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1.

Origem do termo;
Buscando a origem do vocábulo, alguns autores, como Álvaro Villaça Azevedo e Maria
Helena Diniz afirmam que o termo "responsabilidade" deriva do verbo latino respondere, de
spondeo, o qual correspondia à antiga "obrigação contratual do direito quiritário romano, pela qual
o devedor se vinculava ao credor nos contratos verbais, por intermédio de pergunta e resposta
(spondesne mihi dare Centum? Spondeo, ou seja, prometes me dar um cento? Prometo)

2. Origem histórica;
Como já salientado, a atual forma da responsabilidade civil é o produto de uma acentuada
evolução através dos tempos.
Nos primórdios o ofendido reagia ao dano de maneira imediata e brutal, movido por puro
instinto. Nesta época predominava o sistema da vingança privada.
Costuma-se dizer que foi a época da reparação do mal pelo mal. Em tal fase a culpa sequer
era cogitada, bastava o dano, fato que possibilita classificar aquela responsabilidade de objetiva.
Note-se, contudo, que às vezes não era possível ao lesado reagir desde logo, mesmo porque
ele nem sempre estava presente no momento da prática do ato danoso. Nesses casos o castigo era
posterior. A necessidade de regulamentação desse castigo posterior deu origem à pena do “olho por
olho, dente por dente”, prevista na Lei de Talião.
Percebe-se, portanto, que a responsabilidade penal é anterior à responsabilidade civil,
podendo ser afirmado que esta evoluiu a partir daquela, que, no entanto, continua a existir em
ramificação distinta do direito. Enquanto a responsabilidade civil integra o direito privado, a
responsabilidade penal está inserida no âmbito do direito público.
Após esse período surge o da composição voluntária, com o qual o ofendido passou a ter a
faculdade de substituir a retaliação ao agente por uma compensação de ordem econômica. Passa o
lesado a perceber as vantagens advindas desta mudança de conduta junto ao causador do dano. É o
dinheiro substituindo o castigo físico. Nessa fase a culpa ainda não é cogitada como elemento
necessário à indenização, ou seja, a responsabilidade é objetiva, já que dispensa a análise da culpa.
É de se notar que não é só a responsabilidade que evolui com o passar do tempo. Todo o mundo vai
se modificando, nas mais diversas áreas possíveis e imagináveis.
Eis que com a alteração na estrutura estatal, mais precisamente com o surgimento de uma
autoridade soberana, ocorre a proibição à vítima de fazer justiça com as próprias mãos. Com isso o
Estado substitui o lesado na tarefa de dosar a pena ao agente causador do ato danoso e, então, a
composição deixa de ser voluntária para ser obrigatória. Há a tarifação dos danos, sendo estipulado
um determinado preço para cada tipo de lesão. Nessa época, na qual foram elaborados os Códigos
de Ur Manu, de Manu e da Lei das XII Tábuas, a responsabilidade era objetiva, prescindindo da
verificação da existência da culpa.
Entretanto, com os romanos começou a ser delineado um esboço de diferenciação entre pena
e reparação, através da distinção entre delitos públicos e delitos privados. Enquanto nestes a
autoridade intervinha apenas para fixar a composição, naqueles, por serem as ofensas consideradas
mais graves e perturbadoras da ordem, o réu deveria recolher a pena a favor dos cofres públicos.
Ainda aqui a reparação era objetiva, isto é, independente da análise da culpa.
Vale mencionar que data dessa época a origem da ação de indenização, fato que, na Idade
Média, colocou a responsabilidade civil ao lado da penal, distinguindo-as. Nessa fase é que,
também, se verifica o aparecimento da responsabilidade contratual.
É de se ressaltar, ainda, a importância da Lei das XII Tábuas para os romanos,
principalmente devido ao fato de ter ela representado a passagem da norma consuetudinária para a
lei escrita. Sua vigência durante cerca de novecentos anos em Roma já é capaz, por si só, de
demonstrar a relevância que teve sobre os habitantes do local. As penas impostas por ela iam desde
a multa até o exílio, da prisão até a morte, sendo certo que muitas delas tinham por base a sanção da
retaliação (pena de Talião).
Com a Lei Aquília desponta um princípio geral da reparação do dano, sendo desta época as
primeiras ideias acerca da noção de culpa. É a responsabilidade ganhando traços subjetivos, com a
necessidade da averiguação da culpa do agente para a caracterização da obrigação de ressarcir.
Nessa fase, além do distanciamento da responsabilidade objetiva, houve a cristalização da reparação
pecuniária.
Já na Idade Média, notadamente na França, o pensamento dos romanos foi sendo
aperfeiçoado. Evoluiu-se da enumeração dos casos de composição obrigatória para um princípio
geral, culminando, passo a passo, na consagração do princípio aquiliano, segundo o qual a culpa,
ainda que levíssima, obriga a indenizar. Após a Revolução Francesa (1789), já na Idade
Contemporânea, surge o Código de Napoleão, com a previsão da responsabilidade contratual, bem
como é feita a distinção entre a responsabilidade penal e a civil.
O direito francês influenciou vários povos e, por consequência, a legislação de vários países,
inclusive do Brasil. Assim, ainda que via reflexa, o atual Código Civil e especialmente o revogado
Código Civil de 1916, cuja vigência se estendeu até 2002, tiveram aquele Códex como fonte
inspiradora, o que levou a consagração da teoria da culpa como regra no campo da responsabilidade
civil.
Foi assim com o Código Civil de 1916 que, em seu famoso artigo 159, dispunha:
“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar
direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”.

3. A responsabilidade civil;
A ideia de responsabilidade está sempre vinculada àquela de responder por alguma coisa.
A responsabilidade civil, segundo Serpa Lopes, "significa a obrigação de reparar um
prejuízo, seja por decorrer de uma culpa ou de uma outra circunstância legal que a justifique, como
a culpa presumida, ou por uma circunstância meramente objetiva".
Ao definir a responsabilidade civil, Caio Mário da Silva Pereira, após deter-se nas diversas
definições ofertadas por outros doutrinadores, leciona que ela "consiste na efetivação da
reparabilidade abstrata em relação a um sujeito passivo da relação jurídica que se forma. Reparação
e sujeito passivo compõem o binômio da responsabilidade civil, que então se enuncia como o
princípio que subordina a reparação à sua incidência na pessoa do causador do dano".
Analisando o instituto, Álvaro Villaça Azevedo aduz que "responsabilidade civil é a situação
de indenizar o dano moral ou patrimonial, decorrente de inadimplemento culposo, de obrigação
legal ou contratual, ou imposta por lei."
Desse modo, ante as definições acima transcritas, afirmamos que a responsabilidade civil
corresponde ao dever de determinado sujeito de reparar o prejuízo sofrido por outrem, em razão de
um acordo anteriormente firmado, ou por imposição de lei.
A responsabilidade civil está sempre vinculada à ideia de reparar o dano causado. Sabemos,
é claro, que em determinados casos, mesmo havendo p prejuízo causado, não há a imputação do
dever de indenizar.
No tocante à reparabilidade de dano entre conviventes, pode-se aplicar a mesma definição
até aqui analisada, como veremos mais adiante.

4. Os pressupostos da responsabilidade civil;

Apesar da doutrina ser divergente entre os pressupostos necessários para a ocorrência da


responsabilidade civil, aponta-se três fatos necessários para sua caracterização: a) ação (comissiva
ou omissiva); b) dano; c) nexo de causalidade (entre o dano e a ação). Já outros doutrinadores
descrevem a existência da culpa como um pressuposto da responsabilidade civil.

5. Causas excludentes;

Até o presente momento viemos tratando da imputação da responsabilidade. Contudo, é


imprescindível estudar as formas de defesa do autor do dano. Isto é, é importante examinarmos as
causas de isenção ou exoneração da responsabilidade.

As causas de exoneração, em regra, atuarão no nexo de causalidade. Em outras palavras, as


hipóteses de exclusão de responsabilidade, normalmente, interromperão o nexo causal dirigido à
produção do dano.

Dessa forma, o estudo do nexo de causalidade toma grande relevância dentro da


responsabilidade civil, especialmente se considerarmos o alargamento das hipóteses de
responsabilidade sem culpa. Geralmente são elencadas como excludentes de responsabilidade: i)
estado de necessidade e legítima defesa; ii) culpa exclusiva da vítima; iii) fato exclusivo de terceiro;
iv) caso fortuito ou força maior; e v) cláusula de não indenizar.

5.1. Estado de necessidade e legítima defesa


Nem sempre haverá coincidência entre dano e ilicitude. Existem situações que exigem uma
atuação danosa do agente, apesar de não serem considerados atos ilícito. Nos termos do art. 188 do
Código Civil, quem pratica ato em estado de necessidade ou legítima defesa não pratica ato ilícito.

A legítima defesa ocorre quando o agente, usando moderadamente dos meios necessários,
repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Trata-se de uma hipótese de
autotutela. Ou seja, quando não é possível esperar a atuação estatal na defesa de um direito, é
concedido ao particular defendê-lo.

O estado de necessidade, por sua vez, ocorre quando alguém deteriora ou destrói coisa
alheia ou causa lesão em pessoa, a fim de remover perigo iminente. Registre-se que, conforme
dispõe o parágrafo único, o ato só será legítimo quando as circunstâncias o tornarem absolutamente
necessário, sendo vedado o excesso ao indispensável para a remoção do perigo.

A questão que se coloca é: se a legítima defesa e o estado de necessidade são excludentes de


ilicitude, fica excluída, também, o dever de indenizar? A resposta é no sentido negativo. Embora a
lei declare que o ato praticado em estado de necessidade ou legítima defesa não é ato ilícito, nem
por isso libera quem o pratica de reparar o prejuízo.

No caso de estado de necessidade, o autor do dano responde perante o lesado, se este não
criou a situação de perigo. Todavia, caso a situação de perigo tenha sido criada por um terceiro, terá
ação regressiva em face do terceiro. É o que se extrai da conjugação dos arts. 929 e 930 do Código
Civil.

Na hipótese de legítima defesa, a solução é um pouco diferente. Se o ato foi praticado contra
o próprio agressor, e em legítima defesa, não pode o agente ser civilmente responsabilizado pelos
danos causados. Entrementes, se o dano foi causado a terceiro, então aquele que atuou em legítima
defesa será obrigado ressarcir o lesado, cabendo, é claro, ação regressiva contra o agressor. A
solução está prevista no parágrafo único do art. 930.

A ideia que está na base destas situações reguladas no direito privado aflora do mesmo modo
em outras situações compreendidas no direito público, como as desapropriações, cuja disciplina
cabe ao direito administrativo. A utilidade pública de certos fins legitima a apropriação coercitiva
dos bens dos particulares por parte do Estado; mas não justifica que a realização do fim de utilidade
pública visado pela apropriação coercitiva da coisa se obtenha à custa discriminada de um ou alguns
particulares.

Se o ato lesivo é lícito, ao mesmo tampo não é justo (no plano da justiça comutativa ou
distributiva) que ao interesse coletivo, ou ao interesse qualificado da pessoa, se sacrifique sem
nenhuma compensação os direitos de um ou mais particulares.

5.2 Culpa exclusiva da vítima e Culpa concorrente


Se é certo que só se responde perante o dano a que tenha dado causa, é certo, também, que
ninguém pode ser obrigado a indenizar por um resultado a que não tenha causado.
Nesse diapasão a primeira causa de exclusão é o chamado fato exclusivo da vítima, também
denominado culpa exclusiva da vítima. A conduta da vítima poderá importar ou na exclusão da
responsabilidade ou na atenuação no dever de indenizar. Antes, porém, é preciso alertar acerca da
terminologia em si.

Apesar do código e da doutrina se utilizarem da expressão culpa, em verdade, a questão de


fundo é a causa. Em outras palavras, o problema desloca-se da culpa para o nexo causal. Com
efeito, a responsabilidade será excluída em razão da conduta danosa ser oriunda da própria vítima e
não da sua culpa. Sendo assim, não é o grau de culpa, mas a efetiva participação na produção do
evento danoso que deve determinar o dever de indenizar.

Quando ocorrer fato exclusivo da vítima, portanto, fica eliminada a responsabilidade do


agente em razão da interrupção do nexo de causalidade. Ou seja, nesse caso deixa de existir a
relação de causa e efeito entre o ato do agente e o prejuízo experimentado pela vítima.

Todavia, o ato da vítima pode não ser suficiente para a produção do dano, mas somente
quando aliada à conduta do agente. Nesses casos, estaremos discorrendo acerca da chamada culpa
concorrente. Nesse peculiar, a conduta do agente e da vítima concorrem para o resultado em grau de
importância e intensidade de sorte que o agente não produziria o resultado sozinho, contando, para
tanto, com o efetivo auxílio da vítima. Isto é, autor e vítima contribuem para a produção de um
mesmo fato danoso.

Registre-se que na culpa concorrente a consequência jurídica será diferente, pois não será
excluída a responsabilidade, mas apenas atenuada, nos termos do art. 945 do Código Civil.

Não obstante o Código fale em culpa concorrente, é pertinente a crítica referente à culpa
exclusiva. Em verdade a culpa concorrente também atua no plano da causalidade, pois diz respeito à
conduta da vítima.

5.3. Fato exclusivo de terceiro


Por outro lado, é possível que o dano seja produzido não em razão da conduta do agente ou
da vítima, mas da conduta de um terceiro. Nesse sentido, o fato de terceiro também pode servir
como fator de isenção de responsabilidade.

Terceiro é qualquer pessoa além da vítima e o responsável, ou seja, alguém que não tem
nenhuma ligação com o causador aparente do dano e nem com o lesado.

É preciso esclarecer que nem todo fato de terceiro é suficiente para elidir a responsabilidade
do agente. Com efeito, em matéria de responsabilidade civil, predomina o princípio da
obrigatoriedade do causador direto em reparar o dano. O fato de terceiro não exonera o dever de
indenizar, mas permite a ação de regresso em face do terceiro.

Contudo, o fato de terceiro irá exonerar o dever de indenizar quando realmente constitua
causa estranha ao causador aparente do dano, isto é, quando elimine totalmente a relação de
causalidade entre o dano e o desempenho do agente.
Ressalte-se que se houver culpa concorrente do terceiro e do agente causador direto do dano,
sendo solidária a responsabilidade, a vítima poderá acionar qualquer um deles pela totalidade do
prejuízo.

É de se registrar duas questões de direito processual no que tange a fato de terceiro. A


primeira diz respeito à defesa do réu. A sua alegação é matéria de mérito em ação indenizatória e,
portanto, não pode ser suscitada em preliminar de ilegitimidade passiva. É necessária a instrução
probatória para se alcançar qual foi, efetivamente, a causa geradora do dano.
Outra questão processual que se coloca diz respeito à denunciação da lide. O art. 70, III do
CPC determina que a denunciação da lide é obrigatória àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo
contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda.

A questão sobre a obrigatoriedade da denunciação é controvertida. Ela pode ser feita apenas
para efeito de regresso. Mesmo assim, há os que interpretam de forma restritiva o art. 70, III do
CPC, não admitindo a denunciação em todos os casos em que há direito de regresso, mas somente
quando se trata de garantia do resultado da demanda, ou seja, quando, resolvida a lide principal,
torna-se automática a responsabilidade do denunciado, independentemente de discussão sobre sua
culpa ou dolo.

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