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Mercearias Protagonista
Pedro Quirino e os safaris
Entre, vizinho, na Costa Vicentina
o que vai Livro
ser hoje? Deana Barroqueiro
deixou-se seduzir pela
história dos paladares
Consumo
Mercearias
Nestas lojas
vende-se
de tudo, mas
a proximidade
não tem preço
Vendem pão, fruta da boa, enchidos regionais, Mercearia Colonial
“Continuamos a fazer
anota Eduardo, que ainda não conse-
guiu “deÆnir a 100%” a história da
frutos secos a granel, produtos exóticos que não assim, como sempre foi” mercearia Colonial, que por volta de
1932 começou como Meira e Sampaio
Umas têm décadas de histórias para contar, outras Hotel Maia das Caldas do Gerêz ins-
tallado no amplo edifício do extincto
do o tio faleceu, o pai, Fernando Mar-
ques, hoje com 90 anos, assumiu o
as pequenas mercearias são cada vez mais após uma grande reforma “segundo
as exigências modernas”: sala de
pais”, recorda aos 45, enquanto enro-
la duas garrafas de vinho em papel de
viagem por estas lojas da esquina onde çosos com muito ar e luz situados no
local mais central da cidade, “passan-
abaixo com os embrulhos e o sisal a
cortar os dedos”, sorri atrás do balcão
granel (três tipos de tâmaras e seis de foi chegando a Braga e que gosta de
uvas passas) e o miolo da noz (noguei- ter à mão uma boa garrafeira (a da
ras plantadas em 1973 pela família Colonial tem mais de 150 rótulos).
Marques) “também é partido cá”. Tudo sem descurar uma “proximi-
“Todos os dias entram pessoas a per- dade muito grande com as pessoas”.
guntar se são lá da quinta”, diz Eduar- “Não prescindo disso”, sublinha
do, que ganhou o dom de pesar os Eduardo Marques, que, quase sem
produtos a olho, “quase ao grama”. dar por isso, aposta num atendimen-
Os produtos nas prateleiras são to personalizado. “Há sempre uma
mais ou menos os mesmos: bolachas palavra e um conselho. Tudo junto é
de água e sal, biscoitos Requife uma conversa. É um trabalho muito
(Fábrica Duriense), chocolates Avia- engraçado, nada monótono. Há uma
nense (Imperador e guarda-chuva), relação de amizade com todos. Temos
fécula de batata, caramelos, sabone- a felicidade de termos excelente clien-
tes ConÆança, lã de aço, mandioca, tes. É a maior fortuna desta loja.” Luís
rebuçados Dr. Bayard, pasta dentí- Octávio Costa
frica Couto, marmelada a peso, pro-
dutos a granel (tremoço, grão, favas, Colonial
feijão frade, feijoca...) e miniaturas Rua dos Capelistas, 45 Braga
de garrafas numa vitrina. E mais uns Tel.: 962 104 582
“aos dez” (”não havia dinheiro”). têm-se. “Continuamos a fazer assim, chicória), há fornecedores com 60 extras que ajudam uma mercearia à E-mail: colonialbraga@gmail.
“Havia muita cevada, café e arroz. como sempre foi.” A cevada ainda anos de casa (como o das alheiras de antiga — como a Torrefacção Braca- com
Havia feira aqui em frente à terça-feira hoje cá chega em grão e é moída num Vila Real) e ainda chegam pessoas à rense e o Mercado São João — a adap- Horário em período
e nesse dia trabalhava-se que era uma dos dois moinhos (um só para café, o mercearia a pedir milho para pipocas. tar-se “à realidade”, ao turismo (um de confinamento: das 9h às 13h
coisa maluca.” Os velhos hábitos man- outro para mistura de café, cevada e Os frutos secos são todos pesados a “nicho interessante”) que também (encerrada ao domingo). c
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Consumo
FOTOS: NELSON GARRIDO
Casa Chinesa um problema especíÆco. “O cliente inverso. “Há mais produtos e mais
“Coisas esquisitas diz-nos a doença e nós damos-lhe o gente a produzir. Os preços foram
é só na nossa casa” remédio. A consulta é de graça”, brin- naturalmente descendo e o bio, que
ca Lídia, também apta a dar dicas de já existe nos supermercados, foi Æcan-
Quem tem o privilégio de descer os receitas gastronómicas. do mais acessível. Não consigo ter
lanços de escadas da Casa Chinesa “É uma casa que tem tudo aquilo tudo o que quero ter porque não
vai encontrando peças de um que os outros não têm. Coisas esqui- tenho espaço. Se dantes eu tinha que
puzzle, pistas para o passado de sitas é só na nossa casa”, diz. Especia- andar à procura, agora vêm ter comi-
uma mercearia Æna que abriu portas rias do Oriente, manteiga e azeite de go. Não consigo ter tudo o que me vão
em 1938 e que já precisou destes trufa, fumo líquido, vinagres italianos, propondo. É muito abundante.”
espaços para armazenar os produ- paté de pistácio, fava tonka, grogue, No Quintal Bioshop trabalham
tos que chegavam dos quatro cantos Çor de hibisco, produtos de Goa, do duas pessoas a tempo inteiro a uma
do mundo. Ainda ali está o velho Brasil, de Cabo Verde, de Angola... velocidade de cruzeiro. O espaço é
balcão de mármore e as prateleiras “Escolha bem, servi-lo-emos melhor”, o mesmo de sempre, mas foi-se
de madeira pintada de branco, as lê-se numa prateleira. Lídia explica o enchendo de soluções ecológicas
cestas de vime dos cabazes de Natal, segredo da longevidade. “Tratamos para o nosso dia-a-dia e “muito gra-
a mosqueira dos queijos e doces, as os clientes com carinho, dedicação e nel”, como os detergentes portu-
balanças Berkel, um par de impo- respeito.” L.O.C. gueses EcoX — o cliente traz o reci-
nentes máquinas registadoras piente que quiser e o Quintal atesta
Nacional, um moinho O Bom Café, Casa Chinesa —, as sementes, os cereais e os frutos
uma garrafeira com Real Compa- Rua Sá da Bandeira, 343, Porto secos e desidratados. Mónica seguiu
nhia Velha dos anos 1950 aos 70, Tel.: 222 006 578 este caminho “sem dúvida” por
resmas de “papel cimento” e algum E-mail: casachinesa@sapo.pt inÇuência da mãe, macrobiótica,
papel de embrulho cor-de-rosa com Facebook: https://www. vegetariana e professora de ioga nos
o desenho de uma chinesa, a sua facebook.com/casachinesa anos de 1980. “A minha mãe vinha
sombrinha e o número de telefone Horário: das 9h às 19h. ao Porto comprar tofu e seitan por-
com cinco números. que em Viana se via à rasca para
“Costumava-se dar nomes orien- encontrar ingredientes. Ela sempre
tais a casas que tinham especiarias e Quintal Bioshop foi interessada no biológico e no
coisas do género”, explica Daniel Ser bio “já não é uma coisa natural e isso inÇuenciou-me muito,
Moreira, 63 anos, gestor desde mea- estranha de freaks” muito.”
dos de 2019 e responsável pela can- No seu Quintal cresceu a parte da
didatura da Casa Chinesa ao Porto Abundância. Não há pandemia que cosmética e os produtos de higiene
de Tradição — que ainda não foi apre- não dê em mudanças de hábitos e pessoal, aquilo a que Mónica a brincar
ciada alegadamente por culpa da em 2020 o Quintal Bioshop, uma chama de “drogaria ecológica”, as
pandemia. A Casa Chinesa resistiu referência dos produtos naturais e esponjas de lufa, os sabonetes sólidos
ao tempo e ao impacto das grandes biológicos do Porto, não teve mãos para lavar a loiça à mão, os champôs
superfícies na cidade. “Fomos pio- a medir. “Foi o melhor ano da mer- sólidos de marcas portuguesas (“há
neiros num tipo de artigos que as cearia”, aÆrma Mónica Mata, que muito mais coisas portuguesas, mas
grandes superfícies só tiveram numa abriu este Quintal em 2006 no núme- ainda se importa muito no biológico”)
segunda fase: produtos naturais, ro 177 da Rua do Rosário. Por um e também os vinhos naturais (“não
dietéticos, macrobióticos, alimentos lado, “as pessoas deixaram de ir ao tenho mais porque não tenho muito
para diabéticos, celíacos, etc.”. Ain- restaurante e passaram a cozinhar espaço”), as bebidas vegetais e uma
da é cedo para dizer como é que a mais em casa”. Mais do que isso, as panóplia de ingredientes para pessoas
mercearia vai sair da pandemia. “Os pessoas “preocupam-se mais com a vegetarianas e veganas (“não tenho
turistas desapareceram e mesmo os saúde”, estão mais esclarecidas e por mais porque não tenho espaço”), isto
clientes habituais deixaram de apa- isso “estão a consumir mais produtos para além de uma pequena zona
recer. Tem-nos salvado a Ædelização biológicos”. reservada a suplementos e vitaminas
de alguns clientes.” Nestes dias de Mónica nota “uma diferença abis- (“a minha costela farmacêutica”).
conÆnamento, a Casa Chinesa “é mal”. Os clientes compram muito “Quando abri não havia nada disto.”
quase serviço público”, aponta mais e os fornecedores “dizem o mes- Se neste momento os turistas são
Daniel. “Estamos a facturar quase mo”. “Alguns fornecedores de frescos uma miragem (“e tínhamos muitos
metade de um dia normal... Mas con- dizem que duplicaram as vendas.” turistas, que agora não há”), Mónica
seguimos sobreviver e sem qualquer Catorze anos depois, o Quintal já Mata regista um “aumento do consu-
apoio estatal. Foi-se gerindo... Mas deixou de ser uma mercearia gourmet mo” também entre os “muitos estran-
as coisas não estão fáceis. Vamos ver do na bata. “Tínhamos uma carrinha e deÆnitivamente um salão de chá, geiros” a viver no Porto. E “clientela
como saímos daqui.”
Mota e Silva, Lda. “Era o senhor
2020 “foi que saía três vezes por dia repleta de
mercadoria. Era tudo escrito à mão
valências que ajudaram a cimentar o
negócio e a dinamizar um projecto
de bairro”, junta. “Gosto de estar
aqui. Nesta zona há muita gente a
Mota e o senhor Silva. Decidiram esta-
belecer-se por conta própria por altu-
o melhor ano no livro e o cliente vinha pagar no Æm
do mês. Servíamos o Hotel Dom Hen-
inserido no quarteirão das artes de
Miguel Bombarda. Mónica, vianense,
viver. É muito bom. Temos clientes
regulares, vizinhos, muita gente que
ra da Segunda Guerra Mundial.” Pro-
punham-se servir à cidade produtos
da mercearia”, rique, por exemplo. A coqueluche da
cidade do Porto era servida por nós.”
quis “trazer o bio à cidade”, com rarís-
simas referências. “E quis trazê-lo ao
trabalha no Hospital de Santo Antó-
nio, na Segurança Social, na Faculda-
exóticos, “mercearia tradicional mas
Æna”, especiarias orientais, chás e
diz Mónica Natural de Vila Real, Lídia, 63 anos,
foi para o Porto com sete anos e che-
meu bairro, contribuir para a agricul-
tura biológica”, diz a fundadora desta
de de Farmácia e no ICBAS, aqui per-
to. E há Miguel Bombarda e o Centro
cafés com muita aceitação na classe
média e alta “porque não era vulgar
Mata, dona gou à Casa Chinesa aos 16 anos (”fez
no dia 1 de Janeiro 47 anos”). “Foi
mercearia, que nasceu com “poucos
produtos” e nenhum deles a granel.
Comercial Bombarda. Há negócios
muito giros abertos. Manteve-se um
encontrar”.
“Nós servíamos o Porto inteiro”,
do Quintal complicado, não sabia nada.” Hoje,
pode percorrer as Ælas de prateleiras
“Não tem comparação.” A clientela foi
crescendo à medida dos fornecedores
ambiente muito agradável.”
A pandemia, diz, também foi tra-
recorda Lídia (ao seu dispor, assim
como Paula e Adelaide), nome borda- Bioshop de olhos fechados (”três mil produtos,
sei lá...”) e apontar o chá certo para
e dos produtos disponíveis. Os preços,
por seu lado, seguiram um caminho
zendo “miúdos novos” e uma
“mudança de consciência”. Admite
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Competidora
Mais de 60 anos
de história e os olhos
postos no futuro
Na página Parece que o tempo parou no núme-
ao lado, ro 17 da Rua dos Mercadores, em
Mónica Mata Aveiro. Tirando a máquina regista-
e o seu Quintal dora, tudo ali tem praticamente 60
Bioshop, anos de história. Os móveis, a balan-
no Porto; ça e até a placa que anuncia o nome
nesta página, do estabelecimento comercial estão
Raul Santos por ali praticamente desde o dia em
e a Vertente que a casa abriu portas ao público,
dos Sabores, no Outono de 1957. Poucos a conhe-
em Santa cerão pelo seu verdadeiro nome, A
Maria da Feira Competidora de Aveiro, mas as suas
montras e estantes marcaram várias
gerações de aveirenses.
A Loja do Sr. António, como foi
sendo comummente conhecida, é a
mercearia mais antiga de Aveiro,
assumindo-se como parte integrante
da memória colectiva da cidade.
Resistiu à chegada das grandes
superfícies comerciais, sem nunca
perder a essência: a aposta nos pro-
dutos de origem portuguesa. O turis-
que possa estar numa “bolha”, mas conservas. E aqui Raul Santos orgu- mo veio dar, nos últimos anos, uma
Mónica acredita no que vê ao seu bal- lha-se de ter ajudado a “ressuscitar” (boa) ajuda à manutenção da loja.
cão. “Há muita preocupação de com- uma marca, a ValÇôr. “Era proprieda- No ano passado, A Competidora
prarem coisas ecológicas, de come- de do avô do José Nero, das Conservas de Aveiro sofreu dois golpes profun-
rem mais saudável e de não consumi- Nero. Eles resgataram a marca e nós dos. O primeiro foi a morte do seu
rem coisas com plástico. Já não é uma fazemos a distribuição”, explica – fundador, o senhor António Santos.
coisa estranha de freaks.” L.O.C. para além das duas mercearias, a Pouco depois, em Março, o negócio
Vertente dos Sabores é também dis- encerrava portas por conta da pan-
Quintal Bioshop tribuidora de produtos para lojas do demia de covid-19. Vicissitudes que
Rua do Rosário, 177, Porto mesmo ramo biológico. “São conser- não foram suÆcientes para levar
Tel.: 222 010 008 vas de peixe de topo”, sublinha Raul. Rosa Maria Vieira e Gisela Vieira –
E-mail: mail@quintalbioshop. Há aqui latas de Æletes de atum com respectivamente, Ælha e neta do
com sultanas e alecrim, de bacalhau assa- senhor António – a atirarem a toa-
Facebook: https://www. do, de cavala, de atum em água alca- lha ao chão. Não só mantêm o lega-
facebook.com/quintalbioshop/ lina. “Começámos com quatro refe- do do pai e avô, como até têm pla-
Horário: de segunda a rências, já vamos em sete.” nos para o requaliÆcar.
sexta-feira, das 10h30 às 19h; “Tentamos ter produtos de quali- “O edifício está muito degradado
sábado das 10h30 às 17h. dade e diferenciados, porque é assim e já temos um projecto para as obras
que nos posicionamos no mercado, de recuperação”, anuncia Rosa
“Quer que lhe diga a verdade? Em saído nos últimos tempos alho-fran- não queríamos ser mais uma mer- Maria, deixando a garantia de que a
Vertente dos Sabores Março não tivemos mãos a medir.” cês, acelga, couve-coração, couve cearia. É também por isso que as empreitada irá respeitar a memória
“Em Março não tivemos A cidade, diz Raul, recebeu muito pak choi, alface. pessoas aderem cada vez mais a este e identidade do espaço. Tudo o que
mãos a medir”, agora bem a Vertente dos Sabores, que se Os restantes frescos que aqui se tipo de loja”, diz Raul. for possível preservar, será manti-
deve ser a mesma coisa estreara em 2018 em Aveiro e se vêem, entre alhos biológicos, cur- O horário da Vertente dos Sabores do, aÆança, dando como exemplo a
expandiu para o norte do distrito um getes, abóboras, laranjas ou maçãs, não sofrerá qualquer alteração no placa que anuncia o nome da loja.
São 11h30 do primeiro dia deste novo ano depois. chegam de “cadeias de produção o período de conÆnamento. “Estare- Nas estantes também deverão
conÆnamento e a funcionária da Na loja, em frente ao Estádio Mar- mais encurtadas possível”. “Damos mos cá para as pessoas como sempre manter-se os produtos de sempre:
mercearia biológica Vertente dos colino de Castro, vende-se de tudo sempre prioridade ao fornecedor estivemos.” Entregas ao domicílio vinhos, frutos secos, bacalhau, con-
Sabores, em Santa Maria da Feira, um pouco: especiarias e frutos secos nacional”, assegura Raul – bananas, não fazem para já: a não ser aos servas, queijo, mel, farinha e uns
olha em redor, pede desculpa e diz a granel, chás e infusões, vinhos, pão só cá se vendem as da Madeira, ana- clientes habituais que possam estar quantos artigos de higiene e de bele-
que, se entrarem os dois clientes que (de várias proveniências, incluindo nases dos Açores, citrinos do Algar- infectados com o vírus SARS-CoV-2. za (com destaque para alguns pro-
estão à porta, a loja de 150 metros o Pão da Terra, de Matosinhos), ve – “e alguns de Amares, que tem Sandra Silva Costa dutos icónicos: pasta Couto, cremes
quadrados “Æcará com gente a mais”. cereais, cacaus, farinhas, bolachas, um microclima excelente para as Benamôr, restaurador Olex, perfu-
Saem os jornalistas, para que os fre- azeites, até detergentes biológicos. tangerinas”. Vertente dos Sabores me Tabu ou after shave Old Spice).
gueses possam fazer as suas compras Mas a estrela da companhia são mes- Também há carne de produção Alameda do Tribunal, 73 Talvez se acrescente uma nova pro-
em segurança. mo as frutas e legumes – sendo que biológica, a maior parte dela de Ida- 4520-179 Santa Maria da Feira posta, aproveitando o facto de a loja
Raul Santos, que, em conjunto alguns destes vêm, todos os dias, da nha-a-Nova, uma secção generosa de Tel.: 256 134 329 estar situada numa das zonas mais
com a companheira, Mara Soares, é produção própria de Mara e Raul, em congelados – onde constam alguns https://www.facebook.com/ turísticas de Aveiro. “Pensámos em
o proprietário da mercearia que há- Loureiro, Oliveira de Azeméis. produtos veganos e vegetarianos, Merceariabiologicafeira/ ter aqui um cantinho para umas
de completar dois anos em Maio, “Temos cerca de um hectare”, expli- como almôndegas de feijão e millet –, Horário: de segunda a provas de vinhos e queijos, mas ain-
antecipa que este novo período de ca Raul, licenciado em Engenharia ovos de galinhas de raças autóctones sexta-feira, das 10h às 20h; da teremos que ver”, revela Rosa
conÆnamento será como o primeiro. Agrícola. Do terreno do casal têm portuguesas, uma vasta selecção de sábado, das 9h às 19h. Maria Vieira. c
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Consumo
ADRIANO MIRANDA
ADRIANO MIRANDA
Os tempos exigem cautela e pru- sair à rua. “De dia e de noite”, recor- conta própria, concretizando o sonho
dência, especialmente depois de o da, a propósito do trabalho que teve de ter um negócio, trabalhava como
negócio ter enfrentado um Verão de enfrentar na altura e que está cortador de leitão. A sua entrada no
frouxo – o número de turistas foi mui- retratado num vídeo que acabou por mundo das mercearias acaba por
to inferior ao dos anos anteriores – e se tornar viral nas redes sociais. acontecer, em 2017, quase por mero
de estar a braços com um novo con- Se é verdade que a pandemia acaso. “Apareceu uma mercearia que
Ænamento. “Na altura dos Fiéis, ani- trouxe um acréscimo de vendas estava para fechar e eu decidi comprá-
mou com a venda dos frutos cristali- para a pequena mercearia da Baixa la para dar cumprimento ao objectivo
zados para as papas de carolo típicas de Coimbra, também é um facto que de ter um negócio meu”, declara.
aqui do bairro do Beira-Mar, e depois Fábio Teixeira andou na rua “quan- Maria José Santana
veio o Natal, mas sempre com vendas do quase ninguém queria andar”,
inferiores às do tempo do meu pai”, nessa altura em que pouco ou nada Mercearia Mais Portuguesa
conta a comerciante, de 67 anos. Res- se sabia sobre o vírus e o material Rua da Sofia, 82
ta resistir e continuar a sonhar com de protecção (máscaras, luvas, etc.) 3000-389 Coimbra
melhores dias para o negócio, hon- era uma miragem. Tel.: 914 110 162
rando o nome do fundador. Ainda Agora, neste novo conÆnamento, https://merceariamais
que a empresa mantenha o nome A “tudo é diferente”. “As pessoas estão portuguesa.pt/
Competidora de Aveiro, o estabeleci- mais preparadas e já não têm medo Horário: de segunda
mento será cada vez mais a Loja do de ir às compras às grandes superfí- a sexta-feira, das 9 às 19h;
Sr. António. Maria José Santana cies”, testemunha. Ainda assim, sábado, das 9 às 13h.
estabelecimento comercial, situado Fábio Teixeira manterá o serviço de
A Competidora de Aveiro
Rua dos Mercadores, 17
no centro da cidade de Coimbra,
sofreu alterações por conta da
A Competidora entregas ao domicílio, complemen-
tando as vendas na loja. Melhor O Lugar do Jaime
3800-225 Aveiro
Tel.: 929 385 572/916 462 078
entrada da covid-19 nas nossas
vidas. O “À Portuguesa” deu lugar à
de Aveiro quer dizendo, nas lojas, uma vez que
Fábio Teixeira ainda mantém o espa-
Um lugar nascido
da fruta quando esta
Facebook: @lojadosrantonio
Horário em período
designação “Mais Portuguesa”,
numa tentativa de dar “mais espe-
resistir e ço da Rua das Padeiras – aguarda
para ver se o negócio justiÆca os dois
“dava muito dinheiro”
de confinamento:
segundas, quintas e sábados,
rança” aos clientes e cidadãos em
geral. E a loja situada na Rua das
continuar espaços.
O forte da casa, garante, continuam
Quando Jaime Festas se lançou nesta
aventura, em 2008, “a fruta dava
das 10h às 12h30. Padeiras também passou a ser
pequena de mais para o negócio. A
a sonhar com a ser os produtos frescos, mais con-
cretamente as frutas e legumes, e tudo
muito dinheiro, era o melhor negó-
cio que estava aí”. Entusiasmou-se,
Mercearia
Mais Portuguesa teve que encontrar
nova morada na Rua da SoÆa.
melhores dias aquilo que é tradicionalmente portu-
guês. “Costumo ir eu próprio buscar
comprou a um casal já idoso o espa-
ço de um pequeno lugar de hortali-
Mais Portuguesa
Primazia aos produtos
Fábio Teixeira, de 36 anos, é o ros-
to que está por trás do negócio que para o negócio, o queijo à serra da Estrela para vender
aqui; e os enchidos são da zona de
ças na Rua da Graça, fez obras, e
abriu portas para vender fruta. Mas
portugueses,
leitão assado incluído
foi notícia em Março do ano passado,
aquando do primeiro conÆnamento. honrando Mira, feitos artesanalmente”, realça.
O outro produto estrela da Mercearia
as coisas mudam – e neste universo
mudaram muito mais do que se
ADRIANO MIRANDA
Gisela Vieira, d’A Competidora,
em Aveiro; Fábio Teixeira, da Mercearia
Mais Portuguesa, em Coimbra,
e Jaime Festas, do Lugar do Jaime, em Lisboa
FILIPA FERNANDEZ
Consumo
da havia aquelas situações em que as “produtos naturais às sementes, os Mercearia Pérola É que, para além de ter sido uma bebidas. Agora, as prateleiras reser-
pessoas que precisavam de um Æador integrais, as bebidas de soja”. do Arsenal A mais das casas pioneiras na venda de vadas a estes produtos sofreram
para o contrato da água ou da luz, Chamar ao Japão mercearia ou africana das antigas bacalhau nesta Rua do Arsenal que alterações e a zona mais animada da
pediam a uma loja”, recorda. É isto supermercado, é indiferente. “Para mercearias lisboetas Æcaria conhecida precisamente por loja é, ao fundo, o espaço onde nos
– e não é pouco – o que faz a diferença os nossos clientes, é o Japão”, subli- esse comércio, a Pérola foi, mais perdemos a ler nomes, escritos à mão
numa casa como esta. E, mesmo nha Jorge, recordando, com um sor- A sólida mesa de tampo de mármore tarde, inovadora noutro tipo de pro- nos papéis enÆados em cada saca:
assim, a sobrevivência é cada vez riso, a história da senhora idosa que que tem na extremidade o facalhão dutos: as farinhas, os feijões e vários feijoca, feijão-frade, chícharos, feijão
mais difícil quando a concorrência deixou um recado na porta do frigo- para cortar o bacalhau está aqui ingredientes indispensáveis às gas- preto, catarino, catarino redondo,
surge por todos os lados, umas vezes ríÆco. “A Ælha, quando leu, ligou para desde a fundação da casa, em 1952. tronomias de países como Cabo canário, lindo, catarino comprido,
sob a forma de super e hipermerca- a neta da senhora e disse ‘a tua avó Rui Bértolo, o funcionário que nos Verde, Guiné, Angola ou Moçam- encarnado, manteiga, pedra, congo.
dos, outras em versão lojas “de asiá- deve estar louca, deixou aqui um recebe, está há bastante menos bique. E hoje, conta Rui, desapare- E, noutras sacas, ao lado, em dif-
ticos” – umas e as outras com preços papel a dizer que foi para o Japão’”. tempo, mesmo assim já lá vão 23 cidos os turistas, são os africanos que erentes tons de brancos e amarelos, as
mais baratos. Perante o cerco que se A.P.C. anos desde o dia em que chegou para constituem a maioria dos clientes. farinhas, o polvilho doce e azedo, a
aperta, estabelecimentos como o começar a trabalhar e durante várias Por isso, a par do bacalhau, que aqui farinha de milho, a de arroz, a fécula
Japão só podem insistir nos seus trun- Loja do Japão semanas não fez mais nada senão se vende em lombo, mas também de batata, a tapioca, a mandioca, e,
fos: “Continuamos a existir pela Æde- Rua Morais Soares, 137/139, carregar às costas sacas de farinhas caras, línguas e sames, e do atum de nas prateleiras, o óleo de palma, a
lização dos clientes, pela nossa forma Lisboa e feijões, para repor a mercadoria barrica (sangacho, tarantelo, rabos e manteiga de garrafa, clariÆcada e cara
de trabalhar, pela diversidade de pro- Tel.: 218 123 680; 963 240 103 que se vendia que nem pãezinhos muxama), foram começando a surgir (a 16€ a garrafa), e o Porto Quinado,
dutos regionais, pelo facto de levar- E-mail: amferreiralda@gmail. quentes. Se não conhecia muitos nas prateleiras outros peixes secos, esse vinho que era enviado para África
mos as compras a casa dos clientes, com daqueles produtos, nessa altura também muito procurados pela clien- e para o Brasil ao qual se juntava qui-
de tratarmos as pessoas pelo Horário: de segunda a sábado, Æcou a conhecê-los bem – nem que tela africana – corvina, perca do Nilo, nino para ajudar a combater a malária
nome.” das 8h às 20h. fosse pelo peso. tilápia. E, ao lado, descobrimos as tiras e que, para algumas pessoas, se tor-
Aqui, na Morais Soares, a cliente- FILIPA FERNANDEZ
de tripa de bovino, Ænas, médias e nou um gosto adquirido.
la foi envelhecendo e muita foi-se grossas, também secas, ainda muito Para esses clientes, aÆnal os mais
embora “quando houve o aumento procuradas, assegura Rui, por quem Æéis, nunca aqui faltam as bolachas
das rendas”, mas continua a haver faz chouriços, alheiras, farinheiras, cabo-verdianas da Padaria Vitória, a
Æéis desta loja, até porque, como se morcelas. calabaceira ou mucúa (o fruto do
costuma dizer, “o Japão é pequeni- “Temos ainda uma grande variedade embondeiro), a madeira do boru-
no, é jeitosinho, tem de tudo um de temperos, desde o caril ao piripíri, tutu, com a qual se faz um chá que
bocadinho”. E tudo é o bacalhau, o açafrão, a canela, os cominhos, o col- limpa o fígado, a kamoka (farinha de
obviamente, mas também as espe- orau, a cebola desidratada, o alho para milho torrada) e, claro, o Porto
cialidades que recebem às quintas- tempero dos bifes, tudo a granel”, Quinado. A.P.C.
feiras: a broa do Fundão, as bicas de explica, apontando para o grande
azeite de Penha Garcia, os enchidos armário onde estão guardadas as espe- Mercearia Pérola do Arsenal
de Vila do Rei, os queijos da serra da ciarias e, por cima, outros dos cartões- Rua do Arsenal, 92 a 98, Lisboa
Estrela vindos de Seia – “há 30 e tal de-visita da loja, as garrafas de vinho do Tel.: 213 427 938
anos que gastamos deles” –, o bolo Porto. E-mail:
Ænto e o bolo podre de Portalegre, Antes da pandemia, quando Lisboa peroladoarsenal4@gmail.com
as tostas alentejanas do Forno do era uma cidade cheia de turistas, o Horário: de segunda a sexta, das
Monte. E as novidades que foi pre- que mais se vendia eram as latas de 9h às 12h30 e das 13h30 às 19h;
ciso ir integrando na oferta, dos conservas, os frascos de piripíri e as sábado das 9h às 12h.
FILIPA FERNANDEZ
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Minimercado Familiar e uma das Ælhas vinham ajudar produtos, mais baixos do que nas à remodelação da loja em 2005, a em Lagos, só existia o Alvorada, onde
A pandemia ia naquelas horas a repor de tudo, grandes superfícies nuns casos, nou- mercearia “era uma coisinha peque- é hoje o Pingo Doce”, recorda. “Por
“rebentando comigo” enquanto José “levava o dia inteiro a tros inalterados “há anos”, contri- nina”, porque os antigos proprietá- azar, abriu logo o Lidl passado uns
de tanto trabalho comprar e a vender”. “Nunca imagi- buem para manter a clientela mais rios “viviam aqui”. Agora, o minimer- dois meses.” Entretanto, chegaram à
nei uma casa destas facturar o que Æel. Depois, há o trato pessoal. Com cado tem cerca de 100m2 com três cidade quase todas as grandes marcas
Ainda não são 9h e pela caixa já pas- facturou num dia”, assume. “Cresci a gente da terra, que muitas vezes tem corredores lotados de produtos, sec- de hipermercados, muitos espaços de
saram uns dez clientes. “Tem stevia?”, 41% em relação a 2019 e 2019 foi um excedentes nas hortas caseiras e vem ção de frescos e de congelados, char- média dimensão faliram, as mercea-
pergunta um à entrada. “Ali em baixo, ano excepcional.” Não houve um mês vender à mercearia. “Em vez de joga- cutaria, padaria, mercearia, garrafei- rias começaram a decair, mas o Mini-
atrás daquela menina”, aponta José de 2020 pior de vendas que igual rem fora, trazem e eu ajudo.” E com ra, entre outros. mercado Familiar continuou “sempre
Domingos. Há quem passeie o cachor- período do ano anterior. “Cheguei a o cliente, que pede com antecedência José Domingos tinha 28 anos quan- a trabalhar bem”.
ro e aproveite para encomendar, da vender 1300€ de fruta num dia.” E se, para guardar o pão quente, que per- do comprou o espaço. “Comecei aos Mas “é uma vida muito complica-
porta, os três pães com chouriço que hoje, o canto das farinhas conta com gunta por um produto que Domingos 13 anos a trabalhar num restaurante da”, confessa. Em quase 25 anos,
não tardam a chegar com a remessa mais de vinte referências é graças à não tem e faz por encontrar em pou- e foi até ir para a tropa”, recorda. tirou umas “cinco semanas de férias”
da manhã. Clientes e funcionários, “pãodemia” da pandemia. “Compra- co tempo, ou que pede para levar as Quando voltou, ainda lhe ofereceram com a família. Às vezes, mete uma
quase todos se tratam pelo nome. va embalagens à força toda”, ri-se. Só compras a casa. “Faço tudo para satis- o emprego de volta, mas José “estava folga para ir à pesca. Em 2017, fez par-
Ainda o padeiro enche as prateleiras o fermento de padeiro esgotou uma fazer o cliente, por isso é que estou há farto daquilo”. Preferiu ajudar o sogro te da equipa campeã nacional de pes-
e já há gente na Æla. ou outra vez. quase 25 anos.” no supermercado que tinha na Sale- ca grossa. No escritório, entre dos-
Ao quarto dia de novo período de Para José Domingos, 53 anos, é esse A 1 de Abril, o minimercado celebra ma (no concelho vizinho de Vila do siers e facturas, acumulam-se troféus
conÆnamento, o movimento no Mini- o segredo para manter uma mercea- um quarto de século nas mãos de Bispo). Ainda passou por uma paste- desportivos, a maioria ganhos no
mercado Familiar, em Lagos, é o de ria de sucesso: “Simpatia, fruta boa, Domingos, mas o espaço já deverá laria e pela área da distribuição até mar. Naquela fotograÆa, José e um
um dia normal. Esta segunda quaren- pão bom, charcutaria boa, com existir desde a construção do prédio, comprar o minimercado. saÆo com 35kg. Ali, um pargo com
tena proÆláctica “não é nada”, com- [enchidos] de Monchique e aquelas nos anos de 1980. Nessa altura, e até “Na altura, de superfícies grandes 15kg faz capa de uma revista. “Uma
para o proprietário. “Agora está tudo coisas [da região] que os outros não MARA GONÇALVES
vez, apanhei um cherne com 68kg.
aberto.” Mas, em Março de 2020, têm. E dedicação: estar aqui sempre As ovas pesavam 9kg”, recorda.
quando o primeiro estado de emer- em cima do acontecimento para não “Quando me meto numa coisa é
gência meteu o país dentro de casa, faltar nada, sempre tudo fresquinho, com dedicação”, dizia há pouco a
os dois primeiros dias foram “com- isso é o principal deste negócio.” propósito do minimercado. Mas
pletamente loucos”, recorda. O estacionamento fácil à porta “não é fácil”. “As minhas Ælhas cres-
“Eram Ælas à porta até às Finanças “também ajuda” e os preços de alguns ceram e eu só as via à noite um boca-
[a cerca de 100 metros], porque só dinho”, recorda. Por isso, lá vai
podiam entrar cinco pessoas [de cada Jorge Santos e a sua dizendo: “Já lhes dei os cursos. Estão
vez] e muitas optaram pelas superfí- Loja do Japão; Rui Bértolo, formadas, criadas. Agora vou tentar
cies mais pequenas.” Pela primeira funcionário da Pérola ver se descanso, um dia destes”.
vez, José viu-se obrigado a fechar por- do Arsenal; e o Minimercado Mara Gonçalves
tas depois do almoço, durante duas Familiar, em Lagos
horas, para fazer reposição de produ- Minimercado Familiar
to. “A pandemia foi uma coisa do Rua Salgueiro Maia, 11, loja A
outro mundo. Iam rebentando comi- Lagos
go com o trabalho.” Tel.: 282 761 919
Com metade da equipa em casa, Facebook:
como medida de prevenção, a mulher @MinimercadoFamiliar
FILIPA FERNANDEZ MARA GONÇALVES
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Protagonista
FOTOS: DANIEL ROCHA
Pedro Quirino
Um safari para ver os big Ɗve,
outro para descobrir a Costa Vicentina
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Percorrer a história
de Faro atrás dos
pergaminhos digitais
de um templário
Livro
Tudo o que
comemos,
e como o fazemos,
em 500 páginas
(e, em breve,
outras 500)
VCG WILSON/GETTY IMAGES
e dos paladares, numa ambiciosa obra em dois necessidades mais básicas à simbo-
logia – História dos Paladares, de
encontrar – e, note-se, a área de pes-
quisa era nada menos do que a Histó-
Sedução, acaba de sair e inclui 250 receitas. abarcar tudo o que à alimentação
humana diz respeito. Para já, chegou
dos Paladares tem perto de 500 pági-
nas e “mais de 250 receitas de época”
A Perdição virá a seguir. Alexandra Prado Coelho às livrarias o primeiro volume, Sedu-
ção, mas a autora já tem pronto o
e o segundo, que se centra sobretudo
nas ligações da gastronomia a outras
segundo, Perdição. artes como o cinema e a moda, mas
Ao longo de cinco anos, Deana, também à religião, ao prazer, ao faus-
professora de Língua e Literatura Por- to, à tentação, terá uma dimensão
tuguesa e Francesa já reformada e semelhante e 365 receitas.
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LEEMAGE/GETTY IMAGES
“O gosto, a audição
e o toque. Alegoria
dos cinco sentidos”,
pintura de Jan Brueghel.
A refeição de uma
família rica: aves
e frutos do mar, inclusive
ostras, compõem
o cardápio do banquete.
Na página ao lado,
“Natureza morta,
conjunto de chá chinês”,
pintura de Jean-Étienne
Liotard
Livro
IMAGENS DR
II
Em busca do chá, entramos nos
“amaros/amargos/amargosos” para
tentar perceber qual o fascínio de um
sabor amargo. Escreve a autora que
este “na medicina chinesa tem natu-
reza yin, reduz o calor do corpo, lim-
pa e elimina Çuidos corporais; é diu-
rético, sedativo, com efeito fortalece- nal que escreveu Arte da Língua de tações de chá dos Açores para nos guinosos/telúricos” (onde iríamos
dor e inÇuência no coração, intestino
delgado, língua e vasos sanguíneos”.
“A lisboeta Japão, “a primeira publicação de lín-
gua europeia, a portuguesa, sobre
conduzir, por Æm, até às antigas salas
de chá portuguesas e a esta descrição
descobrir que na Idade Média se cha-
mava aos “miúdos” das aves “descaí-
Entre outras vantagens está a de que
“psicologicamente reforça a alegria
morre por gramática japonesa, na qual integrava
um Tratado do Chá, a mais precisa,
deliciosa feita no início do século XX
por Alberto Pimentel no seu Portugal
das” e encontraríamos uma receita
de tutanos doces, na qual a gordura
de viver, o riso, a boa vontade, os
bons pensamentos e sentimentos;
comer bolos exaustiva e elegante informação
sobre a arte do chá […]”. E, de cami-
Pittoresco e Illustrado sobre uma Lis-
boa deslumbrada pelo chique fran-
se mistura, sem culpas, com “açúcar
à vontade e canela em pó”), mas aca-
acalma o fogo das paixões, do ciúme
e frustração, sendo indicado para
e come-os com nho, aprendemos a fazer um creme
de chá, com chás verde e preto mis-
cês: “A lisboeta, sempre gulosa – de
bolos, de vestidos, de jóias, de tea-
bamos por optar pelos “aromáticos/
pungentes/ardentes” para ir em bus-
combater as angústias e insónias”.
Razões suÆcientes para querermos
sofreguidão, turados.
Viajamos pela rota do chá, passa-
tros e de namoros – delira por entrar
no Rendez-vous des gourmets, na
ca dessas plantas extraordinárias que
tanto enriquecem os nossos pratos.
saber mais e avançarmos para os
“paladares sedosos” desses fascinan-
o seu lunch mos por mais uma receita, esta de
pudim de chá, espreitamos a teiman-
Patisserie Violette ou na Patisserie
Suisse, na Maison Parisienne, ou na
Por todo o livro estão espalhados
ditados populares e aqui encontra-
tes chás do Oriente. “Beba o seu chá
lenta e reverentemente, como se fos- no confeiteiro cia, ou a arte da adivinhação nas
folhas de chá, mas, com diÆculdade
Bijou da Avenida. A lisboeta morre
por comer bolos e come-os com
mos uma lição de economia sob a
forma de um deles, que diz que “se
se o eixo sobre o qual o mundo gira
lentamente, de maneira uniforme, parece não em lermos o futuro, voltamos à histó-
ria dos portugueses no Japão para
sofreguidão, o seu lunch no confei-
teiro parece não ter conÆança no
não houvera mais alhos que canela,
o que eles valem valeria ela”.
sem correr em direcção ao futuro.
Viva o momento presente, só este ter confiança descobrirmos o que em 1565 o jesuíta
Luís Fróis explicava no seu Tratado
jantar de família, mas quer que o
grande público saiba que ela teve
Logo à frente deparamos com o
aiurveda, o sistema milenar de medi-
momento é a vida”, é o conselho, de
Thich Nhat Hahn, que nos recebe. no jantar das Diferenças de Costumes entre a
Europa e o Japão: “Entre nós, a água
dinheiro para devorar gulosinas de
bom tom.”
cina tradicional hindu (e em muitas
partes deste livro encontramos essa
Conhecemos João Rodrigues, o que se bebe há-de ser fria e clara; a ligação, em várias épocas e de dife-
Tçuzu (“o intérprete”), que, nascido
em Sernancelhe, no Norte de Portu-
de família” água dos japões há-de ser quente e
levar pós de chá, batidos com uma
III rentes formas, entre alimento e
medicamento), antes de nos deixar-
gal, foi para o Japão e aí conquistou escova de cana.” Ainda hesitamos perante a tentação mos fascinar pelo poeta Arquéstrato,
um domínio da língua tão excepcio- A viagem passará ainda pelas plan- de entrar no capítulo “viscerais/san- “um seguidor das ‘mesas de delícias’
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Deana Barroqueiro
Uma autora entre a Sedução
e a Perdição
siracusana e siciliana” e que explica a São, muitas vezes, as notas de a ter um grande boom, tinha sido sobretudo aos sítios onde os portu-
um princípio muito simples, mas rodapé que despertam a atenção de bastante desprezada pelos historia- gueses chegaram na altura dos Des-
nem sempre respeitado: “Se o pro- Deana Barroqueiro. A escritora e dores, quando a mesa se vai cruzan- cobrimentos, e onde se emocionou
duto a cozinhar for naturalmente professora de Língua e Literatura do com todas as actividades da vida, ao encontrar, por exemplo, o pão-
saboroso, não se lhe deve adicionar Portuguesa e Francesa, nascida nos desde a roupa aos costumes, à edu- de-ló português no Japão, o famoso
adubos de perfume intenso, como Estados Unidos em 1945 e que emi- cação, às relações das pessoas, aos castella, ou os Æos de ovos na Tai-
queijo, sílÆo ou vinagre, mas apenas grou para Portugal com dois anos produtos, aos utensílios, às conspi- lândia.
os condimentos básicos da culinária de idade, é uma leitora ávida, e nos rações.” Sem que o tivesse planeado pre-
mediterrânica – azeite e sal.” últimos cinco anos essas leituras À pesquisa histórica nessa imensa viamente, acabou por centrar o
Atraídos agora pelo “gosto da levaram-na, num trabalho de detec- biblioteca digital junta as suas segundo volume da sua História dos
pimenta e o cheiro da canela” ater- tive, em busca de tudo o que se ligue memórias e o seu gosto pela comida, Paladares mais em Portugal e na gas-
ramos no século XV, em plena expan- à forma como comemos. que vem da infância, quando, aos tronomia portuguesa. Mas aqui o
são portuguesa, para descobrirmos “No fundo, isto é uma história da sete anos, cozinhava para as amigas que lhe interessa é, sobretudo, a
um mundo de sabores diferentes, alimentação”, aÆrma sobre o livro uma espécie de sopa da pedra. “Aos ligação entre alimentação e artes.
com receitas como o sukem de amêi- cujo primeiro volume acaba de lan- 17, 18 anos Æz um curso de culinária Tal como no primeiro volume, agru-
joas de Moçambique, a mousse de çar, História dos Paladares. “Cortei promovido pela Mocidade Portugue- pou os temas por universos. Alguns
manga, também de Moçambique, a já centenas de páginas e mesmo sa feminina para as meninas apren- exemplos, para abrir o apetite:
muamba ou muambá de galinha à assim tenho dois livros de 500 pági- derem a serem boas donas de casa”, “faustosos/pantagruélicos/opulen-
angolense, a faróÆa, o funche, a cal- nas cada um.” Sabia exactamente o recorda. “Felizmente era a única tos”, “encobertos/prodigiosos/viru-
deirada de Cochim ou o garam mas- que não queria: fazer um livro de actividade em que não tínhamos que lentos”, “sacralizados/sacrílegos/
sala, essa mistura de especiarias receitas próprias. “Não me interes- vestir aquele horrendo uniforme e bentos”, “ocultistas /necromânticos
tostadas e moídas muito usada no sa nada, há imensas pessoas a fazer estender o braço para fazer a sauda- História dos Paladares /antropofágicos”, “freiráticos/con-
Norte da Índia. isso. Queria fazer uma história mas ção nazi.” Desse tempo Æcaram-lhe Volume I - Sedução ventuais /pecaminosos”, “afrodisía-
E aqui um aviso aos entusiastas de não sou historiadora, venho da lite- muitas das receitas tradicionais por- Deana Barroqueiro cos/sensuais/voluptuosos”, “aluci-
caril. Este “servia para preservar os ratura, mas, por outro lado, não tuguesas – que são “belíssimas” e Prime Books nogénios/irreverentes/viciantes”.
alimentos da corrupção, muito rápi- concebo a literatura sem a Histó- que continua a fazer, sendo uma 480 páginas Por razões óbvias, depois de no pri-
da num país de clima excessivamen- ria.” cozinheira entusiástica, que compõe 22,10€ meiro se ter dedicado a Sedução,
te quente”, mas “como tem na sua O resultado é, por isso, diÆcilmen- os pratos “pelo olfacto”. chamou a este segundo volume (ain-
composição ervas e especiarias con- te classiÆcável – a autora chama-lhe E, por Æm, junta as experiências da sem data de chegada às livrarias,
sideradas afrodisíacas” é preciso um puzzle, tal como “a vida é um das viagens que fez pelo mundo, mas já concluído) Perdição.
cuidado com este “cocktail de esti- puzzle, se não for assim, não é vida”
mulantes que pode, se demasiado – porque resulta de um olhar muito
concentrado, incitar-vos à luxúria”. próprio e do cruzamento dos inte-
E se o capítulo acaba a lembrar resses, saberes e experiências acu-
que “é manha de Portugal, comer mulados por Deana ao longo dos
bem, beber bem e dizer mal”, deixa seus 75 anos de vida. “Estou-me nas
também uma citação do Ælósofo e tintas para o que possam pensar de
historiador grego Plutarco, de O Ban- mim, sempre fui assim”, diz, com
quete dos Sete Sábios, na qual alerta uma gargalhada.
para que “a eliminação da alimenta- Mas isto não retira rigor ao seu
ção representaria a dissolução da trabalho. Pelo contrário. O domínio
casa” porque “juntamente com a de várias línguas permite-lhe ler
mesa, elimina-se também o fogo directamente os textos facsimilados,
guardião do lar, o próprio lar, os os manuscritos que estão digitaliza-
vasos para misturar o vinho, o aco- dos e disponíveis nos sites de várias
lhimento, a hospitalidade, as mais universidades por todo o mundo.
humanas e primeiras manifestações “PreÆro ler os originais, é o que me
de comunhão entre as pessoas”. Na interessa mais”, explica.
verdade, conclui Plutarco, eliminar O que não signiÆca que não dê um
o alimento “é eliminar a vida no seu salto de um manuscrito do século
conjunto, se esta corresponde efec- XVI para uma crítica de gastronomia
tivamente a uma forma de o homem de um jornal contemporâneo – e crí-
passar o tempo e comporta a existên- ticos portugueses como José Quité-
cia de uma série de acções, motiva- rio, David Lopes Ramos, Fortunato
das em grande parte pela necessida- da Câmara ou Fernando Melo mere-
de de alimentação e respectiva pre- cem a sua atenção no segundo volu-
paração.” Provavelmente por isso, e me da obra, mais até que os chefs de
como este livro demonstra de tantas cozinha, porque esses “já falam mui-
maneiras, o Homem nunca eliminou to de si próprios”.
o alimento – pelo contrário, procu- Uma das coisas que a surpreende
rou-o, produziu-o, transformou-o, é que durante tanto tempo não se
enriqueceu-o, desenvolveu-se e tenha dado a atenção devida a esta
aprendeu com ele. E tornou-o parte história. “Sempre achei que a histó-
de si. ria da alimentação, que está agora
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Motores
Formentor, ponto de
encontro dos ventos,
inspirou um
musculado Cupra
a Para quem estuda etimologia, a de carroçaria em cinza mate que prestáveis e audíveis 310cv.
palavra Cupra pode remeter para combina com emblema, jantes e O ronco do Formentor dá logo a
uma deusa pré-romana. Mas a outros apontamentos em cobre, perceber ao que o automóvel vem.
recém-nascida marca de performan- naquilo que a marca descreve como Não se trata de um mero meio de
ce da Seat, do Grupo Volkswagen, “a redeÆnição da soÆsticação e do transporte. Ele fala-nos que está ali
parece obstinada em encontrar um design”. para servir também ao nosso diver-
signiÆcado só seu, como demonstra Se conseguiu encontrar outro timento – pistas disponíveis houves-
o primeiro modelo concebido de caminho para o requinte estético se para explorar um binário máximo
raiz, a que deu o nome de Formen- Æcará ao gosto de cada um. Mas há de 400 Nm, disponível desde cedo
tor, inspirando-se no cabo homóni- um objectivo que a Cupra alcançou (às 2000rpm) e por uma ampla faixa
mo, localizado no extremo leste da com o Formentor: não deixa nin- de rotação, até às 5400rpm. A forma
península de Maiorca, “ponto de guém indiferente, e assim que o car- como usamos a potência e o binário
encontro dos ventos”. ro surge, a curiosidade de quem se pode ser observada no painel de ins-
É verdade que a Cupra já tinha dei- cruza connosco aguça-se. Da nossa trumentação. E, confesse-se, aquela
tado as garras de fora com um repen- parte, já tínhamos matado a curiosi- Æca sempre muito aquém do que o
sado Ateca. Mas, mesmo com todas dade geral com um primeiro contac- carro tem para dar… AÆnal, nas suas
as diferenças face ao modelo da Seat, to, no Æm do ano passado. Mas sen- credenciais de apresentação consta
o Cupra Ateca continuava a carregar tíamos algum desejo de ver como o um tempo de 4,9 segundos para ir Mas nem muito: servido por um sis- gar a potência à roda certa. Além
muito da herança do emblema-pai. automóvel se comportaria no dia-a- de 0 a 100 km/h e uns 250 km/h de tema de quatro rodas motrizes, o disso, conta, de série, com controlo
Já com o Formentor, a conversa é dia. AÆnal, apesar de vestir dimen- velocidade máxima (limitada elec- Formentor garante uma estabilidade adaptativo de chassis, que ajusta em
outra. A começar pelo festim visual, sões e corpo de SUV, a alma do For- tronicamente). a toda a prova. A tecnologia 4Drive contínuo a pressão de amortecimen-
composto por linhas musculadas, mentor é de um desportivo de eleva- É que é na estrada, com limites de monitoriza, em permanência, diver- to. E isto é perceptível em qualquer
recortes vincadamente angulares e da performance: a mecânica proposta velocidade legais e de bom senso, sos factores (ângulo de direcção, traçado: é ágil nas curvas e preciso
sublinhado pela opção de uma cor no arranque é a robusta 2.0 TSI com que temos de focar a nossa atenção. velocidade e inclinação) para entre- na forma como as desenha, enquan-
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FOTOS: DR
i
Cupra Formentor
2.0 TSI VZ
Motor: Gasolina
Tracção: Integral, 4Drive
Potência: 228 kW (310cv)
Binário: 400 Nm
Aceleração 0 a 100 km/h:
4,9 segundos
Velocidade máxima: 250 km/h
Consumo: 8,5 l/100 km
Lugares: 5
Bagageira: 420 litros
Preço: 49.387€ (desde)
Vinhos
Elogio do vinho
Pedro Garcias
a - Como vai o negócio?
- Vai bem.
- Estás a vender mais vinho?
- Não, mal dá para as despesas,
mas estou vivo. Achas pouco? Viste
o último filme do Ken Loach, Você
não estava aqui?
- Não.
- Então vê.
- É sobre vinho?
- Também. É sobre muita coisa.
As vendas online de vinho estão a
subir, não estão?
- Muito. É um sucesso. O
consumidor começa finalmente a
perceber a vantagem de receber o
vinho em casa…
- Já olhaste na cara de quem te
entrega o vinho à porta? Já pensaste
por um segundo que vida está ali,
que jornada aquele homem ou
aquela mulher têm que cumprir, as
correrias que têm que fazer, para
ganhar um ordenado de miséria? é a vender vinho à porta que fazes - Que é onde se vende o grosso do - Vejo futebol. Nunca vi tanto lombadas dos livros!
- Que conversa é essa? uma marca. vinho... futebol como agora. Chego a ver três - Então não vias só futebol?
- Vê o filme. - Queres fazer-me acreditar que - Não é o meu campeonato. jogos seguidos. Até vejo futebol - E vejo. Mas esta semana tentei
- És contra a globalização? não é possível viver sem - E qual é o teu campeonato? A brasileiro. pela enésima vez ver se havia
- Não desconverses. Como é que intermediários? Liga dos Campeões? Já olhaste bem - Não estarás com uma depressão? alguma coisa de jeito na NetÇix e
achas que o vinho chega a tua casa? - Não, se quiseres crescer. para os tubarões à tua volta? Por - O Don De Lillo também passa o descobri esta série. Vi dois
Mais vinho vendido online significa - E se eu não quiser crescer? que razão alguém há-de comprar o dia a ver baseball e a futebol episódios seguidos. Já não me
mais camiões na estrada, mais - Isso é retórica infantil. No negócio teu vinho quando há no mercado americano… acontecia o mesmo desde Narcos e
plástico, mas caixas de cartão ou de do vinho, só há um caminho: crescer. centenas ou milhares de vinhos - Quem é esse? The Crown.
madeira, mais pressão sobre os A alternativa é desistir. semelhantes? - É um escritor americano de - É assim tão boa?
funcionários das grandes - Essa é uma visão muito - Empatia. origem italiana... - É divertida e o herói é uma
companhias logísticas, mais capitalista. - Achas que alguém compra um - Que esperavas! espécie de Robin dos Bosques, um
dinheiro para tipos como Jeff Bezos, - Realista. O vinho é como o poder Crasto ou um Barca Velha por - Acabou de lançar um livro, justiceiro.
da Amazon.... na política: rapidamente corrompe empatia? escrito antes da pandemia, sobre o - A velha cassete de roubar aos
- Queres voltar ao tempo do meio o teu romantismo. - Temos que continuar a falar de silêncio. Nunca vimos tanta ricos para dar aos pobres!
quartilho servido na taberna? - Que interesse tenho em crescer vinho? televisão como agora e nunca o - Não é de ricos que se trata. É
- Continuas a desconversar. O que se a consequência é vender mais - Estás farto? silêncio foi tão pesado. roubar quem rouba e distribuir por
estou a tentar dizer é que nem tudo vinho a um preço mais baixo? - Já nem me apetece beber, - O livro é sobre isso? quem precisa. Há muita ética nisto.
é a preto e branco. Mas preferia - Tens uma solução melhor? quanto mais falar de vinho. No - Acho que não, mas ainda não o - Em roubar?
vender vinho à porta. - Vender menos mas mais caro? início, fomos para casa com o li. Não me apetece comprá-lo. Não - Subtrair ao ladrão o que não lhe
- E eliminavas os intermediários? - Em que mundo vives? Que vinho espírito de quem ia de férias. estou com cabeça para pensar, nem pertencia não é roubar.
- Não é esse o sonho de qualquer estás a vender? Sabíamos que ia ser por pouco para Æcar triste. Foi suÆciente o - Isso não passa de um jogo de
produtor e consumidor? - O vinho mais barato, mas tempo e aproveitámos para viver à último que li dele, Zero K. Se ao palavras.
- Achas que é possível vender o estamos a viver uma crise… grande. Agora, até na rua me sinto menos me apetecesse vinho… - É como tudo, o vinho, o amor, a
vinho todo à porta? Prescindes dos - Achas mesmo que os preços conÆnado, entorpecido. Nem - O que é que isso tem a ver? vida… Palavras. Andamos sempre à
restaurantes, das garrafeiras? Achas baixos vão acabar quando terminar consigo pensar. Pego num livro e - Tem tudo. Deixa lá. Sabes o que procura da palavra certa.
que fazes uma marca a vender à a pandemia? Já olhaste para os desisto ao Æm de meia dúzia de estou a ver? Lupin, uma série - Agora és tu que estás a
porta? preços dos frangos? Qualquer dia páginas. Voltei à adolescência, francesa. Estou a Æcar viciado. desconversar...
- Uma marca… pagam-te para os levares… quando comprava livros para ler - É sobre quê?
- Sim, uma marca. O valor do teu - Mas isso é nas grandes quando fosse velho. - Tens que ver. Pareces aqueles Jornalista e produtor
negócio é o valor da tua marca e não superfícies. - Então como passas o tempo? que se contentam em ler as de vinho no Douro
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Vinhos
Os vinhos aqui apresentados são, na sua maioria, novidades que chegaram recentemente
ao mercado. A Fugas recebeu amostras dos produtores e provou-as de acordo
com os seus critérios editoriais. As amostras podem ser enviadas para a seguinte morada:
Fugas — Vinhos em Prova, Rua Júlio Dinis, n.º 270, bloco A, 3.º 4050-318 Porto
55 a 70 71 a 85 86 a 94 95 a 100
93 Para ter 94 93
Duorum Vinhas
Velhas 2017
saudades Gloria Reynolds 2007
Reynolds Wine Growers,
Cerval 2014
Casa d’Arrochella, Vila Flor
Duorum Vinhos,
Vila Nova de Foz Côa
de José Maria Arronches
Graduação: 14,5% vol
Graduação: 14% vol
Região: Douro
Graduação: 14% vol
Região: Douro
Soares Franco Região: Alentejano
Preço: 45€
Preço: 27€ (em fozgourmet.com) Se outras virtudes não tivesse
(em garrafeiratiopepe.pt) a Há enólogos que deixam nos seus este vinho, e tem, acabaria por
vinhos uma assinatura pessoal coeren- Passados 13 anos da vindima, servir de exemplo sobre o que
te e consistente ao longo dos anos. este magnífico tinto alentejano ganham os tintos durienses com
Esses vinhos acabam por denunciar ainda conserva vestígios de fruta uns anos de garrafa. Num tempo
um estilo e consolidar uma referência. no nariz e no palato. E garante em que o espaço das casas
Sejam colheitas correntes ou reservas todos os descritores que lhe escasseia e nem todos têm
ou vinhos de topo, a marca da criação permitem um estatuto singular dinheiro para investir no
é indelével. José Maria Soares Franco entre os clássicos do Alentejo. envelhecimento, haver vinhos
tem esse dom. O dom de fazer vinhos Um milagre improvável de uma como este, já moldados pelo
precisos, com aromas recortados den- sub-região fora do mapa tempo na garrafa, é um prazer.
tro da procura de um padrão que só principal dos vinhos do Alentejo, Elegante, com um aroma notável
varia pela generosidade ou adversida- que o torna ainda mais e uma textura deliciosa, é um
Proposta de dos anos. Vinhos com um toque de misterioso e sedutor. Macio, vinho de classe. M.C.
da semana austeridade, mesmo que sejam gene- intenso, complexo e requintado,
rosos nos aromas e expressivos na preserva aquela doçura
estrutura. Vinhos gastronómicos, com característica da região na boca,
um extraordinário potencial de enve- o que também o ajuda a reforçar
lhecimento, vinhos que não cansam. a sua condição. Um vinho que
É possível encontrar no estilo de merece todas as vénias. M.C.
José Maria da Fonseca uma proximi-
dade aos vinhos da Casa Ferreirinha,
também eles exemplares no compro-
misso entre a expressão aromática, a
Æneza do tanino e o volume de boca
que os torna mastigáveis e sedutores.
Não admira, foi lá que o enólogo fez a
sua prova de fogo antes de abraçar o
92 90
projecto Duorum com João Portugal
Ramos. E não admira também que Massorra by Quinta da Rola Touriga Nacional
essa abordagem fosse levada para os Massorra Branco 2018 2018
vinhos do seu novo emblema. Quinta da Massorra Ana Rola Wines
Em poucos anos, a Duorum tornou- São João de Fontoura, Resende Peso da Régua
se uma referência de um Douro que, Castas: Arinto Castas: Touriga Nacional
sendo novo, não caiu no deslumbra- Região: Regional Minho Região: Douro
mento. Os seus vinhos sempre foram Graduação: 13,5% vol Graduação: 15% vol
pensados para a mesa, sempre se des- Preço: 24€ Preço: 23,50€
piram da pretensão da extracção exa-
gerada, da fruta madura em excesso, Branco de Arinto com longo Um Touriga Nacional de sabor
da polidez inócua ou da doçura fácil estágio em barricas novas, o que intenso (muita fruta vermelha e
mas cansativa. José Maria Soares Fran- é bem perceptível na prova. Um preta madura, toque químico
co reformou-se em Agosto, mas conti- vinho gordo, volumoso e tipo tinta-da-china, alguma
nua como consultor da Duorum. Se fresquíssimo. Por agora, as notas especiaria) mas com um volume
não bastasse a exigência de João Por- fumadas sobrepõem-se à fruta, de álcool excessivamente alto
tugal Ramos, poderíamos sempre de recorte mais cítrico, num jogo (15%). À primeira impressão, nem
contar com ele a segurar a essência do sensorial que só o tempo parece, porque, não sendo muito
projecto. harmonizará, embora o final já extraído, nem denso, para os
Vale, por isso, a pena experimentar seja arrebatador. Possui um cânones do Douro, revela-se bem
este delicioso Vinhas Velhas de 2017 à enorme potencial. É um daqueles digestivo - há sempre um lado
luz do seu contributo para o Douro brancos para comprar e balsâmico e cítrico refrescante
velho que se fez novo nos vinhos de esquecer na garrafeira durante na Touriga Nacional. Mas o álcool
mesa. Para sublinhar a expressão dos uns bons anos. P.G. está lá. E está lá também uma
aromas vincadamente durienses, a ligeira secura tânica, embora
presença discreta da madeira, a estru- esta desapareça com a comida
tura de taninos macia mas sólida, o certa. P.G.
balanço e o Ænal preciso e seco. Sim,
um daqueles vinhos que apetece mas-
tigar. Um vinho com a chancela de um
mestre. Manuel Carvalho
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instaFugas
#FugasPorPortugal
Mostre-nos o melhor do país, de Norte a Sul, da costa
ao interior, passando pelas ilhas. A Fugas (@fugaspublico)
quer ver por onde anda e quer ver qual é a sua melhor foto
de um recanto único de Portugal.
anitados7oficios
Um postal de Inverno de Alfândega da Fé.
Pela lente de @anitados7oficios.
ConƊnamento:
olhar melhor o que nos rodeia
a O conÆnamento obriga-nos a são da marginal de Leça da Palmeira duas estrelas Michelin. A particula-
uma restrição de circulação que, e são também dois aspectos emble- ridade que me faz enviar estas foto-
além de necessária, deve ser cum- máticos da zona: um é o farol de graÆas é que ambas foram feitas pelo sarapvarela
prida. Esta restrição de espaço faz Leça e o outro é a Casa de Chá da meu neto, Tiago Gomes, de oito anos Já está a pensar no próximo Verão?
com que olhemos melhor o que nos Boa Nova, desenhada por Siza Vieira de idade, a quem bastou atravessar Nós também. E a culpa é da Sara Varela,
rodeia. As duas fotograÆas que envio e que agora é um restaurante com a rua. Lourenço Gomes que nos leva até às águas da Madeira.
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como tal, não tem onde se queira conceder à canja. Pode não tem cenouras. Esqueça as bem sem ele. De preferência será
esconder. perder a cabeça ou pode ser cenouras. Eu sei que é difícil, e que um caldo bio mas, em caso de
A canja rica da Maria João dá forreta. O que perde na canja, não se consegue à primeira, mas aperto, poderá ser um dos caldos
canja para jantar três ou quatro dias ganha no guisado. E vice-versa. comece já a preparar-se. do diabo.
(duas pessoas a alambazar-se) e Mas, se me permite, o guisado Coza tudo durante 15 minutos. Finda a meia hora tiram-se a pele
frango guisado para almoçar três ressente-se menos dos roubos e Parece-lhe pouco? Também a mim! e os ossos e dividem-se as cebolas,
ou quatro vezes (a receita do uma canja rica cheia de carnucha é Mas note-se que são 15 minutos sob para deslizarem melhor pelas
Miguel Esteves Cardoso guisado Æcará para outro dia). São uma rara alegria, pela qual vale a pressão. Numa panela de pressão gargantas dos comensais.
muitas refeições e, como tal, pena fazer sacrifícios que não normal poderiam ser 20, não sei Finalmente (é mais um momento
justiÆca-se gastar vinte euros para custam nada, como guardar alguma nem consegui saber, não quiseram polémico), entorna-se a canja para
a Estamos conÆnados, está frio e comprar um frango grande que chicha para a canjica. dizer-me. um tupperware e põe-se no
ainda só passou um terço do tenha passado a vida a fazer o que A Maria João usa um Instant Pot Depois deixa-se Æcar 30 minutos frigoríÆco, onde passará doze horas
Inverno. Se isso é uma pergunta, a os frangos gostam de fazer de livre para tudo (está para a panela de sem fazer nada. É outro segredo. a pensar e a separar-se da gordura.
resposta é canja. vontade. pressão como o computador Há quem diga (estou a inventar) Doze horas depois tira-se a
A resposta “canja” é sempre bem Compre o frango cortado aos portátil está para o ábaco), mas que é neste período que se dá a gordura que subiu à superfície,
dada. Até Maimonides gabou os pedacinhos. Os talhantes sabem pode-se usar o tacho que se quiser. cozedura profunda, em que os junta-se o arroz que se cozeu à
efeitos curativos da canja, no século cortá-lo como deve ser, para fazer Ponha os pedacinhos de frango tecidos cedem os perfumes parte (não quero falar mais nesse
em que se fundou Portugal: o frango na púcara ou frango num tacho grande com três talos de secretos, invadindo o caldo dos assunto)...e a canja está pronta.
décimo segundo. estufado. Separe os miúdos, o aipo (o segredo, indispensável), aromas da antiga Pérsia. Logo à segunda colherada ouvirá
A canja vem da China - já com a pescoço, as asas, as moelas, as patas quatro ou cinco cebolas, muita Falando em caldos, também é a Primavera, em bicos de pés, a
massinha - mas foram os e quaisquer outros pedacinhos que salsa, muita água e sal. Repare que preciso um, embora também Æque aproximar-se.
portugueses que lhe deram um NATALY HANIN
jeitinho ocidental, substituindo a
massinha por arroz. Sim, já sei que
o arroz veio da Índia mas deu-se
bem por estes lados e ainda hoje,
em território português, em pleno
século XXI, é quase impossível
evitar discussões violentas acerca
do tipo de arroz (ou de massinha!)
que mais se adequa à canja.
Aviso já as almas mais arrepiáveis
que a receita de canja que vou
apresentar hoje inclui um
pormenor chocante: o arroz é
cozido à parte e só depois é
acrescentado à canja já feita.
Já veio tarde o aviso para os
cardíacos? Peço desculpa. Em
minha defesa, a autora da receita é
a Maria João e não tenho qualquer
input na criação, não me sendo
reconhecida nenhuma autoridade
na matéria, não obstante décadas
de protesto e de diplomacia.
O que eu sei é que a canja é muito
boa e é com esse espírito que eu me
presto a divulgar o modo da feitura
dela.
É cansativo mas inevitável
recomendar que se arranje um
frango bio ou, não havendo
certiÆcação, com qualidade de
vida. A boa canja depende de uma
boa galinha. É assim com todos os
ingredientes. Se o frango for de
aviário, mais vale assá-lo ou
cozinhá-lo de outra maneira. Uma
canja é um cozido de galinha e,
FUGAS N.º 1070 FICHA TÉCNICA Fotografia da capa: Adriano Miranda Direcção Manuel Carvalho Edição Sandra Silva Costa Edição fotográfica Nelson Garrido Directora de Arte Sónia Matos Designers Joana Lima e José Soares
Infografia Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, José Alves e Francisco Lopes Secretariado Lucinda Vasconcelos Fugas Rua Júlio Dinis, nº270, Bloco A, 3º, 2, 4050-318 Porto. Tel.: 226151000. E-mail: fugas@publico.pt. www.publico.pt/fugas
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