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Gestão e Contabilidade Empresarial

2019/2020

Guia de Estudo

Capítulo 5
Capítulo 5 – Ajustamentos, demonstrações
financeiras e qualidade dos resultados
Sumário:
 Regime do acréscimo
 Imparidades

Regime do acréscimo

§ 22 da Estrutura conceptual do SNC

“A fim de satisfazerem os seus objetivos, as demonstrações financeiras são preparadas


de acordo com o regime contabilístico do acréscimo. Através deste regime, os efeitos das
transações e de outros acontecimentos são reconhecidos quando eles ocorram (e não
quando caixa ou equivalentes de caixa sejam recebidos ou pagos) sendo registados
contabilisticamente e relatados nas demonstrações financeiras dos períodos com os quais
se relacionem. As demonstrações financeiras preparadas de acordo com o regime de
acréscimo informam os utentes não somente das transações passadas envolvendo o
pagamento e o recebimento de caixa, mas também das obrigações de pagamento no
futuro e de recursos que representem caixa a ser recebida no futuro. Deste modo,
proporciona-se informação acerca das transações passadas e outros acontecimentos que
seja mais útil aos utentes na tomada de decisões económicas.”

Acréscimo de rendimentos: Rendimentos a reconhecer no próprio exercício, ainda que


não tenham documentação vinculativa, cuja receita só venha a realizar-se em exercício
ou exercícios posteriores.

Acréscimo de gastos: Gastos a reconhecer no próprio exercício, ainda que não tenham
documentação vinculativa cuja despesas só venha a ocorrer em exercício ou exercícios
posteriores.

Gastos a reconhecer: Gastos que devam ser reconhecidos no exercício ou nos exercícios
seguintes, cujo pagamento já ocorreu neste exercício.

Rendimentos a reconhecer: Rendimentos que devam ser reconhecidos no exercício ou


nos exercícios seguintes, cujo recebimento já ocorreu neste exercício.

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O quadro que se segue sintetiza os conceitos económicos (gastos e rendimentos) e
financeiros (despesas e receitas) subjacentes à movimentação das contas de acréscimos
e diferimentos:

Fluxos económicos Fluxos financeiros


Conta
Rendimento Gasto Receita Despesa
Acréscimo de rendimentos N N+1
Acréscimos de gastos N N+1
Rendimentos a reconhecer N+1 N
Gastos a reconhecer N+1 N

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Exemplos:

Acréscimos de rendimentos:

A empresa tem um depósito bancário (já contabilizado), que vence juros anuais no final
de Março de N+1, no valor de 240 €.

Ano N

Descrição Débito Crédito Valor


Acréscimo de Juros e rendimentos
Acréscimo de rendimentos 180
rendimentos similares
9 meses de juros referentes a N  240 / 12 x 9 = 180 €

Ano N + 1

Descrição Débito Crédito Valor

Recebimento dos juros Depósitos à ordem 240


Acréscimo de
180
rendimentos
Juros e rendimentos
60
similares
3 meses de juros referentes a N + 1  240 /12 x 3 = 60 €

Ano N Ano N + 1

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Acréscimos de gastos:

No período N a empresa incorreu em gastos com energia no valor de 500 € que serão
faturados em N+1.

Ano N

Descrição Débito Crédito Valor


Fornecimentos e
Estimativa energia Acréscimos de gastos 500
serviços externos

Ano N+1

Descrição Débito Crédito Valor

Pagamento Energia Acréscimos de gastos Depósitos à ordem 500

Ano N Ano N + 1

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Gastos diferidos:

Pagamento em 1 dezembro de N do seguro anual de incêndio relativo ao período de N+1,


no valor de 800 €.

Ano N

Descrição Débito Crédito Valor

Pagamento seguro Gastos a reconhecer Depósitos à ordem 800

Ano N+1

Descrição Débito Crédito Valor


Fornecimentos e
Reconhecimento do gasto Gastos a reconhecer 800
serviços externos

Ano N Ano N + 1

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Rendimentos diferidos:

No período N, empresa recebeu juros antecipados do banco relacionados com um depósito


a prazo no valor de 1.200 € que se refere ao período de 1 de setembro de N a 30 de
agosto de N+1.

Ano N

Descrição Débito Crédito Valor

Recebimento dos juros Depósitos à ordem 1.200


Rendimentos a
800
reconhecer
Juros e rendimentos
400
similares

Ano N+1

Descrição Débito Crédito Valor


Reconhecimento do Rendimentos a Juros e rendimentos
800
rendimento reconhecer similares

Ano N Ano N + 1

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Outros exemplos:

Exemplo 1:

A empresa tem um depósito a prazo no valor de 24.000 euros. Esta aplicação foi
constituída em 1 de setembro de N e vencerá juros, a 28 de fevereiro de N+1, à taxa
anual de 1%. Os juros serão lançados na conta de depósitos à ordem da empresa, apenas
no dia 28 de fevereiro de N+1.

Proceda ao registo no diário em N.

Descrição Débito Crédito Valor


Acréscimo de Juros e rendimentos
Juros de N (4 meses) 80
rendimentos similares

Exemplo 2:

Em dezembro de N, a empresa pagou as rendas de um escritório, no valor de 3.000 €.


Este valor refere-se aos meses de dezembro de N e de janeiro de N+1.

Proceda ao registo no diário em N.

Descrição Débito Crédito Valor


Pagamento das rendas de Fornecimentos e
1.500
dezembro e janeiro serviços externos
Gastos a reconhecer 1.500
Depósitos à ordem 3.000

Exemplo 3:

A empresa contraiu um financiamento bancário no valor de 100.000 €. Relativamente a


este financiamento, a empresa paga juros ao banco no dia 30 de setembro de cada ano.
No dia 30 de setembro de N+1, pagará juros relativos ao período de 30 de setembro de
N a 30 de setembro de N+1. O valor estimado para os juros relativos ao 4.º trimestre de
N é de 1.000 €.

Proceda ao registo no diário em N.

Descrição Débito Crédito Valor


Juros e gastos
Juros 4º trimestre de N Acréscimos de gastos 1.000
similares

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Exemplo 4:

A empresa detém a propriedade de um armazém que não necessita e decidiu há já algum


tempo arrendá-lo a uma outra empresa por 1.000 euros mensais. Em dezembro de N a
empresa recebeu a renda referente a janeiro de N+1.

Proceda ao registo no diário em N.

Descrição Débito Crédito Valor


Rendimentos a
Recebimento da renda Depósitos à ordem 1.000
reconhecer

Exemplo 5:

A empresa tem um depósito a prazo no valor de 24.000 euros. Esta aplicação foi
constituída em 1 de setembro de N e venceu juros, a 28 de fevereiro de N+1, à taxa anual
de 1%. Os juros foram lançados na conta de depósitos à ordem da empresa, apenas no
dia 28 de fevereiro de N+1.

Proceda ao registo no diário em N+1.

Descrição Débito Crédito Valor

Recebimento de juros Depósitos à ordem 120


Acréscimo de
80
rendimentos
Juros e rendimentos
40
similares

Exemplo 6:

Em dezembro de N, a empresa pagou as rendas de um escritório, no valor de 3.000 €.


Este valor referia-se aos meses de dezembro de N e de janeiro de N+1.

Proceda ao registo no diário em N+1.

Descrição Débito Crédito Valor


Fornecimentos e
Renda de janeiro Gastos a reconhecer 1.500
serviços externos

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Exemplo 7:

A empresa contraiu um financiamento bancário no valor de 100.000 €. Relativamente a


este financiamento, a empresa paga juros ao banco no dia 30 de setembro de cada ano.
No dia 30 de setembro de N+1, pagou juros relativos ao período de 30 de setembro de N
a 30 de setembro de N+1. O valor estimado para os juros relativos ao 4.º trimestre de N
é de 1.000 €.

Proceda ao registo no diário em N+1.

Descrição Débito Crédito Valor


Juros e gastos
Pagamento de juros 3.000
similares
Acréscimo de gastos 1.000
Depósitos à ordem 4.000

Exemplo 8:

A empresa detém a propriedade de um armazém que não necessita e decidiu há já algum


tempo arrendá-lo a uma outra empresa por 1.000 euros mensais. A renda de janeiro de
N+1 foi recebida em dezembro de N.

Proceda ao registo no diário em N+1.

Descrição Débito Crédito Valor


Rendimentos a Outros rendimentos e
Renda de janeiro 1.000
reconhecer ganhos

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Imparidades

Perda por imparidade é o excedente da quantia escriturada (QE) de um ativo em relação


à sua quantia recuperável (QR).

QR < QE = perda por imparidade

QR > QE = não se procede a nenhum ajustamento

Perda por imparidade de dívidas de clientes

Perda por imparidade de inventários

Perda por imparidade de ativos fixos tangíveis

Perda por imparidade de ativos intangíveis

Perda por imparidade de investimentos financeiros

Imparidade de dívidas de clientes:

Reconhecimento: Quando existir evidência objetiva de que a dívida a receber está em


imparidade porque, por exemplo:

 O cliente está com dificuldades financeiras significativas;


 Houve incumprimento no pagamento da dívida;
 É provável que o cliente entre em falência.

Movimentação contabilística:

Imparidade de dívidas de clientes

Descrição Débito Crédito Valor

Perda por imparidades Perdas por imparidade Clientes QE - QR

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Reversão da imparidade de dívidas de clientes

Descrição Débito Crédito Valor

Reversão da perda por imparidade Clientes Reversões QE - QR

Exemplo 1:

Em 31 dezembro de N a empresa identificou um cliente que tinha ultrapassado o prazo


concedido para pagamento da sua dívida. A empresa após várias tentativas e promessas
de pagamento considerou existir risco de incobrabilidade, com probabilidade significativa
de não vir a receber 70% da dívida de um total de 15.000 €.

No entanto, 6 meses após ter sido identificada esta situação, o cliente pagou
integralmente a sua dívida.

Pedido: Registo no diário de N e de N+1

Ano N

Descrição Débito Crédito Valor

Perda por imparidades Perdas por imparidade Clientes 10.500

Ano N+1

Descrição Débito Crédito Valor

Recebimento do cliente Depósitos à ordem Clientes 15.000

Reversão perda por imparidade de


Clientes Reversões 10.500
clientes

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Exemplo 2:

Em 31 dezembro de N a empresa estava a fazer várias tentativas para o recebimento de


uma dívida em mora do cliente A no montante de 20.000 €.

Três meses após ter sido identificada esta situação, o cliente pagou 55% da sua dívida.

Pedido: Registo no diário de N e de N+1

Ano N

Descrição Débito Crédito Valor

Perda por imparidades Perdas por imparidade Clientes 20.000

Ano N +1

Descrição Débito Crédito Valor

Recebimento do cliente Depósitos à ordem Clientes 11.000

Reversão perda por imparidade de clientes Clientes Reversões 11.000

Imparidade de inventários:

Reconhecimento: Os inventários devem ser valorizados pelo mais baixo de:

a) Custo; ou

b) Valor realizável líquido.

Por vezes, o preço de mercado dos inventários é inferior ao custo. A perda de valor pode
resultar de obsolescência, deterioração física ou quebra de preços no mercado.

Se valor realizável líquido = 2.200

Mercadoria
com valor de NÃO reconhecer a diferença
aquisição de 2.000

Se valor realizável líquido = 1.900

Reconhecer perda por imparidade de 100

Redução valor inventário Perda por imparidade


(Balanço) (DR)

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Quando deixarem de existir os motivos que originaram o registo do ajustamento, é
necessário proceder à sua anulação ou redução.

Se pelo contrário a situação se agravar é necessário reforçar o ajustamento.

Movimentação contabilística:

Imparidade de inventários

Descrição Débito Crédito Valor

Perda por imparidades Perdas por imparidade Mercadorias/ etc. QE - QR

Reversão da imparidade de inventários

Descrição Débito Crédito Valor

Reversão da perda por imparidade Mercadorias /etc. Reversões QE - QR

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Exemplo 1:

A empresa tem em armazém mercadorias que comprou por 300 €. Devido às condições
de mercado espera-se que o preço de venda seja de 250 €.

Descrição Débito Crédito Valor

Perda por imparidades Perdas por imparidade Mercadorias 50


Custo > valor realizável líquido

Perda por imparidade = Custo – valor realizável líquido

Perda por imparidade = 300 - 250

Perda por imparidade = 50

Exemplo 2:

A empresa tem em armazém mercadorias que comprou por 300 €. Devido às condições
de mercado espera-se que o preço de venda seja de 250 €. Estas mercadorias já tinham
uma imparidade registada em N-1 no valor de 20 €.

Descrição Débito Crédito Valor

Perda por imparidades Perdas por imparidade Mercadorias 30


Custo > valor realizável líquido

Perda por imparidade = Custo – valor realizável líquido

Perda por imparidade = 300 - 250

Perda por imparidade = 50

Reforço = 50 - 20

Exemplo 3:

A empresa tem em armazém mercadorias que comprou por 700 €. Devido às condições
de mercado espera-se que o preço de venda seja de 640 €. Estas mercadorias já tinham
uma imparidade registada em N-1 no valor de 100 €.

Descrição Débito Crédito Valor

Reversão da perda por imparidade Mercadorias Reversões 40


Custo > valor realizável líquido

Perda por imparidade = Custo – valor realizável líquido

Perda por imparidade = 700 – 640

Perda por imparidade = 60

Reversão = 100-60

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