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MARCELO CRUZ - PIPA CASA 2019

Como escolher o solo/terra para a fabricação do tijolo


ecológico/solo-cimento?

A escolha do solo ideal é um passo fundamental e de extrema importância que


você deve dar antes de realizar qualquer investimento em equipamentos e
começar a pensar na produção do tijolo.

Sem analisar corretamente o solo você pode acabar com um tijolo mais fraco,
mais caro, sem acabamento e até mesmo nem ser capaz de produzir o tijolo
pois nem todo solo é adequado a fabricação.

Se você já se decidiu a fabricar o seu tijolo é porque já conheceu a técnica e


acredito que, assim como eu, esteja apaixonado pelo sistema, então está na
hora de executar esse passo agora.

De que é composto o solo?

Os solos têm sua origem na decomposição das rochas devido a agentes físicos


e químicos que transformam a rocha matriz em solo em decorrência de
variações de temperatura, a água da chuva e dos rios, o vento ao fazer variar
a umidade do solo, e a presença da fauna e da flora.

Tradicionalmente os sedimentos são divididos em classificações baseadas no


tamanho dos grãos, que podem variar de extremamente pequenos até
maiores como as rochas.

A nomenclatura para a descrição dos tamanhos dos grãos é um fator


importante, porque o tamanho do grão define a maioria das propriedades
básicas dos sedimentos.

a argila (<0,004 mm);


 o silte (0,004–0,064 mm);
 areia fina (0,05 a 0,15 mm);
 areia media (0,05 a 0,15 mm);
 areia grossa (0,84 a 4,8 mm);
 pedregulho (4,8 a 16 mm);
 o seixo (4–64 mm);
 o bloco ou calhau (64–256 mm);
e o matacão (>256 mm).
Encontramos os solos em proporções diferentes e os nomes que são dados
dependem do tipo, finalidade e região do país. Exemplos:

• Piçarra – Rocha muito decomposta e que pode ser retirada com pá ou


picareta.

• Tabatinga ou turfa – Argila com muita matéria orgânica, geralmente


encontrada em pântanos ou locais com água permanente (rios, lagos), no
presente ou no passado remoto.

• Saibro – Terreno formado basicamente por argila misturada com areia.

• Moledo – Rocha em estado de decomposição mas ainda dura, tanto assim


que só pode ser removida com martelete a ar comprimido.
Encontramos basicamente 3 tipos de solos:
Solos Arenosos: Composto predominantemente de grãos grossos, médios e finos de areia. A
areia não tem coesão, os seus grãos são facilmente separáveis uns dos outros, tem alta
permeabilidade de água.

Solos argilosos: Formado por grãos microscópicos, impermeáveis, moldável


com a água formando um barro plástico e viscoso, material coeso, apresenta
dificuldade de separação dos grãos.

Solo Siltoso: O silte fica entre a argila e os grãos de areia, é como um “primo


pobre” dos dois. É um pó como a argila, mas não possuí boa coesão e também
não tem plasticidade quando molhado.

De acordo com uma norma da ABNT, a NBR 6502 sobre Rochas


e solos – Terminologia de 1995, ela define silte como: solo que
apresenta baixa ou nenhuma plasticidade e que exibe baixa
resistência quando seco ao ar. As propriedades dominantes de
um determinado solo são devidas às partes constituídas pela
fração silte.

A olho nu não é possível distinguir o silte das argilas, elas podem ser
separadas devido a sua plasticidade, que é pouca ou nenhuma no caso do
silte.

O silte é produzido pelo esmigalhamento mecânico das rochas, ao contrário da


erosão química que resulta nas argilas. Este esmigalhamento mecânico
pode ocorrer através de abrasão, pela erosão eólica, bem como pela erosão
devido às águas, como nos leitos dos rios e córregos.

O Silte portanto não dá a liga como a argila e não contribui para a resistência
como a areia, por isso um solo quando possuí o excesso de Silte não forma um
bom tijolo.
Qual solo buscamos?

O solo que buscamos é melhor descrito como uma Areia-argilosa, livre de


impurezas e matéria orgânica e quimicamente neutro, com a porcentagem de
areia entre 50 e 75 %. Esta é a margem ideal, pois assim fazemos a mistura
apenas usando o solo e o cimento.

Caso seu solo fuja um pouco essas características, tanto para cima dos 75%
de areia quanto para baixo dos 50% de areia, ainda assim existe a
possibilidade de produção, porém você precisará corrigir o solo para chegar a
mistura ideal que formará um bom tijolo.

Para descobrir o % de areia contido em cada solo é necessário fazer um teste


de granulometria. Para nosso processo, utilizamos uma peneira de malha 200.
O que fica na peneira é areia e o que passa é a argila e o silte. Mostramos o
teste em detalhes em outro capítulo.
Ele deve ser retirado a partir de uma certa profundidade para se chegar a um
solo mais homogêneo. Você não pode pegar uma carrada que tenha
colorações variadas pois isso indica uma variedade de propriedades e
consequentemente não vai conseguir uma padronização dos resultados e
garantir a qualidade.

Corrigindo o solo

Se o solo for muito arenoso precisamos adicionar mais material ligante, então o
melhor seria adicionar a Cal Hidratada.

O que é a cal hidratada?

Não é a Cal virgem, que é um produto em estado diferente. É a Cal que se usa
muito para fazer rebocos e dar mais plasticidade a massa. Recomendo não
utilizar o solo com porcentagem acima de 85% de areia, dessa forma você tem
praticamente areia pura e acaba fugindo um pouco da característica do tijolo de
solo-cimento, ai você tem praticamente um bloco de cimento ou concreto.
Também é possível produzir seu tijolo usando apenas areia e temos um
capítulo específico para mostrar isso.

Quando o solo é muito argiloso e tem menos de 50% de areia deverá ser
adicionado a areia lavada média, uma vez que se for muito grossa deixará o
acabamento prejudicado. Porém, não devemos utilizar a argila pura, aquela
que faz o tijolo cerâmico e misturar com areia.

Adição de outros Elementos na fabricação

O ideal é justamente entre 50-75% de areia para não ter que se adicionar outro
material além do cimento, realizar outro processo e outro custo a nossa
produção. Porém caso seja necessário com as devidas correções você pode
ter um tijolo de qualidade ainda melhor.

Também pode-se adicionar outros elementos em proporções variadas, como


pó de pedra, pó de mármore, resíduos de obras triturados.  
O tijolo fabricado com a utilização do resíduo industrial ou entulho de obras
triturado se torna inclusive uma das grandes oportunidades para se criar um
bom negócio, uma vez que o entulho de obras é um dos grandes poluidores,
gerando custo de descarte para o dono da obra.

Já foram feitas pesquisas utilizando casca de arroz e raspas de PVC. As


possibilidades são muitas, basta pesquisar e testar para desenvolver outras
misturas para a fabricação do tijolo.

Procuramos também um Solo quimicamente neutro, nem ácido nem


alcalino. Você pode comprar fitas de teste de PH em lojas para piscina ou fazer
o teste caseiro usando Vinagre e Bicarbonato de Sódio. Caso o solo reaja e
crie uma espuma ao entrar em contato com o vinagre ou com uma solução de
água e bicarbonato de sódio, deverá estar ácido ou alcalino em excesso e
devendo ser testado mais profundamente para saber se vai influenciar, se tem
como corrigir ou ser descartado.

É importante ressaltar que esses não são testes de alta precisão e


procedimentos normativos, mas são o suficiente para você conhecer
inicialmente a sua matéria prima e levar em conta essas informações quando
for analisar o resultado prático, testando o tijolo pronto. Só vamos poder
garantir a qualidade do tijolo depois de realizar os testes após a produção.
Testes de laboratório completos são caros e não fazem sentido ser aplicados
nessa escala de produção.

Onde comprar? Onde encontrar?

Pesquise em todo lugar que imaginar, aterros, empresas de terraplanagem,


caminhoneiros. Você pode começar a pesquisa no depósito material de
construção mais perto, pelo menos uma dica eles podem dar.

O difícil as vezes de se pesquisar é que fazemos a pergunta assim: - “Estou


procurando uma terra, terra pra fazer tijolo, terra vermelha...”. É claro que a
pessoa não tem noção da característica que você precisa e muitas vezes vai
da sua própria cabeça ou até acha que é aquele barro vermelho para o tijolo
comum. Alguns vão chamar de terra de aterro, terra de barranco, barro, barro
pra tijolo (mesmo não sendo o argiloso), saibro e outros. A nomenclatura varia.
Você poderá mostrar fotos ou vídeos, no visual vai facilitar. Abaixo alguns
exemplos aqui.

O importante é procurar em vários fornecedores, e pegar uma amostra para


fazer o teste. O teste do solo está em um conteúdo anexo em capítulo próprio.
Recolha em um pote ou Pet de 2L como amostra de cada local e faça etiquetas
com as informações do local, preço e futuramente os resultados dos testes.

Com as amostras em mãos, você deve realizar os testes e descobrir as


características de cada um. A porcentagem ideal de areia é um dos fatores
mais importantes mas não é o único, você deve considerar outros fatores para
determinar com qual solo trabalhar. Podemos citar:

 O aspecto estético do solo (a terra tá bonita e homogênea?)


 A fidelidade do fornecedor e abundância do tipo do solo para evitar
sempre traços diferentes.
 Não procure de forma alguma terra de locais onde é proibida a extração.
 O preço – que se desdobra em 3 Terra/Carregamento/Frete
 Produtividade

O preço não segue a uma lógica, depende da oferta local. Compro 12m3 por
R$350,00 sendo o preço mais comum entre R$250,00 e R$700,00

Produtividade do solo – Outro fator muito importante de escolha da terra é a


facilidade de produção que ela vai te oferecer. Alguns solos são encontrados
em condições perfeitas para a fabricação, sem a necessidade de triturar e
peneirar para se fazer a mistura, diminuindo assim o trabalho, aumentando a
produção e reduzindo o custo. Preste bastante atenção a esse fator pois a
influência é grande, podendo impactar em muito a produção. Porém não abaixe
o seu padrão de qualidade aceitando um percentual de impurezas ou grãos
indesejados na mistura. Deixe a terra perfeita para a mistura, com grãos
menores de 4mm e sem impurezas que podem aparecer com o tempo de
armazenagem.

Então são vários os fatores para a escolha do solo. Você pode encontrar uma
terra pronta, que não precise peneirar e triturar, porém ela pode não ter um
percentual de areia ideal, ou estar em um local distante e consequentemente
com um preço mais caro. Pode encontrar uma terra barata e perto mas que
você vai ter que corrigir adicionando Cal e o Cal ser caro na sua região. O
importante é saber que temos todos esses aspectos a levar em consideração e
que as possibilidades são muitas para produzirmos um bom tijolo.

Programe o seu estoque de trabalho e tenha terra suficiente para os


projetos em vista – Compre a terra suficiente para todos os tijolos do seu
projeto. Caso for fabricar em quantidade maior, tenha alguns meses de terra
reservada. A cada terra diferente ou até mesmo a cada caminhão, deve-se
guardar amostras e fazer o teste em cada uma delas, pois mesmo com um
visual aparentemente igual as propriedades podem variar.

A minha experiência pessoal foi que ter encontrado o solo na primeira tentativa
e comprado apenas 1 caminhão, acreditando que teria sempre a disposição.
Logo em seguida, o local foi fechado para extração e acabei tendo que fazer
uma busca maior. Acabei encontrando um solo diferente, que lme deu um tijolo
diferente, tendo que usá-los depois em outro local, uma vez que não ficaria
bom na mesma parede.

Tenha um local protegido para guardar a terra - pois com uma terra
molhada a produção simplesmente não acontece. Não se pode triturar,
peneirar e nem mesmo fazer a mistura corretamente. Em determinadas épocas
do ano você não tem tempo bom o suficiente para a terra secar e ser usada.
Um telhado e piso de concreto é o ideal, uma vez que a água sempre acha seu
caminho e acaba subindo pelo chão, mas em último caso, o uso de uma
cobertura de lona ajuda..
Não pule etapas. Paciência... a escolha do solo é fundamental e é um dos
pilares da qualidade final do tijolo. Após recolher todas essas informações você
deve então eleger um ou mais locais para aprofundar e produzir alguns tijolos
de teste antes de dar o veredito final e comprar a terra. Recolha desta vez uma
amostra maior, dois ou mais baldes de 20L e produza corretamente alguns
tijolos para analisar o resultado. Supondo que o solo escolhido esteja na
margem de 50-75% de areia, faça o teste usando o traço com 7 partes de Solo
para 1 parte de cimento, um traço que deverá formar um bom tijolo. O passo a
passo completo da produção do tijolo é um capítulo a parte e um vídeo próprio.

Bibliografia

BRAJA, Prof. M. PRINCIPLES OF GEOTECHNICAL ENGINEERING - PWS Publishing


Company Boston.

1. BRAJA, Prof. M. PRINCIPLES OF GEOTECHNICAL ENGINEERING Cengage


Learning, 2009 ISBN 0-495-41130-2 (em inglês)
2. CAPUTO, Prof. Homero Pinto, MECÂNICA DOS SOLOS E SUAS APLICAÇÕES (3
volumes) - Editora ao Livro Técnico.

W C Krumbein & L L Sloss, Stratigraphy and Sedimentation, 2nd edition (Freeman, San


Francisco, 1963).

 J A Udden, "Mechanical composition of clastic sediments", Bull. Geol. Soc.


Am. 25:655–744 (1914).

 C K Wentworth, "A scale of grade and class terms for clastic sediments", J.
Geology 30:377–392 (1922).

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