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I.

Elementos conceituais das políticas agrícolas


1.1 Racionalidade, objetivos e instrumentos das políticas agrícolas

1.1.1 Por que é necessária uma política agrícola?

O sector agrícola tem características ambivalentes. A importância estratégica da


agricultura para a estabilidade econômica, política e social, assim como para o
desenvolvimento econômico, justifica porque os governos tentam alcançar
determinados objectivos por meio de instrumentos de política agrícola. Mas,
apesar de tal importância, as decisões de produção, comercialização e consumo
são em grande parte, tomadas na esfera privada da vida econômica.

Timmer (1987) refere que as políticas governamentais e os investimentos públicos


determinam a eficiência e o dinamismo da agricultura de um país mais do que em
qualquer outro sector, ao mesmo tempo, milhões de unidades familiares tomam
as decisões quotidianas que, de facto, geram a eficiência e o dinamismo.

E por ser a principal fonte de alimentos e influir, dessa maneira, na formação dos
salários, além de proporcionar a geração de renda e ocupação para um grande
número de famílias, a actividade agropecuária assume uma dimensão pública
evidente.

O problema é que, mais do que em outros sectores, a interação das decisões


privadas nos mercados pode não assegurar um nível de produção compatível com
os objectivos de segurança alimentar e com um perfil de distribuição da renda
socialmente adequados – ou politicamente desejável. Tais resultados, devido à
posição estratégica ocupada pela agricultura, podem gerar problemas
socioeconômicos e políticos que transcendem as fronteiras do agro e atingem a
economia como um todo. Daí a necessidade do governo fomentar a produção
agropecuária, apoiar as actividades de pesquisa, realizar e facilitar investimentos
em infra-estrutura de produção e de comercialização e estabelecer um marco
legal apropriado para assegurar tanto um ambiente estimulante ao
desenvolvimento do mundo rural como a estabilidade dos preços e da renda dos
produtores rurais, em particular a dos produtores familiares.
E ainda nos dias de hoje, apesar de todo a avanço da ciência aplicada, o grosso da
actividade agropecuária continua sujeita a ciclos naturais que definem o
momento para a preparação do solo, plantio, tratos e colheita. A dependência da
natureza torna os resultados das actividades mais incertas, já que estão sujeitos a
variações climáticas de difícil controle e a um processo de produção
relativamente rígido. Essa rigidez dificulta ajustes e respostas rápidas às
flutuações da conjuntura macro e dos mercados de produtos específicos e traduz-
se em uma baixa elasticidade de oferta no curto prazo. Por si só, a dependência
da agricultura em relação a esses fatores climáticos, ecológicos e biológicos seria
suficiente para justificar a necessidade de políticas específicas para o sector.

As razões de cunho estratégico são, todavia, as mais importantes para entender o


papel do Estado no sector agrícola. A acção do mercado pode provocar uma
brecha entre, o que é socialmente desejável e aceitável e os resultados concretos
e polarizadores do livre funcionamento do mercado. É essa brecha — identificada,
geralmente, pelo dilema entre eficiência e equidade, entre potencial de
crescimento e crescimento efetivo — que cria as condições para intervenção e
justificada da mesma do Estado.

Ibarra (1990) afirma que a distribuição de renda é uma das colunas vertebrais de
toda sociedade. Quando o mercado não consegue assegurar um mínimo de
equidade distributiva, aumenta a necessidade de intervenção do Estado para
definir um conjunto de normas jurídicas que minimizem os riscos de ruptura e
para corrigir ou compensar os efeitos socialmente polarizadores do mercado.

Nos países em desenvolvimento a intervenção estatal, por meio de instrumentos


de política agrícola, pode decorrer da necessidade de reduzir a pobreza e a
miséria que caracterizam o meio rural e hoje se reproduzem autonomamente nos
centros urbanos.
Objectivos gerais da política agrícola

Em decorrência dos factores assinalados anteriormente, os governos têm um


papel muito importante na agricultura, seja criando um quadro geral favorável ao
desenvolvimento sustentável do meio rural, seja implementando políticas
agrícolas orientadas a assegurar a segurança alimentar da população, promover a
eficácia e a competitividade econômicas e o bem-estar social. Os objectivos das
políticas agrícolas diferem de um país para o outro ou nas diferentes etapas do
desenvolvimento econômico. Ainda assim é possível encontrar um vector comum
nos objetivos gerais que orientam a formulação das políticas públicas
direcionadas ao meio rural e a intervenção do Estado

A distinção entre o curto e o longo prazo reflete-se na execução das políticas


agrícolas. O curto prazo está associado a objectivos de estabilização de alguma
variável nominal (abastecimento de algum produto ou nível de preços, rendas,
por exemplo); o longo prazo diz respeito aos objectivos de desenvolvimento e às
acções de caráter estrutural.

Tabela de objectivos de políticas agrícolas


Principals instrumentos da política agrícola

A política agrícola é uma política sectorial, e toda política sectorial tem um


conteúdo implícito e outro explícito. O implícito está relacionado aos efeitos
indiretos da política em questão e o explícito refere-se tanto ao conteúdo quanto
aos objetivos e metas declarados da política. O conjunto de instrumentos que
permite alcançar os objetivos da política agrícola compõe os meios que o Estado
dispõe para incidir, directa ou indiretamente, seja no comportamento dos
agentes seja nos resultados da acção dos mesmos.

Os instrumentos actuam quando os milhões de produtores tomam suas decisões


de produção e investimento (crédito, aprovisionamento de insumos, política de
preços mínimos, tarifas etc.) assim como sobre as variáveis que afetam o
comportamento dos mercados no momento da comercialização (estabilidade de
preços, garantia de rentabilidade, etc).

Os instrumentos de política sectorial relacionam-se com as diferentes etapas da


produção e comercialização da atividade. A política de preços afecta/define os
estímulos associados à produção de um certo produto. A política de
comercialização afecta/define as condições relevantes para a formação do preço
dos produtos e, por conseguinte, da renda dos produtores, e em alguns casos
regula até mesmo as condições e termos da venda final aos consumidores. A
política de preços de insumos fomenta o uso de certos pacotes tecnológicos e a
adpoção de um certo tipo de insumo. Já a política de crédito define o grau e as
condições de financiamento da produção, logo o volume total da produção
doméstica. A política de comércio exterior, ao regular as importações e as
exportações agrícolas, afecta fortemente o nível de preços domésticos, a margem
de rentabilidade e os incentivos à produção.
Conteúdos e Instrumentos da Política Agrícola

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