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Português – 8ºano

Ano Letivo 2020/2021 Ficha de Trabalho

Nome: __________________________________________________________ Nº ______ Turma _____

Lê o texto. Se necessário, consulta as notas de vocabulário.

Vida de marinheiro – Aspetos do dia a dia


O navio é, por muito tempo, a casa do marinheiro, o seu abrigo e o meio através do qual
ele chega aos lugares mais distantes. Mas é má casa, pior albergaria 1 e péssimo viajante para
quem a ele não está acostumado. Quem nele tem necessidade de viajar, seja para fazer
comércio, para ir à guerra ou para emigrar, sofre desconfortos e provações a que nem sempre
5 resiste.
A já de si dura vida a bordo complicava-se nas viagens oceânicas, vulgares a partir do
século XVI, onde se passavam largas jornadas no mar sem sequer vislumbrar 2 terra. A
alimentação era má e insuficente, as roupas estavam permanentemente húmidas, as doenças
e as maleitas3 eram vulgares e perigosas. A relativa fragilidade das embarcações tornava-as
10 extremamente vulneráveis perante a fúria dos elementos. Era vital o bom funcionamento dos
mecanismos de solidariedade profissional4. Todos tinham tarefas bem definidas a cumprir.
Mestres, pilotos marinheiros “bordaleses” (os que servem nos bordos) e marinheiros da
“avantagem” (os que servem à proa) deveriam funcionar em bloco para “levar a nau a bom
porto”. Bombear a água infiltrada, fazer a limpeza da nave, cuidar de cordas e velas e
15 manobrar o navio contavam-se entre as suas obrigações.
Já se disse que a comida era má. Equipagem 5 e passageiros, estes à sua custa,
alimentavam-
-se sobretudo de biscoitos, carne e peixe salgados, vinho e água. Algumas conservas,
marmelada e compotas melhoravam significativamente a dieta, mas eram muito raras. O
20 calor, a humidade, o imperfeito acondicionamento e a demora da jornada provocavam a
deterioração dos géneros tantas vezes devorados e contaminados pelos ratos e bicharada. As
condições de higiene eram precárias; as roupas, de fraca qualidade, húmidas e quase nunca
despidas, proporcionavam o campo ideal para o desenvolvimento de parasitas, de infeções e
de doenças tantas vezes fatais. O estado sanitário dos tripulantes podia agravar-se com as
25 escalas em zonas tropicais, com a ingestão de águas estagnadas e a picada de inúmeros
insetos.
O alojamento era deficiente. E não era só o desconforto que preocupava; muitas vezes
esse espaço era partilhado com gente de quem se podia desconfiar, gente a contas com a lei,
a caminho do degredo. Apenas o mestre ou o capitão e alguns passageiros especiais possuíam
30 cabines individuais, as câmaras, à popa6.
Nestes termos, era difícil manter o moral e a disciplina. O descontentamento e a
desobediência agravavam-se principlamente nas alturas em que os elementos 7 ameaçavam o
navio. Eram momentos de grande incerteza e ocasiões para pôr à prova o ânimo dos
embarcados. Nessas alturas, mais do que nunca, o mareante recorria à fé e à oração.
Amândio Jorge Morais Barros, “Vida de marinheiro. Aspetos do quotidiano das gentes do mar nos séculos XV e XVI”
in Estudos em Homenagem a Luís António Oliveira Ramos. FLUP, 2004, pp. 249-263 (com supressões).

1
VOCABULÁRIO:
1
hospedaria: casa onde alguém se hospeda.
2
vislumbrar: ver de forma imperfeita.
3
maleita: mal-estar ou doença sem gravidade.
4
solidariedade profissional: refere-se às obrigações e deveres que os marinheiros deveriam cumprir de forma
solidária e equilibrada.
5
equipagem: tripulação do navio.
6
popa: parte traseira de um navio.
7
elementos: neste contexto refere-se a todas as forças da natureza que podiam ameaçar a embarcação: ventos,
tempestades, ondas…

1. Para cada item, escolhe a opção que completa corretamente as afirmações que se seguem,
de acordo com o texto.

1.1. No primeiro parágrafo, afirma-se que as dificuldades associadas a uma viagem


marítima passam

(A) pela ameaça das situações aflitivas ao conforto da tripulação.


(B) pela ausência de comodidades e pelas situações difíceis vividas.
(C) pelas situações causadoras de sofrimento e pelos perigos de guerra.
(D) pela inexistência de locais de comércio e pela falta de conforto.

1.2. A alimentação dos marinheiros e passageiros era composta sobretudo por

(A) peixe que era pescado, carnes salgadas, água e vinho.


(B) vinho e água, biscoitos, carne e peixe salgados.
(C) marmelada, vinho e água, carne e peixe salgados.
(D) peixe, compotas, carne, vinho e água.

1.3. A partir da descrição feita, podemos afirmar que, em geral, as condições de higiene
dos navios eram

(A) insatisfatórias e perigosas.


(B) reduzidas e desmedidas.
(C) diversificadas mas fatais.
(D) insuficientes mas inofensivas.

2. Completa a tabela com os aspetos analisados no texto para descrever as condições de vida
a bordo de um navio.

Condições de vida a bordo de um navio


(a) (b) (c)
Qualidade da
Alimentação _______________ _____________ ______________
embarcação

Bom trabalho!
Prof. Paula Oliveira

2
3
Lê o excerto de A Saga, de Sophia de Mello Breyner e consulta as notas de vocabulário.

A Saga
O mar do Norte, verde e cinzento, rodeava Vig, a ilha, e as espumas varriam os rochedos
escuros. Havia nesse começo de tarde um vaivém incessante 1 de aves marítimas, as águas
engrossavam devagar, as nuvens empurradas pelo vento sul acorriam e Hans viu que se estava
formando a tempestade. Mas ele não temia a tempestade e, com os fatos inchados de vento,
5 caminhou até ao extremo do promontório 2.
O voo das gaivotas era cada vez mais inquieto e apertado, o ímpeto 3 e o tumulto cada vez
mais violentos e os longínquos espaços escureciam. A tempestade, como uma boa orquestra,
afinava os seus instrumentos.
Hans concentrava o seu espírito para a exaltação 4 crescente do grande cântico marítimo.
10 Tudo nele estava atento como quando escutava o cântico do órgão da igreja luterana 5, na
igreja austera6, solene, apaixonada e fria.
Para resistir ao vento, estendeu-se ao comprido no extremo do promontório. Dali via de
frente o inchar da ondulação cada vez mais densa como se as águas se fossem tornando mais
pesadas.
15 Agora as gaivotas recolhiam a terra. Só a procelária 7 abria rente à vaga o voo duro.
À direita, as longas ervas transparentes, dobradas pelo vento, estendiam no chão o caule fino.
Nuvens sombrias enrolavam os anéis enormes e, sob uma estranha luz, simultaneamente
sombria e cintilante, os espaços se transfiguravam. De repente, começou a chover.
A família de Hans morava no interior da ilha. Ali, o rumor marítimo só em dias de temporal,
20 através da floresta longínqua, se ouvia.
Mas ele vinha muitas vezes até à pequena vila costeira e, esgueirando-se pelas ruelas,
caminhava ao longo do cais, ao lado de botes e veleiros, atravessava a praia e subia ao extremo
do promontório. Ali, no respirar da vaga, ouvia o respirar indecifrado da sua própria paixão.
Nesse dia, quando ao cair da noite entrou em casa, Hans curvou a cabeça. Pois aos catorze
25 anos já tinha quase a altura de um homem e, em Vig, as portas de entrada são baixas.
Assim é desde o tempo antigo das guerras quando os invasores que ocupavam a ilha
penetravam nas casas de cabeça erguida mas exigiam que a gente da ilha se curvasse para os
saudar. Então, os homens de Vig baixaram o lintel 8 das suas portas para obrigarem o vencedor
a baixar a cabeça.
30 Sophia de Mello Breyner Andersen, Histórias da Terra e do Mar, Lisboa, Texto Editora, 1990, pp. 75-77.

VOCABULÁRIO:
1
incessante: contínuo.
2
promontório: cabo formado por uma elevada montanha.
3
ímpeto: violento.
4
exaltação: louvor, entusiasmo.
5
luterana: relativa ao luteranismo, religião protestante.
6
austera: séria, rígida.
7
procelária: género de aves palmípedes que anunciam a tempestade.
8
lintel: peça, geralmente de madeira ou de pedra, que se coloca horizontalmente sobre as ombreiras de portas ou
janelas.

4
1. Descreve o espaço físico onde Hans se encontra no início do texto, com base nas
informações do primeiro parágrafo.
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2. Refere uma atitude de Hans que comprove que ele não temia a tempestade que se
aproximava.
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3. Assinala com X a opção que completa as afirmações.


3.1. Nas linhas 7 e 8, a expressão “como uma boa orquestra, afinava os seus instrumentos.”
significa que
(A) a tempestade ia tocar muitos instrumentos.
(B) a tempestade se preparava para começar.
(C) os sons que a tempestade produzia eram afinados.
(D) o mar estava tranquilo para receber a tempestade.

3.2.Nas linhas 9 a 11, a atitude de Hans revela


(A) indiferença para com a tempestade.
(B) alegria por estar naquele lugar.
(C) respeito pelo que observa.
(D) tristeza pela violência da tempestade.

4. Explicita, com base no texto, a paixão de Hans.


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5. No fim do excerto conta-se uma breve história. O que revela ela sobre a personalidade dos
habitantes de Vig?
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GRAMÁTICA

1. Associa as expressões sublinhadas em cada frase da coluna A à função sintática que lhe
corresponde na coluna B.

Coluna A Coluna B
A. O mar era verde e cinzento.
B. A tempestade aproximava-se lentamente. 1. sujeito
C. Hans observava o mar. 2. predicado
D. As aves anunciavam a tempestade. 3. complemento direto
4. modificador do grupo verbal
5. predicativo do sujeito

2. Seleciona a opção que identifica a oração representada pelo constituinte sublinhado em


cada frase.

2.1. O vento empurrava as nuvens fortemente já que se formava uma tempestade.

(A) Oração subordinada adverbial temporal.


(B) Oração subordinada adverbial concessiva.
(C) Oração subordinada adverbial causal.
(D) Oração subordinada substantiva completiva.

2.2. A tempestade aproximava-se tão rápido que depressa estaria sobre a vila.

(A) Oração subordinada adverbial causal.


(B) Oração subordinada condicional
(C) Oração subordinada substantiva completiva.
(D) Oração subordinada adverbial consecutiva.

3. Completa cada uma das frases seguintes com a forma adequada do verbo haver.

a) ________________ (pretérito imperfeito do indicativo) muitas aves junto ao mar.


b) Se _____________________ (pretérito imperfeito do conjuntivo) tempestade, Hans ia
até ao promontório.

4. Substitui o constituinte sublinhado na seguinte frase pela forma correta do pronome


pessoal.

A tempestade traz muitas desgraças.

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6
ESCRITA

Imagina que tinhas hipótese de entrevistar Hans.

Escreve uma entrevista, com um mínimo de 150 e um máximo de 220 palavras, na qual
recorras aos teus conhecimentos do conto ou à tua imaginação.

O teu texto deve integrar:


‒ uma primeira parte, onde apresentes o teu entrevistado;
‒ uma segunda parte composta por, pelo menos, 3 questões de resposta aberta;
‒ uma terceira parte, onde faças uma espécie de conclusão.

Bom trabalho!
Prof. Paula Oliveira

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