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Pensarilho

Por Joseph Taigen


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O frio está na mente,


o desejo anda perdido por entre imagens,
os passos estão na escuridão ventosa.
Primeiro há o desejo, depois a frustração,
o futuro é incerto se o espaço não muda,
há ainda uma tentativa de fazer lógica,
depois do nada,
uma tentativa de criar, dar vida, comunicar,
tentar ajudar ou permanecer imóvel,
cumprindo o corpo um desejo aristotélico,
a revolta por injustiças pessoais,
adia-se o presente, adia-se o futuro,
em nome de uma razão qualquer, uma reminiscência,
coloca-se a existência à frente e a pretexto de tudo,
quando há algo mais importante do que nós,
estes dias são dos mais difíceis que pude contar,
são dias de dor e desalento, em que não há garantias,
nem fé em Deus, que poderá haver depois de tudo,
depois de Deus o que poderá haver senão o próprio Deus,
o corpo é imóvel mas o pensamento é andarilho,
por caminhos difíceis de partilhar.

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Se a solidão me invade,
o que poderei fazer senão amar o próximo,
o que poderei fazer,
se a noite cai,
e o frio pousa sob meus ossos,
o que poderei fazer para aquecer o coração?
Não economicamente viável,
dizia-se do homem e dos seus actos,
o seu comportamento não arrastava simpatias,
talvez tivesse o coração congelado,
mas não,
haveria de percorrer o mundo,
haveria de fazer vingar os seus imensos sonhos,
o passado perseguia-o como uma sombra,
as energias faltavam,
a sua luta era quixotesca,
um dia, um dia teria felicidade,
pois compreendera na solidão e do sofrimento,
a sua condição,
um dia o sol brilharia ao ponto de não ver sua sombra,
a pique, sob o seu corpo adulto,
e choveria logo a seguir,
regenerando a mãe terra as suas sementes,
acabaria num florilégio diverso,
abraçado a sua amada,
abraçado a uma outra vida.
Muitas das vezes deixamos andar
Não nos preocupamos com o amanhã
Dizemos que o medo de ontem será
O medo de amanhã
Quando menos esperamos,
Depois de tanto procurar,
Conseguimos obter alguma coisa,
Nem que seja o pão para a boca
E isso já nos traz dignidade
Para não dizer felicidade
Mas também a esperança
De que um dia dos iremos todos rir
Disto que se está passando “cá em baixo”.

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O coração bate compassado,


imagino outras paragens e leio,
para as conhecer,
meus dias caminham para esses dias,
de encontro com outras raças,
que importa que a distância do sonho à realidade,
seja imensa, abissal,
pois parece que importa é diminuir essa distância,
para que os caminhos que percorremos,
nos pareçam menos estranhos,
porque já os visitámos algures na nossa mente,
só queremos um bilhete de ida e volta,
na terra dos homens, na mãe terra,
na humanidade que nos gerou do seu ventre.
Para ela queremos regressar à noite,
ter forças para novos dias luminosos,
em que os nossos desejos serão cumpridos,
Mais tarde ou mais cedo,
pois não importa a distância,
mas diminuir essa distância.

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O homem conheceu as trevas,


antes que se fizesse luz,
foi preciso provar o bem pelo mal,
comer o pão que o diabo amassou,
para concluir que as trevas da humanidade,
já passaram…
Mas será mesmo assim?
Não continuam os homens em quezília?
Teremos de admitir que a inimizade entre os homens
faz parte da sua natureza?
O fim das trevas, se eu bem julgo,
está no progresso e aliança conjunta dos povos,
pois a humanidade anda em círculo talvez,
a evolução não passa decerto de um refinamento,
de todas as capacidades,
que o homem primitivo tem.
Que se encontrem os homens de bem!
Para que cessem as trevas,
E se inaugure uma nova aurora da humanidade!

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Se eu tivesse dado voz ao coração,


Não estaria apenas assim,
apenas só.
Teria um outro futuro.
Todas as crises de crescimento,
para estar numa condição,
ainda de expectativa.
Mas há que lançar as redes e zarpar,
que se faz tarde.

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A rosa repousa no esconderijo,


as mentes proliferam,
a gaze é posta nos feridos,
os olhos incham de dor,
as melhoras de amor tardam,
já que se escusa a amada,
quando o amado cultiva,
a rosa com todo o empenho.
A rosa está ao lado do volante,
faz quilómetros.
As rosas de plástico,
estão na cabeceira, diz-me ela.
Será plástico o nosso amor?

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As árvores acolhem o sol,


há um sentimento de nostalgia no ar,
a vida passa e eu constato isso, apenas, como poema,
a alma entristecida por não haver movimento,
o medo de haver movimento.

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Estudar, insisto em estudar,


em procurar nas palavras consolo e regra de vida,
podia não ser assim,
o meu conhecimento seria feito de experiência,
mesmo assim não estou longe de tudo,
pois como Drummond de Andrade,
procuro a ode cristalina
que não está nos dicionários.

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De que serve a literatura,


senão para o enamoramento?
Porque escrevem os filósofos,
senão para amar?
Porque pintam os artistas,
senão para encontrar sua alma gémea?
Pois que muito esforçados são os escritores,
em delatar as experiências dos homens,
em traduzir a sua natureza por palavras.
Terão eles no âmago uma intenção religiosa,
ou uma outra?
Haverá algum outro propósito cósmico,
que faz os homens escrever,
dia após dia, num arfoso labutar,
o quê senão o amor pelos homens e por Deus,
juntando a isso o saber ocupar,
o lugar que efectivamente ocupam no universo?

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Será que a poesia é o lugar mais honesto,


ou ainda há lugar para estratégias no sofrimento?
O mundo está pleno de interrogações,
entre as quais umas pessoais outras colectivas,
umas são tão importantes que as esquecemos,
outras por serem pouco importantes,
Não nos largam o espírito.
Quais serão de facto as mais importantes,
quando há pobres e famintos no mundo,
quando a riqueza está mal repartida,
que medo têm os homens,
de um mundo justo?
Que o mundo é feito de coisas aparentemente simples,
que se complicam com a idade, será verdade?
Quando outros sofrem não podemos ficar na mesma,
fingindo que não somos irmãos,
temos de modificar por dentro,
há sempre qualquer coisa que podemos fazer,
e nunca é tarde.

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Uma gota de água,


é o bastante para se seguirem outras,
quando o choro está em causa,
está o mar, que nos envolve, imenso,
quando um homem chora o mundo move-se,
Deus comove-se.
Há dias sem inspiração,
em que a tristeza nos invade,
estamos confinados a uma natureza e a um tempo,
queríamos mais e temos o que temos,
o oceano é enorme e nós fazemos parte dele,
não somos senão uma gota,
não somos senão uma partícula,
no imenso universo.

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Quando a nossa mente foi habitada por ideias estranhas,


quando os pensamentos se repetem insistentes,
perturbantes,
existe a fé de um lado o pecado do outro,
e custa chamar pecado às acções humanas,
custa condenar um ser pelo direito ao prazer,
numa sociedade que incrimina veladamente,
e cria dentro de nós um cancro,
eu grito isto não é saudável,
a vida está lá fora para ser vivida
e eu digo, como no spot,
“tenho mais que fazer do que sobreviver”.

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Há anos que sei que existes,


vi-te no rosto de pessoas que amei,
vi-te de soslaio no magnífico sol de Lisboa,
nas ruas de Pombal, a minha cidade,
procurei-te por lugares insuspeitos,
noutros que não interessam
nem ao menino Jesus,
sei que estás aí algures,
e que o bater dos nossos corações,
se aproximará um dia.

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Sob o comando da razão arisca, eis a mente,


Presente o horizonte de sombras altívagas,
pressente um pretexto para o bater do coração.
A carteira de fósforos caiu e abriu,
libertando bolor de estar na mercearia húmida.
Estaria velha à minha espera,
como donzela inabitada…
Eis a poesia desse lugar,
habitação do tempo do pensamento,
esperando o desejo táctil,
a insegurança prolongada,
no lívido dos olhos adocicada.
Só uma mansidão como a das ovelhas
chocalhando à noite,
receio,
dá, aos humanos humanidade.

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O que ficará,
serenando a mente:
vozes, fortes presenças,
emoções próximas e tacto púbere, arfante.
O que dissipa o espírito,
a enfermidade habitada no corpo,
enclausurado, retido.
Como a letra que escrevo no repouso,
um fio invisível de força que me tocará,
ficará.

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Ligeira retenção, preocupação,


Os passos não são eternos.
O corpo assenta dócil nos sapatos.
É a agitação que conduz,
à fonte onde é a límpida a água,
que percorre o corpo deleitado e liberto,
na respiração dos objectos.

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O gafanhoto está imóvel,


mexe uma das antenas,
não sei se para sondar a minha presença.
O gafanhoto vira-se para mim,
apetece-me tocar-lhe e assustá-lo,
aproximar a minha dimensão de humano.
Ele, entretanto, prepara o salto.
As cigarras cantam a meio tom ao longe,
neste Alentejo,
sinto o calor vir de fora na face,
em leves bafuradas quentes.
O gafanhoto salta.
Amparo o rosto com as mãos.
O oxigénio arde perto de mim.
Reconheço-me como humano.

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Espaços reduzidos em que perco o olhar,


inteligências no ilógico.
O olfacto domina a minha presença,
a calma dói-me nos olhos,
afloro letras e vívidas memórias,
que martelam o cérebro,
como uma impressora de agulhas.
Um circuito labiríntico desenha-se entre mim,
objectos estranhos intrometem-se no meu território.

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O rio e a cidade com sabor a sede,


o amor escreve-se com o desejo.
Vincada no ser
apoia-se uma substância inédita.
Meço no punho o tempo.
Acuso-o de me ter esgotado.
No entanto, reconheço-me,
entre o Alentejo e Pombal.

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Num quadro corta a luz,


o desenho do sabor da sede,
uma vasta fluidez caracteriza o vento.
Enterro os pés e fito a harmonia desenvolta,
de um contacto metálico,
o encontro perfeito entre sistemas de energia,
um rito que não se transmite,
enlouquece-me,
na palpitação de uma pessoa perto de mim,
dentre as vozes nenhuma se destaca,
confundem-se,
e estilhaçam-se em eco.

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No olhar que enfrento há um medo,


uma ausência de força com falta de sentidos.
Não a dor, mas um anseio de abismo.
Às tantas nem sequer é procurar,
nem sequer é ter sede,
da probabilidade das coisas.

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Chego ao chão com o olhar cansado,


o vento altera o clarão que ilumina a face.
Não perco o corpo
porque a terra me ampara
o desejo de paz
me procura.

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A luz ao vir ter comigo,


é a minha esperança,
e teus olhos vêm nela o conteúdo
do nosso conhecimento mútuo.
É agora a luz que ilumina os nossos corpos,
a manhã começa clara,
a vida emerge de nós,
para nós.

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As aves em grupo esvoaçam marcantes no céu.


Foi para lá o meu pensamento de solidão.
O templo é amplo,
os dias que o sol assinala,
as noites que a lua assinala.
A terra nos suporta na cor castanha-preta.
O homem marca os minutos num papel,
preenchendo o cenário branco da mente,
com actos e palavras.

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As palavras sucedem-se aos dias.


procuro a autoridade coloquial,
palavras que se perderam.
procuro a força comunicante num encontro imprevisto,
ouvir palavras é meu lema,
o ideal do acto criador,
que se estenda emotivamente nos dias.
Procuro não o pensamento,
mas a frescura dos desejos.
Sei.
A órbita dos factos plausíveis
é inútil à contabilidade dos dias de sombra.
Sei inútil o invento e a engenhosidade
senão para toda a humanidade,
para todas as esperanças que pelos campos possam aflorar.

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Faço um projecto chamado “mundo exterior”.


O grito perdido que não foi á terra a semear
evade-se na arena onde vozes roucas
reavivam ritos civis e sacros.
Repetição, a presença juvenil é inaugural,
Contra-ataca no perfil baixo que detenho.
Entrego-me à alegoria que a mente me reserva,
cópia de outras vidas.
O silêncio estende-se em torno do cérebro,
qual auréola inconveniente de santidade.
Perco de vista a fissura onde caberia uma chave
para a divisão onde reside a poesia útil.
Mas encontro-a mas adiante,
onde faço gloriosos os dias,
e a esperança me conduz à divisão desejada.

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Registo partículas no pensamento enquanto a água corre,


o branco dos espírito, o negro da morte, a mente,
filosófica, lógico-pragmática
que guia os passos ouvidos por alguém importante.
O buraco, o corpo que não chega para a mente,
nas batalhas entre princípios e moralidades.
Registo o coração nas mãos que salta
mãos que o afagam,
o corpo transportará a mente,
o coração se acalmará,
quando for preciso e repousará,
desafiando razão e emoção, apenas sintomas do pensar.
O corpo atlético, progressivo, insistente,
voraz, circular, libertado e quente.
As ideias herdadas como trave-mestra do pensamento,
infeccções fugidias me relatam,
e se avolumam na quilometragem da sola,
intenções no rosto pincelado para a guerra dos dias.
As gotículas, pigmentos donde se fazem as cores,
ilógicos ciscos que excitam a estéril, eterna, cerebral vitória.

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O que se perdeu poderá reaver-se,


poderá ganhar-se de novo alento?
Uma nuvem de morte me largou.
Curioso….só quando a ameaça de nós se aproxima
compreendemos a dor dos outros.
depois voltamos a cumprir os dias, um após outro,
como se fôssemos autómatos.
espero o apocalipse,
espero cumpri qualquer verdade ou rua,
pelos caminhos de Lisboa,
pois reside numa viagem a minha amada
que vive despreocupada.
Viajei de pequeno para a conhecer em adulto
e vou ao seu encontro feliz.

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Estendo no tempo, entendo na espera, desespero na minúcia,


os rodeios do corpo,
a substância que nos escapa,
a política do bem estar televisivo.
Mulheres arfando nos autocarros,
entregando-se ao desejo de um desconhecido,
o sujeito feito objecto.
As palavras que sobram do desgastes circunstancial,
de desejos imaginados, insuspeitos,
deslocados, as palavras que finalmente redimem.
As observações, as conclusões, a falta.
O que se vê na velhice de cadeirão, contando histórias aventurosas.
Eis o que vejo.

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Mesmo que me canse a solidão,


alimentarei o sopro da vida em cada momento,
esperando sempre alguém vindo de longe,
que banhe a memória fragmentada,
para que possa partir em aventura.

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Todas as palavras,
o desejo de ver um filho,
quando filhos são meus poemas.
São surrealistas, são pedaços.
Dizer o que penso, dizer o mais importante,
o que a mente trabalhou na minha ausência.
Tudo o que possa fazer não me ultrapassará,
estará comigo e com os outros, mas em mim.
As setas serão apontadas a outros.
Digo poemas no sofá,
a vida corre algures em mim,
por onde se vislumbra um poema.

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O corpo sujo, as meias no chão sujas,


onde defeca o arrumador de carros,
perto da catedral do consumismo.
Ali dentro está uma enorme variedade de gente,
espero que a linha de força do meu corpo se cumpra na horizontal.
Esperam os outros também
e não podemos cair numa sarjeta por querer ver o rosto de Deus,
não é justo!

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Dou um grito na dimensão visível,


faço um apelo à coragem de ouvir a voragem do mundo.
Quando a terei, quando a possuirei?
Existência esta feita de camadas sucessivas
de substância cerebral,
que o divino deveria ter como obrigação cuidar,
e assim dizem as leis dos homens.

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É nesse fio de inspiração que me sinto bem,


volante nas mãos,
sentir deslocar-se o corpo para outras paragens.
O sol bate convidativo a sair de casa.
Apetece-me ir para junto do Tejo,
ver água imensa,
lembrar os antigos navegadores.
Sede de mar e desconhecido,
saber que tudo o que faço é para alguma coisa.

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O despropositado intento traz a sebe daninha,


o vento diz que a mão se abra
para levar semente ao porto donde se erguerão as naus
e embarcarão esperança de descoberta.
Nascerá uma família de navegadores.
O mar será como terra.
os filhos louvarão suas mães ao longe, nos exóticos falares,
e mergulharão no sangue novo do indígena.

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Esvai-se nos carris da memória,


nos dias imóveis esta força,
que me percorre e persiste,
novo alento.
Âncora que me leva ao fundo da mente,
visitar coisa inusitadas,
fazendo inveja aos habitantes da superfície.
Rasgo os dias sem sinal de presenças,
contenho a esperança de aplacar por líquidos naturais
o ódio a raiva, o esconjuro.
Respeito o corpo por entre divisórias e acessos.
Eis o que tenho.

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Passa o tempo e as poesias,


as enxaquecas de mudança de casa,
neuro destilações experimentais,
que me cravam eternidade. Vítima da escrita, da geografia,
uma anatomia estranha de movimentos desenho no espaço.
Existindo, a divindade os compreenderá,
numa manhã luminosa onde pássaros esguiam a voz
me levará.

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Movimento entre folhas num bosque.


O medo e a força, as vozes, o homem,
elementos integrados esperam,
a toda a hora, desde sempre,
a divindade que lhes dê alento aos passos,
nos seus trabalhos.

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Faço uma incisão na minha pele de afecto,


no espectro das aflitivas aplicações físicas da energia,
liga-se o volume mínimo aos braços abertos
e o espaço em redor é habitado pela alma,
e o desejo aprisiona-se pelo corpo.
Qual determinação ou suposição,
ergue-se o corpo, mostrando pelo espaço suas voluntariedades,
um itinerário com razões precisas.
Ergue-se ainda mais e deambula dormente,
não prevendo o espírito que outros lhe conhecem os passos
e que se libertará.

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Encosto-me à parede branca no Alentejo,


rendido à luz intensa,
augurando a nitidez na paisagem de perder de vista,
a que entrego meus olhos,
para que o meu corpo se confunda com a paisagem.

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Oxalá fosse só performance


e o espírito não tivesse de conhecer certos degraus.
pesa a cabeça, uma de muitas verificações clínicas.
A luz está longe,
que se danem as ondas da televisão,
vou partir para as ondas verdadeiras.

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Quando amanhecer,
estarei numa floresta verde,
escutando melodias de pássaros,
como o rouxinol, o canário, o pintassilgo,
que conheço desde pequeno,
das aventuras na minha aldeia.
Estarei no centro donde tudo partiu em aventura,
serei levado a procurar respostas,
pelo cilício de grossas folhas,
ai me acomodarei junto à mãe natureza,
permitindo junto a um regato que a água percorra meu corpo,
e desemboque no chão,
inundando o labiríntico espectro das espécies da terra.

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Sempre todos os dias


olho para o meu rosto
não apenas nas manhãs
em que estou bem disposto.
Lavo o rosto com água e sabão,
olho para o meu rosto
sempre que não vejo outro rosto.
Olho também para o meu rosto
sempre que não sinto
ser o meu rosto
para que o rosto que não conheço
e que lavo com água e sabão
todos os dias
seja o meu rosto. Estar e ficar na calmaria, entre árvores
Ouvir pela manhã os pássaros
Sabendo que lá longe há outros mundos
Visitá-los é só uma questão de tempo
Uma questão de tempo

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Não há uma paz completa senão por instantes


A vida ainda não se cumpriu
Acredito nos girassóis
Na terra dos girassóis
Desconfio que faço parte

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Ela não chegou nem me visitou contudo


Andará por aí procurando, desejando encontrar
Uma alma que como eu navega em águas calmas
Naufragada e com mantimentos
Ela virá? Não, encontrá-la-ei primeiro
Salvarei a sua alma de caminhos ínvios
Resgatá-la-ei para a amar
Pegar-lha-ei ao colo e a levarei para a morada do amor
Cobri-la-ei de beijos
Pois que minha alma não descansa até a encontrar
Sabendo que sofro por a ter longe
Correrei talvez meio mundo para a encontrar
Mas achá-la-ei um destes dias
Reconhecê-la-ei quando a vir
Por entre muita gente ou sentada num café
Ou lendo numa biblioteca
Ou numa discoteca
Encontrá-la-ei e ficarei sabendo
Como o tempo perdido
Terá feito sentido.

Será que por não ouvir pessoas falarem


estou só?
Olho o passado e parece-me um novelo
onde perdi a vida.
Não sei como sobrevivi à voragem do mundo.
No entanto regresso sempre à intimidade das palavras.
Não espero escrever um grande livro
um grande poema.
Não sei o que procurar uma vez na vida
e talvez façam assim as coisas sentido.
Não há lugares certos para encontrar uma pessoa,
andarei decerto de pouso e pouso,
sempre com pouco dinheiro,
trabalharei na província
duvidarei do significado que atribuírem às minhas palavras.
Serei agente de alguma coisa uma vez na vida,
Lisboa está longe demais, só me lembro da solidão,
lembro-me das caras comprazidas no 18
de fumar um cigarro ao frio, a meio da noite,
enquanto esperava por mim próprio dentro de casa.

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Tenho como tudo errado o que fiz, conquanto o fiz todavia,


envelheci neste país e confesso ainda coisas que pensei,
no entanto sinto-me atento às coisas da televisão,
pretensamente como se tudo me dissesse respeito.
Tudo o que procurei não encontrei,
no entanto conto com o resto dos meus anos
para tentar consertar alguma coisa,
andarei errando ou enlevado em bons pensamentos?
Talvez a ausência dos outros prove alguma coisa.
Não acredito que tudo é possível
porque aí teria uma intenção malévola.
Acredito como possível o que fizer a partir de agora,
prometendo isto a mim mesmo,
prometendo mudar.
Caroline iria morar para minha casa,
abandonei-a à rua e tenho remorsos.

Desconheço o bulício das cidades que nos dá vida e fervor


Acredito que nas cidades se vivem extremos,
evita-se pensar em nós
quando uma solidão irreparável percorre nossa alma,
na aldeia tudo é previsível, a não ser que haja surpresas
e os emigrantes regressem no verão,
na aldeia, na cidade, percorro indiferente o meu corpo
por entre corpos desconhecidos, nada tenho a perder.
A calma excessiva pode ser sinal de que estamos mal,
sem bem materiais e iguarias do mar à mesa,
no entanto há um “nada importa” que nos habita
quando saímos da casa em que nos instalámos,
qual acampamento. Encontro aqui a humanidade dos índios,
o calor de África, mesmo sabendo que é ilusão
e que conhecendo os homens,
nada fará por mim o que não farei.
Abandonou-me o sentimento poético,
soletro palavras com que existo.
Não perdi ninguém por quem possa chorar,
alguém que tenha efectivamente morrido,
mas cometi uma ignomínia de que falava Pessoa,
ao julgar mal as mulheres, noutro país estaria já preso,
mas nem isso me conforta nem alegra, nem desculpa.
Interpretei mal o mundo, não fui eticamente irrepreensível
nem sou contudo um coitadinho que se conforta
com palmadinhas nas costas,
ofendi as mulheres com o meu desejo,
no entanto mais do que nunca as desejo.
Este ardor violento dentro no peito,
esta estranheza de estar aqui a mais
sem contudo ousar pôr-me em causa,
esta pressa de viver, aqui se encontra com a calma,
olho e vejo-me nos outros,
compro mais um maço de cigarros
e insisto em gravar tudo o que me acontece
como se tivesse de guardar uma memória

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para contar a alguém que se comova.


A força da minha mente é como trigo numa seara
onde o vento comanda em várias direcções.
Procurei um intento mais másculo
sem fazer musculação,
residia a minha esperança nos movimentos sociais,
na força e dignidade do povo trabalhador,
julguei que por o mundo estar em guerra deveria lutar
mas nem julgo que deva baixar as armas,
mas regressei a uma calma onde me conheço
depois de tanta tormenta me encontrei
sozinho e nu,
precisando de trabalhar para sobreviver,
voltei a um lugar calmo e sem ondas,
não acuso ninguém ainda,
revolto-me para transformar o mundo,
não me conformo como as coisas tal qual elas são,
reconheço contudo que há um limite nas nossas forças,
e que lutar contra moinhos de vento não é minha sina,
ou talvez seja, esse é que é o problema.
Estou numa terra onde não reconhecem os poetas,
estou numa terra onde não me compreendem,
não há infra estruturas e eu não canto a beleza
das mulheres dos pássaros e das flores.
Não canto a beleza, mas a estranheza,
a dor de peito que se espalha pelo interior do corpo
como um cancro, devido ao silêncio premeditado dos vizinhos,
o que gera ainda mais tensão interior.
Não vejo as cerimónias públicas de reconhecimento,
nem nunca verei, pois que não soube esperar,
não soube manipular as pessoas,
contei demasiado com elas pensando que
alguma coisa de único se poderia fazer.
Não canto a beleza das mulheres
porque ando nas obras
e minhas mãos estão ásperas,
nada próprias para percorrer o corpo de uma mulher.
No entanto habita em mim o desejo
e compreendo-me quando não tenho dinheiro nem trabalho,
nem força nem cabeça para trabalhar.
Cantarei a beleza das mulheres quando construir um castelo
para receber a minha amada.
Cantarei sua beleza.

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Quero sentir a presença


de mim em ti,
quero recuperar os dias de juventude
quando desejava amar,
quando pressentia a felicidade
por entre tijolos e massa
Quero mas não posso,
que maior angústia e em nome de que Deus
se pode querer e não poder?
O que estou vivendo pode não ser nada
comparado com o que se vive em Angola
ou em Nova Iorque, no entanto
sinto que estamos ligados
e que cada gesto meu é sentido algures
e os meus gestos não são originais
e penso que estou só
por isso fumo
o sofrimento dá boas vendas,
dá dinheiro.

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Será que a palavra poderá modificar o mundo.


Será que o esquecimento não é uma forma
de preparar a revolução consciente, intencional?
Entrego-me na noite aos desejos e sonho
com uma vida normal,
acordo contudo com os sonhos que não quero,
sabendo que o passado não se repete
pois o desejo não se repete indefinidamente.
Daqui a uns anos meu mundo irá soçobrar
e dele não se fará memória
senão através da palavras que ora me libertam.
Revolto-me contra moinhos de vento,
revolto-me contra a ausência da palavra,
sabendo que há uivos na noite,
o ar comprime-se no meu peito,
sinto uma impotência de transformar o mundo,
quem me manda pegar na espingarda
desperdiçar munições e falhar, falhar.

Saí da aula antes do fim,


ganhei a amizade de um amigo,
entrei na estação,
antes de entrar no comboio
decidi teimosamente fumar um cigarro,
ela veio surpresamente e pediu-me lume,
esforcei-me por sorrir,
deitei fora o cigarro e entrei no comboio,
ela veio sentar-se num banco ao lado do meu,
à minha frente esteve um jovem,
ela telefonou a amigos,
deveria ser professora ou médica,
pois falava em ensino espacial e portaria para esquizofrenia,
senti-me atraído mas não queria meter conversa à pressa,
chegámos rápido à Pelariga,
dali a duas estações sairia eu,
podia ter continuado se tivesse metido conversa,
sentia que podia estar com ela,
ela era o meu tipo.
Seria ela algo por que devia ter amado?
Espero vir a encontrá-la de novo,
para a semana que vem à mesma hora,
na pele de uma outra pessoa.

As imagens que aparecem ao meu espírito


são falsas, não têm moral.
Procuro reagir mas há uma sensação estranha,
de repugnância, coisas que não me saem da cabeça,
levo horas a ficar bem disposto e decidido,
procuro uma mulher que me satisfaça,
procuro um amor e tranquilidade, no entanto
perco nos desejos dos outros.
Talvez o que procure
não seja mais do que um objecto do amor
quando não estou atento ao que me dizem,

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ando pelas ruas procurando, pelos cafés e locais públicos,


enquanto a maior parte das pessoas está trabalhando,
estou num outro ritmo, estilo de vida,
perdido nos meus pensamentos,
errando entre mínimas decisões,
um comportamento a que me habituei,
leio coisas de paranóide e identifico-me,
no entanto muito há para construir
a vida não se resume a um mero diagnóstico.
Procuro respirar sob o peso da consciência.

Um dia quis ir a Nova Iorque


quando pensei que o sofrimento mental fosse fértil,
no entanto enganei-me
e fiz da transgressão uma regra,
sozinho no fim do mundo ainda sonho,
no entanto tenho a vida sinada,
usei o meu corpo e a minha alma
para provar a beleza a que aspiro,
a natural respiração das águas,
a limpidez do visco em volta do meu corpo
de recém-nascido.
Um dia quis ir longe mas fiquei
esperando pelos outros, esperando…
Os dias servem para aprender,
e eu aprendi que poderia ter ficado calado
todo este tempo
e que as palavras não me salvaram,
não sei se nunca deixei de acreditar em Deus,
mas acho que acredito na palavra e no silêncio.
Um dia quis ir a Nova Iorque e fiquei-me por Leiria.
Um dia quis estudar filosofia
e parei em Lisboa, porque queria densidade psicológica,
queimei-me e as moças não gostam
do meu cheiro a tabaco.
A minha mente pouco católica,
viajou pela mente dos outros,
no entanto sinto que não fui longe.
Fico sonhando por outras paragens,
sei que a minha alma irá soltar-se do meu corpo
como um grito,
essa será a última transgressão.

Vivo num espaço mínimo, permitido,


talvez haja longe alguém que me entenda,
talvez deva comunicar com essas pessoas,
espero ainda que o meu espírito me leve longe,
ou me aprisione dizendo-me a verdade,
a verdade das coisas, a todo o momento,
espero-te como dantes,
vendo-te surgir da escuridão para a claridade,
não sabendo se caminhas para mim,
pois não sei ao certo de que é feita a minha vida,
se da luminosidade da tua existência,

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se da escuridão de mim sozinho.


Confesso como todos os poetas a perda,
o abandono, a frustração, a impotência,
a desgraça.
Talvez devesse ter falado contigo antes.
Talvez tivesse passado mais sacrifícios.
Tudo, talvez tivesse tido que passar para te encontrar.
No entanto não sei se moras no meu país,
perdi o jeito para línguas,
mas quero ainda assim que saibas que existo por ti.
Um ânimo alimenta os meus dias,
é a esperança de te encontrar.
Podes ser uma mulher, posso encontrar-te amanhã,
posso andar a vida inteira sem te encontrar
e ver o teu rosto na hora da morte.
Podes ser Deus, que ainda persiste
em me fazer bem depois de O ter sacudido do espírito.
Podes ser algo de meramente banal,
podes ter qualidades que não desconfio sequer.
Mas não descanso enquanto não te encontrar.
Nem que sejas uma criança olhando para mim,
a vida em toda a sua extensão.

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Estou cansado de não amar,


oscilo entre a depressão e a euforia
e isto cansa-me.
No entanto sei no fim de tudo
que os dados da minha consciência
não servem ao mundo de nada.
Ou talvez sejam um ponto de partida
para conhecer os outros, quem sabe?
Sem dinheiro para trabalhar, cansado,
passo o verão isolado do mundo,
vítima de uma situação que dura há anos.
E que só agora começo a resolver.
Descansarei no sonho onde o teu rosto aparecerá
e eu o reconhecerei na sua,
se for caso de amor à primeira vista.
Ou precisaria de estar inserido
num quadro social qualquer
onde conhecesse alguém.
Ler filosofia só aumenta a frustração,
quem reconhece o valor das coisas pensadas.
Talvez dê demasiada importância ao que penso.
E deixo de sentir, a pouco e pouco,
para me transformar numa pedra enorme,
onde os namorados se abrigam beijando-se.
Se um fim de semana me põe assim,
fará o mês seguinte.
Tenho contudo sede de amor,
encontrar-te-ei nem que sejas prisioneira,
nem que estejas num recanto longínquo do mundo,
nos antípodas. Nosso amor será celebrado então,
poderemos ter o nosso espaço e nossa vida social.
Não desisti de ti,
esperei e lutei por ti
num lugar chamado Portugal,
esperei que me visitasses porque a ânsia de te procurar,
a esperança de te encontrar fez-me sair de casa
interminavelmente todos os dias,
metendo-me contigo tu não deste importância,
às tantas já te conheço e só esperas por um sinal meu,
um sorriso, um beijo, um abandono.
Por ti estou cativo neste lugar,
imaginando um mundo onde tenhamos direito
a uma vida em comum.
Por ti envelheço, longe de ti.
Contudo sei que te poderei encontrar
quando menos espero,
mesmo que sinta que não pertenço a este lugar,
não terás de saber responder a todas as minhas questões,
o amor tornará tudo simples,
viveremos num mundo de conflitos
confiantes em nós,
acreditando nas emoções partilhadas,
mesmo que tenha envelhecido
por te encontrar.

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O amor escapou-me
E vivo amargurado
Mas não posso deixar cair uma lágrima
Pois que o mundo não compreende,
Por isso fico em jejum que não é religioso
Revolto-me contra Deus
Mas não lhe dou um soco,
Quero esquecer-me que existo
Para me completar nos outros,
Esquecendo o culto do Eu.
Não tenho trabalho,
No entanto sei que o trabalho dignifica o homem,
e talvez haja mulher e filhos depois disso.
No entanto sei que isto tudo não é o mais importante.
Nunca me disseram que sou bonito,
Nunca me disseram que sou feio,
Disseram-me um dia que era giro,
E eu sei que era só para me confortar.
No entanto, não quero comover ninguém,
Talvez seduzir alguém
Porque sempre se diz
Que o dinheiro não dá felicidade.
Talvez queira só conversar sobre a vida,
Talvez vá mesmo trabalhar,
Talvez faça alguma coisa de especial
Uma vez na vida,
Que o resto é só espera sem fim,
Da morte que um dia acolhe toda a gente.
Contudo não é o fim,
Apenas o princípio.
Como eu sabendo isso não respeito o Outro,
Não posso confessar-me,
Não posso contar ao psicanalista,
Irá o segredo morrer comigo?
Quando quanto mais conto mais invento,
Mais se descobre a vida em novas qualidades.
De Vermoil a Nova Iorque vai uma grande distância,
Contudo parece-me que já lá estive,
Sei que há pessoas em meu redor que já lá estiveram,
Resta-me salvar o mundo pela palavra,
Recomeçar, recomeçar.

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Se não tivesse dado atenção a certas coisas,


se tivesse falado mais com a emoção,
se tivesse falado mais com as pessoas,
se não tivesse dado atenção ao corpo,
se não tivesse dado tanta atenção ao eu,
se tivesse esquecido o contacto com as coisas supérfluas,
se tivesse permanecido calculista,
se tivesse lido os meus livros,
se não tivesse dado mais atenção à cultura letrada,
se tivesse sido mais prático,
se não tivesse insistido tanto nos autores,
se não tivesse acreditado tanto nas ideias,
se não tivesse tanto acreditado nas imagens,
se tivesse desconfiado do sexo,
se tivesse mais confiado no amor,
se,
se,
hoje seria um homem diferente,
mas sou ainda quem aqui estou.
Se tivesse dado mais atenção à verborreia dos escritores,
se não tivesse dado atenção às minhas ideias
que floresciam da leitura e da decepção perante os outros,
se tivesse permanecido fiel a certos princípios,
se,
se,
hoje seria um homem diferente,
talvez tivesse menos conflitos,
e tivesse casado e com filhos e com um emprego seguro,
se,
se…

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A noite cai, porém uma alegria intermitente se manifesta,


a mente espreguiça-se e atrai ideias, pensamentos distorcidos,
como que me fizessem ser cada vez mais humano.

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Um novo homem está a nascer dentro de mim,


talvez seja tanso e não compreenda as mulheres,
mas no meu esforço por criar há um choro,
um rosto de alguém no labirinto,
um duende, uma fada, uma feiticeira,
tudo o que eu não sou diante dela ela é,
um novo homem vem de dentro para fora,
e grito, corro, pulo, salto de alegria,
aproveito o dia e descubro momentos de felicidade
na minha ligação à memória dos lugares,
nos extremos da sexualidade nos tocamos,
e é entre esses extremos que sobrevivemos,
com mais ou menos economias,
mais vivemos um compromisso que não é passageiro,
e no fim disto ainda espero pelos teus olhos,
de encontro ao meu corpo, quando ao fim dos anos,
ainda espero que o descubras antes de mim,
e me apanhes desprevenido e inocente,
fulgurante de sonhos por te rever.
Não desisto, não me rendo simplesmente,
e encontro meu coração vezes sem conta inocente.

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Sou um romântico,
a partir de agora o meu objectivo de vida
será encontrar uma mulher solteira
ou permanecer errante?
Contemplar o seu corpo ao amanhecer,
fazer amor com a mesma mulher durante um certo tempo,
provavelmente um compromisso civil, religioso,
ou uma vida errante,
a dada altura tenho de optar,
mas quero optar por namorar,
e se a sociedade permitir criar filhos,
pois que não acredito que a ciência os faça por mim.
A ciência é como uma banda desenhada,
serve para ilustrar, mas não pode comandar a razão.
provavelmente o que procuro não o devia dizer,
mas mesmo assim digo que procuro e procuro,
talvez seja coisa simples que se resolva pela palavra,
talvez seja coisa complicada que se resolva pela palavra.

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Sou uma árvore que queima e chora,


sou um palhaço que faz rir.
Nunca me tinham dito que tinha uma aura,
foi preciso ser alguém das Filipinas,
e dizer-me que tinha uma aura.
Senti-me no centro de qualquer coisa,
nem ser preciso ser importante no mundo dos homens,
ou ter um cargo político ou académico.
Fui humilhado de todas as maneiras,
contudo a minha consciência salva-me,
morro para o mundo para viver o mundo,
para a natureza das coisas e dos homens.
Esse alguém também me disse que parecia “indian”,
não sei se das Américas se da Ásia,
não esclareci, não importa,
o que senti foi um apelo, um chamamento,
fazer alguma coisa por mim e assim pelos outros.
Mais tarde ou mais cedo viverei o presente,
talvez até deixe as dependências, é o mais natural,
agora que comecei a viver verdadeiramente.

Sou um ser que deseja interiormente,


que fica mudo ante o espectáculo do mundo,
no entanto há uma paz inerte no ar,
como se me alimentasse o corpo com ideias,
avanço na idade e o passado é uma sombra,
gostaria de poder falar mais dos outros,
assim tivesse possibilidades,
sinto-me só, sem Deus, injustiçado por Ele,
que mudo não vejo sinais dele no mundo,
talvez seja como São Tomás
e ao mesmo tempo não saiba ler o mundo,
no entanto o que vejo não corresponde à realidade,
no entanto preciso desta realidade para acreditar
num caminho, onde a fé tenha lugar,
onde o prazer não seja mero divertimento oco,
onde tudo faça sentido por momentos.

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Sem uma mulher não é choro


nem desilusão,
não há falsas esperanças,
não há dúvidas.
Com uma mulher há tudo,
o amor aplaca todas as iras,
antes conhecer e sofrer,
do que não ter conhecido
o amor.
Senza una dona.

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With these eyes I see the world,


my world, inside my mind,
With this mind I see things
going unlikely,
With these mind I live in my body,
With this poor heart I suffer and regenerate,
In the name of all the person I have talked,
Some give me a slap in the face,
Even that I’m not Jesus.
With this faith I understand.
With this love I belong to something.

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Assunto:
Autor: XP
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Data de criação: 14-01-2005 14:21:00
Número da alteração: 60
Guardado pela última vez em: 04-03-2013 08:49:00
Guardado pela última vez por: Vitor Mota
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