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Mude de Vida
DANIEL G. AMEN
Mude de Cérebro,
Mude de Vida
Um método revolucionário
para ultrapassar a depressão, a ansiedade
e o comportamento compulsivo
Tradução de:
Susana Serrão
Pergaminho
Capítulo 1
3
Trocadilho com a palavra no original «unclear/nuclear». (N. da T.)
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por parte dos sistemas multicabeça. Os atuais estudos SPECT de alta
resolução conseguem ver as áreas mais profundas do cérebro com maior
clareza e mostrar o que exames TAC e RM não conseguem: como é que
o cérebro funciona mesmo.
Os estudos SPECT podem ser apresentados de uma variedade de
maneiras. Tradicionalmente, o cérebro é examinado num de três pla-
nos diferentes: horizontal (corte de cima para baixo), coronal (corte
da frente para trás) e sagital (corte de um lado ao outro). O que é que
os médicos veem quando olham para um estudo SPECT? Examinamos
a simetria e os níveis de atividade, indicados por tons de cor (em esca-
las de cor diferentes consoante a preferência do médico, incluindo
gradações de cinzento) e comparamos com o que sabemos ser um
cérebro normal. As imagens a preto e branco deste livro são, maiori-
tariamente, dois tipos de imagens tridimensionais do cérebro.
Um dos tipos é a imagem de superfície tridimensional (3D), que
observa a corrente sanguínea da superfície cortical do cérebro. São
imagens úteis para captar áreas de boa atividade e áreas hipoativas.
Ajudam a investigar, por exemplo, AVCs, traumatismos e o efeito do
consumo de drogas. Um exame de superfície 3D normal mostra ativi-
dade boa e simétrica em toda a superfície cortical do cérebro.
A imagem cerebral 3D ativa compara a média da atividade cerebral
com os melhores 15 por cento de atividade. São imagens úteis para
captar áreas de hiperatividade, como se vê, por exemplo, em crises
ativas, distúrbios obsessivo-compulsivos, problemas de ansiedade e
certas formas de depressão. Um exame 3D ativo normal mostra ativi-
dade acrescida (a cor mais clara) na parte de trás do cérebro (o cerebelo
e córtex visual ou occipital) e atividade média nos restantes quadran-
tes (a grelha).
Regra geral, os médicos são alertados de que algo errado se passa
de uma de três maneiras: veem demasiada atividade em dada área;
veem pouquíssima atividade em dada área; veem assimetrias em áreas
de atividade que deveriam ser simétricas.
No resto do livro, entrarei em pormenores quanto ao modo como
esta tecnologia notável afetou positivamente a vida das pessoas. Por
agora, todavia, adianto somente uma amostra de cinco maneiras sim-
ples como os estudos SPECT são usados em medicina.
1. Para viabilizar intervenções atempadas. Ellen, de sessenta e três
anos, ficou subitamente paralisada do lado direito do corpo. Sem con-
seguir sequer falar, entrou em pânico e a família estava preocupadíssima.
Por mais drásticos que estes sintomas parecessem, duas horas depois
Frente
Fundo Fundo
Vista de superfície de lado Vista ativa de lado
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Cérebro de Ellen afetado por um AVC
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4. Para distinguir entre dois problemas com sintomas parecidos.
Conheci Margaret quando ela tinha sessenta e oito anos. Tinha uma
aparência desleixada. Ela vivia sozinha e a família estava preocupada,
pois ela aparentava ter sintomas de demência grave. Finalmente deu
entrada no hospital psiquiátrico onde eu trabalhava, depois de quase
pegar fogo à casa por deixar um bico do fogão aceso. Quando consul-
tei a família também descobri que Margaret se esquecia dos nomes dos
próprios filhos e se perdia muito a conduzir. Os seus comportamentos
na estrada deterioraram-se de tal modo que a DGV teve de lhe tirar a
carta, após quatro acidentes menores em seis meses. Quando os fami-
liares de Margaret me consultaram, havia alguns deles já fartos e que
a queriam entregar aos cuidados de alguém. Contudo, outros eram
contra e queriam interná-la para uma melhor avaliação da situação.
Apesar de à primeira vista parecer que Margaret sofria da doença
de Alzheimer, o resultado do estudo SPECT mostrou que havia ativi-
dade completa nos lobos parietais e temporais. Se tivesse Alzheimer,
deveria haver provas de diminuição do fluxo sanguíneo nessas áreas.
Pelo contrário, a única atividade anómala no estudo SPECT de Mar-
garet era no sistema límbico profundo no centro do cérebro, onde
havia atividade acrescida. Este é um aspeto que é habitual encontrar
em quem sofre de depressão. Por vezes, nos idosos, pode ser difícil
distinguir entre doença de Alzheimer e depressão porque os sintomas
podem assemelhar-se. No entanto, com a pseudodemência (depressão
disfarçada de demência), pode parecer-se demente e não o estar de
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de problemas de memória significativos; não sabia onde morava, o
número de telefone, o nome do marido. Pedi um estudo SPECT e este
revelou uma mossa do lado direito do lobo frontal de Betty. Era óbvio
para mim que ela sofrera uma lesão na cabeça em dado momento da
sua vida. Quando lhe perguntei sobre isso, ela não fez mais do que
baixar os olhos e chorar; não soube contar-me o sucedido. Quando
perguntei à irmã, esta revelou-me que Betty e o marido tinham uma
relação difícil e que ele era violento com ela. Por vezes agarrava-a pelos
cabelos e batia-lhe com a cabeça na parede. A irmã queria que Betty
fizesse queixa à polícia, mas Betty dizia que isso só pioraria tudo.
Pouco depois de Betty ser internada, o marido começou a insistir
comigo para a mandar para casa. Continuou a barafustar que não havia
nada de mal com ela, mas eu sabia que Betty tinha de ficar longe do
ambiente doméstico, e contactei os Serviços de Proteção a Adultos. Na
audiência de Betty, usei o estudo SPECT para convencer o juiz de que
a casa dela era um potencial perigo. Ele decidiu que ela deveria ter um
tutor, e Betty foi viver com a irmã.
Ficará claro por estas e muitas outras histórias neste livro que um
médico que saiba fazer um diagnóstico rigoroso poderá ser o melhor
amigo do doente. O leitor já estará a perceber porque é que esta tec-
nologia chamou a minha atenção a ponto de escrever um livro.