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1 De Abril De 2018 • 1 Comment

O “Gênero Frágil” Que Fez O Capitalista Conhecer O Terror

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Por Paulo Gamba, para o Duplo Expresso

Quando falamos da história do Benin, antigo Império de Daomé que o opressor


chamou sarcasticamente de reino, não nos podemos esquecer de Nansika, uma
jovem soldado que na altura ainda com 16 anos, em luta com um sargento francês
neutralizou-lhe com golpes de Laamb (luta africana de origem senegalesa em Wollof)
e o decapita com furor. Em seguida, tem seu corpo atravessado por uma baioneta e
tomba de costas, braços estendidos para a frente. Na mesma batalha, um soldado
gabonês de infantaria, recrutado pelos franceses, desarma outra militar de Daomé.
Sem opção, ela rasga a garganta do inimigo com os próprios dentes, a partir dai as
forças invasoras passaram a mensagem de que as amazonas de Daome eram
canibais.

A França conquistou Daomé em 1894, mas foram necessárias duas guerras num
período de 4 anos, e mais de 80 batalhas onde as guerreiras de Daome infernizaram
a vida dos escravocrata. As guerreiras de Daome eram muito poderosas, era uma
força especial constituindo cerca 1/3 das tropas do exercito de Daomé. No século 19
impressionou visitantes e soldados estrangeiros.”O valor das amazonas é real.
Treinadas desde a infância com os mais árduos exercícios, constantemente incitadas
à guerra, elas levavam às batalhas uma fúria verdadeira e um ardor sanguinário…
Inspirando com sua coragem e sua energia indomável tropas que as seguiam”,
escreveu em 1895 o major francês Léonce Grandin, que lançou Le Dahomey: À
l’Assaut du Pays des Noirs, em que analisa a guerra na qual lutou. “Notavelmente
bravas”, “extraordinárias por sua coragem e ferocidade” e de “tenacidade selvagem”
são algumas das características atribuídas a elas por combatentes franceses em
diários escritos no calor das batalhas.

As mulheres soldados e oficiais do exército de Daomé possuíam empregados,


moravam no palácio do rei e eram tão respeitadas e poderosas que, quando
andavam pelas ruas, os homens comuns deviam dar um passo atrás para abrir
caminho e olhar para o outro lado: não podiam dirigir seu olhar a elas. Usavam
uniformes, carregavam bandeiras e cantavam hinos. Acostumadas desde cedo a um
treinamento rigoroso, eram grandes guerreiras, fortes, velozes, que escalavam
paredões, empunhavam espadas, machadinhas e punhais com vigor e, armadas
com espingardas, atiravam com boa mira. Decapitavam sem pena. Estavam,
normalmente, na linha de frente dos ataques aos reinos inimigos, à frente dos
homens.

As origens das tropas femininas de Benin vêm de dois grupos. O de mulheres


caçadoras de elefantes, comuns nos séculos 17 e 18, ou o mais provável: o de
guardas do palácio real. Apenas mulheres e eunucos podiam guardar os aposentos
do rei e de suas centenas de esposas. Mas no Benin tais sentinelas teriam evoluído
para a formação de uma guarda pretoriana do governante.

Havia cerca de 5 mil mulheres no palácio, entre esposas do rei, guardas,


administradoras, funcionárias e empregadas. “As mulheres eram criadas, desde a
infância, para serem leais à sua família de nascença e à família do futuro marido.

As primeiras notícias das mulheres soldadas em Daomé datam de cerca de 1830.


Daomé lutava em muitas guerras, o que levou ao declínio da população masculina.
Isso é outro fator que pode explicar o uso de mulheres como militares. A última vez
que elas entraram num campo de batalha foi em 1894, quando a França venceu a 2º
Guerra Franco-Daomeana e subjugou o reino africano. “O colonialismo fez com que
as mulheres africanas se encolhessem, perdessem a força, passassem a se casar
para ser sustentadas pelos maridos”.

Kadafi – antigo presidente líbio assassinado pelas forcas ocidentais – é daqueles que
não acredita que o capitalismo surgiu com a revolução industrial, ele acreditava que
o processo de escravatura foi feita numa base capitalista tendo em conta que o
objecto de negocio era o homem preto, que de resto, com trabalho escravo
desenvolveu a América e Europa. Em homenagem ao reino de Daome e
Oshikwanhama, Kadafi adopta o modelo de guarda-costas femininas, altamente
treinadas que o mantiveram seguro durante 40 anos do seu “reinado” até o seu
assassinato num projeto árabe-ocidental que se chamou Primavera Árabe.

–––––

Nota do Duplo Expresso: Paulo Gamba é Professor Universitário de Direito


Internacional, comentarista de Política Internacional da imprensa angolana, escritor
e comentarista de Geopolítica do Duplo Expresso. Este texto foi escrito seguindo as
regras do português praticado em Angola e ajustado ao português brasileiro por
Yorkshire Tea e Carlos Krebs.

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M Cláudia Z Sant Anna Trabalha na empresa Consultoria em Modelagem de Processos e


Sistemas
Muito bom! Mulher é melhor em tudo o que se propõe interiormente, é a matriz, a força da
criação que a torna tão poderosa, a determinação da mãe em defender seus filhos;
também tão submissa àquele que deveria ser seu guardião e provedor. Grande e iludida
mulher!
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Cláudia Carvalho
É estranho mas, decapitar é a forma mais violenta visualmente e mais rápida de se matar
sem que o outo sinta dor. Os nervos que ligam a espinha dorsal ao cérebro são
imediatamente rompidos. O corte limpo e fugaz paralisa a vértebra imediatamente,
portanto os receptores de dor não são mais capazes de enviar sinais, e o corpo deixa de
funcionar completamente.
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Filipe A. Vidal Professor de História das Artes e Antropologia em ENAP-Escola Nacional


de Artes Plásticas
Texto bem conseguido Professor Paulo Gamba. Realmente esta tradição de Mulheres
Guerreiras na Africa milenar é um facto. O seu texto nos ajuda a compreender uma vez
mais que a Emacipação da Mulher actualmente em Africa é um Falso Problema.as
"Amazonas" do Daomè ilustram flagrantemente o nosso pensamento. Elas Filhas de Oba,
de Yansan, as temiveis Sacerdotisas Guerreiras de Sekhmet. Obrigado pelo texto
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Djanira Lucena Trabalha na empresa Governo do Estado da Paraíba


Gostei do texto do prof. Paulo Gamba. Como o imperialismo anula talentos para
colonizar.
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Costiva Costa
Muito bom artigo o duplo expresso e uma escola de geo política ,continuem assim
meninos do Brasil
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Paula Alessandra Rocha TECNICO ADMIN em Prefeitura Municipal de Camaragibe/PE


Excelente texto. Chega ser até repetitivo este meu comentario. Afinal o colaboradores do
DE são sempre excelentes.
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Maria Das Graças Vieira The University of Arizona


MA RA VI LHO SO!! Temos muito o que aprender com Paulo Gamba.
Obrigada, professor!
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Laurindo Tchinhama Universidade Federal de Uberlândia


Muito bom! Deu para aprender muito e obter informações. Valeu grande cota!
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Ana Rodrigues Salvador


Que texto maravilhoso. Obrigada!
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Olivio Kilumbo Kilumbo Faculdade de Ciências Sociais Universidade Agostinho Neto


Coisa séria páh.
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Nome
Viviane
− ⚑
17 dias atrás
Atendendo a pedidos, DuplEx publica artigo de Paulo Gamba, que sempre enriquece nossa cultura
em suas participações no vídeo. Obrigada!
Mas é triste constatar quão pouco sabemos da história da África... Ainda bem que nunca é tarde
para aprender.
3△ ▽ Responder

Ge4.0 > Viviane


− ⚑
17 dias atrás

http://www.unesco.org/new/p...
2△ ▽ Responder

Lourenço Siqueira Spinola Spin


17 dias atrás
− ⚑

Adorei o artigo de Paulo Gamba! Ele é ótimo! O Duplo Expresso é ótimo!


Gostaria que PG escrevesse sobre Angola.
2△ ▽ Responder

Lourenço Siqueira Spinola Spin > Lourenço Siqueira Spinola Spin


− ⚑
17 dias atrás

Em tempo: também gostaria que PG falasse sobre revolucionários da África eliminados com a
cumplicidade das capitais ocidentais: Thomas Sankara, presidente de Burquina Fasso, Patrice
Lumumba no Congo, Amílcar Cabral, o combatente da independência da Guiné Bissau e de Cabo
Verde, Ruben Um Nyobé, Félix Moumié e Ernest Ouandié de Camarões, Mehdi Ben Marka, o
oposicionista marroquino, e tantos outros. grato.
△ ▽ Responder

José Carlos Vieira filho


17 dias atrás
− ⚑

Como sugestão, no próximo artigo do Paulo Gamba, e que sejam vários, nada de adaptação ao
português brasileiro.
Deixem o texto original!
1△ ▽ Responder

YorkshireTea
17 dias atrás
− ⚑

Excelente artigo do Prof. Paulo Gamba! Como o colega abaixo, também gostaria de ver textos dele
sobre Angola e os outros PALOPS. Quem sabe, ele não consiga ir além e nos falar também sobre o
Timor.
1△ ▽ Responder

João Nambua Tutaleny


− ⚑
15 dias atrás

Grande texto, confesso que não sabia nada sobre Daome. Parabéns Paulo pelo seu empenho na
Grande texto, confesso que não sabia nada sobre Daome. Parabéns Paulo pelo seu empenho na
divulgação da verdadeira história africana.
△ ▽ Responder

gilberto bueno
− ⚑
16 dias atrás

Muito bom, isto é um grande aprendizado, sobre a história e a cultura africana.


△ ▽ Responder

Ge4.0
17 dias atrás
− ⚑

Professor, fale sobre o Sudão e tambem sobre antigos e poderosos reinos africanos.
△ ▽ Responder

Laurindo Lau
− ⚑
17 dias atrás

Grande divulgador da cultura africana. Grande Abraço vota Paulo Gamba


△ ▽ Responder

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