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Técnicas de Análise de Sistemas Trifásicos  Clever Pereira

(b) Impedâncias Equilibradas

Trata-se de uma situação muito comum em sistemas de potência,


onde
Z AA = Z BB = Z CC = Z P
 (21)
Z AB = Z AC = Z BC = Z M
~
A matriz das impedâncias de fase Z F assume a seguinte forma

 ZP ZM ZM
~
Z F =  Z M Z M 
ZP (22)
 Z MZ P 
ZM
~ ~ −1 ~ ~
Deseja-se que a matriz Z M = Q ⋅ Z F ⋅ Q seja diagonal. Chamando

λ1 
~ ~  
ZM = Λ =  λ2  (23)
 λ3 
vem que
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
Λ = Q −1 ⋅ Z F ⋅ Q ⇒ Q ⋅ Λ = Q ⋅ Q −1 ⋅ Z F ⋅ Q (24)

ou seja
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
Q ⋅ Λ = I ⋅ ZF ⋅ Q ⇒ ZF ⋅ Q − Q ⋅ Λ = 0 (25)
~ ~
onde I e 0 são respectivamente a matriz identidade e a matriz de
~ ~
zeros de ordem 3. Uma vez que Z M = Λ é diagonal, pode-se
escrever a equação (25) coluna por coluna, ou seja

Z p Zm Z m   q11 q12 q13   q11 q12 q13  λ1  0 0 0


 
Z m Zp Z m  ⋅ q21 q22 q23  − q21 q22 q23   λ2  = 0 0 0
   (26)
Z m Zm Z p  q31 q32 q33  q31 q32 q33   λ3  0 0 0

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Escrevendo a equação (26) para a primeira coluna fica


Z p Zm Z m   q11   q11  0
 
Z m Zp Z m  ⋅ q21  − λ1 ⋅ q21  = 0 (27)
Z m Zm Z p  q31  q31  0

Ou de forma condensada
~
{F ⋅ q{1 − λ
Z {1 ⋅ q{1 = 0
{ (28)
3×3 3×1 1×1 3×1 3×1

Para uma coluna genérica k (k = 1,3), tem-se que


~
Z F ⋅ qk − λk ⋅ qk = 0 (29)
A equação (29) pode ser colocada na forma
~ ~
Z F ⋅ qk − λk ⋅ ℑ ⋅ qk = 0 ⇒ (Z~
F )
~
− λk ⋅ ℑ ⋅ qk = 0 (30)
Na forma expandida a equação (30) fica da forma
 Z p Zm Zm  1    q1k  0
  
 Z m Zp Z m  − λk ⋅  1   ⋅ q2 k  = 0 (31)
 Z Zm Z p   1   q3k  0
 m
Ou ainda
Z p − λk Zm Z m   q1k  0
 
 Zm Z p − λk Z m  ⋅ q2 k  = 0 (32)
 Zm Zm Z p − λk   q3k  0

A equação (32) é um sistema linear e homogêneo, de três
equações e três incógnitas (q1k, q2k e q3k). Existe ainda uma quarta
incógnita, pois também não se conhece o valor de λk . No entanto,
para que um sistema homogêneo possua solução diferente da
trivial é necessário que
~
( ~
det Z F − λk ⋅ ℑ = 0 ) (33)

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Ou de forma expandida que

Z p − λk Zm Zm
Zm Z p − λk Zm =0 (34)
Zm Zm Z p − λk

Ou seja

(Z p − λk ) + 3 Z m3 − Z m2 (Z p − λk ) = 0
3
(35)

A equação (35) é uma equação do terceiro grau em λk. Desta


forma, vão existir três raízes dadas por

 λ1 = Z p + 2Z m

 λ2 = Z p − Z m (36)

 λ3 = Z p − Z m
O leitor pode substituir estes valores na equação (35) acima de
forma a certificar que são realmente as suas raízes. Estas raízes
~
são conhecidas como os autovalores da matriz Z F .

Substituindo o primeiro autovalor no sistema linear homogêneo


expresso na equação (32) tem-se que
Z p − (Z p + 2Z m ) Zm Zm   q11  0

 Z m Z p − (Z p + 2 Z m ) Z m
    
 ⋅ q21  = 0 (37)

 Zm Zm Z p − (Z p + 2Z m ) q31  0

Ou seja

− 2 Z m Zm Z m   q11  0
 Z − 2Z m Z m  ⋅ q21  = 0
 m (38)
 Z m Zm − 2Z m  q31  0

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Ou ainda

− 2 1 1   q11  0
 1 − 2 1  ⋅ q  = 0
   21    (39)
 1 1 − 2 q31  0

Finalmente
− 2q11 + q21 + q31 = 0

 q11 − 2q21 + q31 = 0 (40)
 q + q − 2q = 0
 11 21 31

A solução para este sistema é


q11 = q21 = q31 (41)

Substituindo o segundo autovalor (ou o terceiro, visto que são


iguais) na mesma equação (32), tem-se que
Z p − (Z p − Z m ) Zm Zm   q12  0

 Z m Z p − (Z p − Z m ) Z m
    
 ⋅ q22  = 0 (42)

 Zm Zm Z p − (Z p − Z m ) q32  0

Ou seja

Zm Zm Z m   q12  0


Z Zm Z m  ⋅ q22  = 0
 m (43)
 Z m Zm Z m  q32  0

Ou ainda

1 1 1  q12  0
1 1 1 ⋅ q  = 0
   22    (44)
1 1 1 q32  0

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Finalmente
 q12 + q22 + q32 = 0

 q12 + q22 + q32 = 0 (45)
 q + q + q =0
 12 22 32

A solução para este sistema é


q12 + q22 + q32 = 0 (46)

ou seja, quaisquer três valores que somados se anulem. Para o


terceiro autovalor tem-se a mesma solução, ou seja
q13 + q23 + q33 = 0 (47)
~ ~
Assim, a matriz Q que diagonaliza Z F deve ser montada por
autovetores justapostos tais que

 q11 = q21 = q31



 q12 + q22 + q32 = 0 (48)
q + q + q =0
 13 23 33

ou seja, os elementos da primeira coluna devem ser iguais e os


elementos das outras colunas devem ter soma nula. A equação
(48) mostra que a matriz de transformação de componentes
simétricas, ou de Fortescue, estudada na unidade anterior, atende
às três condições mostradas acima uma vez que ela é da forma

1 1 1
~
Q = 1 a 2 a  (49)
1 a a 2 

A equação (48) mostra também que na verdade, existem infinitas


~
transformações de similaridade que diagonalizam a matriz Z F ,
quando ela é equilibrada. Entre as mais conhecidas destacam-se,
para uso em sistemas de potência, as seguintes:

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(b.1) Transformação de Fortescue (ou Componentes Simétricas)


1 1 1 1 1 1
~  ~ −1 1 
Q = 1 a 2 a  ⇒ Q = 1 a a 2  (50)
3
1 a a 2  1 a 2 a 
(b.2) Transformação de Clarke (ou αβ0)
 
1 1 0  1 1 1 
~ ~ −1 1 
Q = 1 − 1 3  ⇒ Q = 2 − 1 − 1 
 2 2  3 (51)
1 − 1  0 3 − 3 
 − 3 
2 2
(b.3) Transformação de Karrembauer
1 1 1  1 1 1 
~  ~ −1 1 
Q = 1 − 2 1  ⇒ Q = 1 − 1 0  (52)
3
1 1 − 2 1 0 − 1
(b.4) Transformação de Clever

1 1 1   1 11 
~ ~ 1 
Q = 1 0 − 2  ⇒ Q −1 =  3 −3 
0 (53)
3 2 2
1 − 1 1  1 −1 1 
 2 2 
A equação (53) foi colocada neste texto apenas para provocar a
devida polêmica, pois a efetividade de uma dada transformação de
similaridade depende de vários fatores tais como facilidade para
interpretação física, simplicidade das operações e o fato de serem
ou não ortogonais. Mas, para quaisquer das transformações
anteriores e para outras possíveis que atendam às equações (48),
a matriz das impedâncias modais vai ser sempre da forma
 Z p + 2Z m 
~  
ZM =  Z p − Zm  (54)
 Z p − Z m 

~
ou seja, cada um dos elementos é um autovalor de Z F .
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EXEMPLO : Resolver o circuito mostrado abaixo utilizando a teoria


apresentada nesta unidade, admitindo-se que:

(a) o gerador fornece tensões equilibradas de 100 V eficazes e que


Zg = j 1 Ω, ZLP = j 3 Ω, ZLM = 0 Ω e ZC = j 3 Ω;

(b) ídem (a), mas com ZLM = j 1 Ω;

(c) ídem (b), mas com EC = 0 V.

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5. Representação de Grandezas em Por Unidade (PU)


5.1. Introdução
Por definição, uma grandeza em pu tem a seguinte forma:

Grandeza Elétrica
Valor (pu) =
Valor Base

Grandeza Elétrica Símbolo Dimensão Unidade


Corrente I [I] ampère
Tensão V [V] volt
Potência Complexa S [ VI ] volt-ampère
Impedância Z [ V/I ] ohm
Ângulo de Fase θ,φ,δ - radiano
Tempo t [T] segundo

• Em RPS não é necessário explicitar o tempo.


• O ângulo de fase é adimensional, não necessitando de valor
base.
• Restam então quatro grandezas, assim relacionadas:
Conclusão
S& = V& . &I* Conhecendo-se duas, as outras duas ficam

& &I automaticamente determinadas. Assim, é necessário
 Z& = V especificar apenas duas grandezas base.
• Geralmente os valores base são escolhidos reais para evitar
operações com números complexos.
• VANTAGENS:

(a) facilidade na comparação dos valores;


(b) eliminação dos trafos ideais;
(c) menores erros de aproximação;
(d) menor confusão (grandezas de linha / de fase);
(e) valores típicos de impedâncias para equipamentos.

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• FORMULÁRIO PARA CIRCUITOS MONOFÁSICOS


Usualmente são escolhidas ou fornecidas a Potência Base e a
Tensão Base. Desta maneira tem-se:

Potência Base Sb [VA] Sb [MVA] MVAb


Tensão Base Vb [V] Vb [kV] kVb

A determinação das outras bases é da forma

Corrente Base

 Sb [VA]
I [ A] =
 b
 Vb [V ]

 I [kA] = Sb [MVA]
(55)
MVAb
⇒ kI b =
 b Vb [kV ] kVb

Impedância Base

 Vb [V ] Vb [V ]2
 Z b [Ω] = =
I b [ A] Sb [VA]


Vb [kV ]2
(56)
 Z [Ω] = kVb2
⇒ Z b [Ω] =
 b Sb [MVA] MVAb

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5.2. Formulário para Circuitos Trifásicos


Para circuitos trifásicos equilibrados são válidas as seguintes
equações (em módulo):

VΦΦ = 3 VΦN
VΦΦ
S 3Φ = 3 S1Φ = 3VΦN I = 3 I = 3 VΦΦ I
3
2
(57)
 VΦΦ 
2   2
V V ⋅V V V
= 
3
Z = Φ N = Φ N Φ N = ΦN = ΦΦ
I VΦN ⋅ I S1Φ S 3Φ S 3Φ
3

Usualmente são fornecidos a Potência Base Trifásica (Sb3φ) e a


Tensão Base de Linha ( Vbφφ ).

Potência Base Trifásica Sb3Φ [VA] Sb3Φ [MVA] MVAb3Φ


Tensão Base de Linha VbΦΦ [V] VbΦΦ [kV] kVbΦΦ

No entanto pode-se utilizar a Potência Base por Fase (Sb1φ) e a


Tensão Base de Fase (VbφΝ). Assim

Potência Base Monofásica Sb1Φ [VA] Sb1Φ [MVA] MVAb1Φ


Tensão Base de Fase VbΦΝ [V] VbΦΝ [kV] kVbΦΝ

onde os valores base por fase se relacionam com os valores base


trifásicos por

 S b 3Φ
S
 b1Φ =
3 (58)

VbΦN = VbΦΦ
 3

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A determinação dos outros valores base é feita utilizando-se as


equações (57) e (58), ou seja:
Corrente Base

 S b1Φ [MVA] MVA b1Φ


 bI [kA] = ⇒ kI b =
 VbΦN [kV ] kVbΦN
 (59)

 S [MVA] MVAb 3Φ
 I b [kA] = b 3Φ ⇒ kI b =
 3 VbΦΦ [kV ] 3 kVbΦΦ

Impedância Base

VbΦN [kV ]2
2
 kVbΦN
 Z b [Ω] = ⇒ Z b [Ω] =
 Sb1Φ [MVA] MVA b1Φ
(60)

 VbΦΦ [kV ]2 kVbΦΦ
2
 Z b [Ω] = ⇒ Z b [Ω] =
 Sb 3Φ [MVA] MVA b 3Φ

5.3. Mudança de Base


Algumas vezes deseja-se expressar uma impedância em pu,
originariamente referida a um certo par de bases, para um outro
par de bases. Isto é feito sabendo-se que o valor ôhmico desta
impedância é único, ou seja
Z [Ω] = Z [Ω] (61)

Expressando-se o valor ôhmico desta impedância em pu, para as


duas impedâncias bases distintas Zb2 e Zb1 vem que
Z 2 ( pu ) ⋅ Z b 2 = Z1 ( pu ) ⋅ Z b1 (62)

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Ou seja

Z b1
Z 2 ( pu ) = Z1 ( pu ) ⋅ (63)
Zb2
Substituindo as expressões para Zb2 e Zb1 em (63) tem-se que
2 2
kVb 2 kVb1
Z 2 ( pu ) ⋅ = Z1 ( pu ) ⋅ (64)
MVA b 2 MVA b1
Rearranjando os termos resulta finalmente que

2
 kV  MVA b 2
Z 2 ( pu ) = Z1 ( pu ) ⋅  b1  ⋅ (65)
 kVb 2  MVA b1
A equação (65) acima mostra que o valor em pu da impedância no
novo par de bases 2 é inversamente proporcional ao quadrado da
nova tensão base e diretamente proporcional à nova potência
base.

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