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ANO 2000 – Angústia ou Esperança?

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ANO 2000 – ANGÚSTIA OU ESPERANÇA?

Enoch de Oliveira

Casa Publicadora Brasileira


Tatuí - São Paulo / Segunda Edição

Dez mil exemplares 30º milheiro 1990

Contracapa:

Ano 200 – Angústia ou Esperança?


Ao pensarmos no que nos aguarda neste final de século, muitas
indagações nos ocorrem à mente. Chegaremos no Século XXI, ou será o
fim de tudo? O mundo será destruído por uma catástrofe, ou o ser
humano compreenderá finalmente que é melhor viver em paz?
O homem vencerá as doenças que têm assolado a humanidade, ou
será vencido por elas? Que será das gerações que sobreviverem ao século
XX? As perspectivas são sombrias. Muitas são as perguntas e poucas as
respostas.
À primeira vista, parece haver mais angústia que esperança. Mas
Deus não deixou a humanidade sem respostas. Acima de tudo e de todos
paira Sua promessa de uma vida melhor, muito além de qualquer
suposição humana. Esta obra trata dos grandes problemas do nosso
tempo e indica soluções.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 2
ÍNDICE

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

1. "Dá-nos o Amanhã" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
*A Astrologia *De 2000 Não Passará" *O Fim do Primeiro
Milênio *Ciência ou Ficção? *Profetas do Novo Apocalipse *Nas
Mãos de Deus
2. Místicos, Fanáticos e Impostores . . . . . . . . . . . . . . 21
* Falsos Messias Através dos Séculos *O Profeta do Mormonismo
*A Proliferação de Cultos e seu Significado *Os Curandeiros a
Serviço da Fé *Demonismo e Outros Cultos *Messias, Cultos e
Escrituras *Como Reconhecer um Falso Messias
3. Terminará a História em Holocausto Nuclear? . . . 36
*Uma Grande Ilusão *Armai-vos uns aos Outros *Uma Gloriosa
Esperança
4. A Cegonha Ameaça o Mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
*As Predições de Malthus *Ascensão Catastrófica *Um Planeta
Faminto *A Revolução Verde *O Controle da Natalidade *As
Profecias Bíblicas
5. Epidemias, Endemias e Pandemias . . . . . . . . . . . . 61
*A Peste Bubônica *A Cólera *Gripe Espanhola *A Febre
Amarela *A Peste Branca e Outras Enfermidades *Doenças
Venéreas *AIDS *A Terra Está Contaminada *Deus e as
Enfermidades *As Enfermidades Não Mais Existirão
6. Tremem os Fundamentos da Terra . . . . . . . . . . . . . 75
*Trinta e Nove Segundos *Angustiosa Eternidade *O Terremoto
do México *O Anel de Fogo *Idéias Obscurantistas *Os
Terremotos e as Profecias *Dois Importantes Terremotos
7. A Explosão Sexual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
* "Deus os Entregou a Paixões Infames" *Símbolo de uma
Destruição Global *Um Panorama Sombrio *O Homossexualismo
* Os Lucros Astronômicos da Pornografia *O Colapso do Família
* Remédios Para a Enfermidade Moral *Sinal Inequívoco do Fim
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8. O Mundo Estremecido Pela Violência . . . . . . . . . . 104
*A Densidade Produz Tensões *A Influência da Televisão
*"Abaixo as Armas" (Mesmo as de Brinquedo) *A Violência Será
Erradicada
9. A Psicose do Medo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
*O Mecanismo do Medo e as Fobias *O Temor Supersticioso *O
Medo da Morte *O Medo e suas Várias Máscaras *O Medo de
uma Guerra Nuclear *Sinal Profético Inequívoco
10. Cristianismo Enfermo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
*Inimigos Internos * "A Morte de Deus" *Analfabetismo Bíblico
*A "Nova Moral" *A Lei de Deus *Clero Dividido e Rebanho
Pouco Convicto *Sinal do Fim do Mundo
11. Indigestão e Inanição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
*Ricos e Pobres *Inquietante Desequilíbrio Econômico
*Surpreendente Concentração de Riquezas *Século Paradoxal
*"Chorai Por Vossas Desventuras" *O Conflito Social
12. O Suicídio Ecológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156
*A Contaminação do Ar *A Contaminação da Água *A Era do
Lixo *Poluição Sonora *A Natureza Ameaçada Pela Poluição
*Catástrofes Naturais *Que Diz a Bíblia sobre a Contaminação?
13. Céticos, Irreverentes e Escarnecedores . . . . . . . . 173
*Nos Últimos Dias Aparecerão Zombadores *Argumento Ilusório
*O Misterioso Desaparecimento de Animais *"Andando Segundo
suas Concupiscências" *Os Escarnecedores e seus Equívocos
*Solene Exortação
14. Inquietante Mensagem de um Presidiário . . . . . . 188
*Tempos Perigosos *Egoístas *Avarentos *Blasfemadores
*Desobedientes *Ingratos *Irreverentes *Desafeiçoados *Sem
Domínio de Si Cruéis *Amigos dos Prazeres *Forma de
Piedade *Esta é a Hora Apocalíptica
15. Será o Mundo Dominado Por Uma Nação? . . . . . 207
*Um Sonho Perturbador *Dois Mil e Quinhentos Anos de
História *Babilônia *Os Medos e Persas *A Grécia *Roma
*Um Reino Dividido *Mistura de Semente Humana *O Quinto
Reino Universal
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16. Os Cavalos do Apocalipse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221
*A Visão dos Sete Selos *Estilo Simbolista *O Cavalo Branco
*O Cavalo Vermelho *O Cavalo Preto *O Cavalo Amarelo *O
Quinto Selo *O Sexto Selo *O Grande Terremoto *O Dia Escuro
*Chuva de Estrelas Fugazes *Tempo Para Despertar
17. Esperança Para as Angústias Humanas . . . . . . . . 239
*Venturosa Promessa *A Promessa Através dos Séculos *Como
Virá o Senhor? *Quando Virá o Senhor? *Por Que Virá o
Senhor? *Encontro Espacial *A Preparação Indispensável *Bem-
Aventurada Esperança
18. Mil Anos de Paz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
*Fantasias e Realidades *A Ressurreição dos Eleitos *Os Justos
Levados Para o Céu *A Destruição dos Ímpios *A Prisão de
Satanás *O Juízo no Céu *A Terceira Vinda de Cristo *A
Segunda Ressurreição *A Tragédia do Santa Helena
19. Vida Depois da Vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 274
*A Tumba Vazia *Mito ou Realidade Histórica *Consoladora
Certeza *Quando Ocorrerá a Ressurreição? *Edição Nova
Corrigida e Emendada
20. A Nova Ordem Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 289
*Ilusões Utópicas *Auroville – a Cidade Feliz *Acariciada
Esperança *Promessa Alentadora *O Céu Será Uma Realidade
*Uma Nova Cidade *O Paraíso Restaurado *Condição Para
Entrar no Paraíso
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INTRODUÇÃO

O mundo celebrou com grande entusiasmo o amanhecer do


Século XX. As nações da Europa desfrutavam então um dos
seus raros períodos de paz e concórdia. A revolução industrial,
precipitando aceleradas transformações sócio-econômicas, parecia
prenunciar o início da "Idade de Ouro" da História, quando o progresso
haveria de ser certo, irreversível e ilimitado.
Cedo, entretanto, sobre o luminoso céu vitoriano desceu uma densa
cerração e a esperança que alertava o mundo cedeu lugar à angústia e à
insegurança.
Irrompeu o primeiro conflito mundial e, o século, que começou com
uma elevada nota de otimismo, contemplou com assombro a tragédia da
guerra, com todo o seu espanto e horror.
Depois de quatro anos de incertezas e privações, o conflito armado
terminou, deixando um saldo aterrador. A Europa, exausta e empobrecida,
sentia o esvaecimento dos valores otimistas herdados do Século XIX.
Passaram-se mais de dez anos desde a assinatura do Tratado de
Versalhes, e eis que se consuma em Nova Iorque a quebra da Bolsa de
Valores, atirando os Estados Unidos e os cinco continentes nos anos
turvos de desemprego e miséria, de esperanças frustradas e brutais
reações. Foi um desastre econômico que abalou o mundo. O desemprego
chegou a índices sem precedentes. Ocorriam por toda parte greves,
agitações de rua, passeatas de fome e fermentação revolucionária. Em
cada indivíduo atingido pela depressão econômica, em cada família, em
cada fábrica, um sentimento dominava em forma soberana: o medo.
Quando a depressão econômica começou a declinar, suscitando no
mundo financeiro moderadas expectativas, nuvens densas voltaram a
cobrir o céu das esperanças humanas, prenunciando dias tormentosos.
Inspirando-se em sentimentos revanchistas, despontava na Europa
um nacionalismo exacerbado. Respirando ódio e vingança, Hitler anexou
a Renânia ao seu país. Naquele mesmo ano, 1936, eclodiu a guerra
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espanhola, e as tropas de Mussolini, em seus ambiciosos sonhos de
expansão territorial, invadiram a Abissínia.
Estes três sucessos bélicos, somados a outros fatores, serviram mais
tarde como elementos detonantes da Segunda Guerra Mundial, que com
tudo o seu horror se abateu sobre nações e continentes.
Sob os céus de Hiroshima explodiu a bomba atômica, e uma onda
de pessimismo e angústia avassalou o mundo.
Mas o terceiro quartel do Século XX se destacou como o melhor da
História. A capacidade produtiva anual mais que duplicou em relação a
todas as eras anteriores. Houve uma explosão mundial de educação e
alfabetização. Em alguns países de economia emergente os índices de
mortalidade infantil baixaram uns fantásticos dois terços, enquanto que a
expectativa de vida média, que andava na faixa dos 30 anos, passou
surpreendentemente pela casa dos 50.
E agora que nos aproximamos dos umbrais do Século XXI, a
sabedoria convencional mostra-se outra vez reservada e sombria.
Vivemos, é certo, a revolução do computador, das telecomunicações e da
automação. Mas juntamente com o progresso científico e os avanços
tecnológicos, assistimos impotentes à escalada armamentista, à explosão
demográfica, ao suicídio ecológico, ao urbanismo desalmado e à
presença sinistra da fome. Caminhamos para uma situação idêntica à do
animal que se vê acuado onde não há espaço para mover-se.
Alarmado diante deste panorama sombrio, Richard Falk, em seu
livro This Endangered Planet (Este Planeta Ameaçado), declarou: "Os
anos 70 são caracterizados por uma política de desalento; os 80 por uma
política de desespero; os 90 por uma política de catástrofe e o Século
XXI, como a Era do Aniquilamento.
Mas, refutando as vozes dos que anunciam o caos iminente,
apresentamos nas páginas que se seguem, a resposta de Deus às
angústias humanas: um futuro pleno de radiosas promessas.
O Autor
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"DÁ-NOS O AMANHÃ"

Pareceria que estamos nos dirigindo veloz e firmemente em direção a


uma espantosa tragédia. Todos queremos deter o processo, mas não
sabemos como. – Winston Churchill

*A Astrologia *De 2000 Não Passará" *O Fim do Primeiro Milênio


*Ciência ou Ficção? * Profetas do Novo Apocalipse *Nas Mãos de
Deus

A guerra da Coréia estava em andamento. O mundo


contemplava com espanto e horror o extermínio de milhares de
vidas. Em fulminante ofensiva, a Coréia do Norte avançava sobre o
território sul-coreano, motivada pelo desejo de ampliar suas fronteiras. O
presidente Harry Truman, com o aval da Organização das Nações
Unidas, ordenou a imediata intervenção das tropas dos Estados Unidos
ao lado dos coreanos do sul.
Foi um conflito duro, travado por motivos ideológicos claros e
inconfundíveis. Prosseguiu durante quase três anos, com alternativas
dramáticas – ofensivas ferozes e encarniçadas contra-ofensivas – até que
a frente se estabilizou mais ou menos na fronteira original entre as duas
Coréias.
Marguerite Higgens, correspondente de guerra, descrevendo os
lances do terrível conflito, ao relatar a participação da Quinta Companhia
de Fuzileiros, que com os seus 18 mil homens se preparava para mais um
violento combate, registrou:
"Fazia muito frio e o termômetro marcava muitos graus abaixo de
zero, naquela manhã, quando os jornalistas se reuniram aos soldados,
em descanso ao ar livre. Cansados, semicongelados, encostaram-se nos
caminhões enlameados, comendo em latas. Um fuzileiro comia feijão frio
com a faca e suas roupas estavam endurecidas como se fossem
madeira. O rosto, coberto com uma barba espessa, estava cheio de lama.
Um correspondente lhe perguntou: 'Se eu fosse Deus e lhe pudesse dar o
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que você quisesse, o que me pediria?' O homem se manteve imóvel por
um instante, depois ergueu a cabeça e respondeu: 'Queria que me desse
o dia de amanhã. "1
As perplexidades do presente e as incertezas do futuro levam
multidões angustiadas a repetir as palavras do soldado da Quinta
Companhia de Fuzileiros: "Dá-nos o amanhã."
Torturados pela neurose da expectativa, frente às ameaças de um
holocausto nuclear, muitos interrogam: Quanto tempo resta ainda ao
homem sobre a face da Terra? Que acontecerá nestes poucos anos que
antecedem o fim de mais um milênio? Marcará o ano 2000 o fim das
angústias humanas?
Esta obsessão por descerrar a cortina, que em suas dobras esconde
os segredos do amanhã, propicia condições favoráveis para o
reflorescimento de antigas e discutíveis práticas de adivinhação e o
ressurgimento de formas questionáveis de messianismo profético.
Em uma Enciclopédia da Adivinhação, publicada na França, estão
alistadas em ordem alfabética, nada menos que 230 diferentes maneiras
de ler o futuro, desde a adivinhação pela direção do vento
(Anemoscopia), até o augúrio pelo mergulho de uma ave marítima
(Aitomancia), passando pela predição do futuro através do estudo de
uma mancha de tinta (Tintomancia) e a adivinhação pela forma das
sombras (Ciomancia).
Todas estas práticas divinatórias ou previsionistas se inspiram no
desejo ardente de interpretar os enigmas do amanhã.

A Astrologia

Mas a prática mais popular no campo da adivinhação é hoje, sem


dúvida, a astrologia. Apesar de suas contradições e equívocos, seu
mercado é considerável e seu êxito se explica menos pela capacidade de
adivinhação dos seus intérpretes, do que pelo anseio de seus angustiados
clientes, de conhecer o futuro.
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A astrologia nasceu com os caldeus que, das torres de seus
santuários, registravam num mapa o movimento dos planetas. Naqueles
idos, os horóscopos (cartas que mostram as posições dos planetas no
momento em que uma pessoa nasce) eram feitos apenas para o rei, e
usados somente nas predições de altos assuntos de Estado.
Da Mesopotâmia, passou à Grécia e se popularizou. Estendeu-se
depois pelo mundo inteiro, conquistando o império romano. Combatida
vigorosamente pela igreja cristã nos primeiros séculos, a astrologia
desapareceu quase completamente.
Floresceu mais tarde, no século XII, com o advento dos filósofos
árabes, e alcançou o seu apogeu nos dias da Renascença, quando
conquistou a simpatia dos príncipes e o beneplácito das casas reais.
Mas o seu fenomenal ressurgimento ocorreu realmente no
crepúsculo do século passado, quando a Sra. Evangelina Adams, que
vivia em Boston, Estado de Massachusetts, nos Estados Unidos,
começou a estudar a relação entre o movimento dos astros, o caráter e o
destino dos homens.
Guiada pelos astros – explicou a Sra. Adams – mudou-se para Nova
Iorque. Hospedando-se na noite de sua chegada (16 de março de 1899),
no Hotel Windsor, advertiu o proprietário, Sr. Warren F. Leland, que em
virtude de uma terrível conjunção de astros, algo terrível ocorreria
naquela noite. Com efeito, por coincidência, um violento incêndio
destruiu o Hotel Windsor, perecendo no sinistro a filha do proprietário e
alguns outros membros da família.
O Sr. Leland comunicou a um grupo de jornalistas a advertência
dada pela Sra. Adams e sua fama se espalhou como rastilho de pólvora.
Aproveitando a onda favorável, montou um consultório numa sala nobre
situada sobre o Carnegie Hall, e teve entre seus clientes personagens
célebres como o rei Eduardo VII, da Inglaterra, o cantor Enrico Caruso, e
a conhecida atriz Mary Pickford. Como a astrologia era proibida no
Estado de Nova Iorque, Evangelina Adams teve complicações com a
justiça, sendo acusada de práticas não sancionadas pela lei. O magistrado
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que a julgou, entretanto, impressionado com algumas de suas
informações, declarou que a Sra. Adams havia dado à astrologia um
status científico, e, por isso mesmo, não devia ser proibida de exercê-la.
Em 1930, exatamente dois anos antes de sua morte, a Sra. Adams
iniciou um programa radiofônico que alcançou resultados
surpreendentes. Nos três primeiros meses, 150 mil pessoas lhe
solicitaram horóscopos, e pouco depois recebia uma média de 4 mil
cartas por dia. Como resultado da ação de diversas sociedades
científicas, o programa foi suspenso. A semente, entretanto estava
lançada.
Hoje estima-se que mais de 20 milhões de pessoas nos Estados
Unidos orientam a vida em harmonia com os astros. Não incluímos neste
número os milhões adicionais de simpatizantes que consultam
diariamente os horóscopos, ou compram artigos decorados com os
signos do Zodíaco. Esta atividade se tornou tão lucrativa, que dela vivem
aproximadamente 10 mil astrólogos em regime de dedicação exclusiva e
outros 175.000 que lhe consagram uma boa porcentagem do seu tempo.
Nos Estados Unidos, 1.200 dos 1.700 jornais diários incluem em
suas páginas colunas sobre astrologia sob a responsabilidade de nomes
famosos, como Jeanne Dixon e Carroll Righter.
De acordo com o Sunday Times, dois terços da população adulta da
Inglaterra consultam regularmente os horóscopos e, deles, um quinto os
aceitam com religiosa seriedade.
Um levantamento realizado na Alemanha Ocidental revelou que dez
por cento da população se deixa influenciar pela adivinhação, não
havendo nisso diferença entre doutos e indoutos.
Na França, uma próspera agência emite horóscopos personalizados
por um computador. Uma organização concorrente opera um serviço
similar, durante as 24 horas do dia, em quatro idiomas diferentes.
O número de astrólogos no Brasil é desconhecido. Sabemos,
entretanto, ser grande a legião dos seus adeptos.
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Os grandes jornais do país, mesmo os mais austeros, publicam
regularmente boletins astrológicos, motivados pelo desejo de multiplicar
suas tiragens.
É o anseio por conhecer o amanhã que motiva o aumento constante
de uma clientela crédula, disposta a sustentar o próspero negócio dos
mercadores de horóscopos.

"De 2000 Não Passará"

Com um presente carregado de problemas insolúveis e um futuro


cheio de inquietantes expectativas, não são poucos os que apelam aos
recursos não tradicionais na ansiosa procura de uma orientação que lhes
ajude a superar as crises do presente e as incertezas do porvir. E os
astrólogos, os videntes, os cientistas, os religiosos e até mesmo os loucos
apocalípticos se multiplicam para satisfazer uma nervosa clientela que, à
semelhança do soldado da guerra da Coréia, deseja conhecer o amanhã.
Reza um conhecido refrão: "Até dois mil chegará, mas daí não
passará."
A crença popular é que essa cifra "dois mil" se refere ao ano 2000,
no qual – consoante antiga tradição – a civilização chegará ao fim como
resultado de uma sucessão de tragédias apocalípticas desencadeadas.
Mas de onde se originou esse popularizado refrão?
Frederick Nolan (1784-1864), teólogo anglicano e reputado
lingüista irlandês, em seu livro Time of the Millennium (Tempo do
Milênio) apresentou a teoria de que o mundo duraria 6.000 anos, os
quais concluiriam aproximadamente no ano 2000.
Associaram-se ao pensamento do teólogo irlandês, algumas figuras
respeitáveis no mundo religioso, a saber: George Faber (1773-1854),
festejado escritor anglicano; Alexander Campbell (1788-1866),
conhecido teólogo, fundador da Igreja dos Discípulos de Cristo; José
Maria Gutierrez de Rozas (1769-1848), respeitado jurista mexicano,
propulsor de estudos proféticos no início do século passado; e o Dr.
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Robert Scott (1760-1834), médico e pregador metodista, que se ocupou
de modo especial na interpretação da escatologia bíblica.
Esses cinco teólogos conseguiram persuadir a muitos de que o
refrão popular – "até dois mil chegará, mas daí não passará" tem o
inquestionável endosso das Escrituras Sagradas.
E agora, multidões angustiadas interrogam: Que acontecerá no ano
2000? Estamos acaso à beira da extinção da espécie humana? Perecerá o
mundo incinerado nas cinzas de um holocausto nuclear? Integramos a
última geração de habitantes neste planeta moribundo?
O "relógio do juízo final" (que desde 1947 figura na capa do
Boletim dos Cientistas Atômicos) marcava, no começo de 1984, três
minutos para a meia-noite, o que significava para os seus editores a
possibilidade de uma iminente confrontação bélica internacional apoiada
nas armas nucleares.
A poluição das fontes vitais – o solo do qual extraímos os alimentos,
o ar que respiramos e a água que bebemos – atinge gradualmente limites
intoleráveis.
O pauperismo, a fome e as enfermidades endêmicas e epidêmicas se
agravam cada dia, tomando proporções apocalípticas.
A voracidade industrial, nesta era caracterizada pelo desperdício,
parece precipitar o esgotamento de todos os recursos naturais não
renováveis.
Multiplica-se a chamada "Literatura do Juízo Final", pretendendo
responder as interrogantes que agitam o espírito humano no tocante aos
acontecimentos que ocorrerão nos anos que antecedem o fim deste
segundo milênio de nossa era.
Eis alguns dos livros publicados nos últimos anos, que integram a
bibliografia do desastre: The Terminal Generation (A Última Geração),
The Beginning of the End (O Começo do Fim), Mankind at Turning
Point (A Humanidade Chega ao Ponto Crítico), After Doom, What? (E
Depois do Juízo?), Must We Hide? (Devemos Esconder-nos?) There Will
Be no Time (Não Haverá Tempo), Little World, Good-bye (Adeus,
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Pequeno Mundo). Seus autores não são visionários neuróticos, vítimas
da "síndrome do dia do juízo". Eles são em sua maioria austeros
cientistas, filósofos e escritores, anunciando que estamos sob a ameaça
de um genocídio.
Mas, são justificáveis essas preocupações?

O Fim do Primeiro Milênio

O fim do primeiro milênio de nossa era foi também acompanhado


com sombrios presságios de acontecimentos que convulsionariam a
Terra e precipitariam o fim da História. As lendas, superstições e os
vaticínios macabros, que acompanharam a transição do primeiro para o
segundo milênio, suscitaram uma onda de apreensões e temores, levando
milhares a esperar a noite do dia 31 de dezembro do ano 999, com
indizível temor.
A imensa Basílica de S. Pedro, em Roma regurgitava de adoradores
na missa da meia-noite. Muitos pensavam que aquela seria a última
cerimônia religiosa a que assistiriam neste mundo. O historiador
Frederick H. Marlens, em seu livro A História da Vida Humana,
descreve com expressivo dramatismo os pormenores litúrgicos que
acompanharam a missa naquela noite histórica:
"O Papa Silvestre se ergueu diante do altar maior. A igreja estava
repleta e todos se haviam ajoelhado. O silêncio era tão grande que se
ouvia o roçar das mangas brancas do Papa movendo-se diante do altar.
E havia ainda um outro ruído. Era o som que parecia medir os últimos
minutos dos mil anos de existência da Terra desde a vinda de Cristo.
Ressoava nos ouvidos de todos os presentes como uma batida sonora,
regular, incessante. A porta da sacristia estava aberta, e o que os
assistentes ouviam era o tique-taque uniforme e constante do grande
relógio que marcava os segundos que passavam. Os presentes
aguardavam... O Papa Silvestre não pronunciou uma palavra sequer.
Parecia imerso em oração, com as mãos elevadas ao céu. O relógio
seguia o seu tique-taque. Como crianças amedrontadas em meio à
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escuridão, todos que estavam na igreja permaneciam com o rosto voltado
para o chão e não ousavam levantar os olhos. O suor cobria muitas
frontes frias e os joelhos e os pés tornaram-se dormentes. Então, de
repente, o relógio cessou o seu tique-taque. Entre os adoradores ali
reunidos, começou a formar-se um grito de terror. Mortos de medo, vários
corpos caíram pesadamente sobre o piso de pedra. Então o relógio
começou a badalar. Badalou uma, duas, três, quatro... doze. A
duodécima badalada ressoou extinguindo-se em ecos, e se seguiu um
silêncio de morte. Então, o Papa Silvestre voltou-se pera a congregação
e com o orgulhoso sorriso de um vencedor, estendeu as mãos
abençoando as cabeças dos que estavam reunidos. Neste momento,
todos os sinos das torres começaram a dobrar num repique alegre e
jubiloso, e desde uma das galerias do santuário, um coro de alegres
vozes de jovens e adultos começou a soar, a princípio inseguro,
tornando-se mais claras e firmes ao final. Cantavam o Te Deum
Laudamus: "Louvamos- Te, ó Deus." Após o Te Deum, homens e
mulheres se abraçavam, rindo e chorando e permutando o beijo da paz.
Assim terminou o ano mil do nascimento de Jesus."2
Daquele tempo até agora, surgiram inúmeros visionários
apresentando sinistras visões do mundo destruído por violentas
convulsões apocalípticas.
No século XII pontificou Joachim de Flore (1130-1202), místico
calabrês que anunciou o fim do mundo para o ano 1260. Outro visionário
do século XVII, Francisco Davenne, fixou 1645 como o ano do grande
desastre cósmico. Morreu dez anos depois, decepcionado com o não
cumprimento da sua predição.
Em uma de suas crônicas habituais, Humberto de Campos, com
ferina mordacidade, apresentou em uma lista de profetas do caos, "'o
francês Armand de Villeneuve, o alemão João Hilten, o inglês Winstons
e a russa Maria Kraner, os quais "marcaram os anos de 1395, 1651, 1716
e 1819 da nossa era'', como o ''ano do juízo final". E com sutil ironia,
acrescentou: "Parece, entretanto, que os cálculos por eles feitos não
estavam absolutamente certos. Pelo menos, se o mundo já se acabou, a
censura policial não consentiu que a notícia fosse divulgada pela imprensa."
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Mais recentemente, a Sra. Elizabeth Steen, de Richmond,
Califórnia, provocou uma situação de angústia e pânico na mente de
milhares, ao anunciar para o dia 14 de abril de 1969, uma série de
terremotos destruidores que haveriam de arrasar o litoral da Califórnia.
Quando chegou o anunciado "dia da ira divina", aproximadamente 10
mil pessoas se reuniram no centro de S. Francisco, aguardando a hora
fatal. Quando perceberam que nada havia ocorrido, retiraram-se
contrafeitos e encabulados.
Mas de todos os videntes ao longo destes séculos, os que mais se
destacaram foram sem dúvida Michel de Nostradame (1503-1566),
conhecido pelo pseudônimo de Nostradamus, e S. Malaquias (1095ll48).
O primeiro se tornou célebre por suas famosas Centúrias e o segundo por
suas Profecias dos Papas. Os comentários provocados por suas predições
são abundantes e continuam inspirando a publicação de inúmeros
escritos relacionados com as chamadas "profecias dos últimos tempos".
Referindo-se às suas antecipações, Nostradamus escreveu:
"Compus livros e profecias que contêm cada um cem quadras
astronômicas de profecias, as quais eu quis alinhavar um pouco
obscuramente: são vaticínios perpétuos, desde agora até o ano 3797"3
Os intérpretes que analisam suas metáforas proféticas e alusões
esotéricas jamais conseguiram harmonizar claramente suas conclusões.
A única previsão que parece impor-se é que no final deste século, após
um período de catástrofes e violências, a paz universal se estabeleceria.
O outro vidente, S. Malaquias, sacerdote irlandês, bispo de Armagh,
tomou como base em seus vaticínios uma sucessão de futuros papas,
começando com os pontífices de sua época até os que parecem ser os
papas contemporâneos. S. Malaquias predisse que o poder do Vaticano
terminaria com um papa chamado Pedro, em um tempo que, calculando
a média dos reinados papais, nos levaria ao fim deste milênio. Conforme
a sua descrição de quem pareceria haver sido o papa Pio XI, haverá
outros seis papas depois dele, antes de "Pedro o Romano", que será o
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 16
último. Em seu pontificado, concluiu S. Malaquias, "a cidade das sete
colinas (Roma) será destruída e o terrível Juiz julgará o seu povo".
E agora que se aproxima o fim do segundo milênio, outras vozes
proféticas se unem anunciando também o fim catastrófico do mundo.
Elas representam basicamente três grupos distintos: os intérpretes de
nebulosos mapas astrais, os representantes de distintas crenças religiosas
e os que, baseados em informações científicas, apresentam alarmantes
hipóteses apocalípticas.

Ciência ou Ficção?

O engenheiro norte-americano H. A. Brown, em seu livro


Cataclysms of the Earth (Cataclismos da Terra) estarreceu o mundo com
a afirmação de que o nosso planeta poderia ser destruído a qualquer
momento. "O rápido crescimento da capa de gelo no Pólo Sul", declarou
o cientista, "poderá desviar o eixo da Terra, provocando destruidora
inundação em todos os continentes." Como resultado dessa tragédia a
cidade de Nova Iorque seria convertida em uma nova Atlântida,
sepultada sob a lama do oceano. Para conjurar esta impendente ameaça,
o Sr. Brown propôs bombardear com explosivos atômicos a calota polar
que, no seu entender, ameaça produzir o desequilíbrio da terra.
O Dr. Auguste Piccard (1884-1962) que colaborou com Einstein no
aperfeiçoamento de instrumentos para medir a radioatividade, comentou
a hipótese do fim do mundo produzido por um frio glacial que inundaria
a Terra como resultado do esgotamento da energia solar. Mas para nossa
tranqüilidade, convém aduzir que o cientista anunciou esta possibilidade
para "daqui a um bilhão e quinhentos milhões de anos".
Em sua edição de 24 de novembro de 1967, a revista Time fez uma
alusão ao cientista Jacques Piccard, filho de Auguste Piccard, o qual
afirmou: "Não vejo nada no futuro imediato, exceto um abismo de
destruição suicida da humanidade", e expressou dúvidas de "que os seres
humanos sobrevivessem além deste século." Dois geofísicos norte-
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 17
americanos, Keith MacDonald, do Environmental Sciences Services
Administration, e Robert Gunst, de US Coast and Geodetic Survey,
calcularam que o próximo fim do mundo ocorrerá no ano 3991. Esse
cálculo, de uma tranqüilizadora precisão, baseia-se na redução
progressiva do campo magnético terrestre. Nas proximidades do ano
4000, o campo magnético terá desaparecido totalmente, produzindo
mudanças climáticas devastadoras para a humanidade.
Estes e outros cientistas, defendendo diferentes hipóteses,
concordam na convicção de que uma espada de Dâmocles ameaça a
sobrevivência da espécie humana.

Profetas do Novo Apocalipse

"A terceira guerra mundial começaria no dia 15 de junho de 1985.


Em menos de 24 horas as bombas nucleares em poder das superpotências
matariam 750 mil pessoas e feririam outras 350 milhões", anunciaram
cientistas norte-americanos e europeus em um estudo apresentado na
Academia de Ciências de Estocolmo, Suécia.
Esta previsão foi anunciada pela emissora O Vaticano, no dia 9 de
agosto de 1982. Os cientistas que elaboraram o estudo declararam que
"entre 7% e 20% dos sobreviventes morreriam poucas semanas depois e
o câncer seria funesto para 80% da população atingida pelos efeitos
radioativos".
O estudo em referência conclui apresentando uma antevisão do
apocalipse: "Somente os roedores, especialmente os ratos, seriam
capazes de resistir. Multiplicar-se-iam aceleradamente e dominariam o
mundo, que se converteria em um árido deserto."
A "profecia" das cientistas não se cumpriu. Mas a ameaça de um
cogumelo nuclear destruindo o sistema ecológico, que garante a vida
neste planeta, continua atormentando o mundo.
Uma confrontação nuclear entre as superpotências transformaria a
Terra em uma paisagem desolada. Os edifícios, as fábricas, as cidades,
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 18
seriam reduzidos a ruínas. A vida estaria extinta. Uma luz crepuscular
constante, sem dia nem noite, cobriria o planeta, com temperaturas
médias de 55 graus centígrados, seguidas por períodos de escuridão total
e gelo.
Este seria o cenário final projetado por um computador
devidamente alimentado com abundantes informações fornecidas por
uma centena de físicos, biólogos, astrônomos e pesquisadores.
Diante dessa perspectiva aterradora, unem-se cientistas, filósofos e
educadores, intérpretes do novo apocalipse, anunciando a eventual
extinção da espécie humana.
O biólogo Paul Ehrlich, autor do livro The Population Boom (A
Explosão Populacional), assustou o mundo quando declarou:
"Não existe a menor esperança de escapar de uma desastrosa
época de fome... . E assombrosamente aparente que a batalha pela
alimentação do homem terminará em retumbante derrota."4
Aurélio Peccei, presidente do prestigiado Clube de Roma,
entrevistado por uma revista parisiense, denunciou os perigos do
progresso industrial, dizendo:
"Há dez anos atrás fizemos uma advertência ao mundo, mas agora,
olhando para atrás, sentimos que naquela época era mais fácil tomar
qualquer providência. Agora parece bem mais difícil. Achamos que a
humanidade tem apenas mais dez anos, se tanto, para tomar um rumo
diferente do que segue agora – pois este terminará em desastre total." 5
O reconhecimento de que a vida na Terra está seriamente ameaçada
constitui uma realidade inquestionável. Os efeitos de um processo
progressivo de autodestruição são visíveis em todo o mundo: as grandes
cidades estão, a maior parte dos dias, cobertas por uma camada de gases
tóxicos produzidos pelo fumo das chaminés das fábricas e das
emanações dos automóveis. Se isto não for corrigido, chegará o dia,
talvez não muito distante, em que o Sol ficará completamente encoberto.
E não havendo Sol, as plantas não poderão realizar o misterioso processo
da fotossíntese; não liberarão oxigênio suficiente e tanto os animais
como as próprias plantas sofrerão conseqüências irreparáveis.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 19
Considerando este sombrio panorama, o cientista M. Albrecht
empregou a seguinte metáfora:
"Estamos todos a bordo de um trem que desce em alta velocidade
por um trilho, no qual estão algumas chaves desconhecidos, que nos
levarão a destinos que não sabemos. Não há um só cientista na cabine
da máquina, e é bem possível que os guarda-chaves sejam demônios. A
maior parte da sociedade encontra-se no último vagão – olhando para
trás."6
Sentindo-se a um passo da extinção, muitos em angústia repetem o
pedido do fuzileiro no conflito coreano: "Dá-nos o amanhã. "

Nas Mãos de Deus

Os que estudam as profecias bíblicas rejeitam a pregação pessimista


dos "arautos do caos", pois sabem que o homem jamais poderá frustrar o
propósito de Deus, que criou a Terra "para que fosse habitada" (Isaías
45:18). Eles sabem que o Deus que criou o mundo intervirá finalmente
para salvá-lo.
Certa vez, Frederico o Grande visitou em Brandeburgo uma escola
pública. Era o momento da aula de geografia, e o imperador perguntou a
um menino:
– Onde está situada Brandeburgo?
– Na Prússia - respondeu o aluno.
– E onde está a Prússia? - interrogou novamente o imperador.
– Na Alemanha - replicou o menino sem vacilações.
– E a Alemanha?
– Na Europa.
– E a Europa?
– No mundo.
– E o mundo? – foi a última pergunta do imperador.
Depois de um momento de reflexão, o jovem aluno respondeu:
– O mundo, majestade, está nas mãos de Deus.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 20
A presença de Deus na História confirma o acerto dessa afirmação
infantil. Com vozes claras e inconfundíveis, os profetas bíblicos,
iluminados pela inspiração divina, anteciparam quando estavam em seu
esplendor, o desaparecimento de Nínive (Sofonias 2:13-15), de Tiro
(Ezequiel 26:3-5), e de Babilônia (Isaías 13:19.22). Suas ruínas são hoje
um testemunho eloqüente de que a mão de Deus dirige o timão da
História.
Esses profetas anunciaram também, com séculos de antecipação, o
papel histórico de nações como Babilônia, Medo-Pérsia, a Grécia de
Alexandre o Grande, e seus sucessores, o férreo Império Romano e as
nações que se levantariam de seus escombros.7
Para os agnósticos a História não tem finalidade ou sentido. Mas
para a alma crente, sobre a Terra ameaçada pelos fantasmas
apocalípticos, brilha fulgurante a certeza de que Deus intervirá nos
destinos do mundo (João 14:1-3). O Criador não permitirá que a espécie
humana sucumba em um suicídio coletivo. As Sagradas Escrituras
anunciam com meridiana clareza que, quando a insensatez e a demência
do homem alcançarem o seu limite extremo, Deus intervirá para
consumar Seu eterno propósito.
Esta esperança nos permite afirmar que o amanhã será mais
brilhante que as nossas mais radiosas expectativas.

Referências:
1. G. C. Jones, What are You Worth, pág, 241.
2. Citado por Ricardo Betancur em "Fin del Mundo: Em Junho de
1985?", Vida Feliz, Ano 86, N.º 7, pág. 11.
3. Citado por André-Clement Decoufle em O Ano 2000. pág 15.
4. Citado por John W. White em Retorno. pág. 66.
5. Vision Magazine, novembro de 1979
6. M. Albrecht, citado por William R. Goetz em Apocalipse Já, p. 24.
7. Daniel 2.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 21
MÍSTICOS, FANÁTICOS E IMPOSTORES

Enquanto o homem viver, buscará sempre e angustiosamente alguém a


quem adorar. – Tolstoi

* Falsos Messias Através dos Séculos * O Profeta do Mormonismo


* A Proliferação de Cultos e seu Significado * Os Curandeiros a
Serviço da Fé * Demonismo e Outros Cultos * Messias, Cultos e
Escrituras * Como Reconhecer um Falso Messias

F oi o mais espantoso suicídio da história humana. O reverendo


Jim Jones, de 47 anos, fundador da exótica seita "O Templo do
Povo", exaltava diante dos fiéis os "encantos da morte". Dirigia-se a uma
congregação que, sob sua liderança carismática, havia emigrado dos
Estados Unidos para se estabelecer como colônia em uma pequena
comunidade agrícola de nome Jonestown, nos confins da selva tropical da
Guiana.
A reunião terminou de forma trágica. Após a ingestão coletiva de
uma mistura de suco de frutas, cianureto e analgésico, preparada pelo
médico Lawrence Shact, os fiéis iniciaram uma dança macabra,
acompanhada de gritos angustiosos e gemidos inexprimíveis. Poucos
minutos depois, desceu sobre a congregação um silêncio sepulcral.
Alertadas, as autoridades da Guiana encontraram Jonestown
transformada em um terrível amontoado de cadáveres. Eram 775 corpos de
adultos e crianças que se imolaram num culto caracterizado pelo terror e
fanatismo. E entre eles, com uma bala no crânio, foi identificado Jim Jones,
que em suas arengas histéricas se auto-proclamava o "Cristo reencarnado".
Esse suicídio coletivo trouxe à luz a história assombrosa de um
"messias" que ao longo de 15 anos trilhou impunemente os caminhos da
insanidade religiosa. Os seus desmandos – chegou a contar com 10 mil
adeptos – incluíam relatos de violência, tortura e extorsões que se
mesclavam com as práticas religiosas.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 22
Após vários anos de controvertida militância religiosa nos Estados
Unidos, Jim Jones decidiu fundar uma colônia agrícola. Persuadiu centenas
de fiéis a acompanhá-lo na fundação de um "paraíso marxista-cristão", em
território guianense. Mas sua alucinante aventura sócio-religiosa, mesclada
com práticas de terror e loucura, resultou no trágico episódio da morte de
775 pessoas, imoladas no altar da insanidade religiosa.
Comentando este suicídio coletivo, o diário Washington Post, num
curto editorial, sentenciou lacônico: "O episódio das mortes na Guiana
desafia o entendimento." Com efeito, custa crer que homens e mulheres
normais possam aguardar pacientemente, numa longa fila, a dose letal
que os matará em poucos instantes. Não se pode imaginar que pais, mães
e filhos se unam em nome da fé, na consumação de tão diabólico ritual.
Como se explica que nesta era supercientífica ocorram tragédias
como a de Jonestown? Uma geração torturada pelo medo, traumatizada
pela angústia e tiranizada pela incerteza, busca com sofreguidão um
salvador – qualquer salvador – com uma palavra de fé, portador de uma
mensagem de esperança.
Paul Henry Spaak, quando secretário da OTAN – Organização do
Tratado do Atlântico Norte – declarou impaciente:
"Não queremos mais uma comissão, já temos comissões demais. O
que queremos agora é um homem com estatura suficiente para conquistar a
lealdade das pessoas e tirar-nos desse lamaçal em que estamos afundando.
Que apareça esse homem, seja ele deus ou o diabo, nós o receberemos." 1
E assim procederam os seguidores do reverendo Jim Jones. Em suas
angústias e aflições, buscando um líder espiritual, seguiram o
messianismo de um insano que, em nome de Deus, os levou à loucura do
auto-extermínio.

Falsos Messias Através dos Séculos

Nas obras de Buret de Longchamps, Os Fatos Universais,


encontramos catalogados um bom número de impostores que, com
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 23
pretensões messiânicas, instigaram as multidões às práticas de um culto
irracional.
Nos dias de Adriano (76-138), cerca do ano 130, surgiu um fanático
chamado Bar-Kochba. Proclamando-se predestinado pela Providência
para livrar o seu povo da opressão romana, intitulou-se Rei dos Judeus.
Cunhou moedas e organizou seus seguidores para a luta contra o poder
de Roma. Pereceu, porém, com milhares de fanáticos que, sob sua
liderança, se amotinaram contra a autoridade de César.
Em 434, apareceu Moisés Cretencis, pretendendo ser uma
encarnação de Moisés, suscitado por Deus para liberar os judeus de
Creta. Determinado a repetir o milagre do êxodo narrado nas Escrituras
Sagradas, instou seus seguidores a acompanhá-lo lançando-se ao mar.
Muitos morreram afogados e os sobreviventes não mais encontraram o
seu falso Moisés.
Nos dias de Justiniano 1 (483-565) surgiu outro fanático, não tão
pretensioso como Moisés Cretencis, mas também animado por idéias que
se inspiravam em sonhos insensatos. Donaan – este era o seu nome –
sublevou os habitantes de uma cidade árabe contra as minorias cristãs,
mas foi aprisionado por um general etíope e posteriormente executado.
Alguns anos mais tarde, os judeus e os samaritanos, em aclamações
triunfais proclamaram um tal Juliano, seu messias e rei. Mas,
contrariando as aspirações dos seus seguidores, Justiniano I ordenou a
sua morte.
No ano 1167, apareceu na Arábia um outro messias que, com
carisma e dolo, logrou convencer a muitos de haver sido chamado por
Deus para o cumprimento de uma missão especial. Ao ser preso, as
autoridades pediram-lhe evidências de suas credenciais proféticas. Com
surpreendente ousadia e evidente insanidade, respondeu: "Cortai-me a
cabeça e voltarei à vida." Foi decapitado, consoante seu pedido, e assim
cessou sua discutida missão no mundo e seus seguidores se dispersaram.
Em 1174, Davi Almusser, um falso profeta e mago, percorreu
muitas regiões no Oriente Médio alardeando, entre outras coisas, sua
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 24
capacidade de tomar-se invisível. Mas quando as autoridades quiseram
prendê-lo, não conseguiu materializar sua apregoada capacidade de
ocultar-se. Foi preso e executado.
A Morávia conheceu também um falso Cristo chamado Davi.
Dotado de sólida cultura, não dissimulou suas pretensões messiânicas.
Levantou contra o rei da Pérsia um exército de fanáticos. Foi derrotado
em violenta batalha e depois decapitado.
Carlos V (1500-1558), da Espanha, ordenou em 1534, a execução
do falso Messias Rabbi Salomo Miacho. Em 1624, a Holanda conheceu
um judeu que se identificava como membro da família real de Davi. Fez
algumas promessas mirabolantes, entre outras a de destruir a cidade de
Roma, o "reino do anticristo'' e abater o império otomano.
Seria exaustivo ocupar-nos com todos os pequenos "iluminados"
que através dos séculos cresceram à sombra do fanatismo político ou da
insanidade religiosa.

O Profeta do Mormonismo

O efervescente e exuberante reavivamento religioso ocorrido nos


Estados Unidos, na primeira parte do século passado, pavimentou o
caminho para o surgimento de místicos e fanáticos.
Joseph Smith, jovem de 14 anos, após haver assistido a algumas
reuniões conduzidas por igrejas rivais, que disputavam o mercado
religioso, confessou-se perplexo e desorientado. As disputas teológicas
entre os diferentes grupos religiosos eram tão exacerbadas confessou
Smith – que se tornava "impossível a uma pessoa nova como eu... chegar
a uma conclusão sobre quem estava certo ou errado. Porém, mais tarde –
declarou Smith – tive uma visão celestial, na qual vi personagens
gloriosos envolvidos em luz tão brilhante que ofuscava a luz do sol, ao
meio-dia." Nessa visão, afirmou, foi-lhe revelado que "todas as
denominações religiosas seguiam doutrinas erradas" e que não eram
reconhecidas por Deus "como Sua Igreja e Seu Reino". Smith teria sido
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 25
exortado a não seguir esses grupos religiosos, pois mais tarde haveria de
receber uma revelação plena do Evangelho.
Três anos após, enquanto orava, Smith percebeu uma luz brilhante e
um personagem de fulgurante aparência, que se identificou como
Maroni, um enviado de Deus. Ele disse a Smith que havia um livro
escrito em placas de ouro, depositado numa colina chamada
CUMURAH, perto da vila de Manchester (Condado de Ontário) Nova
Iorque. E acrescentou que junto com o livro encontraria duas pedras – o
URIM e o TUMIM, que o ajudariam na tradução das placas (escritas,
como dizem os mórmons, em hieróglifos egípcios) para o idioma inglês.
Essas placas só chegaram às mãos de Smith em 1827. Ele as
conservou bem ocultas à curiosidade dos seus contemporâneos, exceto
aos olhos de três testemunhas cuidadosamente escolhidas, até completar-
se a tradução. Porém, as provas de autenticidade das mesmas têm
constituído um sério desafio através dos tempos. Os nomes das três
testemunhas, são: Oliver Cowdery, Martin Harris e David Whitmer.
Esses homens declararam solenemente haver visto as placas de ouro não
somente através da fé, mas também com os próprios olhos. Dois deles,
entretanto, (Whitmer e Cowdery) foram posteriormente denunciados
pelos dirigentes da seita como falsários e ladrões. A outra testemunha
(Martin Harris) modificou o seu testemunho original ao declarar: "Eu
não vi as placas como vejo essa caixa de lápis; eu as vi com os olhos da
fé. Vi-as tão distintamente, como vejo tudo o que me cerca, embora na
ocasião elas estivessem cobertas com uma toalha."2
Com o material "traduzido" das placas de ouro, Smith lançou os
fundamentos de um movimento religioso – Os Santos dos Últimos Dias
– que hoje se destaca por seu exuberante crescimento denominacional.
Porém, a vida turbulenta e contraditória de seu fundador não condiz
com o modelo bíblico de um profeta. Foi acusado de haver assalariado
dois membros de sua seita para assassinarem um de seus adversários e,
posteriormente, defendeu e praticou a poligamia como "instituição
sancionada por Deus" (sic). Por várias vezes incitou seus fiéis ao
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 26
emprego da violência. Candidatou-se à presidência dos Estados Unidos e
ordenou a destruição de um diário (Expositor) que se opunha
acerbamente às suas pretensões políticas. Preso por ordem judicial, foi
finalmente trucidado por uma multidão ensandecida que atacou a prisão,
dominou os guardas e matou o "profeta" e seu irmão.
E assim, os mórmons perderam o seu líder, mas o crime perpetuado
a sangue frio intensificou a devoção e a fé dos seus seguidores.

A Proliferação de Cultos e Seu Significado

Seria enfadonho analisarmos neste capítulo todos os movimentos


religiosos que floresceram nos vários continentes durante as últimas
décadas. O Dr. Humberto Mário Rasi, editor da revista Sinais dos
Tempos, assinalou:
"Calcula-se que somente nos Estados Unidos – onde uma viva
espiritualidade subjacente e a liberdade religiosa favorecem estas
manifestações – seu número alcança a dois mil, mas sabe-se que tais
movimentos se desenvolvem nas Américas, Europa, África e Ásia." 3
Quando estudamos alguns desses movimentos, seitas ou grupos
para-religiosos, surpreendemo-nos ao descobrir uma grande variedade de
práticas excêntricas que se inspiram na ignorância, superstição e
fanatismo.
Um grupo religioso "Fundamentalista", seguindo o texto bíblico
"Pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes
fará mal" (S. Marcos 16:18), se fez acompanhar de serpentes venenosas
em seu ritual religioso. Há alguns anos dois dentre os seus "ministros" –
Buford Pack e Jimmy Williams – ingeriram uma substância letal durante
um de seus cultos, a fim de provar que a fé se sobrepõe à própria morte.
Os fiéis acompanharam a demonstração de fé cantando e pulando em um
ambiente carregado de emoções e histeria religiosa.
Dois minutos após, os dois "ministros" morreram, vítimas de sua
própria insensatez. A trágica experiência, entretanto, não impediu que
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 27
seus seguidores, no dia seguinte, entre súplicas fervorosas, contorções e
autoflagelação, implorassem a Deus que os devolvesse à vida. E
enquanto oravam, laceravam braços, pernas e o próprio rosto, num
esforço inútil por alcançar o favor divino. Suas orações frenéticas
permaneceram sem resposta.
Algo mais macabro, entretanto, ocorreu também nos Estados
Unidos, onde o despontar freqüente de messias e a constante proliferação
de cultos traduz a ansiedade humana de comunhão com o sobrenatural.
Seis indivíduos trajados de negro, reunidos ao redor do corpo sem vida
de um estudante grego, chamado Stephanos Hatzitheodorus, repetiam em
forma monótona a mesma ladainha: "Levanta, Stephanos, levanta,
levanta, levanta."
Diante das denúncias formuladas pelos vizinhos, a polícia invadiu o
apartamento e se surpreendeu diante de um quadro dantesco, onde um
cadáver em adiantado estado de decomposição, produzia um odor
insuportável. Stephanos havia falecido de câncer dois meses antes, no
dia 9 de outubro de 1976. Protegidos com lenços embebidos em
perfume, os rezadores seguiram pedindo que Stephanos voltasse à vida.
Um deles se apressou em explicar:
"A princípio pensávamos que deveríamos parar com nossas preces
em três dias, porém mudamos de idéia quando percebemos que a
aparência de Stephanos parecia cada vez melhor."
Oric Bovar, o líder da seita, prometeu à esposa de Stephanos que, se
tivesse fé em Deus, ele haveria de ressuscitar. Investigando aquele grupo
religioso, as autoridades descobriram que entre os seus membros
figuravam Carol Bumett, famosa comediante; Bernadette Peters,
laureada atriz da Broadway; Marsha Mason, esposa do dramaturgo Neil
Simon; e inúmeras celebridades de Hollywood e Nova Iorque.
Há na França outra seita – Os Adoradores do Sol – cujo ideário
parece satisfazer os anseios e perplexidades de uma geração à deriva.
Entre seus adeptos se destacava uma estudante suíça, de 22 anos,
chamada Diane Boutay. Era uma jovem extrovertida, alegre, versátil e
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 28
bonita. Quando encontrada pela polícia, numa floresta nas cercanias de
Paris, Diane explicou:
"Fui seqüestrada e violada por um homem bem apessoado, que me
atacou e me submeteu a terríveis torturas."
Diane tinha os dois olhos vazados, as palmas das mãos e as plantas
dos pés perfuradas como se tivesse sido crucificada e o busto com
profundas incisões. Seus braços e pernas estavam cobertos de equimoses.
Levada ao hospital, confessou em lágrimas à sua mãe:
"Eu menti. Decidi me automutilar a fim de alcançar o favor divino."

Os Curandeiros a Serviço da Fé

Contemplamos hoje um avivamento de alcance mundial do


interesse na cura pela fé. Os messias proliferam por toda parte,
anunciando poderes extraordinários. Lemos nos jornais e nas revistas.
Um influente diário publicou o seguinte anúncio: "Milagres reais
sucedem diante de seus olhos. Desaparecem cânceres, tumores,
caxumbas. Muletas, cadeiras de rodas e macas são abandonadas. Olhos
vesgos se endireitam. Isso ocorre diante de milhares de testemunhas
surpreendidas diante dos milagres da fé."
Em diferentes lugares se levantam tendas de lona nas quais centenas
e milhares de pessoas se apinham, arrastadas por uma onda de emoções.
Vê-se nos messias curadores pouco desejo de seguir o exemplo de Jesus
que, após operar um milagre, dizia: "Não diga nada a ninguém" (S.
Marcos 7:36). O lema entre estes charlatões é: "Conte a todo o mundo."
Alguns evangelistas curadores converteram seu movimento em um
grande e próspero negócio, com entradas líquidas entre quinhentos mil e
três milhões de dólares por ano.4
O resultado dessa obra mistificadora tem sido lamentável. Tem
deixado atrás de si legiões de pessoas desiludidas e perplexas, ao
descobrirem que a melhora física produzida pela excitação emocional
não era duradoura.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 29
A experiência vivida por Lawrence Parker e sua esposa ilustra os
riscos aos quais se expõem os que se deixam levar por uma fé irracional.
Quando perceberam que um dos seus filhos – Wesley – apresentava
estranhos sintomas físicos, levaram-no ao médico. Este diagnosticou sem
vacilações: a criança sofria de diabete. Não havia, entretanto, razões para
alarme, pois graças aos novos recursos terapêuticos a enfermidade
poderia ser controlada com doses periódicas de insulina. Com efeito,
Wesley viveu durante 5 anos uma existência praticamente normal. A
situação se prolongaria durante toda a vida se os pais não pertencessem a
um grupo religioso que se opõe ao uso de medicamentos.
Persuadidos pelos membros de sua congregação, os pais de Wesley
concordaram em suspender as doses periódicas de insulina, confiando
nos poderes de cura de um falso messias, chamado Daniel Badilla. Este,
após haver ungido o menino com óleo, declarou-o curado.
No dia seguinte, sem a aplicação da insulina a taxa de açúcar no
sangue da criança subiu de forma inquietante. Porém, animados por uma fé
irracional, o Sr. Parker concluiu que a elevação do nível de glicose era nada
mais que uma "mentira de Satanás". Três dias depois Wesley morreu.
Reunidos em círculo de oração, o casal Parker e outros fiéis tentaram
ressuscitar a desventurada criança, naturalmente sem êxito. Mas, mesmo
quando acusado de homicídio pelo promotor público da cidade, Lawrence
Parker demonstrou não haver perdido a fé. Interrogado pelo juiz, respondeu
convicto: "Sofremos um desapontamento transitório, mas Wesley nos será
devolvido. Deus o prometeu e Ele cumprirá Sua palavra."

Demonismo e Outros Cultos

O famoso escritor russo Dostoievski (1821-1881) afirmou que


"enquanto o homem vive, não busca nada tão incessante e dolorosamente
como alguém a quem adorar". E milhares em sua desorientação religiosa
são levados a expressar este anseio interior seguindo falsos messias,
formas de culto questionáveis e até mesmo rituais exóticos e diabólicos.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 30
E assim, em plena era tecnológica, quando celebramos o advento
dos antibióticos, os transplantes cardíacos e as conquistas espaciais,
emerge exuberante o demonismo em suas variadas formas.
Em 1966, o Estado da Califórnia, reconheceu oficialmente a
Primeira Igreja Nacional de Satanás com autoridade para realizar
casamentos e batismos em nome de Satanás.
Pouco depois deste reconhecimento oficial, diante de um altar negro
rodeado de esqueletos e ratos, coberto pelo corpo de uma mulher nua
(símbolo do prazer da Terra), um escritor, John Raymond, de 35 anos, e
uma jovem de ilustre família de Nova Iorque, Judith Case, de 26 anos,
ofereceram seus pecados em honra ao demônio e beijaram-se quando um
sacerdote do satanismo falou: "Eu os declaro marido e mulher na Terra e
no Inferno." Este foi o primeiro casamento celebrado na Igreja Satânica.
Após as cerimônias, houve recepção na "sala de orgia", à qual se
tinha acesso por uma porta-alçapão, dentro de um guarda-roupa do
quarto de dormir, coberto por serpentes e figuras demoníacas. Uma
alcova nupcial negra aguardava os recém-casados. Vasos contendo flores
roxas e mortas, adornavam a cama suspensa em crânios humanos.
De 1966 até agora, o movimento satanista cresceu tanto que
dificilmente se encontrará uma cidade importante na América do Norte
sem uma ramificação desse culto. Só no Estado da Califórnia, existem
atualmente quarenta associações pertencentes á Igreja Satânica, onde
seus sacerdotes pregam as vantagens do ódio e as alegrias da carne a
milhares de seguidores.
"Satisfazei vossos apetites, odiai vossos inimigos de todo o coração e,
se alguém vos ofender esmagai-o. Bem-aventurados os fortes. Malditos
sejam os fracos, porque eles herdarão a canga, o jugo, a escravidão"
anuncia eloqüente o pregador Anton Lavey, sumo sacerdote do Satanismo.
Charles Manson e seus seguidores que, em ritual satânico,
trucidaram a atriz Sharon Tate e mais cinco pessoas, deram uma decisiva
contribuição publicitária ao demonismo ao se confessarem diante do
tribunal adeptos ardorosos do satanismo.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 31
No Brasil, à sombra da fé, o umbandismo multiplica
constantemente o número dos seus adeptos. Explorando o fascínio pelo
misterioso mundo dos espíritos, após ter invadido as favelas, avança
agora triunfalmente entre os membros da classe média, impondo sua
tônica sincretista – uma estranha combinação dos rituais africanos com
os ensinos e concepções cristãos.
Cresce constantemente o número dos "terreiros", onde pessoas
importantes se reúnem para pedir "despachos" contra adversários
Políticos ou em favor de prestígio e poder. Vê-se por toda a parte a
ampliação de lojinhas e butiques onde trabalham "pais e mães-de-santo",
explorando a indústria do medo. Colares e óleos caríssimos, patuás e
amuletos, são vendidos como eficazes antídotos contra pragas, azares e
"maus olhados".
Na Alemanha, muitos se mostram temerosos com as técnicas de
sedução empregadas pelos novos messias para atrair os jovens. Há
alguns meses atrás uma associação de pais já classificava algumas das
novas seitas introduzidas ou geradas no país como "drogas venenosas".
Duzentos mil alemães ocidentais, segundo as últimas estimativas,
aderiram a esses novos grupos religiosos. Seus adeptos são recrutados
principalmente entre os jovens de 18 a 28 anos e há até denúncias de
crianças entre 12 e 14 anos, transformadas em fanáticos seguidores dos
"Filhos de Deus".
São inúmeras as novas seitas que, na Alemanha Ocidental ou na
Europa em geral, prometem dar aos seus seguidores um novo sentido à
vida. As principais são: "Associação das Igrejas", "Filhos de Deus",
"Meditação Transcendental", "Ananda Marga", e outras.
Essas seitas são acusadas de usar técnicas questionáveis, não só
para aumentar o número de discípulos, mas também para obter recursos
financeiros, seja por mendicância, como os "Hare Krishna" ou por
prostituição, como os chamados "Filhos de Deus".
Os europeus mostraram-se sobretudo alarmados com o puder de
sedução deste último grupo religioso, fundado em 1968/69, na
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 32
Califórnia, com o objetivo de ensinar a juventude do mundo "a conhecer
Jesus através do amor". Apesar das denúncias e da tentativa de um
processo no tribunal de Dusseldorf, o exercício da "prostituição
piedosa", difundida entre eles, não pôde ser enquadrada juridicamente.
A "Seita de Moon", fundada pelo coreano Sum Myung Moon,
recentemente condenado pela justiça norte-americana, por sonegação de
impostos, conta agora com milhares de seguidores nos Estados Unidos,
Europa e América Latina. Moon possui uma fortuna considerável e tem
ligações financeiras com numerosas empresas industriais, que produzem de
chá até armas. A nova ordem no mundo, na concepção de Moon, "o novo
messias", será baseada numa espécie de triunfo sobre Satã e o comunismo.
Os seguidores do hindu Maaharishi Mahesh Yogi, fundador da
"Meditação Transcendental", ascendem a centenas de milhares nos
países europeus. No exercício da meditação, eles pretendem encontrar
uma resposta para suas neuroses e angústias da alma.
Em 1986, Yogi foi expulso dos Estados Unidos e vagou pelo
mundo, num avião particular, lotado por seguidores mais próximos, em
busca de um país que o aceitasse.
Em janeiro de 1987, foi condenado pela justiça norte-americana a
pagar mais de 100 mil dólares de indenização a um ex-adepto, por não
ter cumprido a promessa de fazê-lo "flutuar".
Mas, como podemos explicar a aceitação crescente da mensagem
proclamada por estes excêntricos messias? Como podemos entender este
confuso emaranhado de cultos e crendices em uma era caracterizada pela
secularização, ciência e tecnologia?

Messias, Cultos e Escrituras

Após haver visitado o templo de Jerusalém, Jesus teve a atenção


voltada para os grandes blocos de pedra calcária que ornavam a suntuosa
estrutura, a oitava maravilha do mundo.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 33
– Mestre, olha que pedras, e que edifícios! (S. Marcos 13:1) –
Observaram com justificado júbilo os Seus discípulos.
Jesus Se deteve por um pouco contemplando aquelas pedras
maciças e o templo como um todo, com suas paredes de mármore,
marchetadas de capitéis de ouro. Após alguns momentos de silenciosa
reflexão, com uma sombra de tristeza no rosto, o Nazareno sentenciou:
"Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui
pedra sobre pedra, que não seja derribada." 5
Os apóstolos, rudes pescadores, pouco afeitos às grandezas
arquitetônicas, não podiam entender como aquele edifício com toda a sua
magnificência e esplendor um dia viria a ruir sobre os próprios
fundamentos.
Surpreendidos com este vaticínio, perplexos, interrogaram:
"Dize-nos quando sucederão estas coisas, e que sinal haverá da
Tua vinda e da consumação do século?" 6
Eram três as interrogações a agitar a mente daquele grupo de
galileus:
1. Quando ocorreriam os acontecimentos que culminariam com a
destruição do grande templo?
2. Quais seriam os eventos que antecederiam o segundo advento de
Jesus?
3. Quando ocorreria o fim do mundo?
Em Sua resposta, Jesus não marcou um tempo definido. Deu,
porém, uma série de evidências que, de modo inequívoco antecederiam
esses três eventos.
Quarenta anos após o vaticínio relacionado com a destruição do
templo de Jerusalém, Tito, filho do Imperador Vespasiano, com os seus
aguerridos soldados, após destruir as formidáveis defesas da cidade,
cercaram o templo onde se refugiaram milhares de judeus. O
comandante das tropas romanas tentou proteger aquela maravilha
arquitetônica, porém os soldados sob o seu comando, segundo o
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 34
historiador Josefo, "movidos ao que parece de ímpeto e furor divino",
puseram fogo àquele edifício destruindo-o completamente.
Mas, em resposta às perguntas formuladas pelos discípulos, Jesus
enumerou os eventos proféticos que antecederiam o Seu regresso à Terra
e marcariam o fim da História.
Nos capítulos que se seguem, alguns desses eventos serão
analisados com maiores detalhes. Neste capítulo, entretanto, queremos
sublinhar a primeira advertência de Jesus aos Seus discípulos:
"Vede que ninguém vos engane. Porque virão muitos em meu nome,
dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos.
"Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes
sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos." 7
Os cientistas sociais interpretam a explosão dos messias e cultos em
nossos dias, como uma conseqüência da crise social contemporânea. Os
estudiosos das Escrituras, porém, vêem nesse fenômeno uma evidência
do retorno de Jesus à Terra, tendo em vista o cumprimento dos Seus
excelsos e soberanos desígnios.

Como Reconhecer um Falso Messias

1. "Pelos seus frutos os conhecereis." 8


O líder religioso deve refletir em sua conduta os enobrecedores
conceitos compendiados nos evangelhos. Demonstrações externas de
piedade e até mesmo a operação de milagres não são elementos
suficientes para autenticar a sua obra e seus ensinos. Disse Jesus:
"Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura,
não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos
demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi
explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a
iniqüidade." 9
2. "E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não
existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que
sejamos salvos." 10 Estas palavras do apóstolo S. Pedro destacam a
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 35
centralidade e unicidade que Cristo desempenha na v,1da e redenção do
homem. Todo aquele que se esforça por exaltar-se a si mesmo acima do
Salvador, revela as evidências de uma liderança espúria. "Não confieis
em príncipes" – exorta o salmista – "nem nos filhos dos homens, em
quem não há salvação. " 11
3. ''Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino... a fim
de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para
toda boa obra. " 12 Nas páginas inspiradas da Bíblia encontramos tanto as
normas para a conduta cristã como uma revelação da pessoa de Cristo e
Sua obra redentora em favor da espécie humana. Qualquer culto ou
ensino que não se harmonize com o explícito ensinamento das
Escrituras, deve ser rejeitado.
Tomando em conta os três elementos acima enunciados, poderemos
facilmente estabelecer a diferença entre o falso e o verdadeiro, o espúrio
e o genuíno.

Referências:
1. Citado por William R. Guetz, em Apocalipse Já, pág. 136
2. Forgerson, Confusion of Tongues, pág. 371
3. Sinais dos Tempos, Ano 1, N.º 10, pág. 3
4. John S. Bonuel. "La Curación por la Fe – Fraude o Realidad",
julho de 1976, pág. 13
5. S. Mateus 24:2
6. S. Mateus 24:3
7. S. Mateus 24::4, 5 e 24
8. S. Mateus 7:20
9. S. Mateus 7:22 e 23
10. Atos 4:12
11. Salmo 146:3
12. II Timóteo 3:16 e 17
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 36
TERMINARÁ A HISTÓRIA EM HOLOCAUTO
NUCLEAR?

O mundo encontra-se hoje entre a vida e a morte. Não se cumpriram


as esperanças de um mundo melhor ... O tempo é breve. – Booton
Herndon

*Uma Grande Ilusão *Armai-vos uns aos Outros *Uma Gloriosa Esperança

O correu no dia 6 de agosto de 1945. Uma jovem senhora lavava


algumas peças de roupa nas águas serenas do rio Ota, em
Hiroshima, indiferente ao grande acontecimento que dentro de poucos
instantes haveria de sacudir os alicerces da civilização. Até então aquela
cidade japonesa havia sido poupada dos horrores produzidos pela guerra.
Havia, é certo, por toda a parte, longas filas formadas por aqueles que
esperavam o alimento distribuído pelas autoridades. Em muitos lares,
entretanto, seguindo a tradição, ardia o incenso em homenagem aos
mortos que tombaram nas frentes de batalha, nas ilhas do Pacífico.
Gradualmente, porém, o Japão passava a sofrer a ação devastadora dos
bombardeios em série. Tóquio ardia em chamas, como resultado das
incursões noturnas perpetradas pela aviação norte-americana. Outras
grandes cidades nipônicas se transformaram em imensos holocaustos
com o seu comovente corolário de destruição e morte.
A senhora que lavava roupa à beira do rio não viu o avião que
sobrevoava a cidade a grande altura. Não viu tampouco o objeto que foi
lançado com grande ímpeto – um só objeto. Não era um projétil
incendiário; tampouco um explosivo comum. Era só uma bomba. Uma
bomba atômica.
Aquela lavadeira certamente nunca ouvira uma explicação sequer
do significado do vocábulo "atômico". O mundo inteiro pouco sabia de
sua existência. E, entretanto – pobre mulher! Nunca chegou a saber que
os seus dias haviam terminado e que uma nova era havia nascido.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 37
Eram 8:16h da manhã, quando uma pequena bomba detonou com a
força de 20 mil toneladas de TNT. Uma luz fulgurante, como um sol em
miniatura, produziu um calor que se elevou a 300 mil graus centígrados,
transformando milhares de vidas em labaredas de fogo, sombras sinistras
e um punhado de cinzas. Oitenta mil vítimas, à semelhança da lavadeira
à beira do rio, se desintegraram num abrir e fechar de olhos.
Um operário de uma das indústrias de Hiroshima, dez anos mais
tarde, encontrou à margem do rio os restos de um relógio destruído pelo
terrível impacto atômico. Os ponteiros parados indicavam claramente 8
horas e 16 minutos, o instante histórico que selou a sorte de uma
anônima lavadeira e de milhares de outras vítimas, e inaugurou o
amanhecer de uma nova era para o Japão e o mundo.
Quando a bomba explodiu, a uns 600 metros de altura, uma onda de
calor, produzida pelos raios gama, incinerou instantaneamente milhares
de vítimas e causou queimaduras superficiais naqueles que de alguma
forma estavam protegidos de seus efeitos. Seguiu-se, entretanto, uma
segunda onda de partículas atômicas provocada pelo estampido que
afetou a produção de glóbulos vermelhos, impedindo a cicatrização das
feridas, causando assim hemorragias intensas e insanáveis. Veio, logo
em seguida, uma terceira onda, aumentando ainda mais a ação
destruidora do vendaval atômico. O vácuo parcial produzido entre essas
ondas oprimia o tórax das pessoas, produzindo rupturas internas mortais.
A quarta onda foi como um bólido arrasador que sacudiu e destruiu
todos os obstáculos encontrados no caminho, dando a impressão de um
trovão descomunal e aterrador. Os estudiosos da tragédia de Hiroshima
estimam que 25% dos mortos sucumbiram sob os efeitos da primeira
onda de calor e 20% pelas irradiações da segunda onda. Foi mais difícil
determinar os que morreram como resultado direto da ação das duas
outras ondas, pois os desmoronamentos seguidos de incêndios apagaram
os elementos necessários para a formulação de conclusões mais precisas.
Em 1982 visitei Hiroshima. Aproveitei a oportunidade para
conversar com seus habitantes, ler e estudar a história documentada do
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 38
terrível inferno que produziu a desintegração instantânea de 80 mil vidas
e, posteriormente, a morte de outras 150 mil pessoas, vítimas das
irradiações letais produzidas pela radioatividade que saturou a cidade.
Visitei o Museu da Paz e vi, compungido, as fotografias de tamanho
natural de corpos "sumindo" no ar com a explosão, e outros mutilados e
desfigurados. O museu está situado no centro da cidade, em um imenso
jardim também chamado Parque da Paz. No centro do parque, em uma
lápide que contém a lista de todos os que pereceram na catástrofe de
1945, encontra-se em caracteres japoneses, a seguinte declaração:
"Repousai em paz, porque este erro jamais se repetirá."
Sim, Hiroshima, "a pérola do mar interior do Seto", havia se
transformado em um montão de escombros, ruínas e cinzas. Alguns dias
mais tarde a nação se rendeu e o mundo celebrou o fim da Segunda
Guerra Mundial. Porém, o pior estava por vir.
Com o transcurso dos anos, milhares na desventurada cidade
passaram a sofrer os prolongados efeitos das radiações atômicas. Muitos
se tornaram estéreis; outros apresentaram deformidades físicas, ou
contraíram enfermidades pulmonares e cancerosas. Centenas de crianças
nasceram com defeitos congênitos.
Atualmente ainda vivem em Hiroshima pacientes em hospitais
especializados, sofrendo os efeitos retardados da explosão atômica. De
acordo com o testemunho de um dos sobreviventes da catástrofe,
dificilmente escapou ilesa alguma família sem que algum de seus
membros morresse ou resultasse mutilado para o resto da vida.
Aprendeu a humanidade alguma lição dessa trágica experiência?

Uma Grande Ilusão

A geração que assistiu ao crepúsculo do Século XIX e acompanhou


o brilhante amanhecer do Século XX, sentiu o sedutor contágio de um
otimismo absorvente, que a levou a proclamar com entusiasmo o início
da "Idade de Ouro" da História.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 39
Nenhuma guerra importante havia ocorrido nos últimos 30 anos,
diziam os otimistas, e tudo fazia crer que a bandeira da paz haveria de
tremular para sempre sobre um mundo próspero e feliz.
O apogeu da segunda revolução industrial – a revolução do aço, da
eletricidade e do petróleo – alentava essa esperança, responsável pela
difusão do dogma triunfante da paz e prosperidade inevitáveis.
Victor Hugo (1802-1855) foi o profeta precursor dessa grande
utopia. Referindo-se ao nosso século, escreveu:
"No século XX a guerra terminará; já não existirão cadáveres, o ódio
estará morto, os limites de fronteira não existirão, os dogmas terão
desaparecido, o homem viverá. Possuirá algo mais elevado que todas
estas coisas: um grande país, o mundo todo, e uma glande esperança;
todo um céu."1
Pouco depois R. G. Ingersoll (1833-1899), figura exponencial do
agnosticismo em seus dias, sintetizou sua esperança sobre o futuro,
dizendo:
"Vejo um mundo no qual os tronos foram derrubados e os reis se
converteram em pó. Vejo um mundo sem escravo. O homem por fim é
livre... Vejo um mundo em paz, um mundo onde não existem suspiros de
exilados, lamentos de prisioneiros, ... vejo uma raça sem enfermidades
do corpo e da mente – bem formada e bela, onde estão unidas a
harmonia da forma e da função – e enquanto observo, a vida se alonga, o
gozo se aperfeiçoa, o amor permeia a Terra; e sobre a grande abóbada
brilha a estrela eterna da esperança humana."2
O grande transatlântico inglês, Titanic, lançado ao mar no dia 10 de
abril de 1912, ilustra bem esse espírito de otimismo e autoconfiança que
caracterizou o mundo nos primeiros anos deste século. Representava o
máximo da tecnologia da época. Com uma altura correspondente a um
edifício de 11 andares, deslocando 66 mil toneladas, era o mais perfeito
barco jamais lançado ao mar. Seu construtor, levando a arrogância e
presunção ao limite da irreverência, teria mesmo declarado: "O Titanic
nem Deus afunda." Porém, na noite de 15 de abril de 1912, em sua
viagem inaugural, por imprudência do comandante, o barco singrava a
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 40
todo vapor as águas perigosas do Atlântico Norte, onde existiam imensos
icebergs. Um deles, qual lâmina afiada, cortou de ponta a ponta o casco
do gigante "insubmersível''. Tendo o seu ventre mortalmente rasgado,
dentro de duas horas o Titanic afundou, levando para as profundezas do
mar centenas de vítimas, e, entre elas, figuras de grande influência no
mundo das finanças.
"O Titanic marcou o fim de um generalizado sentimento de
confiança" escreveu Walter Lord. "Até então os homens pareciam sentir
haver encontrado a resposta para um progresso material constante e
organizado. ... Mas o Titanic os despertou. Nunca mais haveriam de se
mostrar tão seguros de se mostrar. ... Dezenas de ministros pregaram
dizendo ser a tragédia do Titanic uma mensagem enviada pelo Céu para
despertar os homens de sua complacência e puni-los por sua absorvente
confiança no progresso material"3
Dois anos mais tarde irrompeu a Primeira Guerra Mundial e com
ela ocorreu o melancólico naufrágio da esperança humana no "progresso
inevitável". As fantasias de Victor Hugo, os sonhos de Robert Ingersoll e
as aspirações do mundo se transformaram em amarga ilusão. A arrogante
suficiência do homem deu lugar ao pessimismo amargo e ao cinismo
contagioso.
Durante quatro anos os canhões troaram implacáveis, vomitando
nos campos ensangüentados da velha Europa, destruição e morte. A
malignidade e a estupidez humanas atingiram então limites nunca dantes
alcançados. O conflito deixou um saldo trágico de 10 milhões de vítimas
e marcou o fim do otimismo inconseqüente e irresponsável que
caracterizou a "Belle Epoque". Tornou-se evidente que uma civilização
amparada pela prosperidade econômica era também capaz de perpetrar
brutalidades e barbarismos que se inspiravam na lei das selvas.
O mundo passou a viver um período de insegurança e incerteza.
Surgia uma geração de escritores marcada pela incredulidade e
desilusão. Muitos se mostraram confundidos por promessas não
cumpridas, deprimidos por esperanças estremecidas e cobertos corri o
espólio do desengano. Era uma sentença lapidar, Paul Valéry sintetizou o
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 41
desencanto que caracterizou o mundo pós-1918: "Nós, as civilizações,
sabemos agora que somos mortais." 4
Um mundo arruinado pela tragédia da guerra, sentindo a falência
dos valores otimistas herdados do Século XIX, preparou-se para a obra
de reconstrução e consolidação da paz.
Junto ás margens do Lago de Genebra, ergue-se majestoso o
Palácio da Paz, sede da Sociedade das Nações. Sob sua cúpula a pomba
da paz encontrou abrigo. O mundo começou a acariciar outra vez a
esperança de uma convivência pacífica entre as nações.
Não tardou, porém, para que vozes estridentes, inspiradas em
sentimentos revanchistas, nacionalistas e expansionistas se fizessem
ouvir, repercutindo ameaçadoramente nos salões do palácio de Genebra.
É a pomba da paz, espavorida, fugiu, perdendo-se pouco depois em meio
a uma imensa floresta de baionetas.
Após transcorridas duas décadas de ineficácia comprovada, a
Sociedade das Nações viu suas esperanças ruírem como um castelo de
cartas. Com imenso fragor irrompeu a Segunda Guerra Mundial,
cobrindo o mundo de espanto e horror.
Quando afinal os canhões silenciaram e a poeira atômica sobre
Hiroshima e Nagasaki se assentou, as máquinas calculadoras começaram
a somar o número de vítimas ceifadas pelo alfanje trágico da guerra.
Foram 41 milhões de civis e 11 milhões de soldados, formando um total
de 53 milhões. Colocados em pelotões de 10 filas, passaríamos 48 dias
ou 1.150 horas esperando que todos passassem.
Mas, entre as cinzas ainda fumegantes da Segunda Guerra, surgiu a
Organização das Nações Unidas, chamada por alguns, "a última
esperança da humanidade".
Mais de quatro décadas transcorreram e nos encontramos outra vez
frente a uma sombria realidade. A Organização das Nações Unidas tem
se mostrado impotente para conter a onda de violência internacional que
ao longo dos anos se tem manifestado em diferentes partes do mundo. O
conflito entre a Índia e o Paquistão, a invasão chinesa no Tibete, a guerra
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 42
entre árabes e judeus, o banho de sangue em Biafra, o conflito coreano, a
guerra do Vietnã, as sangrentas escaramuças no Líbano, a invasão do
Afeganistão, os momentos de guerrilha em Angola, Moçambique,
Etiópia e Sudão; as confrontações entre grupos armados na Nicarágua, El
Salvador, Colômbia e Peru; a guerra das Malvinas, o choque armado
entre o Iraque e o Irã, são um triste registro do fracasso da ONU em seu
esforço por eliminar o recurso da força como solução para as crises
políticas e econômicas.
Porém, mais ameaçadores que todos esses conflitos são as
crescentes diferenças ideológicas que separam o Oriente do Ocidente,
fazendo com que os mais intrépidos se angustiem e os mais valentes se
desesperem. Hoje, a uma rápida ordem de comando, um botão que se
aperte em Washington ou Moscou, cruzadores gigantes do espaço
saltarão dentro da noite e antes do amanhecer terão transformado o
mundo em uma esfera carbonizada, coberta de cadáveres incinerados.

Armai-vos uns aos Outros

"Amai-vos uns aos outros", exortou Jesus em um de Seus


memoráveis discursos. Os homens, entretanto, acrescentando uma letra
ao verbo "amar", deram ao mandamento divino um significado
diametralmente oposto: "Amai-vos uns aos outros."
De acordo com um documento publicado pela Federação Latino-
Americana pelos Direitos Humanos e pelo Desenvolvimento Social
(FUNDALATIN), celebrando a paz no dia 1.º de janeiro de 1985, o
mundo gastou nessas mesmas 14 horas, dois bilhões de dólares em
armamentos. Vale dizer que em 50 dias as nações consomem em
equipamento bélico uma soma quase equivalente à dívida externa do
país. E o que significam os astronômicos gastos em termos de assistência
financeira aos milhões que sucumbem cada dia vítimas da fome,
enfermidade e pauperismo?
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 43
Com o preço de um míssil intercontinental seria possível alimentar
50 milhões de crianças que morrem de fome, construir 65 mil centros de
saúde ou 34 mil escolas primárias. Com o custo de um avião
bombardeiro nuclear seriam construídos 75 hospitais com 100 leitos cada
um e com o orçamento empregado para construir um submarino atômico,
poderiam ser edificadas 40 mil casas populares.
O Documento em referência salienta que o combate à malária sofre
hoje um atraso de vários anos em decorrência da falta de 450 milhões de
dólares indispensáveis à execução do seu programa regular. Porém, essa
soma tão necessária à luta pela erradicação da malária é consumida em
apenas 5 horas na compra de armas e manutenção de forças armadas. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) aplicou 83 milhões de dólares no
combate à varíola, soma inferior ao custo de um único avião
bombardeiro, comprado muitas vezes por países do Terceiro Mundo.
Segundo a FUNDALATIN, o orçamento bélico do mundo pobre
absorve 2/3 do produto nacional bruto e as nações mais
subdesenvolvidas, com renda per capita inferior a 200 dólares e com
mais de 500 milhões de habitantes ameaçados pelo drama da fome,
gastam em armamentos sumas superiores àquelas que se destinam à
agricultura, saúde e educação.
A mesma agência nos informa ainda existir no inundo atual um
soldado para cada 250 habitantes, porém um só médico para cada 3.700,
e enquanto se gastam 16 mil dólares ao ano por soldado, para a educação
de uma criança se investe a irrisória soma de 260 dólares.5

O falecido presidente dos Estados Unidos, D. D. Eisenhower, no dia


16 de abril de 1953, denunciando o exorbitante preço da escalada
armamentista, escreveu:
"Cada arma que se constrói, cada barco de guerra que se lança ao
mar, cada míssil que se dispara, significa – em última instância – um
roubo cometido contra os que têm fome e não são alimentados, contra os
que padecem de frio e não são abrigados.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 44
"Este mundo armado não está apenas gastando dinheiro. Está
dissipando o suor do trabalhador, o gênio dos homens de ciência, a
esperança de uma nova geração." 6
As trinta moedas de prata que Judas recebeu para trair a Cristo,
foram qualificadas pela Bíblia como "o preço de sangue" (S. Mateus
27:6). Com efeito, as somas astronômicas aplicadas para fins militares,
sangrando impiedosamente o orçamento das nações, poderiam também
ser qualificadas como "o infame preço de sangue".
Como resultado das somas fabulosas incineradas no altar de Marte,
o mundo possui agora um arsenal nuclear suficiente para destruir muitas
vezes todos os seres vivos da Terra. Mais de 50 mil ogivas nucleares de
todo o tipo (SS 20, Cruise, Pershing II, etc.), desde os mísseis
intercontinentais até os balísticos e as minas (toda uma família de
armamentos apocalípticos), permanecem de prontidão em lugares
estratégicos, ameaçando destruir completamente a raça humana.
"Um bilhão de mortos antes que as nuvens nucleares se dissipem, e
outros tantos morrendo lentamente", eis os primeiros resultados de uma
guerra de mísseis entre as duas grandes potências mundiais.
"Depois, meses de luz crepuscular constante, sem dia nem noite,
seguidos por períodos de escuridão e gelo. Um somatório de condições
suficientes para desorganizar definitivamente o sistema ecológico que
garante a vida na Terra. Com ela o desaparecimento definitivo do
homem." 7
Esta é a conclusão apocalíptica apresentada por um computador,
após ser alimentado por um sem-número de informações fornecidas por
uma centena de físicos, astrônomos, biólogos e pesquisadores.

Uma Gloriosa Esperança

Poderá um Deus de amor (I S. João 4:8) mostrar-Se indiferente aos


riscos de uma guerra nuclear capaz de incinerar milhões de criaturas
humanas?
As Escrituras Sagradas, respondem:
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 45
"Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, não tenho prazer na
morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e
viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por
que haveis de morrer, ó casa de Israel?" 8
Mas o apóstolo São Paulo, em uma de suas cartas pastorais, dirigida
à igreja de Tessalônica, com as luzes da inspiração, escreveu:
"Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá
repentina destruição." 9
Essa destruição, entretanto, não ocorrerá como resultado de uma
decisão suicida, tomada por condutores de nações integrantes do "clube
atômico". Será uma conseqüência da intervenção sobrenatural de Cristo
nos destinos do mundo. Como Criador do átomo, Deus intervirá de
forma inevitável, para assumir o controle da energia nuclear e para
"destruir os que destroem a terra" (Apocalipse 11:18). Com Sua augusta
presença, o Príncipe da Paz impedirá a extinção da espécie humana. Ele
Se reserva o direito de ter a palavra final no último capítulo do drama da
História. O Senhor voltará para resgatar e levar consigo os redimidos de
toda a Terra.
Temos, pois, razões abundantes para cultivar uma bem fundada
esperança. Além de qualquer possibilidade de um trágico genocídio
global, está a confortadora certeza de que Deus não permitirá que a
insensatez dos que dirigem as nações, por motivos ideológicos,
precipitem o extermínio da civilização, tal como vaticinam os chamados
"profetas do novo apocalipse.
Mais além do medo manifestado por uma geração torturada pela
perspectiva de uma tragédia de dimensões imprevisíveis, está a aurora
incomparavelmente radiante da segunda vinda de Cristo.
Não nos faltam motivos para confiar na bondade e sabedoria
divinas. Cremos, entretanto, ser imprescindível que reconheçamos a
Cristo como o nosso Salvador pessoal e, ao mesmo tempo, é nosso dever
colocar-nos em harmonia com a Sua vontade. Essa confiança, fé e
obediência, embora imperfeitas em si mesmas, supridas pela graça de
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 46
Cristo, são o penhor de que seremos guardados dos horrores de um
holocausto atômico.
"Não se turbe o vosso coração" (S. João 14:1), sentenciou Jesus em
um de Seus discursos. Aqueles que cultivam uma relação pessoal e
intima com Deus, que fazem de Cristo seu Senhor e Mestre, e que
incorporam em sua vida os princípios vitais do Evangelho, desfrutam de
paz e serenidade nos momentos de incerteza e perplexidade. Sabem que
se aproxima o glorioso amanhecer e que, embora tenham que sofrer as
ameaças da destruição, estarão abrigados pelo Poder de Deus e
desfrutarão segurança e paz.
"O que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do
Onipotente diz ao Senhor: Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em
quem confio."

Referências:

1. The Future of Man, citado por Burton Stevenson em seu livro


The Home Book Questions, pág. 1.244.
2. Vision of the Future, citado por H. S. Tignor em Our Prodigal
Son Culture, pág. 53.
3. Walter Lord, A Night to Remember, Prefácio.
4. Citado por Luís Roberto Lopes, em História do Século XX, pág.
21.
5. A Gazeta do Povo, Curitiba, Paraná, 30 de dezembro de 1984.
6. College People, 1982.
7. Visão, 5 de dezembro de 1983.
8. Ezequiel 33:11.
9. I Tessalonicenses 5:3.
10. Salmo 91:1 e 2.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 47
A CEGONHA AMEAÇA O MUNDO

Não existe a menor esperança de que poderemos escapar de uma


trágica era de fome. ... É assombrosamente evidente que a batalha
contra a fome terminará em retumbante derrota. – Paul Ehrlich, da
Universidade de Stanford

*As Predições de Malthus *Ascensão Catastrófica *Um Planeta


Faminto * A Revolução Verde *O Controle da Natalidade * As
Profecias Bíblicas

O boletim meteorológico transmitido pelo rádio, no dia 25 de


junho de 1985, anunciava aos 8,5 milhões de habitantes
espalhados ao largo do Golfo de Bengala, no sul de Bangladesh, a
aproximação ameaçadora de um novo furacão. A maioria dos moradores
da área recebeu a notícia com surpreendente indiferença. Para muitos, o
alerta meteorológico não passava de uma previsão rotineira de mais uma
tempestade tropical tão comum naquela época do ano.
Porém, na madrugada seguinte, ventos impetuosos de até 130
quilômetros por hora e ondas gigantescas varreram as quase 1.000
ilhotas situadas no estuário do Ganges. O mar subiu 4,6 metros acima do
nível normal, invadiu as ilhas e a costa com grande ímpeto, reduzindo as
casas, os silos e as plantações agrícolas a montes de ruínas, destroços e
lama.
Aproximadamente 40 mil pessoas morreram e pelo menos 5
milhões de habitantes, quase todos agricultores de arroz de uma das
regiões mais miseráveis do mundo, furam afetados pelo cataclismo.
Quinze anos antes, no outono de 1970, uma tragédia semelhante se
abateu sobre uma área adjacente, deixando o espantoso saldo de 500 mil
mortos, vítimas do mar enfurecido. Mas, como resultado dos elevados
índices de natalidade que caracterizam a região, em apenas 35 dias a
população atingiu outra vez os níveis estatísticos existentes no dia que
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 48
antecedeu o terrível desastre. Vale dizer que em pouco mais de um mês
nasceram mais de meio milhão de crianças na região arrasada pela fúria
dos elementos.
Esta elevada taxa de reposição comprovada em uma pequena área
geográfica, conhecida por sua grande densidade demográfica – 709
habitantes por quilômetro quadrado – constitui uma pequena amostra de
um inquietante problema mundial que se agrava com o tique-taque do
relógio, ameaçando atingir proporções apocalípticas.

As Predições de Malthus

No apagar das luzes do Século XVIII, quando na Inglaterra


despontava o período industrial, veio a lume o discutido livro Ensaio
Sobre o Princípio da População, do economista Thomas Robert
Malthus. Nessa obra, após analisar os fenômenos de propagação e
crescimento entre animais e vegetais, Malthus expôs uma desproporção
crescente entre os recursos de subsistência e a população. Argumentando
com o concurso dos números, dizia:
"Tomando-se a Terra toda, a imigração deverá ser excluída; e,
supondo-se a população presente igual a um bilhão, a espécie humana
cresceria segundo os números 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128, 256, e os
meios de subsistência segundo 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9. Ao fim
de dois séculos a população seria, em relação com os meios de
subsistência, de 256 para 9; em três séculos de 4.096 para 13, e em
dois mil anos a diferença seria imensa e quase incalculável." 1
Diante da sombria realidade – o acelerado crescimento populacional
sem um aumento correspondente dos meios de subsistência – Malthus
aconselhava a abstinência do casamento, livremente aceita pelo
indivíduo, a castidade voluntária, tendo em vista restringir a maré
crescente de nascimentos.
Nos 130 anos que se seguiram à publicação do livro em referência,
os sombrios prognósticos do autor não se materializaram. Obstáculos
repressivos – justificavam os discípulos de Malthus – tais como as
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 49
guerras, pestes, misérias, vícios e outros flagelos, asseguravam um
relativo equilíbrio entre o aumento da população e os recursos de
subsistência.
Porém, nas últimas décadas verificou-se uma surpreendente
diminuição no índice de mortalidade infantil. A escarlatina, a difteria, o
sarampo, a coqueluche e outros antigos flagelos, foram quase
completamente dominados, mercê das notáveis conquistas logradas nos
diversos ramos da ciência médica. Terríveis epidemias foram debeladas.
Enfermidades outrora consideradas incuráveis foram vencidas pelos
prodigiosos antibióticos produzidos nos laboratórios. Surgiram novas e
revolucionárias técnicas nos domínios da cirurgia e progressos
alentadores no campo da endocrinologia.
A aplicação de leis sanitárias, iniciada no século passado, visando o
saneamento do meio ambiente, o tratamento da água armazenada nos
reservatórios naturais e as medidas higiênicas impostas na elaboração
dos alimentos, produziu como resultado a quase extinção da cólera, tifo,
varíola, tuberculose, malária, febre amarela e outras terríveis epidemias.
E as taxas de mortalidade começaram gradualmente a declinar. Em
1875, nos Estados Unidos, morria uma criança em aproximadamente cada
seis, antes de alcançar um ano de idade. Já em 1975, na mesma faixa etária,
morria uma criança em cada 63. Em 1850, a média de vida dos americanos
era 39,4 anos, sendo que em 1976 se alongou para 72,4. Esta redução nos
índices de mortalidade foi semelhante em outros países ocidentais.
Com efeito, como resultado dos festejados triunfos da técnica sobre
a enfermidade e dos avanços revolucionários no campo da saúde pública,
assistimos à chamada "explosão demográfica", diante da qual se
assombram até mesmo os mais intransigentes antimalthusianos.

Ascensão Catastrófica

O crescimento da população até o Século XVIII poderia ser


ilustrado por uma linha suavemente ascendente. Porém, neste último
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 50
século e, mais precisamente nas três últimas décadas, essa linha
ascendente se tornou quase vertical.
Segundo o Reader's Digest Almanac (Almanaque de Seleções)
1979, página 193, para alcançar o primeiro bilhão de habitantes foi
necessário toda a História até o ano 1830. Porém se necessitariam cem
anos para acrescentar outro bilhão (1930), trinta anos para alcançar três
bilhões (1960) e dezesseis anos para os quatro bilhões (1976). Com o
atual índice de crescimento (ver diagrama) a população mundial
alcançará provavelmente os sete bilhões por volta do ano 2000 e os nove
bilhões para o ano 2010.
Qual a mensagem desses números? Oscar Wilde, famoso
dramaturgo do século passado, com sutil ironia, fez a seguinte afirmação:
"Há no mundo três tipos de mentira: as mentiras comuns, as pequenas
mentiras e as estatísticas." Com isso Wilde sublinhava o fato de que as
estatísticas podem nos iludir e levar-nos a conclusões enganosas. Porém,
embora suscetíveis de serem interpretadas incorretamente, não podemos
subestimar sua importância na análise do crescimento demográfico e suas
sombrias implicações. Elas nos ajudam a entender em toda a sua extensão a
gravidade deste explosivo problema contemporâneo.
No relatório preparado para a Federação Internacional de
Planejamento da Família, Rudolph Peterson, administrador do Programa
de Desenvolvimento das Nações Unidas, comentou:
"O espantoso aumento da população do mundo lança uma sombra
tenebrosa sobre todos os nossos esforços de promover o
desenvolvimento internacional. Melhorar as condições de vida nos países
onde a população duplica a cada 20 anos, se assemelha ao trabalho de
Sísifo, empurrando eternamente um penedo morro acima, apenas para
vê-lo rolar novamente para baixo." 2
Falando sobre o problema mundial da fome à luz desse espiralante
crescimento demográfico, o Dr. Ralph Phillips, secretário para os
assuntos agrícolas na conferência das Nações Unidas realizada em 1963,
apresentou a questão ilustrando-a com um exemplo que não deixa
dúvidas sobre a magnitude do problema:
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 51
"Se todos os habitantes do mundo se sentassem numa mesma
mesa em ambos os lados, seria necessário para os 3.115.000.000 [1963]
de habitantes do nosso planeta, uma mesa que desse mais de 23 voltas
à Terra pelo Equador.
"Além do mais, esta mesa teria que ser aumentada, a partir de
agora, cerca de 35 quilômetros por dia para convidar os recém-chegados.
Calcula-se que a população mundial será o dobro da atual no fim do
século. Assim, imagina-se que no ano 2000 a mesma teria que dar mais
de 47 voltas em torno da Terra. Seu alargamento cotidiano médio seria
de 97 quilômetros diários." 3
É evidente que o nosso pequeno planeta, com suas conhecidas
limitações, não possui as condições necessárias para alimentar o grande
contingente de novos comensais que se aproximam diariamente da mesa
para participar do grande banquete da vida.

Um Planeta Faminto
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 52
O mapa da fome, que tinge de negro mais da metade do mundo,
aumentará suas fronteiras nos próximos anos, ameaçando a
sobrevivência de grandes parcelas da população mundial.
"Nesta noite" – sentenciou pateticamente o ex-senador chileno
Rodomiro Tomic – "130 milhões de criaturas de toda a América Latina
fecharão os olhos com fome, com fome física de pão." 4
Nas grandes cidades da Índia, nas primeiras horas da manhã,
caminhões percorrem as ruas recolhendo os miseráveis que durante a
noite morrem nas sarjetas, vítimas da fome e da exaustão.
Na África, milhões de homens, mulheres e crianças, seguram com
mãos débeis e trêmulas um prato vazio, símbolo das angústias e misérias
que ameaçam a paz e a estabilidade do mundo.
Uma assustadora porcentagem dos habitantes da Terra vive hoje em
estado de fome ou subnutrição. E enquanto alguns ainda acreditam que
um milagre tecnológico solucionará o problema, especialistas prevêem
um agravamento da situação como resultado da explosão populacional.
Segundo o professor George Borgstron, da Universidade de Michigan, a
humanidade marcha de forma inexorável em direção a uma catástrofe
alimentar sem precedentes.
Uma das razões da tragédia anunciada por Borgstron é que a Terra
tem um limite de produção. Metade de sua área agricultável já está sendo
cultivada. Pretender ir muito mais além, requererá não somente enormes
inversões de capitais, mas também poderá gerar danos ecológicos
irreparáveis.
"O mundo" – declarou Borgstron – "já avançou muito na derrubada
de florestas. Já é crítica a situação com a destruição das nascentes das
águas e sistemas ecológicos. Em conseqüência, os desertos tornaram-se
cinco vezes mais extensos."
"Todo ano, 60 milhões, 702 mil e 60 metros quadrados de terra (6
milhões de hectares) se transformam em desertos em tudo o mundo,
causando prejuízos econômicos de 26 bilhões de dólares", afirmou
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 53
Gaafar Karrar, diretor do departamento de desertificação do Programa de
Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas.
O Saara, no norte da África, em conseqüência do desflorestamento
desordenado, avança ameaçadoramente a uma velocidade de 20 a 50
quilômetros por ano em direção ao sul.
A meta da ONU para conter o avanço dos desertos no ano 2000,
tendo em vista diminuir o drama da fome na África, foi recentemente
reconhecida pelos especialistas como inviável. A desertificação parece
incontrolável. E quais são as conseqüências? Uma terrível seca afetando
uma população que se calcula entre 25 e 30 milhões de habitantes em
seis nações (Mauritânia, Mali, Níger, Chade, Senegal e Alto Volta)
situadas na África Ocidental. Calcula-se que dez milhões já estão
fisicamente afetados pelos horrores da fome e desnutrição, ameaçados
pelo espectro sombrio da inanição total, se não forem socorridos em
tempo hábil.
A fome, que com suas garras inclementes atinge também a Etiópia,
Sudão, Quênia, Moçambique e outras nações, é provocada em última
análise, não somente pela falta de precipitações pluviais, mas sobretudo
por práticas agrícolas predatórias, pelo desmatamento irresponsável, pela
agressão aos cursos de água e a conseqüente erosão do solo.
Animado pelo afã de produzir, o agricultor derruba a mata e a
queima; com o arado rasga o solo e planta a semente. Ao término do
ciclo dessa cultura, obtém razoável colheita. No ano seguinte ara a terra
novamente e renova a plantação. Ao fim do segundo ano a colheita será
mais reduzida. No terceiro ano será ainda menor. Então, desanimado,
abandona o solo empobrecido e empreende a derrubada de outra parte da
mata, voltando a repetir o mesmo processo até esgotar completamente o
solo de sua propriedade. E assim as florestas são destruídas e com elas
desaparece a fauna, produzindo ruinosas alterações no ecossistema local.
"O ritmo da destruição das florestas, sobretudo no Terceiro Mundo,
é inaceitável" escreveu Edward Saouma (diretor geral da Organização
das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura – FAO) "pois se
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 54
assim prosseguir, vamos nos encontrar diante de desgastes ecológicos
'irreversíveis': a penúria de madeira na Ásia e África é tal, que em várias
regiões os camponeses são obrigados a usar como combustível 400
milhões de toneladas de palha e esterco por ano.
"Ora, esse adubo natural é indispensável à regeneração do solo,
havendo portanto uma baixa no rendimento agrícola e criação de novas
áreas incultas." 5
E quais as conseqüências? A África, outrora continente exportador,
apresenta agora um alarmante déficit de alimentos, gerando inquietude e
desespero. Em 24 nações africanas a escassez de alimentos atinge
proporções catastróficas.
A Comissão de Segurança Alimentar da FAO, examina atualmente
em Roma, diversas sugestões, tendo em vista o estabelecimento de um
pacto sobre a segurança alimentar mundial e um sistema de reservas que
permita atender as necessidades atuais e futuras da África e outras partes
do mundo.
Mas, poderão as nações industrializadas continuar satisfazendo ad
infinitum as demandas crescentes de alimentos do Terceiro Mundo? Uma
investigação feita por um grupo de especialistas revelou que se os
Estados Unidos sofressem problemas meteorológicos que resultassem na
perda total de todas as colheitas durante um ano, suas reservas de
alimentos disponíveis se esgotariam em 40 dias; em 9 dias se acabaria a
provisão na despensa das casas, em 15 dias nas feiras e supermercados, e
em 16 dias nos armazéns gerais, depósitos, silos e fábricas.
Os excedentes de produtos alimentícios industrializados e os
rebanhos bovinos, ovinos, etc., proporcionariam alimentos para um ano
aproximadamente. E estes cálculos sombrios correspondem aos Estados
Unidos, um dos países melhor alimentados do mundo.
Previsões assustadoras estimam que haverá na Terra, na primeira
metade do novo século (se o mundo durar até lá) 12 bilhões de seres
humanos.
Teremos condições de alimentar tantas bocas? Diz Borgstron, da
Universidade de Michigan, que "não pudemos alimentar nem mesmo a
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 55
atual população", (ver gráfico) e insiste "que o limite máximo é de seis a
sete bilhões de habitantes" para os quais haveria condições de
sobrevivência.

A Revolução Verde

O grande desastre que a fome ameaça desencadear sobre o mundo


foi temporariamente evitado. Mercê de uma nova e eficaz tecnologia
agrícola, testemunhamos com alivio e até mesmo com algumas
esperanças, a postergação desta monumental catástrofe prenunciada por
influentes cientistas.
É verdade que o espectro sinistro da fome continua ampliando sua
área de influência e multiplicando suas vítimas. Mas, através de um
vitorioso programa, chamado "revolução verde", alguns resultados
auspiciosos foram alcançados.
O Dr. Norman Borlang, Prêmio Nobel da Paz, e aclamado "pai da
revolução verde", através de manipulações genéticas, conseguiu obter
variedades de trigo e arroz de alto rendimento.
O emprego dessas variedades genéticas em experiências agrícolas
realizadas no México e Filipinas, e posteriormente na Índia e Paquistão,
produziu resultados surpreendentes, muito além das expectativas mais
otimistas.
Essas colheitas "milagrosas", entretanto, foram obtidas graças ao
emprego de eficazes e dispendiosos adubos químicos e um sofisticado
arsenal de produtos fitossanitários, venenos potentes e persistentes
conhecidos por diferentes nomes – pesticidas, inseticidas, fungicidas,
herbicidas, repelentes, desinfetantes e outros.
Mas para onde irá o mundo se os homens continuam despejando
sobre a Terra quantidades maiúsculas desses produtos, que não somente
esgotam a fertilidade natural do solo, mas também contaminam rios,
lagos e mares?
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 56
Esta e outras interrogações que permanecem sem respostas,
arrefeceram o entusiasmo otimista dos propulsores da "revolução verde".
Com grande euforia anteciparam o triunfo da técnica sobre a fome,
porém não tardaram em descobrir que a agricultura é basicamente uma
realidade biológica, e não um processo tecnológico.
Descrevendo os limitados resultados alcançados pela "revolução
verde", o redator da revista Ecology Today (A Ecologia Hoje) assim se
expressou:
"Os efeitos devastadores da fome foram apenas temporariamente
contornados. Como bem expressou o próprio Dr. Borlang, 'a revolução
verde ganhou uma vitória fugaz na guerra contra a fome e a miséria; ela
nos permitiu ganhar algum tempo ... talvez duas ou três décadas." 6
Sabem os especialistas em genética botânica que as sementes que
resultam de manipulações e experiências de laboratório podem produzir
colheitas abundantes, mas são extremamente vulneráveis às pragas e
enfermidades que afetam as plantas. Daí a incerteza de seus resultados.
Estes dois problemas, a vulnerabilidade genética e os altos custos
que antecedem a colheita, esvaziaram o entusiasmo dos que viram na
tecnologia da "revolução verde" uma solução mágica para o problema da
fome.

O Controle da Natalidade

Diante da magnitude do problema e seus sombrios presságios, um


grupo de 172 pessoas, procedentes de 19 nações (entre elas 39 detentores
do Prêmio Nobel) levou à ONU um dramático apelo, pedindo medidas
urgentes, tendo em vista a moderação do ritmo de crescimento
populacional. A menos que se adotem soluções drásticas, dizia o
documento, se "intensificará a ameaça de uma idade tenebrosa de
misérias humanas, fomes e agitação... que terminarão em conflitos
objetivando a apropriação dos escassos recursos de subsistência, que
diminuem gradualmente".7
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 57
Outros voltaram suas atenções em direção a Roma, aguardando da
Igreja uma palavra de orientação sobre como deter a avassaladora maré
demográfica.
Com a pílula anticoncepcional, ideada em 1964 pelos doutores
Gregório Pincus e John Rock, cresceu entre muitos membros do laicato,
sacerdotes e prelados, a esperança de que a Igreja haveria de endossar o
seu uso como um procedimento legítimo. Afinal de contas a "pílula" não
destruiria a vida em nenhuma de suas fases; apenas suspenderia a
ovulação.
Porém, após um período de significativo silêncio, a igreja
respondeu através de uma encíclica que surpreendeu o mundo. Através
da Humanae Vitae (Sobre a Vida Humana), Paulo VI reafirmou a
tradicional oposição da Igreja Católica a qualquer método científico
(especialmente o uso de pílula) capaz de deter ou impedir o processo da
concepção. A única exceção admitida no controvertido documento
pontifício é o relativo ao sistema baseado na abstinência periódica,
coincidente com o período da fecundidade da mulher, conhecido
popularmente como o método Ogino-Knauss.
Em alguns aspectos a Humanae Vitae pareceu calcada sobre a
encíclica Casti Connubbi, na qual Pio XI denunciou como "grave delito"
todos os artifícios humanos para limitar a natalidade, e os classificou
como incompatíveis com a lei de Deus.
A histórica decisão de Paulo VI, de condenar sem eufemismos o
uso de processos artificiais de controle da natalidade, como é sabido,
suscitou grande alvoroço dentro e fora da Igreja. Desde o Concílio
Ecumênico Vaticano II, o problema tem polarizado a atenção do mundo,
uma vez que existem duas correntes de opinião até mesmo dentro do
Vaticano.
De um lado estão os que, preocupados com o espiralante
crescimento da população, insistem no controle da natalidade como
recurso válido para deter os avanços do pauperismo e da fome. Opondo-
se a esta corrente de opinião, estão os conservadores que entendem que a
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 58
limitação do número de filhos não constitui uma solução ética para o
problema. Esta idéia está perfilada na encíclica Humanae Vitae ao
declarar que os artifícios aplicados para limitar o número de filhos são
"práticas contrárias à lei natural e divina".
A decisão papal expressada nessa encíclica provocou uma enérgica
declaração emitida em Washington, por dezenas de teólogos católicos
que definiram o documento "como indiferente à dignidade dos pobres" e
incompatível com a realidade contemporânea. Preocupados com o
galopante crescimento da população mundial e a intensificação do drama
da fome, esses teólogos, desafiando a autoridade da Igreja, definiram a
necessidade de um amplo programa de planificação da família mediante
um controle artificial da natalidade.
Não foram esses teólogos os únicos a pronunciar-se contra a
histórica decisão papal. A eles se uniram médicos, economistas e
sociólogos, denunciando a bula de Paulo VI como divorciada da
realidade de nossos dias em seu aspecto demográfico.
O Dr. Paulo R. Ehrlick, professor de Biologia da Universidade de
Stanford, Califórnia, opondo-se à encíclica papal, declarou: "Agora
mesmo, entre um e dois bilhões de pessoas se encontram subnutridas
(por não dispor de calorias necessárias) ou malnutridas (por sofrer
deficiências de proteínas). Entre quatro e dez milhões de seres humanos
morrerão de fome este ano (1969)." Mencionou ainda em suas
declarações os nomes de alguns técnicos que prenunciaram para as
próximas décadas "a morte de milhões de pessoas vítimas da miséria e
inanição".
O professor em referência citou como exemplo o caso da Colômbia,
que havia sido visitada recentemente pelo papa:
"Pensemos no que significa que a população de um país se duplique
nos próximos 22 anos. ... A média das famílias na Colômbia, depois que
lhes nasce o último filho, têm que gastar 80 por cento de suas entradas
em alimento. Somente para manter seu atual nível de subdesenvolvimento,
a Colômbia teria que duplicar durante os próximos 22 anos os seus
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 59
edifícios, habitações, estradas, granjas, sistemas de água potável, rede
de esgotos, hospitais, escolas, médicos e professores." 8
Concluiu o Dr. Paulo R. Ehrlick afirmando que esta meta seria
impossível até mesmo para um pais próspero como os Estados Unidos.

As Profecias Bíblicas

Há na Bíblia alguma profecia relacionada com o excesso de


população e suas conseqüências? Diretamente, não. Mas para os que
esquadrinham o divino Livro, este problema social constitui um
eloqüente sinal da segunda vinda de Cristo.
Ao responder à memorável pergunta suscitada por um dos Seus
discípulos: "Que sinal haverá da Tua vinda e do fim do mundo?", Jesus
satisfez não apenas aquele pequeno grupo de galileus, mas também às
multidões que através de todos os séculos haveriam de levantar os olhos
ao céu, interrogando a Deus sobre as coisas por vir.
"E ele lhes respondeu: ... e haverá fomes e terremotos em vários
lugares." 9
Os que estudam as Escrituras, sabem que a "explosão demográfica"
e suas conseqüências, não constituem motivo para desespero. Embora
cientes de que não existem soluções humanas para as angústias que
afligem o mundo, conhecem a solução divina. Em meio ao tumulto
angustiado dos que anunciam um grande desastre de proporções
apocalípticas, eles ouvem de forma clara e distinta o solene anúncio de
Deus: "E eis que venho sem demora." 10
Se os que dirigem as nações não encontram soluções para os
horrores da fome, angústia e temor de uma humanidade que se multiplica
em ritmo alucinante, Deus proverá com Sua poderosa e sobrenatural
intervenção, o único remédio para as aflições e perplexidades humanas.
A superpopulação do mundo e os comovedores gemidos da fome,
são qual clarinada de alarme para que os seres humanos se despertem de
seu torpor espiritual e insensibilidade religiosa, e se preparem para o
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 60
mais glorioso de todos os eventos da História: o regresso de Jesus ao
mundo para liberá-lo das angústias que o atormentam.
Quanto mais agudo o mal, mais iminente a solução. A segunda
vinda gloriosa de Cristo será o grande remédio final, a esperança
suprema da humanidade. Daniel 2:44; Apocalipse 21:1-4.

Referências:

1. O Ministério Adventista, Setembro/Outubro de 1961, pág. 2.


2. Citado na Revista Adventista, 7 de Março de 1977.
3. Folha de S. Paulo, 6 de Fevereiro de 1963.
4. Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 22, pág. 507.
5. L'Economista du Tiers Mondo, Dezembro de 1978.
6. Ecology Today, Maio de 1971.
7. Citado por J. M. White, em seu livro Retorno, pág. 66.
8. Vida Feliz, Abril de 1969, pág. 14.
9. S. Mateus 24:4 e 7.
10. Apocalipse 22:12.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 61
EPIDEMIAS, ENDEMIAS E PANDEMIAS

O mundo atual está condenado. Envolve-o o odor pestilento da morte.


Está se suicidando e nada pode salvá-lo. ... O juízo de Deus já se
pronunciou sobre ele. – Do artigo "Suicídio Teísta", publicado na
Action Magazine, abril de 1970.

*A Peste Bubônica *A Cólera *Gripe Espanhola * A Febre


Amarela *A Peste Branca e Outras Enfermidades *Doenças
Venéreas *AIDS *A Terra Está Contaminada *Deus e as
Enfermidades *As Enfermidades Não Mais Existirão

E m 1806, Thomas Jefferson (1743-1826), presidente dos Estados


Unidos, enviou uma carta a Edward Jenner, médico inglês,
descobridor da vacina que liberou o mundo do implacável flagelo da
varíola. Dessa carta extraímos o seguinte parágrafo: "As nações futuras
conhecerão apenas pelo ensino da História que esta terrível enfermidade
– a varíola – realmente existiu. Vós a tendes extirpado."
Difícil é para muitos de nós imaginar as condições que precederam
os dias de Jenner. Entre todos os emissários da morte, a varíola se
destacava por sua ação devastadora.
Em Londres, durante a última metade do século XVII, a
mortalidade anual excedia quatro mil por milhão. Um pouco mais tarde,
passou a quase cinco mil por milhão. Em 1776, trinta mil habitantes da
Prússia morreram vítimas da varíola. Aproximadamente o mesmo
número de pessoas sucumbia todos os anos na França. Em 1707 a varíola
se introduziu de forma insidiosa na Islândia, ceifando 18 mil vidas numa
população de 50 mil pessoas. Em regiões mais distantes, desapareceram
vilas e povoados inteiros, assolados pelo terrível flagelo. Segundo alguns
historiadores, a cada vinte e cinco anos essa enfermidade causava a
morte de pelo menos 15 milhões de seres humanos; e no século XVIII,
levou à sepultura aproximadamente sessenta milhões de pessoas. Tão
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 62
extensa era sua ação destruidora que inspirou o seguinte refrão popular:
"Do amor e da varíola ninguém escapa."
Edward Jenner era um humilde médico de aldeia. Certa ocasião,
enquanto ocupado em suas atividades profissionais, ouviu de uma jovem
camponesa o seguinte comentário: "Eu não corro o risco de contrair
varíola porque já tive varíola bovina."
Estas palavras suscitaram na mente do jovem médico o desejo de
estudar o assunto de forma científica, tendo em vista a aplicação deste
princípio na prevenção da enfermidade. Comunicou seus planos a John
Hunter, afamado médico anatomista, seu professor na escola de
medicina. Após ouvi-lo atentamente, Hunter o animou a prosseguir em
sua investigação, dizendo: "Não hasta pensar. Faça a prova. Seja
paciente e, sobretudo, exato em suas investigações."
Jenner deu início aos estudos relacionados com a varíola.
Investigou com rigor científico a ''varíola bovina", uma enfermidade
purulenta dos úberes do animal, que produzia úlceras nas mãos das
leiteiras. No dia 14 de maio de 1795, realizou sua primeira "grande
experiência" num menino chamado James Phipps. Injetou em Phipps o
pus extraído de uma vaca leiteira atacada pela varíola. No mês de julho,
submeteu seu trabalho à prova, inoculando Phipps com o vírus da varíola
comum no homem. Comprovou com grande euforia que o menino estaria
imunizado contra a enfermidade. Repetiu a experiência em várias
pessoas e em todas elas, suas deduções foram confirmadas.
Após esse descobrimento, Jenner iniciou uma grande batalha contra
os que se opunham ao emprego da vacina. Conta um historiador que um
dos adversários da vacina declarava com veemência ser ela o "pior
inimigo da humanidade", e que desejava ver enforcados todos os seus
propulsores. Outro afirmou que a vacina era "um grave erro que aviltava
o homem e degradava a civilização''. Ainda outro exclamou: "Quem se
atreverá a fazer parte de uma família? Pois quem se exporá aos riscos de
que seus filhos contraiam enfermidades asquerosas, que afligem os
animais?"
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 63
Apesar de tudo, o humilde médico de Berkeley, à semelhança de
Davi, avançou em meio ao exército de médicos de seu tempo, para
enfrentar com coragem a varíola – o temível gigante. Avançou com uma
gota de vírus na extremidade de uma lanceta de marfim e, de forma
inesperada, abateu o terrível monstro que havia levado milhões à
sepultura.

A Peste Bubônica

A peste bubônica, também conhecida como peste negra, em virtude


das manchas escuras que se manifestam na pele de suas vítimas, matou
25 milhões de pessoas no século XIV, número superior aos mortos da
Primeira Guerra Mundial. Sua presença sinistra marcou profundamente
de angústia, incerteza e horror a alma humana.
Em 1665, a peste matou em Londres uma média de 1.500 pessoas
por dia. Temendo que os cães e os gatos fossem os agentes transmissores
da enfermidade, as autoridades decidiram exterminá-los e, assim,
milhares de animais foram sacrificados. Esta decisão, entretanto, agravou
o mal, uma vez que, com a morte desses animais, a população dos ratos
(que são realmente responsáveis pela propagação da peste negra)
aumentou de forma acelerada, exacerbando o surto epidêmico.
Segundo especialistas da Organização Mundial da Saúde, são ainda
vividas as recordações da trágica epidemia que assolou o porto de
Marselha, França, em 1720, quando morreram 50 mil pessoas. Em 1870,
essa mesma epidemia ceifou 360 mil vidas na Índia, 7.500 no porto
alemão de Hamburgo, em 1892, e 20 mil no Egito, em 1947.
Procedente da Ásia, a peste matou na Europa, entre 1347 e 1351,
aproximadamente 75 mil pessoas. Tão devastador foi o surto epidêmico
que muitos foram levados à conclusão de que a tragédia era uma punição
severa infligida por Deus para castigar os homens que se haviam
desviado dos caminhos da virtude.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 64
Preocupados em atenuar a "ira de Deus", muitos cristãos uniram-se
em espírito de confissão e arrependimento, em demonstrações públicas
de penitência, na esperança de serem poupados dos juízos de Deus.
Outros, aterrorizados pela terrível calamidade, culparam os judeus
que viviam na Europa, acusando-os de haverem envenenado as águas,
que se tomaram agentes propagadores da epidemia. A acusação
despertou em muitos lugares na Europa um movimento contra os judeus,
os quais, em várias ocasiões, foram levados em grupos a lugares
determinados para serem queimados vivos.

A Cólera

No século passado, milhões de vidas sucumbiram na Índia, Europa


e Estados Unidos, vitimas da cólera. Na Hungria, em 1831, os
camponeses furam sacudidos por um surto tão violento, que levou
muitos à conclusão de que a epidemia havia sido provocada pela
aristocracia nacional, com o propósito de reduzir a presença dos
camponeses no país.
Dois anos depois da grande tragédia da Hungria, o bacteriologista
alemão, Robert Koch (1843-1910), conseguiu isolar o vírus da cólera.
Este, instalando-se no corpo humano, permanece adormecido de um a
três dias. Provoca diarréia intestinal que, em oito horas, expele de 10 a
15% da água do corpo humano, enrugando os tecidos e baixando a
pressão sangüínea. A perda de toda essa água provoca insuficiência de
potássio e bicarbonato no organismo. Sem potássio, os rins param de
funcionar e as substâncias tóxicas começam a tomar conta do corpo. Sem
bicarbonato, o sangue torna-se ácido, o que provoca vômitos.
Em 1941, foi desenvolvida a vacina: um centímetro cúbico de soro
fisiológico, contendo em suspensão dois miligramas de cultura de
bacilos coléricos. Estes, mantidos durante uma hora a 58°C, logo
morrem e assim a vacina é preparada. Hoje temos uma nova vacina
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 65
desenvolvida com substâncias mais fortes que ajudam a quebrar a
resistência da enfermidade.
Mas apesar de todos os recursos preventivos disponíveis, a cólera
em alguns países ainda se manifesta de forma assoladora. Na Índia, por
exemplo, a enfermidade é hoje uma doença endêmica. Após a guerra
paquistanesa, em 1971, os acampamentos de refugiados na Índia se
transformaram em áreas propícias para a propagação da cólera, afetando
mais de 30 mil vítimas.

Gripe Espanhola

Em 1918, o ano que marcou o fim da Primeira Guerra Mundial, o


mundo viveu as angústias produzidas pela gripe espanhola, que, com a
peste negra e a varíola, formou a cruel trilogia das mais temíveis
epidemias. A gripe matou 25 milhões de pessoas em todo o mundo, das
quais 2 milhões na Europa, 16 milhões na Ásia, 5,5 milhões na África, e
mais de um milhão nas Américas. Só no Brasil, o número de mortos foi
calculado em 25 mil.
Rodrigues Alves (1848-1918) que havia sido presidente da
República de 1902 a 1906, foi reeleito em 1918. Alcançado, porém,
pelas garras inclementes da terrível epidemia, morreu antes de tomar
posse. Com efeito, a gripe chegou furtiva ao Rio de Janeiro, em outubro
de 1918, e em apenas um mês fez 18 mil vítimas.

A Febre Amarela

A febre amarela foi outro fantasma ameaçador que levou à tumba


milhões de pacientes atacados pelo mosquito Aedes aegypti, um tipo de
pernilongo de hábitos diurnos.
Somente no Rio de Janeiro, de 1850 a 1909, a febre matou 62 mil
pessoas. Coube a Oswaldo Cruz, o grande sanitarista brasileiro, a tarefa
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 66
hercúlea, de sanear a cidade, livrando-a do mal que dizimava sua
população, ou afugentava o estrangeiro.
Com sua equipe e os famosos carrinhos pulverizadores "mata-
mosquitos", Oswaldo Cruz viajou por todo o país. Sua eficiente ação
profilática, esbarrou, porém, na barreira da selva amazônica, onde
espécies silvestres de mosquitos infestados continuaram a proliferar.

A Peste Branca e Outras Enfermidades

A tuberculose, conhecida também como a peste branca, cobrou


depois da Segunda Guerra Mundial um exorbitante tributo. Milhões,
debilitados pelo pauperismo e a escassez de alimentos produzidos pela
guerra, tanto na Europa como em outras regiões, receberam das mãos
impiedosas da tuberculose o negro passaporte para a sepultura.
Entre os anos 1915 e 1955, quando a vacina Salk foi afinal
introduzida, a poliomielite causou milhares de vítimas, deixando nos
Estados Unidos, como terrível saldo mais de meio milhão de paralíticos,
entre os quais o presidente Franklin D. Roosevelt.
A meningite, apesar dos recursos terapêuticos hoje disponíveis para
prevenir o mal, explode periodicamente em várias regiões do mundo,
produzindo pânico e, muitas vezes, um clima próximo à histeria.
O tracoma, enfermidade crônica e infecciosa que se localiza nos
olhos, tem levado milhões de criaturas ao drama da cegueira. Apesar dos
abundantes recursos da ciência médica contemporânea, continua sendo
um problema de dimensões mundiais, flagelo implacável para mais de
500 milhões de pessoas.
Mais de 15 milhões de criaturas humanas sofrem hoje o drama da
lepra. Destes, somente 3 milhões recebem os cuidados que a
enfermidade exige. A incidência desse mal aumenta com mais rapidez
que os meios para combatê-la. Prevê-se que haverá mais um milhão de
leprosos nos próximos cinco anos.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 67
Antiga como o próprio pais, a esquistossomose, foi introduzida no
Brasil pelos primeiros escravos procedentes da África. Em pouco tempo
tornou-se endêmica no nordeste. Apesar do grande número de pessoas
contaminadas, durante muitos anos a doença se manteve circunscrita a
uma área do território nacional, devido a relativo imobilismo das
populações.
Porém, com a intensificação das migrações internas, a doença
começou a invadir o sul do país, e o número de pacientes multiplicou-se.
Hoje é impossível determinar com precisão o número de brasileiros
atacados pela esquistossomose. Sabe-se, no entanto, que eles são mais de
12 milhões.

Doenças Venéreas

Os efeitos destruidores das doenças venéreas têm sido vistos através


dos tempos. Entre as suas infelizes vítimas, contam-se reis, imperadores,
nobres, filósofos, poetas, artistas e religiosos, bem como representantes
de todas as classes sociais.
Nos anais das civilizações antigas encontramos surpreendentes
descrições dos efeitos ruinosos da gonorréia. Nas esculturas, cerâmicas e
pinturas eróticas encontradas nas ruínas de Pompéia se encontram
inscrições que fazem referência às doenças venéreas. Por exemplo, a
descrição de um prostíbulo onde as mulheres mais belas padeciam de
uma enfermidade capaz de produzir nos homens "úlceras corrosivas".
Em várias ocasiões, as doenças venéreas minaram o poder bélico de
exércitos inteiros, deixando-os em situação vulnerável diante dos
inimigos. Em 1495, o rei Carlos VIII, na França, foi compelido a
levantar o sítio de Nápoles, porque grande parte dos soldados que
formavam as suas tropas apresentavam-se enfraquecidos pela sífilis. Ao
serem dispensados de suas obrigações militares, difundiram o terrível
mal por toda a Europa.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 68
No último ano da Primeira Guerra Mundial, milhares de norte-
americanos eram postos fora de ação cada dia, por causa das
enfermidades venéreas. Era tão grande a incidência do mal entre os
militares norte-americanos, que algumas autoridades sanitárias
calcularam em 10% a proporção de soldados contaminados naquela
época.
Como era de se esperar, houve diversas tentativas de erradicação do
mal. Em 1884, iniciou-se a terapia com bismuto, mas os resultados
obtidos foram decepcionantes. Em 1910, a enfermidade passou a ser
tratada com arsênico. Este tratamento gerava, como efeito colateral,
insuficiências sangüíneas, hemorragias, provocando mortes prematuras.
Na segunda metade da década dos trinta, generalizaram-se as sulfas,
porém estas se mostraram ineficazes no combate às diferentes formas de
gonorréia. Como conseqüência, milhares de crianças nasceram com
sífilis congênita e numerosos adultos morreram prematuramente ou se
tornaram inválidos.
Em 1943, o Dr. John Mahoney demonstrou a eficácia da penicilina
na luta contra as enfermidades venéreas. Desde aquele tempo, novos
tipos de antibióticos foram desenvolvidos, tornando este recurso
terapêutico mais e mais generalizado. Mas a enfermidade vai ampliando
gradualmente seu poder de resistência, ameaçando frustrar as esperanças
de uma vitória completa sobre o mal.
Nos Estados Unidos, onde as estatísticas são quase uma obsessão
nacional, os números e as projeções apresentadas pelas autoridades, não
somente descrevem a gravidade do problema no país, mas também
ilustram a progressão da epidemia e suas trágicas conseqüências em todo
o mundo.
"A gonorréia tornou-se incontrolável", sentenciou dramático o Dr.
William Brown, diretor do programa contra a blenorragia do Centro
Nacional de Enfermidades Contagiosas de Atlanta, Estados Unidos.
A Associação Americana de Saúde Social calcula que somente nos
Estados Unidos aproximadamente 1.500.000 pessoas são contagiadas a
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 69
cada ano pela sífilis. Este inquietante surto de doenças venéreas constitui
o preço inevitável pago por uma geração defensora do "amor livre",
integrada por mulheres "liberadas" pelas pílulas anticoncepcionais e por
homens promíscuos, escravos de sórdidas e infames paixões.
A Organização Mundial de Saúde informa que os jovens em todo o
mundo são agora portadores e disseminadores da infecção em
proporções cada vez mais alarmantes. Esqueceram-se do mandamento
"Não adulterarás" (Êxodo 20:14) e da exortação do apóstolo Paulo, "fugi
da prostituição" (I Coríntios 6:18), e agora sofrem na própria carne as
conseqüências inevitáveis de seu comportamento dissoluto e
irresponsável.

AIDS

Depois de surgir nos Estados Unidos, em 1979, a enfermidade


conhecida por Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, ou
simplesmente AIDS (em inglês) acendeu com ameaçadora virulência seu
sinal vermelho em vários países da Europa e das Américas, produzindo
um clima de perplexidade e pânico, especialmente entre os membros da
comunidade homossexual.
Os médicos verificaram que a enfermidade ataca principalmente os
homossexuais e, por isso, passou a ser chamada popularmente de "praga
sodomita". De causa desconhecida e ainda incurável, a AIDS estende sua
ação contagiante além dos redutos ocupados pelos homossexuais para
atingir os consumidores de drogas intravenosas, os hemofílicos, os
receptores de sangue por transfusão, bem como pessoas que não podem
ser enquadradas em nenhuma dessas categorias.
Definida pelos próprios homossexuais como a "nova lepra", suas
vítimas são com freqüência abandonadas pelos próprios parentes e
amigos e, até mesmo pelo pessoal médico, aterrorizados pelo risco de um
eventual contágio.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 70
Embora diagnosticada pela primeira vez em 1981, a enfermidade se
propagou com surpreendente e inquietante rapidez, alcançando
proporções pandêmicas. Calculam as autoridades sanitárias que
atualmente, nos Estados Unidos, exista um milhão de pessoas infectadas
com o vírus da AIDS. Destas, milhares morrerão nos próximos cinco
anos sem que a ciência médica possa ajudá-los em sua desventura.
Comentando os efeitos devastadores desta epidemia, o Reverendo
Jerry Falwell descreveu a AIDS como "o castigo de Deus sobre uma
sociedade complacente, integrada por uma legião de anormais,
inflamados pelas mais vis paixões".
O apóstolo S. Paulo descreve com expressões vigorosas a imunda
concupiscência homossexual e suas terríveis conseqüências, dizendo:

"E, porque esses seres humanos são assim tão loucos, Deus os
entregou aos desejos dos seus corações para fazerem coisas sujas e
para terem relações vergonhosas uns com os outros. ... Por causa do que
essas pessoas fazem, Deus as entregou às paixões vergonhosas. Pois
até as mulheres trocam as relações naturais pelas que são contra a
natureza. E também os homens deixam as relações naturais com as
mulheres e se queimam de paixão uns pelos outros. Homens têm
relações vergonhosas uns com os outros e por isso recebem em si
mesmos o castigo que merecem [problemas mentais, sentimentos de
culpa e enfermidades venéreas] por causa da sua maldade." 1

A liberdade imoderada, o permissivismo generalizado e o


aviltamento das normas da decência e do pudor constituem a causa dessa
nova epidemia flagelando o mundo.
Poderíamos ainda incluir nesta lista das aflições humanas as
angústias geradas pelo câncer – o temido assassino, e os pesares e
sofrimentos produzidos pelas enfermidades cardíacas, diabetes, neuroses
e outras doenças que, embora destituídas de caráter infeccioso, matam
mais que as enfermidades epidêmicas.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 71
A Terra Está Contaminada

É sabido que a defesa da saúde humana está condicionada à


proteção da saúde dos animais e das plantas. Por isso elevadas somas são
gastas em campanhas sanitárias, visando o controle da brucelose, peste
suína, febre aftosa, raiva canina e outras enfermidades que afligem os
animais, bem como as doenças que, como o cancro cítrico, a ferrugem, o
fungo e outras, destroem as plantações.
Os insetos que antes eram exterminados por pesticidas, criaram tal
resistência a eles, que os capacita a se multiplicarem com rapidez
fenomenal, constituindo uma terrível ameaça à agricultura. Uma geração
de insetos, depois de mantida sob controle durante décadas,
multiplicando-se em proporções fantásticas, apresenta-se agora imune à
ação dos defensivos químicos.
Após destruírem grande parte das plantações de algodão no Estado
do Texas, insetos devoradores voltaram-se para a região norte do
México, devastando mais de um milhão de acres de algodão, deixando
por toda a parte extensos campos desolados e estéreis.
O Programa do Meio Ambiente da ONU observou, num recente
boletim sobre as condições do mundo, que insetos, carrapatos, roedores,
ervas daninhas e fungos estão rapidamente ganhando terreno, pois se
tornam cada vez mais resistentes à ação dos pesticidas. Isso implica
numa seria ameaça á saúde do mundo e à sua produção de alimentos.
Os especialistas classificam 364 tipos de chamados super-insetos,
dos quais 223 são brocas que atacam as colheitas. Os outros 141 são
vetores de doenças que atacam os animais ou os seres humanos –
mosquitos, moscas, baratas, carrapatos, piolhos, etc.

"Na verdade, a terra está contaminada por causa dos seus


moradores" – declarou enfático o profeta Isaías – "porquanto transgridem
as leis, violam os estatutos e quebram a aliança eterna. Por isso, a
maldição consome a terra ..." 2
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 72
E Oséias, um dos chamados profetas menores do Antigo Testamento,
anunciou:
"Por isso, a terra está de luto, e todo o que mora nela desfalece,
com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar
perecem." 3

Deus e as Enfermidades

A primeira coisa que descobrimos na Bíblia é que não podemos culpar a


Deus como responsável pela presença do mal. As Escrituras no-Lo
apresentam como um Ser justo e compassivo, sempre solícito em
socorrer os aflitos.
A ilustração mais objetiva do amor de Deus e Sua bondade é
encontrada na vida e ensinos de Jesus. O leproso desfigurado, a
procissão fúnebre do único filho de uma viúva, o andar vacilante de um
cego, e as multidões famintas comoveram o coração do Filho de Deus.
Ele jamais Se mostrou indiferente às angústias humanas.
Contrariando a teologia popular que descreve a Deus como um juiz
severo e indiferente, Jesus apresentou ao homem um Deus interessado no
bem-estar de Suas criaturas. Ele ouve o clamor de todos os angustiados e
percebe cada lágrima vertida.
Mas se assim é o nosso Deus, a quem podemos atribuir a
responsabilidade pela contaminação do mundo e suas devastadoras
conseqüências?
Na parábola registrada no evangelho segundo São Mateus 13:24-30,
Jesus menciona um homem que semeou a boa semente em seu campo.
Quando brotou o trigo, seus servos notaram que o joio também havia
brotado em grande quantidade. E então Lhe perguntaram: "Senhor, não
semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio?" A
resposta é significativa: "Um inimigo fez isso."
O inimigo é Satanás. Jesus declarou que a mulher inválida durante
18 anos, era cativa de Satanás. (S. Lucas 13:16.) S. Paulo, referindo-se a
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 73
uma enfermidade que o afligia constantemente, qualificou-a como
"mensageiro de Satanás". 4
As Escrituras nos dizem que no princípio Deus criou um mundo
perfeito.
"Os amáveis passarinhos, a encher de música o ar, com seus
alegres trinos; as flores de delicados matizes, em sua perfeição,
impregnando os ares de perfume; as altaneiras árvores da floresta, com
sua luxuriante ramagem de um verde vivo - todos testificam da terna e
paternal solicitude de nosso Deus, e de Seu desejo de tornar felizes os
Seus filhos." 5
Porém, com astúcia e dolo, Satanás se introduziu. Seduzidos pelos
argumentos ilusórios apresentados pelo príncipe do mal, nossos
primeiros pais aceitaram o engano em lugar da sabedoria de Deus. E as
relações com o Criador sofreram solução de continuidade. E o homem e
o mundo foram subjugados pelo poder do pecado. Como resultado "toda
a Criação a um só tempo geme e suporta angústias até agora" (Rom. 8:22).
Mas estes gemidos e dores, como de um parto, são o alegre prenúncio de
nova vida; são as dores que antecipam uma melhor ordem de coisas.

As Enfermidades Não Mais Existirão

Na lista dos sinais que antecederiam a Sua vinda, o Salvador


salientou: "E haverá pestilências em vários lugares" (S. Mateus 24:6).
Apesar dos grandes triunfos da ciência médica, ainda vivemos em um
planeta enfermo, ameaçado pelas epidemias, endemias ou pandemias.
Um dia, porém, os nossos ideais e sonhos mais acariciados se tornarão
realidade. Com o advento de Cristo as aflições e angústias terão passado.
A verdadeira utopia será estabelecida, "nenhum morador... dirá: estou
doente"(Isaías 33:24). "Então se abrirão os olhos dos cegos, e se
desimpedirão os ouvidos dos surdos. Os coxos saltarão como cervos, e a
língua dos mudos cantará; pois águas arrebentarão no deserto e ribeiros
no ermo." 6
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 74
Referências:

1. Romanos 1:24, 26, 27. A Bíblia na Linguagem de Hoje.


2. Isaías 24:5 e 6.
3. Oséias 4:3.
4. II Coríntios 12:7.
5. E. G. White, Caminho a Cristo, pág. 10.
6. Isaías 35:5 e 6.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 75
TREMEM OS FUNDAMENTOS DA TERRA

Voltamo-nos para Deus, procurando ajuda, quando os nossos alicerces


estremecem, para logo descobrirmos que é Ele quem os faz
estremecer. – Charles C. West

*Trinta e Nove Segundos *Angustiosa Eternidade *O Terremoto do


México *O Anel de Fogo *Idéias Obscurantistas *Os Terremotos e
as Profecias *Dois Importantes Terremotos

O s ponteiros do relógio marcavam 15:24h do dia 31 de maio de


1970, quando a Terra começou a ser sacudida por um violento
abalo sísmico. Durante alguns segundos as montanhas desnudas da
região nordeste do Peru ondularam à semelhança do dorso eriçado de um
felino enfurecido. Parecia que uma gigantesca escavadeira trabalhava
debaixo da Terra produzindo um som cavernoso e aterrador. As casas e
os edifícios começaram a ruir com grande ímpeto. As pessoas perdiam o
equilíbrio e caíam. Muitas se puseram de joelhos invocando a
misericórdia divina; outros, em pânico, gritavam haver chegado o fim do
mundo. O abalo continuou por aproximadamente 40 segundos; mas
pareceu uma eternidade.
Quando afinal o terremoto cessou, a cidade de Yungay, situada ao
sopé da cordilheira andina, com os seus 24 mil habitantes, havia
desaparecido completamente, esmagada por um gigantesco alude de gelo
e neve que se desprenderam do cume nevado do imponente Huascarán,
com os seus 6.768 metros de altura. O terrível estrondo produzido pelo
deslocamento da enorme massa de gelo e neve provocou a fuga
precipitada de milhares de pessoas que, em pânico, tentaram se salvar
refugiando-se em uma pequena colina situada nas cercanias. Somente
uns poucos, entretanto, lograram escapar ao grande desastre que se
abateu sobre a região. Estes, com assombro, contemplaram do cimo da
colina, uma gigantesca avalancha de gelo, pedras e barril de até 40
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 76
metros de altura, avançando a uma velocidade de mais de 350
quilômetros por hora, sepultando a desventurada cidade e um pequeno
povoado situado no mesmo vale.
Em Chimbote, cidade conhecida por sua indústria pesqueira,
Casma, Huaraz, Caraz, Carhuaz e outras, centenas de edifícios e casas
foram reduzidos a escombros e milhares de vítimas furam levadas à
sepultura.
Alguns meses mais tarde visitei a cidade de Chimbote, e vi
compungido a extensão da imensa tragédia que se abateu sobre a região.
Os informes oficiais indicavam a morte de 70 mil pessoas. Calculavam
as autoridades a existência de mais de 100 mil vítimas. Os desabrigados
formavam uma enorme massa de mais de um milhão de pessoas, das
quais 800 mil sofreram a perda total de suas casas.
Dez anos antes, em 1960, o sul do Chile havia sido também
sacudido por dois tremores de extrema violência. Os rios e a terra
próximos ao oceano, mudaram o seu nível. As águas do Pacífico,
enfurecidas, arrasaram cidades, destruíram portos, devoraram barcos e
sepultaram milhares de vítimas. Pequenas ilhas desapareceram e outras
surgiram das entranhas do mar.
Os edifícios sofreram violentas sacudidas e muitos ruíram
estrepitosamente. Nas estradas, ruas e terrenos baldios abriam-se fendas
imensas e ameaçadoras e muitos sucumbiram tragados por aterradores
abismos.
Alguns meses depois dessa terrível catástrofe visitei a cidade de
Valdivia, epicentro da grande calamidade, onde observei comovido os
resultados espantosos produzidos pelas forças cegas da Natureza. Na
mesma oportunidade fui até a cidade de Chillán, situada um pouco mais
ao sul, onde um imponente monumento, erigido na praça principal,
lembra os 30 mil mortos ceifados por outro desastre sísmico ocorrido em
1930.
Passaram-se poucos anos depois do terremoto de 1960, e um novo
tremor açoitou o centro do país. Valparaíso e outras cidades menores
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 77
sofreram sua ação devastadora. Uma represa situada nas cercanias de
Los Cobres se rompeu e uma pequena cidade, com os seus
desventurados moradores, desapareceu, coberta por uma enorme massa
de água e barro que serviu como tumba para a maioria dos seus
habitantes.

8.9 – Japão, 1933 – O maior tremor. Em teoria, a escala


Richter é aberta ao infinito, mas as rochas não acumulam
mais energia do que o equivalente a 8,9.
8.3 – São Francisco, 1906 – Enorme destruição material
e relativamente poucos mortos, cerca de 400, incluindo os
fuzilados nas ruas por praticar saques.
8.2 – China, 1976 – O mais catastrófico terremoto do
século. O número de mortos é calculado entre 700.000 e
800.000. A cidade de Tang Shan desapareceu do mapa.
7.7 – Peru, 1970 – Mais de 66.000 mortos. O terremoto
desencadeou uma avalanche nos Andes. A cidade de
Yungai ficou enterrada sob 5 metros de lama.
7.2 – Itália, 1980 – Além das vítimas do tremor que sacudiu
toda a região sul, muita gente morreu de frio, à espera do
socorro que demorou para chegar.
6.2 – Nicarágua, 1972 – Manágua virou terra arrasada. A
reconstrução nunca foi total e a cidade exibe até hoje
quadras inteiras de prédios desmoronados.
0 – Abaixo de zero – Instrumentos modernos e mais
sensíveis, desenvolvidos depois de Charles Richter criar
sua escala, registram microtremores de até – 5.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 78
Trinta e Nove Segundos – Angustiosa Eternidade

No dia 4 de fevereiro de 1976, um violento tremor que atingiu o


índice de 6,4 na escala Richter, sacudiu impetuosamente a Guatemala.
Durou apenas 39 segundos, "mas para as suas vítimas, pareceu uma
angustiosa eternidade''. Foi às 3:00h da madrugada que ocorreu o
primeiro abalo. Em menos de um minuto, milhares de casas vieram
abaixo e a capital do país, bem como inúmeras outras cidades se
transformaram numa massa confusa de ruínas, escombros e cinzas. Mais
de 80 mil pessoas, entre mortos e feridos, ficaram parcial ou totalmente
soterradas. O governo ordenou imediatamente que se procedesse à
cremação dos cadáveres para evitar epidemias. Assim, muitos corpos
foram queimados sem ser identificados.
Outros tremores se sucederam durante vários dias, e os
guatemaltecos, angustiados diante da fúria com que a terra era sacudida,
não tiveram tempo para reverenciar os seus mortos.
Muitas famílias mais ricas que iam aos cemitérios para sepultar os
seus mortos, descobriram que os tremores haviam aberto as sepulturas.
Uma mulher chorava entre as tumbas, enquanto o seu esposo enterrava o
corpo de um filho, ao mesmo tempo que ajuntava os ossos dos pais
espalhados junto à sepultura aberta.
No interior do país, crianças e mulheres que escaparam dos horrores
do terremoto não lograram sobreviver à falta de alimento.
Anos mais tarde, visitei o país e descobri a história comovente de
um povo sofrido, vítima de periódicas convulsões da Natureza. Conheci
a primeira capital da Guatemala, destruída na metade do Século XVI, por
uma destruidora inundação. Os guatemaltecos construíram uma segunda
capital, que fui também totalmente arrasada na primeira metade do
Século XVIII. A capital atual já havia sido atingida por dois terremotos,
na primeira parte deste século. Agora, além dos sismos, paira a terrível
ameaça de três vulcões que se erguem majestosos, nas cercanias da
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 79
cidade e que, segundo especialistas, poderão entrar em erupção a
qualquer momento.

O Terremoto do México

Foi no dia 19 de setembro de 1985, ás 7:18 horas, que a cidade do


México, com os seus 18 milhões de habitantes, se transformou no
cenário de um dos mais espantosos espetáculos de destruição deste
século. A terra tremeu com inusitada violência e edifícios inteiros, de 8,
10 e 12 andares, ruíram como um castelo de cartas. Os incêndios
irromperam em diferentes pontos da cidade como decorrência dos fios
elétricos que se romperam ou das tubulações de gás que explodiram. A
poeira que se desprendia da terra combinou-se às labaredas dos
incêndios, aos gritos angustiados e ao aterrador ruído dos edifícios que
se desmoronavam, transformando a antiga cidade asteca na capital do
inferno.
Passadas as primeiras horas, após o terremoto, a região cêntrica da
cidade dava a impressão de uma área devastada por um impiedoso
bombardeio. A rotina foi substituída pela tragédia e pelo caos. Faltava
água, eletricidade e gás. Multidões de desabrigados caminhavam a esmo,
esforçando-se por dimensionar a extensão do desastre.
Enquanto uma poeira pardacenta ainda flutuava sobre a área
destruída, um exército de 50 mil pessoas, entre voluntários, policiais e
bombeiros, vasculhavam os escombros à procura de sobreviventes. Ao
fim do primeiro dia, 962 corpos haviam sido resgatados.
Do interior das ruínas, vozes aflitas se faziam ouvir suplicando
socorro. Os voluntários e outros, valendo-se de maçaricos, pás, picaretas
e, muitas vezes das próprias mãos, removiam nervosamente o entulho,
blocos de cimento e ferros, no afã de resgatar os angustiados
sobreviventes presos no alçapão da morte.
Na tarde do dia seguinte, outro tremor somava-se à ansiedade geral
causada pelos repetidos abalos sísmicos sentidos durante tudo o dia – a
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 80
ameaça de uma epidemia. Isso porque os danos ao sistema de canais da
cidade tinham provocado o transbordamento do rio, para onde converge
o sistema de esgotos da cidade. A tragédia, responsável pela morte de
milhares, cobriu a nação de luto e consternou o mundo.
Até 1986, o Brasil não havia sido atingido por grandes terremotos.
Contudo, no final daquele ano, o país inteiro testemunhou o pânico que
tomou conta da população de João Câmara, RN, onde os abalos
sísmicos, que se repetiram inúmeras vezes, chegaram a registrar até 6
pontos na escala Richter. Felizmente, não houve vítimas, mas os danos
materiais foram incalculáveis.

O Anel de Fogo

Os movimentos telúricos que atingem periodicamente diferentes


áreas do mundo, não constituem incidentes isolados, mas representam a
"faísca acesa" de um gigantesco sistema vulcânico: o ameaçador "anel de
fogo".
Os eruditos em geologia deram a conhecer o fato de que as
atividades vulcânicas são parcialmente responsáveis pelos grandes
desastres sísmicos que flagelam nosso planeta.
Centenas de vulcões ativos ardem e rugem ameaçadores dentro do
cinturão sísmico que se estende ao longo da costa oriental das Américas,
alcançando a Rússia Asiática, o Japão, a China Continental, as Filipinas,
incluindo até mesmo a Nova Zelândia.
Dentro desse "anel de fogo" os alicerces rochosos apresentam
profundas falhas – fraturas geológicas – responsáveis pelos pequenos
abalos e os devastadores terremotos. A China, em virtude das profundas
rachaduras existentes em seus fundamentos geológicos, foi sacudida por
mais de 3 mil abalos sísmicos desde que, no ano de 1177 AC, se
começaram a fazer registros sísmicos no país. Somente neste século, 45
terremotos ceifaram perto de dois milhares de habitantes.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 81
Um dramático episódio teve lugar com relação a um terremoto
ocorrido no dia 16 ele dezembro de 1910, quando pereceram mais de 100
mil chineses. Um famoso místico de nome Ma, conhecido por seu
fanatismo e planos extravagantes, morreu com 300 adeptos, enquanto se
achavam reunidos no interior de uma caverna, organizando os detalhes
para o início de uma guerra santa. A caverna ruiu sepultando o grupo que
orava de joelhos. Um vigia que estava à entrada da caverna escapou
milagrosamente, porém os demais foram soterrados sob toneladas de
pedras. Tão grande foi o desastre, que os corpos jamais puderam ser
resgatados.
O Dr. Clarence Allen, preeminente estudioso da sismologia, estima
que nos próximos 25 anos o Estado da Califórnia, Estados Unidos, que
também está incluído nesse cinturão sísmico, sofrerá a ação destruidora
de um grande terremoto.
Um documentário preparado para a televisão – "The City That
Waits to Die" (A Cidade que Espera a Morte), descreve em detalhes os
perigos que ameaçam a cidade de São Francisco, Califórnia, cujos
fundamentos geológicos apresentam uma grande fratura, conhecida
como a falha de Santo André.
O documentário em referência adverte os habitantes da cidade que
"lhes aguarda em breve um terremoto que produzirá instantaneamente 10
mil mortos e 40 mil feridos. Se, como resultado do sismo as paredes de
algumas represas desmoronarem" – revela o documentário – "o número
de mortos poderá chegar a 100 mil".
Um dos patrocinadores do filme, alarmado com a apatia dos
habitantes da cidade diante dos perigos a que estão expostos, declarou:
"Apesar de todas as advertências continuamos indiferentes, aumentando
mais e mais a população sobre a falha mais perigosa do nosso planeta."
Com efeito, como as costuras de um velho vestido que se esgarça, a
Terra estala através de suas fissuras. Os cientistas calculam que
anualmente se produziu um milhão de terremotos, 150 mil dos quais são
de considerável intensidade. Segundo os modernos sismógrafos,
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 82
registram-se diariamente cerca de 400 terremotos. Não necessitamos,
pois, demasiada fé para crer que vivemos na "era dos abalos sísmicos".

Idéias Obscurantistas

Durante milênios, esse potencial destruidor alimentou a mitologia.


Em muitas culturas acreditava-se que os movimentos sísmicos
significavam a ira dos deuses ou a obra de animais fantásticos, como a
aranha gigante imaginada pelos orientais. Outros criam que os
terremotos eram causados pelos movimentos de uma gigantesca baleia
aprisionada nas entranhas da Terra. Alguns pensavam que Poseidon
(Netuno), deus do mar, era a divindade responsável por sua ação
destruidora.
Na Idade Média, dizia-se que a Terra era um organismo vivo; os
vulcões seriam os órgãos respiratórios; os terremotos, tremores doentios
que a agitavam periodicamente. Mais tarde, a concepção mudou. Muitos
passaram a aceitar a idéia de que o centro da Terra era uma bola de fogo
em processo de resfriamento, produzindo convulsões constantes.
Durante o obscurantismo medieval se propagou também a crença de
que os terremotos eram um castigo infligido aos homens por causa de
suas transgressões. No século XVI, um erudito italiano sugeriu que se
colocassem na fachada dos edifícios estátuas de Mercúrio e Saturno,
tendo em vista protegê-los da ação devastadora dos terremotos. Outros
pensavam que certas causas naturais, como o escapamento do ar
confinado no interior das cavernas localizadas nos fundamentos da
Terra, originavam os tremores.
Foi somente depois do terrível terremoto de Lisboa, em 1755, que
surgiram as primeiras hipóteses de que os movimentos sísmicos seriam
mais o resultado de um fenômeno geológico que uma punição infligida
pela divindade. O terremoto em referência ocorreu no Dia de Todos os
Santos, 1.º de novembro, exatamente quando milhares de adoradores
enchiam as naves das igrejas e catedrais, participando das celebrações
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 83
religiosas do dia. A violência do abalo sepultou milhares de fiéis sob os
escombros das próprias casas de culto. A destruição seguiu-se um aceso
debate entre os que questionavam por que Deus permitia a morte de
tantos inocentes, e as mentes mais racionais para quem a resposta
deveria ser apresentada de forma mais científica.
Nos séculos seguintes os cientistas concluíram que os abalos da
Terra são causados por movimentos subterrâneos ao longo das fendas
geológicas ou produzidas por erupções de natureza vulcânica. Surgiram
então os primeiros sismógrafos, destinados a registrar os terremotos
distantes, a hora exata em que ocorreram e as ondas de choque
irradiadas.

Os Terremotos e as Profecias

Quando Jesus Cristo pronunciou sobre o Monte das Oliveiras o Seu


grande sermão profético, anunciou inúmeros sinais que antecederiam
Sua segunda vinda. Entre outros, sublinhou a ocorrência de "terremotos
em vários lugares". 1
Muitos reconhecem hoje a freqüência e a intensidade dos
terremotos como sinais dos tempos – sinais da volta de nosso Senhor
Jesus Cristo, para inaugurar uma nova ordem social.
Num artigo intitulado "A Era das Catástrofes", a agência noticiosa
Gemini destacou o fato de que vivemos em um período caracterizado por
intensa atividade sismológica. Alarmado com esta inquietante realidade,
o Dr. Dinsdale Young declarou:
"Por alguns anos tenho sido impressionado com o crescente número
de terremotos. Embora concorde que haja uma explicação científica a
qual respeito, prefiro manter o ponto de vista teológico de que a
multiplicação dos terremotos é um dos mais notáveis sinais da
proximidade da segunda vinda do Senhor. Penso que estes terremotos
são uma indicação de que o tempo se aproxima – está mais perto de nós
do que o reconhecemos." 2
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 84
Na seguinte estatística, publicada pela Associação Britânica para o
Progresso da Ciência, podemos perceber claramente a crescente
incidência dos terremotos, especialmente no século passado:

Século Terremotos
I 15
II 11
III 18
IV 14
V 15
VI 13
VII 17
VIII 35
IX 59
X 32
XI 53
XII 84
XIII 115
XIV 137
XV 174
XVI 253
XVII 378
XVIII 640
XIX 2.119

Esses números permitem comprovar o aumento gradual e constante


dos terremotos catastróficos na era cristã. durante a primeira metade do
Século XX houve mais sismos de importância do que a soma de todos os
tremores havidos no século anterior.
Bem declarou o profeta Isaías que a Terra envelhece "como um
vestido". "...Tremem os fundamentos da Terra. A terra cambaleia como
um bêbado, e balanceia como rede de dormir." 3
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 85
Os que crêem nas palavras proféticas de Jesus, vêem nas comoções
geológicas, pontos de referência no caminho da História, lembrando-nos
o cumprimento da promessa memorável sintetizada nas Palavras de
Jesus: "Voltarei" (S. João 14:3). Em breve a História terminará. Cristo
virá como Rei dos reis e Senhor dos senhores para reclamar o domínio
do mundo, para destruir o mal e inaugurar Seu eterno governo de amor,
justiça e paz. Que grandiosa perspectiva abrir-se-á então diante da
humanidade!

Dois Importantes Terremotos

Há na Bíblia referências a vários terremotos, porém neste capítulo


desejamos salientar apenas dois importantes abalos relacionados com a
fascinante história da redenção do homem.
Um ocorreu há quase dois mil anos, numa sexta-feira de vergonha e
dor, quando o Filho de Deus, condenado pela justiça de César, agonizava
na infamante cruz. Na colina do Gólgota, onde Jesus estava sendo
executado, uma enorme multidão se havia reunido para contemplar um
espetáculo insólito, viu quadro de ignomínia e violência.
Inspirada por sentimentos vis, a turba ensandecida descarregava
sobre o Nazareno, pendido sobre a cruz, toda a sorte de afrontas, insultos
e desdém.
Alguns, surpreendidos, ouviram as palavras perdoadoras proferidas
pelo agonizante Jesus: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que
fazem." 4
Com assombro, os anjos contemplaram aquela terrível cena. Com
admirável habilidade descritiva, a autora do livro O Desejado de Todas
as Nações, reproduz os momentosos acontecimentos vividos naquela
tarde:
"A inanimada Natureza exprimiu sua simpatia para com seu
insultado e moribundo Autor. O Sol recusou contemplar a espantosa
cena. Seus raios plenos, brilhantes, iluminavam a Terra ao meio-dia,
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 86
quando, de súbito, pareceu apagar-se. Completa escuridão, qual um
sudário, envolveu a cruz. ...
"Na espessa escuridão, velou Deus a derradeira agonia humana de
Seu Filho. Todos quantos viram Cristo em Seu sofrimento, convenceram-
se de Sua divindade. Aquele rosto, uma vez contemplado pela
humanidade, não seria nunca mais esquecido. ...
"Parecia haver baixado sobre o Calvário um silêncio sepulcral.
Inominável terror apoderou-se da multidão que circundava a cruz. As
maldições e injúrias cessaram a meio das frases iniciadas. Homens,
mulheres e crianças caíram prostrados por terra. De quando em quando
irradiavam da nuvem vívidos clarões, mostrando a cruz e o crucificado
Redentor. ...
"Jamais testemunhara a Terra uma cena assim. A multidão
permanecia paralisada e, respiração suspensa, fitava o Salvador.
Baixaram novamente as trevas sobre a Terra, e um surdo ruído, como de
forte trovão, se fez ouvir. Seguiu-se violento terremoto. As pessoas foram
atiradas umas sobre as outras, amontoadamente. Estabeleceu-se a mais
completa desordem e consternação. Partiram-se a meio os rochedos nas
montanhas vizinhas, rolando fragorosamente para as planícies.
Fenderam-se sepulcros, sendo os mortos atirados para fora das covas.
Dir-se-ia estar a criação desfazendo-se em átomos. Sacerdotes,
príncipes, soldados, executores e povo, mudos de terror, jaziam
prostrados por terra." 5
Com efeito, os fundamentos da terra tremeram naquela tarde (S.
Mateus 27:50-52) não como resultado de alguma atividade vulcânica ou
por causa de alguma fissura geológica. Era a Natureza expressando o seu
veemente protesto diante da impiedade que levou os homens a crucificar
o seu Autor.
O outro terremoto descrito no último livro da Bíblia (Apocalipse
16:17 e 18) anunciará ruidosamente o fim da História e a gloriosa
culminação do plano da redenção – o advertiu do eterno reino de paz.
Diz o Sagrado Livro que naquele dia "os homens se levantarão nas
cavernas das rochas, e nos buracos da terra, ante o terror do Senhor e a
glória da Sua majestade, quando Ele Se levantar para espantar a Terra.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 87
Naquele dia os homens lançarão às toupeiras e aos morcegos os seus
ídolos de prata, e os seus ídolos de ouro, que fizeram para ante eles se
prostrarem; e meter-se-ão pelas fendas das rochas, e pelas cavernas das
punhas, ante o terror do Senhor, e a glória da Sua majestade, quando Ele
Se levantar para espantar a terra." 6
Este terremoto sacudirá todas as nações – será universal. "Pois
assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda uma vez, dentro em pouco,
farei abalar u céu, a terra, o mar e a terra seca." 7
Enquanto as multidões recusam ouvir a voz dos terremotos e a
advertência dos antigos profetas, a voz de misericórdia continua a instar:
"Tão certo como Eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte
do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho, e viva:
convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que
haveis de morrer?" 8
Apropriemo-nos dos recursos da graça divina que estão hoje ao
nosso alcance, e participemos da venturosa restauração final de todo o
bem!

Referências:

1. S. Marcos 13:8.
2. Citado par Herbert Lockyer em Earthquakes, pág 12.
3. Isaías 51:6; 24:18 e 20.
4. S Lucas 23:34
5. E. G. White, O Desejado de Todas as Nações, págs. 753,754 e
756.
6. Isaías 2:19-21
7. Ageu 2:6.
8. Ezequiel 33:11.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 88
A EXPLOSÃO SEXUAL

Estamos completamente cercados pela onda avolumante do sexo que


inunda todos os compartimentos de nossa cultura. ... A continência, a
castidade e a fidelidade são cada vez mais consideradas como a
sobrevivência fossilizada de uma idade pré-histórica. – P. A. Sorokin,
da Howard University.

* "Deus os Entregou a Paixões Infames" *Símbolo de uma


Destruição Global *Um Panorama Sombrio *O Homossexualismo
*Os Lucros Astronômicos da Pornografia *O Colapso do Família
*Remédios Para a Enfermidade Moral *Sinal Inequívoco do Fim

P ompéia era uma próspera e influente cidade, plantada na


encantadora encosta do Monte Vesúvio, nas cercanias das águas
azuis do Mediterrâneo, na parte sul da Itália. O solo que a circundava,
em virtude de sua natureza vulcânica, era extremamente fértil e o clima
era ideal. Uma vegetação viçosa e luxuriante emprestava à cidade um
aspecto atraente e sedutor. Maçãs, figos, melões, amêndoas, vegetais,
cereais e nozes eram produzidos em abundância e com o mínimo esforço.
Erupções anteriores do Vesúvio, com suas devastadoras destruições,
foram esquecidas pelas gerações seguintes. O temido vulcão que, em
sucessivas ocasiões havia vomitado fogo, pedras e cinzas, tornara-se
extinto e calmo, sendo considerado por todos como um monstro
destituído de forças.
Com o transcurso dos anos, Pompéia tornou-se uma espécie de
estância balneária, uma cidade destinada ao prazer dos romanos. Os
cidadãos ricos e influentes da capital encontravam ali o ambiente,
descanso e prazer que tanto almejavam. Férteis vinhedos estimulavam a
produção de um vinho excelente que se tornou grande atração para os
amantes da bebida.
Arquitetos talentosos aproveitaram a privilegiada situação
topográfica de Pompéia, para edificar na encosta do Vesúvio luxuosas
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 89
residências, tendo em vista dar aos seus moradores beleza, conforto e
diversão. E assim se expandia a cidade. Seus habitantes deleitavam-se
entre o fausto e o vício, indiferentes aos riscos de uma eventual tragédia.
Porém, no dia 24 de agosto do ano 79 AD, pouco depois do
melodia, a terra foi violentamente sacudida por uma convulsão. O
Vesúvio explodiu. Gigantescas línguas de fogo subiram das entranhas do
vulcão, e uma chuva de lavas incandescentes, poeira escaldante, pedras
vulcânicas e cinzas, escureceu o sol e cobriu a cidade numa área de 25 a
30 quilômetros de extensão.
Dos vinte mil habitantes, dois mil morreram na hora, sem tempo
para fugir. A tragédia surpreendeu a todos num instante de intensa
atividade: o padeiro abandonou a massa em cima da mesa; os
mercadores deixaram sobre o balcão as ânforas com vinho, azeite e mel;
e os guardas não tiveram tempo de fechar o depósito de armas. As lavas
vulcânicas paralisaram esse instante quotidiano de uma cidade opulenta,
quase dois mil anos atrás.
Tácito (54-120 AD), festejado historiador latino, deixou em seus
escritos uma referência à tragédia, pois recebeu uma carta de Plínio, o
Moço, seu amigo, que lhe narrava a morte de seu tio, Plínio, o Velho,
que por acaso estava com sua esquadra nas imediações de Nápoles e
tentou ajudar a cidade que se afagava num mar de pó e cinzas escaldantes.
Durante 15 séculos, Pompéia repousou como cidade fantasma, sem
que ninguém soubesse de sua localização exata. Pompéia era apenas uma
referência acidental nos escritos de Tácito. Em 1594, porém, o arquiteto
Domênio Fontana, resolveu construir um grande aqueduto. Na execução
da obra os operários cavaram a terra e descobriram algumas ruínas
cheias de inscrições, que não foram identificadas.
A partir de 1860, entretanto, Giuseppe Fiorelli, começou no local
uma escavação arqueológica. Outros arqueólogos o seguiram e Pompéia
foi se despindo pouco a pouco de seu manto de cinzas, para surgir aos
olhos surpreendidos do homem moderno como uma cidade fantasma,
abandonada por seus habitantes.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 90
Visitando as ruínas de Pompéia, percorrendo suas ruas, penetrando
em suas casas, templos, teatros e estabelecimentos de banhos,
encontramos as silhuetas de corpos de homens, mulheres, pássaros e
animais domésticos petrificados, o que nos fornece hoje quadros tétricos
de horror e angústia manifestados nas atitudes de corpos contorcidos na
hora da morte.
Uma caminhada entre as ruínas da desventurada cidade nos permite
descobrir os vícios e a corrupção de costumes que permeavam a vida dos
seus habitantes. Os motivos religiosos que os afrescos exibem tratam
especialmente da vida erótica dos deuses por eles cultuados. Vênus é
vista repetidamente nos braços musculosos de Marte. Apolo é
apresentado perseguindo Dafne, e a principal preocupação de Júpiter
parece ser a violação das deusas, que expressam em seu rosto uma
alegria sensual.
Pompéia tinha muitos teatros e casas de diversões. Em seu
gigantesco anfiteatro, com capacidade para vinte mil espectadores, se
celebrava o mais cruel dos esportes, em que os homens lutavam
selvagemente até a morte, com outros homens ou com as feras. Os
gladiadores vitoriosos tinham seus nomes e feitos gravados nos muros e
monumentos.
As casas de prostituição e vicio retratam para o mundo moderno o
abismo a que desceram homens e mulheres em sua imunda
concupiscência. Danças sensuais e cenas lascivas de amor estão
esculpidas nesses antros de luxúria, extravagância e pecado.
Inscrições nos muros, por toda a cidade, são particularmente
descritivas da sensualidade e degradação moral que caracterizavam o
comportamento de seus habitantes.
As casas de banhos públicos não existiam simplesmente para o fim
de higiene, mas eram também antros de perversão, onde homens e
mulheres se reuniam para dar livre curso às suas mais vis paixões. Ao
enumerar as causas da decadência de Roma, o historiador Gibbon
colocou esses banhos lascivos ao lado de outros elementos
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 91
desagregadores como responsáveis pelo debilitamento do império e sua
conseqüente desintegração.

"Deus os Entregou a Paixões Infames"

Treze anos antes da tragédia que se abateu sobre Pompéia, morreu


em Roma o apóstolo São Paulo, decapitado por ordem de Nero, o
déspota romano. Em sua carta pastoral dirigida à comunidade cristã em
Roma, no ano 57, o apóstolo descreveu de forma eloqüente o penoso
destino dos que se alienam de Deus para seguir seus próprios instintos.
"A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão
dos homens que detêm a verdade pela injustiça. ... Tais homens são, por
isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o
glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos
em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato.
... Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas
concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo
entre si. ... porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas
relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os
homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram
mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com
homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro. E,
por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os
entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas
inconvenientes." 1
Ao escrever a epístola da qual extraímos o texto acima, São Paulo
provavelmente incluiu as misérias morais perpetradas pelos habitantes de
Pompéia. Eles ignoraram deliberadamente a Deus e Suas leis, e foram
entregues "à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração".
Foram aguilhoados pelas poderosas correntes dos desejos lascivos e
lançados nos abismos escuros da imoralidade e do vício. E "Deus os
entregou às paixões infames". Tornaram-se vítimas de apetites anormais
e perversões aviltantes.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 92
Símbolo de uma Destruição Global

Mas a destruição de Pompéia constitui um pálido símbolo de uma


destruição mais terrível e universal que finalmente atingirá o mundo. O
apóstolo São Pedro anunciou que "virá como ladrão, o dia do Senhor, no
qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se
desfarão abrasados; também a Terra e as obras que nela existem serão
atingidas." 2
Jesus comparou esse grande dia com os tempos do patriarca Noé:
"Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho
do Homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio
comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em
que Noé entrou na arca, e não o perceberam, senão quando veio o
dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do
Homem." 3
Com efeito, nos dias que precederam o Dilúvio, "a maldade do
homem se havia multiplicado na terra", até o ponto de que "era
continuamente mau todo desígnio do seu coração" (Gênesis 6:5). Apesar
dos solenes avisos de Deus, por intermédio de Noé, eles se ocuparam tão
intensamente em seu viver hedonista que "não o perceberam, senão
quando veio o dilúvio e os levou a todos". 4
Em seu memorável sermão profético, Jesus também sentenciou: "O
mesmo aconteceu nos dias de Ló", em Sodoma e cidades adjacentes.
Seus habitantes, além de desvirtuarem acintosamente a instituição fia
família, se aviltaram entre si com as práticas repugnantes do
homossexualismo. E "choveu do céu fogo e enxofre, e destruiu a todos".
Após descrever o trágico destino dos sodomitas, o divino Pregador
concluiu dizendo: "Assim será no dia em que o Filho do homem se
manifestar." 5
São as condições morais no mundo contemporâneo melhores que
nos dias de Noé, ou que em Sodoma e Pompéia?
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 93
Um Panorama Sombrio

Quando contemplamos o panorama mundial em nossos dias,


assombramo-nos com a maré avassaladora de devassidão que inunda a
sociedade e que satisfaz os apetites pervertidos de uma geração
destituída de escrúpulos. Arrastados pelas poderosas correntes das
desejos lascivos, vemos homens e mulheres precipitando-se no abismo
sombrio da degradação e vício.
O Dr. P. A. Sorokin, ex-professor de Sociologia na Universidade de
Harvard, descreveu a "obsessão sexual" que permeia o mundo, dizendo:
"Vivemos num ambiente saturado de exibicionismo ou de uma
provocante nudez semi-vestida. O sex appeal tornou-se obrigatório na
propaganda comercial. ... Estamos completamente cercados pela onda
avolumante do sexo, que inunda todos os compartimentos de nossa
cultura, todos os aspectos de nossa vida social. ... Nosso conceito de
moral mudou tão notoriamente que a continência, a castidade e a
fidelidade são cada vez mais consideradas como excentricidades, como a
sobrevivência fossilizada de uma idade pré-histórica.
"Essa revolução é tão importante" – concluiu o Professor Sorokin –
"como a mais dramática revolução política ou cômica. Está a mudar a
vida de homens e mulheres mais radicalmente do que qualquer outra
revolução de nossos dias." 6
Uma insólita explosão de complacência sexual na arte, na literatura,
na música e praticamente em todos os aspectos da vida, é responsável
pela incidência crescente das estupros, incestos, fornicações, adultérios,
prostituição e homossexualismo.
E quais as conseqüências? Uma revista norte-americana informa
que cada ano nascem no país 300 mil crianças fora das fronteiras do
casamento. Cada dia centenas de jovens estudantes abandonam o seu
programa de estudos por se sentirem grávidas.
Mas quem são essas mães solteiras? Podem ser filhas das favelas ou
de lares abastados; proceder de pais rígidos na aplicação da disciplina,
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 94
ou de famílias condescendentes e liberais. Mas todas elas são vítimas
desventuradas do relativismo moral que invade o mundo.
A idéia de que a relação sexual nada mais é do que uma solicitação
biológica a ser satisfeita, sem considerações de natureza moral, está
arruinando a vida de milhares de jovens, vítimas de desordens mentais e
emocionais.
A Dra. Francis Braceland, antiga diretora da Associação Americana
de Psiquiatria e atual redatora do American Journal of Psychiatry, disse:
"Uma atitude tolerante em relação à experiência sexual anterior ao
casamento tem produzido tensões bastante fortes sobre algumas
mulheres, responsáveis por devastadores colapsos emocionais." 7
Em um estudo realizado pelo diretor de psiquiatria estudantil da
Universidade de Wisconsin, o Dr. Seymour L. Halleck declarou que
entre universitárias solteiras que necessitaram de atenção psiquiátrica,
86% tinham em sua história clínica relações sexuais, e 72% entre elas
haviam praticado mais que uma vez. 8
Entre outros benefícios derivados da obediência à lei de Deus, que
proíbe o adultério, a fornicação e a impureza em todas as suas
manifestações, figura a tranqüilidade de espírito e a paz interior. "Grande
paz têm os que amam a Tua lei; para eles não há tropeço." (Salmo
119:165), declara a Palavra de Deus. Mas para as advogados da "nova
moral" a lei de Deus perdeu sua vigência; vivemos agora sob o império
da carne.
A "revolução sexual" em marcha, alimentada por um fluxo
constante de estímulos lascivos, verbais e visuais, em forma de livros,
revistas e filmes, está derrubando as muralhas da decência e as águas
represadas do sensualismo estão inundando o mundo de forma
destruidora.
A liberdade para que as jovens solteiras usem os anticoncepcionais
é agora promovida com mais entusiasmo que a virtude da castidade pré-
marital. O homossexualismo é enaltecido como um estilo de vida
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 95
aceitável, não apenas por anormais, mas também por educadores e
religiosos. O adultério é exaltado como prática saudável e legítima.

O Homossexualismo

As autoridades de São Francisco, Califórnia, estimam existir dentro


de seus limites uns 90 mil homossexuais. Vale recordar que naquela
cidade há cerca de 350 mil homens. Em Nova Iorque, os cálculos elevam
o número de homossexuais a aproximadamente 600 mil, número este que
parece aumentar de ano para ano.
O Brasil carece de informações estatísticas confiáveis no que diz
respeito ao número dos que integram o grupo dos homossexuais. Mas
tudo indica ser a situação no tocante a esse desvio moral tão vexatório
como nos Estados Unidos e outras nações industrializadas.
A crescente comunidade de anormais, que durante séculos se
ocultou envergonhada nos porões escuros do submundo, levanta-se agora
de forma arrogante e ostensiva, em movimentos organizados e marchas
de protesto, exigindo da sociedade o reconhecimento desse estilo de vida
como "desejável, nobre e preferível". E para alcançar seu objetivo,
contam com o beneplácito de uma saciedade complacente e a simpatia de
legisladores, sociólogos e até clérigos, que vêem esse comportamento
como "perfeitamente moral e conveniente".
Cedendo às fortes pressões de uma parcela da sociedade, o
Parlamento Britânico derrogou a lei que cominava uma pena severa
contra os que praticavam esse vício, e estabeleceu a legalidade do
mesmo, "sempre que os participantes sejam adultos e o pratiquem
voluntariamente".
Há algum tempo, perante um funcionário do Estado de Minnesota,
Estados Unidos, dois varões, Jim McConnell e Jack Backer, em
cerimônia insólita, foram declarados, em nome da lei, unidos pelos laços
do casamento. Este tipo surpreendente de sociedade matrimonial entre
pessoas do mesmo sexo tem agora o endosso da lei de Minnesota.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 96
E assim o vício se legaliza; a perversão recebe o amparo da lei.
Alarmado com a "nova moralidade". Reinhold Niebuhr sentenciou
dramático: "Estamos nos aproximando da licenciosidade que
caracterizou a civilização romana no período de sua decadência." 9
As próprias igrejas que deveriam permanecer como fortalezas
imbatíveis nas lutas contra as aberrações de natureza moral, se dispõem
agora a rejeitar a ética sexual cristã, para aceitar um novo código moral
no qual o homossexualismo é contemplado como um "estilo de vida
compatível com a fé cristã".
O Dr. Joseph Fletcher, professor da Faculdade Episcopal de
Teologia de Cambridge, Inglaterra, intérprete da "nova moralidade",
surpreendeu os círculos religiosos conservadores quando condenou a
influência refreadora do decálogo divino. Proclamando uma nova ética
imoral, defendeu o homossexualismo como um comportamento
circunstancialmente lícito.
"Não podemos dogmatizar" – declarou o Professor Fletcher –
"Qualquer ato sexual (hétero – homo – auto) em que alguém se empenha
dentro ou fora do matrimônio, será às vezes bom e às vezes mau,
dependendo das circunstâncias. . . A nova moralidade ... diria ... que a
moralidade de qualquer ato sexual deve ser determinado por avaliação
responsável dentro da situação, e não por avaliações pré-fabricadas." 10
Em 1968, Troy Penny, um pastor de formação pentecostal,
organizou nos Estados Unidos uma igreja de homossexuais, Hoje, outras
50 congregações satélites (Universal Fellowship of Metropolitan
Community Churches) espalhadas pelo país, integram a nova
comunidade religiosa de "homossexuais cristãos". (Sic)
"É melhor que mentir", foi o título de um artigo publicado pela
revista Time em sua edição de 15 de maio de 1972. O artigo em
referência descreve o exame insólito ao qual se submeteu William
Johnson, de 25 anos de idade, candidato à ordenação ao ministério
eclesiástico.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 97
Aproximadamente cem delegados de 19 Igrejas Unidas de Cristo,
na área de São Francisco, Califórnia, reuniram-se para decidir se
William Johnson, homossexual confesso, deveria receber a bênção da
ordenação para o exercício do ministério. Perguntaram-lhe "como
encarava a sua sexualidade anormal". Johnson respondeu: "Considero
toda a sexualidade como um dom de Deus, e um dom legítimo." A uma
outra pergunta, "se poderia ser um bom ministro sem ter esposa",
retorquiu: "Realmente não sinto necessidade de uma esposa." E aduziu:
"Algum dia espero partilhar uma profunda relação amorosa com outro
homem."
Após ouvirem o depoimento prestado por William Johnson, os
delegados reunidos recomendaram sua ordenação, pois reconheceram
nele as "virtude indispensáveis para exercer as atividades próprias de um
ministro". (Sic)
Três anos mais tarde, em 1975, o bispo episcopal Paul Moore, em
solene cerimônia religiosa, consumou a ordenação ministerial de uma
lésbica. 11
Recentemente um deputado federal norte-americano, em um
discurso pronunciado no parlamento nacional declarou-se homossexual e
recebeu surpreendentes manifestações de apoio de milhares de
admiradores.
Muitos viram nesses eventos inéditos o triunfo irreversível da causa
do terceiro sexo. Mas o Deus que criou os seres humanos e os dividiu
entre "machos e fêmeas" (Gênesis 1:27) voltará para com autoridade
reclassificar outra vez os habitantes da terra de acordo com o programa
original.

Os Lucros Astronômicos da Pornografia

Uma caixa procedente de Copenhague, Dinamarca, marcada "pires


e xícaras", caiu e quebrou no porto de Nova Iorque, e dela se espalharam
centenas de revistas em cores mostrando homens e mulheres desnudos,
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 98
em poses indecorosas. A polícia alfandegária prendeu um dos
responsáveis pela importação (22 mil revistas pornográficas
escandinavas) e descobriu uma rede de mafiosos controlando um novo e
lucrativo negócio – a indústria da pornografia.
Os gangsters internacionais descobriram que a produção de
publicações eróticas e filmes obscenos, bem como o controle de livrarias
que funcionam como centros distribuidores de toda essa imundície,
constitui um negócio mais lucrativo e menos arriscado que o tráfico de
narcóticos.
E agora um dilúvio de material obsceno inunda o mundo,
ampliando dia a dia o mercado consumidor. Dizem os entendidos que
nos Estados Unidos se vendem cada ano livros pornográficos suficientes
para abarrotar cinco vezes o Empire State, um dos mais altos edifícios do
mundo, e a maior parte dessas publicações chega às mãos dos
adolescentes e crianças.
Milhares de lares são constantemente invadidos por uma alarmante
publicidade postal pornográfica. O Departamento de Correios dos
Estados Unidos recebeu em curto tempo solicitações de 230 mil famílias,
pedindo que os seus nomes fossem eliminados da lista de endereços para
os quais certas companhias enviam material pornográfico tendo em vista
ampliar o número de clientes.
A exploração desse nefando comércio está alcançando proporções
inauditas. São surpreendentes o descaso e a impudicícia com que os
comerciantes, de forma inescrupulosa, se enchem de ouro com a
produção e distribuição de publicações e filmes que ultrajam a moral e
os bons costumes.
Advertindo sobre os efeitos ruinosos da literatura produzida nos
esgotos do submundo, declarou o Dr. Max Levin:
"Ninguém pode duvidar que os jovens são danosamente afetados
por essa torrente de publicações pornográficas que inundam as estantes
das livrarias e as bancas de revistas."12
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 99
Deus Se pronuncia nas Escrituras Sagradas para destacar o grande
perigo produzido pelos traumas de ordem moral produzidos pela
obscenidade. O livro de Provérbios ensina: "Tomará alguém fogo no seu
seio, sem que as suas vestes se incendeiem? Ou andará alguém sobre
brasas, sem que se queimem os seus pés?" (Provérbios 6:27 e 28). Com
efeito, muitos são os que sofrem ao "queimar-se" no fogo abrasador das
paixões exacerbadas pelo torpe comércio da pornografia.
Referindo-se ao tema, escreveu Alberto Lleras Camargo, talentoso
escritor colombiano:
''Não possuímos estatísticas sobre a comercialização do impulso
sexual. Não sabemos a que proporção do produto nacional bruto
corresponde a venda do sexo... porém deve ascender a bilhões de
dólares. Não é seguramente inferior ao alcoolismo que permeia a
sociedade ou ao produto do envenenamento coletivo do tabagismo." 13
Esta forma moderna de impiedade nos obriga a recordar as cidades
dos dias bíblicos: Sodoma e Gomorra, que Deus destruiu eternamente
por meio do fogo, pois eram centros nauseabundos de erotismo, luxúria e
vicio. É dolorosa a comparação, mas não encontramos nada mais
próximo à desoladora realidade de uma perversão cultivada em meio a
uma era caracterizada pela explosão tecnológica e um conhecimento
amplo da "ética sexual cristã".
Mas venturoso é aquele que, em meio a tanta miséria moral, sabe
preservar a sua mente do lixo contaminador produzido pelos
inescrupulosos mercadores do sexo e suas perversões.

O Colapso da Família

Porém, que ocorre com a família? Sociólogos e observadores dos


fenômenos sociais estão se convertendo em arautos de inquietantes
predições. O influente periódico londrino The Observer, suscitou em
uma de suas edições a perturbadora interrogação: "Será esta a última
geração de casados?"
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 100
O psicólogo britânico, James Fleming, em artigo reproduzida pela
revista Marriage Guidance (Orientação Matrimonial), órgão oficial do
Conselho de Orientação Matrimonial da Grã-Bretanha, vaticinou que em
breve as bodas serão rituais de uma época passada e a família uma
saudosa recordação de uma era superada pela tecnologia.
Muitas publicações, revistas populares, programas de rádio e
televisão, e películas incontáveis, lançam sobre o matrimônio e a vida
familiar uma luz falsa, deformando sua imagem. Essa tendência em
considerar levianamente a importância do lar, revela-se na resposta de
uma esposa moderna a um representante de uma empresa construtora
que se esforçava por convencê-la a construir uma casa:
– O senhor jamais me persuadirá a construir um lar, porque dele não
necessito. Nasci numa maternidade, fui educada em colégios, namorei
em automóveis, minha festa nupcial teve lugar em um clube recreativo, e
a minha vida eu a passo nos cinemas, teatros e clubes noturnos. Quando
adoecer, irei para o hospital, e quando morrer, para o cemitério. ... Tudo
quanto me interessa é uma garagem onde guardar o meu automóvel.
Essa jovem esposa reflete a leviandade moral de uma época que substitui
a ética cristã pelas doutrinas de Freud. Rebelando-se contra a "moral
medieval" e, em certos aspectos contra a "moral vitoriana" que
considerava o sexo como um opróbrio, algo vil, degradante e
pecaminoso, Sigmund Freud denunciou a "repressão sexual" como
responsável pelas neuroses, inibições, perturbações mentais e
sentimentos de culpa que tanto afligem a nossa geração. Já que a idéia de
considerar o sexo como algo impuro gera tantos conflitos internos –
arrazoavam Freud e seus discípulos – devemos liberar o homem desses
freios medievais e convencê-lo da legitimidade de qualquer manifestação
sexual dentro ou fora do matrimônio.
E as barreiras da moral cristã ruíram. Os diques se abriram para a
penetração de um dilúvio de literatura sexual. As normas morais
desceram vertiginosamente no tobogã da psicanálise; a "velha moral" foi
rapidamente suplantada por uma "nova moral" evidentemente imoral.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 101
Deste modo, em uma sua geração, o pêndulo moral da sociedade se
moveu de um extremo a nutro. Agora as experiências sexuais pré-
maritais são incentivadas, as manifestações sexuais extraconjugais
consideradas como legítimas e necessárias e os adolescentes "liberados"
dos velhos tabus.
E quais as conseqüências? A inquietante escalada do vício, o
colapso moral da sociedade e a desintegração da família. Os conflitos no
lar se intensificam; os divórcios se multiplicam e, com eles, cresce a
legião de filhos desventurados, órfãos de pais vivos. Eis as conseqüências
nefastas do "iluminismo freudiano".
Homens e mulheres arrastados por uma gigantesca onda de
degenerescência moral, embrutecidos pelos prazeres voluptuosos da
carne, incapazes de discernir a beleza e os encantos existentes em um lar
edificado segundo o modelo divino.

Remédios Para a Enfermidade Moral

Como pode o homem resistir a seus impulsos inferiores e cultivar


uma consciência limpa? Há os que crêem ser o homem vil por natureza,
cativo de suas tendências pecaminosas, vítima inerme das propensões
que lhe são inerentes. Os proponentes dessa idéia proclamam a filosofia
da angústia.
Outros discordam. Orientados por um grande idealismo, crêem ser
o homem capaz de desenvolver a virtude que existe em seu ser. Crêem
que mediante a autodisciplina e a adoção de regras rígidas de
comportamento, ele poderá alcançar a vitória sobre as inclinações da
carne.
Relacionados com esses pensadores estão aqueles que pretendem
solucionar os problemas morais mediante a educação. Quanto mais
educado for o homem, mais virtuoso será, argumentam. Porém, estes
mesmos idealistas não podem negar que as universidades são geralmente
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 102
os meios propagadores das mais requintadas formas de perversão do
sexo.
Outros recorrem à legislação. Nomeiam comissões e grupos de
trabalho tendo em vista a fornicação de planos para melhorar a sociedade
e extirpar o vício. Descobrem, entretanto, que as leis e os códigos são
insuficientes para erradicar o mal.
À extrema esquerda entre os várias grupos estão os defensores da
liberdade irrestrita. Suprimam-se as leis, exigem; elas exacerbam a
rebelião. Liberado, o homem desenvolverá automaticamente um caráter
reto.
E assim, filósofos de todos os tempos e de todas as correntes têm
lutado para resolver o problema moral do homem. Porém, nenhuma das
soluções propostas tem logrado resultados eficazes.
Jesus é a única solução para as misérias e vícios da humanidade.
Enquanto na Terra, Ele nos deu o exemplo de uma vida pura e mostrou
ao homem um novo princípio de vida que o capacita a viver retamente.
Paulo, um de Seus seguidores, adverte:
"... Renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no
presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita
esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador
Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de
toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu,
zeloso de boas obras." 14
Quando o anjo anunciou o nascimento de Jesus, disse: "Porás o
nome Jesus, porque Ele salvará o seu povo dos pecados deles" (S. Mat.
1:21). Aqueles que experimentam intimamente a influência transformadora
do poder redentor de Cristo, recebem o vigor indispensável para superar
as tendências pecaminosas e as inclinações da carne.

Sinal Inequívoco do Fim

Muitos, ao contemplar o panorama mundial contemporâneo, diante da


maré crescente de luxúria que invade o mundo, são vencidos pelo
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 103
desalento. Porém, aquele que estuda as Escrituras Sagradas, sabe que o
livro de Deus prenuncia o aumento da corrupção moral precisamente
para o tempo que precede o maior acontecimento da História, a saber, a
segunda vinda de Cristo ao mundo.
Após a densa noite de pecados e vícios que cobre o mundo, um dia
feliz raiará, quando Cristo descer do Céu para implantar o Seu reino de
luz, pureza, justiça e amor.
E enquanto aguardamos o raiar brilhante do dia do Senhor, sumos
instados pelo Espírito Santo a valer-nos do poder divino ao nosso
alcance para resistir ao poder do mal e, mediante uma relação pessoal
com Cristo, desenvolver um caráter irrepreensível e sem mácula.

Referências:

1. Romanos 1:18, 20, 21, 24, 26, 27 e 28.


2. S. Pedro 3:10.
3. S. Mateus 24:37-39.
4. S. Mateus 24:39.
5. S. Lucas 17.28-30.
6. Citado por A. S. Maxwel em Quanto Tempo nos Resta?, pág. 49.
7. Citado por Ricardo de Haan em A Nova Moral, pág. 26.
8. San Francisco Sunday Examiner, 9 de abril de 1976.
9. Ricardo de Haan, A Nova Moral, pág. 22.
10. O Atalaia, dezembro de 1973, pág. 6.
11. Christianity Today, 9 de agosto de 1985, pág. 34.
12. Current Medical Digest, outubro de 1965.
13. Vision, 6 de julho de 1969.
14. Tito 2:12-14.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 104
O MUNDO ESTREMECIDO PELA VIOLÊNCIA

A civilização progrediu ao ponto de fecharmos hermeticamente as


portas e janelas à noite, enquanto os nativos da selva dormem em
choças abertas. – Rangley Times, Colorado, Estados Unidos

*A Densidade Produz Tensões *A Influência da Televisão


*"Abaixo as Armas" (Mesmo as de Brinquedo) *A Violência Será
Erradicada

A história ocorreu em S. Francisco, Califórnia, e ilustra com


propriedade a tragédia da escalada de violência nos Estados
Unidos. Sua personagem, uma anciã anônima, hóspede de um modesto
hotel na cidade. Seus únicos amigos, com os quais se associava, eram os
outros residentes que com ela se reuniam no salão social do hotel para
assistir a alguns programas de televisão. Seu exercício diário, uma curta
caminhada a uma lanchonete situada nas cercanias onde tomava
costumeiramente suas refeições.
Uma noite, ao regressar ao hotel foi brutalmente agredida, atirada
ao chão e roubada. A partir de então, dominada por um irreprimível
sentimento de angústia e pavor, buscou refúgio confinando-se em seu
próprio quarto. Quando alguns amigos tentaram visitá-la, recusou-se
abrir-lhes a porta, temendo que algum intruso, aproveitando a
oportunidade, lhe invadisse o quarto.
Durante duas semanas ninguém a viu caminhando pelos corredores,
ou mesmo assistindo a seus habituais programas de televisão, na sala de
estar. Sentindo sua ausência, um funcionário do hotel decidiu investigar
o que se passava. Surpreendido, encontrou-a caída ao chão, morta havia
uma semana.
O laudo do Instituto Médico Legal informou que havia morrido
como conseqüência de uma úlcera perfurada, provocada por uma
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 105
hipertensão emocional, complicada por um agudo estado de subnutrição.
Mas, a causa real de sua morte foi a psicose do medo.
A presença do crime na América é hoje tanto uma realidade, quanto
um estado de espírito. Nos últimos dez anos, os crimes aumentaram em
174%, enquanto o crescimento da população, no mesmo período, foi de
11%. É verdade que poucos são os que morrem de pavor como a idosa
senhora de S. Francisco, mas a expectativa de uma eventual agressão
constitui uma constante na vida de milhões de pessoas nos grandes
centros urbanos. As medidas preventivas são conhecidas: o aumento das
fechaduras e trancas nas portas e janelas; grades de ferro; sistemas
sensíveis de alarme; sofisticados controles eletrônicos; uma legião de
homens e mulheres armados; cursos intensivos de defesa pessoal; cães
adestrados no combate ao crime; viaturas policiais dispersas por toda a
parte, e para quase todos – um sentimento constante de vulnerabilidade.
Nas nações que compõem o mosaico europeu, a insegurança é
também uma inquietante realidade. Na Inglaterra, a delinqüência
aumenta num ritmo 20% mais acelerado que a população nacional. Lord
Hailsham, influente estadista, considerando a alarmante progressão do
crime em seu país, fez a seguinte advertência:
"Se o presente índice de delitos continuar crescendo
indefinidamente, o sistema judicial britânico se mostrará insuficiente fiara
fazer frente à situação. A crise será sentida primeiro em Londres e depois
nas províncias." 1
Na Alemanha Ocidental multiplicam-se os atos de terrorismo, os
assaltos a mão armada, raptos, estupros, violações e crimes de toda a
espécie, perpetrados com premeditação e sadismo.
Uma onda de violência afeta também a França, a Itália e outros
países, onde se cometem crimes sem nenhum sentido, delitos sem
motivos justificáveis. Por exemplo, um grupo de adolescentes atacou um
tabelião em Cherburgo, na França, e o torturaram com tal sadismo, que
ele perdeu os sentidos e morreu três dias depois. Por que agiram desta
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 106
maneira? "Só para nos divertimos", responderam os jovens com
revoltante desfaçatez e cinismo.
No Brasil, a intranqüilidade também se faz presente em toda a
parte. Governantes e governados sucumbem ao peso de uma apreensão
que faz a todos se sentirem impotentes diante da violência desencadeada,
que parece se institucionalizar a cada passo. O crime e a impunidade
caminham de mãos dadas. E por isso os pais começam a temer até
mesmo enviar os filhos à escola, pois a insegurança multiplica os seus
focos e a todos ameaça indistintamente.
A cada dia que passa a agressão assume novas formas. Há duas
décadas os seqüestros de aviões eram praticamente desconhecidos.
Agora se tornaram comuns. As cartas explosivas enviadas a dirigentes
políticos e sindicais, demonstram com freqüência sua eficácia
destruidora. Os atentados perpetrados nas últimas décadas contra líderes
nacionais cobraram a vida de influentes estadistas: O Presidente John
Kennedy e seu irmão, Senador Robert Kennedy, nos Estados Unidos; o
Rei Abdullah, na Jordânia; o Coronel José Antônio Remon, no Panamá;
o Presidente Carlos Castillo de Armas, na Guatemala; o Rei Faiçal II, no
Iraque; o Presidente Sylvano Olympus, no Togo; o Primeiro-Ministro
Hendrick Verwoerd, na África do Sul; o Presidenta Abdi Rashid Al
Shermarke, na Somália; o Primeiro-Ministro Wasfi Tall, na Jordânia; o
Presidente Anwar Sadat, no Egito; o Presidente Amin Gemayel, no
Líbano; a Sra. Indira Gandhi, Primeira-Ministra da Índia e Olof Palme,
Primeiro-Ministro da Suécia. A lista não é maior porque à medida que
aumentam os riscos de bombas e tiros, tendo como objetivo alvejar o
poder, crescem também as precauções tomadas pelos serviços de
segurança, cada vez mais preocupados com a freqüência e a audácia dos
ataques perpetrados por terroristas, revolucionários, ou simples
desequilibrados mentais.
Há evidentemente em nossa geração uma labareda de insanidade
devorando os homens; há um turbilhão de violência sacudindo a Terra;
há uma maré crescente de terrorismo minando os fundamentos de nossa
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 107
estrutura social. Mas como podemos explicar esta exacerbação do crime?
Em um ano gastamos em educação mais do que a soma de todas as
verbas empregadas desde o começo da civilização até a Segunda Guerra
Mundial. Por que então a violência?
Verificamos nas noticias nacionais e internacionais que as grandes
concentrações urbanas, os gigantescos aglomerados metropolitanos, são
hoje centros de violência. Ocupam sempre o primeiro lugar nas
estatísticas relacionadas com o desencadeamento dos atos de
vandalismo. Isso suscita duas questões essenciais: Por que o homem que
vive numa grande metrópole se torna mais agressivo? São as cidades em
si responsáveis por esta escalada de violência?
Biólogos, sociólogos, antropólogos, psicólogos e psiquiatras se
debruçam sobre o problema, buscando através de exaustivos estudos
uma resposta convincente a essas questões.

A Densidade Produz Tensões

O Dr. John Calhoun, do Instituto Nacional de Saúde Mental dos


Estados Unidos, realizou num laboratório uma experiência que
poderíamos chamar de "superpopulação experimental". Confinou trinta
ratos em um compartimento limitado de 3x4 metros. Em pouco tempo
eles se multiplicaram desordenadamente, e a ordem social começou a se
desintegrar. Com o aumento da população, perverteram-se todos os tipos
de comportamento instintivo. As mães começaram por abandonar suas
crias, vagando à deriva, apáticas, como sob um efeito entorpecedor.
Algumas manifestaram aberrações sexuais, como o lesbianismo, e outras
adquiriram tendências agressivas e masculinas. Os machos, em sua
maioria, se mostravam arrogantes, irritadiços e violentos, lançando-se
uns contra os outros, em agressões físicas sem razões aparentes. A taxa
de mortalidade alcançou proporções surpreendentes.
Após dezesseis meses de observações, Calhoun interrompeu a
experiência, suscitando a seguinte interrogação: "Continuará o homem
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 108
seguindo este caminho até ao fim, amontoando-se em espaços limitados,
precipitando deste modo seu auto-extermínio?" E concluiu dogmático:
"Creio que nos restam apenas quinze anos para uma decisão
inteligente."2
Há aproximadamente 50 anos, cinco cervos e gazelas foram levados
para viver em liberdade em uma pequena ilha, situada na Baía de
Chesapeake, no litoral dos Estados Unidos. Os animais multiplicaram-se
normalmente até chegar a aproximadamente 300 exemplares, quando
então, sem razões justificáveis, começaram a definhar e morrer. Em
pouco tempo o número de animais se reduziu a menos de uma centena,
embora houvesse alimento e água abundantes e nenhuma evidência de
infecção ou enfermidade epidêmica.
As investigações post-mortem revelaram uma realidade
surpreendente: aqueles animais apresentavam em seus órgãos vitais
transformações indicativas de erosões produzidas por tensões agudas e
crises emocionais.
Confinados dentro de um espaço limitado, os cervos poderiam ter
escolhido a agressão como solução ao problema do excesso populacional
na ilha. Mas não o fizeram. Porém, sempre que se encontravam em
situações em que uns perturbavam aos outros, produzindo irritações
recíprocas, ocorriam aqueles fenômenos arteriais e glandulares que
precedem a agressão. Como essas reações se repetiam e se
intensificavam, os animais começaram a apresentar sintomas de
enfermidades coronárias, morrendo prematuramente.
E assim, de maneira indireta e inesperada, a Natureza restabeleceu o
equilíbrio entre a população e o espaço disponível. 3
O Professor Paulo Sivadon, especialista em fisiologia do
comportamento, descreve a trágica história da Ilha da Páscoa, perdida no
Pacífico Sul, a quatro mil quilômetros de qualquer lugar habitado.
Originária, não se sabe de onde, a população da ilha se multiplicou
até atingir a inacreditável cifra de aproximadamente 20 milhões de
habitantes. Ao drama da superpopulação, juntava-se uma angustiosa
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 109
sensação de confinamento. A ilha fechara-se como um alçapão,
aprisionando seus habitantes dentro de seus limites, pois não havia ali
madeira apropriada para a construção de barcos que lhes permitissem um
escape.
À medida que aumentava a pressão demográfica, o
congestionamento do espaço e a escassez de alimentos se intensificavam.
A agressividade se exacerbou de forma crescente, precipitando uma
encarniçada guerra civil, da qual poucos sobreviveram. 4
Nesses três exemplos – a experiência do Dr. Calhoun com os ratos,
os cervos e gazelas na pequena ilha da Baia de Chesapeake, e a tragédia
na Ilha da Páscoa, encontramos os componentes do fenômeno da
agressividade. Estes mesmos elementos são encontrados em nossas
grandes cidades: congestionamento demográfico, tensões psicológicas e
distúrbios fisiológicos.
Um grupo de psiquiatras do Centro Médico de Cornell e do
Hospital de Nova Iorque, realizou durante oito anos um minucioso
estudo do comportamento de 1.660 pessoas que vivem e trabalham no
congestionado e poluído centro de Manhattan, em Nova Iorque. A
investigação demonstrou que somente uma pessoa em cinco podia ser
classificada como mentalmente sã. Quatro de cada cinco habitantes de
Manhattan, em Nova Iorque, apresentavam os sintomas de uma neurose
urbana ou sofriam alguma psicose que lhes afetava o comportamento.
Os investigadores de Cornell não encontraram as evidências de que
esse estado patológico fosse devido a algum acontecimento traumático
especial. Por isso, concluíram atribuindo os transtornos psíquicos
comuns entre os habitantes de Nova Iorque à "síndrome da sardinha" – à
tirania produzida pelo congestionamento demográfico com as suas
constantes pressões e conseqüentes tensões emocionais.
Por volta do ano 2000, quatro pessoas em cinco na Europa, viverão
amontoadas em gigantescas e desumanas selvas de asfalto, tijolos,
pedras, mármore e cimento armado. Os demógrafos calculam que ao fim
deste século, haverá no mundo aproximadamente 7 bilhões de habitantes,
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 110
a maioria dos quais viverá as tensões criadas pelas imensas megalópoles
com sua bulhenta cacofonia de sons, o ruído estridente de buzinas e
sirenes e o stacatto metálico e irritante dos motores dos autos e máquinas
em operação.
Esses ruídos perturbadores, somados às tensões geradas pelo
trabalho, o congestionamento do tráfego, a subnutrição, o subemprego e
outros problemas afins, produzem uma neurose depredante, responsável
não só pelas agressões a indivíduos, mas também por atos de vandalismo
contra o patrimônio público privado.
A prefeitura de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, reserva
anualmente em seu orçamento somas apreciáveis para a construção de
parques e ampliação de jardins; mas para conservá-los, é necessário um
gasto três vezes maior. Das 58 mil árvores plantadas durante a estação
apropriada, aproximadamente 30 mil acabaram sendo arrancadas e
destruídas, o que levou a municipalidade a criar a Secretaria do Meio
Ambiente, para conter a onda de vandalismo e as depredações da cidade.
O mesmo fenômeno se fez sentir em relação ao sistema de iluminação
pública daquela cidade. A constante extensão da rede elétrica reclama a
aplicação de elevados recursos financeiros. Entretanto, a conservação e
os reparos, como conseqüência dos atos predatórios, exige a inversão de
recursos cem vezes mais elevados do que os aplicados em obras de
ampliação.
No Recife, Pernambuco, a municipalidade enfrenta um problema
semelhante. Todos os meses seus funcionários plantam 2.500 árvores
semi-adultas e 750 delas são destruídas, ocasionando enormes prejuízos
ao erário público. Os 250 vigias empregados pelo Departamento de
Paisagismo, nas quase 200 praças da cidade, e as campanhas de
esclarecimento à população, mostram-se insuficientes para reprimir esse
estranho comportamento predatório contra os bens públicos.
Um problema típico do Brasil? Em absoluto. Os atos de vandalismo
se multiplicam por toda a parte, em todas as nações, como sintomas
inequívocos de que vivemos em uma sociedade terrivelmente enferma.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 111
Mas seria demasiado simplismo atribuir a escalada de ódio, a
explosão de violência, unicamente ao fator densidade demográfica. Há
outros elementos que se conjugam ao crescente processo de urbanização,
precipitando esse alarmante crescimento nos índices de criminalidade.

A Influência da Televisão

A revista Look, em uma de suas edições, denunciou sem eufemismo


a televisão como veículo incentivador do crime, dos atos de violência e
ações agressivas tão comuns em nossos dias. Em uma importante cidade
nos Estados Unidos, registra a revista em apreço, "as estações de
televisão exibiram 7.887 cenas de violência em uma só semana". 5
Apelando para mensagens de conteúdo violento, a televisão leva
seus espectadores à conclusão natural de que o ódio e a agressividade
constituem a resposta natural para todos os problemas sociais. Daí a
crescente preocupação dos sociólogos, psicólogos, líderes religiosos,
pais e educadores, diante da influência perniciosa da televisão na
formação da criança. Os programas infantis se sucedem diariamente
exibindo quadros de brutalidade sem conta.
Uma estatística americana mostra que uma criança entre cinco e
quinze anos, com os olhos chispantes, assiste em média à morte violenta
de 13.400 seres humanos. Isso significa que durante dez anos, ela poderá
ver mais violência que um adulto em toda a sua vida. Usar um revólver
passa a ser para ela mais importante que o manuseio de um livro; e matar
um ser humano tão natural como aniquilar um inseto.

"Abaixo as Armas" (Mesmo as de Brinquedo)

"Se a próxima geração não souber como matar, não será por culpa
nossa", foi o comentário irônico feito por um líder religioso ao observar
um grupo de crianças ocupadas com os seus brinquedos. Possuíam todas
as armas necessárias para a luta: metralhadoras, pistolas, granadas de
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 112
mão, espadas, capacetes e uniformes militares. Eles sabiam como
apunhalar o adversário em zonas vitais, e como cair espetacularmente
quando eram atacados (tudo em forma simulada). Haviam aprendido a
deleitar-se no jogo de tirar a vida.
Que adianta fazer com que os nossos filhos aprendam a repetir as
palavras do mandamento, "Não matarás", se colocamos em suas mãos
um brinquedo cuja finalidade é "matar" e "destruir"?
Pensam alguns que esse "inocente" tipo de brinquedo não afeta o
comportamento do infante. Mas a autora do livro Orientação da
Criança, escreveu:
"O caráter de Napoleão foi grandemente influenciado por sua
educação na meninice. Instrutores insensatos inspiraram-lhe o amor à
conquista, formando os exércitos de brincadeira e o colocando à sua
frente, como comandante. Aí foi posto o fundamento de sua carreira de
lutas e derramamento de sangue." 6
Para reduzir a violência que caracteriza os nossos dias, impõe-se a
necessidade de reduzir o número de estímulos agressivos. Entre esses
estímulos estão as réplicas de todas as armas bélicas, imensos arsenais
"inofensivos", encontrados nas lojas de brinquedos para crianças.
Não queremos que os nossos filhos se desenvolvam com a idéia de
que a violência é divertida. Como seguidores do Príncipe da Paz,
devemos opor-nos a incluir os "jogos assassinos" entre os presentes
distribuídos na alegre noite de Natal.

A Violência Será Erradicada

Mas, toda esta violência desencadeada constitui uma reedição do


que ocorreu em uma era tenebrosa da História. O livro bíblico do
Gênesis faz referência a este período, dizendo:
"Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na
Terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração. ... A
Terra estava corrompida à vista de Deus e cheia de violência." 7
Ampliando um pouco mais a descrição, o cronista inspirado acrescentou:
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 113
"Então, disse Deus a Noé: Resolvi dar cabo de toda carne, porque a
terra está cheia da violência dos homens; eis que os farei perecer
juntamente com a Terra." 8
Com efeito, nos dias de Noé, a gangrena do ódio havia embrutecido
a alma humana. A violência saturava a sociedade. Não obstante, em Seu
amor, Deus concedeu aos contemporâneos de Noé um período de graça
para se arrependerem, e lhes advertiu que, prescrito o tempo de
misericórdia, destruiria os impenitentes nas águas de um dilúvio.
Passaram-se os anos. Com admirável perseverança, Noé continuou
conclamando todos a se arrependerem de seus caminhos. Porém, suas
exortações foram recebidas com indiferença, escárnio e desdém. E
quando a paciência divina afinal se esgotou, as fontes do grande abismo
se romperam, as cataratas do céu desceram com grande ímpeto e o
Dilúvio submergiu a Terra e seus habitantes sob um enorme sudário de
morte.
Carta de Natal

Menino Jesus:
Eu não sei por que é que te chamam Menino Jesus e depois do Natal te
chamam só Jesus e tu apareces grande.
Já perguntei ao meu pai como é que tu cresces tão depressa,. mas ele me disse
que eu, mais tarde, havia de compreender. Eu não te escrevo para te perguntar como
é. Escrevo-te para te fazer um pedido.
O meu trem está estragado e os trilhos do trem também. Como ninguém aqui
em casa sabe consertar os meus brinquedos, deram-me uma metralhadora no Natal.
Mas eu não gosto dela, pois me disseram que eu tinha que matar os meus amigos, de
brincadeira. Eu sei que é de brincadeira, mas eu não gosto porque o meu pai, outro
dia, disse que uma metralhadora de verdade mata muitas pessoas ao mesmo tempo.
O pedido que te faço, Menino Jesus, é que estragues todas as metralhadoras do
mundo, para as pessoas não morrerem assim muitas e para eu não ter de agradecer
por um brinquedo que não gosto e não ter de matar o Artur e a Ninha, que são os
amigos com quem gosto de brincar. Está bem?
Espero resposta.
Pedrinho
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 114
Quando o Senhor Jesus descreveu, em Seu sermão profético, as
condições prevalecentes na sociedade, nos últimos dias da História,
prognosticou que "como quando veio o dilúvio, assim será também a
vinda do Filho do homem" (S. Mateus 24:39). Para os que observam os
acontecimentos e os comparam com o quadro pintado pelos antigos
oráculos, cristaliza-se a convicção de que se aproxima outra tempestade
e que um novo castigo, mais terrível, em breve se abaterá sobre o
mundo. Jesus, como médico divino, não vacilará em usar o afiado bisturi
de Sua misericórdia para remover este tumor social – a violência. Como
redentor, intervirá nos destinos do mundo para erradicar a violência e
destruir para sempre o império da impiedade. Uma nova ordem social
será implantada, onde o ódio não mais levantará sua cabeça arrogante.
Os males do presente século desaparecerão e uma raça de justos,
amantes da benevolência e justiça, viverá para sempre.

Referências:

1. Citado em La Pura Verdad, Janeiro de 1974, pág. 7.


2. John Calhoun, American Journal of Physiology, n.º 81, págs.
477-480, citado em O Globo, 20 de maio de 1975.
3. Chesapeake Science, I, págs. 75-79.
4. Citado em O Globo, 20 de maio de 1975.
5. Citado por John Wesley White, em Retorno, pág. 83.
6. E. G. White, Orientação da Criança, pág. 196.
7. Gênesis 6:5 e 11.
8. Idem, versículo 13.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 115
A PSICOSE DO MEDO

Sou um homem assustado, todos os cientistas que conheço estão


temerosos por suas vidas – temerosos por vossas vidas – Harold C.
Urey, Prêmio Nobel de Química

*O Mecanismo do Medo e as Fobias *O Temor Supersticioso *O


Medo da Morte *O Medo e suas Várias Máscaras *O Medo de uma
Guerra Nuclear *Sinal Profético Inequívoco

C onta uma antiga lenda que enquanto cruzava o deserto,


montada em um camelo, a cólera se encontrou fortuitamente
com um solitário beduíno, que a interrogou:
– Para onde vais?
Com apatia e cinismo, a cólera respondeu:
– Vou a Bagdá para matar 10 mil pessoas.
Após alguns meses a cólera e o beduíno voltaram a se encontrar.
Irritado, o beduíno repreendeu-a, dizendo:
– Você mentiu. Em Bagdá morreram não apenas 10, mas 25 mil.
Com surpreendente serenidade, ela respondeu:
– Não menti. Eu matei exatamente 10 mil pessoas. As demais
morreram de medo.
Apesar de seu caráter fictício, a lenda ilustra de forma objetiva a
ação homicida do medo.
Na revista Constellation, edição de janeiro de 1949, foi publicada
uma dramática narrativa relacionada com a morte de um lavador de
vagões de uma empresa ferroviária. Por descuido ou negligência o
desventurado homem ficou preso dentro de um vagão frigorífico. Depois
de uma curta viagem de aproximadamente 30 quilômetros, foi
encontrado morto. Mas pouco antes de morrer escreveu o seguinte
bilhete, no qual retratou sua terrível agonia: "O frio aumenta. Temo que
ninguém virá em meu socorro. Estou me congelando lentamente e os
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 116
meus membros estão adormecendo. Sinto que já não mais terei forças
para escrever." Porém, o certo é que ele não morreu pela ação do frio,
uma vez que o motor do refrigerador não estava funcionando.
O Dr. William S. Saddler afirma que o medo de certas
enfermidades produz muitas vezes os sintomas físicos que caracterizam a
doença. Ele descreve o caso de uma senhora que morreu de um câncer
inexistente. Ela se imaginou terrivelmente enferma e pouco depois
morreu, embora todos os exames de laboratório houvessem demonstrado
que sua enfermidade era imaginária.
Há na literatura médica casos de pessoas que morreram de medo
depois de serem mordidas por serpentes não venenosas. Por isso –
observou um especialista – no tratamento de pessoas mordidas por
cobras é importante saber se o ofídio era venenoso ou não, uma vez que
inúmeros são os pacientes que morrem torturados pelo medo, após serem
picados por serpentes inofensivas.
Mas o medo raramente mata as suas vítimas de forma fulminante;
sua ação homicida se faz sentir muitas vezes de maneira insidiosa e sutil.
As enfermidades psicossomáticas – de acordo com a psiquiatria –
têm suas raízes firmadas no medo e nas ansiedades. Os grandes flagelos,
tais como a varíola, a tuberculose, a febre amarela e outros, foram
completamente dominadas graças às notáveis conquistas verificadas nos
diversos ramos da ciência médica. Mas, em contrapartida, surgem agora
ameaçadoras as enfermidades cardiovasculares, as úlceras pépticas e
toda uma gama de alergias em cuja etiologia o temor e as ansiedades
ocupam lugar destacado.
O alarmante aumento de fatalidades provocadas por ataques
cardíacos, em nossa geração, encontra no temor e na angústia o seu
núcleo de estruturação. O Dr. Murray Robertson, da Fundação Cardíaca
de Ontário, afirmou que as enfermidades cardíacas são responsáveis por
uma crescente porcentagem de mortos no Canadá. Sua inquietante
incidência levou os especialistas a denunciarem as doenças do coração
como a "epidemia do Século XX".
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 117
Um cardiologista em Atlanta, Estados Unidos, declarou que em seu
país se registrou um aumento de quatrocentos por cento nas mortes
provocadas por ataques do coração. Na Escócia, o aumento fui superior a
novecentos por cento.
Sentimo-nos muitas vezes consternados quando pensamos nos
horrores da guerra, responsável pela morte de milhões de criaturas
humanas. Porém, quase sempre passamos por alto o fato de que durante
o mesmo período outros milhões atribulados pelo medo morreram do
coração. Além disto, segundo informações da Organização Mundial da
Saúde, milhares morrem anualmente vítimas de úlceras do estômago e
duodeno. O quadro se torna muito mais inquietante quando descobrimos
que esses transtornos são de mais difícil cura que as conhecidas
enfermidades infecciosas. As doenças psicossomáticas são provocadas
por emoções desordenadas, ansiedades, angústias e temores, e para estes
males as drogas não exercem eficiente ação terapêutica.

O Mecanismo do Medo e as Fobias

Não poderíamos sobreviver se não existisse em cada um de nós o


chamado "mecanismo do medo" que sempre nos põe em estado de alerta
diante de um perigo iminente e real. Até mesmo os animais irracionais,
embora imunes às emoções, conhecem esta manifestação do medo que,
com razão, poderíamos definir como construtivo e normal, já que faz
parte do nosso instinto de conservação.
O homem teme a escuridão e aprendeu a produzir o fogo, e
descobriu os segredos da eletricidade. Teme as enfermidades, o
sofrimento e a morte, e se sentiu motivado aos grandes descobrimentos
no campo da medicina – os remédios, a cirurgia e a anestesia. E o medo
da pobreza que, qual espora saudável, nos incita às lutas pela
sobrevivência. Porém, o que a mitos surpreende, não é esta manifestação
construtiva do medo, mas sim o temor excessivo, o medo neurótico que a
psicologia moderna estuda no capítulo das fobias.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 118
Mas o que é uma fobia? É o temor irracional, mórbido, persistente e sem
justa causa. Para estabelecer uma distinção clara entre o medo normal e o
temor patológico (a fobia) reproduzimos o seguinte exemplo objetivo
dado por Freud:
"Se um habitante das selvas africanas vivesse temeroso de
serpentes, esse medo seria normal, já que nesses lugares existem
cobras. Porém, se alguém repentinamente começa a ter medo das
serpentes que, segundo afirma, estão sob o tapete do seu apartamento,
situado no centro da cidade, esse medo é neurótico e anormal, já que
sabemos que ali não podem existir cobras." 1
Muitos há que, torturados e perplexos, nunca desfrutam paz de
espírito, pois vivem permanentemente sob a tirania das fobias em suas
múltiplas manifestações. O Dr. Stanley Hall, destacado psicólogo norte-
americano, ao estudar as fobias em 1.701 pessoas, chegou às seguintes
conclusões:
Medo das tempestades – 803
Medo dos répteis – 483
Medo da escuridão – 436
Às fobias mencionadas por Stanley Hall, podemos acrescentar
outras formas de temor neurótico. Há os que temem a velhice, a solidão,
o fracasso, a insanidade, a obesidade, a rejeição, a morte, etc. Alguns
temem os locais fechados, tais como os elevadores e os aviões
(claustrofobia), outros os locais abertos (agorafobia).
Os que carregam ao longo dos anos o peso esmagador desses temores
nocivos e irracionais, desconhecem o gozo que resulta da paz de espírito.
Essa paz interior só é alcançada quando declaramos uma trégua e
assinamos o armistício com o exército de nossas angústias e temores
injustificados.

O Temor Supersticioso

Há outras formas de medo que se originam em crendices populares


e superstições mitológicas, vestígios do primitivo animismo.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 119
A crédula fantasia popular afirma que
– deixar a tesoura aberta é sinal de morte;
– saltar da cama com o pé esquerdo: atrapalha o dia;
– permitir que o doente mude de cabeceira: não sara mais;
– passar por debaixo de uma escada: dá má sorte;
– olhar um enterro até que desapareça na esquina: vai ser
enterrado também;
– entrar em casa nova com o pé esquerdo: traz desgraça;
– treze pessoas sentadas à mesa: uma delas vai morrer;
– derramar sal na mesa: faltará o pão;
– andar de costas: morrerão os pais;
– cortar o cabelo numa sexta-feira: a pessoa enlouquece;
– guardar espelho quebrado: atrai desgraça;
– estar deitado quando um enterro passa pela porta: em breve
morrerá.
Como antídoto a esses temores, a imaginação popular criou um
imenso arsenal de amuletos (a ferradura, o trevo-de-quatro-folhas, a pata
de coelho, a figa, os patuás, etc.) com poderes mágicos para neutralizar
os perniciosos eflúvios, evitar o "mau olhado", afastar desgraças,
defender da perversidade alheia e proteger o corpo contra os inimigos.
São muitos os que confundem a fé com a superstição. Mas a
diferença entre uma e outra é profunda e essencial. A fé gera a confiança,
a superstição o temor. O homem de fé confia nas eternas providências de
Deus; o supersticioso se aflige, torturado pelos eventuais fantasmas que
procedem das regiões misteriosas para produzir o mal. O homem de fé
desfruta a paz de espírito; o supersticioso busca nos talismãs e amuletos
uma solução para suas angústias interiores.
Causa-nos surpresa, entretanto, que os próprios discípulos de Jesus,
ainda não emancipados do espírito supersticioso, houvessem
experimentado profundo temor, quando, no tempestuoso mar da Galiléia,
em uma noite escura e tormentosa, descobriram um vulto desconhecido
que caminhava sobre as águas. Vencidos pelo pânico, exclamaram: "É
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 120
um fantasma." Foi quando ouviram a voz socorredora de Jesus, dizendo:
"Tende bom ânimo! Sou Eu. Não temais!" 2

O Medo da Morte

O medo de morrer é natural no homem, especialmente quando no


verdor dos anos e cheio de energias e sonhos. Mesmo aqueles que não
sofrem habitualmente desse temor sentem-se de quando em quando
deprimidos com a possibilidade de um eventual encontro com a morte,
trazendo em suas mãos frias o passaporte negro para a viagem ao mundo
do silêncio.
Contribuem para intensificar esse temor, ora a expectativa dos
sofrimentos físicos e das enfermidades que nos consomem os membros,
e que não raro precedem a morte; ora o inquietante desconhecido que
nos aguarda no além: luz, penumbra, ou trevas? Continuação da vida, ou
aniquilamento no silêncio e frigidez de uma noite sem fim?
Quando o filósofo e célebre agnóstico David Hume intuiu a
aproximação da morte, declarou em terrível angústia:
"Sinto-me amedrontado e confuso ao ver a que abismo me levou o
meu pensamento filosófico. Onde estou? Quem sou? Para onde vou?
Estas perguntas me afligem e confundem. Começo a perceber que me
encontro em uma situação deplorável, circundado por trevas densas e
impenetráveis." 3
O homem de fé, entretanto, vive uma experiência diametralmente
oposta. Não teme a morte, pois sabe que esta vida é apenas o vestibular
para o glorioso amanhã. Não teme a tumba, pois tem a certeza de que
não foi criado apenas para o tempo, mas para a eternidade.
Para o cristão a morte não constitui um melancólico crepúsculo.
Com irradiante confiança ele acompanha o harpista de Israel em seu
inspirado cântico: "Ainda que eu passasse pelo vale da sombra da morte,
não temeria mal algum, porque Tu estás comigo." 4
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 121
Muitos há que desconhecem o prazer da paz de espírito, porque
estão sempre sob a tirania do medo da morte. E, irônica realidade, os que
vivem avassalados por este temor geralmente morrem mais cedo do que
aqueles que encaram a sepultura sem sobressaltos, angústias ou
apreensões.
Aqueles, pois, que desejam desfrutar uma existência feliz e
abundante, devem aprender a erradicar o temor, na certeza de que a
nossa vida está escondida nas mãos poderosas do Criador. "Porque nEle
vivemos, nos movemos e existimos" (Atos 17:28), declarou o apóstolo S.
Paulo em seu histórico discurso pronunciado no Areópago de Atenas.
Certa menina morava perto de um cemitério e tinha que atravessá-lo
cada vez que ia ao supermercado. Apesar de às vezes ter que voltar para
casa ao anoitecer, jamais revelou temor ao passar por ali. Um dia alguém
lhe perguntou:
– Não tens medo de passar pelo cemitério?
– Oh, não – respondeu ela – porque minha casa fica justamente do
outro lado.
O que crê em Cristo não teme passar pelo "'vale da sombra da
morte", pois do outro lado da tumba está a ressurreição e o lar celestial,
onde "a morte já não existirá, nem pranto, nem dor". 5

O Medo e Suas Várias Máscaras

Milhões de criaturas humanas que habitam em áreas afligidas por


constantes conflitos ideológicos, rivalidades tribais ou incertezas
econômicas, vivem permanentemente sob a tirania da ansiedade. Os
seqüestros, os assaltos e os atentados são para eles quase uma forma de
vida.
Em 1985, visitando Angola, na África, na cidade de Huambo,
despertei às 2:15 da madrugada com o troar dos canhões e o ruído dos
tanques de guerra. Dirigi-me com cuidado à janela para espreitar a
situação e vi o fundo escuro da noite iluminado com os petardos
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 122
incandescidos que cruzavam o espaço, produzindo um eco aterrador. Era
a confrontação militar entre as tropas do governo e os soldados da
Unitas, que desafiam constantemente a legitimidade do poder
constituído. O combate se alongou durante quase duas horas. Na manhã
seguinte vi nas paredes do edifício onde passei a noite, as marcas das
balas que o alcançaram durante o combate noturno.
Testemunhar tão de perto a tragédia da guerra, com todo o seu
espanto e horror, foi uma experiência dramática e inolvidável para mim.
Porém, este é o drama vivido por milhões, afligidos por intermináveis
ameaças e intimidações constantes.
Frente a esse estado de coisas, muitos são os que temem viver.
Outros há que temem morrer, e por isso desconhecem a paz de espírito
tão indispensável para a saúde da alma.
A conhecida escritora, Marjorie Lewis Lloyd, escreveu:
"O terror tem muitas e variadas máscaras. O temor da separação de
Deus é básico. Intimamente relacionado a este temor está o medo da
solidão, o medo do realidade, o medo do fracasso, o medo de ser
desprezado, o medo de ser diferente, o medo dos próprias emoções, e
um sem-número de outras fobias. ... Tememos perder a saúde, tememos
a loucura e a morte. Temos medo de nossos amigos; tememos os nossos
inimigos; e, com mais freqüência, tememos a nós mesmos." 6
Em algumas áreas na África, reservadas pelos governos para
proteger as espécies selvagens da ação predatória dos caçadores, vi
imensas tropas de zebras e manadas de animais selvagens em precipitada
fuga, compelidos pelo temor. Uma fera espantada por algum ruído
diferente, ou por algum movimento anormal, arrasta toda a manada em
alucinada corrida. Quanto temor há entre os homens e os animais!
A embaixada norte-americana em Brasília ordenou um dia a
retirada urgente de duzentos funcionários que trabalham em seu edifício
central. Tudo começou por causa do ruído de um brinquedo eletrônico,
confundido com uma bomba. Imaginando tratar-se de um explosivo, as
autoridades responsáveis informaram a Secretaria de Segurança de
Brasília e, imediatamente foram enviados quinze agentes especializados
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 123
para ajudar a embaixada a fazer frente à emergência. Sete fuzileiros
navais americanos, que ali serviam, foram postos de prontidão.
Com efeito, no departamento de correspondência da embaixada
havia uma pequena caixa de papelão, enviada dos Estados Unidos, de
onde procedia um ruído que suscitava suspeitas. Os peritos da Polícia
Federal removeram com cuidado o objeto de dentro do edifício da
embaixada, para um terreno baldio. Em seguida, em demorada e
cautelosa operação, abriram o pacote com o propósito de "desativar o
explosivo".
E, o que havia dentro? Segundo a Policia Federal, eram três
carrinhos de corda, num dos quais a corda tinha disparado, produzindo o
ruído suspeito. Tratava-se de um brinquedo enviado por alguém dos
Estados Unidos para um funcionário da embaixada.
Explicando-se, o adido de imprensa da embaixada, Bill Barr,
declarou: "Vocês nos acham paranóicos, porém não vamos deixar nada
pela sorte. Perdi um grande amigo na embaixada da Namíbia, em 1982.
Adolpho Dubs, nosso embaixador no Paquistão, foi morto em 1978. Sem
falar nos três atentados que sofremos no Líbano, sendo que só em um,
perdemos 250 fuzileiros navais."
Esta experiência que terminou de forma jocosa, ilustra a psicose do
medo que atormenta o mundo. Mas, para nós que vivemos nesta era de
insegurança e apreensões, a Bíblia apresenta uma confortadora
mensagem:

"Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu


sou o teu Deus; eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da
minha justiça.'' 7

A verdadeira fé no cuidado divino é suficiente para desvanecer o


temor, pois a promessa nos é assegurada: "Não temas... porque Eu sou
contigo para te livrar, diz o Senhor." 8
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 124
O Medo de uma Guerra Nuclear

Ao analisar o medo prevalecente em nossos dias, Roberto Rabello,


orador emérito do conhecido programa radiofônico A Voz da Profecia,
assim se expressou:
"Temos uma democracia do medo. Todos participam dela. É-nos
dito que a destruição será universal, ou quase universal – que o átomo
será o fim de todos nós. Alguns daqueles que riam do fogo do inferno das
Escrituras – o último anti-séptico de Deus para uma raça pecadora –
descrevem agora a sua versão do inferno atômico com a eloqüência da
convicção. Predizem claramente o fim de todas as coisas. Não admira
que os homens estejam com temor." 9
Bertrand Russell (1872-1970), filósofo e matemático mundialmente
conhecido, descreveu este estado de espírito como "uma mortalha que
obscurece as esperanças humanas", e acrescentou:
"Nunca dantes houve razões válidas para semelhante temor. Nunca
dantes semelhante intuição de futilidade frustrou as visões da juventude.
Nunca dantes houve tamanha razão para concluir que o gênero humano
viaja numa estrada cujo destino seja um precipício abismal." 10
Yasuzo Morihara, jovem japonês de 23 anos, estudante da
Universidade Católica de Santa Sofia, Tóquio, Japão, deprimido pelo
temor, suicidou-se absorvendo forte dose de sedativos. Em uma carta
que assinou, escreveu:
"Com o advento... dos engenhos balísticos, a humanidade se
encontra à beira da catástrofe, porque uma guerra mundial destruirá a
todos nós. Não posso suportar mais essa angústia." 11

Nos Estados Unidos, cinco mil adolescentes se suicidam cada ano,


de acordo com National Center for Health Statistics. 12 Vivendo em uma
sociedade afluente, educada na filosofia otimista que destaca a
importância da liberdade e prosperidade como direitos inalienáveis, esta
nova geração mostra-se despreparada para enfrentar as incertezas e
temores gerados pelas ameaças de um holocausto nuclear.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 125
Até mesmo as crianças apresentam sinais crescentes de angústia
diante da expectativa do caos, Na correspondência do Presidente
Kennedy, foram encontradas cartas escritas por meninos, que traduzem
as apreensões de uma geração que desponta para a vida.
Numa carta escrita por Roger N., encontramos a seguinte exortação:
"Senhor Presidente, tenho onze anos, mas todas as noites me
inquieto e não durmo. Angustia-me o amanhã e, sobretudo, o futuro. O
que acontecerá a este magnífico mundo se a guerra se inicia: Rogo- te
que penses muito antes de ordenar o seu começo.''
Uma outra carta, escrita por Robert S., sintetizou em quinze
palavras, um dramático libelo contra a febre armamentista que prevalece
entre as nações:
"Mister Kennedy: tenho nove anos. Teus projetos não me agradam.
Sou demasiado jovem para morrer." 13

Sinal Profético Inequívoco

Este temor tão generalizado no mundo atual, nos recorda uma


antiga predição de Jesus, ao descrever os sinais que precederiam a Sua
vinda:
"Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; sobre a terra, angústia
entre as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das
ondas; haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das
coisas que sobrevirão ao mundo." 14
Mas apesar do panorama angustioso que os nossos olhos
contemplam, somos alentados com as palavras de Jesus, pronunciadas
em Seu discurso profético:
"Ora, ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a
vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima." 15
Joshua Lot Liebman, termina um dos magistrais capítulos de seu
livro, Paz de Espírito, com as seguintes palavras:
"Vencemos o medo pela fé – fé na verdade da vida e bondade de
Deus; fé na desaparecimento de nosso sofrimento, no nosso esforço,
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 126
confiança em Deus que nos usará a cada um de nós, como pequenas
peças de preciosos mosaicos com que Ele borda o Universo." 16
Deus ainda reina no Universo. Ele ainda controla todas as coisas.
Ele opera em nosso favor. Centralizando nEle a nossa confiança, teremos
paz de espírito, mesmo em face do medo que permeia o mundo.

Referências:

1. Joshua Lot Liebman, Paz de Espírito, pág. 100.


2. S. Mateus 24:7.
3. Citado por Arnulfo Spinosa, em Ilustraciones Selectas, pág. 151.
4. Salmo 23:4.
5. Apocalipse 21:4.
6. Marjorie Lewis Lloyd, This Thing Called Fear, pág. 9.
7. Isaías 41:10, Almeida Antiga.
8. Jeremias 1:8.
9. Roberto Rabello, em "Palestra Radiofônica" (8 P 37) 3851.
10. Bertrand Russel, Look, janeiro de 1958.
11. Shopping News, 10 de outubro de 1957.
12. People, 18 de fevereiro de 1986.
13. Cartas publicadas no diário La Mañana, Montevidéu, Uruguai,
22 de abril de 1962.
14. S. Lucas 21:25.
15. S. Lucas 21:28.
16. Joshua Lot Liebman, Op. Cit., pág. 100.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 127
CRISTIANISMO ENFERMO

Cristo é tido em muitos países como um personagem sentimental,


adorado principalmente por anciãs piedosas que praticam um
cristianismo de traje escuro e mantilha negra. No domingo as senhoras
vão à igreja para agradar a Deus, acompanhadas de jovens que vão
vestidas para agradar aos homens. – Richard Pattee, líder católico de
Porto Rico

*Inimigos Internos * "A Morte de Deus" *Analfabetismo Bíblico


*A "Nova Moral" *A Lei de Deus *Clero Dividido e Rebanho
Pouco Convicto *Sinal do Fim do Mundo

H á alguns anos, Kamuzu Banda, presidente da República do


Malawi, África, dirigindo-se a uru grupo de líderes das igrejas
protestantes reunidos em Blantyre, a mais importante cidade do país, fez
o seguinte apelo: "Não nos enviem mais missionários e educadores que
apóiam a assim chamada sociedade permissiva" (que condescende com o
afrouxamento moral e a degradação dos costumes). Com palavras
incisivas aduziu o presidente: "Muitos são os que, em nome do
progresso, estão levando a Europa e América a um estilo de vida
questionável e nós, em Malawi, não apreciamos os que apóiam esta
maneira de viver, e tampouco queremos aceitá-las."
Com efeito, o líder africano, com linguagem simples, sem rodeios,
condenou os vícios que permeiam a sociedade cristã nos países nórdicos
e qualificou o estilo de vida nessas nações como "reprovável, a um passo
do mais sórdido barbarismo".
Como mudaram os tempos! Houve uma época em que dessas
nações cristãs partiram os missionários levando ao continente africano as
lições preciosas do evangelho e os princípios da litoral cristã. Motivava-
os o desejo de liberar um continente das cadeias do vício, ignorância,
superstição, canibalismo, poligamia e outros males degradantes.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 128
Graças à dedicada obra conduzida por esses mensageiros, e pela
influência transformadora do evangelho, África, embora primitiva em
muitas áreas, caracteriza-se hoje por padrões de conduta
incomparavelmente mais elevados que nus países de onde procederam os
missionários.
Mas como se explica a decadência da fé em nações que outrora
foram conhecidas como bastões imbatíveis da fé cristã? Como podemos
interpretar este declínio do cristianismo – milhões professando a religião,
mas poucos praticando suas virtudes?
Esta realidade se reflete ironicamente no dramático apelo dirigido
pelo ministro de educação do Quênia, África, aos educadores que foram
ao seu pais, patrocinados pelo Corpo de Paz. Alarmado com a lassidão
de costumes e com o relaxamento das normas morais entre eles, o
ministro solicitou às educadoras visitantes a não usarem minissaias e
outras roupas sumárias, porque – agregou – "depois de tudo, foram
vocês, os anglo-americanos (referia-se naturalmente aos missionários)
que ensinaram a nós, os africanos, as virtudes de ocultar a nudez e,
esperamos agora que não venham anular a boa obra realizada por
gerações anteriores".
Qual a causa fundamental da desintegração mural nos países
tradicionalmente cristãos?
Já no século passado, Süren Kierkegaard (1813-1855), filósofo e
teólogo dinamarquês, expressou suas preocupações com a decadência do
cristianismo, dizendo:
"O cristianismo é uma prodigiosa ilusão. ... Nos países assim
chamados cristãos ... existem milhares e milhares de pessoas que nunca
entraram numa igreja, nunca pensam em Deus, nunca mencionam o Seu
nome, a não ser em blasfêmias. Jamais pensaram em suas
responsabilidades para com Deus. entretanto, todas estas pessoas,
mesmo aquelas que não crêem na existência de Deus, são reconhecidas
como cristãos nas estatísticas oficiais, são sepultadas como cristãos pela
igreja e certificados como cristãos para a eternidade." 1
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 129
Inimigos Internos

A incredulidade foi sempre uma característica marcante entre os


filósofos racionalistas através dos tempos. Agora, entretanto, vemos com
surpresa, no seio do cristianismo, a existência de um número crescente
de teólogos, ministros e sacerdotes liberais, que destilam em seus
escritos o veneno da incredulidade e, em suas exposições homiléticas, a
incerteza e a desesperança.
Foi na última parte do século passado que esse espírito liberal
começou a contaminar as igrejas cristãs, produzindo resultados nefastos.
Alarmado com os seus primeiros efeitos sobre a Igreja da Inglaterra, J.
C. Ryle, bispo de Liverpool, assim se expressou:
"A mente de muitos [cristãos] parece completamente incapaz de
distinguir qualquer diferença entre uma fé e outra, entre um credo e outro,
entre uma opinião e outra. ... Tudo parece verídico, e nada é falso; tudo é
certo e nada é equivocado; tudo é bom e nada é condenável. ... A
ninguém se permite indagar, onde em tudo isso fica a verdade divina?" 2
Três anos mais tarde, em 1887, o liberalismo teológico se fez sentir
também no seio das igrejas não conformistas na Inglaterra, levando
Charles H. Spurgeon (1834-1892) paladino da ortodoxia evangélica, a
denunciar como inimigos do evangelho os líderes religiosos que
"zombavam da expiação, ridicularizavam a inspiração da Bíblia,
degradavam o Espírito Santo à categoria de simples influência e
interpretavam a doutrina da ressurreição como simples fábula". 3
Na primeira década do Século XX a situação se agravou de tal
maneira que muitos cristãos foram levados a interrogar perplexos se a
causa do Evangelho estava irreversivelmente perdida.
Com a Primeira Guerra Mundial a situação melhorou. O otimismo
contagiante que permeava a teologia liberal se transformou em amarga
desilusão. A fé romântica em um Cristo sem a cruz e a confiança
ingênua no triunfo da civilização, desvaneceram-se. Vozes diversas
uniram-se então, denunciando o liberalismo e suas posições filosóficas.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 130
Surgiu Karl Barth (1886-1968) e, com ele, uma geração de
teólogos, esforçando-se por restaurar a ortodoxia ameaçada. Porém, este
esforço por reafirmar o que o liberalismo negava, não alcançou os
resultados desejados. Embora reafirmando a doutrina tradicional da
Trindade, da união hipostática das duas naturezas de Cristo (divina e
humana) em uma pessoa, e, defendendo o milagre da encarnação, o
nascimento virginal de Jesus e o regresso literal de Cristo à Terra, Barth
e seus discípulos falharam ao definir a Bíblia, não como revelação de
Deus, mas sim como o testemunho humano. "Somente quando Deus a
utiliza" – sublinhava o teólogo em referência – "é que ela se torna a
Palavra de Deus."
Com a insatisfatória teologia da revelação e do testemunho das
Escrituras defendidos por Barth, o liberalismo que parecia mortalmente
ferido ressurgiu outra vez com exuberante vigor.
Em 1941, Rodolf Bultmann (1884-1976) teólogo alemão, lançou
com grande alarde o seu programa de demitização do Novo Testamento.
Denunciou os Evangelhos como saturados de mitologia. Numa sentença,
muitas vezes repetida, afirmou: "É impossível usar a luz elétrica, o
telégrafo sem fio, aproveitar as modernas descobertas médicas e
cirúrgicas, e ao mesmo tempo crer nos mitos do Novo Testamento." 4
Denunciando a encarnação fie Cristo, Seus milagres, a expiação,
ressurreição e ascensão como pertencentes à estruturação mitológica da
narrativa evangélica, Bultmann sugeria a demitização do Novo
Testamento como recurso válido para descobrir a real mensagem do
evangelho.
Ao aceitar essa teologia, um sem-número de teólogos e pregadores
reduziram a Bíblia a uma simples coleção de documentos históricos,
escritos por homens bem-intencionados, porém destituídos de tudo
elemento sobrenatural. Era o triunfo do liberalismo e, com ele, ampliava-
se a decadência da fé.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 131
"A Morte de Deus"

Mas, a teologia de Bultmann não representa o último passo na


surpreendente escalada liberalizante das doutrinas cristãs. O teólogo
alemão limitou sua demitização à história da redenção, deixando
intocada a doutrina de Deus. Coube a John A. T. Robinson, T. J. Alitzer
e outros a iniciativa de dar um passo adiante no processo de demitizar
também a doutrina bíblica acerca de Deus.
"Devemos reconhecer que a morte de Deus é um fato histórico.
Deus morreu em nossos dias, em nossa história, em nossa existência'',
escreveu Thomas J. Alitzer, professor de Teologia da Universidade
Protestante Emory, Atlanta, Estados Unidos.
Embora nos pareça surpreendente, o professor Alitzer não
representa uma voz isolada proclamando em nossos dias o "ateísmo
cristão". São inúmeros os teólogos que, coma ponto de partida para suas
reflexões acadêmicas, tomaram o grito de combate de Nietzsche (1844-
1900), filósofo ateu, que com cinismo e arrogância, proclamava: "Deus
morreu!"
Esses teólogos, que anunciam hoje os funerais da divindade,
mostram-se confusos e incongruentes. Teólogo, segundo a etimologia da
palavra, é aquele que fala acerca de Deus. Porém, teólogo cuja
mensagem sobre Deus é que Ele morreu, assemelha-se ao proprietário de
uma empresa funerária que prepara os seus próprios funerais.
Mas apesar da evidente contradição, os chamados teólogos da
"Morte de Deus" alcançaram surpreendente popularidade. Entre eles,
destaca-se o bispo anglicano John A. T. Robinson, autor do livro Honest
to God (Sinceros Para Com Deus), que assim se expressou: "O primeiro
que devemos renunciar é a imagem que temos de Deus. Deus" –
dogmatizou o bispo – "não morreu necessariamente, pois jamais
existiu."5
Outro sacerdote a serviço da nova religião – o "Ateísmo Cristão",
declarou:
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 132
"O Deus que existiu foi uma pessoa cósmica que criou o céu e a
terra e que soprou no homem o alento de vida. Este conceito pode
converter-se facilmente na imagem estereotipada de um ancião barbudo
governando o céu. O que desejo salientar" – acrescentou este ministro –
"é que o emprego da idéia de Deus não passa de mera poesia religiosa."6
A influência desses e de outros teólogos inovadores se faz sentir
hoje até mesmo no recesso dos seminários, onde uma nova geração de
estudantes radicais se dispõe a eliminar do dicionário teológico a palavra
"Deus". Como exemplo destacamos a seguinte nota necrológica
publicada pelos redatores do jornal acadêmico de um centro de estudos
teológicos: "Deus, criador do Universo, principal deidade dos judeus,
última realidade dos cristãos, e a mais eminente de todas as divindades,
morreu nas últimas horas de ontem, durante uma grave intervenção
cirúrgica a que foi submetido, para corrigir uma diminuição progressiva
de influência."
Blasfêmia. Irreverência. Cinismo, A causa do cristianismo, traída
por "ministros" que militam dentro de suas próprias fileiras. Com efeito,
o Deus que foi expulso do Céu por Marx, desterrado do inconsciente por
Freud, banido do mundo natural por Darwin e assassinado por Nietzsche,
está agora sendo erradicado do coração dos homens por teólogos,
ministros e seminaristas que pretendem estar a serviço da causa do
Evangelho.
Esta é sem dúvida unta realidade desoladora.
Dirigindo-se aos bispos reunidos na cidade de Mileto, ao sul de
Éfeso, o apóstolo Paulo os exortou, dizendo:
"Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo
vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele
comprou com o seu próprio sangue. Eu sei que, depois da minha partida,
entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que,
dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas
para arrastar os discípulos atrás deles." 7
Sobre esse falsos apóstolos, defensores de ensinamentos
"perversos", o Senhor pronuncia o seguinte juízo:
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 133
"Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu
pasto! — diz o Senhor. Portanto, assim diz o Senhor, o Deus de Israel,
contra os pastores que apascentam o meu povo: Vós dispersastes as
minhas ovelhas, e as afugentastes, e delas não cuidastes; mas eu
cuidarei em vos castigar a maldade das vossas ações, diz o Senhor." 8

Analfabetismo Bíblico

Mas qual o significado do Evangelho, se Deus é posto de lado e se a


Bíblia é tida como documento vazio, destituído de sentido?
Para um crescente número de clérigos liberais, a Bíblia não passa de
mero registro das experiências religiosas do povo hebreu. A alta crítica e
o naturalismo evolucionista se unem nesta conspiração contra o Livro de
Deus, negando o seu caráter sobrenatural.
Karl Barth, em conferência pronunciada na Universidade de
Chicago, declarou dogmático: "A Bíblia está cheia de erros e
contradições." Emil Brunner, professor de teologia no Union Theological
Seminary, em Nova Iorque, em seu livro Revelation and Reason
(Revelação e Razão) valendo-se de uma dialética sutil, reduziu a Bíblia a
um livro comum, coleção de histórias do folclore hebreu.
E quais os resultados? O despontar de um cristianismo sem crença
em Deus, sem a influência normativa da Bíblia, carente de experiência
religiosa e destituído de homens transformados.
Um dos escândalos que hoje estremecem os fundamentos das
igrejas históricas é o analfabetismo bíblico, o desconhecimento das
Sagradas Escrituras por parte dos que professam o cristianismo.
Uma evidência disso é um teste a que se submeteram 150
estudantes de um colégio religioso. Todos eles nasceram em lares
cristãos. Cresceram sob a influência de ensinos religiosos e eram
membros regulares de alguma comunidade eclesiástica. O teste não
exigia profundos conhecimentos de teologia. Apresentava questões
simples e elementares, a saber: Onde nasceu Jesus? Mencione algumas
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 134
cartas escritas pelo apóstolo Paulo. Quem foi o sucessor de Moisés?
Nomeie dois profetas hebreus. Que livro da Bíblia descreve a história da
igreja apostólica?
As respostas foram surpreendentes e reveladoras: "A história de
Abraão se encontra no livro de Rute", respondeu um estudante. O êxodo
descrito na Bíblia "foi o retorno dos judeus à Palestina, depois da
Segunda Guerra Mundial", respondeu outro. "Os Dez Mandamentos
foram dados por Jesus no Monte Sinal." "Jesus nasceu em Roma." "O
primeiro dos Evangelhos foi o livro de Gênesis." "Joana D'Arc foi a
grande heroína de Israel, que libertou o povo hebreu das mãos do odiado
Hamã." "Jesus foi traído por Sansão" e "morreu em Belém." 9
Ismael E. Amaya realizou outra experiência tendo em vista aferir a
extensão desse escândalo entre os integrantes de outro grupo religioso.
Entregou um questionário corre 10 perguntas a 43 pessoas, todas elas
membros ativos de uma comunidade cristã. As perguntas furam as
seguintes: 1. Quantos livros há na Bíblia? 2. Quando ocorreu a conversão
de Paulo, antes ou depois da ressurreição de Cristo? 3. Qual era a
nacionalidade de Cristo? 4. Onde se encontra a parábola do filho
pródigo, no Antigo ou no Novo Testamento? 5. Qual é o primeiro livro
da Bíblia? 6. Quando foi escrito o Antigo Testamento, antes ou depois de
Cristo? 7. Quantos são os Evangelhos? 8. Mencione o nome de um rei de
Israel. 9. Nomeie um discípulo de Cristo. 10. Quantos dias depois de Sua
morte, ressuscitou Jesus?
Os resultados foram decepcionantes. Das 43 pessoas examinadas,
somente duas responderam corretamente todas as questões. Das 41
restantes, oito não souberam definir a nacionalidade de Cristo. Dezoito
afirmaram que a parábola do filho pródigo se encontrava no Antigo
Testamento. Treze não sabiam quantos são os Evangelhos. Uma pessoa
disse que havia 33 Evangelhos. Dezessete foram incapazes de mencionar
o nome de um rei de Israel. Onze não souberam escrever o nome de um
só discípulo de Jesus. Oito declararam que a conversão de Paulo ocorreu
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 135
antes da ressurreição de Cristo, e quatro não puderam identificar o
primeiro livro da Bíblia. 10
Que podemos esperar de um cristianismo cujos adeptos
desconhecem a mensagem contida em seu livro sagrado?

A "Nova Moral"

Rejeitando a Deus e a influência normativa da Bíblia, o cristianismo


liberal foi levado a estabelecer seus próprios critérios para definir o que
está certo e o que é errado. Os padrões absolutos dados por Deus são
agora substituídos por regulamentos arbitrários de inspiração humana.
No Monte Sinai, entre relâmpagos chamejantes e o ribombo de
aterradores trovões, Deus Se manifestou para proferir Seus mandamentos,
escrevendo-os depois com o próprio dedo sobre tábuas de pedra.
Os séculos se passaram e os famosos códigos de Hamurabi,
Licurgo, Drácon, Sólon e outros tomaram-se obsoletos. Mas o decálogo
divino não perdeu sua vigência, pois seus princípios são imutáveis como
o próprio trono de Jeová.
Porém, um ponderável segmento do cristianismo contemporâneo,
sob a influência ruinosa do liberalismo, insiste na necessidade de
substituir os preceitos eternos legislados por Deus, por um novo e mais
flexível código moral. Seus proponentes, líderes religiosos, negam que
os homens sejam pecadores culpados na presença de um Deus santo.
Eles definem os seres humanos como meros computadores programados
por influências genéticas e fatores condicionados.
Negando o conceito do pecado e culpa diante de Deus, os teólogos
liberais estabeleceram as bases da chamada "nova moral", que não é
nova e tampouco se assenta sobre fundamentos bíblicos.
De acordo com as palavras do Bispo Robinson, em seu livro Honest
to God (Sinceros Para com Deus), "nada pode ser de si mesmo
qualificado como errado". Até mesmo o adultério, a fornicação e o
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 136
homossexualismo, não são intrinsecamente pecaminosos, pois "o único
mal intrínseco é a falta de amor". 11
Essa nova moral representa uma antítese do cristianismo, pois não
está em harmonia com a Palavra de deus e tampouco em consonância
com os imutáveis preceitos contidos no código divino.
Comentando os efeitos ruinosos dessas "novas idéias" sobre a
sociedade, William Nichols, editor da conhecida revista americana This
Week, escreveu:
"Por toda parte encontramos os que falam sobre a 'nova moral', a
'nova revolução', a 'revolução sexual'. Como resultado, contemplamos um
contagiante espírito liberal ... permeando todos os setores da vida social:
na conduta, na moda e nas relações sexuais. E isto se aplica a todas as
idades. Os Estados Unidos parecem dominados por uma vasta e
abarcante embriaguez sexual." 12
Conhecidos pensadores modernos descrevem a moral cristã como
uma relíquia medieval a ser preservada nos museus. O humanismo
cristão proclama ser o homem um animal evoluído e, como resultado,
multidões estão sendo alentadas a expressar livremente os seus impulsos
inferiores. Os jovens estão sendo doutrinados com a idéia de que aquilo
que era pecado ontem, tornou-se aceitável hoje. E estes conceitos,
endossados por líderes religiosos, aceleraram a crise moral que avassala
o inundo.

Clero Dividido e Rebanho Pouco Convicto

Segundo Mitchell de Saint-Pierre, uma grave crise abala o


catolicismo contemporâneo, dividindo o clero em dois grupos
antagônicos: os verticalistas, que estão preocupados com a revelação; e
os horizontalistas, absorvidos com a revolução. Os primeiros são
conhecidos por seu fervoroso teocentrismo, os segundos por seu
absorvente antropocentrismo. Os verticalistas focalizam seu interesse na
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 137
justiça divina, ao passo que os horizontalistas concentram sua atenção na
justiça social.
Essas duas posições que polarizam presentemente os sacerdotes
católicos, também dividem os teólogos e pastores protestantes. A cada
dia que passa, mais aumenta o número de líderes religiosos que apóiam
uma Igreja temporal, não-conformista, que participam de movimentos de
protesto, proclamando a necessidade de mudanças radicais na presente
estrutura social. Em contraste, encontramos clérigos conservadores,
guiados por um verticalismo isolacionista, defendendo a idéia de uma
Igreja introvertida, separada do mundo, indiferente aos problemas
causados pela tirania, pobreza e injustiça social.
Um conhecido líder religioso, célebre por sua participação em
movimentos de protesto, declarou: "Encaro a atividade religiosa sob o
aspecto de ação social. Pregar e outras coisas ridículas que fazíamos
antigamente não se justificam mais em nosso tempo. Estamos mais
preocupados com o homem do que com Deus. Deus pode cuidar de Si
mesmo. O homem necessita de nosso auxílio."
Não há muito, o Papa João Paulo II expressou sua preocupação
diante do crescente número de sacerdotes que fazem da ação social sua
principal prioridade. Sob o pretexto de promover o reino de Deus, eles
levantam as bandeiras político-ideológicas e, na realidade, apressam o
reino do homem. Em seu anseio por melhorar as condições sócio-
econômicas dos semelhantes, perdem de vista sua missão profética e o
dever de apontar ao mundo Aquele que é ''o caminho, a verdade e a
vida''.
Agrava esta divisão entre os líderes religiosos, a ausência de
convicção entre os fiéis, perdidos em um labirinto de dúvida e incerteza.
Segundo uma pesquisa dirigida por 95 bispos, a Igreja Metodista
vive uma crise de fé sem paralelo em sua história. Os resultados desse
estudo foram apresentados a uma assembléia geral da Igreja, realizada
em Atlanta, Geórgia, nos Estados Unidos.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 138
"Existem centenas de incrédulos melancólicos em nossa Igreja",
declarou o Bispo F. Gerald Emsley, em discurso pronunciado perante os
delegados então reunidos. "Não são pessoas más", acrescentou o Bispo.
"Muitas demonstram em sua vida todas as virtudes cristãs, menos a fé, e
muitos estão sob a influência espiritual de dirigentes religiosos que não
possuem fé suficiente para partilhar."
Expondo suas preocupações, concluiu: ''Possivelmente, durante
séculos, o testemunho dos cristãos jamais se revelou tão vacilante e
inseguro como em nossos dias."
No âmbito católico fala-se de um "processo de descristianização".
O congresso da Ação Católica de Chimbote, Peru, declarou: "A grande
maioria dos católicos não passa de fiéis nominais." Por isso afirmou
Richard Pattee, influente líder católico de Porto Rico:
"Cristo é tido em muitos países como um personagem sentimental,
adorado principalmente por anciãs piedosas que praticam um
cristianismo de traje escuro e mantilha negra. No domingo as senhoras
vão à igreja para agradar a Deus, acompanhadas de jovens que vão
vestidas com o propósito de agradar aos homens." 13
Há algumas décadas a igreja católica contava com a devoção de
95% da população nos países latino-americanos. Hoje os porta-vozes da
igreja admitem que a maioria dos seus adeptos seguem um catolicismo
nominal.
Uma pesquisa conduzida pelo Instituto Emnid, entre 2.037 alemães,
e publicada no semanário Der Spiegel, sob o título "Poucos Crêem
Muito", apresentou o seguinte resultado: Embora 97% dos entrevistados
portassem certificados de batismo, somente 68% criam em Deus; 48%
admitiam existir vida após a morte e 39% aceitavam a crença na
ressurreição física de Jesus.
De acordo com o Instituto Francês de Opinião Pública, a França
vive também uma crise de fé semelhante. Entre 73% que declararam crer
em Deus, somente 39% afirmaram conto ''certa" esta convicção; 9%
"muito provável", e 26% apenas "provável".
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 139
Uma pesquisa realizada pelo instituto Gallup, demonstrou os
devastadores efeitos do liberalismo sobre a comunidade cristã nos
Estados Unidos. Uma elevada porcentagem de fiéis admitiu não mais
aceitar a Bíblia como infalível regra de fé e conduta; menos ainda, que
Adão e Eva foram personagens históricos. Segundo a maioria dos
entrevistados, o nascimento virginal de Jesus não passa de um mito, e
Sua ressurreição, um dogma inconcebível.
No Brasil, país predominantemente católico, 75% da população crê
em superstições; e a umbanda, o culto dos terreiros, representa a crença
confessada ou não que mais adeptos possui entre as classes menos
privilegiadas. Embora católicos em sua maioria, fascinados pelo exótico
mundo dos espíritos, aceitam o sincretismo místico que confunde a
devoção cristã com o misterioso culto a orixá.

Sinal do Fim do Mundo

Contemplando o panorama religioso contemporâneo, entendemos o


significado da pergunta formulada por Jesus: "Quando vier o Filho do
homem, achará porventura fé na Terra?" 14
A ciência e a tecnologia levaram uma geração a firmar sua
confiança na soberania da razão. Proclama-se agora dos púlpitos a
"morte de Deus" e se exalta o reino do homem. O evolucionismo cristão,
negando a Deus como a Causa Primeira, descreve o mundo animado e
inanimado como resultado de uma cega casualidade. Clérigos pregam
um Cristo descrucificado, sem a coroa de espinhos e o manto das
humilhações. Um Cristo desfigurado para não repugnar a mentalidade
racionalista deste século.
Milhões, professando a dialética marxista, procuram resolver os
problemas humanos partindo da premissa de que a religião é o "ópio das
nações" e um obstáculo ao progresso humano. Proclamando o
materialismo histórico, seus defensores ampliam constantemente sua
área de influência e multiplicam o número dos seus adeptos.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 140
Evidentemente, o apóstolo S. Paulo se referia aos nossos dias
quando escreveu:
"Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos,
alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a
ensinos de demônios." 15
Com razão anunciou o profeta Isaías, que no tempo do fim as trevas
espirituais cobririam a Terra.(Isaías 60:1 e 2.) Mas declarou também que
nesta hora de escuridão espiritual, de desvios e extravios, a luz da
verdade voltaria a brilhar em todo o seu esplendor.
Assim como os momentos que antecedem a madrugada são os de
mais densa escuridão, após a densa noite espiritual que envolve o mundo
despontará a aurora radiante, quando Cristo Se manifestará para
estabelecer Seu reino de perfeição e paz. Aquele em cujas mãos está o
destino das nações intervirá para desmascarar o engano e restaurar para
sempre o império da verdade. Envoltos no seio do amor infinito,
estaremos protegidos para sempre contra as investidas sutis do engano. A
mentira, a incredulidade e a dúvida serão erradicadas para sempre.
Para os que confiam no Senhor e em Suas promessas, esta será uma
consumação gloriosa.

Referências:

1. Sören Kierkegaard, The Point of View For My Work as an


Author, págs. 22 e 23.
2. Citado por Klaas Runie, em Reformation Today, pág. 14.
3. The Sword and Trowel, agosto de 1887.
4. Kerygma and Myth, editor H. W. Bartsch, vol. I, pág. 5.
5. Albores, maio de 1972, pág. 3.
6. Idem.
7. Atos 20:28-30.
8. Jer. 23:1 e 2.
9. Christianity Today, 7 de maio de 1965, págs. 5 e 6.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 141
10. El Predicador Evangélico, abril-junho de 1969, pág. 259.
11. Bispo Robinson, Op. Cit., pág. 118.
12. Citado por Fernando Chaij em El Dilema del Hombre en esta
Hora de Revolución, pág. 90.
13. Richard Pattee, Religión y Fe en la América Latina, pág. 127.
14. S. Lucas 18:8.
15. I Timóteo 4:1.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 142
INDIGESTÃO E INANIÇÃO

O mundo de hoje está dividido em dois grupos antagônicos: o grupo


dos que não comem e o dos que não dormem por temor dos que não
comem. – Josué de Castro, em Geografia da Fome.

*Ricos e Pobres *Inquietante Desequilíbrio Econômico


*Surpreendente Concentração de Riquezas *Século Paradoxal
*"Chorai Por Vossas Desventuras" *O Conflito Social

D epois do extravagante baile organizado por Antenor Patiño, o


Rei do Estanho, em Estoril, Portugal, os estudiosos terão que
revisar a História e admitir que as bacanais promovidas por Nero e as
famosas festas celebradas no Petit Trianon, sob o patrocínio da rainha
Maria Antonieta, não passavam de modestos encontros sociais
destituídos de importância e brilho.
Os 1.400 convidados – milionários, príncipes, princesas, playboys,
astros do cinema e teatro, estrelas do esporte internacional, celebradas no
mundo das artes, etc.,– reuniram-se para desfrutar os encantos de um
memorável festim, classificado pelos diários de Londres, Paris, Nova
Iorque, Roma e outros grandes centros, como "o espetáculo mais
fantástico da Terra".
"É impossível calcular o exorbitante valor das jóias usadas como
ornamento pelos convidados reunidos no fabuloso baile na Quinta do
Alcoitão", observou o International Herald Tribune. Com efeito,
milhares de camponeses mal vestidos se acotovelaram junto aos portões
principais da residência da família Patiño, então guardados por
quinhentos policiais requisitados e pagos pelo anfitrião, para contemplar
o ostensivo desfile de correntes de ouro e prata, pérolas, diamantes
policrômicos, ágatas e outras pedras preciosas exibidas pelos visitantes.
Esse fabuloso desfile de ouro, prata e pedrarias, contrastava com a
massa maltrapilha e mal alimentada que, vivendo nas cercanias, se
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 143
ajuntava em pontos estratégicos para ver passar os veículos
transportando as celebridades que de longe e de perto vieram para
participar do encontro festivo.
Naquele ambiente de fausto, desfilou o que os cronistas sociais
definem como o "Grand Monde". Entre outros, a princesa Irene da
Holanda, a baronesa de Rotschild, a duquesa de Argyl, Henry Ford II,
sua esposa e a filha, a princesa Maria Gabriel fie Sabóia, Miguel
Dominguim, o célebre toureiro, Ira de Furstemberg, acompanhada com
seu rico amante italiano, Günther Sachs, Gina Lollobrigida, Zsa Zsa
Gabor e centenas de outras celebridades.
Garçons vestidos com uma túnica vermelha e alamares dourados,
estendiam respeitosamente aos comensais a taça de "Cordon Rouge".
Mil e oitocentas garrafas vieram de Paris em avião, e mais duas mil de
uísque foram importadas da Inglaterra.
No imenso salão decorado por Valerian, entre a fragrância de
exóticas flores trazidas da França, e as luzes de mil velas e dos lustres
intermináveis, os convivas serviram-se de iguarias portuguesas regadas
com champanhe francesa. "A fartura era tão grande" – declarou um
cronista social – "que parecia haver ao lado de cada conviva um bufê à
sua disposição."
Quatro grandes orquestras se revezaram, emprestando ao ambiente
uma atmosfera de distinção, ritmo e alegria.
Mas os anfitriões, Patiño e sua esposa, não se contentaram apenas
em mostrar esse espetáculo de ostentação e luxo para os seus
convidados. Além de pagar as passagens e hotel para todos, ofereceram
às duas horas da madrugada um inolvidável espetáculo pirotécnico, o
mais fabuloso que a Europa já conheceu. O que se desenhou em cores no
fundo escuro da noite foi indescritível. Os fogos pareciam brotar das
árvores como um quadro de magia, descobrindo com o brilho de sua
iluminação um grande lago situado dentro da propriedade do Sr. Patiño.
Eram sete horas da manhã quando os convidados que restavam
receberam fantasias de papel importado de Nova Iorque, para um banho
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 144
extra na luxuosa piscina circundada por artísticos canteiros de flores e
árvores ornamentais.
E assim terminou entre libações alcoólicas, o ritmo sincopado da
música e o cansaço dos comensais, uma festa que em essência significou
um grande insulto à miséria do mundo e uma afronta aos milhões que
não sabem de onde virá a refeição de amanhã.
Seu organizador – Antenor Patiño – nascido na Bolívia, um dos
países mais pobres do mundo, após haver extraído de suas minas de
estanho uma fabulosa fortuna, emigrou para Portugal, onde desfrutou de
forma perdulária suas riquezas acumuladas.

Ricos e Pobres

Nada se nos afigura mais desconcertante e iníquo que a indiferença


de uma sociedade opulenta diante dos padecimentos vividos por uma
legião de famintos, molambentos e esfarrapados. Este problema,
entretanto, tem sido uma constante na História.
Quando Átila, o famigerado rei dos hunos, foi sepultado, seu corpo
foi encerrado num ataúde de ouro, e este dentro de outro ataúde de prata,
que por sua vez, foi colocado dentro de um ataúde de ferro. Um exército
integrado por miseráveis prisioneiros cavou um enorme túmulo, em meio
a uma vasta planície, e o sepultou à noite. Seu esquife foi coberto com
fabulosos despojos de guerra, e quando finalmente todos os tesouros
foram escondidos sob o solo, os trabalhadores foram assassinados para
que não fossem eventualmente tentados a violar a tumba do rei na busca
dos tesouros escondidos.
O mesmo procedimento foi seguido no sepultamento de Alarico, o
célebre rei dos godos. Par ocasião de seus funerais, um grande número
de cativos maltrapilhos foram recrutados para trabalhar no desvio do
curso de um rio. Em seguida, depositaram os restos do tirano num
grande túmulo, adornado com o ouro saqueado dos povos conquistados.
Sepultaram-no no leito do rio e, depois, fizeram a água fluir ao seu curso
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 145
natural. Todos quantos participaram nesta operação foram impunemente
passados a espada para que no futuro ninguém pudesse identificar a
sepultura do tirano e saquear os cobiçados tesouros ali depositados.
A história dos séculos revela com monótona repetição o egoísmo e
a insensibilidade das minorias que desfrutam os falsos encantos de uma
existência faustosa, em contraste com o drama dantesco das multidões
que sofrem as torturas da fome.
Na Índia, onde milhões de crianças se apresentam inchadas, vítimas
da fome e da pelagra, onde os adultos contemplam o espetáculo da vida
com dois olhos que são mais duas súplicas que duas pupilas, viveu o
Nizã de Hyderabad, descendente dos imperadores mongóis. Com
surpreendente insensibilidade governou sabre 15 milhões de súditos
acossados pelas angústias próprias do pauperismo. Embora possuidor de
imensas riquezas extraídas do famoso vale de Golconda, uma das mais
ricas minas de diamantes do mundo, jamais se consternou com os
horrores da miséria que caracterizavam a vida dos seus súditos.
Possuía 500 esposas e a uma delas, sua companheira favorita, deu
como presente um Rolls Royce de ouro. Suas refeições ele as tomava em
pratos de ouro e se jactava de que os ingleses exibiam 24 pratos de ouro
em Londres, enquanto de possuía jogos de ouro para 150 comensais.
Costumava descansar sobre divãs de ouro maciço, e ordenou a
construção de uma carruagem de ouro que jamais foi utilizada por causa
de seu peso.
Estas e outras excentricidades que caracterizaram a vida do Nizã de
Hyderabad e as fabulosas fortunas acumuladas nas mãos frívolas e
egoístas dos marajás hindus, constituem exemplos evidentes de que as
lições de abnegação e renúncia compendiadas nos Evangelhos
necessitam ser proclamadas com maior vigor.
Há vinte séculos, o Mestre respondeu à pergunta "Quem é o meu
próximo?", narrando o caso – agora clássico – do bom samaritano que
viu um pobre desconhecido, maltratado e sofrido, caído à beira do
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 146
caminho. Movido por "íntima compaixão", foi ao seu encontro e o
socorreu em sua desventura.
Em nossos dias muitos são os que, indiferentes às lições do
evangelho, narcotizados pela filosofia materialista do lucro, se confinam
dentro da torre de marfim de seu próprio egoísmo, indiferentes ao
desesperado clamor dos oprimidos, espoliados e desamparados.

Inquietante Desequilíbrio Econômico

No local onde se realizou, há anos, a Feira Mundial de Nova Iorque,


foi enterrada uma cápsula contendo uma carta escrita por Albert Einstein,
dirigida às gerações do ano 6.939, da era cristã. Na epístola, o cientista
analisa as condições vigentes, dizendo que o nosso século tem sido
pródigo no aparecimento de espíritos inventivos, porém o mundo
econômico social encontra-se completamente desorganizado. Concluiu a
missiva com estas palavras de esperança: "Espero que a posteridade leia
estas declarações com orgulho e superioridade justificados."
Nesse documento, escrito para a posteridade, Einstein retratou
sucintamente a excelência deste século no que diz respeito à capacidade
criadora e ao gênio inventivo dos homens, porém descreveu para os
pósteros as gritantes injustiças sociais que caracterizam a nossa época –
um mundo dividido entre os que sofrem indigestão e as massas que
vivem o comovente drama da inanição.
Josué de Castro, em Geografia da Fome, sintetizou essa cruel
dicotomia, dizendo: "O mundo de hoje está dividido em dois grupos
antagônicos: o grupo dos que não comem e o dos que não dormem por
temor dos que não comem."
Comentando esse surpreendente paradoxo, assim escreveu Juan
Hortz Gonzalez:
"Se um visitante de outro planeta nos perguntasse sobre as nossas
condições, e averiguasse que hoje a humanidade possui mais ouro e
prata que em nenhuma outra época, mais indústrias, mais oportunidades
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 147
de trabalho, mais bancos e meios de intercâmbio, provavelmente julgaria
que somos mais felizes e que gozamos de mais intenso bem-estar do
que em outras épocas. Porém, se ao mesmo tempo lhe contássemos que
milhões de pessoas na Índia e na África morrem de fome todos os anos...
é possível que nos olhasse estupefato e nos chamasse de loucos." 1
Como resultado, vemos a sociedade contemporânea agitada pelos
ventos impetuosos de uma perturbadora convulsão social. E se hoje essas
convulsões acendem a fogueira dos conflitos sindicais, a luta de classes e
as rivalidades nacionais, que ocorrerá com o mundo quando enormes
massas humanas, tangidas pela pobreza absoluta, se levantarem
inflamadas de ódio contra as minorias privilegiadas? Que acontecerá
quando milhões de seres humanos acossados pela fome, constrangidos
pela necessidade, usarem o recurso da força na conquista do
indispensável para sua sobrevivência?

Surpreendente Concentração de Riquezas

Em alguns círculos a palavra milionário é pouco usada atualmente.


Com efeito, soa quase como um anacronismo, porque pertence a
algumas décadas atrás, quando um milhão de dólares era considerado
uma fortuna. O milionário era membro de um grupo social fechado e
freqüentemente olhado com um misto de desconfiança e reverência. Na
sociedade norte-americana, entretanto, os que hoje possuem um milhão
de dólares não se destacam demasiado dos membros da classe média. A
questão agora, é saber quem são os super-ricos na economia americana.
De acordo com a revista Fortune, há agora nos Estados Unidos, 66
pessoas cujo patrimônio excede os 150 milhões de dólares. Um terço
deles, há cerca de uma ou duas décadas, eram homens desconhecidos,
donos de um modesto acervo econômico.
O advento da máquina e o início da produção industrial em série
pavimentaram o caminho para essa grande concentração de riquezas nas
mãos de uma minoria privilegiada.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 148
Vivemos agora a era dos grandes "trustes" e dos poderosos
monopólios, que dominam o mercado consumidor, impõem os preços
das utilidades, suprimindo muitas vezes o princípio clássico da liberdade
de comércio. Esses grupos econômicos nacionais ou multinacionais,
canalizam lucros exorbitantes e fabulosos para as mãos hábeis de seus
empresários, possibilitando-lhes uma existência fabulosa e opulenta, em
detrimento de uma mercadoria considerável, que moureja em meio ao
mais abjeto e comovente pauperismo.
Admitimos o fato de que muitos entre os super-ricos formaram o
seu patrimônio empregando meios lícitos e recursos honestos. Aceitamos
também o conceito de propriedade como um direito legítimo consagrado
pelas Escrituras Sagradas. O que, entretanto, queremos salientar é que
em uma das antigas profecias bíblicas encontramos enérgica exortação
para os "ricos" que desfrutam de sua abundância, sem atentar para o
clamor desesperado dos indigentes. Com as luzes da inspiração, o
apóstolo Tiago profetizou, dizendo:
"Atendei, agora, ricos, chorai lamentando, por causa das vossas
desventuras, que vos sobrevirão. As vossas riquezas estão corruptas, e
as vossas roupagens, comidas de traça; o vosso ouro e a vossa prata
foram gastos de ferrugens, e a sua ferrugem há de ser por testemunho
contra vós mesmos e há de devorar, como fogo, as vossas carnes.
Tesouros acumulastes nos últimos dias." 2
Seguindo as palavras do apóstolo, na surpreendente acumulação de
riquezas nas mãos de uns poucos em detrimento de muitos, encontramos
as evidências eloqüentes de que vivemos em uma era crucial da História,
definida na profecia bíblica como os "últimos dias".
Embora sempre tenha havido uns poucos ricos e muitos pobres,
essa diferença em nossos dias se acentuou como decorrência da
substituição do labor humano pelo trabalho mecânico.
Com efeito, 16% dos que vivem em nosso atribulado planeta
controlam 70% das riquezas do mundo, ao passo que os outros 84%
partilham o restante. Destes 84%, alguns desfrutam um nível de vida que
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 149
qualificaríamos razoável, enquanto a maioria se aflige em meio ao drama
da pobreza ou mesmo às angústias da mais abjeta miséria.
Em cumprimento às palavras do profeta – "Tesouros acumulastes
nos últimos dias" – vemos os industriais e homens de negócio sendo
seduzidos pela filosofia materialista do dinheiro, na ânsia incontida de
aumentar o patrimônio individual. E nessa obsessão cega pelas riquezas,
estão colocando o trabalho a serviço de seus interesses imediatos e
exclusivistas, sem levar em conta a dignidade do trabalhador.
Denunciando essa tragédia social, Pio XI declarou veemente:
"Vemos de um lado, uma multidão de operários explorados, que não
podem ter nenhum elevado ideal, e, de outro, uma meia dúzia em cujas
mãos as riquezas se concentram."
Não há na Bíblia uma só palavra de censura contra a riqueza
honestamente construída, mas a injusta administração dos recursos
adquiridos constitui abominação aos olhos de Deus. Malaquias, um dos
chamados "profetas menores" do Antigo Testamento, registrou no livro
que leva seu nome, as seguintes palavras:
"Chegar-me-ei a vós outros para juízo; serei testemunha veloz
contra ... os que defraudam o salário do jornaleiro, e oprimem a viúva e o
órfão, e torcem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o Senhor
dos Exércitos." 3

Século Paradoxal

No princípio da década de 80, o Banco Mundial vaticinou a


redução, nos próximos anos, do número de pobres absolutos no mundo.
Porém, após decorridos os primeiros anos do decênio, a ONU se
apressou em anunciar que o número de pobres absolutos nas nações em
desenvolvimento aumentaria de 800 milhões para um bilhão no final da
década.
Há no mundo cerca de 15 milhões de leprosos, porém somente 3
milhões recebem os cuidados médicos indispensáveis. A enfermidade se
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 150
propaga mais aceleradamente que os meios para combatê-la. Prevêem os
especialistas que dentro de 5 anos haverá mais um milhão de vítimas do
mal de Hansen.
O tracoma, mal de alcance mundial, é uma enfermidade crônica e
infecciosa que ataca os olhos, levando milhares de pacientes à cegueira.
Apesar dos abundantes recursos da ciência médica no mundo
industrializado, este mal representa para o Terceiro Mundo uma tragédia
alarmante e aterradora. São 500 milhões de vítimas afligidas por este
temível flagelo.
A atriz Liv Ullman, que esteve em Roma participando de uma das
reuniões da UNICEF na qualidade de embaixadora da "boa vontade''
daquele organismo, denunciou com dramaticidade o fato de que em
Mali, África, 300 de cada 1.000 crianças não alcançarão a idade de 5 anos.
No Brasil, 14 milhões de enfermos atacados pela esquistossomose,
pagam com a vida o elevado tributo de uma endemia até agora
incontrolável.
Nos Estados Unidos se consomem anualmente 70 quilos de proteína
por pessoa; na Argélia, 15 quilos; na Índia, 2 quilos; e no Zaire, 1 quilo.
A desproporção das cifras para os países subdesenvolvidos é aterradora.
Na França, o consumo médio anual de leite é de uns 100 litros por
pessoa, enquanto no Norte do Brasil é de 8 e na Índia, de 6 litros. Estes
números revelam uma realidade dolorosa: a metade da população no
nosso planeta está enferma e subalimentada.
Mas, por estranho que pareça, em um mundo onde milhões de
pessoas carecem de assistência médica ou sofrem as angústias da
escassez, desponta florescente o mercado dos cães, no qual se consumem
somas milionárias.
Segundo pesquisas da Cargill, uma das grandes produtoras de
rações para animais, em 1974 os americanos gastaram mais dinheiro para
alimentar os cães do que em alimentos para bebês. Num ano, somente as
vendas de rações para cães atingiram a soma de um bilhão e setecentos
milhões de dólares. Em 1976, o mercado dos Estados Unidos, que tinha
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 151
vinte e três milhões de cães (1 para cada 9 habitantes) foi avaliado em 40
bilhões de dólares (quase a metade da nossa divida externa) incluindo a
venda de filhotes e os negócios realizados por fábricas de alimentos,
laboratórios farmacêuticos, supermercados, lojas especializadas em
artigos caninos e o dinheiro gasto em exposições.
No Brasil, existem cerca de onze milhões de cães (1 para cada 12
habitantes) que consomem somas elevadas em rações industrializadas e,
incluindo o faturamento dos laboratórios farmacêuticos, "pet shops",
clínicas, hospitais e outros serviços, a cifra sobe a níveis astronômicos. 4
De acordo com a revista World Vision, oitocentos milhões de
dólares são gastos em banheiras adequadas para cachorros (a 5 dólares
cada uma), pijamas (a 3 dólares cada um), finos suéteres adornados com
golas de "vison" (a 40 dólares cada um) e outras prendas caninas. A
revista em referência nos diz que os fabricantes de cosméticos para
cachorros oferecem à venda onze tonalidades diferentes de esmaltes para
unhas de cadelas, uma grande variedade de perfumes especiais, cremes,
sabonetes e outros ingredientes de "toucador". 5
Despontam no Brasil, como em muitas outras nações, as butiques
para cães. Anexo à loja existe sempre um salão de beleza que só atende
com hora marcada e oferece um serviço completo aos cães, desde
banhos, corte de unhas, massagens, maquilagem, corte de pêlos, etc.
Em Paris, os salões de beleza tingem os pelos dos cães com as mais
variadas cores. As cadelinhas mais vaidosas ostentam unhas pintadas,
capinhas de "vison", e muitas delas usam botinhas de veludo.
Em Los Angeles, Estados Unidos, um psiquiatra, talvez cansado das
neuroses humanas, abriu um consultório psicanalítico para cães, onde
não faltam o divã, música ambiente e os arquivos com a história clínica
de cada "cliente". Os tratamentos para curar ansiedades, complexos,
depressão, frustrações ou agressividade nos cães, duram seis sessões de
45 minutos cada uma e custam 380 dólares.
Quão paradoxal é o nosso século! Tanto dinheiro gasto em
extravagâncias caninas, enquanto milhões de desventuradas criaturas, em
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 152
diferentes partes do mundo, vivem o dantesco drama que resulta da falta
de pão e ausência de assistência médica.

"Chorai por Vossas Desventuras"

O apóstolo S. Tiago, além de vaticinar o acúmulo de riquezas nos


"últimos dias", com palavras cáusticas anunciou as desventuras que,
implacáveis, haveriam de se abater sobre os ricos.
A família Kennedy, uma das mais conhecidas no mundo, não
apenas pela influência política, mas sobretudo por seu notável poder
econômico, acumulou nas últimas décadas um impressionante rosário de
desventuras. Dois ilustres irmãos (um presidente e o outro senador)
foram assassinados de forma fria e calculada; o irmão mais velho morreu
em um desastre de avião e uma irmã em um acidente de carro. O irmão
mais novo, após sofrer um controvertido acidente no qual resultou a
morte da secretária, divorciou-se da esposa, então mergulhada no abismo
do alcoolismo. Um filho, vítima do câncer, teve uma perna amputada e
outro foi assassinado por indivíduos envolvidos no submundo das
drogas, Quão significativas soam as palavras do profeta "chorai e
lamentai por vossas desventuras"!
Billy Graham, em seu conhecido livro Paz com Deus, descreve a
tragédia vivida por sete super-ricos que, em momentos de grande
prosperidade chegaram a manipular mais dinheiro que o governo dos
Estados Unidos. Com grande pompa e ostentação, em 1923, eles se
reuniram em uma mesa no Hotel Edgewater Beach, em Chicago. O
mundo os contemplava com respeito, admiração e inveja. Quem eram eles?
Charles Schwab, dono do maior complexo industrial do mundo,
especializado na produção do aço, morreu na miséria, dependendo de
dinheiro emprestado.
Arthur Cutten, grande exportador de trigo, conhecido especula, dor
no mercado mundial de alimentos; morreu insolvente, exilado no
exterior.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 153
Richard Whitney, respeitado presidente da Bolsa de Valores de
Nova Iorque, morreu na penitenciária de Sing Sing, enquanto cumpria
uma sentença ditada pela justiça.
Albert Paul, membro do gabinete do presidente dos Estados Unidos,
após cumprir parcialmente uma pena imposta pelos tribunais, recebeu
um indulto para morrer em casa.
Jessie Livermore, conhecido como o "leão de Wall Street", Leon
Frazer e Ivor Krüeger, prósperos banqueiros, recorreram ao suicídio
como via de escape para suas desventuras.
"As vossas riquezas estão corruptas" (S. Tiago 5:2) sentenciou o
apóstolo com as luzes da inspiração.
Marilyn Monroe e Elvis Presley, foram na história do cinema e da
música os artistas mais bem pagos. Após haverem amealhado enormes
fortunas, torturados por imensas angústias, Marilyn se suicidou e Presley
morreu arruinado pela miséria das drogas.
Outra vez as palavras inspiradas repercutem com grande
ressonância: "Tendes vivido regaladamente sobre a Terra. Tendes vivido
nos prazeres", agora "chorai por causa das vossas desventuras." 6
"A sede de ouro", escreveu Samuel Johnson, "destituída de
sentimentos e de remorsos, é a derradeira corrupção do homem
degenerado."

O Conflito Social

A injusta distribuição das riquezas tem gerado um profundo


descontentamento social no seio das massas proletárias e criado um
ambiente propício à propagação de idéias platônicas e dialéticas
extremadas, conclamando os injustiçados às lutas de classe.
É bem de ver, entretanto, que este conflito já fora previsto pela
sabedoria divina, através do apóstolo S. Tiago. São estas as palavras da
profecia: "Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos
campos, e que por vós foi retido com fraude, está clamando; e os
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 154
clamores dos ceifeiros penetraram até aos ouvidos do Senhor dos
exércitos." 7
Malgrado todo o esforço dos poderes públicos, em diferentes
nações, por atenuar esse conflito, vemos o mesmo intensificar-se
constantemente: E por quê? Porque mais conscientes das desigualdades
econômicas, as massas se organizam para lutar por um nível mais
compatível com a dignidade humana. "A mulher africana" escreve o
sociólogo Melady – "que provavelmente morrerá antes dos 40 anos, sabe
agora que nos países industrializados a mulher vive em comparativo luxo
e terá uma média de vida de 73 anos. A diferença entre os seus
antepassados que aceitavam estoicamente esta situação, é que agora essa
mulher africana exige uma rápida mudança neste estado de coisas."
As formas rígidas do liberalismo tradicional foram quebradas, uma
a uma, pelos líderes de Estado. O indiferentismo clássico para com os
problemas sociais foi deixado de lado. Assistimos à intervenção
constante do poder público nos domínios da economia social, visando
corrigir as injustiças criadas pelo egoísmo humano.
Hoje, o operariado se sente protegido e amparado por leis, direitos e
privilégios como nunca no passado. Generalizou-se em toda parte o
esforço dos legisladores visando melhorar as condições dos
trabalhadores. Em alguns países o operário participa mais e mais no
lucro das empresas. Não obstante isso, os distúrbios do proletariado e as
agitações sindicais tornam-se mais constantes e ameaçadoras. Quão
impressionante se nos afigura o cumprimento da profecia bíblica!
Sem dúvida, este panorama de injustiça social provê mais
combustível para os conflitos de classe e confirma a palavra profética
que anuncia a vinda do Senhor como um acontecimento iminente.
"Sede vós também pacientes" – exorta o apóstolo – "fortalecei os
vossos corações; pois a vinda do Senhor está próxima" (S. Tiago 5:8).
Este importante acontecimento eliminará para sempre as injustiças que
caracterizam os sistemas econômicos vigentes. Um outro sistema mais
justo será implantado, baseado em valores mais elevados.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 155
Nenhum ismo – capitalismo, fascismo, cooperativismo, socialismo,
marxismo, comunismo – produziu resultados justos. Do ponto de vista
histórico falhou "a mão invisível" de Adam Smith ("laissez-faire, laissez-
passer"); falhou também "a mão visível" das manipulações
governamentais de Keynes, e "a mão revolucionária" dos sistemas
marxistas. Necessitamos agora de "a mão sobrenatural" para erradicar
para sempre o egoísmo humano, e transformar os fundamentos da
estrutura social contemporânea.
A poderosa mão de Deus intervindo nos negócios do mundo
resultará no estabelecimento de uma nova ordem econômica
caracterizada pela paz e justiça sociais. Agora é o momento em que
devemos nos preparar para desfrutar o privilégio de participar dos
benefícios desta nova sociedade restabelecida pelo próprio Deus. Agora
é o momento em que devemos aceitar na vida e no coração a Jesus, a fim
de desfrutar de uma existência mais venturosa no presente, e no futuro
participar da nova ordem anunciada pelos antigos oráculos bíblicos.

Referências:

1. Juan Hortz, em El Destino de los Pueblos Ibéricos, pág. 17.


2. S. Tiago 5:1-3.
3. Malaquias 3:5.
4. Tendência, junho de 1977.
5. World Vision, fevereiro de 1975.
6. S. Tiago 5:5 e 1.
7. S. Tiago 5:4.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 156
O SUICÍDIO ECOLÓGICO

Se seguirmos degradando o nosso mundo, finalmente mataremos


todas as espécies de peixes, aves e animais que nos agradam, enquanto
que sobreviverão as espécies que não apreciamos. Desaparecerão as
florestas, as aves e os mananciais, e ficarão as ervas daninhas, os
insetos e roedores. – Jorge M. Woodwell, ecólogo dos laboratórios
Brookhaven, Upton, Nova Iorque

*A Contaminação do Ar *A Contaminação da Água *A Era do


Lixo *Poluição Sonora *A Natureza Ameaçada Pela Poluição
*Catástrofes Naturais *Que Diz a Bíblia sobre a Contaminação?

T udo começou no princípio da década de 1950. Um acúmulo de


evidências oferecia aos especialistas os elementos necessários
para a denúncia de uma inominável tragédia: os peixes mortos boiavam
na superfície do mar; mariscos sem vida, em quantidades alarmantes,
eram levados à praia pelo movimento das ondas. Gatos atacados por uma
enfermidade desconhecida, em contorções violentas, precipitavam-se de
forma suicida sobre o mar e se afogavam. Crianças, e depois adultos,
constatavam que o seu campo visual se estreitava. Seus lábios tomavam-
se insensíveis. Os braços tremiam, as pernas vacilavam e muitos,
perdendo a razão, passavam noites inteiras uivando como animais.
Os primeiros pacientes conduzidos ao hospital da fábrica Chisso,
em Minamata, Japão, foram diagnosticados como vítimas de encefalite.
Porém, em 1956, a doença adquiriu proporções epidêmicas, e o Dr.
Hajime Hosakawa, após examinar cuidadosamente diversos pacientes,
constatou "um tipo de envenenamento causado pela ingestão de peixes e
mariscos contaminados na baia de Minamata".
O cérebro de algumas vítimas, após a autópsia, se apresentava
carcomido. Em 1958, descobriram o culpado: o sulfato de mercúrio que
a Usina da Chisso utilizava como catalisador para fabricar acetaldeído, e
depois lançava no mar.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 157
E assim, Minamata, pequeno e pacífico povoado, situado no sul do
Japão, saiu do quase anonimato para ocupar com estardalhaço a primeira
página dos grandes diários do mundo. Mais de 10 mil pessoas foram
atingidas por problemas mais ou menos irreversíveis como resultado dos
resíduos carregados de mercúrio orgânico despejados no recipiente
natural mais próximo – a baía de Minamata.
Organizados, os pescadores da região atacaram a usina e a teriam
destruído completamente se por ela não passassem fios de alta tensão e
gasodutos que poderiam explodir, produzindo uma catástrofe de
proporções imprevisíveis. Os proprietários da indústria, entretanto, tendo
em vista atenuar a irritação responsável por sucessivas explosões de
violência, propuseram uma compensação de 300 mil ienes por vítima
falecida, mais as despesas de enterro; 100 mil ienes por adulto enfermo e
30 mil por crianças vítimas da contaminação da baía. A maioria das
pessoas afetadas, entretanto, preferiu lutar contra a Chisso na justiça. O
tribunal, depois de um longo processo jurídico, proferiu a seguinte
sentença: "A ré não pode eximir-se à responsabilidade por negligência."
As vítimas mais gravemente atingidas pela doença de Minamata e as
famílias dos mortos receberam, de acordo com o veredicto, 60 mil
dólares cada, e todos os demais enfermos (cerca de 3.700 pessoas com
lesões cerebrais) uma pensão mensal média de 233 dólares.
Mas apesar da solução jurídica encontrada para o desastre ecológico
de Minamata, os conservacionistas de todo o mundo unem as vozes num
veemente protesto contra a crescente poluição ambiental, responsável
pela degradação da qualidade do ar que respiramos, da água que
bebemos e dos alimentos que ingerimos. A insensata depredação da
Natureza indica que a humanidade está fazendo um esforço inconsciente
para se autodestruir. Ao poluir o ar, a água e outros elementos que
formam nosso meio ambiente, nós – seres humanos – estamos agora na
lista das espécies ameaçadas de extinção.
Em junho de 1972, na cidade de Estocolmo, Suécia, sob o
patrocínio da Organização das Nações Unidas, reuniram-se delegados
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 158
procedentes de cem nações para discutir os problemas relacionados com
a contaminação do meio ambiente. Eloqüentes discursos se fizeram ouvir
e teses eruditas furam apresentadas, denunciando a desenfreada
deterioração da Natureza e suas conseqüências irreversíveis. No
documento aprovado pelos delegados reunidos em Estocolmo,
encontramos a seguinte afirmação: "Se a guerra nuclear não destruir a
espécie humana, em mais algumas décadas seremos exterminados por
uma catástrofe ecológica de dimensões globais."

A Contaminação do Ar

Sofremos em nossos dias os efeitos surpreendentes da explosão


industrial, responsável pela contaminação atmosférica, problema este
que em alguns lugares apresenta contornos dramáticos.
O padecimento respiratório conhecido pelo nome de "Asma
Tóquio-Yokohama", afeta milhares de pacientes que vivem na
gigantesca megalópole industrial japonesa, freqüentemente coberta por
uma névoa tóxica gerada pela combustão industrial de elementos
poluentes. Em dez dos lugares mais transitados de Tóquio foram
instalados tanques de oxigênio para os agentes encarregados de
disciplinar o tráfego, tendo que permanecer longas horas em meio aos
efeitos das emanações de gases produzidos pela combustão dos
automotores. A cada meia hora, os policiais de trânsito fazem uma pausa
para respirar ar puro junto aos tanques de oxigênio.
Na cidade de S. Paulo, aproximadamente 32 mil indústrias, em sua
maioria estabelecidas junto às áreas residenciais, expelem diariamente os
mais perigosos poluentes – desde os compostos de enxofre e nitrogênio,
até vapores solventes, gases explosivos e sulfato de hidrogênio. Como
resultado, no dia 2 de junho de 1975, uma nuvem tóxica cobriu a cidade
de Santo André (que integra o grande complexo industrial paulistano),
levando o pânico a centenas de moradores que, alarmados com os
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 159
recordes de poluição, abandonaram precipitadamente a cidade em busca
de áreas menos contaminadas.
A alarmante e irresponsável agressão movida contra a Natureza,
pelas milhares de indústrias paulistanas, é ainda agravada por uma
gigantesca frota integrada por 1,2 milhão de veículos que emitem
anualmente 4.300 toneladas de óxido de enxofre, e 642 mil toneladas de
monóxido de carbono, reduzindo perigosamente os índices mínimos de
salubridade e segurança sanitária. Os níveis de bióxido de enxofre
excedem de 2 a 6 vezes os níveis estabelecidos pela Organização
Mundial de Saúde.
Os riscos produzidos por esses agentes contaminadores não estão
circunscritos unicamente aos grandes centros industriais. Transportados
pelos ventos, de cidade em cidade, de país em país e por último, de
continente em continente, transformam-se em uma "bomba" de tempo,
ameaçando destruir o equilíbrio ecológico em nosso planeta.
Um engenheiro florestal na Alemanha calculou que 30% dos
bosques em seu país estão sucumbindo como resultado da contaminação
do ar. Na Baviera, mais de 50% dos pinheiros estão ameaçados de
extinção.
Os escandinavos denunciam com grande veemência o "bombardeio",
em seu território, de agentes contaminadores procedentes de outras
nações. Afirmam que o ar poluído pelas fábricas da Inglaterra, Alemanha
Ocidental e outros países europeus converge sobre o seu território,
destruindo uma grande parte de suas extensas florestas.
Funcionários dos Estados Unidos e Canadá acusam-se mutuamente
de não tomarem as medidas necessárias para reduzir a "exportação" da
contaminação industrial que se converte em chuva ácida, destruindo as
áreas verdes, ou em neblina carregada de tóxicos concentrados que
corroem as máquinas, as estruturas metálicas e até mesmo os edifícios e
os monumentos.
Quatro antigas estátuas eqüestres de bronze, situadas na praça São
Marcos de Veneza, Itália, estão sendo corroídas pelas toxinas do ar
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 160
contaminado. O mesmo está ocorrendo com a Estátua da Liberdade, em
Nova Iorque, e a célebre Torre Eiffel, em Paris.
As autoridades municipais de Colônia, na Alemanha Ocidental,
estão empenhadas em uma grande batalha por salvar a histórica catedral
gótica, com suas paredes de pedra arenosa grandemente carcomidas por
substâncias carregadas pelo vento. No sul da Alemanha, até mesmo o ar
tradicionalmente límpido dos Alpes ocasionalmente se enche de tóxicos
provenientes das refinarias de petróleo existentes na região.
E assim, a atmosfera envenenada por inúmeros resíduos químicos
vai-se transformando gradualmente em terrível flagelo internacional,
exterminando imensas florestas, reduzindo a fertilidade dos campos,
destruindo a fauna silvestre e até mesmo vidas humanas.
Em 1976, uma nuvem tóxica de dioxina escapou acidentalmente de
uma fábrica instalada em Seveso, Itália. Mais de uma centena de
mulheres grávidas, alcançadas pelos efeitos da nuvem, se submeteram ao
aborto autorizado pelo governo italiano, uma vez que os bebês poderiam
nascer defeituosos. Entre os habitantes evacuados de Seveso,
aproximadamente setecentos apresentavam sérias lesões epidérmicas.
Aproximadamente 25 mil toneladas de isocianato de metila
escaparam de uma das filiais da indústria química Union Carbide,
instalada em Bhopal, uma cidade histórica de 900 mil habitantes, na
Índia. Foi uma das mais devastadoras catástrofes já desencadeadas por
uma substância química em tempos de paz. Em menos de 48 horas, mais
de 2.000 pessoas morreram asfixiadas, a maior parte delas enquanto
dormiam. Dos 50 mil feridos, quase a metade teve cegueira temporária
com as córneas ulceradas pelo gás.
Nunca, como em nossos dias, tantas vidas foram ceifadas ou
severamente afetadas pelo vazamento de substâncias químicas letais, que
não somente degradam a qualidade do ar que respiramos, como também
criam situações potencialmente desastrosas.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 161
A Contaminação da Água

Até boa parte do nosso século, as reservas de água potável do


mundo eram consideradas inesgotáveis. Mas o desenvolvimento
industrial e a conseqüente contaminação das águas, bem como a
explosão demográfica e sua concentração em grandes centros urbanos,
contribuíram para demonstrar que essa crença era infundada.
De acordo com os especialistas, 30 a 40 por cento da produção
mundial de alimentos dependem atualmente de irrigação. A indústria
também emprega quantidades cada vez maiores de água para gerar
eletricidade, para resfriar reatores atômicos e na indústria de produtos
químicos e de metais. A produção de uma tonelada de aço requer o
emprego de 150 toneladas de água; o refino de uiva tonelada de petróleo
demanda u consumo de 180 toneladas de água; e para a produção de uma
tonelada de papel, são consumidas 250 toneladas de água. Como
conseqüência, muitos lagos e rios são poluídos diariamente pela
agricultura e pela indústria – bem como pelos dejetos de uma população
que cresce em progressão geométrica. Oitenta por cento da população
mundial não têm acesso à água encanada. Dependem de cursos de água e
de poços freqüentemente contaminados par resíduos industriais e dejetos
humanos.
Os grandes lagos, outrora cristalinos, situados entre os Estados
Unidos e o Canadá, se apresentam agora seriamente contaminados por
despejos industriais responsáveis por um crescente processo de
destruição da flora e da fauna que antes possuíam.
Os lagos de Zurique, Genebra e Constança, que tanta beleza
emprestam à paisagem suíça, apresentam também alarmantes índices de
contaminação. Principalmente o lago de Zurique, antes tão cheio de vida,
agora está transformado "em esgoto fétido e imundo".
O legendário rio Reno, que tanta inspirou o poeta alemão Heinrich
Heine (1797-1856), e a inúmeros músicos compositores de alegres
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 162
melodias germânicas, como resultado da poluição industrial transporta
em seu leito duzentos mil gentes por centímetro cúbico.
O Danúbio, que com suas águas outrora azuis inspirou a
composição de um dos clássicos da música internacional, e havia
passado por um processo de despoluição que durou anos, foi
mortalmente atingida em 1986, com o vazamento dos dejetos de uma
única indústria química. O que se fez em 15 anos, foi destruído num só
dia.
O rio Sena, que com suas pontes e balaustradas aumenta os
encantos e atrativos de Paris, está totalmente contaminado por dejetos
humanos, matéria orgânica fecal, responsável pela transmissão de
inúmeras enfermidades infecciosas.
No Brasil, ainda que possua uma das mais extensas bacias
hidrográficas do mundo, já se começou a sentir a contaminação das
águas, principalmente nas proximidades dos grandes centros urbanos. O
rio Tietê, que banha p grande pólo industrial paulistano, parece agonizar
gradualmente como resultado da ação destruidora dos compostas
orgânicos e inorgânicos lançados diariamente em seu leito. A lagoa da
Pampulha, em Belo Horizonte, é hoje um imenso espelho de águas turvas
e poluídas, localizada em uma área concebida para ser um grande centro
de turismo e lazer. Quem se banhar na lagoa Rodrigo de Freitas ou na
praia de Ramos, no Rio de Janeiro, desfrutará a companhia indesejável
de milhares de microrganismos transmissores de enfermidades
infecciosas. O rio Capibaribe, em Pernambuco, o Guaíba, no Rio Grande
do Sul, e muitos outros importantes cursos de água, estão se
transformando paralelamente em imensas cloacas abertas, correntes de
águas turvas, nauseabundas e semimortas.
O Dr. Artur Primavesi, em conferência pronunciada na Escola
Superior de Guerra, no Rio de Janeiro, assim se expressou:
"A humanidade, em futuro não muito distante, poderá morrer de
sede, já que a destruição das terras está provocando a escassez cada
vez maior de água. Apenas 0,6% da água do mundo é potável. Na
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 163
Europa e nos Estados Unidos, as populações bebem água que já passou
até sete vezes por um organismo vivo (o ciclo intestinal)." 1
Mas, não somente os rios estão poluídos. Os mares também estão
sendo contaminados por produtos químicos vindos dos continentes.
Milhões de litros de petróleo são lançados constantemente no oceano por
barcos acidentados, provocando a morte de milhares de peixes, pássaros
e outros organismos vivos. A "maré negra", como a chamam os
europeus, está originando crises ecológicas até mesmo nas áreas
marítimas mais afastadas dos continentes, que se julgavam intensas à
ação depredadora do homem.
Davi B. Wingate se tornou mundialmente conhecido por seus nobres
esforços por salvar o petrel, pequena ave do tamanho de um pombo, dos
riscos de uma eventual extinção.
Após haver lutado em uma das ilhas Bermudas durante vários anos
para aumentar sua reduzida população, descobriu com pesar que estava
empenhado em uma batalha perdida. Ao analisar o embrião de um destes
pássaros, descobriu que os tecidos estavam saturados de DDT.
Convenceu-se então de que a extinção da espécie era irreversível.
Para o jovem ecologista foi uma descoberta alarmante, uma vez que
o petrel nunca busca o sustento junto à costa, mas sim em pleno oceano.
Em outras palavras, o indiscriminado uso do DDT está contaminado não
somente os rios e os lagos, mas também os oceanos, precipitando a
extinção dessa espécie de aves.
O Mar Mediterrâneo converte-se dia a dia num mar morto,
formaram cientistas franceses. Milhões de toneladas de lixo ou resíduos
industriais são lançados diariamente em suas águas, transformando-o em
um mar moribundo.
No fundo do Mar Báltico estão depositados recipientes de cimento
contendo 7 toneladas de arsênico lançados por uma indústria
metalúrgica. Nas águas do Pacífico, ao longo da costa norte-americana, o
governo autorizou o lançamento de cápsulas de contendo um gás
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 164
altamente letal. Se um dia essas substâncias vazarem, precipitarão
tragédias ecológicas de dimensões apocalípticas.
Em 1968, uns 48 milhões de toneladas de refugos sólidos foram
levados de barcaça e navio e despejados nas águas do oceano – cerca de
210 quilos por habitante. Esses refugos incluíam restos de comida, óleo
sujo, entulho de drenagem, ácidos industriais, restos de avião, sucatas,
comida deteriorada e até matérias radiativas.
O Dr. Jacques Piccard, conhecido cientista suíço, preocupado com
os crescentes índices de contaminação, anunciou a possível morte dos
mares para dentro de 25 anos. Os primeiros a morrer seriam os mares
Adriático, Báltico e Mediterrâneo. A esta lista de "falecidos" se
acrescentaria mais tarde a nossa prosaica baía de Guanabara, já saturada
de tóxicos e substâncias orgânicas apodrecidas que impedem sua
autodepuração.
Sim, podemos afirmar que, do ponto de vista ecológico, apesar dos
avanços tecnológicos, nunca se destruiu tanto em tão pouco tempo.

A Era do Lixo

A sociedade de consumo na qual vivemos criou um novo e


surpreendente problema: o lixo.
Que fazer com os refugos sólidos gerados por uma civilização
caracterizada pela abundância e desperdício?
Em 1920, o lixo sólido nos Estados Unidos era de 1,20 quilo diário
por unidade habitacional. Em 1970, o número subiu para 2,5 quilos, e
chegou em 1985 a 4,5 quilos. Se a isto somarmos os resíduos sólidos
deixados pela indústria, os índices vão a 25 quilos diários per capita.
Que fazer com essa alarmante quantidade de despejos, elementos
inúteis? Se são cremados, contaminam o ar que respiramos; se
enterrados, comprometem as nossas limitadas reservas de água potável.
Cada ano os norte-americanos abandonam nos "cemitérios" de
automóveis, sete milhões de carros e 100 milhões de pneus; atiram ao
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 165
lixo 430 milhões de toneladas de papel, 26 bilhões de garrafas, 48
bilhões de latas, e 4 milhões de toneladas de plásticos. 2
Com efeito, vivemos numa economia caracterizada pelo
desperdício. Proliferam os produtos descartáveis. Nós os usamos uma
vez e depois os lançamos fora. E por que muitos desses produtos são de
natureza sintético, não sabemos como destruí-los.
Assim, os refugos sólidos se transformam em um problema
ameaçador. O explorador Thor Heyerdahl em sua viagem através do
Atlântico, em um bote de papiro, viu garrafas plásticas, caixas, bisnagas,
óleo e outros refugos que de algum modo tinham sido levados pelas
correntes marítimas até o meio do oceano. Havia ocasiões quando a
tripulação vacilava em lavar-se por causa dos elevados índices de
poluição.
Em Copacabana, Rio de Janeiro, vivem 350 mil pessoas em uma
área de quatro quilômetros quadrados. Aquele bairro durante alguns anos
se constituiu em exemplo típico de contaminação por incineração do lixo.
Quando a cidade despertava para o trabalho, os incineradores
instalados em seus edifícios vomitava, para o alto 11 toneladas de
partículas em que se transformavam 460 toneladas de lixo queimados
diariamente. Como essas partículas se espalhavam pelo ar 9 toneladas de
gases orgânicos, 4 toneladas de monóxido de carbono, 700 quilos de
óxido de nitrogênio e 200 quilos de óxido de enxofre.
Esse elevado índice de contaminação, como é óbvio, gerava
condições de evidente insalubridade, comprometendo a saúde de seus
moradores. Afinal, uma lei municipal determinou a proibição do uso dos
incineradores como solução para o problema do lixo.
E agora, as autoridades sanitárias e os especialistas em assuntos
relacionados com a proteção ambiental buscam ansiosamente por
melhores alternativas para a destruição dos detritos sólidos e líquidos,
um dos maiores desafios do mundo contemporâneo.
A complexidade do problema levou alguns cientistas sociais a
redividir as etapas da história universal da seguinte forma:
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 166
Idade Antiga – iniciada com o surgimento dos primeiros
documentos escritos de que se tem notícia, por volta de 4.000 AC e
terminada com a Queda do Império Romano do Ocidente (476 DC).
Idade Média – iniciada em 476 e terminada com a tomada de
Constantinopla pelos turcos (1453).
Idade Moderna – iniciada em 1453 e terminada com a Revolução
Francesa (1789).
Idade Contemporânea – iniciada em 1789 e terminada em 1945,
com o fim da Segunda Guerra Mundial.
Idade do Lixo – iniciada em 1945, terminará com a extinção da
espécie humana, vítima do progresso industrial irresponsável.

Poluição Sonora

Segundo os conservacionistas, a poluição é um monstro de mil


garras; sua presença sinistra se faz sentir não apenas nas águas, no ar e
nos alimentos, mas também no excesso de ruídos, responsáveis pelas
constantes agressões sonoras.
Uma jovem que se inscreveu em um concurso de beleza, em Nova
Iorque, Estados Unidos, ao ser interrogada sobre o prêmio que desejava
receber, caso fosse contemplada com o cobiçado titulo de rainha da
beleza, respondeu:
"Desejaria um quarto a prova de som. Trabalho oito horas durante o
dia em um escritório e a noite necessito de repouso. No bairro onde vivo,
repousar é impossível. Cada manhã, quando volto ao trabalho, sinta-me
terrivelmente cansada, como se não houvesse cerrada os olhos. Dormir é
o que mais desejo."
Os ruídos são os déspotas implacáveis de nossas dias; perseguem-
nos em casa, na rua, nos coletivos, nas fábricas e escritórios. A cada
momento do dia, e até mesmo nas horas dedicadas ao descanso, lutamos
tenazmente contra os "decibéis" que são a unidade de medida dos ruídos,
e esta luta produz um grande desgaste, tanto físico como psíquico. As
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 167
tensões, ansiedades, desequilíbrio emocional, queda de pressão arterial,
dores de cabeça, tonturas, distúrbios cardíacos e circulatórios, e as
úlceras pépticas, são apenas alguns dos danos que a exacerbação de sons
está causando aos habitantes dos grandes centros urbanos.
Depois de estudar durante dois anos os efeitos do barulho sobre
1.005 metalúrgicos na Alemanha Ocidental, o Professor Gerd Janhsen,
do Instituto Max Planck, de Dortmund, concluiu que o sistema nervoso
autônomo – a rede de fibras nervosas e glândulas que regulam as batidas
do coração, a temperatura, a digestão e a respiração – começa a reagir
com 70 decibéis, o equivalente ao ruído do tráfego numa rua
relativamente calma.
O físico Xavier Nepomuceno, uma das principais autoridades
latino-americanas em acústica, denunciando os elevados índices de
poluição sonora nas grandes cidades do Brasil, previu há alguns anos a
possibilidade de que os ruídos urbanos em S. Paulo e Rio de Janeiro
atingissem a intensidade de 90 decibéis.
Inúmeras alternativas estão sendo analisadas pelos técnicos em
acústica, tendo em vista reduzir ou pelo menos estabilizar o crescente
aumento de decibéis urbanos. Sabem as autoridades sanitárias que se esta
escalada de ruídos não for contida, as agressões sonoras levarão enormes
massas urbanas à fronteira da loucura.

A Natureza Ameaçada Pela Poluição

A devastação do meio ambiente representa uma condenação à


morte para muitas espécies ou subespécies de animais em prazo mais
curto do que podemos imaginar. E embora muitas das vidas em extinção
não sejam de utilidade imediata para o homem, os cientistas temem que
o seu desaparecimento acabe por ameaçar a nossa própria sobrevivência.
A baleia azul, o condor da Califórnia e o rinoceronte branco são os
próximos candidatos a desaparecer da face da Terra.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 168
O Último Capítulo do Gênesis
No princípio era a Terra e esta tinha forma e beleza. E o homem
habitava as campinas e vales da Terra. E disse o homem: "Edifiquemos
prédios neste belo lugar." E construiu cidades e encheu a Terra com aço
e concreto. E as campinas desapareceram. E viu o homem que isso era
bom.
No segundo dia, o homem olhou as águas da Terra. E disse:
"Joguemos nossos refugos nas águas para acabar com o lixo.." E assim
fez o homem. E as águas se tornaram poluídas e seu odor fétido. E viu o
homem que isso era bom.
No terceiro dia, o homem olhou as florestas da Terra e viu que eram
exuberantes. E disse: "Serremos madeira para as nossas casas e
cortemos lenha para nosso uso." Assim fez o homem. E as árvores
desapareceram e a Terra se tornou árida. E viu o homem que isso era
bom.
No quarto dia o homem viu que os animais corriam livremente pelos
campos e brincavam ao Sol. E disse: "Enjaulemos os animais para nosso
divertimento e matemo-los por esporte." E assim fez o homem. E não
havia mais animais sobre a face da Terra. E viu o homem que isso era
bom.
No quinto dia, o homem respirou o ar da Terra. E disse:
"Espalhemos nossos detritos pelo ar, pois os ventos os dissiparão." E
assim fez o homem. E o ar se impregnou de fumo e gases que não
podiam ser eliminados. A atmosfera se tornou pesada com a fumaça que
sufocava e ardia. E viu o homem que isso era bom.
No sexto dia o homem olhou o próprio homem. E ouvindo as muitas
línguas e vendo as diferenças raciais, temeu e sentiu ódio. E disse:
"Façamos grandes máquinas para destruir a estes, antes que nos
destruam." E construiu enormes máquinas e a Terra foi convulsionada
com a fúria das grandes guerras. E viu o homem que isso era bom.
No sétimo dia, havendo o homem terminado toda a sua obra,
descansou. E a Terra estava silenciosa e vazia, pois já o homem não
habitava sobre a face da Terra.
(Adaptado)
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 169
O ímpeto com que a civilização vem penetrando e poluindo as áreas
agrestes produz como resultado destruições devastadoras.
Segundo estudos estatísticos feitos para os Estados Unidos e Porto
Rico, no período compreendido entre 1600 e 1850, apenas cinco espécies
– duas de mamíferos e três de aves – se extinguiram. De 1850 até agora,
o número aumentou para 57, entre mamíferos, aves e peixes. Em escala
mundial – afirmam os ecologistas – os mamíferos estão desaparecendo à
velocidade de uma espécie ou subespécie por ano.
Presentemente 400 tipos de animais distribuídos por todo o mundo
acham-se incluídos numa lista de espécies ameaçadas, o que significa
que estão correndo o risco de extinção. A situação no reino vegetal é
ainda mais sombria: as estatísticas informam que uma em cada dez
espécies de plantas corre o risco de exterminação.

Catástrofes Naturais

O homem civilizado, que de forma irresponsável e inescrupulosa


insulta o meio ambiente e destrói o habitat do qual retira o seu sustento,
atrai como resultado, inevitáveis calamidades naturais.
Segundo um estudo feito por Anders Wijkman, secretário geral da
Cruz Vermelha da Suécia, o número de catástrofes naturais no mundo
aumentou de 54 em média nos anos 60, para 81 nos anos 70. Na década
de 70, morreram seis vezes mais pessoas em desastres da Natureza do
que na década de 60. Isto não pode ser explicado apenas par mudanças
no clima ou processos geológicos, como terremotos e erupções
vulcânicas.
Com efeito, os desastres naturais estão se tornando tão freqüentes,
levando-nos a uma nova época na história do mundo, caracterizada pelo
desencadeamento das forças da Natureza como uma solene advertência à
humanidade.
Mas, onde podemos encontrar a resposta para esta crescente
seqüência de inundações e prolongadas estiagens, furacões arrasadores e
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 170
surpreendentes variações nos padrões climáticos? A resposta deve ser
encontrada na degradação do meio ambiente, nos bosques que estão
sendo destruídos à média de 50 hectares por minuto (26 milhões de
hectares por ano), no constante processo de desertificação e nos
agonizantes cursos de água responsáveis por uma distribuição desigual
nos índices de precipitação pluvial e no nível das depósitos de águas
subterrâneas.
Dirigindo-se a um grupo de especialistas, o ecologista brasileiro,
José Lutzenberger, assim se expressou:
"Os modelos desenvolvimentistas da atual sociedade de consumo ...
repousam no desperdício de recursos limitados e insubstituíveis. Eles
significam a destruição de todos os sistemas de sustentação de vida na
Terra."
Com acentos dramáticos, aduziu:
"Desequilibramos todos os grandes e pequenos sistemas híbridos,
acentuando as estiagens desoladoras e as cheias catastróficas; pela
poluição desenfreada, perderemos em breve a potabilidade dos últimos
mananciais e preparamos a eliminação de todas as formas de vida
aquática, inclusive nos oceanos." 3
E assim, inermes e impotentes, assistimos às calamidades
multiplicando-se por toda a parte.

Que Diz a Bíblia Sobre a Contaminação?

As Escrituras declaram que após haver completado a criação do


mundo "viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom". 4 A
Natureza, com seus ornamentos, engalanava a Terra, revestindo-a de
encanto e sedução. Nada parecia faltar daquilo que pudesse contribuir
para o deleite e bem-estar do homem. Tudo era perfeito e digno de seu
Autor.
Porém, com o transcurso dos séculos, e como conseqüência da
impiedade dos homens, a beleza e harmonia originais se desvaneceram.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 171
Alarmado com as condições prevalecentes em seus dias, o profeta Isaías
sentenciou:
"A Terra pranteia e se murcha; o mundo enfraquece e se murcha ...
"Na verdade, a Terra está contaminada por causa dos seus
moradores, porquanto transgridem as leis, violam os estatutos e quebram
a aliança eterna.
"Por isso, a maldição consome a Terra, e os que habitam nela se
tornam culpados ..." 5
Com as luzes da inspiração, vaticinou Oséias um dos videntes de
Israel:
"Por isso, a Terra está de luto, e todo o que mora nela desfalece,
com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar
perecem." 6
Mas – ocorre-nos a pergunta – permitirá Deus que a espécie
humana se autodestrua, aniquilando para sempre a Natureza por Ele
criada?
As Escrituras respondem:
"Porque assim diz o Senhor, que criou os céus, o Deus que formou
a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas
para ser habitada: Eu sou o Senhor, e não há outro." 7
É evidente, porém, que unicamente uma intervenção sobrenatural
poderá salvar este moribundo planeta de transformar-se em um ermo
desolado, árido, estéril e sem vida.
Em fulgurante visão, o autor do Apocalipse – o último livro das
Escrituras – contemplou o esplendente amanhecer de uma nova era,
quando serão restaurados os encantos e a perfeição que caracterizaram o
mundo ao sair das mãos do Criador.
"E tocou o sétimo anjo a trombeta, e houve no céu grandes vozes,
que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu
Cristo, e ele reinará para todo o sempre. ...
"E iraram-se as nações, e veio a tua ira, e o tempo dos mortos, para
que sejam julgados, e o tempo de dares o galardão aos profetas, teus
servos, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a
grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra." 8
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 172
Isto significará o fim do império da impiedade, com suas injustiças,
violência e miséria. Despontará como conseqüência uma nova era sem
vandalismo, sem agressões sonoras e desequilíbrios ecológicos. Esta
esperança nos permite compreender por que o Senhor anunciou desde os
tempos antigos:
"Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá
lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas." 9
"O deserto e a terra se alegrarão; o ermo exultará e florescerá como
o narciso. ... pois águas arrebentarão no deserto, e ribeiros, no ermo. A
areia esbraseada se transformará em lagos, e a terra sedenta, em
mananciais de águas." 10
O Criador cumprirá Seus eternos propósitos de restaurar a Terra – o
paraíso perdido – transformando-a em um novo Éden, o habitat feliz dos
redimidos de Jeová.

Referências:

1. Citado por Nicolau Campos em Poluição das Águas, Correio do


Povo, 13 de junho de 1971.
2. Time – 2 de fevereiro de 1970, pág. 41.
3. Despertai – 8 de março de 1980, pág. 6.
4. Gênesis 1:31.
5. Isaías 24:4-6.
6. Oséias 4:3.
7. Isaías 45:18.
8. Apocalipse 11:15 e 18, Almeida antiga.
9. Isaías 65:17.
10. Isaías 35:1, 6 e 7.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 173
CÉTICOS, IRREVERENTES E ESCARNECEDORES

O ateísmo como filosofia de vida não se contenta na atualidade em


andar seu próprio caminho. Seus defensores se voltam cada vez mais
militantes, inspirados por um desdém agressivo para com os crentes. –
John W. White, em Retorno.

*Nos Últimos Dias Aparecerão Zombadores *Argumento Ilusório


*O Misterioso Desaparecimento de Animais *"Andando Segundo
suas Concupiscências" *Os Escarnecedores e seus Equívocos
*Solene Exortação

D epois de haver lido os escritos de Isaac Newton (1642-1727),


Observations Upon the Prophecies of Daniel and Apocalypse
of St. John (Observações Sobre as Profecias de Daniel e Apocalipse de
São João),Voltaire (1694-1778), conhecido filósofo francês, declarou:
"Vede como um gênio tão poderoso como Isaac Newton, o brilhante
descobridor da lei da gravitação, que nos ensinou tantas maravilhas,
chegando à velhice, idade de todas as fraquezas, se pôs a estudar o livro
chamado A Bíblia, e, interpretando uma de suas profecias (Daniel 12:4),
foi levado a declarar que um dia o homem seria capaz de viajar à enorme
velocidade de 65 quilômetros por hora." Escarnecedor e mordaz, o
irreverente filósofo acrescentou: "Vejam como o cristianismo conseguiu
transformar o grande cientista em uma criatura ridícula. Será que ele
ignora que se um homem viajar a 65 quilômetros por hora, se sufocará
com o ar e o coração se lhe paralisará?"
Em outra ocasião, dirigindo-se a um amigo, declarou: "Foram
necessários doze pescadores indoutos para estabelecer o cristianismo. Eu
demonstrarei que um francês será suficiente para destruí-lo."
O mais irônico, entretanto, é que apesar dos seus intentos por
destruir o cristianismo, 25 anos após a sua morte, sua casa foi comprada
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 174
pela Sociedade Bíblica de Genebra, e transformada em depósito de
Bíblias.
No dia 12 de julho de 1791, três anos após a sua morte, seus restos
foram solenemente depositados no Panteão da República Francesa. Mas
se só os sábios e os heróis têm direito de estar ali, as afirmações ridículas
de Voltaire exigem que suas cinzas sejam removidas para tini local
menos ilustre e, em seu lugar, se impõe a presença de um exemplar das
Sagradas Escrituras com os comentários eruditos de Isaac Newton sobre
as profecias do Apocalipse.
Há alguns anos um conhecido teólogo apresentou a um público
heterogêneo suas convicções sobre as profecias bíblicas, salientando sua
crença na iminente intervenção de Cristo nos destinos do mundo.
Quando terminou o discurso, um ouvinte, com ares de afetada arrogância
o interpelou dizendo: "Não creio na possibilidade de que ocorra esta
intervenção sobrenatural em nosso planeta." E com evidente desdém,
aduziu: "Todas as coisas no mundo natural permanecem como sempre.
Poderia o Senhor apresentar evidências mais convincentes?" O
conferencista sem vacilações abriu a Bíblia e leu as palavras contidas na
Segunda Epístola de S. Pedro:
"Sabendo primeiro isto: que nos últimos dias virão escarnecedores,
andando segundo as suas próprias concupiscências, e dizendo: Onde
está a promessa da sua vinda? Porque desde que os pais dormiram
todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação. Eles
voluntariamente ignoram isto: que pela palavra de Deus já desde a
antiguidade existiram os céus e a terra, que foi tirada da água e no meio
da água subsiste." 1

Depois de haver lido com voz pausada e calma, voltando-se ao seu


interlocutor, afirmou sereno: "Sua desdenhosa incredulidade, de acordo
com esta profecia constitui uma eloqüente evidência de que aquele dia se
aproxima."
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 175
Nos Últimos Dias Aparecerão Zombadores

Com efeito, um dos sinais mais convincentes da volta de Cristo ao


mundo é o vaticínio feito pelo apóstolo S. Pedro, anunciando a atitude
militante dos escarnecedores nos últimos dias. É certo que eles sempre
existiram. Existiram nos dias de Noé, o fiel patriarca escolhido por Deus
para anunciar ao mundo o Dilúvio que haveria de destruir os ímpios.
Durante 120 anos, enquanto construía a arca, Noé proclamou o
juízo que haveria de se abater sobre o mundo. Alguns foram persuadidos
a aceitar as suas palavras de aviso, "mas tantos havia para galhofar e
ridicularizar" que eles foram afinal vencidos pelo mesmo espírito.
Muitos raciocinavam "que durante séculos as leis da Natureza
tinham estado fixas. As estações periódicas tinham vindo em sua ordem.
Até ali nunca havia caído a chuva; a terra era regada por uma neblina ou
orvalho. Os rios jamais haviam passado os seus limites... Imutáveis
decretos tinham impedido as águas de transbordarem". 2 Por que, pois,
haveriam eles de se preocupar com ai exortações de um pregador
maníaco?
Mas, indiferente ao desdém, à burla e o ridículo, Noé continuou
imperturbável sua tarefa profética, apregoando a mensagem de
advertência e salvação.
Afinal, de modo sobrenatural, Deus conduziu as aves e os animais,
mansos e ferozes, de dois em dois, em perfeita ordem, em direção à arca.
Noé e sua família também, em meio à zombaria de muitos, entraram na
arca onde se abrigaram da tragédia iminente. E quando a misericórdia
divina atingiu seu extremo, nuvens negras se espalharam pelo céu. Logo
as primeiras gotas de chuva começaram a cair e, consoante a narrativa
bíblica, "se romperam todas as fontes do grande abismo e as janelas do
céu se abriram", e a água desceu abundante como em caudalosas
cachoeiras. Os rios ultrapassaram seus limites e os vales e montanhas
foram inundados avassaladoramente, sepultando tragicamente uma
geração.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 176
Com efeito, os escarnecedores sempre existiram. Eles riram de Ló,
quando avisou aos habitantes de Sodoma que Deus haveria de destruir a
cidade com fogo e enxofre. Zombaram do profeta Jeremias, quando
predisse a queda de Jerusalém. Cobriram o profeta Amós de escárnio e
humilhações, quando anunciou o juízo que de forma inapelável cairia
sobre a nação impenitente. Mas, apesar do irreverente desdém dos
escarnecedores, os severos juízos anunciados encontraram seu trágico
cumprimento.
A presença irreverente dos zombadores se fez sentir também nos
dias de Cristo. "Um Deus nascido em uma rústica estalagem, abrigo de
animais?" "Gerado no ventre de uma virgem?" "Incrível! Biologicamente
impossível!" "Poderia algo digno de importância proceder de Nazaré?"
"Um Messias crucificado, ressuscitado e elevado aos Céus? Quem
poderia crer nestas coisas?"
Sim, os piedosos pastores de Belém, alguns sábios do Oriente e um
grupo de indoutos pescadores galileus, pela fé creram e viram o que os
sábios não perceberam.
Mas os escarnecedores, que com ares de suficiência própria
questionaram a divindade de Cristo e rejeitaram Seus ensinos, pereceram
em sua maioria na destruição de Jerusalém, no ano 70 DC, quando a
cidade foi sitiada pelo general Tito, e sucumbiu diante do assédio
romano. Milhares de habitantes morreram de fome ou vítimas da espada
implacável e cruel a serviço de César.
Transcorreram os séculos e chegamos à era dos computadores, dos
transplantes de órgãos do corpo humano e conquistas espaciais. Oitenta
por cento de todos os cientistas da História vivem em nossos dias. Em
sua maioria, entretanto, sob a influência dissolvente do naturalismo e
rendendo culto ao humanismo evolucionista, desprezam as tradições e os
valores cristãos, qualificando-os como "velharias medievais",
inaceitáveis neste século iluminado pela ciência e a tecnologia. Estes
moldadores da ciência e da filosofia contemporânea são
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 177
predominantemente escarnecedores, agindo exatamente como o apóstolo
S. Pedro antecipou.

Argumento Ilusório

Rejeitando a "bem-aventurada esperança", a intervenção de Cristo


nos destinos do mundo, com arrogante mordacidade interrogam: "Onde
está a promessa de Sua vinda? Porque desde que os pais dormiram, todas
as coisas permanecem como desde o princípio da criação." 3
Em seu esforço por negar validade à crença na volta de Cristo,
questionaram até mesmo o relato bíblico do Dilúvio, invocando o
argumento uniformitarista, hipótese segundo a qual se supõe que só
houve mudanças lentas e graduais na Natureza. Entretanto, a origem dos
combustíveis de origem fóssil – petróleo, carvão e o gás natural – seria
inexplicável se não tivéssemos em conta a grande convulsão da Natureza
que abalou a terra nos dias do dilúvio. A crosta terrestre é hoje um
imenso cemitério do mundo que então pereceu – plantas, animais e
homens. Ela constitui um testemunho mudo em favor da teoria
catastrofista de inspiração bíblica, que os burladores tentam desacreditar.

Em seu livro The Deluge Story in Stone (A História do Dilúvio em


Pedra), Byron Nelson refuta a teoria uniformitarista, dizendo:
"Os estratos fossilíferos proporcionam provas inequívocas de uma
grande catástrofe. A maneira como milhões de peixes foram sepultados
nas montanhas rochosas da Inglaterra, Escócia, Alemanha e Suíça; a
maneira como milhões de elefantes e rinocerontes estão sepultados no
Alasca, Sibéria, Inglaterra, Itália e Grécia; a maneira como milhares de
hipopótamos estão sepultados na Sicília; a maneira como milhões de
répteis estão enterrados no Canadá, Estados Unidos, América do Sul,
África e Austrália para mencionar somente uma parte destes exemplos,
requer para sua aclaração, a explicação que são as grandes catástrofes.
Muitos geólogos modernos, que bem conhecem os fatos, admitem a
possibilidade de catástrofes, porém insistem, sem provas, que não houve
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 178
relação entre elas e que aconteceram separadas por longos intervalos.
Perguntamos: Para que multiplicar as catástrofes quando uma só é
suficiente?" 4
Razão tinha o apóstolo quando anunciou que nos "últimos dias" os
homens ignorariam "voluntariamente" o Dilúvio, ao mesmo tempo que
escarneceriam da "promessa de Sua vinda". Rejeitando a idéia de uma
intervenção catastrófica no passado, com obstinação surpreendente
recusam-se a admitir a possibilidade de uma intervenção sobrenatural no
futuro.

O Misterioso Desaparecimento de Animais

A partir do Século XVIII, começaram a aparecer fósseis em muitos


lugares, suscitando entre os paleontologistas uma preocupação por
explicar o misterioso desaparecimento de tantas espécies de animais.
Na Sibéria furam encontrados os corpos de gigantescos mamutes
em perfeito estado de conservação, cobertos por imensas camadas de
gelo. Diversas escavações empreendidas na Europa, resultaram no
descobrimento do esqueleto de baleias de surpreendentes dimensões. Ao
se abrirem canais diversos na Holanda, Bélgica e Alemanha,
descobriram-se os restos de animais até então desconhecidos.
Na ilha da Sicília, no sul da Itália, foi encontrada uma caverna
repleta de ossos de animais, principalmente hipopótamos. Nos seis meses
que se seguiram a este insólito descobrimento, furam extraídas mais de
vinte toneladas de ossos estranhamente acumulados em um só lugar.
"Em 1876, em Ágata Springs, Nebraska, Estados Unidos, foi
encontrada acidentalmente em uma colina uma imensa área de ossos
fósseis. Calculam os paleontologistas que ali estão enterrados os ossos
ele mais de nove mil animais."
Esses descobrimentos despertaram um renovado interesse
científico, e muitos procuram agora encontrar uma explicação racional
para os fôsseis. Por que morreram os dinossauros? Foram mortos por
seres humanos? Pereceram como vítimas de alguma enfermidade? Como
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 179
foi possível que nas saliências mais elevadas dos Alpes se encontrassem
esqueletos de peixes e animais marinhos? A extinção desses animais
representa um dos enigmas mais significativos na história da
paleontologia.
"É difícil explicar a extinção simultânea de grandes tribos ele animais
tão diversos em sua relação e em seus hábitos de vida." 5
O paleontologista Edwin H. Colbert admitiu francamente o
problema, dizendo:
"A grande extinção que exterminou todos os dinossauros, grandes e
pequenos, em todas as partes do mundo e que, ao mesmo tempo,
produziu a extinção de outras espécies ... foi um dos acontecimentos
extraordinários na história da vida na Terra .. um acontecimento que
desafia toda tentativa de encontrar uma explicação satisfatória." 6
Descrevendo certas áreas do nordeste do Brasil, Euclides da Cunha
menciona lugares onde se encontram "enormes ossários de mastodontes,
cheios de vértebras desconjuntadas e partidas como se ali a vida fosse, de
chofre, salteada e extinta pelas energias revoltas de um cataclismo."
Como foram exterminados esses estranhos animais? Que força os
levou ao desaparecimento completo?
Há somente uma força na Natureza capaz de produzir tal tragédia, a
saber, a água. Que outro elemento poderia compelir esses animais a
subirem juntos, acossados, em enormes quantidades, feras e animais
dóceis, para o alto das montanhas, para logo depois serem enterrados de
forma desordenada em uma tumba comum? Que outra explicação
encontraríamos para os esqueletos de peixes petrificados nas encostas
rochosas de numerosas montanhas?
Sobre o assunto escreveu Sir Henry Howert:
"Há muitos anos, quando era ainda jovem, mantive correspondência
com Charles Darwin, sobre um tema que sempre me interessou: Como
explicar a existência de corpos de mamutes e outros animais
conservados íntegros nas regiões gélidas ela Sibéria, a catástrofe
demonstrada por estes esqueletos em diferentes partes do mundo e o
evidente abismo entre os restos destes animais, incluindo o homem
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 180
primitivo, e os restos de seres humanos posteriores, bem como os seus
animais?
"Darwin, da mesma maneira que outros que se debruçaram sobre
este mesmo problema, confessou-me que isso era para ele ainda o
grande mistério da geologia, para o qual não havia encontrado uma
explicação racional." 7
Embora incapazes de explicar cientificamente a presença dos
fósseis, com base em suas hipóteses uniformitaristas, rejeitam
desdenhosamente a narrativa bíblica do Dilúvio, qualificando-a como
uma página do folclore universal. E esses escarnecedores do Livro de
Deus ocupam hoje as cátedras de biologia, geologia e paleontologia de
quase todas as escolas e universidades. Eles seguem a senda fácil do
existencialismo filosófico, do humanismo ateu e do evolucionismo
natural. Apresentando aos seus alunos uma caricatura de Deus,
reduziram à categoria de mito a inspiração sobrenatural da Bíblia, a
criação do homem, o dilúvio universal, a divindade de Cristo e o dogma
de Sua segunda vinda ao mundo. Como resultado, temos hoje uma
ciência sem consciência e uma geração de cérebros eruditos e corações
selvagens.
Mas, o que mais surpreende é ver estas mesmas idéias socavando os
próprios fundamentos do cristianismo. Influentes teólogos e líderes
religiosos estimulam agora a interpretação naturalista do evangelho,
transformando-o em uma filosofia comum, distanciada da fé, incapaz de
resolver os problemas do homem e proporcionar-lhe paz e bem-estar
espiritual. Como resultado, vemos o cumprimento das palavras do
profeta Isaías: "Eis que as trevas cobrem a terra, e a escuridão os
povos."8
Eliminando o dilúvio bíblico como pretendem os uniformitaristas,
removemos um poderoso argumento em favor da segunda vinda de
Cristo. Mas, se o Dilúvio realmente ocorreu, concluímos que Deus julga
os pecadores e somos levados a aceitar como realidade inevitável o
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 181
cumprimento da promessa do Senhor que virá outra vez para "julgar os
vivos e os mortos, na Sua vinda e no Seu reino" (II Timóteo 4:1).

"Andando Segundo Suas Concupiscências"

Perdendo o Deus Criador, o Cristo, Salvador dos pecadores, e a


Bíblia, infalível Palavra inspirada, o homem perdeu também os Dez
Mandamentos, padrão eterno de moral e conduta, penhor de ordem e
condição indispensável para a paz e felicidade humanas.
Quão admirável é o testemunho da profecia! "... nos últimos dias,
virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências"
(II S. Pedro 3:3), afirmou o apóstolo. Não há dúvida de que assistimos a
uma acelerada decadência moral que parece tomar contornos alarmantes.
De um editorial publicado na revista Christianity Today, extraímos
os seguintes parágrafos:
"A explosão sexual, favorecida por uma corrente constante de
estímulos lascivos, verbais e visuais, em forma ele livros, revistas e
filmes, está levando uma geração a praticar relações sexuais que
transgridem a lei de Deus e criam problemas pessoais e sociais.
"A liberdade para que mulheres solteiras usem a pílula
(anticoncepcional) é promovida hoje com maior rigor que a importância
da castidade pré-marital. O homossexualismo é exaltado como uma
forma de vida socialmente aceitável, e isto não só por parte dos que
sofrem este desvio, mas também por parte de dirigentes da igreja e
assistentes sociais. Defende-se o adultério como prática saudável." 9
Rejeitando o Deus Criador, os mandamentos divinos perderam o
significado. Como resultado, cada um desenvolve seu próprio sistema de
valores morais. Os critérios para definir o que é certo e o que é incorreto
deixaram de ser os preceitos imutáveis legislados pelo Próprio Deus.
Até mesmo os púlpitos das igrejas não mais salientam a importância
dos Dez Mandamentos e sua aplicação universal e eterna. Seduzidos pelo
humanismo, influentes líderes religiosos proclamam com eloqüência as
virtudes de uma "nova moral".
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 182
John Robinson, o discutido bispo anglicano de Woolwich,
Inglaterra, é hoje um dos mais conhecidos intérpretes dessa nova ética.
Para ele os Dez Mandamentos "segundo a mitologia...foram dados a
Moisés no cume do Sinai".
Robinson representa uma geração de teólogos liberais
contemporâneos que, assumindo uma atitude desdenhosa, se esforçam
por destruir os antigos marcos da moral cristã. Tal destruição – declarou
o bispo – propiciaria a oportunidade de liberar-nos das "cadeias do
legalismo supernatural". Ou seja, devermos ignorar a letra do decálogo
recebido em forma sobrenatural no Sinai e formular os nossos próprios
critérios morais.
E assim, desprezando os preceitos divinos, o bispo anglicano foi
levado a declarar que "nada pode ser qualificado como intrinsecamente
errado". 10
Joseph Fletcher, professor da Faculdade Episcopal de Teologia de
Cambridge, Inglaterra, afinado no mesmo diapasão, declarou:
"Não podemos dogmatizar. Qualquer ato sexual (hétero, homo,
auto) em que alguém se empenha, dentro ou fora do matrimônio, será às
vezes bom e às vezes mau, dependendo das circunstâncias. ... A nova
moralidade... diria... que a moralidade de qualquer ato sexual deve ser
determinado por avaliação responsável dentro da situação, e não por
avaliações pré-fabricadas." 11
Nos dias de Cristo os sacerdotes se uniram aos escarnecedores
quando, dirigindo-se ao Nazareno, pendido na cruz, disseram: "Salvou os
outros, a Si mesmo não pode salvar-Se" (S. Mateus 27:42). O que eles
ignoravam era que Jesus não veio para salvar-Se a Si mesmo, mas para
salvar o mundo.
Muitos sacerdotes em nossos dias unem outra vez suas vozes ao
imenso coro dos zombadores, negando os aspectos sobrenaturais do
evangelho, ao mesmo tempo que proclamam a legitimidade de todos os
atos que atentam contra a lei de Deus e as normas da conduta social.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 183
Conhecendo-os em seus desvios e extravios, não nos surpreendemos
com a notícia publicada pelo influente Washington Post, em sua edição
de 15 de setembro de 1985, informando que 200 bispos da Igreja
Episcopal, reunidos em Anaheim, Califórnia, resolveram sem muitos
debates aceitar oficialmente sacerdotes homossexuais servindo a igreja.
Justificando o seu voto, o Reverendo George Regas, de Pasadena,
Califórnia, declarou que através dos anos a igreja tem sido beneficiada
pela presença de grandes líderes religiosos homossexuais.
O Reverendo Troy D. Perry, clérigo Pentecostal, pastor da Igreja
Metropolitana de Los Angeles (primeira igreja de homossexuais da
cidade), com satélites em Dallas, Phoenix, Filadélfia, Minneapolis e
Nova Iorque, promove em suas igrejas a causa dos sodomitas
defendendo como "legítimas" as demandas dos seus adeptos que desejam
ver este estilo de vida aprovado pela lei e sancionado pela sociedade. 12
"Andando segundo as suas próprias concupiscências"(II S. Pedro
3:3), sentenciou o inspirado pescador galileu. Poderíamos acaso
encontrar evidências mais eloqüentes do acerto das profecias do
apóstolo?

Os Escarnecedores e Seus Equívocos

Muitos são os que se deixam influenciar pela pressão demolidora


dos escarnecedores empenhados em calar a voz das minorias defensoras
da fé e da moral cristãs. Mas, de acordo com o testemunho da História,
as maiorias irreverentes nem sempre perfilaram ao lado da verdade.
Em 1842, quando Adam Thompson, de Cincinnati, Ohio, encheu de
água a primeira banheira nos Estados Unidos, foi criticado como
"responsável por uma invenção ridícula e perigosa". Ironizando o novo
invento, os médicos predisseram que a banheira haveria de precipitar
uma onda de reumatismos e inflamação pulmonar. As autoridades em
Filadélfia, Providence e Hartford, alarmadas com o novo invento e seus
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 184
"riscos" elaboraram leis regulamentando o seu uso. O tempo, entretanto,
se encarregou de demonstrar que as maiorias estavam enganadas.
Os jornalistas e membros do Congresso nos Estados Unidos, em sua
maioria, criticaram com extrema mordacidade o invento de Samuel
Morse. Hoje, porém, o sinal cadenciado do telégrafo é ouvido em todos
os quadrantes da terra. A maioria estava equivocada.
Quando na grande Exposição do Centenário, em Filadélfia, Estados
Unidos, em 1876, se exibiu pela primeira vez o telefone, seu inventor
Alexander Graham Bell foi qualificado pelas multidões como insano e
seu invento como uma idéia que não devia ser levada a sério. Mais uma
vez as multidões estavam erradas.
A idéia apresentada por George Westinghouse de controlar a
velocidade dos trens com o emprego do ar (os freios de ar Westinghouse)
foi considerada pelas maiorias como absurda e o seu autor acusado de
sofrer de alguma perturbação mental. Mas eles estavam evidentemente
enganados.
Charles Goodyear enfrentou o escárnio demolidor de todos, exceto
de sua esposa, enquanto empenhado na produção da borracha vulcanizada.
E agora o mundo inteiro desfruta os benefícios de sua invenção. As
maiorias escarnecedoras estavam outra vez equivocadas.
Robert Fulton ouviu somente palavras de desdém por parte dos que
o viram trabalhando em um barco a vapor. Seus planos foram qualificados
como "a loucura de Fulton". Ao longo da História, entretanto, milhares
de barcos a vapor sulcaram os mares em todas as direções. Os
zombadores estavam errados em suas conclusões.
Edward Jenner, que descobriu a vacina, foi vítima de uma
campanha orquestrada, cobrindo-o de afrontas e humilhações. Pessoas
respeitáveis afirmaram que Jenner estaria transmitindo á raça humana
todas as enfermidades dos animais. Mas, apesar da burla das multidões, a
varíola foi debelada. Jenner estava correto em suas conclusões, e as
multidões enganadas.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 185
Quando Santos Dumont começou a materializar seu sonho de
resolver o problema de dirigibilidade dos balões e, mais tarde, em
experiências dramáticas trocou o mais leve que o ar pelo mais pesado,
foi considerado pela opinião pública na Europa como irresponsável,
capaz de cometer qualquer desatino. Vendo, porém, os gigantescos
aviões que hoje cruzam o espaço, concluímos mais uma vez dizendo que
as multidões estavam equivocadas.
A presença dominante dos que, em nossos dias, na imprensa, nas
cátedras e nos púlpitos se empenham em ridicularizar as Escrituras
Sagradas, substituindo-as pelo evangelho da ciência, não nos deve
intimidar. Tentando silenciar o testemunho da Bíblia, oferecem hipóteses
carentes de sustentação científica que caem sob seu próprio peso.
Descobertas modernas e investigações conduzidas por eruditos
geólogos confirmam a autenticidade do relatório bíblico que descreve o
Dilúvio e nos permite afirmar sem sombra de dúvida, que os
uniforrnitaristas também estão equivocados.

Solene Exortação

Após denunciar a atitude irreverente dos que se valem do escárnio


para minimizar a importância do grande dogma da segunda vinda de
Cristo, e havendo denunciado esses burladores como escravos de paixões
inconfessáveis, o apóstolo dirige uma solene exortação:
"Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam
demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo
que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.
"Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus
passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão
abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão
atingidas."13
Ainda permanece vívida em nossa imaginação a tragédia do
afundamento do navio Andréa Dória. Oito dias antes ele havia deixado o
porto de Gênova, na Itália. Agora os clarões de Nova Iorque estavam
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 186
quase à vista. Muitos passageiros estavam assistindo a um filme. Outros
bailavam ao ritmo de uma pequena orquestra. Alguns se entretinham no
jogo de baralho. Poucos desfrutavam no convés o ar fresco da noite,
saturado de neblina. Alguns estavam dormindo.
Subitamente, sem aviso prévio, houve um solavanco, acompanhado
por uma explosão que encheu os corredores de poeira e fumaça. O
Stockholm, barco quebra-gelo, abalroou violentamente o estibordo do
Andréa Dória. De acordo com a revista Time (agosto de 1956), houve
um momento de pânico e desespero. Os corredores apinharam-se de
passageiros angustiados, com as suas bagagens. Senhoras idosas
agarradas aos seus terços, imploravam ajuda. Mulheres corriam com seus
filhos sobre o convés, gritando e chorando.
Não tardou para que o barco começasse a adernar perigosamente. A
mensagem de SOS ecoou angustiosa através dos ares, naquela noite
sinistra e prontamente quatro navios seguiram o rumo indicado para
prestar socorro à embarcação sinistrada. O hábil e dramático serviço de
salvamento que se seguiu, do qual participaram outros barcos e
helicópteros, passou para a História.
Na manhã seguinte, dia 26 de julho de 1956, às 10:09h, o Andréa
Dória submergiu, levando para as profundezas do oceano um sofisticado
equipamento, bem como vidas humanas.
Essa tragédia sugere algumas lições dignas de reflexão. O Andréa
Dória quase havia chegado ao destino quando naufragou. Todos estavam
seguros de que na manhã do dia seguinte chegariam ao Porto. Mas tal
não ocorreu. Passageiros e tripulantes foram sacudidos por
acontecimentos surpreendentes.
A vinda de Cristo será para a maioria um acontecimento inesperado.
Aquele dia, exorta o apóstolo, virá "como o ladrão... no qual os céus
passarão com estrepitoso estrondo" (II S. Pedro 3:9). Vivemos em um
tempo de grande significação profética. A Terra será em breve sacudida
por uma gigantesca explosão termonuclear, não detonada por mão
humana, mas controlada por Deus.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 187
Considerando a proximidade deste importante acontecimento, a
sabedoria divinamente inspirada nos exorta, dizendo: "Prepara-te... para
te encontrares com o teu Deus." 14

Referências:

1. II S. Pedro 3:3-5, Almeida Antiga.


2. E. G. White, Patriarcas e Profetas, págs. 96, 97.
3. S. Pedro 3:4.
4. Byron Nelson, The Deluge Story in Stone, pág 140.
5. Carl O. Dunbar, Historical Geology, pág. 348
6. Citado por W. W. Norton, em The Age of Reptiles, pág. 191.
7. Citado por Henrique Marcones, em "Rastos del Diluvio que
Pueden Ser Comprobados", Vida Feliz, dezembro de 1971, pág. 25.
8. Isaías 60:2.
9. Christianity Today, 1.º de março de 1986.
10. John A. T. Robinson, Honest to God, pág. 118.
11. Citado em O Atalaia, dezembro de 1973, pág. 6.
12. The Christian Century, 3 de março de 1971, pág. 283.
13. II S. Pedro 3:9 e 10.
14. Amós 4:12.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 188
INQUIETANTE MENSAGEM DE UM PRESIDIÁRIO

Existem centenas de incrédulos melancólicos em nossa igreja.


Demonstram em sua vida todas as virtudes cristãs, menos a fé. ...
Possivelmente durante séculos, o testemunho dos cristãos jamais se
revelou tão vacilante e inseguro como em nossos dias. – Bispo F.
Gerald Emsley

*Tempos Perigosos *Egoístas *Avarentos *Blasfemadores


*Desobedientes *Ingratos *Irreverentes *Desafeiçoados *Sem
Domínio de Si Cruéis *Amigos dos Prazeres *Forma de Piedade
*Esta é a Hora Apocalíptica

E ra um dia aprazível quando cheguei à cidade de Roma.


Visitava-a pela primeira vez. Suas tradições históricas, famosas
minas, monumentos arqueológicos e antigas igrejas com suas obras de
arte, constituem uma fascinação permanente para o sedento espírito de
um forasteiro.
Minha estada naquela cidade seria demasiado curta para um tão
extenso e ambicioso programa de visitas. E por isso sem detença, iniciei
uma exaustiva peregrinação, seguindo um roteiro cheio de atrações e
surpresas. Visitei a Plaza Venecia, o Capitólio, as ruínas do Fórum
Romano, o Arco de Tito, o Coliseu, as catacumbas de São Calisto, as
Basílicas de São Paulo e São João de Latrão, a Fonte de Trevi, o
Panteon, o Vaticano, a Basílica de São Pedro e a Capela Sistina. Andei
por suas ruas estreitas e sinuosas. Contemplei o estilo barroco de suas
edificações, símbolo de uma época de esplendor e fastígio. Vi algumas
de suas mais celebradas obras de arte, entre as quais o Moisés e a
Piedade de Miguel Ângelo e os famosos afrescos de Rafael, Leonardo da
Vinci e outros. E após percorrer diferentes e variados recantos históricos,
caminhei em direção à prisão Mamertina onde, segundo informações
tradicionais, o apóstolo São Paulo permaneceu confinado em seu
segundo encarceramento e de onde saiu para ser executado.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 189
Com emoção desci ao interior daquela sórdida enxovia, onde o
apóstolo, já alquebrado pela passagem inexorável dos anos, vítima da
crueldade e arbítrio dos poderosos, aguardava o martírio.
Nero, que então envergava a púrpura imperial, em arrancos de
loucura e perversidade, movia contra os seguidores de Cristo urna
perseguição inclemente e atroz; e não era provável que o mais destemido
apóstolo do cristianismo escapasse de suas mãos sanguinárias.
Encarcerado na prisão Mamertina, Paulo escreveu uma carta
dramática, a última que a sua pena produziu, a Segunda Epístola a
Timóteo, jovem pastor da igreja de Éfeso. Lendo-a, percebemos que o
apóstolo não mais alimentava ilusões sobre a sorte infausta que o
aguardava. E na expectativa dolorosa do seu martírio, escreveu: "Já estou
sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida
está próximo." 1
Sentindo sobre ele a sombra sinistra da espada de Nero, fazendo
balanço da vida, concluiu com um eloqüente testemunho de fé e
confiança em Deus: "Combati o bom combate, completei a carreira,
guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o
Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia." 2
Acariciando esta esperança, tombou, decapitado, o apóstolo das
nações, após haver prestado os mais relevantes e assinalados serviços à
causa do Nazareno. Suas obras, entretanto, malgrado a implacável
passagem do tempo, ainda permanecem.

Tempos Perigosos

Na sua última carta – precioso documento incorporado ao cânon das


Escrituras, – com as luzes da inspiração o apóstolo descreve o declínio
moral e espiritual que caracterizaria a sociedade nos "últimos dias". À
maneira de exortação, escreveu:
"Sabe, porém, isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis: Pois
os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes,
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 190
blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes.
Desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis,
inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, antes amigos dos
prazeres que amigos ele Deus, tendo forma ele piedade, negando-lhe,
entretanto, o poder. Foge também destes." 3
Este evidentemente não é um quadro alentador. O apóstolo
apresenta uma sombria lista de pecados que identificariam os dias que
antecederiam a segunda vinda de Cristo ao mundo.
Não ignoramos o fato de que esses pecados sempre existiram ao
longo da História. Em épocas tão remotas como os dias que precederam
o Dilúvio, já "a maldade do homem se havia multiplicado na Terra, e que
era mau continuamente... todo desígnio do seu coração". 4
"Nos dias em que Jesus viveu neste mundo "todos os meios para
depravar a alma elos homens haviam sido postos em operação. ... Os
sentidos, os nervos, as paixões, os órgãos elos homens eram por
agentes sobrenaturais levados a condescender com a concupiscência
mais vil. O próprio selo dos demônios se achava impresso ira fisionomia
elos homens". 5
De acordo com as palavras do apóstolo, este estado de coisas,
entretanto, se agravaria nos últimos dias. Olhando-se às afirmações de
destacados líderes religiosos que anunciam o gradual triunfo da
civilização sobre as forças da impiedade, São Paulo, como arauto de
Deus, declarou: "Mas os homens perversos e impostores irão de mal a
pior, enganando e sendo enganados" (II Timóteo 3:13). Assim, pois,
embora a presença do mal não seja uma característica exclusiva do
mundo contemporâneo, seu agravamento se enquadra dentro do conjunto
de predições de origem divina, identificando a nossa época como o
capítulo final na história do mundo.

Egoístas

Há alguns anos vários periodistas do "Paris Pressé" organizaram um


falso acidente de automóvel em uma movimentada auto-estrada. Durante
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 191
42 minutos, passaram ao lado do acidente simulado, sem se deter, 51
veículos de diferentes marcas. Não revelaram qualquer preocupação em
ajudar as supostas vítimas, que simulavam estar feridas ou mortas.
Finalmente, o motorista de um caminhão se deteve, motivado pelo
desejo de socorrer os feridos.
Quanta insensibilidade! Quanto necessitamos cultivar o espírito do
"bom samaritano" em um mundo embrutecido pelo egoísmo!
Em uma madrugada fria, pouco depois das três horas, numa das
ruas de Queens, tranqüilo bairro de Nova Iorque, Catarina Genovese,
jovem de 28 anos, foi assassinada por um louco homicida.
Catarina era gerente de um restaurante e bastante conhecida por
seus vizinhos. Naquela noite voltava do trabalho às três horas da manhã,
em seu automóvel. Após estacioná-lo, a aproximadamente 100 metros da
casa, caminhou em direção ao seu apartamento. Era o fim do inverno e
as árvores, com seus galhos desnudos, lançavam sobre a calçada uma
sombra incompleta. Repentinamente, em meio à escuridão da noite, ela
identificou um vulto que se movia em sua direção. Desconfiada,
apressou o passo, desviando o seu caminho para não cruzar com o
estranho. Este, entretanto, conseguiu alcançá-la e a ameaçou com uma
faca. Dominada pelo temor Catarina rompeu o silêncio da madrugada
com um angustioso grito de socorro.
Imediatamente algumas janelas se iluminaram, levando, talvez, uma
centelha de esperança ao angustiado coração de Catarina. Por trás das
janelas, os vizinhos observaram aquela cena de violência. Na rua, o
celerado, em rápidos movimentos, impedia a fuga de Catarina, que, em
desespero, repetia o grito de dor: "Acudam, fui apunhalada." Catarina
conseguiu desvencilhar-se, fugindo, mas o homem a perseguiu outra vez.
As luzes por trás das janelas começaram a se apagar. A jovem, esvaindo-
se em sangue, correu desordenadamente em direção à sua casa. O
assassino, porém, conseguiu interceptar outra vez os seus passas
golpeando-a novamente. Outro grito de angústia se ouviu naquela
madrugada escura: "Ajudem-me, estou morrendo." As luzes voltaram a
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 192
brilhar nas janelas de inúmeras casas daquela rua. O criminoso deixou-a
e, tomando um auto, desapareceu.
Catarina estava caída, banhada em sangue, quando passou por perto
um coletivo com todas as luzes acesas. Eram três horas e 35 minutos.
Vítima de sucessivos golpes, Catarina tentou arrastar-se, num
esforço desesperado por chegar à sua casa, a uns trinta metros distante.
Este esforço extenuante foi interrompido pelo retorno do insano que
voltou a golpeá-la pela última vez. Ela não mais gritou. Eram exatamente
3 horas e 45 minutos. As luzes se filtravam discretamente pelas
venezianas das janelas silenciosas e fechadas e Catarina estava morta.
Alguns dias depois foi preso Winston Mosely, de 29 anos, que
confessou, além desse crime, o assassínio de outras duas mulheres,
manifestando no interrogatório sinais evidentes de distúrbio psíquico.
Por que recordamos um homicídio ocorrido há vários anos? Porque
por trás desse delito brutal há um outro crime inqualificável – o crime do
silêncio.
Durante meia hora, esclareceram as autoridades, 38 pessoas
assistiram em silêncio e inativas, ao assassínio de uma mulher. Qualquer
iniciativa que os vizinhos tomassem, teria evitado possivelmente a
consumação do crime, pois a polícia tinha condições de estar no local em
poucos minutos.
Sim, 38 pessoas que desfrutavam uma existência economicamente
estável, razoavelmente educadas, nada fizeram para impedir um
monstruoso homicídio ocorrido debaixo de suas janelas. A morte de
Catarina Genovese traduz a indiferença de uma geração enclausurada na
torre de marfim do seu egoísmo, indiferente às angústias humanas.
Cenas como essa se tornam cada vez mais comuns em nossos dias.
Sociólogos e psicólogos afirmam que o homem moderno, embora
vivendo em grandes aglomerados urbanos, isola-se cada vez mais dentro
dos muros de seu egocentrismo, sem atentar para as crescentes
necessidades dos seus semelhantes.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 193
"Se abrires a tua alma ao faminto'' – exortam as Escrituras – "e
fartares a alma aflita, então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão
será como o meio-dia'' (Isaías 58:10). Que promessa alentadora!

Avarentos

Ao incluir os avarentos em sua lista sombria, o apóstolo tinha em


mente exprobrar os que se deixam atrair pela filosofia materialista do
dinheiro, erigindo-o como o deus todo-poderoso deste século.
Este pecado que parece tão inofensivo é catalogado nas Escrituras
Sagradas como corrosivo e destruidor. Tangido pela ganância, Judas
vendeu seu Mestre por 30 moedas de prata. Percebeu, porém, com
remorso e angústia, a insensatez de sua vergonhosa transação. Após
haver atirado aos pés de Caifás, presidente do tribunal, as manchadas
moedas de prata com as quais vendeu a Cristo, torturado por um enorme
sentimento de culpa, retirou-se e se enforcou.
O mesmo pecado, que levou Judas à ruína, está destruindo os
fundamentos da estrutura social contemporânea. Ele é responsável pelos
grandes assaltos, escândalos financeiros, sonegação de impostos, evasão
fiscal, contas clandestinas em bancos suíços e acumulação ilícita de
capitais. Tangidos pela avareza, homens inescrupulosos patrocinam o
hediondo comércio das drogas, promovem o jogo, a pornografia e a
prostituição; e exploram seus empregados pagando-lhes salários vis.
É a avareza que inspira o vendedor de leite a adicionar-lhe água
para ampliar os seus lucros, que induz o advogado a proceder
enganosamente para ganhar uma causa, e ao médico a realizar
intervenções cirúrgicas desnecessárias para aumentar o seu saldo
bancário.
Essa filosofia materialista gerou uma sociedade de monstros para os
quais a moral cristã não passa de um ideal ultrapassado.
São atribuídas a Carlos Kingsley as seguintes palavras:
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 194
"Se você quiser viver miseravelmente, pense somente em si, pense
no que precisa, no que gosta e no respeito e atenção que você quer que
outros lhe dêem – e então para você nada lhe será puro. Você estragará
tudo quanto suas mãos tocarem. Você extrairá apenas miséria e
desencanto de tudo quanto há ele bom. Você será tão infeliz quanto e
como quiser." 6

Blasfemadores

"Onde está Deus?... Nós o assassinamos, vós e eu." – Escreveu


Nietzche (1844-1900), o filósofo insano que influenciou uma geração.
"Todos somos assassinos" – acrescentou Nietzche. "Mas, como
conseguimos fazer isso?... Acaso não ouvimos o ruído dos coveiros que
levam Deus à sepultura? ... Deus morreu! Deus permanecerá morto! E
nós o assassinamos!... Quem levará a mancha deste sangue? Com que
água nos purificaremos? Que festas expiatórias, que jogos sagrados
teremos que inventar? Não é demasiado grande para nós a magnitude
deste ato?" 7
Horrorizamo-nos diante de tão insolente blasfêmia! Surpreendemo-
nos, entretanto, ao vê-la repetida por teólogos contemporâneos.
Essa blasfêmia, proclamada em nossos dias por T. J. Alitzer, W.
Hamilton, Paul Van Buren e outros, ensina que já não podemos crer em
Deus como pessoa, nem mesmo no Deus descrito no Antigo Testamento,
a quem qualificam como sanguinário e cruel, que permite e Se compraz
nas aflições e sofrimentos humanos. Desejam outra divindade, impessoal,
abstrata, talvez indefinida. Além disso, humanizaram a Cristo, criticando
"sua covardia e incapacidade para evitar que o crucificassem".
Esses "teólogos" sensacionalistas beberam suas blasfêmias nos
escritos de Nietzche e nos ensinos filosóficos de Heidegger, Sartre e
outros, colaborando com suas idéias no debilitamento e decadência do
cristianismo.
Mas as tendências sacrílegas não se limitam à teologia. Elas
invadem agora a literatura, a música popular e até mesmo a educação.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 195
Sua presença acintosa é vista nos quadros nus de "amor" profanando os
altares de igrejas liberais e na decoração iconoclasta dos santuários
dedicados a Deus.
Há alguns anos a justiça britânica condenou a Denis Lemon, editor
da revista Gay News, homossexual confesso, a nove meses de prisão, por
haver blasfemado contra Deus. No caso, por haver publicado o poema
intitulado "O Amor que Ousa Dizer seu Nome", no qual James Kirkup
descreve Jesus Cristo como "autêntico homossexual".
Se todos os que blasfemam contra Deus fossem condenados pela
justiça, veríamos a população carcerária multiplicar-se em forma
explosiva, precipitando um problema maiúsculo em nosso sistema
penitenciário.

Desobedientes

Os adolescentes de nossos dias podem ser católicos, protestantes,


ou judeus; pacifistas ou violentos; superficiais ou profundos. Uma coisa
é certa: em grande número arrancaram de seu dicionário a palavra
obediência e substituíram-na por independência.
Ignorando os valores morais e os padrões estéticos, unem-se em
manifestações de protesto, animados pelo afã de destruir a ordem
estabelecida.
Esse espírito contestatório que tanto empolga a juventude em
nossos dias, não conhece fronteiras geográficas ou bandeiras nacionais.
Ele se manifesta em todos os continentes. Sua presença inquietante é
vista em quase todas as nações.
Quem ainda não ouviu falar dos hippies e sua extravagante filosofia
de vida? Quem não conhece os "wagumps", os "Mods and Rockers", os
"Yuppies", os "Drops Outs", os "Beatniks", os "Punks", e outros
movimentos afins, onde jovens, após romper com a sociedade
estabelecida, passam a viver em promiscuidade tribal, buscando em
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 196
experiências psicodélicas um escapismo para suas neuroses e
desventuras?
Que desejam os jovens que não respeitam as leis vigentes e
desprezam o princípio de autoridade? Eles desejam destruir a ordem
estabelecida, porém não sabem em que base, ou sobre que fundamentos
poderão construir sua nova utopia.
São o produto inevitável de lares destituídos de disciplina, de
escolas que instruem, mas não educam, de universidades que questionam
os valores transcendentes, que classificam a Bíblia como piedosa relíquia
do cristianismo, irrelevante nesta era de ciência e tecnologia.
O lar em crise é responsável pela presença de crianças carentes de
amor e de uma juventude iracunda, ansiosa por esvaziar o copo do
prazer. Por isso abundam os rebeldes sem causa, os que se insurgem
contra o lar, a escola, a igreja e os tribunais.
E essa rebelião amplia o abismo separando duas gerações. Se não
voltarmos a viver em harmonia com as Sagradas Escrituras, veremos a
situação agravar-se.
Este estado de coisas nos leva à conclusão de que vivemos nos
"últimos dias", dos quais escreveu o apóstolo Paulo, há quase dois mil
anos: "desobedientes aos pais e mães".

Ingratos

Embora haja no calendário um dia consagrado às Ações de Graças,


muitos são os que, embrutecidos pelo materialismo, qual vulcão ativo,
lançam continuamente sobre outros as lavas inflamadas do egoísmo,
desprezo e ingratidão.
Multiplicam-se em nossos dias os filhos sem o menor sentimento de
gratidão para com os seus maiores, por aqueles que estão sempre prontos
a tudo renunciar, tendo em vista o seu bem-estar. Pessoas que tudo
fazem para ajudar aqueles que estão em situação angustiosa, recebem
não raro, em troca, um gesto de desprezo e ingratidão.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 197
Deus nos outorga constantemente dádivas preciosas, mas poucos
são os que se detêm para refletir de forma agradecida sobre as bênçãos
que o Senhor tão generosamente lhes concede. Poucos são os que, como
Michel Quoist, se lembram de dizer:
Obrigado, Senhor, pelos meus braços perfeitos
Quando há tantos mutilados.
Pelos meus olhos perfeitos
Quando há tantos sem luz.
Pela minha voz que canta
Quando tantas emudeceram.
Pelas minhas mãos que trabalham
Quando tantas mendigam.
É maravilhoso, Senhor, ter um lar para voltar;
Há tanta gente que não tem para onde ir.
É maravilhoso, Senhor, sorrir, amar, sonhar;
Há tantos que choram,
Tantos que se odeiam,
Tantos que se revolvem em pesadelos,
Tantos que morrem antes de nascer.
É maravilhoso, Senhor, sobretudo, ter tão pouco
a pedir e tanto para agradecer.

Dentre as grandiosas dádivas de Deus ao homem, nenhuma se


compara à de Seu próprio Filho. "Porque Deus amou ao imundo de tal
maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que nEle crê não
pereça, mas tenha a vida eterna." 8
Porém, quantos Lhe têm sido gratos por esse dom inefável?
Nenhuma ingratidão é mais injusta que a do homem para com Deus.

Irreverentes

A irreverência que sempre caracterizou a vida dos céticos e


agnósticos invade agora com surpreendente audácia os redutos religiosos,
profanando áreas conhecidas outrora por suas tradições conservadoras.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 198
Há alguns anos em Paris, o padre De Fatte, um aficionado do jazz
foi acusado de "jazzificar" a missa ao introduzir em seu ritual litúrgico os
ritmos cadenciados da música sensual. De Fatte respondeu "que se
desejamos sinceramente comunicar a mensagem do cristianismo à
juventude, devemos apelar ao jazz e sua linguagem internacional." (Sic)
Marcelo Castro preparou uma gravação intitulada "catequizando
com ritmo"; tango, milonga, bolero, "twist" e "surf", são alguns dos
ritmos com conteúdo religioso, interpretado por sacerdotes e freiras de
diferentes congregações.
Essas tendências liberalizantes no seio do catolicismo produzem
reações exacerbadas entre os que defendem uma linha tradicional
ortodoxa, ameaçando fraturar a unidade da igreja.
Em um culto ecumênico celebrado na capela da Universidade de
Stanford, Califórnia, Tina Bernal, jovem freira de 23 anos, levantou-se
subitamente no corredor central do santuário e começou a dançar diante
do altar na presença de 1.400 católicos e protestantes ali reunidos. A
Irmã Bernal declarou ser "a dança a unidade do homem em ação diante
de Deus. Sou uma comunidade quando danço", concluiu.
Na "Velha Igreja do Sul", na cidade de Boston, os jovens bailam
nos corredores do santuário, em um culto protestante patrocinado por
Eugênio Langevin, graduado na Faculdade de teologia da Universidade
de Harvard, que expressou o desejo de interpretar os conceitos cristãos
tradicionais na linguagem rítmica da música.
Essas inovações profanas e irreverentes, que se generalizam em
nossos dias, foram condenadas acerbamente pelo diário El Plata, de
Montevidéu, com as seguintes palavras:
"Devemos qualificar como fora de lugar a elementar falta de respeito
... a idéia de levar a um templo a música leviana e superficial própria de
uma geração excêntrica que se apraz em perturbar-nos com os seus
alaridos e surpreender-nos com sua contorções". 9
Testemunhando a irreverência incentivada por líderes religiosos,
não nos surpreende a arrogante declaração feita por John Lenon, ex-
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 199
integrante dos Beatles, quando afirmou serem eles mais populares que
Jesus Cristo.

Desafeiçoados

Houve tempos em que a maternidade era o símbolo do desvelo e


amor. Hoje vemos mães irresponsáveis, carentes de afeto natural,
abandonando filhos e esposos, para desfrutar o afeto ilícito de terceiros.
Pais levianos, atraídos pelo canto sensual de sereias sedutoras,
abandonam o lar, deixando os filhos e a esposa à deriva, sem amparo,
entregues á própria sorte.
E como conseqüência, vemos aumentar constantemente o número
dos jovens desajustados e inseguros, que se deixam envolver nas malhas
atraentes do vicio, instabilidade emocional e anarquia moral.
Um dos desejos mais fortes entretecido na contextura humana é o
amor pelo sexo oposto. Deus nos deu este impulso tendo em vista a
reprodução da espécie. Vemos, entretanto, entre muitos, a substituição
deste afeto natural por uma atração lasciva entre pessoas do mesmo sexo.
O homossexualismo e o lesbianismo assumem agora características
epidêmicas.
"Aceita este homem como o seu esposo?" – é a pergunta suscitada
com freqüência pelo arcebispo Robert Clement, ou pelo vigário Richard
Arthur, ao oficiar o casamento entre homossexuais, em uma igreja
católica não reconhecida pelo Vaticano, na cidade de Nova Iorque.
Algumas vezes, nessa mesma igreja, entre celebrações festivas,
unem-se mulheres nos laços do casamento.
O arcebispo Clement, "casado" com o vigário Arthur, celebra
missas diárias, na presença de centenas de "fiéis" homossexuais,
concluindo o ritual litúrgico com um "beijo terno" diante dos
comungantes. Assombramo-nos com esta imunda concupiscência?
"Há na cidade de São Francisco, Califórnia, "nada menos que 90 mil
indivíduos homossexuais, provavelmente a metade dos quais são
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 200
homens. Devemos recordar que a população de São Francisco é de
aproximadamente 750 mil habitantes. Em Nova Iorque os cálculos
elevam o número de homossexuais à cifra de 600 mil e este número
parece crescer continuamente." 10
Em muitos países o homossexualismo levanta sua repugnante
cabeça para reivindicar leis que regulamentem esse estilo de vida como
moralmente lícito.
E assim, com surpresa e espanto, acompanhamos o cumprimento
das predições do apóstolo que, entre outras coisas, anunciou o
desvirtuamento do amor natural como sinal dos últimos dias.

Sem Domínio de Si

Nos dias do apóstolo os romanos se deixaram dominar por três


grandes pecados: a gula, a embriaguez e a imoralidade. Como escravos
de apetites corrompidos, cavaram as suas tumbas com os próprios
dentes; entorpeceram a mente com as libações alcoólicas e aviltaram o
corpo com concessões ilegítimas.
Que diremos da sociedade em nossos dias? A indulgência do apetite
constitui o deus cultuado por multidões intemperantes que fazem dos
restaurantes o seu santuário e da abundância o seu credo indiscutido.
Como resultado, a faca, o garfo e a colher se transformaram nas armas
mais perigosas, ameaçando uma geração.
Como nos dias de Paulo, a embriaguez constitui uma das grandes
tragédias de nossos dias. Quase todos os assassinatos, assaltos, estupros,
divórcios e acidentes de trânsito têm suas origens na taça do álcool.
Mas apesar dos efeitos devastadores da bebida, ouvimos com
freqüência vozes insensatas advogando o alcoolismo moderado, o
"alcoolismo social". Sabemos, porém, que esta é a escola que prepara
homens e mulheres para uma carreira de vício e embriaguez.
Motoristas, sob a ação do álcool, são responsáveis pela metade das
tragédias ocorridas nas rodovias dos Estados Unidos. Eles provocam
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 201
anualmente uma média de 18 mil mortes. Isto equivale à morte de
aproximadamente 110 passageiros em 250 desastres sucessivos de avião.
Os dados estatísticos da penitenciária de São Paulo mostram que
99% dos crimes perpetrados nos domingos, foram cometidos sob a
influência do álcool.
As bebidas espirituosas ocupam atualmente o terceiro lugar no que
diz respeito ao índice de mortalidade nas grandes nações; os outros dois
fatores que provocam mais mortes que o alcoolismo são as enfermidades
cardíacas e o câncer.
A que se devem tantas tragédias e tão elevados índices de
delinqüência e mortalidade? Ao espírito incontinente de uma geração
torturada pela angústia, escrava de seus próprios vícios.
A incontinência sexual derrubou as barreiras da moral cristã. Os
diques se abriram para a penetração de um dilúvio de literatura sexual.
As normas morais desceram vertiginosamente no tobogã do liberalismo;
a "velha moral" foi rapidamente suplantada por uma "nova moral"
evidentemente imoral.
Agora as experiências sexuais pré-maritais são estimuladas, as
manifestações sexuais extraconjugais consideradas como legítimas e
necessárias, e os adolescentes "liberados" dos velhos tabus.
E quais os resultados? A inquietante escalada do vício, o colapso
moral da sociedade e a desintegração da família. Os conflitos no lar se
intensificam, os divórcios se multiplicam e os problemas sociais se
agravam. Eis as conseqüências do espírito incontinente que caracteriza
esta geração.

Cruéis

O tributo cobrado pela Segunda Guerra Mundial foi demasiado alto.


Nas guerras anteriores eram os soldados que morriam em maior número.
Mas no último conflito mundial foram os civis que mais sofreram os
horrores da confrontação bélica.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 202
Informam as estatísticas que dezesseis milhões e novecentos e trinta
e três mil soldados morreram nos campos de combate, e trinta e quatro
milhões e trezentos e cinco mil civis pereceram vítimas das ações
militares. Estes números descrevem com eloqüência a tragédia da guerra
e suas cruéis conseqüências.
Um velho canibal, em uma das ilhas do Pacífico, tendo ouvido falar
nos milhões que morreram vítimas da guerra, expressou sua curiosidade
sobre a maneira como os europeus conseguiram comer quantidades tão
enormes de carne humana. Quando lhe foi dito que os brancos não
comem a carne dos mortos, no rosto do canibal se manifestou uma
expressão de surpresa, e perguntou que classe de selvagens eram esses
que matavam sem nenhum propósito útil.
Dachau, Auschwitz, Biafra e Camboja marcaram tristemente a
história deste século. Páginas escuras da história da estupidez humana!
Dramas de crueldade, intolerância e ódio que custaram a vida de milhões
de seres humanos!
Como explicar os famigerados campos de concentração e suas
câmaras de gases em pleno Século XX? Como justificar o genocídio de
povos inteiros ou a lentidão em ajudar as vítimas da fome e do
pauperismo? Que podemos dizer da execução selvagem e sistemática de
inocentes reféns nesta era de transplantes cardíacos e conquistas
espaciais?
"Pula! Pula! Pula!" – gritavam em coro quase duas mil vozes. No
alto da torre de televisão da estação da cidade, em Fortaleza, Ceará,
estava um jovem magro, pobremente vestido, ameaçando lançar-se no
vazio." Pula, covarde", repetiam em estribilho uns vinte alunos de uma
escola que àquela hora se dirigiam para as aulas e não queriam perder o
espetáculo.
Era uma cena desoladora e cruel. Centenas de vozes se uniram em
um coro satânico, animando o jovem João Batista Pereira a se suicidar.
"Bastava a multidão se unir gritando, não pule, vamos lutar e
viver", declarou o psiquiatra Wandic Ponte, e o suicídio não se
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 203
consumaria. Mas João Batista Pereira se suicidou aplaudido por uma
multidão integrada por homens, mulheres e até crianças, desalmados,
insensíveis e cruéis.
Essas realidades brutais sacodem a consciência e nos obrigam a
pensar. E em nossas reflexões, recordamos que a natureza humana é
perversa e cruel e que a desumanidade do homem para com o homem
constitui o nosso maior problema.

Amigos dos Prazeres

De acordo com uma estatística recentemente publicada por uma


conhecida organização, os norte-americanos gastam anualmente 20
bilhões de dólares em esportes e diversões, 70 bilhões em jogos de azar,
28 bilhões em bebidas alcoólicas e cigarros e somente 8 bilhões são
dados para fins religiosos.
Há algo de errado na filosofia de um povo que gasta anualmente
118 bilhões de dólares em esportes e vícios e tão pouco para causas
religiosas. Quão oportunas se nos afiguram as palavras do apóstolo,
"mais amigos dos deleites que amigos de Deus"!
Certamente o mesmo fenômeno ocorre nos demais países do
mundo. Em gigantescos estádios e elegantes hipódromos – modernos
santuários – reúnem-se semanalmente os adoradores das corridas hípicas
e das disputas esportivas.
Nos países onde impera o pauperismo, a pobreza absoluta, muitos
sacrificam a alimentação e outras necessidades básicas, piara comprar o
ingresso ao estádio e aplaudir seu clube favorito.
O homem moderno vive como os antigos romanos. Tem ao seu
alcance todos os prazeres imagináveis e deles abusa até enfastiar-se. E
então, descobre que "o júbilo dos perversos é breve, e a alegria dos
ímpios momentânea". Jó 20:5.

Em o Futuro do Homem, Teilhard de Chardin escreveu:


ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 204
"O grande inimigo do homem moderno, seu 'Inimigo Público Número
Um' é o aborrecimento, o tédio.. Quero repetir: a despeito de todas as
aparências, a humanidade está entediada. Talvez essa seja a causa
principal de todos os nossos problemas. Não sabemos mais o que fazer
conosco." 11
A frenética busca de prazer como remédio contra o tédio, e a
diminuição de interesse na religião e em Deus, revelam a veracidade da
profecia bíblica que indica a proximidade do grande evento anunciado
pelos antigos videntes – a segunda vinda de Cristo.

Forma de Piedade

Um cientista social descreveu a situação religiosa em nossos dias,


dizendo:
"Edificamos templos e igrejas, mas nelas não há culto; alugamos
conselheiros espirituais, mas recusamos ouvi-los; compramos Bíblias,
mas não as lemos; crendo em Deus, não O tememos." E o que é mais
sério, mais significativo – a maioria dos cristãos "não espera que suas
igrejas remedeiem a situação." 12
Torna-se cada vez mais evidente que as igrejas se
institucionalizaram e se perderam, impotentes em um labirinto de
formas, ritos e cerimônias. Conseguem muitas vezes influenciar os
parlamentos na formulação de leis, mas falta-lhes poder para apresentar
ao mundo o poder redentor do evangelho.
"Estou à procura de Cristo e não O encontro " – exclamou o Padre
Sérgio Zanella, em um dramático desabafo. "Quanto mais entro nos
meios eclesiásticos, mais me perco e vejo menos possibilidades de
encontrar a Cristo. Onde estará Ele? Onde Se escondeu? Se alguém O
encontrou, venha depressa avisar-me, não com a boca nem com a
palavra, mas com a vida e suas manifestações." 13
Em sua entrevista concedida à revista O Cruzeiro, o Padre Zanella
acrescentou:
"Estou cansado de ver tanta falsidade nos meios eclesiásticos. E o
que mais sinto, é que, no fundo, confundo-me torno-me também um falso.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 205
Até certo ponto, vejo a possibilidade da Igreja institucionalizada
encontrar-se com a real e verdadeira mensagem de Cristo." 14
Na lista de males enumerada na epístola a Timóteo, o autor
denuncia os que fazem profissão de cristianismo, mas não revelam em
sua vida os frutos de uma vida transformada pelo poder do evangelho.
"Tendo forma de piedade", mostram-se destituídos de poder.

Esta é a Hora Apocalíptica

Qual deve ser a nossa atitude ao analisar as misérias do mundo à luz


das palavras do apóstolo Paulo? Deixaremos nos abater pelo
pessimismo? Permitiremos que a angústia nos quebrante o coração? Não,
de maneira alguma. Em primeiro lugar devemos fortalecer a nossa
confiança na Palavra de Deus ao ver o fiel cumprimento das profecias
bíblicas. Mas, sobretudo, devemos firmar a nossa fé em Cristo, que nos
exortou, dizendo:
"Ora, ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a
vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima." 15
Esta não é hora para temores e incertezas. Esta é a hora de crer em
Deus e em Seus soberanos desígnios. Esta é a hora apocalíptica na qual
se decidirá o destino eterno do mundo e dos homens.

Referências:

1. II Timóteo 4:6.
2. II Timóteo 4:7 e 8.
3. II Timóteo 3:1-5.
4. Gênesis 6:7.
5. E G. White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 36.
6. Citado por Billy Graham em Os Sete Pecados Mortais, págs. 77
e 78.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 206
7. Citado por Marc Boegner em Deus, o Eterno Tormento dos
Homens, pág. 14.
8. S. João 3:16.
9. El Plata, Montevidéu, 12 de dezembro de 1967.
10. Fernando Chaij, El Dilema del Hombre, pág. 91.
11. Citado por Billy Graham em O Mundo em Chamas, pág. 246.
12. Folheto Série VA, n.º 41: Três Mensagens Divinas de
Advertência, págs. 1 e 2.
13. Idem.
14. S. Lucas 21:28.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 207
SERÁ O MUNDO DOMINADO POR UMA NAÇÃO?

Alexandre, César, Carlos Magno e eu fundamos impérios; mas, em


que se apóiam estas criações do nosso gênio? ... Na força bruta. Jesus,
porém, fundou o Seu reino sobre o amor e até hoje milhões têm
morrido por Ele. – Napoleão.

*Um Sonho Perturbador *Dois Mil e Quinhentos Anos de História


*Babilônia *Os Medos e Persas *A Grécia *Roma *Um Reino
Dividido *Mistura de Semente Humana *O Quinto Reino
Universal

Conta uma antiga lenda árabe que o príncipe Zamire, ao suceder o


pai no trono persa, pediu aos sábios do reino que escrevessem a história
do mundo para que ele, como monarca, pudesse conhecer bem o passado.
Depois de vinte anos de exaustivo labor, os sábios voltaram à
presença do rei, transportando em doze camelos, seis mil volumes de
historia. Mas perplexo, o rei lhes disse: "– Ainda que vivesse muitos
anos e os ocupasse lendo esses volumes, não me seria possível assimilar
tudo isso. Por favor, abreviem" – ordenou o rei.
Transcorreram mais vinte anos e os sábios regressaram trazendo no
corpo a ação devastadora dos anos. Transportavam em três elefantes, mil
e quinhentos volumes.
– Meus cabelos se tomaram brancos e os meus olhos se
enfraqueceram – declarou o monarca. – Abreviem um pouco mais a
história – solicitou com sua voz cansada.
Dez anos mais tarde, voltaram só uns poucos e encanecidos sábios,
transportando num elefante, quinhentos volumes.
– Estou no crepúsculo da vida – sentenciou o rei. – Abreviem a
historia – voltou a insistir.
Cinco anos depois, dois sábios trôpegos, apoiados em bordões,
voltaram ao palácio, tangendo um jumento transportando um só volume.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 208
Entristecidos, entretanto, souberam que o rei havia falecido. Morreu sem
conhecer a historia que eles condensaram.
Neste capítulo analisaremos 25 séculos de História, condensados
em 222 palavras. Mas, antes de introduzir esta síntese do passado, cabe a
apresentação de alguns fatos preliminares.

Um Sonho Perturbador

Encontramos na literatura sagrada uma fascinante narrativa que


encerra lições de sabedoria para os estadistas de todos os tempos.
Há mais de 2.500 anos, quando Babilônia avassalava o mundo, o
ambicioso Nabucodonosor ocupava o trono imperial. Dentre as suas
vitoriosas expedições militares, uma foi conduzida contra a Judéia, a
antiga pátria dos hebreus. Jerusalém, a capital do país, foi conquistada e
muitos entre seus habitantes foram levados cativos para Babilônia como
troféus de guerra.
Entre esses cativos estavam alguns príncipes que se determinaram
jamais renunciar a suas convicções monoteístas nas quais haviam sido
educados.
Aqueles foram anos plenos de glória para Babilônia e seus
aguerridos exércitos. Os comandados de Nabucodonosor avançavam
vitoriosos em todas as frentes, ao mesmo tempo que um ativo exército
integrado por arquitetos, urbanistas, artífices e operários se ocupavam
com a remodelação de Babilônia, a orgulhosa e arrogante capital do
império.
De dia, o imperador se ocupava com a reconstrução e o
embelezamento urbano da capital e, de noite, sonhava com as conquistas
e glórias militares.
Uma noite, Nabucodonosor teve um estranho sonho, que lhe
perturbou profundamente o espírito. Para agravar sua aflição, o soberano
esqueceu-o, embora lhe restasse a convicção de que se tratava de um
sonho pleno de significação. Por isso sentiu o incontido desejo de
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 209
reconstruí-lo em sua mente e, ao mesmo tempo, conhecer o seu
significado.
Convocou os sábios, astrólogos, místicos, encantadores e adivinhos,
que pretendiam possuir poderes sobrenaturais, na esperança de que
seriam capazes de reconstituir o sonho e interpretá-lo. Nenhum deles,
porém, conseguiu satisfazer o rei, livrando-o de suas preocupações e
angústias.
Convencido de que não passavam de farsantes e mistificadores, o
decepcionado monarca ordenou que todos fossem executados.
A crise envolvia também os príncipes hebreus que, considerados
sábios, figuravam na mesma lista dos que deviam ser mortos. Mas
Daniel, o mais notável entre os príncipes de Judá, solicitou um
adiamento da execução da sentença e, com os companheiros de cativeiro,
recorreram ao Deus de Israel na esperança de receber socorro e
sabedoria. No dia seguinte, ele se apresentou diante do grande monarca
e, confiantemente, declarou:
"O mistério que o rei exige, nem encantadores, nem magos nem
astrólogos o podem revelar ao rei, mas há um Deus nos Céus, o qual
revela os mistérios, pois fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser
nos últimos dias." 1

Dois Mil e Quinhentos Anos de História

Nas palavras de Daniel encontramos revelados grandes


acontecimentos que haveriam de acorrer durante mais de 2.500 anos; e o
que os historiadores reproduziram em volumosos tratados, nos é
transmitido em quinze versículos das Escrituras:
"Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande estátua; esta, que era
imensa e de extraordinário esplendor, estava em pé diante de ti; e a sua
aparência era terrível. A cabeça era de ouro fino, o peito e os braços de
prata, o ventre e os quadris de bronze; as pernas de ferro, os pés em parte
de ferro, em parte de barro. Quando estavas olhando, uma pedra foi cortada
sem auxílio de mãos, feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 210
esmiuçou. Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata
e o ouro, os quais se fizeram como a palha nas eiras do estio, e o vento os
levou, e deles não se viram mais vestígios. Mas a pedra, que feriu a estátua,
se tornou em grande montanha que encheu toda a Terra." 2

Com inconfundível confiança, o jovem príncipe, iluminado pela


sabedoria divina, sintetizou na presença do iracundo soberano a História
da civilização, dizendo:
"Este é o sonho, e também a sua interpretação diremos na presença
do rei. Tu, ó rei, rei de reis, a quem o Deus do Céu conferiu o reino, o poder,
a força e a glória; a cujas mãos foram entregues os filhos dos homens, . . .
tu és a cabeça de ouro. Depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu;
e um terceiro reino, de bronze, o qual terá domínio sobre toda a Terra. O
quarto reino será forte como ferro, pois, o ferro a tudo quebra e esmiuça;
como o ferro quebra todas as coisas, assim ele fará em pedaços e
esmiuçará. Quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de barro de
oleiro, e em parte de ferro, será isso um reino dividido." 3

Babilônia

Ao atônito monarca do grande império universal, Daniel declarou:


"Tu és a cabeça de ouro."
Um século antes, o profeta Isaías o descrevera como "a jóia dos
reinos" (Isaías 13:19). Com efeito, vivendo um período de grande
esplendor, Babilônia dominava toda a Ásia Menor, Mesopotâmia e
Egito, o que equivale a dizer, o centro da civilização mundial. A capital
do império com os seus famosos jardins suspensos, suas gigantescas
muralhas, magníficas estruturas arquitetônicas e fabulosas riquezas, era o
grande centro de convergência política do mundo naqueles idos.
A cabeça de ouro era pois um símbolo apropriado para ilustrar a
grandeza de Babilônia. No entanto, segundo a profecia, esse período
áureo haveria de passar.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 211
Quão fácil teria sido para o profeta lisonjear o rei, dizendo que o
seu império duraria para sempre. Na verdade, dizer algo diferente
poderia ser interpretado como crime contra a segurança nacional.
Quem seria capaz de transpor as inexpugnáveis muralhas que
circundavam a altiva cidade? Quem poderia ameaçar a hegemonia
babilônica?

Os Medos e Persas

Ocorreu 67 anos depois. O profeta Daniel ainda vivia. Belsazar,


neto de Nabucodonosor, ocupava o trono imperial juntamente com o seu
pai. Dois povos uniram-se politicamente – a Média e a Pérsia – e, sob o
comando de Ciro e Dario, desafiaram a soberania dos caldeus, sitiando
sua opulenta capital.
O império, porém, parecia imbatível. Circundada por muralhas de
25 metros de espessura, com grandes reservas de alimento e água
abundantes, a cidade de Babilônia era praticamente invulnerável.
Belsazar se sentia seguro, sem qualquer preocupação diante dos
exércitos que sitiavam a cidade. E para demonstrar publicamente seu
descaso para com os adversários, ordenou a organização de um grande
banquete.
Com os nobres da corte, celebrou a grandeza do invencível império.
E, enquanto festejavam as glórias nacionais, excederam-se em orgias e
extravagâncias alcoólicas.
Naquela mesma norte, entretanto, os exércitos inimigos desviaram o
curso do rio Eufrates que cruzava a grande cidade. À meia-noite, quando
milhares em Babilônia se encontravam entorpecidos pela ação do álcool,
os dois comandantes aliados ordenaram a invasão da cidade e, pelo leito
seco do Eufrates, penetraram no próprio coração da metrópole.
Os veteranos soldados medo-persas atacaram o palácio e mataram o
rei e os nobres da corte. O sangue dos comensais no grande festim se
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 212
misturou com o vinho que escorria das mesas sobre o chão juncado de
cadáveres.
E assim tombou Babilônia, o altivo império. Ao perplexo rei, o
profeta havia declarado: ''Depois de ti se levantará outro reino inferior ao
teu" (Daniel 2:39). Com efeito, representando o peito e os braços de
prata da estátua, os medo-persas durante dois séculos dominaram o
mundo. Embora governassem uma extensão geográfica mais ampla que
Babilônia, jamais lograram superar o brilho e a grandeza dos antigos
caldeus, assim como a prata não sobrepuja o fulgor do ouro.

A Grécia

Sem se deter em detalhes, o jovem profeta fez referência a um


"terceiro reino de bronze", que teria "domínio sobre toda a terra".
Estas palavras proféticas indicam um império mais vasto ainda, que
seria representado pelo ventre de cobre da estátua vista pelo rei.
Com efeito, o império grego-macedônico sucedeu a Medo-Pérsia,
quando Alexandre o Grande, derrotou os exércitos de Dario III, no ano
331 AC.
Escritores clássicos referem-se aos exércitos de Alexandre como os
"gregos vestidos de brônzea cota de cobre''. Era o cumprimento da
profecia que anunciava o surgimento de uma terceira monarquia mundial
simbolizada pelo ventre de cobre da estátua.
Em fulminantes expedições militares, Alexandre submeteu a Pérsia
e estendeu as suas fronteiras desde a Grécia, no Ocidente, até as
fronteiras da Índia, no Oriente, Egito e Arábia, no Sul, e o Cáucaso, no
Norte. Em pouco tempo a cultura e a língua helênicas espalharam-se por
todo o mundo antigo.
O historiados Flávio Josefo (37-100) em seu livro Antigüidades
Judaicas, disse que Alexandre, ao se aproximar de Jerusalém, com seus
exércitos, revelou especial consideração para com os judeus. Ele dá a
razão para isso, dizendo que um sacerdote hebreu saiu ao encontro de
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 213
Alexandre para mostrar-lhe as profecias bíblicas que anunciavam o seu
triunfo sobre os persas. (Ver Daniel 8:3-9; 11:3)
Mas o fastígio da Grécia também foi efêmero. Estando ainda no
vigor dos anos, Alexandre morreu vítima de seus excessos alcoólicos,
após uma noite de extravagante orgia.
Depois de sua morte o império se desmembrou entre ambiciosos
generais e, debilitado pelas disputas internas, se tomou presa fácil de
uma nova potência política que então emergiu.

Roma

Nas ribanceiras do Tibre, durante quase seis séculos se forjava a


monarquia romana. Valendo-se do enfraquecimento da Grécia, na
batalha de Pidna, no ano 168 AC, as legiões romanas derrotaram as
falanges helênicas e assumiram o domínio do mundo.
Quanto a este quarto reino, anunciou o profeta, ''será forte como
ferro..." (versículo 40). Empregando este mesmo simbolismo profético
usado pelas Sagradas Escrituras, o conhecido, historiador Edward
Gibbon (1737-1794), assim descreveu as conquistas romanas:
"As armas da república, algumas vezes vencidas na batalha, sempre
vitoriosas na guerra, avançaram com passos rápidos para o Eufrates, o
Danúbio, o Reno e o oceano; e as imagens de ouro, ou prata, ou cobre,
que serviam para representar as nações e seus reis, foram
sucessivamente despedaçadas pela férrea monarquia romana." 4
Assim como o ferro é o mais forte dentre os metais, este império
representado pelas pernas de ferro da estátua, haveria de ser poderoso e
mais resistente que aqueles que o precederam.
Hipólito, bispo romano que morreu martirizado no ano 236 AD,
destacou o poder do império, dizendo:
"Já domina o ferro, já ele subjuga e quebra tudo em pedaços; já põe
em sujeição todos os renitentes; já vemos por nós mesmos estas coisas." 5
Extraordinária descrição profética! O mundo inteiro submetido pelo
poder e arbítrio da autoridade centralizada em Roma. Suas férreas
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 214
características se multiplicaram com suas poderosas legiões e
assoladoras expedições militares; com o rigor do seu sistema jurídico e a
maneira implacável como oprimiam os vencidos.
Mas o império não subsistiria para sempre. A abundância de pão, a
ociosidade e os vícios sociais minaram a estabilidade imperial. E os
povos que moravam ao norte do Danúbio e ao leste do Reno – chamados
"bárbaros" – invadiram as fronteiras do grande e moribundo gigante
romano, e o despedaçaram. Foi um processo longo e penoso, mas o
golpe final foi dado no ano 476, quando o caudilho dos hérulos, Odoacro
(435-493) destronou Rômulo Augústulo, o último imperador romano.

Um Reino Dividido

Das ruínas e escombros do império vencido, surgiram dez nações


representando os dedos dos pés da estátua. Foram elas: os germanos, os
anglo-saxãos, os francos, os lombardos, os visigodos, os borgúndios, os
vândalos, os suevos, os ostrogodos e os hérulos – a maioria delas
genitoras das nações da Europa contemporânea.
Como pôde Daniel anunciar com tantos séculos de antecedência a
história dos impérios e nações que ainda não haviam surgido? Não
encontramos em suas palavras conjecturas ambíguas ou mero exercício
de futurologia. O que o profeta registrou em seu livro ultrapassa os
limites de qualquer raciocínio. Unicamente Deus pôde descerrar ante os
olhos do profeta a história antecipada de quatro monarquias mundiais e o
conseqüente desmembramento da quarta em dez diferentes nações.
Mas, depois de descrever as características da monarquia romana,
representada pelas pernas de ferro da estátua, o profeta declarou:
"Quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de barro de oleiro
e em parte de ferro, será isso um reino dividido; contudo haverá nele alguma
coisa da firmeza do ferro, pois que viste o ferro misturado com barro de lodo.
Como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em parte de barro, assim
por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil." 6
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 215
Alguns desses povos que surgiriam da fragmentação do império
romano seriam fortes e outros fracos; e como o ferro não se une com o
barro, essas unidades políticas jamais haveriam de se amalgamar
completamente.
Por quinze séculos, todos os esforços por unir os pedaços dispersos
do grande império resultaram infrutíferos. A explicação divinamente
inspirada dizia: "Será um reino dividido."
CARLOS MAGNO (742-814) tentou invalidar os oráculos divinos,
mas as palavras da profecia foram mais poderosas que os seus exércitos.
Quando a sua sepultura em Aix-la-Chapelle foi aberta, junto aos
seus restos ósseos estava um exemplar das Escrituras, em pergaminho,
com o seguinte texto do profeta Isaías: "Seca-se a erva, e caí a sua flor,
mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente." 7
Ambicioso, embriagado de glória, com os seus comandados, visitou
grandes extensões do território europeu. Conseguiu ampliar os seus
domínios, anexando vários fragmentos da imagem; mas após sua morte,
os filhos os espalharam novamente.
"Será um reino dividido'', afirmou o profeta quando interpretava o
sonho perante o rei de Babilônia.
CARLOS V (1500-1558) tentou amalgamar as unidades políticas
européias, e depois de 40 anos de esforços frustrados retirou-se
desiludido para um convento na Espanha (San Yuste), onde terminou
melancolicamente seus dias.
LUÍS XIV (1643-1715) rei da França, caracterizou o seu reinado
por uma política de conquistas. Que importava que os seus soldados
apodrecessem nos campos de batalha? Que a viuvez e a orfandade
trouxessem consternação ao país? Cego pela ambição, nada lhe
compungia o coração. Subjugar as nações da Europa debaixo de um só
cetro era sua suprema aspiração.
Conseguiu ampliar seus domínios, mas foi derrotado pelas palavras
da profecia: "Não se ligarão um ao outro."
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 216
NAPOLEÃO BONAPARTE (1769-1821), chamado o "tormento
de Deus", declarou arrogantemente: "Cimentarei os fragmentos da
Europa e farei dela uma só nação." Perseguindo este sonho – uma
Europa unida sobre um só governo – sacrificou no holocausto da guerra
a maior parte da juventude francesa. O choro das mães que perdiam seus
filhos não o comovia.
Sucessivas nações caíram humilhadas diante de sua espada. Pouco
antes de iniciar sua campanha militar contra a Rússia, afirmou confiante:
"Dentro de cinco anos serei senhor do mundo."
Quando o Czar da Rússia lhe lembrou que "o homem propõe mas
Deus dispõe", Napoleão respondeu de forma insolente: "Eu proponho e
disponho", e com meio milhão de homens invadiu a Rússia. Suas tropas,
entretanto, foram fragorosamente vencidas pelo general "inverno''.
Napoleão não estava disposto a aceitar o grande obstáculo representado
por cinco palavras proféticas: "Será ele um reino dividido."
Finalmente, na Batalha de Waterloo, terçando armas com as tropas
montanhesas da Escócia, Napoleão sorveu o cálice amargo da derrota e o
conseqüente exílio entre os solitários e os penhascos de Santa Helena.
Dizem os historiadores que na noite anterior à batalha, uma chuva
mansa caiu imobilizando a artilharia pesada que servia de apoio às
forcas napoleônicas, e por isso ele foi derrotado. Mas o conhecimento da
profecia nos permite dizer que acima das condições meteorológicas
estavam as significativas palavras que Deus pronunciou através do
profeta. "Não se ligarão um ao outro".
GUILHERME II (1859-1941), no início da Segunda Guerra
Mundial, declarou com a enfatuação que caracteriza os conquistadores:
"O que o gênio alemão aspira é o império universal. " Mas este sonho de
grandeza se apagou com o humilhante Tratado de Versalhes.
Decorridos pouco mais de vinte anos, a profecia foi outra vez
desafiada por outro líder político que arrastou o mundo para um novo e
terrível conflito.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 217
ADOLF HITLER (1889-1945), contestando as fronteiras
estabelecidas para a Alemanha pelo Tratado de Versalhes, e sonhando
com "espaço vital'' para o seu povo, inaugurou uma política
expansionista responsável pela deflagração do segundo conflito mundial.
Seus fulminantes êxitos militares assustaram o mundo. Muitos
foram levados a crer que ele haveria de invalidar a profecia, unificando a
Europa debaixo do seu governo.
Nunca antes, um plano de conquista mundial foi elaborado com
tanta precisão científica. Mas, por que falhou? Por que os alemães não
cruzaram o canal da Mancha para invadir a Inglaterra amedrontada, após
o desastre de Dunquerque? A invasão foi planejada várias vezes, mas,
nas datas marcadas, estranhos fatos ocorreram:
1. Entre os dias 16 a 20 de setembro de 1940, quando normalmente
o mar se apresenta calmo, ocorreram tremendas tormentas que se
prolongaram até o dia 30. Os barcos alemães que estavam preparados
para o grande ataque tiveram que se refugiar em diferentes portos e
depois foram destruídos pela aviação aliada.
2. Posteriormente, os alemães ameaçaram invadir durante o
inverno, valendo-se da cerração que normalmente cobre o mar durante a
estação invernosa. Mas, pela primeira vez na História, não houve neblina
nas áreas escolhidas para a operação militar.
3. Finalmente, o último plano para invadir a ilha foi organizado
para o dia 15 de fevereiro de 1941. Mas um grande maremoto ocorrido
no dia anterior frustrou completamente os planos elaborados pelo alto
comando alemão.
Quando a "Luftwaffe" atacou a Inglaterra pelo ar, tudo fazia crer
que a ilha seria pulverizada pela aviação inimiga. Sobre este ataque, o
Sunday Times de Londres, janeiro de 1947, registrou:
"Quando a dantesca batalha da Inglaterra parecia ainda incerta, o
Sr. Churchill se dirigiu ao gabinete do vice-almirante da força aérea.
Sobre a tela do radar, observava a chegada dos aviões alemães. Cada
ataque era repelido com êxito, porém as sucessivas ondas de aviões de
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 218
bombardeio pareciam intermináveis. Sem poder controlar-se, o Sr.
Churchill perguntou ao Sr. Parker: 'Quantos aviões nos restam?' 'Estou
enviando os últimos' foi a resposta. Com os olhos fixos na tela, aqueles
homens aguardaram a próxima onda de aviões inimigos. Porém,
descobriram com alívio que a Alemanha havia também enviado os
últimos disponíveis. Com lágrimas nos olhos, o Sr. Churchill se dirigiu ao
seu automóvel. Foi precisamente enquanto regressava em seu veículo
que ele pronunciou sua frase imortal: Nunca tantos deveram tanto a tão
poucos." 8

Mais uma onda de aviões e o sonho de Hitler teria se materializado,


e as palavras da profecia estariam hoje desacreditadas.

Mistura de Semente Humana

"Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo,


misturar-se-ão mediante casamento, mas não se ligarão um ao outro"
(Daniel 2:43) acrescentou o profeta ao rei.
Aqui a predição afirma que para alcançar a unidade da Europa,
casamentos seriam celebrados tendo em vista a integração através dos
vínculos de família.
Napoleão, motivado por suas ambições inconfessáveis, se divorciou
de Josefina, a única mulher que ele amou, para se unir com a princesa
Maria Luísa, da Áustria. Pelo casamento com sangue real, ele pensava
cimentar os fragmentos da Europa. De sua união com a princesa – assim
pensava – nasceria o herdeiro que haveria de ser coroado rei do Império
Romano renascido.
Quando se iniciou a Primeira Guerra Mundial, as casas reinantes da
Europa estavam todas relacionadas através dos vínculos de sangue. Os
reis da Espanha, Itália, Dinamarca, Bélgica, Noruega, Inglaterra e de
alguns Estados balcânicos, eram todos parentes – irmãos, primos, tios,
avós, etc. – todos enfim, uma grande família.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 219
Mas a mistura de "semente humana'' como esforço por manter a
unidade internacional também malogrou. As várias guerras mostraram a
ineficácia deste recurso. A Europa continua dividida através das
rivalidades e diferenças existentes entre as nações que formam o seu
mosaico político. Podemos ver o acerto das palavras proféticas: "Não se
ligarão um ao outro."

O Quinto Reino Universal

Que significado tem esta profecia para o homem contemporâneo?


Em primeiro lugar, a profecia nos ajuda a confirmar nossa fé na
Bíblia e em suas predições. É impossível que um ser humano, sem a
ajuda da inspiração divina, fosse capaz de anunciar com tanta precisão,
com mais de 2.500 anos de antecedência, a história das nações. Com a
inspiração divina, Daniel o fez. Esta é, sem dúvida, uma inquestionável
comprovação da origem divina das Escrituras.
Em segundo lugar, este estudo profético anima a explorar outras
profecias bíblicas igualmente extraordinárias.
Por último, este capítulo suscita em nossa mente a interrogação: Em
que lugar da estátua metálica nos situamos atualmente? De acordo com a
interpretação dada pelo profeta, vivemos agora o tempo dos pés de ferro
e barro misturados. E, segundo o profeta, que ocorrerá neste tempo?
Daniel concluiu a interpretação do sonho de Nabucodonosor,
dizendo:
"Mas, nos dias destes reis, o Deus do Céu suscitará um reino que
não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo,
esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá
para sempre." 10
O estabelecimento do reino de Cristo, a quinta monarquia universal,
é o próximo evento do programa divino na História. Assim se cumprirá a
oração do Senhor: "Venha o Teu reino."
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 220
Nós analisamos serenamente esta assombrosa profecia, e
descobrimos seu extraordinário significado. Como em uma tela
panorâmica, vemos Babilônia em sua glória e posterior destruição.
Depois, a luz profética incide sobre a prata da Medo-Pérsia; o brilho
fugaz de Alexandre da Grécia, refulge sobre o férreo império romano e
se projeta sobre as divisões, fragmentos da monarquia dos césares.
Vivemos agora no último tempo, a culminação da História. O que ainda
resta no sonho do rei se cumprirá com a mesma exatidão e em forma
igualmente inevitável.
"Certo é o sonho, e fiel a sua interpretação" (Daniel 2 :45). Cedo se
consumará a esperança de todos os séculos.
O quinto reino universal que Deus há de estabelecer será um
império glorioso, que não terá fim; e seus cidadãos gozarão eterna paz.

Referências:

1. Daniel 2:27 e 28.


2. Idem, versículos 31-35.
3. Idem, versículos 36-41.
4. Edward Gibbon, The History of the Decline and Fall of the
Roman Empire, pág. 634.
5. Citado por Marcelo I. Fayard, em Hacia la Edad de Oro, pág. 67.
6. Daniel 2:41 e 42.
7. Isaías 40:8.
8. Daniel 2:43.
9. Sunday Times de Londres, janeiro de 1947.
10. Daniel 2:44.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 221
OS CAVALOS DO APOCALIPSE

Passei pela primavera da vida. Resisti ao calor do verão. Colho os


frutos do verão. Estou agora suportando os rigores do inverno, porém
não muito longe aproximar-se uma nova primavera eterna. – Adam
Clark

*A Visão dos Sete Selos *Estilo Simbolista *O Cavalo Branco *O


Cavalo Vermelho *O Cavalo Preto *O Cavalo Amarelo *O Quinto
Selo *O Sexto Selo *O Grande Terremoto *O Dia Escuro *Chuva
de Estrelas Fugazes *Tempo Para Despertar

Quando as luzes do primeiro século se apagavam, na rochosa ilha


de Patmos, situada no mar Egeu, encontrava-se exilado o
evangelista João, o último sobrevivente dos doze apóstolos de Cristo.
Nenhum delito havia cometido que justificasse a condenação que
lhe foi imposta. Seu entusiasmo em proclamar um evangelho que não
aceitava acomodações e sua assombrosa determinação em denunciar a
corrupção e os vícios que minavam a estrutura social do império,
precipitaram o seu degredo.
Domiciano (51-96), o último dos 12 césares, responsável por seu
exílio, suplantou a todos que o precederam, não somente pela vileza de
seu caráter, mas sobretudo pela crueldade de suas ações.
É certo que Nero (37-68), que o antecedeu, para escapar à
exprobração de haver incendiado a cidade de Roma, lançou a culpa do
sinistro sobre as cristãos e, com impressionante barbarismo, iluminou os
jardins imperiais com as labaredas das milhares de fogueiras ateadas
para consumir os "hereges" seguidores do Nazareno. Esta inominável
atrocidade, porém, afetou quase exclusivamente a comunidade cristã
situada na capital do império.
Estava reservado a Domiciano ocupar um lugar mais notável nos
anais da crueldade humana. Durante seu reinado, com inconcebível fúria
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 222
atacou os cristãos dispersos por toda a extensão do império. Para o
cristianismo aqueles foram dias de terror, espanto e indignação. Milhares
sucumbiram imolados pela espada imperial a serviço do arbítrio.
Entre os que foram alcançados pelo braço inclemente de César,
destacava-se o apóstolo João, vivendo então o outono da vida. Levado
perante as autoridades, sob a acusação de ensinar heresias sediciosas,
recebeu como sentença o desterro na ilha de Patmos.
Naquela solitária colônia penal, entre o silêncio dos penhascos e o
ruído das ondas do mar açoitadas pelo vento, ele contemplou a glória do
Senhor. Em visões fulgurantes viu revelados os grandes mistérios de
Deus.

A Visão dos Sete Selos

Neste capítulo analisaremos uma dentre as várias visões que lhe


foram concedidas – Os Sete Selos (Apocalipse 6 e 7). Nela
acompanharemos o desdobrar do dramático conflito entre os dois
grandes princípios antagônicos e seu glorioso epílogo. Nas seguintes
palavras, o vidente de Patmos descreve as cenas que em visão lhe foram
reveladas:

"Vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos e ouvi um dos quatro
seres viventes dizendo, como se fosse voz de trovão: Vem!
"Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu cavaleiro com um arco; e
foi-lhe dada uma coroa; e ele saiu vencendo e para vencer.
"Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizendo:
Vem!
"E saiu outro cavalo, vermelho; e ao seu cavaleiro, foi-lhe dado tirar
a paz da terra para que os homens se matassem uns aos outros; também
lhe foi dada uma grande espada.
"Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizendo:
Vem! Então, vi, e eis um cavalo preto e o seu cavaleiro com uma balança
na mão.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 223
"E ouvi uma como que voz no meio dos quatro seres viventes
dizendo: Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada
por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho.
"Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser
vivente dizendo: Vem!
"E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu cavaleiro, sendo este
chamado Morte; e o Inferno o estava seguindo, e foi-lhes dada autoridade
sobre a quarta parte da terra para matar à espada, pela fome, com a
mortandade e por meio das feras da terra." 1

O profeta viu o desfile de quatro cavalos misteriosos: um branco, e


o que o cavalgava portava um arco, tendo sobre a cabeça uma coroa.
Outro vermelho, tendo o seu cavaleiro poder "para tirar a paz da Terra".
Ainda outro, preto, e o que sobre ele estava "tinha uma balança na mão".
E, finalmente, o quarto e último, amarelo, e o que o montava "tinha por
nome Morte", e recebeu "poder para matar a quarta parte da Terra".
Que significam esses cavalos?

Estilo Simbolista

O Apocalipse, último livro da Bíblia, se caracteriza Por um estilo


simbolista, e os que o lêem superficialmente são levados à conclusão de
que nele se ocultam os grandes e insondáveis mistérios da divindade.
Porém, as primeiras palavras deste livro – "Revelação de Jesus Cristo"
(Apocalipse 1:1) - constituem uma refutação eloqüente ao conceito
generalizado de que se trata de um livro nebuloso, fechado com as sete
chaves dos mistérios infinitos.
Deus Se revelou ao vidente de Patmos através de símbolos em
virtude das cruentas perseguições movidas contra o cristianismo. A
linguagem parece codificada como a empregam as forças armadas em
tempo de guerra. Através dos tipos e símbolos, Deus relacionou a
história turbulenta do império romano e os grandes eventos da História
relacionados com a Igreja até o fim do mundo. Se a linguagem dada ao
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 224
profeta não fosse figurada, os romanos, bem como os futuros adversários
da verdade, teriam destruído todos os escritos sagrados.
Para preservar Sua mensagem em um mundo convulsionado pela
rebelião, Deus velou certos fatos aos inimigos da fé cristã. Os piedosos
seguidores de Cristo, entretanto, guiados pelo Espírito Santo, lograram
decifrar estes misteriosos símbolos, tornando o Apocalipse um dos mais
fascinantes livros do sagrado cânon.

O Cavalo Branco

"Vi, então, e eis um cavalo branco" (Apocalipse 6:2), descreveu o


vidente. Quão apropriadamente este símbolo ilustra a igreja nos dias dos
apóstolos e seus memoráveis triunfos! Na terminologia bíblica o branco
representa pureza. Quando o rei Davi sentiu a consciência acicatada por
um enorme sentimento de culpa, em angústia suplicou: "Lava-me, e
ficarei mais alvo que a neve" (Salmo 51:7). Assim o cavalo branco nesta
visão constitui um símbolo da igreja no primeiro século da nossa era.
Suas doutrinas eram imaculadas. Seus ensinamentos incontaminados
com o erro ou as tradições humanas.
A essa indiscutível pureza doutrinária acrescentarmos outra virtude
que caracterizou a Igreja naqueles agitados dias, compreendidos entre o
seu estabelecimento e a morte do último dos apóstolos: era invencível.
Nem a intolerância obstinada dos judeus apegados à rígida disciplina de
suas tradições vazias, nem o ódio implacável dos gentios associado à
truculência dos césares, conseguiram esmagar a Igreja nascente que
despontou "vitoriosa e para vencer".
Descrevendo a visão o profeta viu sobre a cabeça do cavaleiro uma
coroa, símbolo das vitórias conquistadas nos campos de batalha ou nas
disputas olímpicas. Com efeito, em suas primeiras décadas a Igreja cristã
celebrou triunfos jamais vistos ao longo de sua fascinante história. Os
seus pregadores, humildes galileus, tangidos pela perseguição, saíram
por todos os caminhos da Ásia Menor e Europa e iluminaram as nações
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 225
com as labaredas do cristianismo. Como resultado, a idolatria foi
perturbada, os templos pagãos se esvaziaram e milhares de conversos
surgiram por toda parte.
"Sem escolas" – escreve L. E. Froom – "eles confundiram os
eruditos rabinos; sem poder político ou social, eles se provaram mais
fortes que p Sinédrio; sem um sacerdócio organizado, desafiaram o
sacerdote e o templo; e sem um soldado, foram mais poderosos que as
legiões de Roma. E deste modo, sobre a águia romana, plantaram a
cruz." 2
Este primeiro selo abrange o período da história da igreja cristã que
se alonga desde o ano 31 AD, quando Jesus foi crucificado, sepultado,
ressurgiu e ascendeu ao Céu, até o fim do primeiro século, quando o
último dos apóstolos morreu.

O Cavalo Vermelho

"E saiu outro cavalo, vermelho" (Apocalipse 6:4), escreveu o


profeta ao narrar a visão que recebeu de Deus. É evidente que se o
cavalo branco simboliza o evangelho puro que caracterizou a Igreja nos
dias apostólicos, o vermelho indica que esta pureza seria maculada.
E foi exatamente isso que ocorreu logo depois do chamado período
apostólico. O cristianismo se apartou gradualmente dos seus ensinos
originais para se contaminar nas fontes poluídas do paganismo. Ritos e
cerimônias jamais sancionados por Cristo e Seus apóstolos foram
insidiosamente introduzidos no seio da Igreja, conspurcando sua pureza
original.
O apóstolo Paulo tinha em mente este abastardamento da fé, quando
exortou os líderes da igreja de Éfeso, na Ásia Menor, dizendo:

"Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo
vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele
comprou com o seu próprio sangue. Eu sei que, depois da minha partida,
entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que,
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 226
dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas
para arrastar os discípulos atrás deles." 3

Em sua carta pastoral aos cristãos que viviam em Tessalônica, na


Grécia, afirmou que o fermento da impiedade já estava operart1ltl em
seus dias, (II Tessalonicenses 2:3 e 4), e que mais tarde haveria de
produzir uma grande apostasia.
Na visão dos sete selos o vidente viu também que "ao que estava
assentado sobre ele (o cavalo vermelho) foi-lhe dado que tirasse a paz da
Terra" (versículo 2). Com efeito, as surpreendentes conquistas logradas
pela Igreja cristã precipitaram exacerbadas perseguições movidas por
sanguinários imperadores.
O cristianismo passou a viver um período de perplexidade e
angústia. Milhares de fiéis foram então imolados no altar da intolerância
religiosa, vítimas da coerção e do arbítrio. Nas expressões empregadas
por Tertuliano (155-220], em sua Apologia encontramos uma descrição
do espírito de luta que animava a igreja naqueles idos: "Quanto mais
somos ceifados por vós, tanto mais crescemos em número; o sangue dos
cristãos é semente." 4
Quando os fogos das perseguições afinal cessaram e os bispos se
reuniram em Nicéia (325) para definir em histórico encontro a natureza
de Jesus, trouxeram na própria carne as marcas da crueldade a que foram
submetidos. Alguns vieram sem os olhos, outros sem os braços e outros
ainda com o corpo terrivelmente mutilado. Muitos, porém, não
sobreviveram às angústias produzidas pela perseguição.5
Mas, apesar das lutas e aflições do segundo e terceiro séculos, os
poderes da impiedade não lograram apagar a chama da fé cristã. Uma
Providência indormida velava por Sua Igreja. Mas a Igreja perseguida e
o Estado perseguidor afinal selaram as pazes unindo-se em estranha
simbiose, e com esta aliança espúria terminou o período correspondente
ao segundo selo da profecia.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 227
O Cavalo Preto

Descrevendo a abertura do terceiro selo o profeta escreveu: "Então


vi, e eis um cavalo preto e o seu cavaleiro com uma balança na mão." 6
Se o cavalo branco representa a igreja do primeiro século e sua
pureza prístina, o preto forçosamente simboliza o desvirtuamento da fé
"que uma vez foi dada aos santos". Quão rapidamente prosperou a obra
da corrupção!
Com a "conversão" do imperador Constantino, a Igreja saiu do
escuro recesso das catacumbas para desfrutar os fulgores da corte. O
cristianismo se tornou a religião oficial e a simplicidade dos dias
apostólicos foi substituída pela pompa palaciana e os atrativos do poder.
Um espírito de transigência e conformidade pavimentou o caminho para
o triunfo da apostasia. O erro e a superstição penetraram como aluvião
desfigurando o evangelho de Cristo.
Destacando os desvios daqueles idos o Cardeal João Henrique
Newman, assim se expressou:
"... Constantino a fim de recomendar a nova religião aos pagãos,
para ela transferiu os ornamentos exteriores a que estavam habituados
na sua. ... O emprego de templos, sua consagração a santos particulares
e sua ornamentação, em certas ocasiões, com ramos de árvores; o
incenso, as lâmpadas e os círios; as ofertas votivas pelo
restabelecimento de qualquer enfermidade; a água-benta, os asilos ... as
procissões, as bênçãos dadas aos campos; as vestimentas sacerdotais ...
as imagens ... são todas coisas de origem pagã, santificadas por sua
adoção na igreja." 7
A "conversão" do imperador que muitos celebraram como um
grande acontecimento, passou à História como um capítulo sombrio nos
anais da Igreja cristã. Sua "conversão" se inspirou em conveniências
políticas. Jamais demonstrou em sua vida as evidências de uma genuína
identificação com Cristo e Seus ensinos. Os hediondos crimes que
cometeu – os assassinatos de Licínio, seu cunhado; de Crispo, seu filho;
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 228
e de Fausta, sua esposa – revelaram perante o mundo estarrecido que o
cristianismo havia transformado o seu endurecido coração.
Mas apesar de ter as mãos manchadas de sangue, ele ocupou um
lugar importante na Igreja cristã, conspurcando-a com a introdução de
crenças e ritos de procedência pagã.
A balança que o profeta viu na mão do cavaleiro, sugere a idéia de
transações mercantis. Com efeito, embriagada pelo poder a Igreja se
deixou seduzir gradualmente por um espírito mercantilista.
"Longas peregrinações, atos de penitência, adoração de relíquias, ...
bem como o pagamento de grandes somas à Igreja, tudo isso e muitos
atos semelhantes eram ordenados para aplacar a ira de Deus ou
assegurar o Seu favor como se Deus fosse idêntico aos homens,
encolerizando-Se por ninharia, ou apaziguando-Se com donativos e atos
de penitência." 8
O iníquo tráfico das indulgências transformou o perdão divino em
lucrativa operação comercial. As bênçãos do evangelho passaram a ser
vendidas livremente nu próspero mercado da fé.
No afã por ampliar seus lucros, dignitários religiosos passaram a
absolver criminosos vis, aumentando assim os vícios que degradavam a
Igreja e desfiguravam a sua imagem. Multidões supersticiosas foram
levadas a crer que o reconhecimento da autoridade religiosa, a adoração
das imagens e os donativos à Igreja eram suficientes para assegurar-lhes
um lugar no Céu.
E assim as trevas espirituais se adensaram e o período da História
representado pelo cavalo negro se alongou até o ano 538, quando entrou
em vigor o edito do imperador Justiniano, constituindo o bispo de Roma
cabeça de todas as igrejas.

O Cavalo Amarelo

Neste misterioso desfile de animais, o cavalo preto foi seguido de


um outro amarelo, ou pálido, como reza uma versão das Escrituras. Seu
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 229
cavalo, que recebeu "autoridade para matar... à espada, pela fome, com a
mortandade, e por meio das feras da terra" (versículo 8) representa a
perseguição e morte de milhares de vítimas durante o sombrio período
medieval.
O cristianismo vivia então uma era escura de sua história. Embora
professando aceitar a Jesus como o Filho de Deus e crer em Sua morte e
ressurreição, os cristãos em sua maioria perderam de vista a malignidade
do pecado e não mais sentiam necessidade da graça redentora do
evangelho. O germe da idolatria produzia sua obra funesta.
Em vão protestaram grupos minoritários contra os desvios da Igreja,
reclamando reformas vigorosas tendo em vista restaurar a fé apostólica.
Suas vozes, entretanto, foram reduzidas ao silêncio pela maioria
inconversa apoiada na força e no arbítrio.
Unindo-se ao Estado em uma aliança adulterina, a Igreja oficial
passou a empregar o braço secular no manejo das armas temporais, tendo
em vista calar os fiéis porta-estandartes do evangelho apostólico.
desencadeando-se então uma perseguição brutal, obstinada e sem quartel
contra os fiéis, inconformados com as aberrações pagãs introduzidas no
cristianismo.
Com impressionante disposição sanguinária, Inocêncio III (1160-
1216) instituiu o execrável Tribunal da Santa Inquisição, e determinou a
inclemente extirpação das minorias dissidentes, inconformadas com os
desvios e corrupções da Igreja.
Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo medieval, também
chamado Doutor Angélico, com argumentos discutíveis endossou os
métodos de Inocêncio III, ao defender a pena de morte para os "hereges",
os "corruptores da fé".
Como resultado, somente no sul da França, cidades inteiras foram
destruídas e seus habitantes passados à espada. O número dos que furam
executados durante aqueles anos de terror, excedeu em muito o número
de mártires no espaço de três séculos, no Império Romano.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 230
"As barbaridades cometidas entre o saque e ruínas de cidades
esfaimadas vão quase além do que se pode crer; crianças eram
arrancadas do ventre dos corpos vivos de suas mães; mulheres e
crianças, violadas aos milhares. E populações inteiras queimadas e
espatifadas pelos soldados, por todos os meios que podia imaginar a
crueldade em seu engenho diabólico." 9
Com efeito, os famosos "autos-de-fé" sufocaram num oceano de
sangue todos os intentos de preservar a pureza e a simplicidade da fé que
caracterizaram a Igreja no primeiro século.
Este período manchado com o sangue dos mártires abrange a
história da Igreja cristã do ano 538, quando o bispo de Roma se tornou o
cabeça de todas as igrejas, até 1517, quando sua autoridade foi desafiada
pela Reforma.

O Quinto Selo

"Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas


daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por
causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz,
dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas,
nem vingas o nosso sangue ... A cada um deles foi dada uma vestidura
branca." 10
É razoável inferir que este selo, como os anteriores, representa um
período da História. Após a perseguição medieval, a Reforma e a
Renascença restringiram o poder do arbítrio.
Os mártires foram levados à sepultura cobertos de infâmia e
ignomínia. Seus nomes foram desonrados e seus motivos torcidos.
Considerados a escória do mundo, engrossaram o grande exército dos
que tombaram vítimas da intolerância e da opressão.
Mas, por quanto tempo prevaleceriam a injustiça e o arbítrio? "Até
quando ó Soberano Senhor, verdadeiro e santo, não julgas o nosso
sangue...?" foi a interrogação que o vidente ouviu durante a visão.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 231
No século XVI a Reforma religiosa irrompeu com grande ímpeto. A
Bíblia, que durante séculos permaneceu confinada dentro dos limitados
redutos eclesiásticos, fui traduzida em diferentes idiomas, tornando
possível ao povo comum estudá-la e compreender sua mensagem.
A luz do evangelho começou a dissipar gradualmente as trevas do
erro, permitindo a muitos compreender que aqueles "hereges", ceifados
pela Inquisição, furam homens e mulheres nobres e que seus motivos
eram retos e verdadeiros.
E assim, aqueles que desceram à sepultura coma criaturas vis e
desprezíveis, passaram a ter suas virtudes exaltadas, sua coragem
aplaudida e os seus rumes honrados.
Cumpriu-se então a expressão figurada descrita pelo vidente, ao
narrar o quinto selo: "A cada um foi dada uma vestidura branca"
(versículo 11). O vitupério foi substituído pelo respeito e admiração. A
causa que com tanto fervor defenderam fui afinal vindicada.

O Sexto Selo

O sexto selo (Apocalipse 6:13-17) se estende até o fim da História,


quando todos os sistemas de governo deste mundo serão substituídos
pelo reino eterno de nosso Deus.
Este selo descreve alguns sinais que com eloqüência anunciam a
aproximação do grande evento, a segunda vinda de Cristo, ponto
culminante do plano da redenção.
"Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo – descreveu o evangelista
– "e sobreveio grande terremoto. O sol se tornou negro como saco de
crina, a lua toda, como sangue, as estrelas do céu caíram pela terra,
como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos
verdes." 11

Apresentam-se-nos aqui quatro eventos que evidentemente são


prenúncios do grande dia de Deus: um grande terremoto; o
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 232
escurecimento do Sol; a Lua converte-se em sangue; e a queda das
estrelas.
Respondendo à pergunta dos discípulos – Que sinal haverá da Tua
vinda e do fim do mundo? – Jesus mencionou três destes eventos e
adicionou a informação de que eles ocorreriam "logo em seguida à
tribulação daqueles dias" (S. Mateus 24:29), a saber, o período da
perseguição religiosa que caracterizou a Idade Média.

O Grande Terremoto

No dia 1.º de novembro de 1755, o mundo acompanhou comovido o


trágico terremoto de Lisboa. Noventa mil pessoas morreram como
resultado do grande abalo. Alguns o qualificaram como a maior
catástrofe da Natureza desde o Dilúvio, pois seus efeitos foram sentidos
em uma extensa área de aproximadamente dez milhões de quilômetros
quadrados.
O comandante de um navio inglês estacionado perto de Lisboa na
ocasião, assim narrou a tragédia, em uma carta dirigida ao proprietário
da embarcação:

"Quase todos os palácios e grande igrejas tombaram ou caíram em


parte, e rara foi a casa que nesta vasta cidade permaneceu habitável.
Aqueles que não morreram esmagados, correram para as extensas
praças; e os que estavam perto do rio, desceram nele para salvar-se, por
meio de botes ou qualquer objeto flutuante, correndo, gritando e
chamando os navios em socorro; mas enquanto a multidão estava
reunida na margem, a água se levantou a uma altura tal que inundou a
parte baixa da cidade, atemorizando os miseráveis e desalentados
habitantes, os quais corriam de um lado para outro, com gritos medonhos
que perfeitamente ouvíamos a bordo, de maneira que acreditavam ter
chegado o fim do mundo, prostrando-se cada um sobre seus joelhos, e
rogando auxílio do Todo-poderoso. ..." 12
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 233
Em seu estilo inimitável, Rui Barbosa descreveu a catástrofe de
Lisboa, dizendo:
"Era a manhã de Todos os Santos, em 1755. Uma convulsão atroz
agita a soberba cidade em violentas contorções. O solo desloca-se,
gemendo nos espasmos de um fenômeno assombroso, cujo círculo de
oscilações estende-se de Dantzig a Marrocos, da Inglaterra a Madrid,
inturgesce as caldas de Poplitz, na Boêmia, turva, na Escócia, as águas
do lago Lhomond, revolve o Mediterrâneo nas costas da Barbéria,
encapela as meigas enseadas da Madeira, e transpondo numa
repercussão espantosa o Atlântico, vem, do outro lado, ecoar nas
Antilhas o ulular da catástrofe.
"A cabeça da grande Lusitânia vacila, como se a embriaguez do
misticismo devoto a sacudisse no delírio de uma visão de Apocalipse. As
abóbadas dos templos confundem sob as mesmas ruínas as imagens e
os crentes, a hóstia e os levitas, o sangue dos fiéis e o da vítima incruenta;
as ruas sulcam-se em abismos; os palácios desabam, trovejando; a
casaria, esboroando-se numa sucessão infinita de fragores indizíveis,
desaparece na voragem, na confusão e no incêndio que açoita com as
asas rutilantes os trens desse círculo dantesco.
"De um lado as chamas parecem destinadas a fundir a antiga capital
do ocidente como o fogo macedônico amalgamara outrora num único
metal o ouro, a prata e o bronze das estátuas de Corinto; do outro, quinze
metro acima das mais altas marés, a enchente instantânea, minaz,
caótica, infernal, abisma navios e navios em repentinos sorvedouros,
engole em cada assalto milhares e milhares de homens.
"Quatro vezes a alucinada vaga humana desaparece entre a vaga
marinha e a vaga terrestre, que nalguns minutos devoram doze mil
almas..." 13

O Dia Escuro

Vinte e cinco anos mais tarde, no dia 19 de maio de 1780, na


mesma ordem apresentada na visão dos sete selos, o sol escureceu em
forma inexplicável. Aquele dia ficou registrado nos anais da História
como o Dia Escuro. O fenômeno foi visto principalmente na região
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 234
conhecida como Nova Inglaterra, nos Estados Unidos. O sol despontou
claro e fulgurante. Mas por volta das nove horas começou a escurecer.
Às dez, já não era possível ler caracteres comuns sem o auxílio de uma
lanterna. Logo a escuridão se adensou e uma situação de pânico dominou
a região. Referindo-se àquele estranho evento, R. M. Devens escreveu:
"Talvez o fenômeno mais misterioso e inexplicado de sua espécie na
vasta sucessão de acontecimentos da Natureza, durante o último século,
tenha sido o dia escuro de 19 de maio de 1980..., que provocou intenso
alarme e pânico em milhares de mentes, e confusão nas próprias
criaturas brutas, tendo fugido as galinhas desorientadas para os seus
poleiros, os pássaros para os seus ninhos, e os animais para as suas
dependências. Com efeito, milhares de pessoas daquele tempo se
convenceram de que havia chegado o fim de todas as coisas
terrestres."14
A noite seguinte foi provavelmente a mais escura desde o começo
do mundo. Tão impenetrável se tornou, que mesmo um pedaço de papel
branco diante dos olhos era tão invisível como o mais negro veludo.
Relatando suas observações sobre aquela noite, um oficial da Armada
Norte-Americana, registrou:
"Às três horas da manhã, a Lua, que parecia haver estado velada
durante várias horas, escondida por alguma nuvem, apareceu
repentinamente, mas com a cor de sangue escuro; além disso, estava
atravessada por uma cruz negra e assinalada, por ambos os lados, com
dois traços paralelos que tinham as cores do arco-íris." 15

Chuva de Estrelas Fugazes

Outro grande e surpreendente acontecimento ocorreu no dia 13 de


novembro de 1833, quando um feérico espetáculo sideral de "fogos de
artifício" foi testemunhado por milhares de pessoas, principalmente na
costa leste dos Estados Unidos. Os piedosos estudantes das profecias
identificaram na "chuva de estrelas fugazes" as palavras proféticas de
Jesus: "... e as estrelas cairão do firmamento." 16
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 235
Thomas Miller, cientista inglês, comentou o acontecimento nas
seguintes palavras:
"A atenção dos astrônomos na Europa e em todo o mundo, foi,
como se pode imaginar, fortemente despertada pela notícia desta
exibição sideral no Novo Continente." 17
Este mesmo autor considerou-a "por todos os motivos a mais
notável exibição sideral de que há notícia". 18
"Durante algumas horas o firmamento de todos os Estados Unidos
esteve em ígnea comoção. Nenhum fenômeno celeste ocorreu jamais
neste país, desde o seu início, que tenha sido contemplado com tão
intensa admiração por certa classe de pessoas ou com tanto temor e
pânico por outras. ... Durante suas três horas de duração, pensava-se
que o dia do juízo esta apenas aguardando o nascer do sol." 19
Com profundo e reverente temor, associaram aquela "chuva
meteórica" com a exortação do Senhor; "Ora, ao começarem estas coisas
a suceder, exultai e erguei as vossas cabeças; porque a vossa redenção se
aproxima." 20
Vivemos no cronograma profético o período correspondente ao
sexto selo. Em breve o sétimo será aberto e o legítimo Governador e Rei
da raça humana virá para galardoar os justos e erradicar para sempre o
império da impiedade. Sua vinda será o ponto culminante para o qual
convergem todas as linhas proféticas das Sagradas Escrituras.

Tempo Para Despertar

Para muitos a represa de São Francisco, na Califórnia, era uma das


grandes criações do gênio humano, orgulho da técnica a serviço do
progresso. Entretanto, na noite de 13 de março de 1929, ela ruiu em
forma espetacular, liberando um imenso volume de lama e água,
provocando uma inundação catastrófica que custou a vida de 700
pessoas e a destruição de 600 casas.
O primeiro indício do desastre iminente foi observado na manhã
que antecedeu a grande tragédia. Dan Matthews, responsável por uma
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 236
das usinas elétricas, notou com preocupação a existência de infiltrações
no solo. William Mulholland, diretor do Departamento de Água e Luz de
Los Angeles, foi imediatamente solicitado para investigar a situação.
Funcionário da empresa por mais de 40 anos, era por todos reputado
como um técnico de excepcional capacidade profissional.
Estudando cuidadosamente a situação, concluiu qualificando a
infiltração como "um problema grave", porém, analisando-o em suas
implicações, concluiu:
"Conquanto seja uma situação grave, não representa uma ameaça
iminente à estrutura da obra. Com as suas espessas paredes de
contenção, solidamente alicerçadas sobre fundamentos de cimento
armado, a represa oferece condições satisfatórias de segurança."
Apesar desse relatório tranqüilizador, Matthews aconselhou a um
irmão que abandonasse a casa na qual vivia com a família, nas cercanias
da represa. Mas nenhuma palavra de advertência foi dada às 20 mil
pessoas que viviam na região, ao sopé da grande represa.
Pouco depois da meia-noite, entretanto, treze horas após a inspeção
realizada por Mulholland, as paredes de contenção ruíram
fragorosamente, liberando de forma estrepitosa uma enorme massa
liquida de 18 quilômetros de extensão. Com a pressão da água,
gigantescos blocos de cimento furam lançados a distâncias consideráveis.
Com impressionante ímpeto uma irresistível onda de uns 25 metros de
altura inundou avassaladoramente o extenso e fértil vale.
A maioria dos que viviam nas proximidades da represa furam
surpreendidos pela catástrofe enquanto dormiam. Na rodovia 126,
aproximadamente 50 carros foram arrastados pelo ímpeto das águas.
Alguns foram encontrados mais tarde a 30 quilômetros da estrada,
sepultados pela lama. Outros, levados pela corrente em direção do mar,
jamais furam encontrados.
Em um acampamento perto da usina de força, dos 89 trabalhadores
que dormiam em suas lendas um sono calmo e profundo, 84 morreram.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 237
Os cinco sobreviventes foram arrastados pelas águas sobre os próprios
catres, e lograram salvar-se ao alcançar terra firme.
Este trágico incidente, além de ser uma catástrofe, constitui também
uni símbolo da terrível e global destruição que finalmente atingirá o
mundo. O apóstolo predisse que o dia do Senhor "virá como o ladrão de
noite; no qual os céus passarão com grande estrondo e os elementos,
ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há se queimarão." 21
Cultivemos, pois, uma atitude vigilante em relação aos tempos nos
quais vivemos. Os moradores que viviam no Vale de Santa Clara foram
surpreendidos pela tragédia da inundação enquanto dormiam.
Exorta o Apóstolo das Nações:
"E digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos
despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto
do que quando no princípio cremos." 22

Enquanto muitos se mostram indiferentes, os que cremos, devemos


ser sóbrios, diligentes e fiéis, aguardando u grande dia do Senhor.
Quão lamentavelmente trágico significa adormecer nesta hora de
tanta transcendência profética! Segundo os oráculos divinos, um terrível
desastre como nunca houve assolará o imundo, mas os que confiam no
Senhor encontrarão nEle o refúgio:
"Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas
tribulações. Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os
montes se abalem no seio dos mares." 23

Referências:

1. Apocalipse 6:1-8.
2. L. E. Froom, The Coming of the Comforter, pág. 127.
3. Atos 20:18-30.
4. Tertuliano em sua Apologia, parágrafo 50.
5. S. D. A. Bible Commentary, vol. VII, pág. 748.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 238
6. Apocalipse 6:5.
7. Cardeal João Henrique Newman, Development of Christian
Doctrine, págs. 372 e 373.
8. E. G. White, O Grande Conflito, págs. 55 e 56.
9. Motley, Rise of the Dutch Rep. II, pág. 504.
10. Apocalipse 6:9-11.
11. Apocalipse 6:12 e 13.
12. Thomas Hunter, Historical Account of Earthquakes, págs. 72 e
73.
13. Citado em O Testemunho da Natureza, pág. 5.
14. R. M. Devens, Our First Century, págs. 89 e 90.
15. Publicado originalmente em Philadelphia Inquirer, reproduzido
por Daniel H. Dupuy em O Mundo do Amanhã, pág. 255.
16. S. Mateus 24:29.
17. The Gallery of Nature, Londres, 1852.
18. Idem.
19. R. M. Devens, Our First Century, pág. 329.
20. S. Lucas 21:28.
21. II S. Pedro 3:10, Almeida Revista e Corrigida.
22. Romanos 13:11.
23. Salmo 46:1 e 2.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 239
ESPERANÇA PARA AS ANGÚSTIAS HUMANAS

O que é o oxigênio para os pulmões, é a esperança para dar sentido à


vida. ... Assim como a vida do organismo depende de uma constante
provisão de oxigênio, da mesma forma a existência humana depende
da esperança que acaricia. – Emil Brunner

*Venturosa Promessa *A Promessa Através dos Séculos *Como


Virá o Senhor? *Quando Virá o Senhor? *Por Que Virá o
Senhor? *Encontro Espacial *A Preparação Indispensável
*Bem-Aventurada Esperança

F oi nas primeiras horas da manhã do dia 6 de agosto de 1962,


quando, transpondo a imensa porta giratória de um hotel de São
Francisco, Califórnia, ouvi a algazarra agitada de um grupo de
vendedores de jornais, anunciando a grande noticia do dia: "Marilyn se
suicidou! Marilyn se suicidou!"
Apregoando a tragédia do suicídio, os jornaleiros vendiam o San
Francisco Chronicle a um público atônito, surpreendido com o infausto
acontecimento. Após haver desfrutado o fascínio da fama, os atrativos da
riqueza e os esplendores da glória, Marilyn Monroe tomou 25 pílulas de
Nembutal, pondo fim a uma existência torturada por devastadoras
neuroses.
Com esse gesto suicida se apagou uma famosa estrela do cinema,
um dos grandes mitos de Hollywood, levando para o silêncio da
sepultura as angústias de um coração atribulado e aflito.
Marilyn foi uma sombra inquieta, carente de paz interior. Sua
beleza física, talento profissional e estabilidade econômica não foram
suficientes para conjurar suas frustrações e angústias.
Com tranqüilizantes conseguia repousar artificialmente durante a
noite. Com estimulantes adquiria energias para as ásperas batalhas do
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 240
dia. Mas a paz de espírito que ela tanto buscou só pode ser encontrada
em Cristo.
Apesar de sua grande popularidade, Marilyn viveu o intenso drama
da solidão, um dos mais graves problemas sociais de nossos dias. Na
cidade de Nova Iorque, a Help Line (ajuda através do telefone 481-1070)
em um só amo recebeu 49.087 chamadas de pessoas solitárias, que não
tinham com quem conversar. Neste mesmo ano desapareceram
oficialmente 26.031 pessoas. O Exército de Salvação abrigou em suas
dependências cerca de 5.300 pessoas desvalidas que, carentes de
recursos, não tinham para onde ir. Os necrotérios enviaram à cova
comum 1.500 corpos que não foram reclamados.
Em uma reportagem publicada em O Estado de S. Paulo, Luiz
Fernando Emediato descreve o drama vivido por 300 mil paulistanos
torturados pela solidão. Eles deambulam melancólicos pelas ruas, praças
e parques e congestionam as mesas dos bares, buscando alguém para
compartilhar sua desesperança, que, a dois, se torna mais suportável.
A Bíblia, no intenso dramatismo de suas páginas, nos conta a
história de homens e mulheres que viveram intensamente a angústia da
solidão.
Quão terrível foi a aflição vivida por Jacó em um deserto ermo e
solitário, nas ensolaradas paragens de Berseba! Atemorizado diante das
ameaças de seu defraudado irmão, sentindo-se angustiado, rogou a Deus
uma prova de que não havia sido abandonado. Extenuado, após a jornada
de um dia, dormiu tendo as estrelas como testemunhas de sua
insuportável nostalgia. E enquanto dormia, viu em sonho uma escada
fulgurante, cuja extremidade superior alcançava o céu. Em meio à visão
resplendente, ouviu a voz de Deus que dizia: "Eis que Eu estou contigo,
e te guardarei por onde quer que fores... Não te desampararei." 1
Podemos, acaso, imaginar uma sentença mais dramática que esta
registrada no Salmo 142:4 – "Ninguém que por mim se interesse". Quão
dramático é este lamento! Escondido em uma caverna, acossado por seus
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 241
inimigos, em sua solidão e abandono, o cantor de Israel exclamou:
"Ninguém que por mim se interesse."
Quanto anelava Marilyn, na noite do suicídio, uma palavra de
conforto, uma expressão de amor, um gesto de simpatia! Quão solitária
se sentia na última noite de sua agonia, esmagada sob o peso de suas
frustrações e angústia! Com efeito, ela necessitava ouvir a mensagem
divina dirigida a Jacó: "Eu estou contigo."
Mui conhecida é a história de um menino que estava se
matriculando no Jardim da Infância. A professara, como de costume,
dirigiu-se à mãe, interrogando:
– Alfredo tem irmãos mais velhos?
– Não.
– Irmãos mais novos?
– Não.
– Irmãs mais velhas?
– Não.
– Irmãs mais novas?
– Não.
Alfredo, que se sentia irritado com tantas perguntas, interrompeu o
diálogo entre a professora e sua mãe, dizendo:
– Mas, eu tenho amigos.
Com efeito, nós temos um Amigo que nunca nos desampara. Ele
está sempre ao nosso lado, pois é um "amigo mais chegado do que um
irmão" 2
Recordemos sempre que, quando solitários e aflitos, vivendo as
tristezas próprias das manhãs nubladas ou as angústias das tardes
escuras, podemos confiar na promessa: "Eis que estou convosco todos os
dias até à consumação do século." 3
Podemos, porém, confiar que Ele não somente está ao nosso lado,
fortalecendo-nos para superar as aflições da vida, mas que Ele em breve
visitará a Terra para inaugurar o reino prometido aos Seus escolhidos.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 242
Então todas as angústias da vida serão esquecidas; as perplexidades
e desenganos se desvanecerão. Nossas mais caras esperanças se
cumprirão e nossos sonhos se converterão em realidade.

Venturosa Promessa

A importância deste evento é destacada pela freqüência de sua


menção nas Sagradas Escrituras. Podemos até mesmo afirmar que suas
páginas inspiradas estão iluminadas pela esperança gloriosa da segunda
vinda de Cristo. Não somente os patriarcas, profetas e apóstolos,
anunciaram este acontecimento, mas o próprio Salvador salientou o seu
significado.
Dirigindo-se aos Seus discípulos, em um momento sombrio, carregado
de tensões e ansiedades, Jesus prometeu:
"Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em
mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-
lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar
lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou,
estejais vós também. E vós sabeis o caminho para onde eu vou. " 4
Tomé, ouvindo esta consoladora promessa, afligido pela dúvida,
interrogou:
"Senhor, não sabemos para ande vais; como saber a caminho?" 5
Tendo a glória de Deus irradiando-Lhe o semblante, Jesus
respondeu:
"Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai
senão por mim." 6
Nós não iremos ao filósofo para conhecer o caminho; não iremos ao
médico para ter vida; não iremos ao moralista para conhecer a verdade;
iremos diretamente a Jesus, que é "o caminho, a verdade e a vida". E de
Seus lábios ouviremos as palavras consoladoras: "Virei outra vez."
Visitando as Filipinas pela primeira vez em 1982, contemplei suas
lindas praias onde, na Segunda Guerra Mundial, se escreveram páginas
emocionantes de bravura e heroísmo. Diante do feroz assédio das forças
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 243
inimigas, o General MacArthur e seus comandados foram compelidos a
abandonar a ilha. Tendo a água até a cintura, o bravo general anunciou
dramático aos filipinos que presenciaram a retirada: "Voltarei!"
Sob a mais terrível opressão, os habitantes do arquipélago
aguardaram o cumprimento da promessa feita pelo general. Por vezes
tiveram suas esperanças renovadas mediante impressos lançados por
aviões, em incursões militares, reafirmando a certeza de que um dia
seriam libertados. Finalmente, após uma longa espera, com o apoio da
aviação, marinha e tropas de infantaria, o respeitado comandante voltou
como havia prometido.
O nosso torturado planeta se encontra afligido pelas forças da
impiedade, incapaz de encontrar uma saída para os seus maiúsculos
problemas. Mas Aquele que prometeu voltar outra vez, em breve
cumprirá a promessa. Ele virá para destruir o império do pecado e da
morte e conceder vida imortal e felicidade plena a todos que O esperam.

A Promessa Através dos Séculos

Quando analisamos os gloriosos triunfos da igreja nos dias


apostólicos, encontramo-la contagiada com os ideais da "bem-aventurada
esperança". Inspirados na promessa de Jesus, os pregadores do primeiro
século saíram por todos os caminhos do mundo anunciando a vinda do
Senhor.
O entusiasmo daqueles arautos foi semelhante a um imenso
vagalhão que ameaçou apagar os últimos vestígios do paganismo ao
proclamar a "parusia" (vocábulo grego usado nos dias apostólicos para
definir o retorno pessoal de Cristo à Terra).
O cárcere, as torturas e o martírio não foram suficientes para
neutralizar o entusiasmo e fervor de um movimento religioso que
"nasceu vitorioso e para vencer". Com surpreendente determinação, seus
seguidores avançaram inspirados no significado de duas palavras
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 244
aramaicas que foram para eles como uma bandeira de luta: "Maran atha"
(O Senhor vem).
As catacumbas situadas nos subterrâneos de Roma, nas quais
muitos se refugiaram nos momentos de perseguição, estão cheias de
representações pictóricas, ilustrando sua inabalável confiança no
cumprimento da promessa do Senhor.
"Maran atha", a saudação fervorosa dos cristãos na Palestina, foi
posteriormente levada a outras nações e traduzida no idioma de
diferentes grupos étnicos para expressar a fé no advento de Cristo.
Com o transcurso dos anos, porém, a "bem-aventurada esperança"
perdeu sua preeminência. Especulações teológicas e interpretações
alegóricas conspiraram contra o fervor adventista. E a escuridão religiosa
desceu sobre as nações; as sombras do erro cobriram a Terra.
Mais tarde despontou a Reforma, sacudindo os fundamentos da
estrutura escolástico-medieval, e a chama da esperança na vinda de
Cristo foi novamente avivada.
Entretanto, no Século XVIII, influentes intérpretes das Escrituras
substituíram a escatologia (estudo das coisas relacionadas com o fim do
mundo) pela expectativa do "triunfo inevitável da civilização".
Seduzidos por esta nova exegese, os dirigentes religiosos relegaram a um
segundo plano a doutrina da volta de Cristo, para se ocupar com os
sistemas políticos e as dialéticas econômicas. (Era a teologia da liberação
em sua fase embrionária.) E a chama da esperança adventista se tornou
bruxuleante e quase se apagou.
A primeira parte do Século XIX se caracterizou por um vibrante
reavivamento religioso, interconfessional, inspirado nos ideais da
sublime esperança. As crueldades cometidas nos turbulentos dias da
Revolução Francesa e as devastadoras conquistas napoleônicas ainda
estremeciam o mundo, pavimentando o caminho para um grande
despertamento religioso. Esse reavivamento sacudiu as igrejas cristãs.
No Velho Continente, uns 200 eruditos produziram centenas de
livros e panfletos, e publicaram catorze periódicos dedicados ao estudo
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 245
das profecias. Esses estudiosos das Escrituras representavam as mais
diversas correntes do pensamento cristão e, entre eles, contavam-se
teólogos, pregadores, escritores e até mesmo chefes militares.
Na França, Pierre Jean Agier, presidente do célebre e temido
tribunal da revolução em 1795, escreveu um livro sobre a segunda vinda
de Cristo. Na Inglaterra, em 1826, fundou-se uma Sociedade para
Investigação das Profecias, tendo como escopo o estudo da "iminente
vinda de nosso Senhor".
Dessa sociedade, integrada por cinqüenta membros, faziam parte,
além de destacados líderes religiosos, o Duque de Manchester, o Vice-
Almirante Hope e Sir Thomas Blomfield.
Na América do Sul o sacerdote jesuíta Manuel Lacunza, de
Santiago do Chile, escreveu La Venida de Cristo en Gloria y Magestad.
Traduzido em diferentes idiomas, esse tratado foi amplamente
distribuído nas Américas e nos países da Europa, produzindo uma
impressão indelével sobre um grande número de dirigentes religiosos.
Como resultado desses estudos das profecias, generalizou-se entre
muitos a crença na aproximação da volta de Cristo.
Entre os muitos estudiosos das profecias, naqueles idos, destacou-se
Guilherme Miller, de formação batista, que em seu fervor foi levado a
marcar datas definidas para a volta do Senhor. Mais tarde, porém, foi
levado a admitir que se havia equivocado, uma vez que sua interpretação
não estava em harmonia com a Bíblia.
Mas, o grande reavivamento religioso do século passado, que
empolgou cristãos de todas as confissões, deu origem a um movimento
de proclamação do evangelho que hoje abarca o mundo. Este
movimento, conhecido pelo nome Adventista, salienta em sua
proclamação, que vivemos em uma hora apocalíptica e que Cristo não
tardará a se manifestar na plenitude de Sua glória.

"Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande


galardão. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que,
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 246
havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa. Porque, ainda
dentro de pouco tempo, aquele que vem virá e não tardará." 7

Como Virá o Senhor?

Para guardar-nos de alguns enganos sutis, as Sagradas Escrituras


esclarecem a maneira como o Senhor virá. Nos quatro pontos que a
seguir enumeramos, resumimos o que diz a Palavra de Deus sobre este
importante tema:
1. Pessoal. Deus quis que Seus filhos compreendessem ser Aquele
que há de vir em glória, o mesmo Salvador dos homens que palmilhou os
poeirentos caminhos da Galiléia. Enquanto os discípulos contemplavam
surpreendidos o Salvador ascendendo corporalmente ao Céu, dois anjos
se puseram subitamente ao lado deles e disseram:
"Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse
Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes
subir." 8
''Esse Jesus!" O mesmo Jesus que nasceu em Belém e que viveu
entre os homens exemplificando o amor; o mesmo Jesus que morreu por
nós em uma infamante cruz e que ascendeu ao Céu, virá para consumar
Sua obra salvífica.
Esse mesmo Jesus que retornou ao Céu, levando no corpo as
cicatrizes da cruz, voltará revestido de imarcescível glória, tendo "todos
os santos anjos com Ele".
Seu regresso pessoal e corpóreo encherá de indescritível gozo o
coração daqueles que O esperam para salvação. Em arroubos de gozo e
gratidão, exclamarão:
"Eis que este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e ele nos
salvará; este é o Senhor, a quem aguardávamos; na sua salvação
exultaremos e nos alegraremos." 9
2. Visível. Um estudo das Escrituras sobre este tema cristaliza em
nossa mente a convicção de que o Espírito Santo estava empenhado em
salientar o fato de que a vinda de Cristo não seria um evento secreto.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 247
Com as luzes da inspiração o apóstolo S. João escreveu:
"Eis que vem com as nuvens, e todo olho O verá, até quantos O
traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre Ele." 10
Vê-Lo-ão olhos que resplandecem de amor e ternura e os que
irradiam ódio e vingança. Contemplá-Lo-ão olhos que transmitem
gratidão e alegria e os que denotam tristeza e melancolia. Os olhos
inquietos e agitados dos delinqüentes e tiranos também verão o Senhor.
Enfim, vê-Lo-ão filhos que refletem as virtudes mais puras e os que
revelam o vício, a impureza e as vulgaridades da vida. Sim, dizem as
Escrituras: "E todo o olho O verá."
Sua vinda será tão espetacular como um relâmpago que ilumina de
um extremo ao outro um firmamento sem estrelas. (S. Mateus 24:27)
Acompanhá-Lo-ão os anjos do Céu (S. Lucas 9:26) os quais, com sua
glória ampliarão o esplendor de Sua vinda.
3. Literal. Para os que interpretam a vinda de Cristo como um
evento simbólico ou simples metáfora bíblica, os escritores inspirados
oferecem uma refutação convincente.
Valendo-se de uma linguagem clara e direta, os autores dos
diferentes livros da Bíblia descrevem a volta de Cristo como um
acontecimento literal. (S. Mateus 24, S. Marcos 13, S. Lucas 21.)
Naquele dia os céus se abrirão, a terra se agitará, a trombeta de Deus
ecoará, e uma glória deslumbrante, jamais vista pelos homens, irromperá
sobre o mundo. Cristo então intervirá nos destinos das nações como Rei
dos reis e Senhor dos senhores.
4. Gloriosa. Registrando as palavras proféticas de Jesus. S. Lucas, o
historiador inspirado, escreveu:
"Então se verá a Filho do Homem, vindo ruma nuvem, com poder e
grande glória. " 11
Ele veio espiritualmente a milhares e milhares por ocasião de sua
conversão, mas na consumação de todas as coisas Ele Se manifestará no
esplendor de Sua glória para restaurar todas as coisas e reinar para
sempre.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 248
Este evento será tão deslumbrante que os fundamentos da terra
tremerão (Apocalipse 6:14) e os que rejeitaram a graça redentora
oferecida por Cristo, em angústia se esconderão nas cavernas e nas
rochas das montanhas" (versículo 16), num esforço inútil por se esconder
da presença do Senhor.
A mente se obscurece e a pena vacila quando intentamos descrever
os momentosos acontecimentos que terão lugar naquele dia. As cenas
que então serão vistas transcendem os limites da imaginação humana.

Quando Virá o Senhor?

Quando ainda neste mundo, Jesus não somente prometeu que


haveria de voltar (S. João 14:1-3), mas explicou também como
poderíamos conhecer o tempo de Sua vinda. Predisse as condições
prevalecentes no mundo imediatamente antes de Seu regresso;
apresentou alguns sinais que, ao ocorrerem, deviam ser interpretados
como prenúncios de Sua vinda. Exortou Seus seguidores a serem sóbrios
e vigilantes e, à maneira de advertência, acrescentou:
"Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se
renovam e as folhas brotam, sabeis que está próximo o verão.
"Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que
está próximo, às portas." 12
A sucessão acelerada de acontecimentos catastróficos traz-nos à
mente o pensamento de que o Senhor está por iniciar o Seu triunfal
regresso à Terra. O açoite da guerra, a maldição da pobreza e inanição, a
crise moral e espiritual e os demais problemas mencionados nos
capítulos anteriores, combinam-se em nossos dias, confirmando a
convicção de que o fim está próximo.
Quando as espigas cheias pendem maduras, o agricultor diligente
sabe que estão prontas para a colheita. Igualmente, ao vermos os sinais
revelados na profecia, somos levados a concluir que a maturação da
colheita eterna se aproxima. Por isso exortou o Salvador:
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 249
"Ora, ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a
vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima." 13
Que promessa alentadora! Como peregrinos na jornada da vida,
somos animados a renovar a fé na certeza de que se aproxima a redenção
prometida.

Por Que Virá o Senhor?

As Escrituras Sagradas, no livro de Hebreus, dá uma convincente


resposta:
"Assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre
para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado,
aos que o aguardam para a salvação." 14
Como a elipse tem dois focos de igual dimensão, a grande elipse do
plano da redenção estaria incompleta sem os seus dois focos de igual
importância: a primeira e a segunda vinda do Senhor. Na primeira Ele
veio como Messias; na segunda virá como Rei. Na primeira revelou Sua
majestade; na segunda manifestará a plenitude da Sua glória. Na
primeira veio ''para tirar os pecados do mundo''; na segunda, para os "que
O esperam para a salvação". Na primeira veio para redimir-nos do poder
da morte; na segunda para outorgar-nos vida eterna.
Naquele dia se proclamará a libertação dos redimidos. Atendendo à
voz de Deus, os anjos "reunirão os Seus escolhidos, dos quatro ventos,
de uma a outra extremidade dos céus" (S. Mateus 24:31). Entre eles
estarão todos os que morreram crendo nas promessas do Senhor e na
gloriosa esperança da ressurreição. 15
O Senhor levantará as mãos marcadas com os cravos da cruz e
chamará os Seus escolhidos que dormem o sono da morte. Ouvindo a
voz de Deus, do pó e das cinzas, do recesso de escuras e bolorentas
sepulturas e dos profundos abismos do oceano, ressurgirão formas
imortais, estuantes de vida, ante o chamamento poderoso do Príncipe da
vida.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 250
Famílias ceifadas pelo impiedoso alfanje da morte reunir-se-ão
outra vez. Filhos pranteados serão entregues aos braços ternos de suas
mães. Que espetáculo comovente!

Encontro Espacial

O dia 16 de dezembro de 1961 se inscreveu nos anais da História


como uma data memorável. Encontraram-se neste dia, sobre as ilhas
Marianas, as naves espaciais Gemini VI e VII. Com esta extraordinária
façanha, os cosmonautas Frank Borman e James Lowell por um lado, e
Walter Schirra e Tomás Stafford por outro, receberam uma consagração
mundial.
Encontro no espaço. Se alguém na década de 40 escrevesse sobre a
possibilidade de um encontro espacial, seria qualificado como
especialista em ficção científica. Os triunfos logrados pela
cosmonavegação, entretanto, se encarregaram de demonstrar que aquilo
que ontem poderia ser considerado uma utopia, é hoje uma
surpreendente realidade.
Somos informados, porém, pelas Sagradas Escrituras, que
incontáveis pessoas efetuarão um encontro espacial. O apóstolo S. Paulo
escreveu:
"Porquanto o Senhor mesmo ... descerá dos céus, e os mortos em
Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos,
seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro
do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor." 16
Esta passagem constitui um dos últimos elos de uma extensa cadeia
profética que nos leva até a segunda vinda de Cristo e, até mesmo, além
daquele grande dia. Temos certeza absoluta de que este evento profético
se cumprirá porque as outras etapas da extensa sucessão de
acontecimentos anunciados pela Palavra de Deus se cumpriram.
Pois bem, ao ensejo da vinda de Cristo, os redimidos transformados
(os que não experimentaram o poder da morte e os que ressuscitaram
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 251
diante do chamamento divino) viajarão pelo espaço sideral para
"encontrar o Senhor nos ares". E assim se cumprirá a promessa:
"Voltarei e os receberei para mim mesmo, para que onde Eu estou
estejais vós também." 17
As incursões espaciais realizadas pelos cosmonautas em suas
viagens exploratórias representam o dispêndio de somas astronômicas.
Porém, o nosso encontro estratosférico com o Senhor significará um
preço infinitamente mais elevado que os bilhões de dólares ou de rublos
consumidos em programas espaciais. Representará o sangue derramado
no Calvário, com o qual Deus nos assegura a graça de participarmos
nessa venturosa experiência. O privilégio de desfrutá-la está basicamente
fundado sobre a perfeita justiça de Cristo. Porém, está em nossas mãos
aceitar a generosidade celestial.

A Preparação Indispensável

A salvação eterna não ê um prêmio lotérico que contempla alguns


privilegiados ou uns poucos "santos". Cristo veio como Salvador "para
que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna"(S. João
3:16). E o apóstolo Paulo acrescentou: "Porquanto a graça de Deus se
manifestou salvadora a todos os homens." 18
Mas a salvação não nos exime da obrigação de um preparo para o
encontro com o Senhor (Amós 4:12). Assim como nos preparamos para
receber um visitante, limpando a casa, preparando alimentos apetitosos e
vestindo-nos adequadamente, devemos também preparar-nos para
receber o Rei da glória.
Escrevendo sobre a certeza da vinda do Senhor, o apóstolo S. Pedro
escreveu:
"Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser
tais como os que vivem em santo procedimento e piedade,
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 252
"Esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do
qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se
derreterão.
"Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e
nova terra, nos quais habita justiça." 19
E concluiu com a sóbria advertência:
"Por essa razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-
vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis" 20
Para sermos encontrados inculpáveis naquele dia, devemos:
1. Aceitar a Cristo como nosso Salvador pessoal. 21
2. Arrepender-nos de nossos pecados e confessá-los ao Senhor. 22
3. E obedecer por meio do poder divino aos grandes princípios do
evangelho. 23
A vida eterna constitui a mais preciosa dádiva ao nosso alcance e,
para desfrutá-la, devemos elevar as nossas preocupações acima dos
valores transitórios, e preparar-nos para aquele dia quando Deus "tragará
a morte para sempre" (Isaías 25:8) e transformará as lágrimas humanas
em alegrias inexprimíveis. Somente então entenderemos "... que os
sofrimentos do tempo presente não são para comparar com a glória
porvir a ser revelada em nós" 24

Bem-Aventurada Esperança

Para muitos a grande tragédia que caracteriza Os nossos dias não


está na escalada do crime, na decadência mural ou na possibilidade de
um holocausto atômico, mas sim na ausência de toda esperança.
O Dr. Emil Brunner (1889-1966), em seu livro Eternal Hope
(Esperança Eterna), escreveu:
"O que o oxigênio é para os pulmões, é a esperança para dar
significado à vida humana. Eliminemos o oxigênio e se produzirá a morte
por asfixia. Eliminemos a esperança e a humanidade se verá angustiada,
sufocada; sobrevirá o desespero, que paralisará as faculdades
intelectuais e espirituais, devido ao vazio que se produz e a falta de
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 253
propósito na existência. Assim como a vida do organismo depende de
uma constante provisão de oxigênio, da mesma forma a existência
humana depende da esperança que acaricia." 25
Mas não é sábio acariciarmos esperanças ilusórias que nos induzem
a alimentar falsas expectativas. Na mesa de cabeceira de Marilyn
Monroe estava uma fotografia, na qual a desventurada estrela aparece ao
lado do conhecido escritor, Arthur Miller, em 1957, pouco depois do seu
casamento. No reverso da foto, Marilyn escreveu: "Esperança,
esperança, esperança." Amargo desengano! A festejada união terminou
em precipitado divórcio.
Herbert Norman, embaixador canadense, se suicidou, deixando
escrita a seguinte nota explicando sua decisão: "Não tenho outra
alternativa. Devo suicidar-me, pois não posso viver sem esperança."
Explicando o alarmante aumento do uso de drogas entre os alunos
da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, revelou o Professor J. M.
Allen, que os estudantes caíram vítimas de terrível desespero, de tal
maneira que se dão por vencidos, sentem-se derrotados, humilhados e
buscam um lugar de refúgio nas drogas, na promiscuidade e no
misticismo.
Mas os que confiam no Senhor, embora circundados por condições
às vezes probantes, erguem os seus olhos para cima animados pela "bem-
aventurada esperança" – "a manifestação da glória do nosso grande Deus
e Salvador Cristo Jesus". 26
Certa vez um passageiro de um trem, evidentemente extenuado,
enxugando o suor do rosto, disse ao seu companheiro de viagem:
– Pagaria qualquer soma se pudesse me livrar desta exaustão e deste
pó, e respirar um pouco de ar fresco e puro! Este calor me sufoca e este
pó me irrita!
O rosto de todos os passageiros denotava fadiga, desconforto e
irritação; porém havia um jovem que contrastava dos demais; pois
irradiava ânimo e alegre disposição. O otimismo e a boa disposição se
evidenciavam em seu rosto. Surpreso, um dos passageiros o interrogou:
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 254
– Não sente o calor, o pó e o desconforto da viagem?
– Sim – respondeu o jovem – porém a alegria de saber que o meu
pai me aguarda e que em breve estarei em casa, supera todos os
inconvenientes.
Viajava enfrentando o mesmo desconforto dos demais, porém a
esperança e a alegria de encontrar-se com o pai e o prazer de voltar à
casa de sua infância eram tão grandes, que lhe permitiam suportar com
prazer o calor e o pó da viagem. Com efeito, a esperança reconforta e
anima.
Ao pequeno grupo de discípulos preparados para proclamar o
evangelho redentor, Jesus formulou uma extraordinária promessa que em
breve se cumprirá: "... Voltarei, e vos receberei para Mim mesmo, para
que onde Eu estou estejais vós também." 27
O homem de fé, com os demais seres humanos, sofre as aflições da
vida, porém as enfrenta animado pela viva e feliz esperança de encontrar
no fim da jornada o Pai celestial que o receberá em Seu lugar.
Um conhecido incidente ocorrido nos últimos anos de vida do rei
Jorge V, mostra a esperança que ele nutria em relação ao futuro. O rei
havia estado gravemente enfermo e convalescia. Passeava certo dia em
companhia da princesa Elizabeth por um jardim nos fundos do palácio
Buckingham. A princesa era uma menina de oito anos, e seu avô real lhe
tinha grande afeto. Caminhavam de mãos dadas, contemplando as flores
e conversando.
– Vovô, não acha que eu sou uma menina de sorte por ser princesa?
Imagine só, ter um avô maravilhoso que possui um grande império e
súditos por todo o mundo.
– Sim, Elizabeth, você é afortunada por ser princesa e ter um rei
como avô. Porém, um dia seu avô deixará de existir. Mesmo com o
poderoso império que possuo, não escaparei à morte. E agora, minha
querida neta, desejo falar-lhe de um outro reino muito maior que o meu.
Será um reino onde todos os meninos e meninas serão príncipes e
princesas. Ali não haverá diferença entre ricos e pobres. A enfermidade e
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 255
a morte não existirão. Não será necessário um exército para proteger-nos
de inimigos, porque será um reino de paz. Não haverá inveja e
rivalidade. Querida Elizabeth, eu gostaria de estar com você naquele
belo país, onde Deus será o Rei e todos nós Seus súditos...
Ainda por um pouco de tempo as angústias e aflições continuarão
existindo. Entretanto, a confiança nas promessas de Deus e a esperança
de Sua intervenção nos negócios do mundo para estabelecer um reino de
paz, justiça e amor devem trazer-nos conforto e ânimo para seguirmos na
trajetória da vida.

Referências:

1. Gênesis 28:15
2. Provérbios 18:24
3. S. Mateus 28:20
4. S. João 14:1-4
5. Idem, versículo 5
6. Idem, versículo 6
7. Hebreus 10:35-37
8. Atos 1:9 e 10
9. Isaías 25:9
10. Apocalipse 1:7
11. S. Lucas 21:27
12. S. Mateus 24:32 e 33
13. S. Lucas 21:28
14. Hebreus 9:28
15. I Tessalonicenses 4:16
16. Idem, versículos 16 e l7
17. S. João 14:3
18. Tito 2:11
19. II S. Pedro 3:11-13
20. Idem, versículo 14
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 256
21. Atos 16:30 e 31
22. Atos 2:38; I S. João 1:9
23. S. Mateus 7:16-21
24. Romanos 8:18
25. Citado por Teodoro Garcich, em "Firme Esperanza para
un Mundo en Aflicción", Vida Feliz, abril de 1972, pág. 5
26. Tito 2:3
27. S. João 14:3
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 257
MIL ANOS DE PAZ

As instituições existentes deverão ceder lugar a uma espécie de


soberania e segurança transcendentes, presumivelmente a um governo
mundial. – Jonathan Schell, em O Destino da Terra

*Fantasias e Realidades *A Ressurreição dos Eleitos *Os Justos


Levados Para o Céu *A Destruição dos Ímpios *A Prisão de
Satanás *O Juízo no Céu *A Terceira Vinda de Cristo *A Segunda
Ressurreição *A Tragédia do Santa Helena

N a área onde se travou a batalha de Waterloo havia um lugar


que foi tomado e retomado sucessivas vezes em ferozes
combates. Os comandantes das forças combatentes sabiam que quem
conseguisse ficar de posse daquele ponto estratégico, venceria a guerra.
Perdê-lo significaria a derrota inevitável.
Os que estudam as doutrinas do evangelho, descobrem que a
ressurreição de Cristo constitui o ponto culminante do qual depende o
triunfo ou a derrota do próprio cristianismo. Um Salvador cuja biografia
terminasse em uma tumba, jamais atrairia os homens. Sem a ressurreição
o cristianismo seria apenas um sistema ético destituído de poder
sobrenatural.
Certa vez, em um diálogo entre Augusto Comte (1798-1857) o
filósofo francês, e Thomas Carlyle (1795.188I), o celebrado ensaísta
escocês, Comte expressou o desejo de fundar uma religião que ofuscaria
completamente o cristianismo. Seria urna religião sem mistérios, tão
clara como a tabuada de multiplicar, e seu nome seria "positivismo".
Muito bem!'', comentou Carlyle. ''Mas para que essa nova
empreitada seja vitoriosa, terá que falar como jamais homem algum
falou, viver como nenhum outro viveu, ser crucificado, ressuscitar ao
terceiro dia e fazer o mundo crer que ainda está vivo. Nesse caso, a sua
nova religião terá possibilidade de êxito."
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 258
O triunfo do cristianismo tem como explicação a tumba vazia de
Cristo. Ele ressuscitou e retornou ao Céu de "onde virá para julgar os
vivos e os mortos", testifica o Credo Niceano, reconhecido pela maioria
das igrejas cristãs como precioso documento histórico definindo a
doutrina cristã.
Mas, que ocorrerá ao ensejo do advento de Cristo? As opiniões
variam de forma surpreendente, embora o ensino bíblico a respeito seja
meridianamente claro. Os acontecimentos que terão lugar imediata,
mente após o retorno de Cristo fazem parte de um tema amplo e
fascinante, conhecido como Milênio, vocábulo que significa "mil anos".

Fantasias e Realidades

Inúmeros escritores filiados às correntes doutrinárias mais diversas


têm se ocupado no estudo e interpretação desse longo período anunciado
na literatura apocalíptica.
O – Os escritores judeus, através do Talmude,
afirmaram as suas crenças de que o milênio se caracterizaria pelo triunfo
dos judeus sobre os seus inimigos, a restauração da Palestina e o
estabelecimento do reino do Messias com esplendor inigualado.
Dessa idéia, fruto de uma errônea interpretação das antigas
profecias, nasceu o (variação do vocábulo grego
, que no Novo Testamento é traduzido pela expressão mil)
que tanto empolgou a Igreja nos primeiros séculos.
Já nos dias de Jesus, entusiasmados com Seus milagres, muitos
chegaram à conclusão de que Ele – o Messias aguardado – por fim
haveria de Se manifestar, terminando os opróbrios de Israel expulsando
os exércitos romanos e restaurando a glória do trono de Davi.
Tanto nos escritos de Papias, discípulo de São João, como nas
lucubrações de Justino Mártir, Metódio, Vitorino, Tertuliano,
Comodiano, Lactâncio e outros, embora destituídos de valor intelectual,
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 259
encontramos valiosos subsídios que muito enriquecem a literatura sobre
o tema em foco.
Esses destacados representantes da Igreja cristã primitiva
contribuíram para o fortalecimento do , proclamando o
glorioso reinado de Cristo com os santos, em Jerusalém, durante o
período de mil anos.
Um dos mais conspícuos representantes desse pensamento foi, sem
dúvida, Justino Mártir (100-165), que escreveu expressamente:
"Mas eu, e todos os cristãos ortodoxos, cremos que Jerusalém será
reconstruída, adornada e aumentada, como os profetas Ezequiel, Isaías e
outros declararam."
Após comentar diversas passagens do livro de Isaías, concluiu com
o seu testemunho acerca do livro de Apocalipse:
"Além disso, um certo homem entre nós, cujo nome é João, sendo
um dos doze apóstolos de Cristo, por revelação que lhe foi dada,
profetizou que aqueles que crêem em Cristo cumprirão os mil anos em
Jerusalém, e depois acorrerá a ressurreição da carne e o juízo final."1
Evidentemente, essa idéia teve a sua origem numa tradição judaica,
à qual se acrescentou o pensamento da reconstrução e embelezamento de
Jerusalém, a capital do reinado temporal de Cristo.
Irineu (130-202), outro influente apologista do ,
doutrinava que a História estava dividida em sete porções,
correspondendo aos sete dias da Criação. Cada uma das divisões cobriria
um período de mil anos, e haveria seis mil anos de labor, seguidos de mil
anos de descanso e paz em Jerusalém.
Investigando, porém, as diferentes idéias defendidas pelos chamados
Pais da Igreja, verificamos os exageros da fantasia, responsáveis pelo
descrédito do .
Mas, nas palavras de Jesus, a idéia de mil anos de paz, em uma
Jerusalém reconstruída, encontra sua mais contundente reprovação.
Respondendo a uma indagação de Pilatos, Jesus sentenciou: "O Meu
reino não é deste mundo."
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 260
Através do ministério do ensino, Jesus esforçou-Se por inculcar na
mente das multidões que O ouviam, a natureza do Seu reino.
Introduzindo as Suas parábolas, reiterava com freqüência: "O reino dos
Céus é semelhante..."
Portanto, o não se fundamenta nas Escrituras
Sagradas. Nasceu da tradição e cresceu alimentado pela fantasia.
Santo Agostinho e o Pós-Milenarismo – Combatendo os excessos
do , Santo Agostinho (354-430) sistematizou a influente
teoria do Pós-milenarismo, proclamando "que o período de ouro estava
em processo desde o estabelecimento da Igreja cristã sobre a Terra, e que
o próprio desenvolvimento do cristianismo era, com efeito, o milênio em
si mesmo".
Com a conversão do imperador Constantino, pareceu a muitos estar
assegurado o triunfo da Igreja. O bem-aventurado período estava,
portanto, em processo. Cristo Jesus voltaria após completados os mil
anos da profecia.
Salientando, porém, o triunfo e domínio da igreja "aqui e agora", o
cristianismo se secularizou, e perdeu de vista a importância do segundo
advento de Cristo e o estabelecimento do Seu reino.
Whitby e a Nova Hipótese Pós-Milenar. – Na primeira parte do
século XVIII surgiu uma nova sistematização do esquema pós-milenar
de Santo Agostinho, trazendo sobre o protestantismo uma influência
marcante e ruinosa.
Whitby (1638-1726), intérprete desse novo esquema, preconizou o
triunfo dos homens sobre as forças do mal. As guerras seriam
eliminadas. As nações converteriam as suas espadas em enxadas, e as
suas lanças em foices, e sobre o mundo tremularia a bandeira da paz. O
cristianismo, através de vitoriosas cruzadas de reavivamento espiritual,
submeteria o mundo a Cristo. Os mil anos se completariam com o triunfo
definitivo do bem e Jesus então Se manifestaria na Sua vinda e no Seu
reino.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 261
Esta teoria, embora lisonjeira, não suporta a prova do exame
escriturístico. Nas veneráveis páginas da Bíblia não encontramos uma
afirmação sequer que justifique a acariciada esperança de que a
humanidade como um todo retornará a Cristo e às máximas do
Evangelho. Tampouco vaticina o Sagrado Livro a vitória do pacifismo
como conquista humana.
Ao invés de um período de paz e harmonia entre os povos, como
doutrinam os pós-milenaristas, teremos, consoante as palavras de Jesus
em Seu sermão profético, "guerras e rumores de guerras. ... Porquanto se
levantará nação contra nação e reino contra reino"(S. Mateus 24:6 e 7).
Em lugar de um regresso dos homens a Cristo e às evidências da fé,
teremos uma reprodução constante dos vícios e abominações que,
praticados pelos contemporâneos de Noé, resultaram na catástrofe do
Dilúvio. São ainda do mesmo sermão profético as palavras que a seguir
reproduzimos.
"Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do
Homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio comiam e
bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou
na arca, e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a
todos, assim será também a vinda do Filho do Homem." 2
À luz desses textos, e de outros não menos importantes, concluímos
afirmando que o pós-milenarismo proclamado por Santo Agostinho,
Whitby e outros, não tem fundamento nos oráculos divinos.
As guerras com o seu corolário de misérias, a progressão da
impiedade e a escalada da violência, têm abalado profundamente os
alicerces do espúrio pós-milenarismo, inspirado numa utopia divorciada
das realidades proféticas.
O Pré-Milenarismo – O milênio não foi ensinado por Cristo
enquanto esteve entre os homens. Os antigos profetas jamais fizeram uso
deste vocábulo. Nas inspiradas epístolas dos apóstolos não encontramos
sequer uma referência a um período de mil anos. Há somente um
capitulo no livro de Apocalipse que descreve o reino de Cristo com os
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 262
santos por mil anos e a prisão de Satanás por igual período. Outras
passagens da Bíblia, entretanto, oferecem dados em apoio.
Com a aplicação dos princípios de interpretação profética, sem o
concurso da fantasia, podemos claramente entrever a vinda de Cristo
como antecedendo esse dilatado período profético.
Do Gênesis ao Apocalipse, o segundo advento de Cristo ao mundo
é mencionado duas mil e quinhentas vezes. Para cada vinte versículos do
Novo Testamento, um fala acerca do retorno do Salvador. Tal ênfase
mostra a importância que os profetas e apóstolos deram ao tema.

A Ressurreição dos Eleitos

A ressurreição dos eleitos, que ocorrerá ao ensejo da vinda de


Cristo, será um acontecimento inconfundível, marcando o início do
período milenar.
O vidente de Patmos, com as luzes da inspiração, declarou:
"Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira
ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo
contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil
anos." 3
Se os que participarem da primeira ressurreição reinarão com Cristo
por mil anos, concluímos que o período de mil anos se inicia com este
evento.
Ora, a afirmação de que haverá uma "primeira" ressurreição nos
leva à conclusão inevitável de que haverá também uma "Segunda". E se
assim for, quando ocorrerá?
Outra vez o vidente exilado nos esclarece o enigma:
"Os restantes das mortos não reviveram até que se completassem
os mil anos." 4
Está claro, pois, que as duas ressurreições delimitam os mil anos.
Uma inicia o período e a outra o encerra.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 263
Uma vez que os que participam da "primeira ressurreição" são
qualificados como "bem-aventurados" e "santos", concluímos que estes
são os eleitos – os escolhidos de Deus. Conseqüentemente, os "restantes
dos mortos", que somente ressurgirão ao fim dos mil anos, são os
réprobos, ou seja, os que sofrerão a condenação determinada pela justiça
divina.
As palavras do profeta João se harmonizam com as declarações do
apóstolo Paulo:
"Porquanto a Senhor mesmo, dada a Sua palavra de ordem, ouvida
a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos Céus, e
os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro." 5
As durezas da jornada através do calcinado deserto foram olvidadas
por Moisés, quando contemplou embevecido os encantos da Terra
Prometida. As prisões, naufrágios, açoites e perigos que enfrentou,
tornaram-se insignificantes para Paulo, quando pela fé viu a coroa de
glória que o aguardava. As aflições do presente são enfrentadas
animosamente por aqueles que, revestidos de fé, vislumbram além da
escura tumba a fulgurante promessa da ressurreição.

Sintetizando o ensino bíblico sobre este importante tema,


podemos dizer:
1. Na primeira ressurreição, que ocorrerá ao ensejo da vinda de
Cristo, participarão unicamente os justos.
2. Haverá um interregno de mil anos.
3. Ao fim dos mil anos, ocorrerá a segunda ressurreição – a
daqueles que serão condenados.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 264
Os Justos Levados Para o Céu

Os justos que estiverem vivos serão trasladados, e, juntamente com


os justos ressuscitados, serão levados para o Céu, declarou o apóstolo
das nações:
"Depois nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados
juntamente com eles [os mortos ressuscitados], entre nuvens, para o
encontro do Senhor nas ares, e assim estaremos para sempre com o
Senhor." 6
Os vivos e os mortos que então ressuscitam, segundo a promessa
bíblica, serão galardoados com o dom da imortalidade:
"A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós
seremos transformados. Porque é necessário que este corpo corruptível
se reviste de incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista aia
imortalidade. " 7
E assim se cumprirão as consoladoras palavras de Jesus:
"Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, Eu vo-
lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E quando Eu for, e vos preparar
lugar, voltarei e vos receberei para Mim mesmo, para que onde Eu estou
estejais vós também." 8
Há alguns anos nasceu cega uma linda criança. Os angustiados pais
viajaram de um país para outro, buscando ansiosos uma solução para o
problema. Finalmente, um médico especialista, lhes deu esperança. "Ela
deverá se submeter a uma cirurgia" – disse o especialista – "mas o
resultado é incerto", acrescentou.
Passaram-se os dias. Afinal chegou o momento quando as ataduras
seriam removidas. Foi uma ocasião carregada de expectativas. A sala
estava escura. O médico retirou a venda daqueles olhos que nunca
haviam contemplado o espetáculo colorido da vida. As cortinas da sala
foram vagarosamente afastadas. Emocionados, os pais contemplaram a
filha e suas primeiras reações. Por alguns instantes ela se manteve em
silêncio e então, em explosão de alegria, exclamou: "Oh, mamãe! Isto é
o Céu?"
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 265
Se o brilho deste mundo foi tão surpreendente para alguém que por
longos anos viveu envolto em densa escuridão, que será o Céu para os
peregrinos deste planeta? Em êxtase, contemplarão os eternos
esplendores que Deus está preparando para aqueles que O amam.

Podemos sumariar estes eventos, como seguem:


4. O arrebatamento dos mortos que morreram em Cristo,
juntamente com os justos que estiverem vivos por ocasião da
vinda de Cristo.
5. Serão revestidos de imortalidade.
6. Serão levados para o Céu.

A Destruição dos Ímpios

Diz o Sagrado Livro, que o Senhor virá na Sua glória, na glória de


Seu Pai, e na dos santos anjos. (S. Lucas 9:36.) O esplendor dessa
tríplice glória será fatal para os ímpios.
"Então será de fato revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus
matará com o sopro de Sua boca, e o destruirá, pela manifestação de
Sua vinda." 9
Aterrorizados pela majestade de Cristo, buscarão esconder-se nas
cavernas e nas rochas das montanhas, ocultando-se da face dAquele que
Se assenta sobre o trono. 10
Com efeito, o Senhor virá não apenas para buscar os Seus
escolhidos, mas também para dar aos infiéis, que estiverem vivos quando
de Sua vinda, a justa retribuição. "Pois eis que o Senhor sai do Seu lugar,
para castigar a iniqüidade dos moradores da Terra." 11
Mas, como podemos conciliar textos bíblicos que falam do castigo,
morte e destruição, com o conceito evangélico de que "Deus é amor"?
As Escrituras Sagradas afirmam que o Senhor Deus, não tem "prazer na
morte do perverso, mas que o perverso se converta do seu mau
caminho".12
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 266
Somente quando houver esgotado todos os recursos para atrair os
ímpios, "o Senhor Se levantará.., para realizar a Sua obra, a Sua obra
estranha, e para executar o Seu ato, o Seu ato inaudito" (Isaías 28:21). A
Bíblia qualifica de "obra estranha", o castigo aplicado aos pecadores
contumazes.
Descrevendo a destruição dos ímpios vivos e seus resultados, o
profeta Jeremias registrou:
"Os que o Senhor entregar à morte naquele dia se estenderão de
uma a outra extremidade da terra; não serão pranteados, nem recolhidos,
nem sepultados; serão como esterco sobre a face da terra." 13
Isto nos permite concluir que em Seu segundo advento, em lugar de
estabelecer um reino pessoal sobre as nações, Cristo tornará o mundo
desabitado, privado de existência humana. E assim, a Terra contaminada
pela enfermidade do pecado se transformará, durante mil anos
(Apocalipse 20:5) em um imenso abismo devastado pelo impacto desse
grande evento.
E o que ocorrerá com Satanás, o príncipe da impiedade?

A Prisão de Satanás

Estando os redimidos no Céu, fora do alcance de Satanás, e suas


astutas maquinações, e jazendo mortos os ímpios para não reviverem
senão depois de concluídos os mil anos (Apocalipse 20:5), Satanás se
sentirá confinado na Terra pelo poder divino, não havendo aqui nem
santo nem pecador sobre quem exercer sua influência maligna e
destruidora. Jamais detento algum esteve acorrentado de maneira mais
dramática. A linguagem simbólica do profeta descreve esta cena:
"Então, vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e
uma grande corrente. Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o
diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos; lançou-o no abismo, fechou-o e
pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se
completarem os mil anos. Depois disto, é necessário que ele seja solto
pouco tempo." 14
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 267
Há alguns anos, na Nigéria, um respeitado lingüista se ocupava,
juntamente com um professor nativo, na tradução do livro do Apocalipse
para um dialeto falado na região. Quando chegaram a essa descrição
cheia de simbolismo, o professor nativo abandonou a sala e correu para o
quintal, onde, sob o impulso de uma grande euforia, repetia com
surpreendente entusiasmo. "Boas-novas, Mestre! Mil anos sem Satanás!"
Durante milênios o adversário de Deus tem atuado
incansavelmente, semeando corrupção, miséria, vício e impiedade. Mas
agora, encerrado no cárcere de suas próprias culpas, na Terra desolada e
vazia, terá oportunidade de meditar sobre os resultados trágicos de sua
obra funesta. Espalhados por toda a parte estarão os ossos de multidões
que ele incitou contra Deus e Suas leis. Tal será a prisão na qual o
adversário do bem e da justiça passará durante mil anos.

O Juízo no Céu

Os redimidos não desfrutarão no Céu uma existência ociosa e inútil.


O profeta os viu ocupados na obra do julgamento que terá lugar antes
que a sentença final seja executada, e a condenação de Satanás e dos
pecadores consumada. O profeta descreve a visão que lhe foi dada nos
seguintes termos:
"Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada
autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do
testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus ... e
reinaram com Cristo durante mil anos." 15
Referindo-se à obra de julgamento dos ímpios e dos anjos que se
rebelaram contra Deus, escreveu o apóstolo Paulo aos membros da
comunidade cristã em Corinto:
"Não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? ... Não sabeis
que haveremos de julgar os próprios anjos? 16
Ao serem abertos os registros celestiais e revelados os desvios e
extravios de cada um, os escolhidos de Deus terão oportunidade de
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 268
compreender a imparcialidade dos juízos divinos, e a justiça de cada
decisão. Vendo confirmada a misericórdia e a bondade de Deus, ao
excluir das alegrias da vida eterna os que rejeitaram Sua soberania, eles
dirão reverentemente: "Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei
das nações." 17

Outra vez resumimos esses eventos da seguinte maneira:


7. Os ímpios morrem diante do esplendor da glória de Cristo.
8. Satanás permanece confinado neste planeta desolado e vazio.
9. Os redimidos participam da obra do julgamento no Céu.

A Terceira Vinda de Cristo

Ao fim do milênio, a Terra, até então desordenada e vazia, se


transformará no palco de importantes acontecimentos que marcarão o
fim do grande conflito entre Cristo e Satanás.
Dizem as Escrituras que os outros mortos não reviverão até que os
mil anos se acabem. (Apocalipse 20:5.) Uma vez que Cristo os
ressuscitará (S. João 5:28 e 29), inferimos que Ele virá outra vez para
trazer os réprobos á vida e executar os Seus justos juízos.
"Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades, para exercer
juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de
todas as obras ímpias que impiamente praticaram."18

Então descerá do céu a esplendente Jerusalém, "a cidade que tem


fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador" (Hebreus 11:10).
Com ela virão todos os seus moradores – os redimidos que durante mil
anos "viveram e reinaram com Cristo". O vidente de Patmos descreve a
fulgurante visão que lhe foi dada, dizendo: "Vi também a cidade santa, a
nova Jerusalém, que descia do Céu, da parte de Deus" (Apocalipse 21:2).
Nessa mesma ocasião terá lugar a ressurreição dos ímpios.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 269
A Segunda Ressurreição

Cristo, o doador da vida chamará os "outros mortos" à existência, e


eles ressurgirão com a mesma natureza vil com a qual desceram à
sepultura. Os irreverentes que zombaram da vida futura, os delinqüentes
que violaram inescrupulosamente a lei de Deus e os códigos vigentes, os
tiranos que com arrogância e injustiça mantiveram subjugados os seus
governados, os que negaram o pão aos famintos e os que preferiram a
senda fácil dos deleites inconfessáveis, indiferentes aos apelos de Deus,
ressurgirão para receber a justa retribuição que lhes corresponde pelas
obras da impiedade que cometeram.
As cadeias circunstanciais que prenderam a Satanás durante o seu
longo exílio desaparecerão uma vez que terá novamente, ao seu alcance,
multidões incontáveis para seduzir e incitar à rebelião contra Deus. O
evangelista escreveu:
"Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da
sua prisão e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da
Terra... O número dessas é como a areia do mar. Marcharam, então, pela
superfície da Terra e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade
querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu." 19
Vendo a cidade em seu fulgurante esplendor, num derradeiro e
desesperado esforço, os ímpios tentarão conquistá-la. Mas o juízo divino
cairá implacável sobre eles, destruindo-os completamente. Tudo o que o
infinito amor poderia ter feito, fê-lo no dom de Cristo, para salva-los.
Uma vez rejeitado o oferecimento, a salvação em Cristo, restará somente
o fogo punitivo que os consumirá a todos.
"Pois eis que vem o dia e arde como fornalha; todos os soberbos e
todos os que cometem perversidade serão como o restolho; o dia que
vem os abrasará, diz o Senhor dos Exércitos, de sorte que não lhes
deixará nem raiz nem ramo." 20
Somente então os ensinamentos de Cristo relacionados com os
perigos da rebelião e as bem-aventuranças da obediência serão
plenamente compreendidos.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 270
Durante algum tempo arderão sobre a Terra os incêndios
purificadores que eliminarão da sua superfície todos os vestígios do
pecado e rebelião, enquanto os redimidos estarão abrigados dentro dos
muros da cidade santa. (II S. Pedro 3:7, 10-12.) Este juízo punitivo
entretanto, não terá caráter interminável, pois o profeta declarou a seguir:
"Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra
passaram. ... Eis que faço novas todas as coisas." 21
A Bíblia não fala de um tormento eterno, nas chamas crepitantes de
um inferno que arde perpetuamente – conceito contrário a um Deus de
amor – mas sim de uma misericordiosa erradicação do mal para sempre.
E então a cena profética culmina com a alvorada radiosa de uma Terra
onde não haverá crepúsculo e os seres humanos redimidos pela graça
divina viverão eternamente com o Senhor.
E assim terminará a luta milenária entre os dois grandes princípios
antagônicos. Os fogos que consumirão os ímpios, purificarão a Terra de
todo o indício de maldição. A autora do livro O Grande Conflito
descreve este glorioso epílogo com as seguintes palavras:
"O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem.
O Universo inteiro está purificado. Uma única palpitação de harmonioso
júbilo vibra por toda a vasta criação. DAquele que tudo criou emanam
vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o
minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e
inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é
amor." 22
Outra vez sumariamos esses eventos da seguinte maneira:
10. A terceira vinda de Cristo.
11. A Nova Jerusalém e os redimidos descem à Terra.
12. Ocorre a segunda ressurreição.
13. Os ímpios intentam atacar a Cidade Santa, mas são destruídos
pela justiça divina.
14. Das cinzas desse juízo punitivo, surge uma Nova Terra, onde
Cristo estabelece Seu reino eterno.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 271
Depois da desolação do milênio e a purificação do mundo pelo fogo
– o último anti-séptico divino – a Terra florescerá outra vez, tornando-se
o eterno lar dos redimidos.

A Tragédia do Santa Helena

Foi no dia 18 de maio de 1980, que o monte Santa Helena, no


Estado de Washington, Estados Unidos, explodiu ruidosamente.
As informações fornecidas pelas autoridades sobre o grande abalo
que sacudiu a área são aterradoras. A explosão teve o impacto
equivalente a 50 milhões de toneladas de TNT, e foi tão destruidora
como uma bomba de hidrogênio com 50 megatons. Foi 2.500 vezes mais
potente que a bomba atômica que reduziu a cidade de Hiroshima a
escombros e ruínas.
Durante o período compreendido entre 20 de março e 17 de maio
(os quase dois meses que precederam a pavorosa explosão), o Santa
Helena vomitou continuamente vapores, fumaça e cinzas, e estremeceu
diversas vezes, produzindo pequenos movimentos telúricos. No lapso de
três semanas, em seu cume se abriu uma cratera de 400 por 500 metros e
suas encostas se inflaram assustadoramente.
Mas, apesar de todas as evidências de que se intensificava a pressão
interna do vulcão, muitos continuaram indiferentes, acampando-se
naquela região.
Harry Truman, dono de um pequeno hotel construído em uma
graciosa encosta do Santa Helena, recusou todos os conselhos e
exortações para abandonar a área. "Coisa alguma neste monte me
assusta" declarou Truman, que ali vivia há 54 anos. "Ninguém conhece
melhor esta montanha que eu'' – acrescentou – "e ela não se atreverá a
me fazer dano."
Hoje, Truman e seu pequeno hotel se encontram sepultados sob
dezenas de metros de barro vulcânico. Pereceu juntamente com dezenas
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 272
de outras pessoas, porque se mostrou indiferente aos avisos e sinais de
advertência.
Dessa tragédia extraímos uma lição. Compreendemos, porventura, a
seriedade das advertências da Bíblia quanto ao futuro do mundo?
Entendemos que os sinais que anunciam o breve regresso de Jesus se
estão cumprindo em nossa geração? Estamos acaso imitando Harry
Truman, o homem que não quis salvar-se? Disse Jesus:
"Em verdade, em verdade vos digo: Quem ouve a Minha palavra e
crê nAquele que Me enviou, tem a vida eterna, não entra em juízo, mas
passou da morte para a vida." 23

Referências:

1. Citado por George Duffield, em Dissertation on the Prophecies,


pág. 251.
2. S. Mateus 24:37-39
3. Apocalipse 20:6
4. Idem, versículo 5
5. I Tessalonicenses 4:16.
6. Idem. versículo 17
7. 1 Coríntios 15:52 e 53
8. S. João 14:3
9. II Tes4aloniecmes 2:8
10. Apocalipse 6:15
11. Isaías 26:21
12. Ezequiel 33:11
13. Jeremias 25:33
14. Apocalipse 20:1-3
15. Apocalipse 20;4
16. I Coríntios 6:2 e 3
17. Apocalipse 15:3
18. Judas 14 e 15
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 273
19. Apocalipse 20:7-9
20. Malaquias 4:1
21. Apocalipse 21:1 e 5
22. E. G. White, O Grande Conflito, pág. 678
23. S. João 5:24
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 274
VIDA DEPOIS DA VIDA

Quero continuar vivendo, mesmo após a minha morte. – Do Diário de


Anne Frank.

*A Tumba Vazia *Mito ou Realidade Histórica *Consoladora


Certeza *Quando Ocorrerá a Ressurreição? *Edição Nova
Corrigida e Emendada

G eneviève de la Poterie será o primeiro ser humano a voltar à


vida", declarou o Sr. Robert F. Nelson, presidente da
Associação Norte-Americana "Cryonics", responsável pela conservação
de inúmeros corpos congelados. São pessoas que em vida creram que um
dia a ciência alcançará o triunfo definitivo sobre o fantasma da morte.
Seus corpos, devidamente preservados, repousam em recipientes
próprios, impregnados de nitrogênio, numa temperatura de 191 graus
abaixo de zero, aguardando o dia em que terão o privilégio de voltar à vida.
Geneviève era uma graciosa menina canadense que morreu vítima
de enfermidade cardíaca incurável. Seus pais não dispunham de mais de
2.000 dólares para pagar os gastos relacionados com a crionização
(cryonics – um vocábulo de origem grega KRY, que significa gelado). A
Associação, porém, se dispôs cobrir todos os gastos correspondentes ao
congelamento (8.500 dólares) e as taxas anuais de manutenção (1.000
dólares), uma vez que Geneviève reúne as condições ideais para "uma
eventual ressurreição".
Depois de um tratamento especial dado às artérias, veias e pulmões,
o corpo inanimado foi congelado. Primeiro foi submetido a uma
temperatura de 20 graus abaixo de zero, a fim de provocar uma lenta
cristalização das células epidérmicas, evitando deste modo danos
irreversíveis. No dia seguinte foi embalado num invólucro de alumínio e,
depois, depositada num ambiente cuja temperatura é mantida uns 191
graus negativos.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 275
"E assim" – explicou o presidente da Associação – "a pequena
Geneviève, no silêncio de um ambiente glacial, aguarda o dia em que a
ciência descobrirá uma solução para o seu problema cardíaco."
O Dr. James H. Bedford, professor de psicologia na Califórnia, que
morreu vítima de leucemia, foi o primeiro corpo congelado pela
Sociedade (Cryonics), que tem como insígnia a figura do Fênix, uma ave
fabulosa que, segundo a mitologia, depois de queimada renasceu de suas
próprias cinzas. O Dr. Bedford, era um homem já alquebrado aos 73
anos, porém sua fé inabalável no triunfo da ciência fê-lo pagar
antecipadamente os gastos relacionados com o congelamento do seu
corpo, e doar 200 dólares para que a sociedade pudesse continuar suas
investigações criobiológicas.
Após a morte, o Dr. Bedford foi tratado imediatamente por três
profissionais que lhe massagearam o coração, ao mesmo tempo que o
submetiam a um congelamento gradual. Depois foi instalado em uma
cápsula criogênica, contendo nitrogênio líquido e, após, guardado em um
ambiente onde o corpo permanece preservado sob baixa temperatura.
Por toda a parte surgiram ardorosos defensores da crionização.
Entre eles, Stephan Jay Mandell, poeta e violinista de Nova Iorque que,
vítima de uma enfermidade incurável, dedicou as últimas semanas de
vida a preparar-se para essa nova fórmula de "imortalidade".
Já estão sendo fabricados recipientes de aço para casais que
desejam ser preservados juntos para reviver ao mesmo tempo. A Sra.
Anne Deblasio, esposa de um policial em New Jersey, Estados Unidos,
aguarda o esposo em uma temperatura de 191 graus negativos. O policial
já preencheu todas as formalidades legais indispensáveis para ser
congelado ao lado da esposa quando morrer.
Há também na Europa pessoas sepultadas no gelo que morreram
esperando voltar à vida, convencidas de que a ciência alcançará um
estágio superior em sua batalha contra o flagelo da morte. Na Alemanha,
Áustria, França e Itália, existem Sociedades Criobiológicas, apoiadas por
centenas de sócios que, ao morrerem, desejam ser submetidos à
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 276
hibernação" ou "suspensão vital" – expressões por eles usadas – com a
esperança de, no futuro, renascer para desfrutar uma existência imortal.
O Dr. R. C. W. Ettinger, professor de física da Universidade de
Michigan, Estados Unidos, ardoroso propulsor desse plano, refutando as
objeções de que uma pessoa rediviva após longos anos de inconsciência
se sentiria confusa e fora de ambiente em um mundo diferente, disse:
"Ao retornar à vida espera ser recebido por parentes e amigos. Não
serei lançado desnudo e desvalido em um mundo novo, mas serei
plenamente reabilitado por instituições dedicadas a este propósito. ...
Estarei na companhia de outros recém-ressuscitados. Minha educação e
adaptação poderão tomar todo o tempo necessário: dez, vinte, cinqüenta
anos...
"Não somente os nossos descendentes serão geneticamente
melhorados, mas com toda probabilidade nós o seremos também. Esta
possibilidade é destacada com freqüência em publicações científicas
contemporâneas. Se bem é certo que se trata de hipóteses, podemos
entretanto confiar em um futuro de evolução e crescimento, sem um fim
ou limite visível. ... Não somente esperamos uma vida mais longa, como
também energia e vigor renovado e aumentados. Esperamos não apenas
alcançar a condição de homens imortais (no sentido de imunidade contra
a morte 'natural'), mas também a distinção de super-homens imortais." 1

Não sabemos até onde pretendem chegar os propulsores dessa nova


idéia, que anunciam a possibilidade futura de espetaculares ressurreições.
Podemos afirmar, porém, com toda segurança, que todos os avanços da
ciência e da tecnologia não serão suficientes para dar ao homem a
almejada imortalidade.
Nas páginas do mais antigo livro das Escrituras Sagradas, este
inquietante problema é apresentado em uma pergunta que traduz as
angústias dos que não conseguem decifrar o mistério da morte.
"Morrendo o homem, porventura tornará a viver?" (Jó 14:14). O autor da
interrogação, o sofrido patriarca Jó, recebeu de Deus as luzes necessárias
para enxergar além da escura tumba a alentadora promessa da
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 277
ressurreição. Dissipado o mistério da morte, em arroubos de fé, ele
mesmo respondeu:
"Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne
verei a Deus."2
Davi, rei de Israel, com música e poesia cantou sua esperança na
ressurreição, dizendo:
"Eu, porém, na justiça contemplarei a tua face; quando acordar, eu
me satisfarei com a tua semelhança." 3
O profeta Isaías, em expressões de gozo pela esperança que lhe
encheu o coração, exprimiu sua fé em uma vida depois da vida,
declarando:
"Os vossos mortos e também o meu cadáver viverão e
ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o teu
orvalho, ó Deus, será como o orvalho de vida, e a terra dará à luz os seus
mortos." 4
A esperança dos que aguardam a ressurreição, congelados em
invólucros especiais, está condicionada à hipótese de que a ciência
descubra as técnicas e os recursos capazes de revivê-los. Mas a solução
para o problema da morte apresentada pelos escritores da Bíblia não está
condicionada aos avanços da ciência. Ela se assenta em uma realidade
histórica: A ressurreição de Jesus.

A Tumba Vazia

Por uma vereda, quando ainda era escuro, caminhava Maria


Madalena, esmagada sob o peso de uma grande dor. As lágrimas que lhe
umedeciam a face misturavam-se com a brisa da madrugada que
inaugurava o dia. Dirigia-se ao horto, à tumba do bondoso José de
Arimatéia onde, envolto em lençóis, descansava sem vida o corpo de
Jesus.
Madalena amava a Jesus com todas as veras de seu ser. No
admirável Homem de Nazaré havia concentrado as suas mais suspiradas
esperanças. Todavia, dolorosa realidade, Aquele a quem ela tanto amava
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 278
havia sido crucificado às mãos dos intolerantes e maus. E agora, sem
alegrias e sem esperanças, ela caminhava em direção ao sepulcro de
Jesus.
Mas, oh, assombro! Oh, decepção! A tumba estava aberta e lá não
mais estava o corpo de Jesus. Abrindo de par em par as comportas de sua
dor, Madalena, imagem vívida do desespero, chorou profundamente. Seu
pranto era inconsolável. E enquanto soluçava, uma voz bondosa e terna,
rompendo o silêncio da madrugada, interrogou:
– Mulher, por que choras?
E ela, como que desejando compartilhar com outros a sua dor,
respondeu:
– Porque levaram o meu Senhor e não sei onde O puseram.
E dizendo estas palavras, com os olhos obnubilados pelas lágrimas,
fitando o interlocutor, acrescentou:
– Senhor, se tu O levaste, dize-me onde O puseste.
Mas o diálogo entre a lacrimosa mulher e o afável interlocutor foi
abruptamente interrompido por uma expressão de espanto.
– Mestre! – exclamou ela num assomo de surpresa.
– Não Me toques – sentenciou o redivivo Nazareno – porque ainda
não subi para o Meu Pai.
Com efeito, após quebrar poderosamente os grilhões da morte, e
triunfar sobre o poder da sepultura, ali estava, ressurreto, o Redentor.
Diante de tão magnífica e consoladora realidade, as lágrimas de Maria se
transformaram em expressões de gozo, alegria sem par, efusiva e
radiosa.
Quão melancólico seria o cristianismo se o último capitulo da
agitada biografia de Jesus fosse a tumba de José de Arimatéia! Por esta
razão, doutrinou o pregador das nações:
"E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé ... E ainda mais: os
que dormiram em Cristo pereceram. Se a nossa esperança em Cristo se
limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.
Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo Ele as primícias
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 279
dos que dormem. ... Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim
também todos serão vivificados em Cristo." 5
Sim, mercê de Deus, a tumba estava vazia. Quebrando os liames da
sepultura, Cristo ressurgiu, e o Seu glorioso triunfo sobre a morte
constitui o penhor seguro de nossa esperança.
O apóstolo dos gentios, com as luzes da inspiração divina, remove
as trevas que cobrem a sepultura, dizendo:
"Pois se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também
Deus, mediante Jesus, trará juntamente em Sua companhia os que
dormem." 6
Há no extremo sul do continente africano um acidente geográfico
conhecido outrora como o Cabo das Tormentas. A crendice popular
fantasiava coisas tenebrosas que deveriam existir além desse sombrio
marco geográfico. Porém, em 1487, Bartolomeu Dias, intrépido
navegador português, dobrou o cabo e descobriu o acesso para as regiões
riquíssimas do Oriente. Este foi um acontecimento tão auspicioso para
Portugal, que o rei D. João II decidiu substituir o nome sinistro por Cabo
Boa Esperança.
Ocorre algo semelhante com relação à morte. Para alguns ela é o
Cabo das Tormentas, ou porque temem a caverna tenebrosa da morte, ou
porque se atemorizam diante da perspectiva de um eventual encontro
com o supremo juiz. Para outros, porém, embora cruel e sinistra, ela
encerra a esperança consoladora de um descanso que antecede a vida
imortal.
Essas duas atitudes diametralmente opostas dependem em grande
parte da fé ou incredulidade na tumba vazia de Jesus.

Mito ou Realidade Histórica

Através dos séculos surgiram homens dispostos a desacreditar a


narrativa bíblica relacionada com a ressurreição de Cristo. Hugo
Schonfeld, em tentativa recente argumentou em seu livro Passover Plot
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 280
(O Engano da Páscoa) que Jesus elaborou planos cuidadosos para
simular a Sua morte, tendo em vista simular também sua ressurreição.
Segundo Schonfeld, Jesus bebeu na cruz uma substância líquida com o
propósito de produzir um entorpecimento físico capaz de convencer os
soldados romanos de que estava morto. Porém, algo que não estava em
seu plano ocorreu: um dos soldados que contemplava aquela terrível
cena, golpeou-lhe o peito com uma lança, Precipitando sua morte. Ele
não conseguiu ressurgir como havia prometido. Os seus desapontados
discípulos, entretanto, elaboraram com muita imaginação a "história
fantástica" narrada nos Evangelhos.
Mas esta argumentação, além de superficial e ridícula não tem o
endosso da História.
Certa vez um estudante universitário, dirigindo-se a Joshua
McDowell, ex-cético, interrogou:
– Professor McDowell, por que crê o senhor ser impossível refutar
o cristianismo?
– Por uma razão muito simples – respondeu o professor. Não posso
de modo algum refutar uma realidade histórica: a ressurreição de Cristo.
As provas da ressurreição de Cristo são abundantes e inequívocas.
Cingimo-nos, porém, na análise de quatro argumentos básicos:
1. Jesus anunciou com antecedência a Sua morte e ressurreição. Aos
escribas e fariseus que Lhe pediram um milagre, disse: "Porque assim
como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe,
assim o Filho do homem estará três dias e três noites no coração da terra"
(S. Mateus 12:40). Em outra oportunidade, declarou que havia de
"sofrer, ... ser morto, e ressuscitado nu terceiro dia". 7
Mais tarde, ao perceber as sombras sinistras da cruz projetando-se
sobre Ele, com palavras repassadas de solene tristeza, dirigindo-se aos
discípulos, afirmou:
"Esta noite, todos vós vos escandalizareis comigo; porque está
escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas. Mas,
depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galiléia." 8
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 281
Nesses versículos, temos algumas das várias promessas feitas por
Jesus, de que haveria de ressuscitar. E se Ele não houvesse ressuscitado?
Estaríamos diante de um impostor que pretendeu ser Deus, mas não
demonstrou poder suficiente para quebrar os grilhões da morte. Neste
caso qualquer outra evidência apresentada em Seu favor não seria
suficiente para confirmar Suas pretensões. A história da cruz não
passaria de comovente narrativa sem significado redentor. Estaríamos
diante de mais um sistema religioso destituído de poder. "E, se Cristo
não ressuscitou, é vã a vossa fé" (I Coríntios 15:17), sentenciou o
apóstolo S. Paulo.
2. Afortunadamente, porém, a tumba de Jesus foi encontrada vazia,
e este é o segundo argumento que desejamos analisar. A diferença entre
o cristianismo e as outras religiões está na tumba vazia.
Certa vez um muçulmano interrompeu um pregador, dizendo:
– Nós temos uma prova da nossa religião que vós não tendes,
porque, quando vamos a Meca, podemos ver o túmulo do profeta. Temos
assim a prova de que ele viveu e morreu. Quando, porém, ides a
Jerusalém não podeis ter a certeza do lugar em que Jesus foi sepultado.
Não tendes um túmulo como nós.
– É verdade – replicou o pregador – o nosso evangelho não termina
em morte, mas em vitória; não em tumbas, mas em triunfo. Por isso
transbordante alegria inunda o nosso coração.
A sepultura de Maomé na Arábia, não está vazia. O sepulcro de
Confúcio, na lendária China, tampouco está vazio. Fragmentos do corpo
de Buda estão depositados em relicários, em diferentes lugares no
Oriente. Mas a tumba de Jesus está vazia. "Ele não está aqui:
ressuscitou" (S. Mateus 28:6), afirmou um anjo.
A primeira tentativa para neutralizar a surpresa da tumba vazia
ocorreu no próprio dia da ressurreição. Os dirigentes judeus, informados
acerca do acontecimento sobrenatural, subornaram os soldados e os
instruíram a dizer: "Vieram de noite os discípulos dEle e O roubaram,
enquanto dormíamos." 9
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 282
Mas como poderiam os soldados saber que os discípulos roubaram
o corpo de Jesus se estavam dormindo?
Consoante a lei, os soldados que fossem encontrados adormecidos
eram condenados à morte. E a história não diz que aqueles que falharam
na guarda do sepulcro foram executados. Além disso, seria ridículo
admitir que um grupo de amedrontados pescadores, sem armas,
perplexos e confusos, ousassem surpreender os soldados romanos,
violando a tumba de Jesus. E mesmo que o fizessem seriam facilmente
dominados pelos soldados devidamente armados.
Dias depois, o apóstolo S. Pedro, em memorável discurso (Atos 2),
após atacar desassombradamente os que crucificaram a Jesus, afirmou
que Ele havia ressuscitado. Ora, se os rancorosos inimigos do Nazareno
pudessem provar a falácia contida nas palavras do apóstolo, teriam
destruído o novo movimento religioso em suas próprias raízes. Mas eles
preferiram o silêncio, uma vez que a tumba vazia era um argumento que
não podia ser contestado.
3. Os sacerdotes deram ordens para ser guardado o sepulcro. Uma
pesada pedra foi colocada à entrada da sepultura, para impedir que
alguém tentasse violá-la. Mas quanto maiores as medidas de segurança,
tanto mais convincentes os argumentos em favor da ressurreição.
Os escribas encarregados de copiar os manuscritos sagrados deviam
ser fiéis ao texto original. Não podiam acrescentar uma só palavra.
Porém, se lhes permitia registrar observações à margem.
Em um antigo manuscrito foram encontradas as seguintes palavras
escritas à margem por um escriba anônimo: "Uma pedra que nem vinte
homens podiam mover." Provavelmente esta observação foi escrita por
alguém que viu a pedra e se sentiu impressionado por seu peso e
dimensão.
Poderíamos acaso admitir que uns poucos amedrontados galileus
houvessem removido a pedra sem que os soldados adormecidos
despertassem?
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 283
Não, os soldados não ignoravam o que havia acontecido. Eles
contemplaram atônitos quando um anjo vestido com resplendente fulgor
removeu a enorme pedra como se fosse um seixo. E então viram
atemorizados o Filho de Deus transpondo os portais da sepultura,
proclamando: "Eu sou a ressurreição e a vida."
4. Para os discípulos a morte de Jesus significou uma tragédia
inominável. NEle haviam centralizado suas mais suspiradas esperanças.
Mas Jesus morreu vítima da prepotência e arbítrio e suas mais
acariciadas expectativas se apagaram. Sentiram-se então dominados por
esmagadora tristeza. E não podia ser diferente. Haviam abandonado
barcos de pesca, redes e até mesmo vantagens temporais, cativados pela
personalidade fascinante de Cristo. Em Sua companhia anteciparam o
triunfo do Reino prometido.
Mas a tragédia da cruz cobriu-os de luto e incerteza. Nada mais lhes
restava senão afetivas evocações. Um vácuo se lhes abriu no coração.
A perplexidade que os dominava, entretanto, teve curta duração. As
novas da ressurreição de Cristo foram recebidas com excitante gozo.
Galvanizados por contagiante fervor saíram por todos os caminhos do
mundo proclamando as boas-novas de um Salvador redivivo.
Sim, foi a ressurreição que motivou aquele pequeno grupo de
homens, em sua maioria indoutos, a testificar com assombro sua fé
nAquele que, sobre o fendido sepulcro de José de Arimatéia, proclamou
triunfante: "Eu sou a ressurreição e a vida." E com a força de seu
testemunho transformaram uma sociedade pagã.
Sua fé levou-os ao martírio. Ninguém dá a vida para defender uma
farsa. Mas eles morreram proclamando uma esperança.

Consoladora Certeza

A morte de Jesus foi para os discípulos um acontecimento


devastador. Porém, Sua ressurreição, ao terceiro dia, deu-lhes uma nova
perspectiva. As palavras do anjo, "'Ele não está aqui: ressuscitou" (S.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 284
Mateus 28:6), foram-lhes como bálsamo suavizante sobre as feridas do
coração, levando-os com alegria de regresso ao Senhor. Esta experiência
foi apropriadamente descrita, com séculos de antecedência, por um dos
profetas de Deus:
"Vinde, e tornemos para o SENHOR, porque ele nos despedaçou e
nos sarará; fez a ferida e a ligará. Depois de dois dias, nos revigorará; ao
terceiro dia, nos levantará, e viveremos diante dele." 10
Muitos há que diante do mistério da morte, à semelhança dos
discípulos, se deixam abater pela aflição e angústia. Quando o conhecido
filósofo ateu David Hume (1711-1776), sentiu sobre o corpo enfermo as
garras frias da morte, declarou perplexo:
"Estou assustado e confundido ao ver a triste solidão que minha
filosofia produziu. Onde estou? O que sou? Para onde vou? Tantas
perguntas me confundem e começo a perceber que estou em condição
deplorável, envolto em trevas densas e impenetráveis." 11
Roberto G. Ingersoll (1833-1899), conhecido pelos seus
contemporâneos como "o grande agnóstico", junto à tumba de seu irmão,
exclamou:
"Toda a vida se converterá ao final na tragédia mais triste, obscura e
abismal que se possa entretecer na trama do mistério da morte. A vida é
o vale estreito que corre entre os frias e estéreis penhascos de duas
eternidades. Em vão procuramos ver além de seus âmbitos. Gritamos
com todas as nossas forças e a única resposta que nas chega é o eco de
nosso lamentoso clamor." 12
Para a alma crente, entretanto, a morte não infunde temor porque é
um inimigo vencido. Em Cristo temos a garantia de vida – vida
abundante e imortal. ''Eu vim'' – disse Ele – para que tenham vida e a
tenham em abundância."13
Cristo provou a morte em nosso lugar, mas porque não tinha
pecado, a sepultura não O pôde reter. A vida que Ele depôs na Sua
humanidade, retomou pela Sua divindade e, havendo derrotado o grande
inimigo, sentenciou:
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 285
"Eu sou o primeiro e o último, e aquele que vive; estive morto, mas
eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte
e do inferno." 14
A morte pode reclamar as suas vítimas, mas para a alma crente esta
experiência se assemelha à escura noite que antecede a gloriosa alvorada
– a ressurreição dos redimidos. A sepultura será tão-somente a "sala de
espera" dAquele que tem "as chaves da morte". Ele virá e quebrará para
sempre as cadeias da sepultura.

Quando Ocorrerá a Ressurreição?

Para os membros das Sociedades Criobiológicas o renascimento dos


corpos inanimados, sepultados no gelo, terá lugar quando a ciência e a
tecnologia lograrem triunfos sobre o poder da morte. Porém, para os que
crêem no Evangelho, a prometida ressurreição ocorrerá quando Cristo
voltar para buscar Seus escolhidos. Ele prometeu: "E quando Eu for e
vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para Mim mesmo, para que
onde Eu estou estejais vós também" (S. João 14:3). Naquele dia os que
dormem no silêncio da sepultura ressuscitarão. A prisão da morte se
abrirá obedecendo à voz do Vencedor da morte – Jesus Cristo.
"Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida
a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os
mortos em Cristo ressuscitarão primeiro." 15
Esta ressurreição, como afirmou o apóstolo Paulo, não ocorre por
ocasião da morte, mas ao ensejo da vinda de Cristo à Terra. Disse Jesus:
"Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que
se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o
bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para
a ressurreição do juízo." 16
O pensamento de que essa hora se aproxima enche meu coração de
reverente temor, jamais o mundo testemunhou semelhante acontecimento.
Com miríades e miríades de anjos o Senhor Se manifestará, com
inusitado poder e fulgurante brilho. Ele chamará os mortos e a terra os
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 286
devolverá à vida. O mesmo poder que levantou a Cristo dentre os mortos
erguerá outra vez os fiéis que, mergulhados no sono inconsciente da
morte, no silêncio e na escuridão da sepultura, aguardam o chamamento
divino.
Entes queridos que a morte manteve separados por longo tempo se
reunirão outra vez para não mais se separar. Com demonstrações de
alegria, celebrarão juntos este feliz e glorioso evento. "E a morte já não
existirá" (Apocalipse 21:4), afirmou o Autor da vida.

Edição Nova, Corrigida e Emendada

Para os antigos gregos, narcotizados pela filosofia do paganismo, a


idéia da ressurreição era inconcebível. As lápides de suas tumbas
indicam angústia inexprimível.
Sob influências helenísticas, algumas comunidades cristãs
começaram a questionar a genuinidade da doutrina da ressurreição.
Conhecendo a situação, o apóstolo Paulo escreveu aos fiéis que viviam
em Tessalônica:
"Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito
aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não
têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim
também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que
dormem." 17
O mesmo poder criador que acompanha a minúscula semente, que
apodrece debaixo da terra, e depois germina para produzir as folhas, as
flores e os apetitosos frutos, operará o grande milagre da ressurreição.
"... Num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última
trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós
seremos transformados. Porque é necessário que este corpo corruptível
se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da
imortalidade."18
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 287
Foi animado por esta certeza que Benjamin Franklin (1706-1790) o
conhecido estadista, cientista e impressor, redigiu o seguinte epitáfio que
solicitou fosse gravado sobre a sua tumba:
O corpo de
B. Franklin,
Impressor.
Como a capa de um livro
Com o conteúdo rasgado,
E as letras douradas apagadas,
Aqui jaz, pasto de vermes.
Mas a obra não se perderá totalmente:
Pois há de aparecer, segundo ele crê,
Mais uma vez,
Numa edição nova e mais perfeita,
Corrigida e emendada pelo Autor.

A tumba de Jesus está vazia. E se Ele vive, nós viveremos também.


Não mais desfigurados pelo pecado ou deformados pelas enfermidades,
más como uma Nova Edição, Corrigida e Emendada por Aquele que por
nós deu Sua vida.

Referências:

1. Citado por Victor A. Mata, em "Verdades Permanentes", Vida


Feliz, fevereiro de 1970, pág. 21.
2. Jó 19:26 e 27
3. Salmo 17:15
4. Isaías 26:19
5. I Coríntios 15:17-22
6. I Tessalonicenses 4:14
7. S. Mateus 16:21
8. S. Mateus 26:31 e 32
9. Idem, 28:13
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 288
10. Oséias 6:1 e 2
11. Citado por Arnulfo Espinosa em Ilustracciones Selectas, pág.
151
12. Citado por Luís Waldvogel em Vencedor em Todas as Batalhas,
pág. 179
13. João10:10
14. Apocalipse 1:17 e 18
15. I Tessalonicenses 4:16
16. S. João 5.28 e 29
17. I Tessalonicenses 4:13 e 14
18. I Coríntios 15:52 e 53
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 289
A NOVA ORDEM SOCIAL

Só com uma ardente paciência conquistaremos a esplêndida cidade


que dará luz, justiça e dignidade a todos os homens. – Pablo Neruda,
Prêmio Nobel de Literatura

*Ilusões Utópicas *Auroville – a Cidade Feliz *Acariciada


Esperança *Promessa Alentadora *O Céu Será Uma Realidade
*Uma Nova Cidade *O Paraíso Restaurado *Condição Para Entrar
no Paraíso

A imprensa escrita e falada tem publicado amiúde os


movimentos populares de greve, sublevação e revolta
registrados em vários lugares. Estas lamentáveis ocorrências comprovam
que o assoberbante problema social de todos os tempos se agravou em
nossos dias, constituindo um desafio à sagacidade dos estadistas,
políticos e sociólogos.
Verifica-se em nosso século uma revolução social sem paralelo na
história do mundo. O chamado "laissez-faire, laissez-passer" que o
mundo recebeu tão festivamente como a fórmula ideal para a solução dos
grandes problemas econômicos, apenas agravou o mal-estar do
organismo social.
O que vemos em nossos dias, apesar do decantado progresso da
civilização, é a fome, a miséria e o infortúnio contrastando
paradoxalmente com o luxo, o fausto e a riqueza dissipadora, desalmada,
insensível e egoísta, que prefere destruir aquilo que falta aos outros ao
invés de dar ou vender. Queima-se o trigo, lança-se o açúcar ao mar,
derrama-se o leite nos esgotos, no esforço por manter os preços inflados,
enquanto milhões padecem à mingua, sem um pedaço de pão, e milhões
vegetam sem o necessário indispensável para um nível de decoro e
saúde. Evidentemente, a vida econômica está organizada para favorecer
os lucros exorbitantes, ampliando o abismo que separa as minorias
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 290
privilegiadas das enormes massas que nada possuem. Eis, pois, a
situação injusta a que nos levou o classicismo econômico: uma imensa
riqueza que se ostenta escarnecedora no meio da fome, pauperismo e
miséria.
Tendo em vista reparar os "males sociais", erguem-se os grandes
movimentos de reforma. Assistimos mesmo a uma febril eclosão de
idéias e doutrinas, todas elas pretendendo resolver o inquietante
desajustamento social que aflige o mundo.
O que se pretende e o que se aspira é estabelecer as bases para uma
sociedade futura onde não haja mais a miséria de permeio com a fartura,
e onde uns não morram de fome enquanto outros nadam na opulência e
no esplendor.
Essa sociedade ideal, entretanto, tem sido a aspiração encantada, o
sonho dourado do homem através de todos os tempos, na ânsia incontida
de atingir uma organização social melhor, onde a liberdade e a justiça
social possam coexistir.
Já na antiguidade clássica, Platão (427-347 AC), festejado mestre
do pensamento helênico, preconizava em sua República uma sociedade
que cria ser superior, tendo como fundamento uma complexa
organização socialista, singularmente moderada. O sistema, entretanto,
passou à História como uma ingênua utopia, concebida por uma mente
criativa perdida nos labirintos da fantasia.

Ilusões Utópicas

A Platão, através da História seguiram-se inúmeros outros idealistas


que, revoltados contra as desigualdades sociais, pretenderam estabelecer
sistemas igualitários que trouxessem ao homem um completo bem-estar
social. Destacamos, entre outros, Tomas Morus (1478-1535), conhecido
humanista inglês, que, combatendo as instituições, a política e os
costumes da Inglaterra no século XVI, destacou as virtudes do
comunismo econômico e igualitário. Semelhantemente, Tommaso
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 291
Campanela (1568-1639), utopista italiano, em seu conhecido livro
Cidade do Sol, combatendo os processos então vigentes, esboçou o
programa que, no seu entender, tornaria o mundo mais venturoso e
próspero. Saint-Simon (1760-1825), Robert Owen (1771-1858), Charles
Fourier (1772-1837), Louis Blanc (1811-1882) e outros animados por
nobres propósitos, pensaram igualmente em reformar aquilo que
julgavam injusto na vida em sociedade. Neste esforço, pregaram a justiça
social, baseados nos direitos de igualdade e liberdade. Entretanto,
cumpre observar, todos passaram à posteridade como conhecidos
utopistas humanitários.
Seus princípios e ideais, embora generosos, esbarraram no egoísmo
humano e se fragmentaram. Mas as idéias reformistas não sofreram
solução de continuidade. Elas continuaram e continuam cada vez mais
febricitantes, representadas nos modernos e multiformes "ismos":
trabalhismo, socialismo, comunismo, capitalismo, liberalismo,
cooperativismo, radicalismo, anarquismo, conservantismo e seus
inúmeros congêneres. Esta significativa profusão de doutrinas e
dialéticas traduz o ingente e desesperado esforço humano visando
alcançar uma nova ordem social mais justa e melhor.

Auroville – a Cidade Feliz

Em 1968, técnicos idealistas, representando várias nações, lançaram


a pedra fundamental de um singular projeto, definido como a mais
audaciosa experiência deste século: a construção de uma cidade sui
generis, denominada Auroville. Animados pelo desejo de construir a
"cidade feliz", habitada por "homens renovados", seus idealizadores
decidiram edificar Auroville a poucos quilômetros ao norte de
Pondichery, na Índia.
A revista Planéte registrou o acontecimento com o seguinte
comentário:
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 292
"Por fim chegou a dia longamente esperado, o dia que S. João viu
em Patmos, com a qual sonhou o poeta Shelley, e considerado por
muitos como uma ilusão a cidade feliz, a idade de ouro." 1
Os contornos da área central da cidade tomarão a forma de uma
grande coroa, com numerosas aberturas iluminadas e jardins suspensos.
Em lugar de edifícios aglomerados, os autores do projeto imaginaram
uma extensa área verde, cortada por um canal de 100 metros de largura,
com numerosas ilhas artificiais, habitadas por diferentes espécies de aves
aquáticas.
A cidade contará com 50 mil habitantes. Em sua área central não
transitarão automóveis; seus moradores circularão usando esteiras
rolantes e pequenos veículos automáticos.
A inspiradora espiritual do movimento que patrocina a construção
desta cidade, declarou:
"A Índia simboliza hoje todas as dificuldades que afligem o homem
moderno. A índia será o lugar de sua ressurreição, a ressurreição a uma
vida mais elevada e autêntica." 2
Sri Aurobindo, o conhecido idealizador do projeto, morreu antes de
consumá-lo. Sua herdeira espiritual, a "mãe", conhecida figura na
execução do projeto, crê que Auroville produzirá a "ressurreição da
espécie humana".
Mas, que possibilidades tem Auroville de se transformar em um
centro urbano modelo, uma ilha de paz, justiça e harmonia, circundada
por um oceano de angústias e aflições? Apesar das esperanças que
motivam os seus fundadores, podemos responder com segurança que
Auroville não passa de outra ilusão alimentada pela fantasia.
Somente Deus poderá conjurar a avassaladora crise que atinge o
nosso conturbado mundo. E por isso aguardamos esperançosos e
expectantes o cumprimento das antigas profecias que anunciam a breve
instauração de uma Nova Ordem de coisas, a se iniciar com o advento de
Cristo à Terra em glória e majestade.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 293
S. João, o vidente de Patmos, iluminado por uma visão profética,
anunciou nos termos que se seguem o estabelecimento dessa Nova
Ordem:
"Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra
passaram, e o mar já não existe. ... E lhes enxugará dos olhos toda
lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem
dor, porque as primeiras coisas passaram." 3

Acariciada Aspiração

"E não haverá mais morte", sentenciou o profeta. Esta promessa


relacionada com a Nova Ordem de coisas satisfaz plenamente uma das
mais acariciadas aspirações do ser humano – a eternidade.
Deus colocou em nosso coração "o instinto para a eternidade".
Assim como existe música para os ouvidos e flores para os olhos, há
também uma vida além das fronteiras da Terra para corresponder a esta
esperança.
Os helênicos, em meio à noite espiritual em que viviam, colocavam
uma moeda de ouro na boca dos mortos para pagar a viagem para o
além. Os mongóis enterravam pedras de fogo com o falecido para ele
poder iluminar o caminho na jornada rumo à eternidade. Os egípcios
punham na mão dos mortos um mapa, com orações a serem proferidas
em suas peregrinações; e na Groelândia enterravam com a criança um
cão, a fim de guiá-la.
Um drama grego, descrevendo a história de um herói, exprime este
anseio universal. Quando caminhava para o lugar onde seria executado, a
jovem eleita do seu coração saiu do meio da multidão para caminhar ali
seu lado. Dirigindo-se ao jovem condenado, ela o interrogou ternamente:
"Ver-nos-emos outra vez?" E ele respondeu: Já dirigi esta pergunta às
colinas que parecem eternas; aos ribeiros cujas águas fluem
incessantemente; às estrelas em cujos céus o meu espírito vagueia; e
todos estão mudos. Mas quando olho dentro dos teus olhos, sinto que
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 294
deve existir em nosso amor algo infinito; sim, nós nos veremos outra
vez."
Com efeito, a idéia de uma vida eterna longe de ser uma inovação
do cristianismo, constitui uma esperança com as suas raízes
profundamente arraigadas no ser humano; é um anseio veemente
entretecido na alma pelo próprio Criador.

Promessa Alentadora

O ministério terrestre de Cristo se aproximava do seu ocaso. Sobre


o Nazareno se projetava a sinistra sombra da cruz. O momento da
separação se acercava e os discípulos não ocultavam suas angústias e
preocupações. Mais do que nunca eles necessitavam de uma palavra de
conforto e esperança. Compreendendo as aflições vividas por aqueles
galileus, Jesus proferiu as seguintes palavras:
"Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em
mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-
lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar
lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou,
estejais vós também." 4
Com estas palavras Jesus lançou uma grande ponte sobre o abismo
da desesperança humana, anunciando a reunião de todos os Seus
seguidores com Ele no reino celestial.
Foi provavelmente esta esperança que inspirou o apóstolo S. Pedro
a escrever: "Nós, porém, segundo a Sua promessa, esperamos novos céus
e nova terra, nos quais habita justiça." 5
Tudo quanto Deus tem feito em favor da espécie humana – na
criação, na revelação, na redenção e na graça preservadora – tem um
propósito oculto, a saber: introduzir no Reino todos os Seus redimidos.
A nossa mente finita nos impede de entender a imensa tragédia do
pecado e suas dolorosas conseqüências sobre o mundo. Mas, o Senhor
prometeu buscar-nos para vivermos as alegrias que resultam da
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 295
restauração de tudo que se perdeu com a rebelião original. Reunir-nos-
emos outra vez com os queridos que a morte arrebatou e juntos
desfrutaremos as alegrias de um encontro que nunca mais sofrerá
interrupções.

O Céu Será uma Realidade

Alguns há que consideram o Céu como um mero estado de espírito


ou uma região de sonhos e fantasias. Outros crêem ser um lugar definido
na geografia universal onde os espíritos dos mortos se movem tangendo
harpas de ouro. Há ainda os que o descrevem como um lugar onde os
redimidos voam com asas de ave.
Essas e outras idéias absurdas e ingênuas, carentes de fundamento
bíblico, são responsáveis por uma crescente indiferença para com a vida
futura, considerada agora por muitos como nebulosa, além dos limites da
compreensão humana.
A Bíblia, entretanto, define o Céu como um lugar. "Vou preparar-
vos lugar", prometeu o Senhor. Com efeito, algures, no espaço infinito,
existe um lugar para nós. As hostes celestiais o estão preparando, na
expectativa do dia glorioso do segundo advento de Cristo quando, deste
planeta em rebelião, os remidos serão levados para o seu lar eterno.
Mas que espécie de lugar é o Céu? A literatura apocalíptica o
apresenta em linguagem rutilante, e a hinologia cristã o exalta como uma
terra bem-aventurada, onde os redimidos verão cristalizadas suas mais
caras aspirações.
Em uma de suas pastorais o apóstolo S. Paulo tentou descrevê-lo,
porém nas seguintes palavras confessou suas limitações: "Nem olhos
viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano
o que Deus tem preparado para aqueles que O amam" (1 Coríntios 2:9).
Nem a imaginação mais fértil pode conceber a magnitude e a excelência
do que o Eterno está preparando para os Seus filhos.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 296
Esta incapacidade de descrever as maravilhas que nos aguardam se
deve ao fato de que haverá uma mudança que não admite comparações
com as coisas que hoje conhecemos. Deus afirmou: "Eis que faço novas
todas as coisas" (Apocalipse 21:5). Esta declaração se entende melhor
quando a relacionamos com a seguinte descrição que o Senhor nos dá
por intermédio do profeta Isaías:
"Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá
lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas. Mas vós
folgareis e exultareis perpetuamente no que eu crio; porque eis que crio
para Jerusalém alegria e para o seu povo, regozijo. E exultarei por causa
de Jerusalém e me alegrarei no meu povo, e nunca mais se ouvirá nela
nem voz de choro nem de clamor." 6

Uma Nova Cidade

O laureado poeta chileno, Pablo Neruda, em seu conhecido discurso


pronunciado em Estocolmo, Suécia, em 1971, quando recebeu o
cobiçado Prêmio Nobel da literatura, assim se expressou: "Só com uma
ardente paciência conquistaremos a esplêndida cidade que dará luz,
justiça e dignidade a todos os homens."
Mas, esta não é certamente a cidade anunciada pelos profetas
antigos, "da qual Deus é o arquiteto e edificador"(Hebreus 11:10). Em
sua eloqüente peroração, o poeta se referia ao "paraíso" sonhado pelos
que se inspiram nos ideais marxistas. (Em virtude de suas convicções
materialistas, Neruda jamais aceitou a idéia de uma nova ordem social
segundo o modelo apresentado nas Escrituras.)
Nessa cidade socialista, como de resto em todas as outras que se
fundam sobre sistemas humanos, prevalecerão a corrupção, o ódio, a
injustiça e os demais males que caracterizam a natureza humana.
Mas na nova cidade que Deus está preparando, a incerteza e a
angústia não mais existirão.
"Nenhum morador de Jerusalém dirá: Estou doente." "Então, se
abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; os
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 297
coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará; pois águas
arrebentarão no deserto, e ribeiros, no ermo." 7
Quão frisante é o contraste entre a vida presente com suas tragédias,
pesares e quebrantos e esta nova ordem social prometida nas Escrituras!
Com entusiasmo e emoção o homem edifica uma mansão na qual
sonha viver muitos anos; circunda-a com belos jardins cobertos de flores
e árvores ornamentais. A vida se lhe afigura risonha. Eis porém que um
dia um diagnóstico médico o faz estremecer. O exame de laboratório
denuncia a presença perversa de um câncer estendendo em suas
entranhas os destruidores tentáculos da morte. E a tragédia se abate
implacável e irreversível, destruindo os planos de uma vida. "Destino
cruel", comentam os amigos, enquanto um estranho se muda para aquela
mansão, desfrutando os frutos do trabalho de alguém que sucumbiu
prematuramente, abatido pela tragédia da morte.
Quão diferente serão as condições no Paraíso restaurado por Deus!
Nele os redimidos "edificarão casas, e nelas habitarão; plantarão vinhas,
e comerão o seu fruto. Não edificarão para que outros habitem; não
plantarão para que outros comam; porque a longevidade do Meu povo
será como a da árvore, e os Meus eleitos desfrutarão de todo as obras das
suas próprias mãos". 8
As palavras do profeta nos permitem concluir que o Céu não será
uma nuvem onde os santos passarão durante a eternidade, arrancando
harmonias angelicais das cordas de uma harpa de ouro. Não será
tampouco um mosteiro onde os redimidos, com halos de glória, se
ocuparão em ociosa contemplação, ou ainda uma sociedade de
aposentados desfrutando as vantagens de um bem-aventurado e
monótono retiro. O Paraíso renovado por Deus será um lugar de ação,
alegrias e incessante atividade criadora. Isto ultrapassa os limites da
compreensão humana; mas constitui uma confortadora verdade. A vida
dos eleitos de Deus será tão real como é a nossa no mundo presente.
Ali compreenderemos os grandes e insondáveis mistérios de Deus.
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 298
"Ali, mentes imortais contemplarão, com deleite que jamais se
fatigará, as maravilhas do poder criador, os mistérios do amor que
redime. ... Ali os mais grandiosos empreendimentos poderão ser levados
avante, alcançadas as mais elevadas aspirações, as mais altas ambições
realizadas; e surgirão ainda novas alturas a atingir, novas maravilhas a
admirar, novas verdades a compreender, novos objetivos a aguçar as
faculdades do espírito, da alma e do corpo." 9
Essa descrição do Céu não repousa sobre hipóteses ou suposições;
não é fábula arquitetada pela imaginação dos homens, mas a verdade
inquestionável revelada nas páginas do Livro divino.

O Paraíso Restaurado

No princípio, quando ainda nova, recém-saída das mãos do Criador,


a Terra foi dada à raça humana. "Os céus são os céus do Senhor, mas a
Terra deu-a Ele aos filhos dos homens." 10
Mas pela desobediência o homem perdeu o domínio que foi tomado
por Satanás, o grande usurpador. "Pois", diz o apóstolo S. Pedro, "aquele
que é vencido fica escravo do vencedor." 11
Entretanto, pela previdência de Deus, com Seu infinito sacrifício,
Cristo remiu o domínio perdido por Adão. Cristo Se tornou o ''último
Adão". "Veio buscar e salvar o perdido'' (S. Lucas 19:10) – a Terra e os
que nela habitam. Prevendo isto, o profeta Miquéias anunciou: "A ti, ó
torre do rebanho, monte da filha de Sião, a ti virá; sim, ,virá o primeiro
domínio, o reino da filha de Jerusalém." 12
Com efeito, desde o dia sombrio, quando as portas do paraíso se
fecharam atrás de nossos primeiros pais, o sonho do paraíso restaurado
tem alimentado o coração dos homens. E Deus fortaleceu esta esperança
com definidas promessas.
Sim, o paraíso perdido será restaurado. Será um paraíso novo, não o
antigo, remendado ou reformado. Deus afirmou: "Eis que faço novas
todas as coisas" (Apocalipse 21:5). Viveremos pois em um mundo
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 299
inteiramente novo. Podemos apenas antecipar vagamente os esplendores
desta vida futura.
Todos os intentos humanos no sentido de formar uma sociedade
justa fracassaram. Porém, coisa alguma impedirá que Deus efetive a
restauração do paraíso perdido. Nesse dia bem-aventurado, todos os
anelos humanos se cristalizarão. Nascerá então indestrutível, perfeito e
encantador o mundo de amanhã.

Condição Para Entrar no Paraíso

Os acontecimentos analisados nos capítulos anteriores indicam


claramente que essa nova ordem social "para a qual se move toda a
criação", em breve se transformará em fulgurante realidade. As crises
econômicas, a inflação, o desemprego, o pauperismo, a injustiça, a
violência e o crime serão erradicados para sempre.
Mas nem todos fruirão os privilégios dessa perfeita utopia
universal. Muitos terão escolhido insensatamente desprezar a
oportunidade que o Todo-poderoso lhes oferece. E Deus não salvará os
que rejeitam Sua generosa oferta de salvação.
"Todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Romanos 3:23),
sentenciou o apóstolo S. Paulo. E embora o salário do pecado seja a
morte, Deus nos assegura "vida eterna em Cristo Jesus". 13
Deus não tem prazer na morte do homem, e por isso concebeu para
os Seus filhos uma via de escape.
"E o testemunho é este, que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida
está no Seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não
tem o Filho de Deus não tem a vida." 14
Estas palavras se harmonizam com a seguinte declaração formulada
por Jesus:
"Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e
crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas
passou da morte para a vida." 15
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 300
Quando o juiz norte-americano Warren Candler atuava como
advogado, no início de sua carreira profissional, defendeu em rumoroso
processo um jovem assassino. Com talento e habilidade esforçou-se por
eximir o incriminado das acusações reunidas nos autos. Havia em favor
do réu algumas circunstâncias atenuantes e o jovem advogado as usou
tendo em vista obter um veredicto que beneficiasse o acusado. Além
disso, estavam presentes no tribunal os pais do acusado e o advogado
valeu-se da situação para apelar ao sentimento dos jurados, mencionando
repetidas vezes as virtudes cristãs que caracterizavam a vida daquele
encanecido casal.
Terminaram os debates entre a acusação e a defesa e os jurados se
retiraram para dar o seu veredicto. O jovem foi absolvido. Porém o
advogado Warren Candler decidiu conversar com o cliente e o exortou a
viver uma vida exemplar, obedecendo às leis divinas e aos códigos
vigentes.
Sucederam-se os anos e novamente o réu que havia sido absolvido
foi levado ao tribunal sob a acusação de homicídio. O advogado que o
havia defendido na primeira vez, encontrava-se agora assentado como
juiz, e com base nas conclusões a que chegaram os jurados, declarou-o
culpado.
Ordenando que o condenado se levantasse para ouvir a sentença, o
juiz Candler declarou:
– Em seu primeiro julgamento, atuei como seu advogado; hoje, sou
o seu juiz. A conclusão do corpo de jurados impõe a pena de morte.
Como nosso grande Advogado, Cristo nos convida agora a aceitar
Sua graça salvadora. Em suaves acentos Ele nos diz: "Eis que venho sem
demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um
segundo as suas obras." 16
Marchamos de forma inexorável para o grande dia anunciado nas
profecias, no qual Ele será o grande e justo Juiz de toda a Terra. Os que
pela fé aceitarem agora a provisão salvadora de Cristo, sobreviverão a
este mundo de impiedade e ouvirão dos lábios do Supremo Juiz as
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 301
palavras bem-aventuradas: "Muito bem, servo bom e fiel;... entra no
gozo do teu Senhor." 17

Senhor, Podes Ouvir-me?


JOYCE MCCLINTOCK

O sol está morno agora. Pode ser que assim esquente um pouco. A esta
hora da manhã a calçada está tão fria que congela até os ossos. Eu já deveria
estar acostumado, depois de viver assim todos esses anos.
Que estranho! De repente tive a sensação de que hoje não poderei me
levantar. É uma sensação muito forte. Realmente não me importa. Há muito
tempo tenho esperado este dia.
Senhor, onde estás? Podes me ouvir, Senhor? Acho que não deveria
chamar-Te justamente agora, já que não temos mantido relações muito
amigáveis faz tempo. Lembro-me de como minha mãe dizia que a gente pede
ajuda quando está derrotado. Bem, Senhor, tenho estado derrotado há anos,
mas nunca Te chamei; bem, quase nunca. Agora estou seguro de que minha
partida final se aproxima, e devo admitir que estou Te chamando.
O que peço não é um grande favor, realmente não. Na hora da minha
morte não quero estar só. Tenho estado só durante muito tempo. Ficaria muito
feliz se quisesses permanecer aqui comigo.
Lembras quando eu era um menino e falava contigo? Por estranho que
pareça, sempre tinha a sensação de que me escutavas.
Senhor, eu disse que não ia Te pedir um grande favor. Mas agora que
cheguei ao fim da vida, estou um pouco assustado. Eu gostaria que estivesses
não apenas aqui, mas também que segurasses minha mão enquanto a luz se
extingue.
E me pergunto, Senhor, se Tua morada é muito grande. Já ouvi que deste
lugar a uma prostituta, um ladrão e alguns assassinos.
Senhor, tens lugar pra mim?
(Tradução de Sueli N. Ferreira)
ANO 2000 – Angústia ou Esperança? 302
Referências:

1. Planéte, setembro/outubro de 1968, pág. 68


2. Idem, pág. 75
3. Apocalipse 21:1 e 4
4. S. João 14:1-3
5. II S. Pedro 3:13
6. Isaías 65:17-19
7. Idem, 33:24; 35:5 e 6.
8. Ibidem, 65:21 e 22
9. E. G. White, O Grande Conflito, pág. 677
10. Salmo 115:16
11. II S. Pedro 2:19
12. Miquéias 4:8
13. Romanos 6:23
14. I S. João 5:11 e 12
15. S. João 5:24
16. Apocalipse 22:12
17. S. Mateus 25:21.

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