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Introdução:

Visto de uma maneira simples, o ciclo de vida do edifício pode ser dividido em três etapas: a etapa
de construção, a etapa de operação/uso do prédio, quando este está ocupado, e a última etapa, referente
à sua demolição, após a perda de seus atributos de interesse comercial.
A manutenção predial está bastante relacionada à operação do edifício, o que a coloca em
condições de produzir excelentes resultados em termos de bem-estar, saúde, segurança e produtividade
dos ocupantes do edifício.

Figura 1.4 - A influência da manutenção na vida útil Fonte: RESENDE, BARROS e MEDEIROS, 2011, adaptada

Lutzkendorf e Lorenz (2005) enfatizam que a a importância do bem-estar dos seus usuários, tema
este diretamente ligado à qualidade dos serviços e atividades executadas no ambiente.
A escolha de um sistema de ar condicionado para exemplo de aplicação de estratégias de
manutenção e técnicas preditivas se justifica por várias razões, tais como:
• Alto custo de implantação, as atividades de manutenção sobre o mesmo se justificam como forma
de conservação de um patrimônio essencial para o edifício;
• Seu mau funcionamento pode provocar mal-estar, danos à saúde e queda de produtividade dos
trabalhadores.
• Consumo de energia desse tipo de sistema é responsável por cerca de 35 a 55%. Assegurar que os
equipamentos funcionem em acordo com as especificações e na faixa de desempenho previsto pode
significar uma redução sensível de consumo de energia. De acordo com PECI apud Chimack, Aardsma e
Novosel (2006) , em torno de 15 a 20% dos gastos com energia podem ser reduzidos com a implantação de
um programa de manutenção;
• Má qualidade do ar interior e falta de conforto térmico está associado a 75% dos edifícios com baixa
qualidade do ar e pode acabar levando à síndrome dos edifícios doentes (CHIMACK; AARDSMA; NOVOSEL, 2006). Uma
adequada manutenção pode evitar isso

• De acordo com o WBDG (2010) num edifício os gastos com salários de funcionários chegam a 84% dos custos
totais de uma organização, enquanto o consumo de energia é de cerca de 1%, e, manutenção e aluguel representam,
respectivamente, 1% e 14%. Um ambiente de trabalho confortável e saudável, com adequada manutenção de seus
sistemas, pode acarretar um aumento da produtividade cujo benefício pode superar os custos com as melhorias
realizadas. Para se ter uma idéia do montante da redução de custos e ganhos de produtividade que um ambiente
saudável pode provocar, na tabela 1.1 são apresentados valores para os E.U.A. estimados por Fisk (2000).
Tabela 1.1 - Estimativa de ganhos potenciais de produtividade devido melhorias nas condições de conforto
do ambiente interior - em 1996

E.U.A.
Potencial
Fontes de ganho Potencial anual de benefícios anual de
de para a saúde economia ou
produtividade de ganhos de
produtividade
US$
Redução de 16 a 37 milhões de casos evitados de 6 - 14 bilhões
doenças resfriados ou gripes
respiratórias
Redução de 8% a 25% de diminuição dos sintomas 1 - 4 bilhões
alergias e asmas entre os 53 milhões que sofrem com
alergias e 16 milhões que são asmáticos
Redução dos sintomas 20% a 50% de redução nos sintomas de 10 - 30
da Síndrome dos Síndrome dos Edifícios Doentes bilhões
Edifícios Doentes frequentemente vivenciados no trabalho
por cerca de 15 milhões de
trabalhadores
Melhoria do Não aplicável 20 - 160
desempenho devido bilhões
ajustes da temperatura
ambiente e da
iluminação

Manutenção Preventiva Baseada em Condição (MP-BC)

A manutenção preventiva baseada em condição (MP-BC), também conhecida como Manutenção


Preditiva (MPd) ou Manutenção Baseada em Monitoramento de Condições, é comumente conhecida língua
inglesa como Condition-Based Maintenance (CBM), Predictive Maintenance (PdM) ou Predictive Testing
and Inspection (PT&I).
Seu desenvolvimento aconteceu principalmente nos últimos 30 anos, devido ao desenvolvimento
de estudos, softwares e de aparelhos de coleta, tratamento e interpretação de dados de máquinas, bem
como à introdução dos computadores no dia-a-dia das áreas de manutenção.
Diferentemente da manutenção preventiva periódica, que executa serviços no ativo mesmo que
não existam defeitos aparentes, a gestão de manutenção preventiva baseada em condição somente realiza
intervenções em equipamentos após a constatação de um defeito real e da avaliação da evolução de sua
deterioração.
Esse tipo de manutenção consiste na inspeção e medição (monitoramento) de parâmetros de
funcionamento de máquinas e sistemas por meio de aparelhos específicos, especialmente desenvolvidos
para essa finalidade.
A condução regular de manutenção preventiva baseada em condição apresenta resultados
bastante diferenciados se comparados em relação à manutenção preventiva periódica.
Na MP-BC, além das vantagens citadas para o caso da manutenção preventiva periódica e do
incremento das mesmas conforme indicado na tabela 3.5, ocorrem os seguintes benefícios principais
(SULLIVAN et al., 2010; IAEA, 2007; CHIMACK; AARDSMA; NOVOSEL, 2006):
8 a 12% de redução de custos em relação à manutenção preventiva periódica;
30 a 40% de redução de custos em relação à manutenção corretiva;
35 a 45% de redução nos tempos de parada para manutenção;
Eliminação de 70 a 75% das paradas não programadas;
20 a 25% de incremento na capacidade de produção.
Tabela 3.5 - Aspectos positivos e negativos da Manutenção Preventiva Baseada em Condição

Aspectos Positivos Aspectos Negativos

 Elimina a maioria dos aspectos negativos  Necessidade de bom treinamento e


das manutenções corretiva e preventiva. certificação para o pessoal técnico.
 Total integração com o planejamento dos  Difícil aplicação a ativos com
recursos. Reforça as ações características pouco conhecidas.
preventivas/constante avaliação dos riscos.  A variabilidade de carga/produção e
 Somente são realizados os reparos velocidade na operação dos ativos leva
necessários. a riscos de detecção do defeito em
 Reduz as interrupções de funcionamento. tempo suficiente para evitar a falha.
 Reduz o risco de falhas catastróficas.  Risco na determinação dos intervalos de
 Previne e diminui a taxa de falhas. inspeção para acompanhamento da
 Aumenta a vida útil do ativo e diminui seu evolução de um defeito após sua
custo de ciclo de vida. detecção.
 Aumenta a capacidade de programação de  Oferece riscos na determinação dos
serviços permitindo melhor aproveitamento parâmetros de alerta, alarme e máximos
de recursos e pessoal. admissíveis antes da falha.
 Melhora o desempenho/eficiência.  Exige muito planejamento de serviços e
 Diminui perdas de energia e insumos. administração de materiais.
 Aumenta a disponibilidade e a
confiabilidade.
 Aumenta a produtividade.
 Melhora a qualidade dos produtos.
 Reduz os custos com mão de obra e peças.
 Aumento da eficiência geral das instalações.

Fonte: CHIMACK; AARDSMA; NOVOSEL, 2006; SULLIVAN et al., 2010; NASA, 2008, adaptadas

Feit apud Chimack, Aardsma e Novosel (2006) relata um estudo de caso numa empresa fabricante
de plásticos, onde, em quinze anos de implantação de MP-BC, a eficiência operacional da fábrica cresceu
de 85 para 99%, permitindo dobrar a capacidade de produção praticamente sem investimentos.
Além disso, o programa de análise de vibração aumentou a produtividade e diminuiu a frequência
de reparos não programados de 33% para valores entre 3 a 4%.
Todos esses benefícios são resultado da capacidade da MP-BC em detectar e antever a falha.
Essa situação proporciona uma condição de planejamento dos serviços, preparação de
material/peças e mão de obra bastante apuradas, e somente intervir no equipamento no momento mais
oportuno.
Essa característica de gestão produz benefícios em cascata que levam a uma melhora substancial
no desempenho das instalações como um todo.
Análise de Vibração

Aplicada principalmente em máquinas rotativas e estruturas industriais, a análise de vibração é


uma das técnicas de grande resultado efetivo em manutenção baseada em condição.
Seu princípio de funcionamento se baseia na medição da oscilação de um corpo em torno de sua
posição de equilíbrio.
Qualquer máquina é formada por diversos componentes articulados, que uma vez em movimento,
devido às tolerâncias de montagem e ajustes de acoplamento, ficam sujeitos a uma oscilação característica.
Essas vibrações se transmitem a todo o conjunto da máquina, terminando por produzir um
espectro de frequências próprio daquele sistema, sua assim chamada “assinatura”.
A análise dessa “assinatura” possibilita verificar se o equipamento está em condições normais de
funcionamento ou com algum defeito incipiente que pode levar a uma falha.
Em caso de defeito, pode-se identificar o componente envolvido e seu estado de degradação,
determinando-se a gravidade da deficiência detectada. Segundo Marçal (2000, p.31),
Cada vez que uma peça altera suas características mecânicas por desgaste ou
trinca, uma componente de frequência do sistema será alterada. Havendo
alteração no acoplamento entre as peças altera o coeficiente de transmissão do
sinal entre as peças e, em consequência, a forma de frequência global do sistema.
Folgas, defeitos ou desalinhamentos de rolamentos ou mancais de máquinas
rotativas refletem-se na alteração de frequências ou surgimento de novas
frequências.

De excelente resultado para a gestão de ativos, esta técnica aplicada em equipamentos rotativos,
tais como, motores, bombas, turbinas, compressores, motores, redutores, agitadores, ventiladores,
sopradores e eixos, entre outros, possui probabilidade de detecção de defeitos de 92% e de alarme falso de
8% (NASA, 2008).

Exemplos de aplicação

a) Defeito em pista de rolamento de bomba de água gelada:


A figura 4.3 mostra os dados de nível global obtidos do programa de monitoramento de vibração
de rolamentos numa bomba de água gelada durante 31 meses.
Nesse tipo de gráfico é costume indicar duas linhas de referência.
A de atenção mostra que o valor medido se aproxima de valores máximos permissíveis.
O de alarme indica que o reparo deve ser feito com urgência.
Nota-se na figura que apesar das medições indicarem valores razoavelmente estáveis, a última
revela um aumento abrupto que ultrapassa em muito a linha de referência de alarme.

Figura 4.3 - Curva de tendência do valor global de vibração de rolamentos Fonte: STEVENS, 2011, adaptada
Após a análise de vibração da bomba e obtido seu espectro mostrado na figura 4.4.(a), de acordo
com Stevens (2011) se percebe uma freqüência de defeito calculada em 192,5 Hz, o que, no caso, indica
uma anomalia na pista interna do rolamento.

Figura 4.4 (a) - Espectro de vibração que indica defeito na pista interna de rolamento (192,5 Hz) Fonte:
STEVENS, 2011, adaptada

A figura 4.4.(b) mostra o defeito na pista do rolamento (trinca no material).

Figura 4.4 (b) – Defeito (trinca) encontrado em pista de rolamento


Fonte: STEVENS, 2011
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b) Compressor centrífugo desbalanceado:


O gráfico de tendência da figura 4.5 mostra um aumento substancial no valor da vibração medida
num compressor centrífugo que ultrapassa a linha de alarme (STEVENS, 2011).

Figura 4.5 - Gráfico de tendência de amplitude global do compressor centrífugo Fonte: STEVENS, 2011,
adaptada

Na figura 4.6.(a) temos o espectro de vibração que mostra um pico na frequencia de 1075 Hz.
Realizado o balanceamento, a figura 4.6.(b) mostra que a ação solucionou o defeito, trazendo a vibração a
valores aceitáveis (STEVENS, 2011).

Figura 4.6 (a) - Espectro de frequências de compressor centrífugo com desbalanceamento Fonte:
STEVENS, 2011, adaptada
Figura 4.6 (b) - Espectro de frequências do compressor centrífugo após balanceamento Fonte:
STEVENS, 2011, adaptada

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