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Seção I: A Fonte do Ministério

(2 Timóteo 1.1-5)

Vamos tomar um gancho no comentário introdutório de Max Lucado sobre Filipenses e


fazer uma viagem na História até a Roma. A excitante metrópole dos gladiadores, das
bigas e do império. Mas não pare no coliseu nem no palácio. Vá direto a uma sala
pequena e pouco atraente, rodeada por altas paredes. Vamos espreitá-la e
observar. Lá dentro vemos um homem sentado no chão. Ele é um senhor idoso, calvo e
com os ombros encurvados. Ele tem correntes nas mãos e nos pés. E acorrentado a ele
está um guarda do exército romano. Esse homem é o apóstolo Paulo! Ele que viajou
pelo mundo anunciando a fé em Jesus Cristo. O apóstolo que libertou as pessoas em
todos os portos. O apóstolo que era exclusivamente dominado pela vontade de Deus,
agora acorrentado – preso em uma cela suja – preso a um oficial romano...
Aqui está um homem cheio de razões, motivos para estar deprimido, para murmurar
e blasfemar contra Deus, contra a igreja e contra toda a sociedade, bem como desistir de
sua própria fé cristã: confinado por paredes, afligido pelos amigos (1.15); abandonado,
perseguido e ameaçado pelo perigo (1.21) e com um futuro de morte certa.
Ele está escrevendo uma carta. Sem dúvida uma carta de reclamações a Deus, uma
enorme e infindável lista de queixas. Ele tem tantos motivos para estar amargurado com
Deus, com a igreja e com a sociedade. Todos os motivos que um ser humano qualquer
poderia para sentir-se assim. O apóstolo Paulo tem todos os motivos para isso e não
ousamos julgá-lo por isso, afinal, agiríamos da mesma maneira esperada.
Porém, nos surpreendemos ao ler a carta! Ele não está murmurando, blasfemando,
nem mesmo reclamando de Deus! Não está listando suas queixas! Qualquer ser humano
normal se queixaria e maldiria e amaldiçoaria a todos! Mas o apóstolo Paulo não o faz.
A data estimada para a redação de 2Timóteo deve ser entre 65 e 68 d.C., isso
considerando que Paulo foi morto no governo de Nero e este morreu em 8 de junho de
68 d.C.
Como as últimas palavras que alguém profere são, em geral, as coisas mais urgentes e
importantes que se pronuncia, assim é a segunda carta a Timóteo. Muito embora não
sejam as últimas palavras do apóstolo, é seu último escrito conhecido.
Depois de plantar igrejas nas províncias da Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia Menor,
Paulo foi preso em Jerusalém, transferido para Cesareia e, daí, enviado a Roma, onde
ficou encarcerado por dois anos numa espécie de prisão domiciliar (At 28.30).
Dessa primeira prisão, escreveu suas cartas aos Efésios, Filipenses, Colossenses e a
Filemom. Como cidadão romano e prisioneiro de César, tinha certas regalias nessa
primeira prisão. Estava numa casa alugada e podia receber pessoas e a elas ministrar (At
28.16-29). No entanto, na segunda prisão, Paulo foi lançado numa masmorra
escura, úmida, fria e insalubre, da qual as pessoas saíam leprosas ou para o
martírio (4.13). O que estava por trás de sua primeira prisão era a intermitente oposição
dos judeus, mas o que motivou sua segunda prisão foi o próprio Estado, com todo o seu
aparelhamento para matar. É matéria de consenso que Paulo foi jogado numa masmorra
conhecida como prisão Marmetina. Desde sua primeira prisão em Roma, Paulo já era
considerado um homem idoso (Fm 9). Agora, mesmo com os seus muitos anos de vida,
Paulo é algemado e lançado nessa prisão imunda, como se fosse um malfeitor (2.9). Ele
tinha plena consciência de que seu trabalho estava encerrado (4.7) e de que seu martírio
seria inevitável (4.6). Mesmo abandonado à própria sorte nessa masmorra (1.15; 4.10;
4.16), sofrendo o frio implacável do inverno que se aproximava (4.21), Paulo não está
preocupado consigo mesmo, mas com o evangelho. Seu propósito nessa última carta é
conscientizar Timóteo quanto à sua responsabilidade de assumir a liderança da igreja,
guardar o evangelho (1.14), sofrer pelo evangelho (2.3,8,9), perseverar no evangelho
(3.13,14) e pregar o evangelho (4.1,2).4 Paulo estava passando o bastão para as mãos de
Timóteo, e este deveria transmitir com fidelidade o evangelho a homens fiéis, que
pudessem passar adiante o mesmo acervo bendito (2.2). Por mais de trinta anos, Paulo
pregou fielmente o evangelho, plantou igrejas, defendeu a fé e consolidou a obra. Num
breve resumo de seu passado, ele declarou: Combati o bom combate, completei a
carreira, guardei a fé (4.7). Agora, o idoso apóstolo está novamente preso e sofrendo
dolorosa solidão. Os irmãos da Ásia o abandonaram (1.15). Fígelo e Hermógenes não
queriam mais nenhuma ligação com ele (1.15). Demas já o havia deixado à própria sorte
(4.10). Diante da atroz perseguição romana, os crentes tinham medo de se associarem a
ele. Na sua primeira defesa, ninguém foi a seu favor (4.16). Paulo permaneceu
desamparado numa masmorra escura, úmida e insalubre, de localização desconhecida
(1.17). É nesse contexto de angústia e dor, de sombras espessas e tempestades
borrascosas, que Paulo escreve sua última carta. Sua preocupação não é prioritariamente
com a própria vida. Seu foco não é sua libertação. Sua atenção se volta para o
evangelho. Seu grande apelo a Timóteo, nesse tempo de perseguição política e sedução
dos falsos mestres, é: Ó Timóteo, guarda o que te foi confiado (1Tm 6.20) e guarda o
bom depósito (1.14).

Muito embora sua experiência fosse marcada pela dor e sofrimento, pelo abandono, pelo
desprezo, pela humilhação e pela rejeição, o apostólo Paulo, ao invés de murmurar,
blasfemar, insultar a Deus, seus antigos e companheiros e à própria igreja, ele agradece,
ora e louva a Deus por tudo que lhe acontecera, pois compreendia que:

I. Deus é a Fonte do Chamado. (vs 1)


Segundo Erwin Lutzer são três as características do chamado: 1- Convicção interior; 2 –
Confirmação pela Palavra; 3 – Confirmação pelo corpo de Cristo.
a) Era Ministro de Cristo (vs 1a)
Ele não pertencia a si mesmo, mas a Cristo. Antes de ser apóstolo era ele servo de
Cristo. Não pertencia ao mundo, nem era apóstolo simplesmente da Igreja, mas apóstolo
de Cristo. Era ele ministro de Cristo e O representava. Ele ministrava da parte de Cristo.
Não era prisioneiro do imperador, mas era prisioneiro de Cristo (vs 8). Sua fonte de
autoridade apostólica era Cristo. Quando surgirem as oposições, pessoas apunhalando
pelas costas, traição, não murmure, revide ou blasfeme, ao invés disso clame a Deus,
louve-O. (3.12).
b) Era Chamado pela Vontade de Deus (vs1b)
O ministro não é aquele que quer, mas aquele a quem Deus chama. O chamado não
depende de desejo particular, de habilidades ou mesmo carisma humano, mas da
vontade e vocação de Deus. Ele não era apóstolo pela vontade e desejo seus, muito
menos das pessoas, mas de Deus. Já ouviu daquele homem que assevera ter chamado
para pregar, mas que não havia encontrado ninguém com chamado para ouvi-lo? A
convicção de chamado e de que estamos no lugar que Deus quer que estejamos não só
nos mantém firmes no ministério, mas também nos fornece o comportamento adequado.
Ele não estava para satisfazer as vontades das pessoas, da congregação, muito menos
suas próprias vontades, mas a vontade de Deus, mesmo que isso significasse contrariar
sua própria vontade ou a vontade de quem quer que fosse. Era guiado não por sua
vontade, nem pela vontade das pessoas, mas de Deus. E sentia-se satisfeito com isso.
Tenha satisfação em cumprir a vontade de Deus no seu ministério, mesmo que isso
implique em insatisfação e desgosto às pessoas e perseguição a você. “Quando somos
sensíveis em demasia à opinião dos outros, também viveremos acorrentados pela
culpa – aquele sentimento desagradável de que poderíamos ter feito melhor”. (Erwin
Lutzer, pg 21, De pastor para pastor).
c) Era Chamado Segundo a Promessa de Deus (vs 1c)
É de acordo com a promessa de vida em Cristo, não da promessa de lucro fácil, da
ganância ou mesmo de mera satisfação ou realização pessoal. É uma promessa de vida
com implicações presente e futura. Além disso, é tanto pessoal quanto generalizada, ou
seja, não é uma promessa apenas para o apóstolo, mas também, uma promessa a todas
as pessoas às quais devia ele levar tal mensagem.

Ao invés de murmurar, reclamar ou mesmo blasfemar, devemos continuar cumprindo a


vontade de Deus em nosso ministério, pois dele somos, por ele fomos chamados.

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