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Inclusão e Escola

O processo de inclusão e a escola inclusiva

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Tathiane Cecília. E. Arruda

Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
Unidade O processo de inclusão e a escola inclusiva

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:

Fonte: Thinkstock/Getty Images


• Percurso histórico do Processo de Inclusão
• O Processo de Inclusão no Brasil

Esta unidade tem como objetivo abordar historicamente o início do processo de


Inclusão bem como a Escola Inclusiva principalmente no Brasil. Tal objetivo será
importante para a compreensão do processo e melhor atuação tanto na gestão,
quanto na docência sobre as questões inclusivas.

Teremos o prazer de conhecer o processo de inclusão e a escola inclusiva. Como objetivo, a


unidade pretende abordar o início da Educação Inclusiva principalmente no Brasil e como
algumas escolas já a vivenciam e como se organizaram para tal.

Fique atento(a) aos materiais disponíveis para a realização das atividades. Não as deixe de fazer,
pois elas são fundamentais para efetivação da sua aprendizagem.

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Unidade: O processo de inclusão e a escola inclusiva

Contextualização

Abordaremos o início da Educação Inclusiva principalmente no Brasil e como algumas


escolas já a vivenciam e como se organizaram para tal. A reportagem, a seguir, ilustra um
pouco o que apresentaremos.

http://www.mundojovem.com.br/projetos-pedagogicos/projeto-inclusao-e-
proposta-pedagogica

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Percurso histórico do Processo de Inclusão

“A pluralidade é condição da ação humana pelo fato de sermos todos os mesmos,


isto é, humanos, sem que ninguém seja exatamente igual a qualquer pessoa
que tenha existido, exista ou venha a existir”
Hannah Arendt

Para a compreensão sobre o Processo de Inclusão principalmente no Brasil, é necessário


conhecer antes de mais nada sua trajetória histórica.
No período Antigo, a “Filosofia da Eugenia”, era a filosofia
predominante da época, ou seja, a filosofia de castas e da “pureza”.
Nesta época, as crianças que nasciam com alguma deficiência
representavam um transtorno para a sociedade (Áries, 1988).
Na cidade de Esparta, mães e crianças eram eliminadas ou
abandonadas. Em Atenas, as crianças deficientes eram expostas
à sociedade.
Na Era Cristã, o sentimento girava em torno da piedade. A
Fonte: Wikimedia Commons Igreja acolhia em troca de moradia, alimentação e trabalho.
Nessa época, ainda, a deficiência era vista como expiação dos pecados, algo recebido por
merecimento de castigos e confinamento. Havia ainda relatos de tortura, crueldade e
promiscuidade e, em alguns casos, de exposição à ridicularizarão (Mazzota, 2001).
Na Idade Moderna, havia certa valorização do ser
humano. Houve um aumento dos estudos e experiências
com deficientes, considerando sua hereditariedade e
biotipologia. Um dos responsáveis por essa mudança de
comportamento foram os estudos de Trabalho de Itard
(1774-1838), com o menino “selvagem de Aveyron” e com
os estudos de Pestalozzi (1746 – 1827) com os deficientes
mentais. Passa, portanto, ao modelo médico da deficiência.
Fonte: O Corcunda de Notre Dame (1939),Atualmente, na pós-modernidade, principalmente, no
Direção: William Dieterle
séc. XX, houve uma preocupação maior com enfoque no
caráter assistencialista e médico-terapêutico, em que foi dada prioridade ao modelo clínico
e a institucionalização. O atendimento educacional, que até a era moderna, foi totalmente
segregativo, conta, atualmente, com propostas de políticas públicas para a inclusão e integração
educacional e social. Desenvolveremos um pouco, mais adiante, as formas de políticas públicas
para esse atendimento.

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Unidade: O processo de inclusão e a escola inclusiva

O Processo de Inclusão no Brasil


Mazzotta (2001) afirma que, no Brasil, no séc. XIX teve início a primeira manifestação de
atendimentos – serviços para cegos, surdos, deficientes mentais e físicos com base em experiências
de outros países. (Europa e América). Para tal, algumas iniciativas como providências foram
tomadas de formas oficiais e particulares ou mesmo de forma isolada e refletiram o interesse de
alguns educadores que se interessaram em trabalhar com deficiências (Mazzota, 2002).
Embora, no século XIX, houvesse já essa organização, a intenção de uma proposta de
educação, que atendesse os deficientes ou os “diferentes, ocorre somente no final da década de
50 e início da década de 60 no século XX. Há, ainda, dois períodos que se destacam para essa
organização: o primeiro período de 1854 a 1956 iniciativas oficiais e particulares isoladas e o
segundo de 1957 a 1993 iniciativas oficiais de âmbito nacional.
Como iniciativas de educação para os deficientes, ressalta-se que a primeira delas se deu com
o próprio D. Pedro II, por meio do Decreto Imperial nº 1423, o qual funda o Imperial Instituto
dos meninos cegos inaugurado em 17 de setembro de 1854.
Segundo Mazzota (2001), Marechal Deodoro da Fonseca, primeiro ministro e Benjamim
Constant, ministro da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, assinaram um decreto mudando
o nome e aprovando o regulamento do então denominado Instituto Nacional dos Cegos.
Permitindo vir em uma linha cronológica, Mazzota (2001) destaca que “na discussão das
necessidades educacionais é fundamental não desconsiderar sua interdependência com as demais
necessidades humanas...” quais sejam as necessidades fisiológicas, de segurança, de participação
social, de estima ou reconhecimento e as de autorrealização estão intricadas nas necessidades
educacionais comuns e especiais cuja satisfação inclui a atuação competente das escolas”.
As recomendações e determinações sobre a importância e necessidade de uma escola para
todos, foram enfatizadas por educadores brasileiros a partir da década de 70.
Um marco disso foi a “Conferência Mundial sobre Necessidades Básicas de Aprendizagem”
realizada em Jomtien/Tailândia em 1990, a qual resultou a aprovação da “Declaração Mundial sobre
Educação para Todos” e “Plano de Ação para Satisfazer às Necessidades Básicas de Aprendizagem”.
Posteriormente, ressalta-se: a Política Nacional de Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência - CORDE/ 1992, a Política Nacional de Educação Especial – MEC 1993, a Lei n°
9394/96 fixando as Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB e o Decreto n° 3298/99,
regulamentando a Lei n°7853/89. Essas normas legais refletem uma concepção democrática da
educação escolar, contemplando a todos os indivíduos sem qualquer exclusão.
O movimento para educação inclusiva no Brasil sofreu também influência da: “Conferência
Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais” (Salamanca 1994), em que foi firmado um
compromisso com a educação para todos, ficando decidida a inclusão de crianças, jovens e
adultos com necessidades educativas especiais no sistema comum de Educação e na política
educacional brasileira, pode ser observada, a partir de 1990, uma tendência de Inclusão da
educação especial no contexto da educação geral e dos educandos com necessidades especiais
na educação escolar regular. Para tal, haveria a ampliação da participação de vários segmentos
da sociedade nas decisões políticas sobre educação especial.

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Ao comparar as Leis de Diretrizes e Bases da Educação de 1961 (LDB n° 4.024/61) com a LDB
de 1996 (Lei n° 9.394/96), destacam-se algumas alterações importantes. Entre elas, pode-se citar:
··a reafirmação e clarificação da conveniência do ensino regular para os portadores
de deficiências;
··a determinação explicita da obrigatoriedade de matrícula nos estabelecimentos públicos
e particulares de ensino regular fundamental para portadores de deficiências;
··a garantia de educação especial em todos os níveis e modalidades de ensino a partir da
Educação Infantil;
··a definição da Educação Especial como modalidade de educação escolar integrante do
sistema de ensino;
··a flexibilização da organização escolar para atender às necessidades educacionais
especiais dos portadores de deficiência e superdotados, assegurando terminalidade
específica e/ou aceleração de estudo no ensino fundamental;
··a atenção à qualificação dos professores especializados e comuns para a integração dos
alunos com necessidades educacionais especiais.
Embora há de se considerar com a LDB nº 5692/71, um retrocesso no processo, de inclusão,
uma vez que ela determina tratamento especial, reforçando Escolas Especiais nas escolas da
rede pública de ensino.
Pode-se considerar que há, particularmente, uma alteração na visão de pessoa com
deficiência entre uma LDB e outra, retirando o modelo médico e passando ao modelo holístico
de compreensão da deficiência.
Como aspectos ainda legais, a Educação Especial passa a ser modalidade de ensino a partir de
fenômenos legais que tiveram importância fundamental no processo de inclusão como atualmente.
Ao pensar, cronologicamente, sobre o atendimento à Educação de pessoas deficientes, Verotti
e Callegari (2012) apontam que:
··Em 1948, há a solicitação de uma escola para todos – Declaração Universal dos Direitos
Humanos – garantindo o direito à Educação para todas as pessoas.
··Em 1954, houve o surgimento da Educação Especial como opção à escola regular –
nesse momento é fundada a APAE – Associação dos amigos dos Excepcionais.
··Em 1961, a Lei garante a escola regular, preferencialmente, para a criança deficiente.
··Em 1973, houve a criação do Centro Nacional de Educação Especial com vistas a
integrar os alunos que conseguem acompanhar e para os que não conseguem, há as
salas especiais.
Verotti e Callegari (2012) ainda afirmam que a Constituição Federal de 1988 em seu Art. 205:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

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Unidade: O processo de inclusão e a escola inclusiva

Art. 208 - O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na
rede regular de ensino.
Isso significa que as escolas devem aceitar as pessoas com deficiência tendo que, para
isso, possuir recursos humanos e materiais para tal atendimento. Porém, não aponta como
“obrigatoriamente” e, sim, como “preferencialmente” o que remete à ideia de uma possível
segregação a partir das salas especiais, ou a inclusão parcial – aquela, na qual, o deficiente
passa apenas uma parte do período escolar com as crianças “normais” e outro período em
salas especiais.
• Já na Constituição Estadual, Capítulo VII, Seção I, artigo 277:
Art.277- Cabe ao Poder Público, bem como à família, assegurar à criança, ao adolescente,
ao idoso e aos portadores de deficiências, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e agressão.
Esse artigo aponta claramente a necessidade do respeito, da atitude ética frente às pessoas
com deficiência, dando-lhes absoluta prioridade na mesma proporção de igualdade que as
demais pessoas.
• Lei Federal no.7853, de 24 de outubro de 1989:
“Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a
Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), institui
a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do
Ministério Público, define crimes, e dá outras providências”.
Art. 2.º - Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência
o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho,
ao lazer, à previdência social, ao amparo, à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes
da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico.
Refere-se, aqui, à legalidade aos direitos das necessidades básicas de um cidadão comum,
possibilitado agora para os deficientes de gozarem de tais direitos.
Na Área da Educação, a seguinte lei faz referência:
a) à inclusão, no sistema educacional, da Educação Especial como modalidade educativa
que abranja a educação precoce, a pré-escolar, as de 1.º e 2.º graus, a supletiva;
b) à habilitação e reabilitação profissionais, com currículos, etapas e exigências de
diplomação própria;
c) à inserção, no referido sistema educacional, das escolas especiais, privadas e públicas;
d) à oferta, obrigatória e gratuita, da Educação Especial em estabelecimentos públicos
de ensino;
e) ao oferecimento obrigatório de programas de Educação Especial a nível pré-escolar e
escolar, em unidades hospitalares e congêneres nas quais estejam internados, por prazo
igual ou superior a 1 (um) ano, educandos portadores de deficiência;

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f) ao acesso de alunos portadores de deficiência aos benefícios conferidos aos demais
educandos, inclusive material escolar, merenda escolar e bolsas de estudo;
g) à matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimento públicos e particular de
pessoas portadoras de deficiência capazes de se integrarem no sistema regular de ensino.
Essa lei determina, portanto, a instituição da educação de pessoas com deficiência como uma
das modalidades educacionais a serem desenvolvidas na Educação Básica Brasileira. Aponta,
ainda, a necessidade de formação de profissionais que lidam com essa modalidade, e entre
outras questões já explicitadas no texto acima, a possibilidade de integração curricular de modo
que esses sujeitos possam acompanhar o processo educacional.
Verotti e Callegari (2012) concordam com o Ministério da Educação, quanto à existência de
outras legislações que referendam a educação de pessoas com deficiência. São elas descritas abaixo:
* Decreto no. 914, de 6 de setembro de 1993, o qual considera: pessoa portadora
de deficiência aquela que apresenta, em caráter permanente, perdas ou anormalidades de sua
estrutura ou função psicológica, fisiológicas ou anatômica, que gerem incapacidade para o
desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano”.
O Direito à Educação - A educação é direito de todos, portadores ou não de deficiência;
deve ser ministrada sempre tendo em vista a necessidade da pessoa portadora de deficiência.
Pode ser especial ou comum, em escolas especiais ou em escolas comuns.
Esse decreto define legalmente o que é uma pessoa com deficiência e corrobora com
a Constituição Estadual quanto aos direitos dessas pessoas; porém, abre a possibilidade,
ainda, desse atendimento ser em escolas especiais, o qual caminha na contramão de um
processo de inclusão.
• Lei no.9394, de 20 de dezembro de 1996
 Capítulo V – Da Educação Especial Art. 58 Entende-se por educação especial, para os
efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular
de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.
Sendo assim, pode-se entender, a partir desse artigo, que a Educação Especial, enquanto
modalidade de Ensino vista anteriormente, foi ampliada não somente para os deficientes e sim
para as necessidades especiais (Cabe ressaltar que era a terminologia da época em questão;
atualmente, trabalha-se com o termo: necessidades educacionais específicas).
 Art. 60 parágrafo único: O Poder Público adotará, como alternativa preferencial, a
ampliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública
regular de ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo.
Ainda, infelizmente, a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação aponta para o preferencial,
deixando, dessa forma, a possibilidade de não inserção desses alunos na rede regular de ensino, ou
seja, o processo de inclusão ainda não está definitivamente coeso, reforçado, emancipado nessa Lei.
·· Já o Decreto no 3298, de 20 de dezembro de 1999:
Art. 24. Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e indireta
responsáveis pela educação dispensarão tratamento prioritário e adequado aos assuntos objeto
deste Decreto, viabilizando, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:

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Unidade: O processo de inclusão e a escola inclusiva

I – A matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos públicos e particulares


de pessoas portadora de deficiência capazes de se integrar na rede regular de ensino;
II – A inclusão, no sistema educacional, da educação especial como modalidade de educação
escolar que permeia transversalmente todos os níveis e as modalidades de ensino;
III – a inserção, no sistema educacional, das escolas ou instituições especializadas
públicas e privadas;
IV - a oferta, obrigatória e gratuita, da educação especial em estabelecimentos públicos
de ensino;
V - o oferecimento obrigatório dos serviços de educação especial ao educando portador
de deficiência em unidades hospitalares e congêneres nas quais esteja internado por prazo
igual ou superior a um ano; e
VI - o acesso de aluno portador de deficiência aos benefícios conferidos aos demais
educandos, inclusive material escolar, transporte, merenda escolar e bolsas de estudo.
Parágrafo 1º Entende-se por educação especial, para os efeitos deste Decreto, a modalidade
de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para educando com
necessidades especiais, entre eles o portador de deficiência.
Esse decreto somente reforça todos os parâmetros legais vistos até o momento, porém
possibilita a Educação Especial como “transversal”, ou seja, ela acontece concomitantemente à
Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, pois há pessoas deficientes ou com necessidades
educacionais específicas de todas as idades.
··Resolução SE 95, de 21 de novembro de 2000:
Artigo 1º São considerados alunos com necessidades educacionais especiais aqueles que
apresentam significativas diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais decorrentes de fatores
inatos ou adquiridos, de caráter permanente ou temporário, que resultem em dificuldades ou
impedimentos no desenvolvimento do seu processo ensino-aprendizagem.
Artigo 2º Os alunos portadores de necessidades especiais, ingressantes na 1ª série do ensino
fundamental ou que venham transferidos para qualquer série ou etapa do ensino fundamental e
médio, serão matriculados, preferencialmente, em classes comuns do ensino regular, excetuando-
se os casos, cuja situação específica, não permita sua integração direta em classes comuns.
Essa Resolução define claramente o que significa a pessoa com necessidade especial na época,
pois o sistema educacional como um todo ficou impactado com a possibilidade de incluir essas
pessoas no processo educacional e como a escola ainda preconiza o modelo médico da inclusão,
se fez necessária a definição do que significa, uma vez que as necessidades especiais, poderiam
ser “qualquer” diferença. Mas com base em quê? Daí a necessidade de uma definição.
• Deliberação CEE no. 05/2000:
Art. 1º As atividades e procedimentos relativos à Educação Especial no sistema de ensino do
Estado de São Paulo obedecerão as presentes normas.
Parágrafo único – A Educação Especial é modalidade oferecida para educandos que
apresentam necessidades educacionais especiais, caracterizados por serem pessoas que

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apresentam significativas diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais decorrentes de fatores
inatos ou adquiridos, de caráter temporário ou permanente e que, em interação dinâmica com
fatores sócio-ambientais, resultam em necessidades muito diferenciadas da maioria das pessoas.
Art. 2º A educação especial desde a Educação Infantil até o Ensino Médio deve assegurar
ao educando a formação básica indispensável e fornecer-lhe os meios de desenvolver atividades
produtivas, de progredir no trabalho e em estudos posteriores, satisfazendo as condições
requeridas por suas características e baseando-se no respeito às diferenças individuais e na
igualdade de direitos entre todas as pessoas.
Aqui, demonstra-se a obrigatoriedade da formação básica do indivíduo no trabalho com as
suas capacidades e potencialidades, considerando que cada um é único e que possui um ritmo
individual de aprendizagem. Assim, os sistemas de ensino devem assegurar essas questões.
Em uma nova definição de nomenclatura, temos a Resolução nº 2, de 11 de setembro
de 2001:
Art.5: consideram alunos com necessidades educativas especiais:
I - apresentem dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de
desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares compreendidas
em dois grupos:
a) as dificuldades não vinculadas à uma causa orgânica específica;
b) às relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências;
II - dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando
a utilização de linguagens e códigos aplicáveis.
Essa resolução não diferencia os deficientes das pessoas com necessidades educacionais
específicas, ou seja, as trata da mesma forma, o que sugere que o processo de escolarização
deve levar em conta as características individuais e não somente as patologias.
Cabe destaque, embora já tivesse sido citada, pois é de fundamental importância para a
prática pedagógica, a Declaração de Salamanca de Princípios, Políticas e Prática
em Educação Especial (1994)
(...) A Declaração “ proporcionou uma oportunidade única de colocação
da educação especial dentro da estrutura de educação para todos
firmada em 1990 (...) Ela promoveu uma plataforma que afirma o
princípio e a discussão da prática de garantia da inclusão das crianças
com necessidades educacionais especiais nestas iniciativas e a tomada de
seus lugares de direito numa sociedade de aprendizagem”
(Mazzotta p.15)

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Unidade: O processo de inclusão e a escola inclusiva

No que diz respeito ao conceito de necessidades educacionais especiais, a Declaração


afirma que:
“durante os últimos 15 ou 20 anos, tem se tornado claro que o conceito
de necessidades educacionais especiais teve que ser ampliado para
incluir todas as crianças que não estejam conseguindo se beneficiar com
a escola, seja por que motivo for. (p.15)
Desse modo, pode-se ver claramente que os decretos, leis e resoluções que apontam para a
definição das necessidades educacionais específicas tiveram, como base, essa declaração.
Sobre a prática educacional, a Declaração de Salamanca reforça que a Inclusão e
participação são essenciais à dignidade humana a ao gozo e exercício dos direitos humanos
e que na educação, tais direitos refletem no desenvolvimento de estratégias que procuram
proporcionar uma oportunidades iguais.
Além disso, muitos países demonstram que a integração de crianças e jovens com necessidades
educacionais especiais é eficazmente mais alcançada em escolas inclusivas que servem a todas
as crianças de uma comunidade. (Mazzotta p.61). Deixando claro que o processo de inclusão é
benéfico para todas as crianças.
Mazzota (2001) relata que a base essencial da escola inclusiva é a de que todas as crianças
deveriam aprender juntas, independente das dificuldades ou diferenças que possam ter. As
escolas inclusivas devem reconhecer e responder às diversas necessidades de seus alunos, com
vistas a acomodar estilos e ritmos diferentes de aprendizagem e assegurando uma educação de
qualidade a todos por meio de currículo apropriado, adequado às características individuais de
cada um, contando, com isso, com algumas modificações organizacionais, estratégias de ensino,
uso de recursos e parcerias com a comunidade, com vistas a assegurar uma educação efetiva.
Em acordo com o a Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação (2013),
no desenrolar de políticas públicas para a inclusão, em 2002, há a Resolução do Conselho
Nacional de Educação, a qual afirma a necessidade de formação de professores para atender
alunos com Necessidades Educacionais Específicas.
A Língua Brasileira de Sinais, LIBRAS, passa a ser reconhecida como meio legal de
comunicação por meio do Decreto nº 5622 de 2005. Por isso, o BRAILE deveria ser usado em
todas as modalidades de ensino, mas, atualmente, isso não ocorre, de fato, pois ainda não está
totalmente absorvido pela comunidade docente e o deficiente visual acaba, muitas vezes, indo
para uma instituição especializada ou utilizando as tecnologias assistivas com audiodescrição de
todas as atividades.
Em 2003, o MEC cria Programa Educação Inclusiva tendo como premissa, o Direito à
Diversidade. É criada a SECADI – Secretaria de Educação à diversidade e Inclusão, a qual
tem como missão, emanar as políticas públicas para essas pessoas em todo o seu processo de
inclusão na esfera educacional, social ou cidadã.
Em 2004, o Ministério Público Federal reafirma o direito à escolarização de todas as crianças
com necessidades educacionais especiais no ensino regular. Em 2006, tem-se a Convenção
aprovada pela ONU, a qual estabelece que as pessoas com deficiência tenham ensino inclusivo
e finalmente em 2008, tem-se o fim da segregação, ou pelo menos a tentativa de, uma vez que

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a Política Nacional de Educação Especial define que todas as crianças devem estar em escolas
regulares e nesse ano pela 1ª vez o número de crianças com deficiência em escolas regulares
ultrapassa os que estão em escolas especiais.
O Brasil ratifica a Convenção dos Direitos das Pessoas com deficiência, da ONU, porém
como em 1971, há um outro retrocesso nessa linha do tempo, a qual em 2009 não foi aprovado
pelo MEC a obrigatoriedade da escola regular para as crianças com deficiência, abre ainda a
possibilidade da manutenção das instituições especializadas tendo como objetivo o oferecimento
às crianças com deficiência, dentro de um espaço institucionalizado, todos os serviços necessários
para sua reabilitação e para que futuramente estejam adaptadas ao meio social.
Vendo tal trajetória da Educação Especial e Inclusiva, concorda-se com Mazzotta (2001),
ao discutir sobre o processo de Inclusão, que se faz crer que seja necessário ainda o diálogo
entre alguns conceitos:
··Inserção: por inserção, vê-se, apenas, a pessoa dentro do contexto educacional
brasileiro. Sem algum tipo de trabalho realizado de forma interacional.
··Integração: há uma preocupação com estratégias educacionais de forma a realização
de um trabalho escolar realizado nas escolas. Algumas escolas possuíam salas especiais,
segregadas apenas para os alunos que apresentavam alguma deficiência.
··Inclusão: há uma compreensão de inclusão social maior e não apenas no âmbito
educacional e, sim, na relação com todas as pessoas com as quais o deficiente pode se
relacionar e interagir. É um ato de compreensão ainda maior.
Uma vez, entendida essa questão, clarificaria para nós, leitores, um pouco melhor, o que
significa a palavra: Inclusão. A palavra inclusão vem do verbo incluir (do latim includer), que
significa compreender, ou fazer parte de, ou participar de. Já a Educação Inclusiva, entende-se
todo o indivíduo incluído, compreendido ou participando daquilo que o sistema educacional
oferece, implicando numa atitude de respeito ao educando enquanto cidadão.

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Unidade: O processo de inclusão e a escola inclusiva

Material Complementar

Vídeos:
··http://www.youtube.com/watch?v=mpoE9pCGOR4
··http://www.youtube.com/watch?v=dGaaVtYeklU

Assista também aos filmes abaixo relacionados:


··Como treinar o seu dragão;
··Meu nome é rádio.

Leia:
··http://revistaescola.abril.com.br/formacao/palavra-especialista-desafios-educacao-
inclusiva-foco-redes-apoio-734436.shtml

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Referências

AMARAL, L.A. Pensar a diferença/deficiência. Brasília: CORDE, 1994.

ÁRIES, P. História Social da criança e da família. Editora EPU, 1988.

BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Programa de capacitação de recursos humanos


do ensino fundamental. Série Atualidades pedagógicas. MEC/SEESP, 1998.

CARVALHO, R.E. Temas em educação especial. Rio de Janeiro: WVA, 1998.

DUNN, L.M. Crianças excepcionais: seus problemas, sua educação. Rio de Janeiro: Ao livro
técnico, 1971.

MAZZOTTA, M.J.S. Educação especial no Brasil: história e políticas públicas. São


Paulo: Cortez, 2001.

TELFORD, C.W.; SAWREY, J.M. O indivíduo excepcional. Trad. A.Cabral. Rio de Janeiro:
Zahar, 1978.

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Unidade: O processo de inclusão e a escola inclusiva

Anotações

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