Você está na página 1de 4

Capítulo 5

As finanças públicas no regime de alta inflação: 1981/1994


- Contexto econômico no fim dos anos 70: Déficit público elevado, ausência de
instrumentos para controle de gastos públicos, incerteza quanto ao valor do déficit
(não existia estatísticas fiscais e mensurações bem elaboradas), e principalmente,
falta de consenso na formulação de políticas econômicas;
- Deve-se lembrar que a política fiscal dos anos 70 estava longe de um contexto de
transparência e eficácia;
- Em 1982, eclode no Brasil a crise da dívida externa, fazendo com que o crédito
externo desaparecesse do país, levando ao Brasil pedir empréstimo ao FMI;
- Em 1982 o modelo de endividamento do país se esgotava, fazendo com que o
Estado anunciasse suas metas de ajustamento externo e que afetassem a balança
comercial. Assim, algumas das medidas tomadas foram a maxidesvalorização cambial
em 1983, fazendo com que os programas de substituição de importações fosse
amadurecido, porém, no mesmo ano houve forte queda do PIB.
- Com tais medidas, o país consegue ajustar a conta corrente, porém não era
suficiente para resolver a escassez de recursos externos;
- No início dos anos 80, havia um grande debate econômico entre os ortodoxos e
heterodoxos, assim:
 ORTODOXOS: Visam o equilíbrio orçamentário (redução e eliminação do déficit
público), o qual consideram como condição necessária para controlar a inflação e
retomar o crescimento;
 HETERODOXOS: São contrários aos cortes nos gastos públicos e a redução da
intervenção do Estado. Também conhecidos como estruturalistas, priorizam a
retomada do crescimento é a base para o aumento da receita e equilíbrio fiscal.
Acreditam que o corte nos gastos é anulado pela queda da demanda que resulta de tal
política fiscal restritiva;
- Nota-se que de 1980 à 1985, a abordagem ortodoxa tem mais força, já que é o
período em que o acordo com o FMI é implementado, e se buscava a queda da NFSP
através de um ajuste fiscal, se observando também uma economia estagnada, e a
inflação elevada, o que foi uma crítica às teorias ortodoxas. (Presidente do período:
João Figueiredo);
- A partir de 1985, com a transição para a Democracia e República, os heterodoxos
ganham força. Nesse período, a política de estabilização do governo se orientou para
a intervenção no sistema de preços, visando atacar a inflação, tirando o foco da NFSP.
Assim, a NFSP cresceu, o crescimento econômico caiu, e a inflação não conseguiu
ser bem controlada (hiperinflação), o que levou a perda de prestígio das teorias
heterodoxas. (Presidente do período: José Sarney)
- Pensando nos anos 80, divide-se o mesmo na primeira metade da década (até 85),
em que houve uma tendência de ajustamento da NFSP. Enquanto que após 85, e até
89, a direção foi oposta, havendo uma piora nos resultados da NFSP. Isso pode se
ligar ao fato da ortodoxia priorizar o equilíbrio orçamentário, e a heterodoxia tirar o foco
da NFSP;
- Nesse período de 85 à 89 (Sarney), se observa uma melhora do resultado primário,
em que, por mais que se via uma piora da NFSP, o governo trazia uma diminuição na
despesa com juros, uma vez que a dívida pública caiu, aliviando o peso dos juros;
- Quando se realizou o empréstimo junto ao FMI, passou a ser necessário a que se
atingisse uma série de compromissos de um programa fiscal elaborado pelo órgão
internacional, dessa forma, era necessário que o BACEN tivesse condições de
registrar as operações de endividamento do setor público; Além de tal mensuração, o
FMI propunha que a mensuração da NFSP adotasse o critério nominal, porém as
autoridades do país colocavam que com uma inflação em aceleração, não era possível
notar os esforços feitos para melhorar o resultado primário, não conseguindo evitar o
aumento no déficit nominal, já que essa abrange também a inflação;
- Por isso se lança tanto o resultado nominal como o operacional, fazendo com que o
operacional fosse um indicador que refletisse o esforço das autoridades monetárias no
que diz respeito à política fiscal;
- Se deve analisar o conceito operacional também de uma forma mais crítica, uma vez
que era uma medida fiscal que não eliminava por completo os efeitos da inflação, uma
vez que considerava e era expresso em valores correntes;
- Apenas em 1998 o resultado operacional deixa de ser divulgado;
- A partir de 1986, e perdurando até 1994, houve 6 planos de estabilização, os quais
se baseavam em âncoras cambiais, congelamento de preços (forte intervenção do
Governo). Esses planos foram: Plano Cruzado, Plano Bresser, Plano Verão, Plano
Collor I e II, e Plano Real;
- Um grande problema do período foi que ao contrário de alguns países endividados, o
Brasil tinha sua dívida externa pública, mas o superávit comercial era privado,
atrapalhando a resolução do problema do componente monetário e fiscal da crise
externa;
- Entre 82 e 87 a dívida externa líquida do setor público aumenta, e a
maxidesvalorização cambial agrava ainda mais esse processo. Nota-se que um
grande agravante da dívida externa foi que além da existência do déficit público, o
governo assume grande parte da dívida externa de origem privada (estatização da
dívida externa);
- Quando o Brasil se torna apto a conseguir divisas o suficiente para gerar equilíbrio
externo, no Balanço de Pagamento e arcar com seus compromissos com o exterior,
acaba tendo um desequilíbrio interno, uma vez que não consegue gerar recursos
fiscais. Assim, o BACEN pagava aos exportadores em moeda doméstica para obter as
divisas;

- É importante notar que em 1985 assume Sarney, o qual tem como característica do
governo, políticas mais restritivas. Dentro do governo Sarney, tem o Plano Cruzado
(1986) e o Plano Bresser (1987).

- A substituição de um governo militar por um governo democrático está associado a


imagem de mudança na política econômica (aumento das demandas sociais antes
reprimidas);

- A dívida líquida veio em uma trajetória de crescimento no governo de Figueiredo (de


1980 à 1984), porém, a partir do governo de Sarney nota-se que a dívida líquida caiu,
e isso se deve ao fato da realização dos planos econômicos do período, os quais
queriam quebrar a inercia inflacionária, e acabavam “sequestrando” os ativos
financeiros, e sumiam com a correção monetária, com o intuito de reduzir a inflação.
Porém, tais medidas trouxeram como resultado a queda da confiança no governo,
além de tais plano terem alterado por completo os contratos;

- RESULTADOS DA CONJUNTURA:
1. O déficit operacional teve uma importante queda no período 1981/84, já que o
acordo com o FMI tinha sido feito em 83/84, e fizeram os cálculos do período anterior
no molde proposto pelo órgão;
- Quanto menor a porcentagem da NFSP em relação ao PIB, melhor!
2. Porém, ao passo que a NFSP operacional cai, a dívida líquida aumenta até 84;
3. O déficit operacional cresce entre 83/84 e 88/89;
4. A carga tributária cai;
5. Planos Cruzado, Bresser e Verão congelavam preços;

- Em 1990 Collor inicia no governo, transformando uma política intervencionista e


protecionista, a qual visava a substituição de importações e o desenvolvimento da
indústria nacional, que vinha desde o período Vargas, por uma política liberal, com
revisão do papel do Estado na economia, corte de gastos e equilíbrio fiscal (ruptura
com o modelo de Vargas);
- Os objetivos de Collor eram: Abertura da economia, programa de desestatização,
eliminar o déficit público e combate à inflação;
- A partir dos 90 houve um forte ajuste fiscal, com controle de gastos e propósito de
eliminar o déficit público. Porém, cabe ressaltar que nesse período, tal ajuste fiscal
foi precário, o que se deve ao efeito Bacha ou Tanzi invertido, isto é, houve a
subindexação da dívida interna, ou seja, a dívida é corrigida abaixo da inflação,
o que diminuiu fortemente a despesa com juros da dívida pública. Ao mesmo
tempo que os títulos eram bloqueados pelo governo com correção abaixo da
inflação, ocorreu a indexação dos tributos, isto é, mesmo com inflação, o valor
da receita de tributos não foi afetado, aliviando o déficit público. Em meio à
subindexação da dívida e indexação dos tributos, houve corte de gastos
públicos;
- Considera-se precário o ajuste fiscal, pois o equilíbrio dependia da inflação, pois era
essa que permitia o governo reduzir seu valor real de gastos;
- Assim, era essencial que se adotasse um plano de estabilização que não se
apoiasse na inflação para conservar sua despesa, e que o déficit fiscal fosse apoiado
em medidas de caráter estrutural;
- A formulação do Plano Real ao longo dos anos 90, nada mais é do que um plano
anti-inflacionário que incorpora teorias heterodoxas e ortodoxas devido ao conjunto de
experiências passadas;
- Apresentou-se uma programa de “âncora cambial” (heterodoxo) junto ao ajuste fiscal
(ortodoxo);
- Deve-se notar que, caso se queira ter o endividamento público controlado, os
ortodoxos então estavam corretos sobre controlar o déficit público. Porém, eles foram
ingênuos quando não pensaram nos efeitos da indexação (indexar contratos e preços
a determinados índices, como da inflação) sobre a rigidez do processo inflacionário do
Brasil, e por achar que a queda do déficit seria suficiente para reduzir a inflação;
- Enquanto isso, os heterodoxos também pecaram ao não considerar o ajustamento
fiscal;
- O autor coloca que o período de 1980 à 1994, isto é, o período de alta inflação, pode-
se dividir o mesmo em uma fase de significativos déficits operacionais (anos 80), em
que até 1985 buscou-se um certo ajustamento da NFSP (deixa-la nula ou negativa), e
após 85, uma tendência de piora do resultado.

Você também pode gostar