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PROCESSO ELEITORAL
27/11/2020 07:27
Uma das marcas das eleições municipais de 2020 foi o expressivo aumento do número
das chamadas candidaturas coletivas na disputa por uma vaga nas câmaras de
vereadores, consolidando uma tendência eleitoral que deve se fortalecer ainda mais
nos próximos anos, especialmente com o sucesso de iniciativas do gênero em cidades
como São Paulo, Fortaleza, Salvador e Florianópolis.
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27/11/2020 Candidaturas e mandatos coletivos | JOTA Info
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As candidaturas coletivas têm por objetivo eleger não um individuo, mas, sim, um
grupo de pessoas, que ocuparão conjuntamente uma das cadeiras daquela
determinada casa legislativa. A dinâmica interna do mandato coletivo se dará
idealmente de forma paritária, horizontal e igualitária entre os “co-parlamentares”, com
a discussão prévia para a de nição dos posicionamentos do mandato nas distintas
questões e temas.
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Percebe-se que, formalmente falando, não há igualdade de status e poder entre os “co-
parlamentares”, uma vez que apenas um destes será de fato o parlamentar eleito.
Assim, durante a eleição, por exemplo, será a foto e nome do membro da bancada
registrado como candidato que irá aparecer na urna. Para ns de organização dos
trabalhos da casa legislativa, apenas o indivíduo que é o parlamentar eleito poderá
votar nas matérias, participar das comissões, assinar projetos de lei e demais
proposições, falar no plenário, en m, exercer todas as prerrogativas do mandato
parlamentar.
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Desta forma, ainda que internamente os membros do mandato decidam que deve ser
adotada uma determinada posição, por exemplo, na aprovação/rejeição de um projeto
de lei, não há muito que possa ser feito caso o individuo que é o parlamentar resolva
adotar posição divergente na hora do voto, o que revela a disparidade de poder
decisório interno real.
Imagine, por exemplo, uma pessoa vote numa candidatura coletiva, porque se sente
fortemente identi cada com um dos seus membros especí cos.
Se, todavia, tivermos, uma, duas, três cadeiras ocupadas cada por cinco, seis “co-
parlamentares” os custos de negociação e a di culdade para a construção de
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É fato notório que as casas legislativas são muito mais masculinas e brancas que a
população em geral, sendo não raro simplesmente inexistente a representatividade
parlamentar de grupos sociais estigmatizados como de cientes físicos, indígenas,
população LGBT+, etc.
Com efeito, as candidaturas coletivas procuram muitas vezes trazer uma composição
interna plural e diversa, incluindo membros de grupos que normalmente não estão
representados nas câmaras e assembleias.
É evidente que deve haver mais parlamentares mulheres, negrxs, LGBT+, de cientes,
etc., porém o ideal é que as diversas identidades e experiências estejam representadas
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Estas iniciativas, ainda que tenham seu mérito e boa intenção, correm o risco de
produzir um único parlamentar que congrega e busca representar todas as minorias
dentro do parlamento.
Assim, ao invés de se ter por exemplo um vereador cadeirante, uma vereadora travesti,
um vereador do candomblé, uma vereadora negra, pode-se acabar tendo um vereador
que é um quarto cada uma dessas coisas, num mar de sujeitos hegemônicos.
Neste sentido, medidas a rmativas como a recente decisão do TSE para garantir mais
recursos para candidaturas de pessoas negras talvez possam apresentar maior
potencialidade de alteração da composição das casas legislativas.
Ainda que o mérito em tese das candidaturas coletivas e dos mandatos coletivos delas
resultantes esteja aberto ao debate – e este é um debate mais político do que
propriamente jurídico – o fato é que este é um modelo que parece ter vindo para car, o
que torna problemático que o direito eleitoral e constitucional ainda não tenha
condições de dar respostas adequadas aos questionamentos e di culdades que ele
certamente produzirá na prática.
O episódio 43 do podcast Sem Precedentes analisa a nova rotina do STF, que hoje tem
julgado apenas 1% dos processos de forma presencial. Ouça:
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[1] Agradeço a Wallace Corbo pela re exão sobre o ponto e pela imagem precisa.
DANIEL CARVALHO CARDINALI – Mestre em Direito Público pela UERJ. Professor Substituto da Faculdade
Nacional de Direito – UFRJ. Autor do livro “A judicialização dos direitos LGBT no STF: Limites, possibilidades e
consequências”. Advogado.
Os artigos publicados pelo JOTA não re etem necessariamente a opinião do site. Os textos buscam
estimular o debate sobre temas importantes para o País, sempre prestigiando a pluralidade de ideias.
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