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Dando continuidade aos estudos da história dos manuscritos Jonas Machado nos
conta ao ainda mais interessante, pois houve durante um tempo um certo cuidado por parte da
pesquisa e escavações do local:
As escavações, comandadas por de Vaux, nunca foram publicadas na forma que
se costuma e deveria ser feito, como relatórios detalhados tanto das estruturas fixas, como dos
artefatos. (MACHADO; FUNARI, 2012, p.34)
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Mas uma pergunta que os estudiosos da época e de hoje é: quem escreveu esses
manuscritos? Como viviam? O que faziam? Essa pergunta, vamos buscar entender a seguir.
1.2 Comunidade que escreveu os manuscritos
Há um grande divergência entre os estudiosos, no que diz respeito à autoria dos
Manuscritos do Mar Morto, Donizete Scarledai em seu livro Da religião bíblica ao judaísmo
rabínico nos mostra uma ideia de quem eram essa pessoas:
O grupo dos essênios é, normalmente, associado aos escritos encontrados nas grutas
do deserto de Judá, em 1947: Manuscritos e Qumran. Por terem sido encontrados às
margens do Mar Morto, esses documentos são também conhecidos por Manuscritos
do Mar Morto, revelando um estilo de vida social e religioso ligado a um grupo
judaico específico. O conteúdo dos Manuscritos, porém, pode antes remeter à
organização de uma pequena seita dissidente judaica, localizada em Qumran, em vez
de assegurar o estilo de vida e sociedade dos essênios como um todo. É difícil
garantir que a comunidade descrita nos manuscritos de Qumran possa ser
automaticamente identificada com os escritos dos essênios de Flávio Josefo. A
organização social, a vida religiosa e as crenças dos essênios aparecem nas
descrições desse historiador judeu da época. (SCARLEDAI,2008, p.116)
Um outro estudioso dos manuscritos do Mar Morto tem uma ideia diferenciada do
Scarledai que é o Geza Vermes, ele em seu livro Manuscritos do Mar Morto afirma que os
essênios eram sim da comunidade de Qumran:
A opinião comum identificando, ou associando, os sectários de Qumran aos essênios
está baseado em três considerações principais:
1- Não existe outro local, a não ser Qumran, que corresponda ao assentamento
descrito por Plínio entre Jericó e Engedi.
2- Cronologicamente falando, as atividades essênias descritas por Josefo como
tendo lugar no período entre Jônatas Macabeus (c.150 a.C.) e a primeira guerra dos
judeus (66-70 d.C.) coincidem perfeitamente com a ocupação sectária em Qumran.
3- As semelhanças da vida da comunidade, a organização e os costumes são
fundamentais para confirmar a identificação das duas entidades como algo
extremamente provável, na medida em que algumas das óbvias diferenças entre elas
possam ser explicadas. (VERMES, 1997, p. 76)
Há uma certa divergência sobre quem seria os habitantes dessa comunidade entre
os estudiosos antigos e os mais novos, pois enquanto os antigos afirmavam veemente que
eram os essênios os atuais desconsideram essa afirmação por não ter prova ou material que
comprovasse isso. Dos estudiosos atuais Jonas Machado nos traz uma informação precisa
sobre a identificação dessa comunidade:
Entretanto, o nome Essênios nunca apareceu em Qumran, e não foi encontrado
nenhum fragmento no sítio. Claro, isso não significa que não possam estar
associados, pois o nome “Essênios pode ser uma definição dos de fora, que não era
empregado pelos próprios adeptos do grupo, algo tão comum em outros casos.
(MACHADO; FUNARI, 2012, p. 74-75)
Qumran foram identificados por outros, mas isso não fica muito evidente, pois não há
material que comprove isso.
1.3 Evolução das pesquisas
Após a descoberta desses manuscritos houve uma gama de produções de textos
sobre a comunidade e sobre a relevância para o Antigo Testamento, mas com o passar do
tempo, muitos estudiosos do Novo Testamento tem estudado esses manuscritos e fazendo um
comparativismo com os evangelhos e os textos paulinos, durante essa gama de produções de
textos sobre os manuscritos houve um comparacionismo e um certo debate sobre os
personagens Jesus e João Batista, em seu livro Os Manuscritos do Mar Morto e o Novo
Testamento, Gervásio F. Orrú nos mostra como era essa comparação:
Em sua pregação, João Batista fez uso de Isaías 40.3. A Regra da Comunidade
também menciona essa passagem:
E quando essas coisas sucederem aos membros da comunidade em Israel, no tempo
designado, separar-se-ão da habitação dos homens perversos e irão para o deserto
preparar o caminho do Senhor, como está escrito: No deserto preparai o caminho do
Senhor, endireitai no deserto a estrada para o nosso Deus. 1QS 8.12-14
(ORRÚ,1993, p. 56)
Outras comparação que Orrú faz um paralelo entre os ditos de Jesus e os textos de
Qumran:
Ao tratar com rigor o pecado do adultério, Jesus frisou que qualquer que para uma
mulher com intenção impura, no coração já adulterou com ela (Mt 5.28). A Regra da
Comunidade exorta: “...não mais andem na teimosia de um coração pecaminoso,
nem com olhos de fornicação, cometendo toda espécie de mal. 1QS 1.6-7
(ORRÚ,1993, p. 61)
Os estudiosos atuais não se preocupam com essas ideias, pois já estão concluídas
para eles, o que muitos tem feito, são as exegeses dos manuscritos e feito paralelos com
escritos do Novo Testamento com as apocalípticas, com as experiências religiosas da
comunidade em detrimento com as experiências tanto de Paulo como de Jesus, grandes
escritos sobre os textos de Qumran tanto no campo da história, como da arqueologia, Jonas
Machado dá um ideia de como tem sido aproveitado os estudos atuais dos manuscritos:
Uma constatação sobre a situação atual da pesquisa que vale sublinhar é que o
impacto desse material ficou, até então, confinado a um pequeno círculo de
estudiosos, em geral de formação religiosa, e com interesses bem voltados para o
estudo da religião. (MACHADO; FUNARI, 2012, p. 85)
Apesar de uma pequena parte dos estudiosos atuais terem estudado e estudam os
manuscritos, universidades públicas tem dado um certo valor para pesquisa desse
manuscritos, seja no campo da história, seja no campo da arqueologia, seja no campo dos
textos em si, por isso, a evolução da pesquisa se dá ao fato de que a importância atual está nos
documentos e na história desses documentos, sem contar também que a história dessa
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comunidade e os paralelismo nos textos de Qumran, junto com o comparativismo tem tomado
a nova ordem das pesquisas.
2. Jesus histórico
Com as descobertas dos Manuscritos do Mar Morto, houveram um acaloramento
nas pesquisas de Jesus Histórico, mas esse acaloramento veio recentemente, pois até, então a
discussão era outra, sobre as diversidades do Jesus Histórico segundo seus autores tanto do
liberalismo, como da neo-ortodoxia, como também dos iniciantes qumramitas, que estudavam
a fundo a vida de Jesus nos evangelhos e fora deles.
2.1 Jesus Histórico e suas três ondas
Ao tratar das questões sobre Jesus histórico e suas três ondas devemos
primeiramente entender o que são essas três ondas, que fizeram parte dessas pesquisas do
Jesus histórico.
A primeira onda que teve como expoentes Hermann S. Reimarus (1964-1768),
Heinrich Paulus (1761-1851), Ernst Renan (1823-1892), David F. Strauss (1808-1874), onde
a grande questão aqui, está em perguntar quem foi Jesus de Nazaré de fato, usando o método
cientifico e desconfiando dos textos. David F. Strauss em seu livro, The life of Jesus Critically
Examined nos mostra um pouco do seu pensamento a respeito de Jesus Histórico:
Quanto às obras de Jesus, a visão racionalista é, que ele tenha se tornou querido para
a humanidade por este acima de tudo, que ele ensinou-lhes uma religião à qual é
para pureza e excelência é uma justa atribuído um certo poder divino e dignidade; e
que ele ilustrou e executada esta religião pelo brilhante exemplo de sua própria vida.
(STRAUSS,2009, p.767)
A segunda busca foi diferenciada, pois foi no período do nazismo e sendo assim
acabou tendo uma desvinculação do Jesus da cidade de Jerusalém, onde teve dois expoentes
como Ernst Käsemann (1953) e Günther Bornkhamm, em sua pesquisa “A terceira busca pelo
Jesus Histórico, a partir de N.T. WRIGHT Éverton Klug Mesquita, Josué Klumb Reichow
mostram um pouco do pensamento de Käsemann a respeito do Jesus Histórico:
Ernst Käsemann proferiu no ano de 1951, uma palestra denominada O problema do
Jesus histórico. Em sua crítica ao ceticismo metodológico, Käsemann despertou a
esperança por um conhecimento fidedigno sobre a biografia de Jesus. Em 1959,
James Robinson denominou esse esforço reanimado de A new Quest, o que hoje
também é chamado de a segunda busca. (MESQUITA; REICHOW, 2013, p. 179)
Em relação aos que precedera, o traço distintivo deste capítulo mais recente dos
estudos sobre Jesus Histórico é o marcado interesse pelos aspectos sociais, em
contraste com os religiosos, da vida de Jesus. Esta mudança de ênfase pode sem
dúvida ser atribuída a muitos fatores em operação nas sociedades ocidentais do fim
do século XX, fatores que levaram a uma crescente “secularização” dos estudos do
Novo Testamento. (FREYNE,2008, p.1)
Eis a nova cara do Jesus Histórico, mais voltado para o lado social e nada
religioso, Chevitarese e Pedro Funari no livro Jesus Histórico uma brevíssima introdução nos
mostra uma ideia atual de Jesus:
Para além do Seminário de Jesus, outros estudiosos e abordagens têm se destacado,
diversos deles disponíveis em nosso idioma. Uma característica comum a esta
literatura é o esforço para uma compreensão racional de Jesus. (CHEVITARESE;
FUNARI,2012, p.64)
Mas não podemos esquecer também que houve um período da não busca do Jesus
Histórico, pois houve uma decepção com as tentativas científicas de encontrar o Jesus
Histórico. Houveram alguns expoentes que fizeram história com seus escritos e livros dentre
eles estão: Albert Schweitzer, Karl Barth, Rudolf Bultmann, Paul Tillich, principalmente com
Bultmann houveram uma gama de escritos a respeito de Jesus e também sobre a mitologia e
demitologização.
2.2 O Cristo Mitológico
O Cristo Mitológico é de autoria Bultmaniana, pois foi um estudo que marcou
uma fase dos estudos do Jesus Histórico, como dizia muitos estudiosos, em seu livro Jesus
Cristo e a Mitologia Bultmann dos dá uma ideia do que é esse Cristo Mitológico:
Depois de Paulo, João desmitologizou a escatologia de um modo radical. Para
João, o que constitui o acontecimento escatológico é a vinda e a partida de Jesus.
(BULTMANN,2005, p.27)
Em outra obra Bultmann fala mais claramente o que significa esse Jesus
Mitológico:
Toda cosmovisão que tanto a pregação de Jesus quanto o Novo Testamento em geral
pressupõem é mitológica, isto é, a concepção do mundo como estruturado em três
planos: o céu, terra e inferno; o conceito da intervenção de poderes sobrenaturais no
decurso dos acontecimentos; e a concepção dos milagres, especialmente a ideia da
intervenção de poderes sobrenaturais na vida interior da alma, a ideia de que as
pessoas podem ser tentadas e corrompidas por demônio e possuídas por espíritos
maus. A essa visão qualificamos de mitológica porque difere da que tem sido
constituída e desenvolvida pela ciência, desde que está se iniciou na Grécia antiga, e
posteriormente foi aceita por todas as pessoas modernas. (BULTMANN,1999, p. 51)
Bultmann faz uma ligação entre o Jesus mitológico com a escatologia, o tornando
Jesus mitológico escatológico, pois sua pregação é do reino de Deus, sendo assim, se tornando
um conceito escatológico, em sua teologia do Novo Testamento temos uma ideia do que ele
está tratando:
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Essa é uma ideia de como Horsley trabalha em seu Jesus anti imperialista, um
Jesus voltado para o oprimido e fazendo sua pregação contra o imperialismo romano. No caso
dos Manuscritos do Mar Morto está havendo uma gama de textos e livros à respeito dos
próprios textos, nas diversas áreas como exegese, apocalipticismo, as experiências religiosas,
e o paralelismo com os personagens bíblicos. Enquanto que na época da descoberta o intuito
era entender o texto e buscar uma comparação com personagens bíblicos como Jesus e João
Batista, hoje temos textos como por exemplo de Clarisse Ferreira que nos fornece essa
evolução nos estudos dos Manuscritos do Mar Morto:
Contudo, o Rolo do Templo é mais honestamente definido como um mistério que
foge à compreensão e a apreensão do pensamento moderno, especialmente daqueles
que mais estudaram a religião que o criou- o judaísmo do Segundo Templo. Sua
classificação literária é problemática e, mesmo quando uma escolha é feita com
intuito de estabelecê-la, o Rolo é sempre descrito como um texto sui generis em
meio a seus pares, por suas características únicas. (FERREIRA,2013, p.342)
Outra forma que podemos enxergar também é o estudo que Nickelsburg faz em
seu livro Literatura Judaica entre a Bíblia e o Mixná, onde ele trata de forma histórica e
exegética dos textos de Qumran:
Finalmente os manuscritos tem lançado nova luz sobre as origens cristãs. Sua
linguagem religiosa e padrões de pensamento, seus ritos e organização da
comunidade fornecem uma janela para o tipo de judaísmo que formou a sementeira
do cristianismo mais primitivo. (NICKELSBURG,2011, p. 243)
O que podemos notar aqui é uma mudança de paradigmas nos estudos dos
Manuscritos, enquanto Geza Vermes e García Martinez se preocuparam em mostrar o texto
em si, que não é errado, pois houve uma contribuição tremenda, os estudiosos de hoje buscam
fazer um aprofundamento histórico como textual.
3.1 Textos de Qumran e os Evangelhos, quais são suas similaridades?
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Essa é uma pergunta que muitos tem feito nos estudos dos Manuscritos, o que
teria de semelhanças com os Evangelhos e as cartas paulinas? Como é um estudo sobre a
relevância das descobertas dos manuscritos do Mar Morto para o estudo do Jesus Histórico,
não tem porque citar algum paralelismo com as cartas paulinas. Durante um certo tempo
foram produzidos diversos textos onde alguns concordavam que os personagens Jesus e João
Batista teriam feito parte dessa comunidade, e outros retirando essa ideia, o assunto está
fechado, mas o paralelismo continua, Gervásio Orrú trabalhou bem essa questão do
paralelismo:
Argumenta-se que Jesus não passou em Nazaré todo o tempo de sua vida, antes de
iniciar seu ministério público. Da idade de doze anos até os trinta, Jesus teria se
submetido à vida de intensa iniciação na Comunidade de Qumran, sujeitando-se a
esse período de provas e ao ritual do batismo, antes de dar início a seu ministério
público na Galileia. (ORRÚ,1993, p.60)
qualitativo gigantesco, o que podemos esperar é que cada vez mais qumramitas e estudiosos
do Jesus Histórico possa contribuir com esses campos tão vastos quanto esses, Jonas Machado
em seu livro deixa claro o que todos esperam sobre o estudo dos Manuscritos do Mar Morto:
Acredita-se que essa ideia do Jonas Machado se coloque no campo dos estudos do
Jesus Histórico, apesar de ser um tema muito estudado nos tempos passados, essa nova ideia
do Jesus Histórico trouxe uma diversificação dos estudos, ainda mais com a descoberta dos
Manuscritos do Mar Morto.
Considerações finais
Os estudos de ambas áreas tem crescido no Brasil, e é esperado que cresça ainda
mais, pois com a revolução dos estudos do Jesus Histórico no Brasil, o número de estudos e
curiosidades sobre os manuscritos do mar morto tem tido um olhar especial, principalmente
com o aumento do paralelismo, do comparativismo e do não comparativismo os estudiosos de
ambas áreas tem estudado de maneira exaustiva sobre os dois temas. Por isso a contribuição
dos Manuscritos do Mar Morto tem sido gigantesca, pois trouxe um novo olhar para o Jesus
Histórico.
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