitude, só é tributado quem comete
o ato ilícito, ou seja, emitir mais do que x CO2. Quem emite mais do que x CO2 está a
cometer um ato ilícito, qual a resposta do legislador ao ato ilícito? Tributar. Não pode! Não
é a prática do ato que manifesta a capacidade contributiva, ela já existe antes do ilícito.
Não é o ilícito que faz cingir a capacidade contributiva, por isso que fica claro a natureza
sancionatória. O legislador está a penalizar, está a responder a um ato ilícito, como sanção.
1. Em primeiro lugar, desde logo, porque o constituinte, o legislador faz essa diferença,
ou seja, formalmente, de modo positivado, essa diferença existe, mas ela existe por uma razão
material. Porque nos impostos indiretos, se eles são manifestações indiretas da capacidade
contributiva, significa que já houve tributação nas manifestações diretas da capacidade
contributiva. No caso dos rendimentos, obter rendimentos é manifestação direta da
capacidade contributiva e incide sobre o rendimento. Pelo facto de ter rendimento, tem de
pagar imposto.
Imagine-se, 10 mil€ de rendimento, no ano de 2014, sobre o qual incidiu o imposto sobre o
rendimento de 10%. O meu rendimento já foi tributado em 10%, então 1 mil€ ficaram para o
Estado e eu fiquei com 9 mil€. Com esse valor vou poder consumir. Nas manifestações diretas
da capacidade contributiva o Estado tributa quase toda. Desses 10 mil€ só se fica com 9 mil€,
com esses 9 mil€ eu posso consumir (comida, sapatos, roupa). A minha capacidade
contributiva está a ser manifestada, mas de modo indireto.
A carga tributária, o quanto do imposto, pode ser igual num imposto direito e num
imposto indireto? Não. Nos impostos indiretos trata-se de uma capacidade contributiva
menor, por isso que os impostos indiretos não podem ter o mesmo regime jurídico que os
impostos diretos, porque a capacidade contributiva não é a mesma. O legislador fez bem essa
diferença e deixou-a clara no artigo 104º CRP e no 6º LGT. No artigo 104º/1 e 2 CRP, o
legislador criou regimes de tributação específica para a tributação dos rendimentos, no 104º/3
CRP, o legislador criou um regime jurídico para a tributação do património e no 104º/4 CRP
para a tributação do consumo. No 6º LGT, o legislador concretiza as normas constitucionais. E
de que modo o faz? Primeiro, quanto aos impostos diretos, a tributação direta, ele estabelece
que o imposto direto tem que ter em conta a necessidade da pessoa singular e do agregado
familiar a que pertença, dispondo de bens necessários a uma existência digna (mínimo
existencial), depois estabelece que os impostos diretos têm que ter em conta a situação
patrimonial do agregado familiar. Quanto aos impostos diretos o mínimo existencial é
protegido de modo específico. Para os impostos indiretos, o legislador estabelece que a
tributação tem de favorecer os bens de primeira necessidade, porque são os bens conectados
com o mínimo existencial. A forma de proteger o mínimo existencial nos impostos diretos e
nos impostos indiretos é diferente.
4ª AULA
DIA 20/03/2018
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2. Mas a distinção entre impostos diretos e indiretos é importante também para saber
quem pode regular esses impostos. Porquê?
Os impostos indiretos, sobre o consumo, podem distorcer a concorrência. As empresas, no
mercado, concorrem entre si e aí na tributação do consumo essa tributação pode gerar efeitos
distorcidos da concorrência, se for tributada a menos, a empresa tem uma vantagem no
mercado. Então os impostos sobre o consumo sempre vão ter que ser regulados ao nível
estadual, ou seja, as regras dos impostos sobre o consumo vão ter de ser igual para toda a
gente, daí que tenham de ser regulados ao maior nível administrativo do Estado. Por acaso, já
que somos membros da UE, o imposto geral do consumo é regulado a nível europeu, já que
pode gerar distorções de concorrência e na EU não pode haver (o IVA é regulado pela EU), de
modo que o Estado tem de tomar sempre muito cuidado quando estabelece impostos sobre o
consumo para não criar distorções no jogo livre do mercado. Não é por acaso que a CRP só
deixa os municípios participarem do resultado da tributação dos impostos sobre o consumo,
ou seja, o Estado cria os impostos, regula-os, arrecada-os, e aí com o resultado dessa
arrecadação ele dá uma parte para os municípios e é só quanto à receção desse dinheiro, ou
seja, à participação dos resultados da tributação, que os municípios podem fazer alguma coisa
nos impostos do consumo, só podem receber dinheiro (254º/1 CRP).
Quando aos impostos diretos, sobretudo o património, os municípios participam na
regulação desses impostos. Na lei do IMI, há um artigo que diz que são os municípios que
definem os tipos de imóveis para efeitos de tributação, assim eles participam na regulação.
Faz-se, ainda, uma classificação que tem a ver com alíquota do imposto, também chamada
de taxa do imposto.
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A matéria coletável é a base do imposto sobre a qual vai incidir o percentual ou alíquota, é
o total dos rendimentos, o valor do património ou o valor do consumo, é a manifestação da
capacidade contributiva.
Então, há impostos que quanto maior a matéria coletável, capacidade contributiva, maior o
percentual, tributa-se mais a pessoa. Porquê? Porque pode pagar mais, é uma questão de
justiça social e de redistribuição da riqueza por via dos impostos. Se isso acontecer o imposto é
progressivo; se o oposto acontecer, quanto maior a matéria coletável menor a alíquota, é
regressivo; se a alíquota se mantiver uniforme o imposto é proporcional.
EXERCÍCIO:
A) O IVA possui três taxas diferentes: 6% para os bens e serviços de primeira necessidade;
13% para bens e serviços “intermédios”; e 23% para as restantes importações,
transmissões de bens e prestações de serviços.
O IVA é que imposto? O IVA tem uma alíquota variável, tem 3 alíquotas, mas a variação da
alíquota depende da matéria coletável? Depende do valor do bem? Não! Depende do tipo
de bem, ou seja, a alíquota permanece uniforme independentemente da matéria coletável.
A taxa do IVA é proporcional. 16
B) O IRS possui as seguintes taxas:
C) Um imposto sobre bens e serviços médicos (ICM) possui as seguintes taxas: 15% sobre
bens e serviços até € 2.000,00; 10% sobre bens e serviços de €2.001,00 a € 5.000,00; e 5%
sobre bens e serviços superiores a € 5.001,00.
Porque é a prática do facto gerador que faz nascer a obrigação fiscal. Só quando este é
praticado é que se tem de pagar o imposto, é quando nasce a obrigação fiscal. Enquanto o
facto gerador não for praticado ainda não há obrigação fiscal. Porque é relevante?
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que o facto gerador começa a ser praticado a 1 de janeiro e vai sendo praticado ate 31 de
dezembro, e só em 31 de dezembro é que é considerado praticado o facto gerador, só a 31 de
dezembro é que surge a obrigação fiscal e, portanto, o termo a quo dos prazos de prescrição e
caducidade.
Resumindo, a relação do Direito Fiscal com o tempo está neste último esquema, os
momentos da vida do imposto ao longo do tempo. Primeiro tem de ser criada a lei de
incidência do imposto, por lei a AR, salvo autorização ao Governo pela via de decreto. Depois
pode haver uma vacacio legis (quando a lei já existe, mas ainda não está em vigor; trata-se do
período entre a publicação e a entrada em vigor da lei). A lei é criada, entra em vigor e depois
de em vigor todo o facto gerador praticado delimitado na lei gera a obrigação fiscal. Após a
prática do facto gerador a Administração Tributária tem o prazo de 4 anos para liquidar a
obrigação. Como regra a Administração Tributária obriga os próprios contribuintes a
autoliquidarem os seus impostos. Se não liquidar em 4 anos caduca o direito, não pode
liquidar mais o imposto, a obrigação fiscal some. Depois tem o prazo de prescrição que
também começa a contar da prática do facto gerador, prazo de 8 anos desde a prática do facto
gerador, este tem a ver com a cobrança da obrigação fiscal. A relevância imensa que a
diferença entre impostos de obrigação única e periódicos têm é no inicio da vida do imposto,
da prática do facto gerador, as diferenças vão produzir ao longo da vida do imposto.
EXERCÍCIO:
a) O Sr. XYZ compra um café no bar ABC Restauração. É tributado em IVA: Imposto único.
b) O Sr. XYZ possui um imóvel em seu nome há 3 anos. É tributado em IMI: Imposto
periódico.
c) O Sr. XYZ transfere o imóvel que é de sua propriedade ao Dr. JJB. É tributado em IMT:
Imposto único, imposto de consumo.
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d) O Sr. XYZ aufere rendimentos pagos mensalmente no valor de 1.200 € pela empresa
RST S.A. É tributado em IRS: Imposto periódico, o facto gerador é praticado a 31 de dez.
Descarregado por Joaquim Varandim (felizmauricio@gmail.com)
lOMoARcPSD|5101171
5ª AULA
DIA 03/04/2018
• PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
A legalidade dos impostos é diferente da legalidade das taxas (como estudado na 1ª aula).
A legalidade do Direito Fiscal é uma legalidade fiscal e, com efeito, diferente da legalidade dos
demais tributos. Porquê? Porque a legalidade dos impostos traduz-se em duas regras
constitucionais: artigo 165º/1/i CRP cumulado com o artigo 103º/2 CRP. Com efeito, a
legalidade fiscal decorre destes dois artigos combinados. A legalidade fiscal estabelece o quê,
afinal?
Se violados levam → O artigo 165º CRP estabelece que é da exclusiva competência da AR, salvo
sempre a autorização ao Governo, a criação de impostos. Para criar impostos, tem que
inconstitucionalida Se violados
haver lei da AR ou DL autorizado do Governo. levam sozinho,
O Governo, a inconstitucionalidades
não pode criar
de formais. materiais.
imposto; os municípios, por sua vez, não podem criar impostos (como já vimos);
Os parâmetros → Mas o princípio da legalidade fiscal Os nãoparâmetros
se basta com o artigo
materiais, 165º, porque
previstos na CRP,osão
formais têm que essencialmente
artigo 103º CRP estabelece que os impostos parâmetros
são criados de determina
por lei que justiça. (1)
ver com a forma/o a incidência, (2) a alíquota, (3) os benefícios fiscais e (4) as garantias dos
trâmite com que contribuintes. Então, impostos que não tenham sido criados por lei são
os impostos inconstitucionais, assim como aqueles criados por decreto lei não autorizado pela
podem ser criados AR. Com efeito, a lei não se pode limitar a criar um imposto, a lei que cria um
e implementados, imposto tem de determinar os elementos essenciais do imposto (incidência, a
liquidados ou
cobrados na 21
realidade.
Na LGT, no artigo 8º, o legislador estabeleceu mais elementos que tem e estar previstos na
lei, mas o coração do princípio da legalidade fiscal é o que esta na CRP (criação de impostos pela
AR, salvo autorização ao Governo + a lei que cria os impostos tem que prever os seus elementos
essenciais).
Porquê? Isto é assim porque, antigamente, quando não estávamos num Estado de Direito
os impostos eram criados pelo monarca, não interessando as condições monetárias das
pessoas, ou se eram justos ou legítimos ou impostos. Num Estado de Direito, democrático,
social, que é o Estado português, é óbvio que não é qualquer um que pode criar impostos. Por
isso é que só a AR, que é o órgão que estabelece melhor o princípio democrático, pode decidir
criar ou não impostos.
O princípio da legalidade fiscal foi um princípio fundamental conseguido a partir das
revoluções liberais (desde a revolução inglesa e espalha-se na revolução francesa). Ninguém
pode ser obrigado a pagar impostos se não tem autorização expressa dos representantes do
povo. A ideia da legalidade fiscal vem com o slogan inglês no taxation without representation,
por isso é que são os parlamentos que criam e instituem impostos. Este é um parâmetro
fundamental da democracia.
A legalidade fiscal expressa a ideia de autoimposição, i.e., é o próprio povo que impõe a
cobrança de impostos. Se os impostos existem para financiar as atividades públicas em geral e
o Estado, eles só se legitimam mediante a ideia de autoimposição. Os impostos são a via
principal para financiar o Estado, mas só os representantes do povo decidem quais os
impostos e quais os seus parâmetros, os elementos essenciais (o que é que gera a obrigação
de pagar o imposto, e sobretudo o quanto do imposto – alíquota).
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Existe um princípio geral da segurança jurídica (que se aplica em todas as áreas do direito),
mas a segurança jurídica em sede fiscal traduz-se num subprincípio específico: a não
retroatividade da lei fiscal, que está expressamente previsto no artigo 103º/3 CRP e 12º/1
LGT.
A vedação de retroatividade traduz-se em duas regras:
1ª: LEIS FISCAIS DESFAVORÁVEIS NÃO PODEM RETROAGIR, ou seja, não podem ser
aplicadas a factos tributários/factos geradores já praticados. E se for favorável? Nesse caso,
pode ser aplicada a factos geradores já praticados, como, aliás, no Direito Penal.
Por exemplo: A 1 de janeiro de 2017, todo e qualquer roubo era crime em Portugal. A partir
do dia 30 de março de 2017, o legislador estabelece uma nova lei penal a considerar que só é
crime o roubo de objetos acima de 15€. O João roubou um saco de rebuçados no valor de 5€ e
foi à esquadra policial. No entanto, no dia 30 de março, a AR descriminalizou a conduta do
João (não é mais crime). Esta lei, mais favorável, tem que retroagir. A lei mais favorável
retroage; se a conduta está a ser descriminalizada, não faz mais sentido continuar a mandar a
pessoa para a prisão. Em Direto Fiscal, a lógica é a mesma: se a lei fiscal muda para melhorar a
situação do contribuinte (10% de imposto para 3% - lei posterior é mais favorável do que a
anterior), então a lei posterior, mais favorável, deve retroagir.
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O parâmetro para incidência da lei fiscal no tempo é a prática do facto gerador; praticou o
facto gerador, surge a obrigação fiscal, só que essa obrigação fiscal só se torna certa e
determinada com a liquidação do imposto (liquidação: o que dá certeza e determinabilidade à
obrigação fiscal). Só depois de liquidada a obrigação fiscal é que o imposto pode ser cobrado.
Há prazos diferentes para liquidação (caducidade, 4 anos) e para cobrança (prescrição, 8 anos).
Grande parte Por lógica, o momento do tempo que tem de ser considerado para
da doutrina, efeitos de retroatividade é o momento da prática do facto gerador,
incluindo Drº quando surge a obrigação fiscal. Ou seja, qualquer lei que modifique o
Casalta Nabais imposto do primeiro momento para a frente, não pode se aplicar a
obrigação fiscal aqui.
Tribunal O TC decidiu o quê? Não foi por base jurídica, mas sim política.
Constitucional Porque o TC decidiu isso relativamente a leis fiscais que foram passadas
depois da troika, ou seja, o Estado passou novas leis ao longo do ano
piorando a situação jurídica dos contribuintes, que iria prejudicar para
trás. Porquê? Tese que prevalece hoje no tribunal – o parâmetro da
retroatividade não é a prática do facto gerador (para o TC); para o TC o
parâmetro nem sequer é o da liquidação; o parâmetro é o do
lançamento do imposto (que já foi liquidado e cuja obrigação já surgiu
muito antes com o facto gerador).
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IMAGINEMOS O IRS: A 1 de janeiro de 2011 existiu uma lei (lei nº 1/2011) que estabelecia
que a taxa/alíquota do imposto era de 10%; no dia 5 de junho de 2011, o legislador passou
uma lei (lei nº 2/2011), dizendo que a alíquota era de 15%; no dia 1 de janeiro de 2012, entrou
em vigor a nova lei do OE que dizia agora que a alíquota do IRS subia para 20%.
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Para o TC, a data que tem de ser considerada para efeitos de retroatividade própria é 20
de maio. Se no dia 21 de maio de 2012 vier uma nova lei dizendo que a alíquota do IRS sobe
para 30%, para o TC o parâmetro da retroatividade do 103º/3 CRP é o de 20 de maio de 2012.
Desse dia para a frente, qualquer lei que seja criada não pode retroagir, ou seja, a lei de 21 de
maio não pode de jeito nenhum ser aplicada com base no artigo 103º/3 CRP. Não há discussão
em relação à retroatividade própria.
A retroatividade neste caso é imprópria, sujeita aos testes da proteção da confiança que
sempre vão chegar aos interesses arrecadatórios do Estado, que pode sacrificar os interesses
dos particulares. Normalmente os 3 primeiros testes passam. Por isso é que se diz que os
testes da proteção da confiança, apesar de cumulativos, normalmente culminam no teste da
proporcionalidade em sentido estrito.
Essa lei que subiu a alíquota para 15% a meio do ano, coloca algum problema de
retroatividade? Durante o tempo em que o facto está a ser praticado nos impostos periódicos,
a mudança da lei não coloca problemas de retroatividade, mas sim de retrospetividade. O TC
acha que sempre pode mudar a lei a meio do caminho; a prof. acha isto um absurdo.
6ª AULA
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No artigo 115º/4/b CRP diz que estão excluídas do âmbito do referendo, ou seja, não
podem ser submetidas a referendo as questões e os atos de conteúdo orçamental, tributário
ou financeiro. Então, não podemos de modo direto, exercendo a democracia direta, decidir se
queremos ou não pagar os impostos. Só o legislador, a A.R. que é o órgão que exerce de modo
indireto o princípio democrático, pode decidir se vai ser cobrado e de que modo vai ser
cobrado o imposto.
Essa fórmula da igualdade material que reconhece que nem todas as pessoas podem ser
tratadas da mesma forma é o requisito de validade fundamental dos impostos. Porquê?
Porque todos têm de contribuir para os encargos públicos, no entanto, é necessário que
tenham capacidade patrimonial/contributiva para o fazer.
1ª: Só pode ser obrigado a pagar imposto quem tenha capacidade contributiva;
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Essa igualdade material que existe para todos os impostos é aprofundada, mais intensa na
tributação do rendimento pessoal. Porque é que essa igualdade é aprofundada no IRS (tributa
o rendimento pessoal)? Artigo 104º/1 CRP → Porque esse imposto é progressivo: quanto mais
rendimento uma pessoa tem, maior a taxa ou alíquota do imposto. Todavia, o IRS não se basta
com essas regras gerais da igualdade fiscal. O IRS não só realiza a igualdade fiscal, como vai
além da igualdade fiscal, porque a incidência do IRS existe também para realizar a
redistribuição de riqueza. O imposto serve para tirar de quem é mais rico para dar a quem é
mais pobre, que é uma implicação intensa da igualdade material. Posto isto, todos os impostos
têm de cumprir os parâmetros mínimos, mas há impostos, como o IRS, que vão mais além dos
parâmetros mínimos e aplicam a igualdade material numa dimensão mais intensa.
É aquela igualdade que é fundamental no domínio dos impostos que se reflete num outro
princípio constitucional que é o princípio da consideração fiscal da família (104º/1 CRP). Em
diversas passagens da CRP o constituinte determina que o Estado, quando vai tributar pela via
de impostos as pessoas, tem que considerar a condição das pessoas que vão ser tributas como
membros ou não de um agregado familiar (67º/2/f CRP e 6º LGT). Porquê? Porque uma coisa é
uma pessoa ganhar 5 mil euros e utilizar o dinheiro só para si, outra coisa é uma coisa uma
pessoa ganhar 5 mil euros e ter filhos para sustentar. Então, quem ganha 5 mil só para si tem
mais capacidade contributiva para contribuir para os encargos públicos, do que quem tem de
sustentar x filhos. Por isso é que o constituinte determina que a família, o agregado familiar, a
condição de ser um membro de uma família, tem de ser considerado.
O conceito de família é um conceito amplo. Para o Direito Fiscal o conceito de família pode
envolver várias pessoas que não dependentes do contribuinte: os filhos menores são
dependentes, mas não só; os ascendentes também podem ser dependes dos contribuintes.
No regime dos impostos vê-se que há normas específicas, especiais que diferenciam a
tributação de quem está numa família, da tributação de quem não está num agregado familiar.
O agregado familiar é tratado de modo diferente, é beneficiado no regime dos impostos,
sobretudo no regime do IRS. E é só no IRS que a família é considerada? Não. Quando no
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Decorre, apesar de não haver nenhuma regra na CRP que o diga (trata-se de uma
interpretação sistemática da mesma), do RESPEITO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS (DLG’s)
duas fórmulas:
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Exemplo: O João ganhou, em 2017, 100 mil euros. Em IRS é tributado em 48%. Fica com
quanto para ele? 52 mil. Ele compra coisas, toda a vez que compra incide o IVA, a alíquota do
IVA é 23%, para bens que não são bens de primeira necessidade. Aí ele tem um carro para o
qual paga imposto, p. e., 15%. Assim, não dá só 48% para Estado, ele dá 23% de todos os
gastos, 15% do automóvel e o que fica para ele? Quanto é que dos 100 mil que ganhou ficam
só para ele?
Para o TC saber se imposto é confiscatório ou não, é olhar para uma realidade estática,
olhar para os 48% de 100 mil; para parte da doutrina saber se a proibição de confisco está a
ser respeitada depende de uma realidade dinâmica, considerando a carga fiscal total que
incide sobre a pessoa.
A segunda questão tem a ver com o PRINCÍPIO DO ESTADO SOCIAL. Porquê? Porque há
vários tipos de Estado, a depender do tipo de ideologia política que uma determinada
sociedade escolhe para si. Como assim ideologia política? Liberal, socialista, comunista, etc. As
sociedades decidem que tipo de ideologia elas querem aplicar na realidade. Onde está a
decisão? Na CRP, a CRP são as opções fundamentais que uma determinada sociedade realiza
para si.
A CRP diz que o Estado português é um Estado Social, ou seja, é um Estado que assenta nas
liberdades privadas, reconhece que é um Estado capitalista (deixa o mercado funcionar, mas
orienta os agentes privados à consecução do bem público/social). Mas o Estado português não
é o Estado liberal do século XIX que se limitava a cumprir e só isso 3 funções essenciais: defesa
da nação, administração da justiça e manutenção das infraestruturas essenciais para o
funcionamento do mercado (obra A riqueza das nações, de Adam Smith). O Estado Social tem
um compromisso com a justiça e a igualdade social, como bem-estar social. Não se limita a
garantir a justiça, a garantir a proteção do território e a garantir as condições mínimas para o
funcionamento do mercado, ele assegura o bem-estar social.
30
EXERCÍCIO
É constitucional? Para saber se uma lei fiscal é constitucional tem de se olhar para os princípios
constitucionais do Direito Fiscal. Para que uma lei fiscal seja constitucional todos os princípios
têm de ser respeitados, se atuar fora dos limites da CRP a lei inconstitucional.
O que estabelece? Os impostos têm de ser criados por lei, com exclusiva competência da AR,
salvo autorização ao Governo (165º CRP 1ª parte). O artigo 165º estabece é que a AR é a única
que pode criar imposto. Assim, pelo 165º, não é inconstitucional, pois o Governo não criou um
imposto novo.
No entanto, o princípio da legalidade não se baste só com 1ª parte do artigo 165º. A legalidade
fiscal é criação de impostos com competência exclusiva da AR, mas o 103º diz que a lei tem de
determinar os elementos essenciais do imposto e então qualquer elemento essencial de
imposto que seja criado, modificado que não seja por lei é inconstitucional. Neste caso, o
Governo não criou um imposto novo, mas ele modificou um dos elementos essenciais do
imposto. Que elemento? A taxa ou alíquota do imposto. Se é elemento essencial do imposto o
Governo não pode fazer nada sozinho.
Posto isto, este decreto é inconstitucional, porque viola o princípio da legalidade fiscal.
Mas e se esse decreto lei tivesse sido autorizado? Seria inconstitucional? Qual seria o princípio
que poderia estar em causa? O princípio da segurança jurídica, este proíbe a retroatividade de
leis desfavoráveis ou a revogação livre de leis favoráveis. É o caso? Não. O Governo está a
melhorar. Não coloca problema de retroatividade. A lei fiscal mais favorável sempre retroage.
B) Em setembro de 2017, a Assembleia da República aprova uma Lei com vigência imediata
para majorar a taxa do IS para 33%.
C) Em setembro de 2017, o Governo aprova uma decreto-lei com vigência imediata para
alterar o mês de liquidação do IRS de abril para junho de 2018.
O Governo criou o imposto? Não. Não é um problema de criação, mas pode ser de modificação
dos elementos essenciais do imposto. O Governo está a violar a legalidade fiscal? Está a criar
31
O Governo pode fazer isso, porque a liquidação, a aplicação da taxa à matéria coletável, é um
momento administrativo do imposto e regido pelo Direito Administrativo. Então, o Governo
pode regular.
D) Em setembro de 2017, a Assembleia da República aprova uma Lei com vigência imediata
para majorar em 1% todas as taxas do IMI.
O imposto municipal sobre bens imóveis coloca em causa o princípio da legalidade? Não, é
uma lei da AR. Mas pode colocar em causa o princípio da segurança jurídica. O IMI é um
imposto periódico para quem é proprietário, a 31 de dezembro, de um bem imóvel urbano. O
IMI considera um ano fiscal que coincide com um ano civil.
Aqui coloca-se o problema de saber se o princípio da segurança jurídica está ou não está a ser
violado. Está a modificar para pior a situação do contribuinte? Sim. Se melhorasse não haveria
problema. Modificar a lei fiscal no meio do ano pode? Depende de estar em causa uma
retroatividade autêntica, inautêntica ou retrospetividade. A importância desta distinção é se
pode ou não pode. Consoante o TC pode. No caso é retrospetividade, dado que facto gerador
ainda está a ser praticado, ainda não se consumou, só a 31 de dez. E aplica-se o 103º/3?
Depende. Segundo a jurisprudência do TC só se aplica o 103º para os casos de retroatividade
autêntica. Só ocorre retroatividade autêntica quando os efeitos dos impostos já foram todos
consumados. Se ainda não foram consumados o caso é de retroatividade inautêntica, nesta
não se aplica o 103º/3, só o princípio da confiança legítima.
7ª AULA
DIA 17/04/2018
INCIDÊNCIA TERRITORIAL
Já tendo começado a ver a incidência temporal do Direito Fiscal, quando incide a lei fiscal,
como o Direito Fiscal funciona ao longo do tempo, hoje, veremos uma outra dimensão da
incidência da lei fiscal, a dimensão territorial/geográfica. Porquê? Porque como os factos
geradores, que geram a obrigação de pagar imposto, são condutas que as pessoas realizam na
realidade, condutas que se expressam na auferição de rendimentos, de património ou na
realização do consumo (expressões da capacidade contributiva), essas condutas, condutas da
realidade, são praticadas em algum lugar. E aí o Direito Fiscal precisa de estabelecer regras de
incidência territorial.
32
• 13º/1 LGT: Como é evidente o primeiro parâmetro (e nem poderia ser diferente)
estabelece que AS NORMAS TRIBUTÁRIAS SÓ SE APLICAM NO TERRITÓRIO
NACIONAL. Porém, há casos em que o legislador considera que o facto gerador é
praticado em território nacional, embora a sua expressão se dê no estrangeiro. Se as
pessoas só vivessem dentro do território dos Estados, não era necessário este tipo de
normas; só que hoje em dia, no mundo globalizado, as pessoas viajam, consomem,
auferem rendimentos noutros Estados, então os legisladores nacionais precisam de
estabelecer critérios.
Os parâmetros que o artigo 13º estabelece no seu número 1 são para impostos
sobre o consumo e sobre o património, como regra, há exceções (que não se
estudam na disciplina). Só é tributado o consumo ou o património se o facto gerador
for praticado dentro do território português: é o que se chama de princípio da
territorialidade – a lei fiscal aplica-se no território em que ocorre o facto gerador. Ou
seja, se o consumo ocorreu dentro do território português vai ser tributado aqui, se o
património foi adquirido aqui e a propriedade do bem sujeito ao imposto é considera
obtida em território nacional esse facto gerador é tributado em Portugal.
• 13º/2 LGT: Porque é que os impostos sobre o rendimento têm uma regra especial?
Porque esse rendimento pode ter fonte em território nacional ou no estrangeiro.
Quem tributa os rendimentos? É Portugal ou os outros países? Precisa-se de
estabelecer uma regra para isso. A regra é a seguinte: independentemente da
nacionalidade da pessoa, o parâmetro é a residência. Considera-se residente em
território português quem esteja dentro de Portugal pelo menos 6 meses, 183 dias.
→ Para quem é RESIDENTE (obrigação pessoal) aplica-se o princípio do
rendimento global ou universal: a globalidade ou universalidade dos
rendimentos, todos os rendimentos que aufira, vai ser tributada em Portugal.
33
EXERCÍCIO
Sim. O IMT é diferente do IMI. Não se trata de um imposto sobre o património, mas sim um
imposto sobre o consumo. No caso, compra e venda de imóvel; o imposto sobre o consumo
incide sobre a transmissão de bens. O consumo, a transmissão de bens ocorreu no território
nacional? Sim. Vai incidir imposto português? Sim. Importa a nacionalidade do devedor e a
compradora? Não. O facto gerador foi praticado em Portugal, logo aplicasse a lei fiscal
portuguesa.
2. A Sra. XYZ, nacional portuguesa e residente em Aveiro, compra do Sr. RRS, nacional
português e residente em Lisboa, uma casa de campo no Vale do Loire, França. A
transferência onerosa do bem imóvel está sujeita a imposto em Portugal?
Não interessa a nacionalidade dos sujeitos, porque o parâmetro para a incidência da lei fiscal
portuguesa, para impostos sobre a transferência de bens sobre o património é o parâmetro da
territorialidade. Nos impostos sobre o consumo e sobre o património o parâmetro é o da
territorialidade. O facto foi praticado em Portugal? Não. Vai dever imposto em Portugal? Não.
No caso, a residência não interesse, só interessa nos os impostos sobre o rendimento.
34
Qual seria o imposto? Imposto sobre o rendimento. Ele investiu num produto financeiro que é
um fundo de investimento de infraestrutura e o banco paga-lhe rendas de capital; trata-se de
rendimento de capital. Sendo rendimento o parâmetro para a incidência territorial do imposto
é a residência. Ele é residente ou não? Não. Vai ser tributado com base no princípio da fonte.
Esse rendimento teve fonte em Portugal? Sim, porque esse rendimento adveio de um fundo
português, o fundo está em Portugal, o banco que administra o fundo é um banco português.
Esse rendimento saiu de Portugal, tem de ser tributado aqui. Ele tem de pagar imposto em
Portugal? Sim.
35
PORQUÊ RELAÇÃO JURÍDICA? Porque está em causa, no direito fiscal, uma obrigação
jurídica. Qual é? Pagar imposto (36º LGT). Se é uma obrigação jurídica ele tem de estar no
meio de uma relação jurídica, ninguém se obriga juridicamente perante si próprio. Logo, se
está em causa uma obrigação jurídica, tem de ter pelo menos duas pessoas envolvidas. E
quando temos duas pessoas envolvidas surge uma relação, que no direito é uma obrigação
jurídica e que no âmbito fiscal é uma obrigação jurídica fiscal (30º LGT).
O objeto da relação jurídica fiscal comporta uma obrigação principal e várias obrigações
acessórias.
COMO É QUE A ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA FAZ ISSO? De um modo geral, o que essas
obrigações acessórias fazem é obrigar o contribuinte a informar a Administração
Tributária. 36
No caso das empresas elas têm a obrigação de emitir fatura, é uma obrigação fiscal
acessória para controlar o IVA. A mesma coisa para os restantes impostos, sobre o
rendimento. Como a Administração Tributária sabe quanto uma pessoa ganhou? Uma
pessoa confessa à Administração Tributária, declarando, IRS e IRC. Para as pessoas
coletivas não basta, tem de ter todo o suporto documental, caso de manutenção de
contabilidade atualizada.
• Especial;
• Ex lege: Tem fonte na lei, por isso que o princípio da legalidade fiscal é tão
importante (todos eles são). Então, a obrigação fiscal como a mera subsunção da
realidade/do facto gerador à lei. O que a lei prescreve aconteceu na realidade? Se
sim, surge a obrigação fiscal. Esta surge de modo automático com o encontro da lei
relativamente à conduta da realidade, que é o tal do facto gerador.
37
• De natureza pública: atração das características especiais dos atos e poderes públicos
→ presunção de legalidade e legitimidade, exigibilidade, etc.
8ª AULA
DIA 24/04/2018
Na última aula referiu-se que a relação jurídica fiscal é unilateral porque só tem credor e
um devedor. É isso que diferencia os impostos das taxas. Do lado do credor estava o Estado e
do lado do devedor a pessoa que pratica o facto gerador, mas não é bem assim. Hoje veremos
o porquê.
38
39
Art. 14º/1: Os municípios podem deliberar lançar anualmente uma derrama, até ao limite
máximo de 1,5% sobre o lucro tributável sujeito e não isento de imposto sobre o rendimento
das pessoas coletivas (IRC), que corresponda à proporção do rendimento gerado na sua área
geográfica por sujeitos passivos residentes em território português que exerçam, a título
principal, uma atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola e não residentes com
estabelecimento estável nesse território.
Art. 20º:
1 — Os municípios têm direito, em cada ano, a uma participação variável até 5% no IRS
dos sujeitos passivos com domicílio fiscal na respetiva circunscrição territorial, relativa aos
rendimentos do ano imediatamente anterior, calculada sobre a respetiva coleta líquida das
deduções previstas no n.º 1 do artigo 78.º do Código do IRS.
2 — A participação referida no número anterior depende de deliberação sobre a
percentagem de IRS pretendida pelo município, a qual deve ser comunicada por via eletrónica
pela respetiva câmara municipal à Direcção-Geral dos Impostos, até 31 de Dezembro do ano
anterior àquele a que respeitam os rendimentos.
Existe um imposto em Portugal chamado IMI, tem um outro imposto o IMT e tem mais um
que é o IMV:
O poder tributário está sempre no legislador ou no Governo quando seja autorizado pela
AR. A competência tributária é da Administração Tributária, que é quem vai liquidar, lançar e
cobrar o imposto. Mas o imposto não é municipal? A Administração Tributária é um órgão do
Estado, não do município, no entanto, o legislador manda que seja Administração Tributária.
Temos um órgão do Estado com a competência tributária, mas a natureza da capacidade
tributária e da titularidade da receita está conexionada a um outro órgão administrativo que
é o poder local.
Os municípios podem ser titulares da receita de imposto que são estabelecidos em favor
do Estado. Ex: IRS e IRC. O poder de tributar está no legislador, a competência tributária é da
Administração Tributária, mas a capacidade tributária ativa é do Estado português. O IRS e o
IRC são impostos instituídos para financiar o Estado português. Quem é o credor do IRS e do
IRC? É o Estado, mas o legislador estabelece que os municípios são titulares da receita desses
impostos. O legislador estabelece que tudo o que o Estado português arrecadar como IRS e IRC
ele tem que dar 1,5% desse dinheiro (do valor das receitas do IRS e IRC) para os municípios.
Embora a capacidade tributária seja do Estado português, não é só o Estado português que é o
40
O polo ativo da relação jurídica tributária subdivide-se nessas 4 dimensões que podem ser
preenchidas por órgãos diferentes da Administração Pública, Estado, municípios, etc.
QUEM SÃO OS SUJEITOS PASSIVOS, OU SEJA, OS DEVEDORES DA RELAÇÃO FISCAL? (18º/3 e 4 LGT)
O mais importante é o polo passivo, dado que quem está no polo passivo é quem tem de cumprir a
obrigação ou obrigações fiscais, quem está neste polo é que é o devedor das obrigações. Quem é o
devedor? De quem é que o sujeito ativo pode exigir o pagamento dessas obrigações? No polo passivo
também pode haver mais de uma pessoa. Como é que é possível? Pode ser o caso de mais de uma
pessoa praticar o mesmo facto gerador. Como? Quem está a comprar um imóvel pode ser mais de uma
pessoa (pode ser um casal, p. e.) e quem está a vender pode ser mais de uma pessoa também.
Mas a complexidade do polo passivo da relação jurídica fiscal não está aí. A complexidade do polo passivo
está em mecanismos que a Administração Tributária, ou melhor, o Estado Fiscal criou para assegurar o
cumprimento das obrigações fiscais. Há, portanto, três tipos de sujeitos passivos, que integram o polo
passivo da relação jurídica fiscal:
É a pessoa que pratica o facto Há dois tipos de substitutos Tanto no caso de substituição
gerador. tributários, ou melhor, há dois total como no caso de
tipos de substituição substituição parcial, o dinheiro
No entanto, nem sempre vai tributária: a substituição total tem de ser entregue para o
ser o contribuinte a cumprir as e a substituição parcial. Estado. O artigo 28º LGT
obrigações fiscais. Em teoria, explica quem tem que
Como nome indica, o
quem pratica o facto gerador é entregar esse dinheiro para o
substituto é quem substitui o
que deveria cumprir a Estado, isto é, quem é o
contribuinte no cumprimento
obrigação principal (pagar o responsável tributário. É a
das suas obrigações fiscais: de
imposto) e cumprir as pessoa cujo património vai ser
modo total, no caso da
obrigações acessórias, dado executado, vai responder com
substituição total, ou de modo
que é a capacidade o seu património, pela
parcial, no caso da
contributiva do contribuinte quitação da dívida do
substituição parcial, onde
que se quer atingir. imposto; se não pagar vai ser
parte das obrigações vão ser
executado pelo Estado.
cumpridas pelo substituto,
Mas, para facilitar a vida do mas a outra parte continua
Estado Fiscal, nem sempre vai A responsabilidade varia se se
com o contribuinte, só ocorre
ser o contribuinte a cumprir as tratar de substituição total ou
a substituição em algumas
obrigações fiscais, pode parcial, por isso é que a
obrigações.
acontecer de estas terem de diferença é relevante, porque
ser cumpridas por uma outra vai ter efeitos a nível da
pessoa que não é o responsabilidade tributária.
contribuinte, i. é, o substituto
tributário e/ou o responsável
tributário.
O artigo 20º estabelece que a substituição tributária se verifica quando, por imposição da
lei, a prestação tributária for exigida a pessoa diferente do contribuinte, o substituto
substitui o contribuinte no cumprimento das obrigações de modo total ou parcial. Mas não
explica como isso se opera, apenas diz que a substituição tributária é efetivada através do
mecanismo de retenção da fonte + 33º e 34 LGT + leis especiais: v. g., 21º e 103º CIRS.
41
Quem ajuda a entender o artigo 20º é o artigo 28º que explica os diferentes tipos de
substituição tributária, que não estão esclarecidos no 20º, e as consequências da
substituição tributária.
Descarregado por Joaquim Varandim (felizmauricio@gmail.com)
lOMoARcPSD|5101171
O contribuinte vai ser a pessoa que ganhou os rendimentos, praticou o facto gerador. No
IRS, como em todos os outros impostos, há uma obrigação principal (pagar o IRS, entregar o
dinheiro para o Estado) e várias obrigações acessórios (realizar a declaração de IRS, etc). A
regra seria a de que quem auferiu rendimentos, quem praticou o facto gerador do IRS,
cumprisse todas as obrigações, dado que é ele o contribuinte é ele que tem as obrigações.
Só que se o Estado fosse deixar na mão das pessoas singulares o cumprimento de todas as
obrigações fiscais, que são obrigações complexas, o grau de invasão fiscal seria imenso. Isto
porque nem sempre é simples descobrir e fazer o que o Estado quer que se faça; nem sempre
o contribuinte tem condições de cumprir ele próprio as suas obrigações perante o Estado
Fiscal e aí, se nem sempre tem condições de cumprir ele próprio as suas obrigações perante o
Estado Fiscal, o Estado arrecadará o mesmo valor se deixar nas mãos das pessoas singulares o
cumprimento dessas obrigações? Arrecadará muito menos.
O que o Estado faz para facilitar a vida do Estado Fiscal e evitar a invasão fiscal? Em vez de
ser o Estado Fiscal a prestar auxílio, esse auxílio é prestado pelos particulares e pelo Estado
quando é empregador de alguém. Se as empresas sabem como calcular os impostos delas, se
têm contabilista, advogado, consultor, então, além de pagar o imposto delas, elas vão ajudar
as pessoas singulares a cumprir as suas obrigações.
O mecanismo pelo qual o Estado consegue fazer isso é a substituição tributária em que o
legislador (sempre tem de estar na lei) estabelece na lei que outra pessoa, diversa da pessoa
do contribuinte, tem de cumprir as obrigações fiscais, normalmente as mais complexas e
difíceis. E o mecanismo pela qual essa substituição ocorre é a tal da retenção na fonte. Como
assim retensão na fonte?
42
Imagine-se que o senhor J recebe 800€ p/mês de salário (salário bruto). São os rendimentos
do senhor J que somados a longo do ano estão sujeitos a imposto. Só que o legislador, para
assegurar que esse imposto vais ser pago, faz com que a empresa tenha de reter o imposto na
fonte. Se esse imposto está redito na fonte, a empresa não vai entregar 800€ para o senhor J,
vai entregar os 800 menos o que ficou retido na fonte.
Como o salário bruto do senhor J está na alíquota de 14,5% do IRS, então o que a Empresa
X faz? Antes de pagar o salário do senhor J, ela vai aplicar a alíquota de 14,5% sobre os 800€, o
que dá 116€, isto é, 116€ é o correspondente do imposto naquele mês. Então, a Empresa X
não vai entregar os 800€, mas os 800€ menos o que ficou retido na fonte, menos 116€, ou
seja, vai entrega 684€ para o senhor J.
O imposto que o senhor J deve para o Estado, vai ser entregue para o Estado, não por ele,
mas pela Empresa X. É por isso que ela retém na fonte esse imposto, porque é ela que o
entrega para o Estado; não só entrega o imposto, como ela preenche a declaração do
trabalhador. É a empresa que é a substituta, pois a empresa está mais bem colocada para
cumprir as obrigações do que o senhor J, ela tem contabilista, está bem organizada, etc. As
fiscalizações que o Estado faz em sede de IRS não recai na pessoa do contribuinte, recai antes
na pessoa da fonte, quem paga o rendimento da pessoa singular.
HÁ DOIS TIPOS DE RETENÇÃO NA FONTE e esses tipos são muito relevantes para saber o
tipo de substituição tributária que ocorre no caso concreto:
O imposto que fica retido na fonte é O imposto que fica retido na fonte a
definitivo, fica retido definitivamente, título provisório pode ser depois
como o nome indica. corrigido/modificado. Então, o
imposto que fica retido na fonte a
título provisório não vai ser
necessariamente o imposto total a ser
pago (pode ser mais ou menos).
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Posto isto, quando uma pessoa é trabalhador dependente, assalariado, trabalha por conta
de outrem, ocorre substituição tributária; as relações do empregador com o seu empregado
ensejam a substituição tributária. O empregador é obrigado a reter na fonte o correspondente
do imposto a ser pago pelo trabalhador, mas essa retenção dá-se a título provisório. E porque
é que o tipo de substituição, quando a retenção na fonte é provisória, é chamada de parcial?
Porque parte da obrigação fiscal do contribuinte é cumprida pelo substituto, o empregador,
no caso pela Empresa X, o que ficou retido na fonte ele entrega para o Estado, ele está a
cumprir uma parte da obrigação, mas não desonera o trabalhador, no caso o senhor J, de
cumprir a outra parte da obrigação: o resto do imposto que tem de pagar, mais algumas
obrigações acessórias, a declaração de rendimento, p.e; quando o trabalhador tiver de
declarar o IRS ele pode ter mais rendimentos que vão modificar a obrigação do imposto. Daí
que a substituição ocorra de modo parcial: o contribuinte continua com obrigações, só foi
substituído em parte.
Imagine-se uma Empresa Y que tem sede na França. Mas essa empresa investe a bolsa de
valores portuguesa, em ações na bolsa de valores, e ganha dinheiro com essas ações. Se ganha
dinheiro a fonte do rendimento está em Portugal, tem de pagar imposto aqui. Para o Estado
português é mais fácil cobrar esse imposto da empresa que está na França ou de quem paga o
rendimento para essa empresa que tem sede em Portugal? De quem é residente ou não
residente em Portugal? De quem é residente. E se o imposto não for pago? Pode executar os
bens de cá. Como é que o legislador facilita a vida da Administração Tributária? Estipulando
para esses tipos de rendimento quando estejam em causa não residentes, sobretudo, ocorre
retenção na fonte, mas essa retenção na fonte é diferente do senhor J, porque essa retenção
na fonte é definitiva, o que ficar retido quita a obrigação fiscal do contribuinte.
Exemplo: IRS. Em vez de ser uma empresa francesa, imagine-se que é uma pessoa singular
francesa que investiu em um fundo de infraestrutura português, fundo esse que é mantido
pelo banco ABC português e cujo rendimento de capital foi de 10 mil euros. Se há retenção na
fonte, o banco não vai pagar a integridade dos 10 mil euros, vai reter o imposto
correspondente, assim o que o banco vai entregar para à pessoa singular é 10 mil euros menos
o imposto devido. E aí o que o banco ficar com ele a título de imposto irá quitar a obrigação
fiscal. Porque irá quitar a obrigação fiscal? Porque substitui totalmente a pessoa singular nas
suas obrigações, a pessoa não tem pagar mais nada de imposto em Portugal. O que ficou
retido, o que o banco ficou com ele, libera o contribuinte das suas obrigações fiscais,
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9ª AULA
DIA 15/05/2018
Como regra, opera-se através das Como regra, opera-se através de pagamento
denominadas taxas liberatórias. por conta.
Exemplo: 71° do CIRS – Estão sujeitos a Exemplos: 98° e 99° do CIRS – O 98º
retenção na fonte, à taxa liberatória (…): estabelece que nos casos previstos no artigo
a) Os rendimentos de capitais (…) 99° e seguintes a entidade devedora dos
(elementos da categoria E do IRS); rendimentos, isto é, quem paga os
b) Os rendimentos de valores rendimentos, sujeitos a retenção na fonte,
mobiliários (…). as entidades registadoras ou depositárias,
consoante o caso, são obrigadas no ato do
pagamento, do vencimento, ainda que
presumido, da sua colocação à disposição,
da sua liquidação ou do apuramento do
respetivo quantitativo, consoante os casos,
essas entidades pagadores são obrigadas a
deduzir-lhes as importâncias
correspondentes à aplicação das taxas neles
previstas por conta do imposto respeitante
ao ano em que esses atos ocorrem.
Tanto as taxas liberatórias, como no pagamento por conta são espécies de retenção na
fonte, por isso que a LGT estabelece que a substituição tributária se estabelece por retenção
na fonte.
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O que significa essa execução? Se a pessoa não paga por bem, paga por mal. Logo, quem é
o responsável fica com o seu património sujeito a execução, é quem pode ser executado, ou
seja, quem tem de pagar/quitar a dívida/obrigação.
Posto isto, a obrigação não é só fiscal, é também jurídica. Se se fala de uma obrigação fiscal
o tipo de execução irá ser uma execução fiscal e só os responsáveis tributários podem ser
executados fiscalmente.
Quando há mais de uma pessoa responsável por uma mesma obrigação/dívida (artigo
22º/2), a relação que essas pessoas, que são os responsáveis, têm entre si pode ser:
Aqui a responsabilidade é solidária, pois se eles estão no mesmo patamar ambos, têm
as mesmas obrigações/deveres. Assim, as dívidas podem ser cobradas de qualquer um
dos responsáveis. Nas responsabilidades do tipo solidário o credor, no caso o Estado
Fiscal, como ambos são solidários, pode escolher se vai cobrar a dívida:
46
→ Verticalizada, ou seja, quando há uma ordem de preferência que não pode modificada,
para a cobrança da dívida.
Mas para isso acontecer, para o credor que vai executar o devedor original poder ir atrás
dos bens do devedor ou responsável subsidiário, alguma coisa tem de acontecer no
processo de execução, porque quando o credor está a cobrar a dívida do responsável
principal o subsidiário não sabe de nada sobre o processo. Por uma questão de mínimo
de segurança jurídica, tem de haver um ato formal que informe o devedor subsidiário
sobre o processo, de forma a que a execução fiscal que primeiro estava a ser movida
contra A possa passar a ser movida sobre o B. Esse ato chama-se de reversão, por isso
que a LGT diz que a responsabilidade subsidiária se opera através da reverão da
execução fiscal, porque a execução fiscal que estava a ser movida contra A reverte para
o B (23º LGT).
Então, o tipo de responsabilidade é importante para saber quem responde com o seu
património para o pagamento das dívidas e quando responde.
É obvio que a responsabilidade solidária é muito mais onerosa do que a subsidiária: uma
coisa é estar sempre com o património sujeito a execução outra coisa é estar sujeito a
execução se o outro não pagar. É por isso que o legislador estabelece que a responsabilidade
tributária por dívidas de outrem será, como regra, salvo determinação em contrário
expressamente prevista na lei, apenas subsidiária (22º/4). Há, todavia, exceções. No entanto,
essas exceções não são bem exceções porque os casos de responsabilidade solidária não são
casos próprios de responsabilidade por dívida de outrem.
Exemplo: duas pessoas compram juntas um imóvel, praticam o facto gerador do IMT.
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O 28º diz quem, quando e quanto será responsável nos casos de subsidiariedade. O que
estabelece? Em caso de substituição tributária a entidade obrigada à retenção (o substituto) é
responsável pelas importâncias retidas e não pagas ao Estado, ficando o substituído
desonerado de qualquer responsabilidade no seu pagamento.
48
Porém, o tipo de substituição (total ou parcial) faz diferença quando o substituto não
cumpre o que deveria, que é reter na fonte o imposto. E aí se coloca a dúvida: se quem
deveria realizar a retenção na fonte não realizou, quem é o responsável pelo pagamento
desse dinheiro do imposto? E isso que o 28º/2 e 3 respondem:
EXERCÍCIO
A Sra. XYZ aufere renda mensal de € 800,00 pagas pela empresa ABC Restauração Ltda. a
título de trabalho dependente (categoria A) e, a cada mês, tem retido na fonte o percentual
de 14,50. Relativamente ao IRS devido a título dos rendimentos desta natureza auferidos,
identifique:
Sujeitos ativos:
(ii) contribuinte: quem pratica o facto gerador, a senhora XYZ, quem aufere os
rendimentos.
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EXERCÍCIO
O Sr. XYZ, residente em Argentina, é sócio da empresa ABC Comércio Ltda., sociedade por
quotas com sede em Lisboa, e, no ano de 2016, auferiu, em decorrência de sua participação
de 40% nas quotas da sociedade, € 45.000,00 a título de rendimentos de capital. Identifique:
(iv) responsável(is) tributário(s): Depende se entregou tudo ou não. Se sim aplica-se o 28º
nº1, se não o 28º nº 3.
10ª AULA
DIA 22/05/2018
50
51
Se o devedor não paga no prazo a dívida, a A.T. vai tomar providências para
satisfazer o seu crédito e sendo um órgão do Estado como é que ele atua?
Mediante a emissão de atos administrativos, que se estiverem em
sequência/encadeados, formam um procedimento administrativo. E se a
Administração Tributária não resolver o problema administrativamente, vai
resolver judicialmente (há em Portugal tribunais especializados para julgar
matérias fiscais, os tribunais administrativos e fiscais). Então, os
procedimentos e processos tributários têm regras especiais, uma vez que se
trata de uma relação entre a Administração e os administrados, relação que é
especial e que, por tal razão, tem normas especiais de regulamentação. Mas é
evidente que tanto o CPA, quanto o CPTA, que regulam as relações
administrativas em geral, se aplicam, de modo subsidiário, às relações fiscais.
No entanto, nessas matérias envolvendo pagamento, sobretudo pagamento
forçado, nós vamos ver as normas do CPPT.
Há vários exemplos que podem ser dados: no âmbito do IVA os sujeitos passivos que
exportem bens para fora da UE têm direito de ser reembolsados pelo Estado quanto
ao IVA que eles suportaram em determinado período, logo o Estado tem de entregar
dinheiro para essas pessoas, assim, nesta hipótese, o particular é credor do Estado.
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Imagine-se que o Estado tem de entregar 2 mil euros para e empresa XPTO, em
dezembro de 2016, mas o Estado não entrega o dinheiro e aí relativamente ao IRC
essa mesma empresa deve ao Estado 5 mil euros a título de pagamento do IRC. Aí o
que a empresa pode fazer? O que o Estado pode automaticamente fazer? Compensar
os créditos e as dívidas. Se o Estado tem de entregar 2 mil euros à empresa XPTO e
tem de receber 5 mil euros da empresa XPTO, ele pode compensar as duas coisas e
assim a XPTO só tem de pagar 3 mil euros para o Estado.
Posto isto, ele paga a dívida dele, dando o direito de crédito, compensando o crédito
que ele tem perante o Estado. Todavia, há condições para isso acontecer. Que
condições são essas? São as condições do artigo 40º/2 LGT mais 89º a 90ºA do CPPT.
1. Com dívidas da mesma proveniência (crédito de IRC com dívida de IRC, IVA
com IVA, IRS com IRS) e, se respeitaram a impostos periódicos, relativas ao
mesmo período de tributação;
2. Com dívidas da mesma providência e, se respeitam a impostos periódicos,
respeitantes a diferentes períodos de tributação;
3. Com dívidas provenientes de tributos retidos na fonte ou legalmente
repercutidos a terceiros e não entregues;
4. Com dívidas provenientes de outros tributos (p. e. um crédito de IVA sendo
compensado relativamente a uma dívida do IRC).
Então, para além dessas formas de pagamento voluntário (40º LGT e 84º CPPT) …
53
… há o pagamento forçado, há execução fiscal, mas a execução fiscal é uma forma coerciva
de quitação, não é voluntária, nenhuma execução judicial de dívidas é voluntária.
Assim, se o pagamento for voluntário ótimo, todos os problemas relativos à relação jurídica
fiscal acabaram. Se quem tem de quitar a obrigação ou obrigações (principais e acessórias)
realizar a quitação extingue-se a relação jurídica tributária. Mas pode acontecer de o
pagamento não se dar de modo voluntário e aí quem não paga por bem paga por mal: pode
acontecer de esse pagamento ser um pagamento forçado e aí, já se viu que uma das
caraterísticas da obrigação fiscal, a sua natureza executiva e semi-executória. Significa isto que
se o pagamento não se der de modo voluntário, o Estado pode executar diretamente o
responsável tributário para satisfazer o cumprimento da obrigação. Daí a execução forçada das
obrigações fiscais ter o nome de execução fiscal. E no processo de execução fiscal o que o
Estado vai fazer é verificar os bens dos responsáveis tributário e, eventualmente, aliená-los
para satisfazer o pagamento devido. (Viu-se na aula passada) se o responsável principal não
conseguir quitar a dívida, o Estado reverte a tal de execução fiscal relativamente aos
responsáveis subsidiários.
• Prescrição (48º LGT e 297º/2 CC): uma dívida prescrita não pode mais ser exigida,
muito menos executada. Por isso é importante a diferença entre a caducidade da
prescrição:
- A prescrição (prazo de 8 anos, contados desde a prática do facto gerador) tem a ver
com o direito/pretensão de exigir o pagamento. Não é o próprio direito de crédito
que desaparece, por isso que as dívidas prescritas podem ser pagas voluntariamente
e não dão aso a repetição do pagamento, porque o direito de crédito continua
existente, o que o credor não pode fazer é exigir o pagamento.
- Já a caducidade (prazo geral de 4 anos, contados desde a prática do facto gerador –
45º LGT) tem a ver com o próprio direito de crédito. Se houve caducidade
desaparece o direito de crédito e no caso fiscal ele nem sequer se aperfeiçoa, pois se
a obrigação nunca foi certa, nem determinada (não foi liquidada), ela nunca se
aperfeiçoou, nunca produziu efeitos no mundo jurídico, nunca foi eficaz
juridicamente.
54
• TRANSMISSÃO DE DÍVIDA CAUSA MORTIS (29º/1 LGT): isto é, quando o devedor morre.
Quando uma pessoa morre tudo o que tem (em termos de dívidas, direitos, património,
bens) forma a herança. Antes de terminar o inventário, antes de dar a cada herdeiro
cada parte da herança, a herança chama-se indivisa.
Nos casos de sucessão causa mortis o juiz, normalmente, vai pegar tudo o que pessoa
tem de positivo (património, dinheiro, eventuais direitos), mas também vai ver se tem
dívidas, se tem deveres, obrigações e responsabilidades a serem satisfeitas (a dívida
fiscal entra aqui). Aí o que se vai realizar? De tudo o que a pessoa tem de património,
direitos, rendimento, vai se subtrair ao que ela deve, inclusive as dívidas fiscais e os
herdeiros só vão receber a diferença. E se não for suficiente? Os herdeiros não assumem
as dívidas do morto, a herança é que vai ser a recetora da dívida. A transmissão causa
mortis da obrigação fiscal não é uma transmissão que se dá entre o morto e os
herdeiros, os herdeiros não se tornam sujeitos passivos da obrigação fiscal, a
transmissão dá-se entre o morto e a herança. A herança, embora não tenha
personalidade jurídica própria, ela é uma entidade desprovida de personalidade jurídica
que recebe tratamento autónomo pelo direito. E pela possibilidade das coisas positivas
que a pessoa deixou não serão suficientes para pagar todas as dívidas é que existe uma
ordem de preferência para a quitação das dívidas e em quase todos os ordenamentos
jurídicos os créditos fiscais costumam estar em primeiro na ordem de preferência.
55
Por isso é que o legislador não permite, sobretudo no âmbito fiscal, que seja qualquer
pessoa a pagar a dívida alheia. Por isso é que o legislador estabelece uma norma, ou
melhor, uma condição, para que esse terceiro possa pagar a dívida do sujeito passivo e
essa condição é o interesse jurídico: só quem tem interesse jurídico é que pode pagar
uma dívida que não é sua. E o que é isso do interesse jurídico? É o interesse que uma
pessoa tem, numa determinada situação, que pode afetar a sua esfera jurídica; sempre
que uma pessoa estiver numa posição em que a sua esfera jurídica de direitos, deveres e
responsabilidades pode ser afetada, surge o interesse jurídico. Assim, para isso
acontecer, para que o terceiro proceda ao pagamento de dívidas alheias (91º CPPT):
Uma vez sendo esse requerimento aprovado pela A.T. ocorre a tal da sub-rogação, essa
sub-rogação acontece de modo parecido na prática com a substituição tributária só que
se dá no lado do credor. O terceiro que paga a dívida recebe o direito de crédito com
todas as garantias que a A.T. tinha, inclusive a executoriedade fiscal da dívida; o crédito
é repassado com as mesmas garantias, pessoais e reais, que tinha o crédito da A.T. (50º
LGT + 92º/1 CPPT), tendo ao seu dispor o processo da execução fiscal (92º/2 CPPT).
Então, antes a relação era A.T. vs. sujeito passivo; aí o terceiro mete-se no meio da
relação jurídica e paga a dívida e a relação tributária passa a ser entre o terceiro que
pagou a dívida vs. devedor e esse terceiro sub-rogado pode fazer tudo o que A.T. podia
para receber o devedor o valor devido, inclusive instaurar a execução fiscal.
EXERCÍCIO
Imagine que em 2/5/2016 tenha expirado o prazo para pagamento do IMI/2015 referente ao
imóvel sito à R. das Flores, nº 1, Coimbra, no montante de € 1.500,00. O Sr. ABC, proprietário
do imóvel, deixa transcorrer in albis o prazo para pagamento voluntário. Diante disso,
questiona-se:
a) Poderá a Sra. ABC, esposa em regime de comunhão de bens do Sr. ABC, realizar o
pagamento? Que efeitos decorreriam?
Há uma dívida de IMI. A senhora ABC que é esposa em regime comunhão de bens do
senhor ABC quer realizar o pagamento. Ela pode? Embora o imóvel esteja no nome do senhor
ABC se são casados em regime de comunhão de bens a senhora tem direito a metade da
dívida. É um dos casos de responsabilidade solidária. Se é responsável solidária ela sempre
pode pagar a dívida, integra o polo passivo desde o início. Ela é tão devedora como o marido.
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b) Poderá o Sr. XPTO, arrendatário do referido imóvel, realizar o pagamento? Que efeitos
decorreriam?
O Sr. XPTO está no polo passivo da relação desde o início? Não! Mas ele tem interesse
jurídico em pagar a dívida do imóvel? Sim, porque se o senhor ABC não pagar a dívida o imóvel
vai ser alienado judicialmente e isso mexe com a esfera jurídica do arrendatário do imóvel,
pois coloca em causa o contrato de arrendamento. O senhor XPTO é um terceiro com interesse
jurídico em pagar a dívida. Pode pagá-la? Sim. Quais os efeitos? A sub-rogação.
d) Considerando que o Sr. ABC pagou a mais € 850,00 a título de IRS/2015, poderá
compensar o crédito?
11ª AULA
DIA 23/05/2018
A cessão de créditos tem efeitos iguais àqueles da sub-rogação: o novo sujeito que vai
integrar o polo ativo, que é o cessionário do crédito, adquire o crédito tributário com todas as
suas caraterísticas e especialidades; o cessionário do crédito fica com todas as caraterísticas do
credor tributário, pode mover execução fiscal, tem todas as garantias. A diferença entre a
cessão e sub-rogação é que na cessão a iniciativa de transferir a posição ativa da relação
jurídica tributária (ceder os créditos) para terceiro é da própria A.T..
Porque o Estado faz isso? Porque os créditos tributários são cobrados pela A.T. só que essa
cobrança, mesmo pela via da execução fiscal, leva tempo e custa dinheiro. Assim, quando
precisa de dinheiro rápido, de receber de forma rápida créditos (p. e., para fechar o ano fiscal,
fechar o orçamento anual) ela aliena, cede a sua posição ativa na relação jurídica
fiscal/tributária e recebe dinheiro em contrapartida. É evidente que sendo a obrigação
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ATIVIDADE ADMINISTRATIVA
FISCAL
O Estado Fiscal não deixa de ser Estado. Os
órgãos responsáveis por dar seguimento ao
Estado Fiscal são órgãos administrativos e toda
a atividade administrativa, sobretudo uma
atividade administrativa de caráter tipicamente
público, cuja expressão fiscal apresenta poderes
públicos monopolizados pelo Estado, como o poder de cobrar de modo coercivo prestações
dos particulares (os impostos são obrigações ex lege, coativas). No âmbito fiscal, o Estado tem
poderes próprios que somente ele e mais nenhum outro sujeito de direito tem. O Direito Fiscal
expressa uma demonstração máxima dos poderes públicos. Se a A.P. em geral já tem de seguir
inúmeros parâmetros, princípios, procedimentos para levar a efeito as suas funções, por
maioria de razão a Administração Fiscal está sujeita a inúmeros parâmetros jurídicos para
realizar as suas competências e funções. E são esses parâmetros jurídicos gerais (há vários
especiais), e tal como as demais entidades da Administração, as competências e funções em
sede fiscal, ou melhor, a atividade administrativa fiscal, o exercício das funções de natureza
fiscal da Administração, se expressa através de atos, procedimentos e processos. Então, o
Estado Fiscal para emitir atos administrativos e, especialmente, atos fiscais ou tributários, leva
a efeito procedimentos e processos.
Posto isto, há uma CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS ATOS bastante relevante, sobretudo para
efeitos de reação dos particulares. No âmbito fiscal, os sujeitos passivos da relação fiscal
também têm meios de reação, meios de demonstrar que eles não concordam com os atos
expedidos pela A.T. e aí a classificação dos atos do Estado Fiscal, da Administração Fiscal, é
importante para saber que meios/instrumentos de reação os sujeitos passivos da relação
fiscal vão ter à sua disposição: atos administrativos em matéria tributária, atos tributários e
atos relativos a questões tributárias.
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59
• ATOS TRIBUTÁRIOS [em sentido estrito] (os que são mais importantes para nós): São
os atos de liquidação administrativa dos impostos, ou seja, atos que consistem em
aplicar a taxa/alíquota do imposto à matéria coletável, significa que são operações
destinadas a apurar o montante do imposto. E esse ato de aplicar a taxa do imposto à
matéria coletável, que é especialíssimo, é um ato exclusivo da A.T.. O ato/momento
de liquidação é um momento relevante em sede tributária porque é a liquidação que
confere exigibilidade e eficácia à obrigação fiscal, a obrigação fiscal passa a produzir
efeitos, bem como, esse ato de liquidação da obrigação fiscal, aperfeiçoa-se com a
liquidação da obrigação fiscal, isto é, torna essa obrigação perfeita e acabada (aqui
reside a importância destes atos, tal como a sua diferença relativamente a todos os
atos administrativos em geral). Antes da liquidação, a obrigação já existe, mas não
pode ser exigida, nem há um efetivo/exigível direito de crédito do Estado, este
depende da liquidação – o direito de crédito é meramente potencial (só se efetiva
com a liquidação). Se o Estado não liquidar em 4 anos o seu direito de crédito
caduca, o Estado perde esse direito de crédito, pois nunca chegou a se efetivar. É
diferente da prescrição, aqui existe o direito de crédito, o Estado não pode é mais
cobrar de modo coercivo/coativo. A prescrição tem a ver com a possibilidade de
cobrar forçadamente a obrigação, já a caducidade tem a ver com o direito subjetivo
do Estado, o direito de crédito.
Embora alguns autores só falem dos atos de liquidação nesse sentido estrito, e a
liquidação em sentido estrito é a aplicação da taxa à matéria coletável, há outros
autores que falam de uma liquidação em sentido amplo, que engloba a liquidação em
sentido estrito como os demais atos que complementam essa liquidação em sentido
estrito, porque depois que a taxa é aplicada à matéria coletável o resultado dessa
60
Imagine-se uma coleta de 3 mil euros, mas temos despesas de educação, saúde,
pagamento do lar e apresenta um monte de dedução à coleta num valor de 1.200
euros. O valor final do IRS a pagar vai ser 3 mil menos 1.200 que dá 1.800, i. é., o
valor do imposto a pagar final é de 1.800.
Por isso que alguns autores falam da liquidação em sentido amplo, porque embora o
ato da liquidação apure a coleta do imposto, se houver dedução à coleta o resultado
final vai depender dessas deduções. Daí alguns autores incluírem os atos de dedução
à coleta como atos tributários, como atos de liquidação do imposto em sentido
amplo porque esses atos interferem no resultado final do imposto a pagar.
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São atos que produzem efeitos na relação jurídica fiscal, mas não são atos
internos à relação jurídica fiscal, são externos, não fazem surgir ou delimitar
a relação fiscal, são acessórios a essa relação, orbitam a obrigação fiscal,
produzem efeitos positivos ou negativos na obrigação, mas não são atos
próprios e internos da relação.
✓ E o outro exemplo que se dá quanto a esses atos tem a ver com as cláusulas
anti-abuso, que podem ser gerais ou especiais. A cláusula de abuso geral
encontra-se no 38º LGT e as especiais encontram-se espalhadas em vários
códigos, como a do 73º/10 do CIRC. Essas cláusulas de abuso para serem
aplicadas dependem da instauração de um procedimento administrativo
próprio. Todos os atos relacionados à aplicação dessas cláusulas são atos
administrativos relativos a questões tributárias, orbitam a relação fiscal, mas
não são internos à relação. E o que são as cláusulas anti-abuso? São cláusulas
que tentam limitar as possibilidades de fraude e elisão fiscal. No abuso de
direito o que acontece? Não há a violação direta de nenhuma norma jurídica,
não há prática de nenhuma ilicitude em sentido estrito, não há um
incumprimento formal de qualquer norma, mas apenas a pessoa que age de
modo abusivo viola as finalidades do ordenamento jurídico, viola o fim de
norma e isso também acontece em sede fiscal, também há abuso de direito.
O contribuinte não viola diretamente nenhuma norma fiscal, não pratica um
ato ilícito em sentido estrito, embora pratique um ato anti-jurídico e
contrário ao propósito/finalidades do sistema jurídico. Infringe
materialmente o direito. É um ato que não é ilícito, mas é anti-jurídico. Se for
praticado abuso de direito em sede fiscal essas cláusulas anti-abuso são
aplicadas.
62
No final do processo em que a A.T. decide aplicar a cláusula, a A.T. vai ter de
abrir um novo processo que vai ser um processo envolvendo atos tributários,
porque depois que decide que o IMT é devido, ele tem de liquidar.
Então, os atos administrativos em matéria tributária, os atos tributários e os
atos administrativos relativos a questões tributárias podem estar
intercetados entre si, mas é importante saber identificá-los e diferenciá-los,
até porque os meios de reação dos contribuintes são diferentes.
Depois temos os procedimentos tributários (54º LGT, 44º CPPT, 55º e ss LGT [princípios]) e
os processos tributários (101º LGT, 103º LGT e 148º CPPT [execução fiscal - o mais
importante]).
Exemplo: No que concerne à incidência do imposto municipal sobre bens imóveis situado
na Rua das Flores, nº 1, Sé Nova, Coimbra:
Quanto ao IMI devido pelo proprietário do imóvel, pelo facto de ele ser proprietário do
imóvel em 31 de dezembro (imposto periódico). Uma vez praticado o facto gerador já existe a
obrigação fiscal.
O que tem de ser feito do início até ao fim para os fins deste imposto serem cumpridos? E
qual o fim ou finalidade dos impostos? É uma finalidade arrecadatória, do início ao fim o que
Estado tem de fazer é realizar todos os atos possíveis para conseguir o pagamento da
obrigação.
Se o estado quiser cobrar o imi do sujeito passivo que tem de fazer? QUAL O TRÂMITE POR
QUE PASSA A RELAÇÃO JURÍDICA FISCAL?
63
12ª AULA
DIA 29/05/2018
AS GARANTIAS DOS
CONTRIBUINTES
Como o Direito Tributário e o
Direito Fiscal são espécies dentro do
Direito Administrativo é evidente
que os contribuintes, os sujeitos
passivos, têm garantias perante a
Administração, perante o Estado
Fiscal. As garantias são regidas pelos
princípios gerais da A.P.: princípio
da legalidade, princípio da
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No âmbito dessas garantias, há diversos meios jurídicos passíveis de serem ativados pelos
contribuintes para exercer as garantias constitucionais, legais e regulamentares que têm
perante a A.T.. Esses meios podem ser:
Quanto aos diversos meios colocados à disposição dos contribuintes, esses meios vão
depender do tipo de ato que é praticado no caso concreto: para os atos administrativos
tributários há meios impugnatórios próprios que o contribuinte pode operar; para os atos
tributários há outros meios; e para os atos administrativos relativos a questões tributárias há
outros meios impugnatórios. Tudo isso está regulado na LGT, no CPPT, no CPA e no CPTA. A lei
regula os meios passiveis de serem suscitados pelos contribuintes para fazer valer as suas
garantias perante a A.T..
GARANTIAS GERAIS:
→ Revisão:
▶ Revisão ordinária:
– Por iniciativa do sujeito passivo:
▶ Revisão extraordinária:
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GARANTIAS ESPECÍFICAS:
- Avaliação direta:
54º CPPT (Salvo quando forem imediatamente lesivos dos direitos do contribuinte
ou disposição expressa em sentido diferente, não são suscetíveis de impugnação
contenciosa os atos interlocutórios do procedimento, sem prejuízo de poder ser
invocada na impugnação da decisão final qualquer ilegalidade anteriormente
cometida) + 95º/2 LGT.
- Avaliação indireta:
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91º e ss. LGT (1 - O sujeito passivo pode, salvo nos casos de aplicação do
regime simplificado de tributação em que não sejam efetuadas correções com base
noutro método indireto, solicitar a revisão da matéria tributável fixada por métodos
indiretos em requerimento fundamentado dirigido ao órgão da administração
tributária da área do seu domicílio fiscal, a apresentar no prazo de 30 dias contados a
partir da data da notificação da decisão e contendo a indicação do perito que o
representa. 2 - O pedido referido no número anterior tem efeito suspensivo da
liquidação do tributo (…))
Somente se pode valer diretamente da via judicial na hipótese de não dar origem à
liquidação do tributo
Nas demais hipóteses (em que a fixação da matéria tributável dê origem à liquidação):
depende, como regra, do esgotamento dos meios administrativos previstos nos arts.
91 e ss. e somente poderá ser invocada na impugnação da decisão final de liquidação
do tributo
Atos de liquidação administrativa são atos definitivos: “Os atos tributários praticados
por autoridade fiscal competente em razão da matéria são definitivos quanto à fixação
dos direitos dos contribuintes, sem prejuízo da sua eventual revisão ou impugnação
nos termos da lei” (art. 60º CPPT)
São suscetíveis de impugnação contenciosa direta para os tribunais (art. 97, n. 1, al. a
CPPT)
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“1- O procedimento de reclamação graciosa visa a anulação total ou parcial dos actos
tributários por iniciativa do contribuinte, incluindo, nos termos da lei, os substitutos e
responsáveis. 2 - Não pode ser deduzida reclamação graciosa quando tiver sido apresentada
impugnação judicial com o mesmo fundamento”
- Como regra não possui efeito suspensivo, exceto quando prestada garantia nos termos
dos arts. art. 170 e 199 CPPT
• A decisão final desfavorável pode ser objeto de: recurso hierárquico ou impugnação
judicial
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4 - No prazo referido no número anterior pode o autor do acto recorrido revogá-lo total ou
parcialmente.
“1 - Os recursos hierárquicos, salvo disposição em contrário das leis tributárias, têm natureza
meramente facultativa e efeito devolutivo.
2 - Em caso de a lei atribuir ao recurso hierárquico efeito suspensivo, este limita-se à parte da
decisão contestada”
2 - O imposto entregue a mais será descontado nas entregas seguintes da mesma natureza a
efectuar no ano do pagamento indevido.
3 - Caso não seja possível a correcção referida no número anterior, o substituto que quiser
impugnar reclamará graciosamente para o órgão periférico regional da administração
tributária competente no prazo de 2 anos a contar do termo do prazo nele referido.
69
- Art. 133: “1 - O pagamento por conta é suscetível de impugnação judicial com fundamento
em erro sobre os pressupostos da sua existência ou do seu quantitativo quando determinado
pela administração tributária.
4 - Decorridos 90 dias após a sua apresentação sem que tenha sido indeferida, considera-se a
reclamação tacitamente deferida”
• Prazos aplicáveis
• Obs: art. 102 CPPT: “1 - A impugnação será apresentada no prazo de três meses
contados a partir dos factos seguintes: (…) d) Formação da presunção de
indeferimento tácito”
70
*** Somente poderá ser admitida a discussão da ilegalidade do ato tributário se a lei não
assegurar nenhum meio judicial de impugnação ou recurso específico contra este acto
OS IMPOSTOS EM PORTUGAL
1) PEQUENAS NOTAS GERAIS SOBRE OS REGIMES JURÍDICOS FISCAIS DOS PRINCIPAIS
IMPOSTOS EXISTENTES NO ORDENAMENTO JURÍDICO PORTUGUÊS:
E quais são?
Esses são os principais. Há outros? Sim. Há outros que inclusive nem têm o nome de
imposto, podem ter nome de contribuição, pois, por força da corrente dicotómica defendia
por nós, as contribuições podem ter natureza jurídica de imposto ou de taxa, pois não são uma
espécie tributária autónoma (Dr. Casalta Nabais).
71
A grande diferença entre estes impostos tem a ver com o tipo de consideração que o
legislador faz para apurar, na prática, a capacidade contributiva do sujeito passivo. O facto
gerador é o que expressa, em abstrato, a capacidade contributiva, mas, na prática/em
concreto/em termos objetivos, é a matéria coletável que expressa a capacidade contributiva. É
com base no cálculo da matéria coletável, e, sobretudo, no cálculo da coleta, que já é o
resultado após a operação de liquidação, é com base na forma de delimitar a expressão em
concreto da matéria coletável e da coleta, que estes impostos se diferenciam.
IMPOSTO PESSOAL
A delimitação da matéria coletável e da coleta vão ter
IRS elementos que expressam caraterísticas pessoais do sujeito
passivo. Estes auferem a capacidade contributiva em cada
caso concreto, tomando em consideração as circunstâncias
gerais e pessoais da vida do sujeito passivo (se é casado ou
solteiro, com filhos ou sem filhos, se sim quantos, é doente ou não,
gasta com a educação ou não, se tem pessoas dependentes) . São
mais sensíveis ao apuramento efetivo da capacidade
contributiva dos sujeitos, sendo esta modificada de acordo
com a realidade pessoal de cada sujeito de imposto.
Esta dicotomia entre impostos apresenta-se de modo paradigmático nos impostos sobre o
rendimento: no IRS (imposto pessoal) e no IRC (imposto real). Embora sejam impostos sobre o
rendimento, a forma de apurar a verdadeira capacidade contributiva dos sujeitos passivos é
diferente. É assim porque o IRC é o imposto das pessoas coletivas e estas não têm
caraterísticas pessoais. Só o IRS é pessoal. Onde é que estão as expressões da pessoalidade do
IRS? Todo o regime jurídico do IRS é orientado pela natureza pessoal do imposto.
→ IMT
– Incidência objetiva: artigo 1º CIMT: 1 - O imposto municipal sobre as
transmissões onerosas de imóveis (IMT) incide sobre as transmissões previstas
nos artigos seguintes, qualquer que seja o título por que se operem; artigo 2º
CIMT: 1 - O IMT incide sobre as transmissões, a título oneroso, do direito de
propriedade ou de figuras parcelares desse direito, sobre bens imóveis situados
no território nacional.
72
→ IMI
→ IS
– Incidência objetiva: artigo 1º CIS: 1 - O imposto do selo incide sobre todos os
atos, contratos, documentos, títulos, papéis e outros factos ou situações
jurídicas previstos na Tabela Geral, incluindo as transmissões gratuitas de bens;
2 - Não são sujeitas a imposto as operações sujeitas a imposto sobre o valor
73
→ IVA
74
→ IRC
– Incidência objetiva: artigo 1º CIRC: O imposto sobre o rendimento das pessoas
coletivas (IRC) incide sobre os rendimentos obtidos, mesmo quando
provenientes de atos ilícitos, no período de tributação, pelos respetivos sujeitos
passivos, nos termos deste Código.
– Incidência subjetiva: artigo 2º CIRC: 1 - São sujeitos passivos do IRC: a) As
sociedades comerciais ou civis sob forma comercial, as cooperativas, as
empresas públicas e as demais pessoas coletivas de direito público ou privado,
com sede ou direção efetiva em território português; b) As entidades
desprovidas de personalidade jurídica, com sede ou direção efetiva em
território português, cujos rendimentos não sejam tributáveis em imposto
sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS) ou em IRC diretamente na
titularidade de pessoas singulares ou coletivas; c) As entidades, com ou sem
personalidade jurídica, que não tenham sede nem direção efetiva em território
português e cujos rendimentos nele obtidos não estejam sujeitos a IRS.
– Base do imposto: artigo 3º CIRC: 1 - O IRC incide sobre: a) O lucro das
sociedades comerciais ou civis sob forma comercial, das cooperativas e das
empresas públicas e o das demais pessoas coletivas ou entidades referidas nas
alíneas a) e b) do n.º 1 do artigo anterior que exerçam, a título principal, uma
atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola; b) O rendimento global,
correspondente à soma algébrica dos rendimentos das diversas categorias
consideradas para efeitos de IRS e, bem assim, dos incrementos patrimoniais
obtidos a título gratuito, das pessoas coletivas ou entidades referidas nas
alíneas a) e b) do n.º 1 do artigo anterior que não exerçam, a título principal,
uma atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola; c) O lucro
imputável a estabelecimento estável situado em território português de
entidades referidas na alínea c) do n.º 1 do artigo anterior; d) Os rendimentos
das diversas categorias, consideradas para efeitos de IRS e, bem assim, os
incrementos patrimoniais obtidos a título gratuito por entidades mencionadas
na alínea c) do n.º 1 do artigo anterior que não possuam estabelecimento
estável ou que, possuindo-o, não lhe sejam imputáveis.
75
3 - No caso de opção por tributação conjunta, o imposto é devido pela soma dos
rendimentos das pessoas que constituem o agregado familiar, considerando-se como
sujeitos passivos aquelas a quem incumbe a sua direção.
76
O sujeito passivo do IRS vai ser ou a pessoa singular sozinha ou a pessoa singular a
quem incumbe a direção do agregado familiar; o agregado não é sujeito passivo do
imposto, quem o é, é aquele expressamente referido no nº 3 que é o sujeito a quem
incumbe a direção do agregado familiar.
77
78
Cada categoria do IRS tem a sua norma própria de liquidação dos rendimentos.
A liquidação de rendimentos é de importante e diferente, porque o que uma pessoa
aufere/recebe de rendimento ao longo do ano é o rendimento bruto. No entanto, é
necessário fazer as deduções e abatimentos de cada categoria e aí, após as deduções
e abatimentos, nós passamos a ter rendimentos líquidos. Isso fica claro nos casos de
rendimentos empresariais e profissionais.
ATENÇÃO: Artigo 22º/3 – Não são englobados para efeitos da sua tributação:
a) Os rendimentos auferidos por sujeitos passivos não residentes em território
português, sem prejuízo do disposto nos n.os 8 e 9 do artigo 72.º;
b) Os rendimentos referidos nos artigos 71.º e 72.º auferidos por residentes em
território português, sem prejuízo da opção pelo englobamento neles previsto…
4 - Ainda que não englobados para efeito da sua tributação, são sempre incluídos
para efeito de determinação da taxa a aplicar aos restantes rendimentos, os
rendimentos isentos, quando a lei imponha o respetivo englobamento.
5 - Quando o sujeito passivo exerça a opção referida no n.º 3, fica, por esse facto,
obrigado a englobar a totalidade dos rendimentos da mesma categoria de
rendimentos.
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2ª OPERAÇÃO:
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Imagina-se 100 mil euros de matéria coletável, para um agregado familiar que
decidiu pela tributação conjunta. Antes de aplicar a taxa, tem de se pegar na matéria
coletável e dividir por 2. No caso, daria 50 mil euros e é esse o valor que é
considerado para efeito de incidência das taxas, não 100. Mais uma consideração de
natureza pessoal do IRS. Fazer parte ou não do agregado é uma caraterística pessoal
do sujeito passivo e modifica o regime de tributação.
O IRS tem mais de uma taxa. É um imposto progressivo: a taxa ou alíquota do imposto sobe
à medida de que sobe a matéria coletável; quanto mais rendimentos líquidos uma pessoa
tiver, mais rendimento global, maior a taxa.
No IRS não se aplica uma taxa: 68º/2 CIRS: O quantitativo do rendimento coletável, quando
superior a € 7 091 é dividido em duas partes:
→ uma, igual ao limite do maior dos escalões que nele couber, à qual se aplica a taxa da
col. (B) correspondente a esse escalão;
→ outra, igual ao excedente, a que se aplica a taxa da col. (A) respeitante ao escalão
imediatamente superior.
Uma pessoa que tenha rendimento global de 100 mil euros, coloca-a no último escalão.
Mas não são todos os 100 mil que estão nesse escalão, isto é, não paga os 48% sobre os 100
mil euros; só pagará 48% para os rendimentos que se enquadram nesse escalão, ou seja, dos
80.641 até os 100 mil. Para o primeiro escalão de rendimento, para os 7.091 euros, vai pagar
14,5%, para os 7.092 até 10.700 vai pagar 23%, para 10.701 até 20.271 incide 28,5% e assim
progressivamente até o último escalão. Assim, dos 100 mil só 19.360 (100.000 – 80.640) estão
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Em conclusão, o que é superior é tributado na taxa normal, o que está abaixo vai ser
tributado na taxa média do escalão anterior.
Imagine-se que está nos 37%: O 37% (taxa normal) só se aplica para o que está a cima dos
25 mil. Para o que está abaixo de 25 mil aplica-se a taxa média do escalão de cima/anterior.
Por isso que último escalão não tem a média.
O IRS depois da troika passou a ter impostos acessórios que são as taxas adicionais: taxa
adicional de solidariedade no pagamento da dívida do Estado (artigo 68-Aº CIRS): sem
prejuízo do disposto no artigo 68.º, ao quantitativo do rendimento coletável superior a € 80
000 incidem as taxas adicionais de solidariedade constantes da tabela seguinte:
E se as deduções a coleta tiverem um total de 3 mil euros e a coleta era de 2 mil? Tem de
entregar algo para o Estado? Não, ele tem direito de receber do Estado; o sujeito passivo tem
direito ao reembolso de imposto.
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Por isso que o legislador estabelece que da aplicação das taxas do artigo 68º não pode
resultar, para os titulares dos rendimentos, a disponibilidade de um rendimento líquido
inferior a 1,5 x 14 do salário mínimo. Mas se o resultado for superior o sujeito pode ser
tributado, pois, está a cima do mínimo existencial, mas tem direito as deduções à coleta do
imposto.
EXERCÍCIO
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