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1. INTRODUÇÃO

A pesquisa sobre a vida dos jovens pode ser abordada em diferentes ângulos, tendo em

vista a diversidade de áreas que se pode enfatizar da mesma. Nesta pesquisa a ênfase será no

relacionamento eclesiástico. Uma abordagem sobre o tratamento da igreja para com as

necessidades peculiares aos jovens contemporâneos. Está a igreja suprindo as necessidades

dos jovens?

A relevância da busca a essa resposta é contribuir para a postura e desenvolvimento

eclesiástico, posto que os jovens da igreja contemporânea compõem uma parte considerável

da mesma. Os objetivos primários são apresentar um aparato da importância das necessidades

dos jovens frente a responsabilidade da igreja, expondo-a através de argumentos bíblicos e

lógicos, e utilizá-los como uma ponte para a compreensão da vida eclesiástica dos jovens.

Nessa abordagem faz-se necessário um enfoque no comportamento habitual da

juventude, analisado no âmbito psicológico. Dois resultados surgirão: Sendo o primeiro o

esclarecimento do comportamento dos jovens; e o segundo, a posição da igreja frente a esse

conhecimento.

A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica que através da consulta de obras, os

apontamentos aqui destacados serão alicerçados.

2. A RELEVÂNCIA DOS JOVENS NA IGREJA


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Os jovens da igreja contemporânea compõem uma parte considerável de membros da

mesma. Segundo Loiola (2004) o número de fiéis das igrejas evangélicas dobrou em dez anos,

“e os responsáveis por esse aumento foram os jovens, que somam 65% dos 17,6 milhões de

evangélicos brasileiros conforme dados do IBGE”. Através desse valor expressivo, percebe-

se a denotatividade da relevância dos jovens na igreja.

Tendo em vista essa relevância, faz- se necessário uma atenção sensível a essa classe

por parte da igreja e seus líderes. “Permanecer Sensível para com os interesses e as reações

dos jovens é algo que tem capacitado as igrejas bem- sucedida a manterem a sua vitalidade e

ventura”.(BARNA 1993,p.103)

A relevância dessa classe dá-se não tão somente pelo valor numérico atual da

mesma. No período da igreja primitiva percebe-se a relevância dos mesmos. O apóstolo Pedro

ao escrever sua primeira epístola desta a classe de jovens, “Rogo igualmente aos jovens...”

(BÍBLIA VIDA NOVA. 1997,p.17) Os próximos cinco versículos que seguem, são instruções

aos jovens.

É válido salientar que para muitos intérpretes, os jovens referidos nesse texto é uma

indicação de todos os membros da igreja que não são numerados entre os anciãos. Diante

dessa corrente de interpretação. Chaplin (S.D.) afirma que Pedro está literalmente dirigindo-se

a uma classe de indivíduos no período de sua juventude.

O motivo da alusão aos jovens nessa epístola foi exortá-los a obedecerem seus

líderes. “Pedro fala diretamente aos jovens que pudessem causar perturbação contra a

autoridade da lícita”. ( Id,S.D.p.165). Para o autor essa era uma atitude comum dos jovens

pela impaciência com o que consideram as imperfeições de qualquer indivíduo, organização,

sociedade ou nação. Enfatiza ainda que os anciãos não deviam ser ditadores, e sim, portar-se

como o Supremo Pastor, agindo assim seu governo seria aceitável para os jovens.
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Os quatro primeiros capítulos dessa epístola, Pedro está instruindo os cristãos de

forma geral sobre sua conduta. É considerável o fato de que no último capítulo, ele dirija- se

enfática e especificamente aos jovens (Id,S.D.)

João em sua primeira epístola por duas vezes dirige- se aos jovens:

“...Jovens eu vos escrevo porque tendes vencido o maligno; ...jovens eu vos escrevi,

porque sois forte e a palavra de Deus permanece em vós...”.(BÍBLIA VIDA NOVA,

1997,p.1747). Conforme Chaplin (S.D.) os membros mais jovens da congregação estão aqui

em foco, “a mocidade”.

O apóstolo Paulo em sua primeira epístola a Timóteo diz: “Ninguém o despreze pelo

fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no

amor, na fé, e na pureza” (BÍBLIA SAGRADA NOVA VERSÃO INTERNACIONAL,

2000, p.952).

O propósito desse versículo, seria levar tais congregações a respeitarem seus jovens

“supervisores”, além de encorajar tais pastores a exigir respeito, especialmente fazendo-se

exemplos de líderes cristãos maduros. É relevante destacar que na sinagoga e no sistema

judaico em geral, um homem de menos de trinta anos não era considerado elegível para

qualquer posição de autoridade. “No entanto a idade de uma pessoa é questão relativa, um

pastor ou supervisor pode ser um jovem, desde que esse esteja de acordo com os padrões

bíblicos. (CHAPLIN, s.d., p.325).

“A Bíblia é totalmente desprovida de qualquer exigência de idade para servir a Deus”

(FIELDS,1999 ,p.175). O autor enfatiza que o reconhecimento dos jovens por parte dos

demais membros da igreja pode ser demonstrado pela valorização do ministério desenvolvido

com a juventude. “A mão-de-obra juvenil é farta nas igrejas. Já a mente-de-obra continua

escassa. Ávidos pelos resultados rápidos, poucos líderes atrevem-se a investir tempo em

expedientes arcaicos como o discipulado” (PAVARINI, 2005).


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Se os demais membros da igreja sentirem que o ministério com jovens é relevante e

os respeitarem, ficarão mais propensos a dedicar seu tempo e recursos, contribuindo para o

crescimento dos mesmos (FIELDS, 1999).

3. NECESSIDADES DOS JOVENS


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3.1 Necessidade de Amor e Gregária.

Segundo Atkinson e Murray (1989) a sensação de ser querido e aceito é muito

importante durante os anos da juventude. Nesse período faz-se necessário que a família seja a

principal fonte a destinar amor e apoio para os jovens, no entanto é comum o processo de

distanciamento, causando uma desarmonia entre os mesmos. A partir desse conceito, percebe-

se o perigo que os jovens correm pela não correspondência dessa necessidade. Os mesmos

podem achar seus pais incompreensíveis e, portanto evitá-los como fonte primária de apoio.

Essa conclusão uma vez concebida na mente dos jovens, levará os mesmos a

buscarem apoio em outras fontes. As autoras mencionam que a principal fonte a ser buscada é

o grupo de amigos, e que esse daria ao jovem o apoio necessário para que desvincule- se de

sua família mesmo que de forma indireta. Sendo essa uma das causas de uma afinidade mais

íntima com seus amigos que com seus pais.

Segundo Melo (s.d.), no mundo atual muitos são os apelos apresentados aos jovens,

tentando desvirtuar o plano de vida dos mesmos. Diante dessa realidade compete aos pais

terem como função precípua, a orientação de seus filhos jovens. No aconchego familiar

ocorre a formação da estrutura da personalidade de cada ser humano. Logo, a família pode ser

um meio formador ou deformador da personalidade do jovem.

Fontoura (1967) afirma que a necessidade de amor e gregária, ocorre pelas

inclinações sociais corporativas que um indivíduo possui. Essa necessidade é que liga o

indivíduo ao seu meio físico, moral e social, este tende irresistivelmente para o meio em que

nasce e em que vive.

3.2 Necessidade de Auto-Realização


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A Auto-Realização consiste no aprazimento de um indivíduo acerca de determinada

área de sua vida, pelas necessidades da mesma supridas. “A necessidade de expressar suas

próprias capacidades é parte de uma natureza interior presente em todas as

pessoas”(ATKINSON e MURRAY,1989, p.598). Para Stanley (2001) a Auto-Realização de

um indivíduo está atrelada a uma profunda necessidade de sentir-se competente, útil a alguém

ou a algum propósito. Conforme Atkinson e Murray (1989), o jovem começa a perceber suas

qualidades e suas deficiências, na medida em que participa de um grande números de

atividades das mais variadas.

“Em algumas pessoas o caminho da realização está limitado por fatores

desistimuladores do crescimentos” (Id., 1989, p. 598). Segundo Stanley (2001), esses fatores

são frutos de danos sofridos no meio em que um indivíduo convive, freqüentemente ela surge

pelo indivíduo experimentar algum tipo de rejeição. Atkinson e Murray (1989) afirma que a

Auto-Realização está intimamente ligada com o crescimento físico, intelectual, emocional e

espiritual, no sentido do desenvolvimento das capacidades e potencialidades individuais como

ser humano.

Stanley (2001) destaca que embora essa necessidade seja evidente nos jovens, os

mesmos não a percebem explicitamente visto que, a necessidade de auto realização raras

vezes é perceptível pelos indivíduos. Ressalta ainda que as necessidades básicas para a Auto-

Realização de um jovem consistem em que o mesmo tenha senso de utilidade, de que vale a

pena ser conhecido, de estar presente em um lugar, de que se converse com ele, de ser tocado,

de ser chamado de amigo, de sorrir e de amar.

3.3 Necessidade de Pertencer


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Essa é uma necessidade comum ao ser humano. Segundo Stanley (2001) essa

necessidade consiste em o indivíduo depender de um lugar e de pessoas que o acolham. “ A

necessidade de pertencer é tão básica para os seres humanos, que esses buscam

continuamente um lugar ao qual pertencer e alguém que os considere como amável, desejável

e digno”(Id.,2001, p.242).

No cotidiano dos jovens contemporâneos essa necessidade aparentemente torna- se um

paradoxo, posto que os mesmos cultuam a liberdade, independência, e para isso buscam em

vários caminhos. De acordo com Stanley (2001), a necessidade de pertencer está contida

nessa busca, o que leva o jovem a procurar amizades em festas, atividades com colegas na

tentativa de ser aceito, ganhar reputação e de ser parte de um grupo.

4. A POSIÇÃO DA IGREJA FRENTE ÀS NECESSIDADES DOS JOVENS


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Conforme Barna (1995), os líderes das igrejas saudáveis reconhecem que, se o seu

ministério tiver de ser completo, é necessário uma identificação e atendimento às

necessidades dos jovens. Um ministério realmente torna-se efetivo quando são satisfeitas as

necessidades das pessoas.

“ Tais igrejas conservam-se tão sensíveis para com as necessidades das pessoas, que

pouca ou nenhuma se manifesta, se a liderança da igreja é capaz de prover um ensino valioso,

programas eficazes e outras atividades úteis” (Id., 1995, p.117). Afirma ainda que

permanecer sensível para com os interesses dos jovens, é algo que tem capacitado as igrejas

bem sucedidas a manterem sua vitalidade e ventura. Essas, demonstram de forma coerente a

sua capacidade de identificar pessoas em seu meio, que sejam capazes de ministrar a quem

tenha necessidades especiais.

Fields (1999) relata que muitos líderes o perguntavam como fazer para o grupo de

jovem crescer e a sua resposta à essa indagações era que cuidassem bem deles.

4.1 A Posição da Igreja Frente a Necessidade de Amor e Gregária

Muitas igrejas e ministérios de juventude hoje são relacionais porque perceberam que

ganharam o direito de ser ouvidos preocupando-se em primeiro lugar com as pessoas

(FIELDS,1999, p.236).

De acordo com Barna (1995), os jovens desejam obter soluções significativas para os

seus conflitos mais profundos, se a igreja estiver preparada de antemão para tanto, poderá ter

a oportunidade de procurar atender essas necessidades.

Diante da incompreensibilidade por parte da igreja para com a necessidade de amor e

gregária dos jovens, Barna(1995) ressalta que é preciso perceber que muitas dessas pessoas
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chgaram a igreja em primeiro lugar porque precisavam de ajuda. O conceito de amor e

gregária tem sido deturpado por muitas igrejas; as mesmas atribuem esse conceito ao fato de

acolherem os jovens independentemente de seus pecados. Tendo em vista o cumprimento de

tal necessidade, esses pecados não são confrontados.

“A confrontação precisa ser feita de forma delicada e em consonância com a

normativa oferecida pela Bíblia, mas não se pode tolerar o pecado, seja em que circunstancia

for”(BARNA,1995, p.192). Para Stanley (1999), a igreja deve ser um lar de aceitação

amorosa, porém não de aceitação do pecado, mas do pecador.

4.2 A Posição da Igreja Diante da Necessidade de Auto-Realização dos Jovens.

Os jovens são dotados de força e vigor bem como de grande energia. É tradicional

que os mesmos empreguem essa energia natural na busca pelas paixões e vantagens desse

mundo. Essa força, vigor e energia deveria ser empregadas em prol da batalha espiritual, daí

a relevância dos jovens serem instruídos a fim que direcionem sua energia a um alvo correto.

(CHAPLIN, S.D.)

De acordo com Fields (1999) a Auto-Realização dos jovens advém de fatores como

“ser útil”. Eles sentem prazer em descobrir que são dotados de talentos e que Deus deseja usá-

los. Em algumas igrejas, conduzir estudantes a exercer o ministério não é um desafio tão

grande como convencer a congregação e a liderança da igreja de que os jovens podem

desempenhar um papel no corpo de Cristo.

Segundo Atkinson e Murray (1989) no período da juventude, os jovens começam a

perceber suas qualidades e suas deficiências na medida em que participam de um grande

número de atividades da mais variadas, esses desejam ser reconhecidos como indivíduos
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únicos e maduros e tentam demonstrar as características que associam com os seus modelos

de atividades adultas.

Diante dessa vertente, Fields (1999) destaca a relevância do tratamento dos demais

membros da igreja para com os jovens. “Não concordo quando os demais membros da igreja

dizem: devemos ter uma juventude forte porque os jovens são o futuro de nossa igreja. Os

jovens não representam o que a nossa igreja será no futuro, eles são a nossa igreja hoje”.

(Id,1999,p.174). Para o autor embora essas mensagens da igreja do futuro pareça inofensiva e

aceitável, na verdade é contraproducente. Enfatiza a necessidade de desafiar os jovens a serem

ministros e participar do obra hoje, em vez de ficarem sentados esperando por um futuro. Esse

é um dos empecilhos para a Auto-Realização dos jovens.

4.3 A posição da Igreja Frente a Necessidade de Pertencer

Segundo Stanley (1999), o fato dos outros nos acolherem, é fundamental para que

identifiquemos que Cristo realmente nos aceita. O Senhor deseja que cada pessoa faça parte

de uma igreja, que tenha o senso de pertencer. A igreja deve ser o lugar de aceitação amorosa

onde possam ser apreciadas pro serem filhos de Deus. Pertencer a uma igreja deveria ir mais

fundo do que simplesmente assinar um rol de membros ou freqüentá-la regularmente, mas

fazer parte de um ambiente caracterizado por um sentimento de cuidado, de serviço e

aceitação.

Tratando do acolhimento dos jovens na igreja, Fields (1999) expõe a necessidade de

esforço por parte da igreja para criar uma atmosfera familiar dentro do ministério a fim de que

os jovens sintam-se em casa, e ressalta que os líderes da juventude reflitam sobre a

importância dos mesmos e demonstrem que a igreja é o lugar a que eles pertencem.
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5. CONCLUSÃO
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A relevância dos jovens, na igreja, dá-se pela parte considerável que esses

ocupam no corpo da mesma. Pelo lugar que lhes é devido, faz-se necessário uma

atenção específica por parte dos demais membros da igreja.

Suas necessidades apresentam uma explicação à causa de determinadas

atitudes. Diante dessas, a igreja tem a responsabilidade de agir como provedora, em

busca da correspondência dessas necessidades.

A igreja, em relação aos jovens, é uma mina de diamantes ainda não

desbravada. Tais diamantes precisam ser descobertos e lapidados, e uma vez

descobertos, lhes é dado o devido valor e reconhecido sua utilidade. Ou seja, a igreja

possui preciosidades exuberantes em seu corpo esperando a oportunidade de serem

úteis.

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