Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
‡
Rodrigo Carlos Silva de Lima
Universidade Federal Fluminense - UFF-RJ
rodrigo.uff.math@gmail.com
‡
1
Sumário
1 Funções contı́nuas 3
1.1 Funções contı́nuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1.1 Função contı́nua e limite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.1.2 Funções contı́nuas e sequências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2 Funções contı́nuas e operações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3 Funções contı́nuas e desigualdades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.3.1 Hölder- contı́nua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.4 Funções contı́nuas em intervalos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.4.1 Teorema do valor intermediário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.4.2 Função contı́nua e abertos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.5 Funções contı́nuas em intervalos compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.6 Continuidade uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.6.1 Função lipschitziana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.6.2 Critério de sequências para continuidade uniforme . . . . . . . . . . 37
1.7 Funções contı́nuas em espaços métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
1.7.1 Função Lipschitziana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
1.7.2 Propriedades elementares de funções contı́nuas . . . . . . . . . . . . 44
1.8 Homeomorfismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
1.8.1 Métricas equivalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
1.9 Continuidade uniforme em espaços métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
2
Capı́tulo 1
Funções contı́nuas
Chamamos esse tipo de definição de definição por epsillon e delta. Uma definição
similar a essa foi dada por Bernard Bolzano em 1817, depois independentemente por
Cauchy, porém a definição formal e distinção entre continuidade pontual e uniforme é
considerada obra de Karl Weierstrass.
3
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 4
pois podemos tomar δ que satisfaça (a − δ, a + δ) ∩ A = {a}, tal δ existe pelo fato de a
ser ponto isolado, nesse caso x só poderá ser a, daı́ tem-se f (x) −f (a) = 0 < ε, ∀ε.
|{z}
=f (a)
Demonstração.
Demonstração. Para todo ε > 0 tomamos δ = ε e daı́ |x−a| < δ implica |f (x)−a| =
|x − a| < ε = δ.
o conjunto dos pontos |x − a| < δ nunca é vazio por a ser ponto de acumulação, então faz
sentido falar em limite e existem valores que satisfazem 0 < |x − a| < δ, daı́ a propriedade
segue pela definição de limite.
⇐ . Se lim f (x) = f (a), então vale
x→a
como vale também para x = a, pois |f (a) − f (a)| = 0 < L então tem-se |x − a| < δ
implicando |f (x) − f (a)| < ε o que pela definição garante que f é contı́nua.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 5
e chamamos de salto de f em a.
Se a função é contı́nua em a então S(a) = 0.
1 1
ou irracional, segue que pra todo x ∈ R vale |x − | < ε implica |f (x) − | < ε logo f é
2 2
1
contı́nua em . Poderı́amos trocar os racionais e os irracionais por outros dois conjuntos
2
A e B, disjuntos, densos em R, a propriedade seria a mesma.
Exemplo 4. Dada uma sequência finita e crescente de números reais (xk )n1 , construir
uma função f : R → R tal que ela seja contı́nua apenas nos pontos (xk )n1 .
Particionamos a reta como
∪
n−1 ∪
n
R = (−∞, x1 + a2 ] ∪ (xk − ak , xk + ak ] ∪ (xn − an , ∞) = Ak .
| {z } | {z } | {z }
A1 k=2 Ak An k=1
xk − xk−1
onde ak = , isto é, dividimos a reta em n partes onde cada conjunto Ak ,
2
excetuando A1 e An tem centro em xk . Definimos fAk , a função restrita à Ak como
x se x é racional
f (x) =
2x − x se x é irracional
k
Consideramos agora o caso de termo uma sequência infinita de termos isolados (xk ),
podemos da mesma maneira construir uma função f de R em R que seja contı́nua apenas
nesses pontos. A demonstração de que ela é contı́nua apenas nesses pontos é a mesma, o
que muda é a maneira de particionar a reta.
Se a sequência não possui maior nem menor elemento, podemos enumerar a sequência
com ı́ndices em Z de maneira crescente e escrever a partição
∪
∞
R= (xk − ak .xk + ak ]
k=−∞
Exemplo 6. Dada uma sequência finita (xk )n1 definir uma função descontı́nua apenas
nesses pontos.
Definimos f (x) = 1 se x < x1 , f (x) = k se x ∈ [xk , xk+1 ), 1 ≤ k < n e f (x) = n se
x ∈ [xn , ∞), f é descontı́nua em cada xk pois
nos outros pontos a função é constante, logo é contı́nua. Essa função é um tipo de função
escada.
Da mesma maneira, dada uma sequência de pontos (xk ), tal que sejam pontos isolados
na reta, podemos definir uma sequência descontı́nua apenas nesses pontos e contı́nua em
todos os outros pontos. Se a sequência não possui mı́nimo nem máximo, enumeramos a
sequência usando os números inteiros (xk )∞
−∞ , tal que xk+1 > xk ∀k definimos f (x) = k
1
Exemplo 7. Seja f : R → R, tal que f (x) = xsen( ) se x ̸= 0 e f (x) = 0 se x = 0,
x
então f é contı́nua em toda reta.
Para x ̸= 0 a função é contı́nua, agora se x = 0, tomamos uma sequência arbitrária
1 1
(xn ) em R com lim xn = 0, temos f (xn ) = xn sen , yn = sen é uma sequência
xn xn
1
limitada, logo lim f (xn ) = lim xn sen = 0 = f (0), logo a função é contı́nua em 0.
xn
Propriedade 9. Se f, g são funções contı́nuas de R em R e f (x) = g(x)∀x ∈ A denso
em R, então f (x) = g(x)∀x ∈ R.
Demonstração. Seja a ∈ R então ∃(xn ) em A tal que lim xn = a e vale f (xn ) = g(xn )
assim lim f (xn ) = f (a) = lim g(xn ) = g(a), logo f (a) = g(a)∀a ∈ R.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 10
uma das duas condições é satisfeita para um número infinito de ı́ndices, logo podemos
tomar uma subsequência (tn ) de (xn ) que satisfaz lim tn = a (pois toda subsequência
tende ao mesmo limite) e vale uma das propriedades citadas acima para todo n ∈ N .
Demonstração.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 11
Dado x real arbitrário, vale que f (−x) = −f (x) pois f (x − x) = f (x) + f (−x) = 0
portanto f (−x) = −f (x).
Vale que f (nx) = nf (x) para qualquer x real e n natural pois, por indução f (1.x) =
1.f (x), supondo f (nx) = nf (x) tem-se que
f (−nx) = −f (nx) = −nf (x) logo a propriedade f (nx) = nf (x) vale para n inteiro.
x f (x) nx x f (x)
Dado n natural vale que f ( ) = pois f ( ) = nf ( ) = f (x) logo =
n n n n n
x
f ( ) isso para x real arbitrário.
n
px p p
Daı́ concluı́mos que f ( ) = f (x) onde é um número racional.
q q q
Podemos denotar f (1) = a daı́ vale f (x) = xf (1) = ax onde x é racional.
Tomamos uma sequência (xn ) de números racionais que convergem para um valor
x real arbitrário (racional ou irracional), vale que
f (xn ) = xn .f (1) = xn .a
sequência (xn ) crescente e (yn ) decrescente , ambas de números racionais que convergem
para um número x, nessas condições
xn ≤ x ≤ yn
tomando o limite
x.a ≤ f (x) ≤ y.a.
f (x) f (a)
lim = lim f (x).(lim g(x))−1 = .
x→a g(x) x→a x→a g(a)
∑
n
Corolário 6. Todo polinômio f : A → R dado por f (x) = ak xk é contı́nuo em a ∈ A,
k=0
pois cada ak xk é contı́nua em a e daı́ a sua soma também é contı́nua.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 13
Corolário 7. Funções racionais, que são dadas pelo quociente de dois polinômios , são
funções contı́nuas nos valores onde o denominador não se anula, pois tem-se o quociente
de funções contı́nuas.
como F2 é fechado, podemos obter δ2 > 0 tal que não exista x ∈ F2 com |x − a| < δ2 , pois
se houvesse para todo δ2 então terı́amos uma sequência convergindo para a com elementos
de F2 e como F2 é fechado implicaria a ∈ F2 . Tomamos δ = min{δ1 , δ2 } , então x ∈ F1 e
vale |f (x) − f (a)| < ε.
Demonstração. Se f (1) = 0 temos f (x) = 0 para todo x, pois f (x.1) = f (x).f (1),
ε
se não, tomamos δ = logo
|f (1)|
ε
|x − a| < δ = ⇒ |x − a||f (1)| < ε
|f (1)|
|f (x) − f (a)| < ε.
1 1 1
|a n − b n | ≤ |a − b| n
1 1
Demonstração. Supondo a ≥ b , definindo c = a n e d = b n , então c − d ≥ 0 por
expansão binomial tem-se
∑n ( )
n
c = ((c − d) + d) =
n n
(c − d)k dn−k ≥ dn + (c − d)n ≥ 0
k=0
k
e daı́
1 1 1
|a n − b n | ≤ |a − b| n .
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 15
1 1
Propriedade 20. Se xn ≥ 0 e lim xn = a então lim(xn ) p = a p
1
Propriedade 21. Seja f : R → R+ contı́nua, então f p (p ∈ N ) é contı́nua em R.
Demonstração. Tomamos uma sequência (xn ) com lim xn = a, vale que lim f (xn ) =
1 1 1
f (a) pois f é contı́nua, daı́ lim f (xn ) p = (lim f (xn )) p = f (a) p , pela propriedade de
1
sequências, logo f p é contı́nua.
Demonstração.[2] Como f é contı́nua em um ponto arbitrário a, então para todo
ε > 0 existe δ > 0 tal que
p
|x − a| < δ ⇒ |f (x) − f (a)| < ε
que implica
1 1 1
|f p (x) − f p (a)| < |f (x) − f (a)| p < ε
√
Exemplo 8. Vamos mostrar que f : [0, ∞) → R com f (x) = x é contı́nua no seu
domı́nio.
1 1 1
Primeiro mostramos que |a 2 − b 2 | ≤ |a − b| 2 . Dados a e b, podemos supor sem perda
1 1
de generalidade que a ≥ b ⇒ a 2 ≥ b 2
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
a = (a 2 − b 2 + b 2 )2 = (a 2 − b 2 )2 + 2(a 2 − b 2 )b 2 + b ≥ (a 2 − b 2 )2 + b
1 1 1 1 1
daı́ a − b ≥ (a 2 − b 2 )2 ⇒ (a − b) 2 ≥ (a 2 − b 2 )2 .
1
Tomando δ = ε2 para |x − a| < ε2 tem-se |x − a| 2 < ε ⇒
√ √ 1
| x − a| ≤ |x − a| 2 < ε
Z = {x ∈ B | f (x) ≤ g(x)}
daı́
∪ ∪
Y = y⊂ (B ∩ Iy ) ⊂ Y
y∈Y y∈Y
∪ ∪ ∪
logo Y = (B ∩ Iy ) e por identidade de conjuntos temos que (B ∩ Iy ) = B ∩ ( Iy ),
y∈Y
∪ y∈Y y∈Y
onde essa última passagem se deu por identidade de conjuntos, temos que R \ A = F é
um conjunto fechado, logo provamos que Z = B ∩ F , onde F é fechado.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 18
temos então f (x) < f (a) + ε e f (a) − ε < f (x). Sendo c > f (a) arbitrário, podemos
tomar ε = c − f (a), ε + f (a) = c, logo ∃ δ > 0 | ∀x ∈ A, |x − a| < δ implicando
f (x) < f (a) + ε = c, portanto f é scs em a.
Da mesma maneira se c < f (a), tomamos ε = f (a)−c ⇒ f (a)−ε = c e a continuidade
garante que ∃ δ > 0 | ∀x ∈ A, |x − a| < δ implicando c = f (a) − ε < f (x), logo f é sci em
a.
⇐). Suponha que f seja scs e sci em a, seja ε > 0 arbitrário então pela primeira
condição podemos tomar c − f (a) = ε que fica garantida a existência de δ1 , tal que
|x − a| < δ1 implica f (x) < c, f (x) − f (a) < ε, por f ser sci em a para qualquer, podemos
tomar f (a) − c2 = ε e daı́ existe δ2 tal que |x − a| < δ2 implica c2 < f (x), f (a) − ε < f (x),
daı́ tomando δ = min{δ1 , δ2 } as duas condições são satisfeitas logo vale |f (x) − f (a)| < ε
e f é contı́nua em a.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 19
Propriedade 27. Se f é scs e g é sci em a e f (a) < g(a) então existe δ > 0 tal que
x ∈ A, |x − a| < δ implica f (x) < g(x).
f (a) + g(a)
Demonstração. Como f é scs tomamos c = > f (a), então existe δ1 > 0,
2
f (a) + g(a)
x ∈ A, |x − a| < δ1 ⇒ f (x) < . Da mesma maneira como g é sci, tomando o
2
f (a) + g(a) f (a) + g(a)
mesmo c = < g(a) existe δ2 > 0, x ∈ A, |x − a| < δ2 ⇒ < g(x).
2 2
f (a) + g(a)
Tomando δ = min{δ1 , δ2 } tem-se com x ∈ A , |x − a| < δ que f (x) < e
2
f (a) + g(a)
< g(x) que implica f (x) < g(x).
2
Demonstração.
Demonstração. Seja o conjunto A = {x ∈ [a, b] | f (x) < d}, tal conjunto é não vazio,
pois a ∈ A, temos também que o intervalo [a, b] não é degenerado pois f (a) < d < f (b)
implica f (a) ̸= f (b), logo a ̸= b. Tem-se também que b ∈
/ A e A é limitado superiormente,
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 20
então possui supremo. Seja c = sup A, vamos mostrar que o conjunto A não possui
máximo, logo o supremo não pertence ao conjunto.
Suponha que A possua um máximo α, de f (α) < d segue 0 < d − f (α), tomamos
ε = d − f (α) e por continuidade de f em α segue
como f (α) + ε = d, podemos tomar δ de forma que [α, α + δ] ∈ [a, b] e para todo
x ∈ [α, α + δ) vamos ter x ∈ A com f (x) < d, que é absurdo logo A não possui máximo.
Tomamos uma sequência crescente de elementos de A, ela converge para o supremo c,
lim xn = c logo lim f (xn ) = f (c) ≤ d . Tal elemento c pertence ao intervalo (a, b), pois
não pode ser a, pois se não intervalo A teria um máximo, não pode ser b pois d < f (b) e é
uma sequência de elementos com elementos em [a, b] logo está dentro do intervalo. Como
A não possui maior elemento, não temos f (c) < d de onde segue f (c) = d .
Exemplo 10. Seja f : R → R definida por f (x) = xsen(x), então para todo c ∈ R existe
(xn ) em R com lim xn = ∞ e lim f (xn ) = c.
Para x suficientemente grande a oscilação de f (x) é tão grande quanto queremos e a
oscilação é crescente.
π π
Para x2 = + 2πn, vale sen(x) = 1 e f (x2 ) = + 2πn.
2 2
π π
Para x1 = − + 2πn, vale sen(x) = −1 e f (x1 ) = − 2πn.
2 2
π π
Para x4 = + 2π(n + 1), vale sen(x) = 1 e f (x4 ) = + 2π(n + 1).
2 2
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 21
π π
Para x3 = − + 2π(n + 1), vale sen(x) = −1 e f (x3 ) = − 2π(n + 1).
2 2
Segue que f (x3 ) − f (x2 ) = 4π(n + 1) > f (x2 ) − f (x1 ) = 4πn, portanto a oscilação
da função é tão grande quanto queremos e cresce.
π π
Então, dado c ∈ R existe n0 ∈ N tal que c ∈ [ − 2πn0 , + 2πn0 ] e por continuidade
2 2
π π
existe x1 ∈ [− + 2πn0 , + 2πn0 ] tal que f (x1 ) = c. Da mesma maneira existe x2 ∈
2 2
π π π
[− + 2π(n0 + 1), + 2π(n0 + 1)] tal que f (x2 ) = c, em geral xn ∈ [− + 2π(n0 + n −
2 2 2
π
1), + 2π(n0 + n − 1)] tal que f (xn ) = c, valendo lim xn = ∞ e lim f (xn ) = c.
2
Exemplo 11. Seja f : R → R contı́nua, então existe t ∈ R tal que f (t) = f (−t).
Temos é claro o ponto trivial t = 0 satisfazendo tal identidade, existem funções contı́nuas
que possuem apenas esse ponto, mas vamos usar o TVI para concluir que podem haver
eventualmente outros pontos, seja g : R → R definida como g(x) = f (x) − f (−x),
tomando t ∈ R, se vale g(t) = f (t) − f (−t) = 0 então a demonstração terminou, se não
g(t) = k ̸= 0 e g(−t) = g(−t) − g(t) = −k, como g é contı́nua, vale que existe w ∈ (−t, t)
tal que g(w) = 0, logo f (w) = f (−w).
2
Solução por Danilo Barros
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 22
Corolário 15. Seja f (x) uma função contı́nua em [a, b] . Se f (a).f (b) < 0, então existe
y ∈ (a, b) tal que f (y) = 0, pois os sinais de f (a) e f (b) são contrários. Se f ′ (x) preservar
o sinal em (a, b) então o intervalo contém um único zero de f , pois a função será crescente
ou decrescente no intervalo (a, b).
Propriedade 31 (Ponto fixo). Seja f : [0, 1] → R contı́nua tal que f (0) ≤ 0 e f (1) ≥ 1,
então existe c ∈ [0, 1] tal que f (c) = c.
Corolário 16. Sejam f, g : A → R contı́nuas no ponto a, tal que para toda vizinhança
V de a existam pontos x e y, tais que f (x) < g(x) e f (y) > g(y) então f (a) = g(a).
Tomamos h : A → R com h(x) = f (x) − g(x) daı́ em toda vizinhança de a existem
x, y tais que h(x) < 0 e h(y) > 0, portanto pelo resulado anterior vale que h(a) = 0 =
f (a) − g(a) ⇒ f (a) = g(a).
Propriedade 33. Sejam p ≥ 0 real, f : [0, 2p] → R contı́nua com f (0) = f (2p). Então
existe c ∈ [0, p] tal que f (c) = f (c + p).
como g é contı́nua, por ser soma de funções contı́nuas, segue que, existe c ∈ [0, p] tal
que g(c) = 0 = f (c + p) − f (c), logo f (c + p) = f (c).
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 23
1
Exemplo 12. Tomando p = então f : [0, 1] → R contı́nua com f (0) = f (1) implica
2
1 1 1
que existe c ∈ [0, ] tal que f (c) = f (c + ). Da mesma maneira tomando p =
2 2 3
2 2 1
então f : [0, ] → R contı́nua com f (0) = f ( ) implica que existe c ∈ [0, ] tal que
3 3 3
1
f (c) = f (c + ).
3
l = sup{f (x) , x ∈ A, x < a)} = sup C sendo que f (a) é cota superior de C e cota
inferior de B pelo fato da função ser não-decrescente. Além disso vale l ≤ L.
3
Essa propriedade segue por resultado já demonstrado para limite de funções
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 24
Como a ∈ int(I) então existem x, y ∈ I com x < a < y. Suponha por absurdo que f seja
descontı́nua em a, daı́ L > l e vale uma das possibilidades
l < f (a) ≤ L ou
l ≤ f (a) < L, pois não pode acontecer de L = f (a) = l, se não f seria contı́nua em
a. Por isso podemos tomar z ̸= f (a) tal que l < z < L, valendo f (x) < z < f (y) ,
temos também que z ∈
/ f (I), portanto f (I) não é intervalo, o que é absurdo.
1
Exemplo 13. f : R → R dada por f (x) = sen( ) para x ̸= 0 e f (0) = 0, tem a
x
propriedade do valor intermediário, porém é descontı́nua em 0.
Separamos os intervalos de R em dois tipos:
Em todo intervalo que contém 0 a imagem da função é o intervalo [−1, 1], que já mostramos
1
por meio de sequências da forma xn = , onde c é tal que sen(c) = v ∈ [−1, 1],
2nπ + c
todo intervalo que contém 0 possui termos desse tipo para n suficientemente grande.
Em intervalos que não contém 0, a função f é contı́nua logo sua imagem é um intervalo.
Portanto para qualquer tipo de intervalo vale a propriedade do valor intermediário para
a função f .
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 25
Demonstração. Seja y ∈ R arbitrário, vamos mostrar que existe x tal que f (x) = y.
Como lim+ f (x) = −∞ , lim− f (x) = ∞ então para quaisquer A, B positivos , existem
x→a x→b
δ1 , δ2 positivos tais que x ∈ (a, a+δ1 ) = I1 ⇒ f (x) < −A, x ∈ (b−δ1 , b) = I2 ⇒ f (x) > B,
podemos tomar A e B tais que y ∈ (−A, B), existindo x1 < x2 tal que f (x1 ) < −A
|{z} |{z}
∈I1 ∈I2
, f (x2 ) > B, f (x1 ) < y < f (x2 ) logo existe em [x1 , x2 ] um número x3 tal que f (x3 ) = y
pelo TVI .
Se o intervalo é (a, ∞) com lim f (x) = ∞ então para todo B2 > 0 existe B1 > 0
x→∞
tal que para x > B1 tem-se f (x) > B2 . Tomando B2 > y existe x2 > B1 , tal que
f (x2 ) > B2 > y então usamos o mesmo argumento anterior no intervalo [x1 , x2 ].
Exemplo 14. Seja (xk )n1 uma sequência crescente de números reais. A função f : R \
∑n
1
{xk , , k ∈ In } → R com f (x) = é sobrejetora e possui exatamente n raı́zes
k=1
x − xk
cada uma em um intervalo do tipo (xk , xk+1 ) com k em In−1 .
Vale
∑
n
1 ∑n
1
lim+ = ∞ e lim− = −∞
x→xk
k=1
x − xk x→xk
k=1
x − xk
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 26
então existe raı́z em cada (xk , xk+1 ) e a função assume cada valor real nesse tipo de
intervalo, temos n − 1 desses tipos de intervalo, logo n − 1 raı́zes.
∑n
1 ∏n
= 0 multiplicamos por (x − xk ) em ambos lados, o que resulta
k=1
x − xk
k=1
∑
n ∏
n
(x − xt ) = 0
k=1 t=1,t̸=k
que é um polinômio de grau n − 1 , logo possui no máximo n − 1 raı́zes reais, que estão
no intervalo que achamos anteriormente, as duas expressões são equivalentes em termo de
raı́zes.
Demonstração.
⇒). Supondo f : A → f (A) contı́nua. Como A é aberto f (A) possui um conjunto
aberto pelo T V I, pois a imagem de um intervalo de A é um intervalo de f (A).
Tomamos A′ ⊂ f (A) aberto. Dado a ∈ f −1 (A′ ) arbitrário tem-se f (a) ∈ A′ , como A′
é aberto existe ε > 0 tal que (f (a) − ε, f (a) + ε) ⊂ A′ , por f ser contı́nua, existe δ > 0
tal que x ∈ (a − δ, a + δ) ∩ A ⇒ f (x) ∈ (f (a) − ε, f (a) + ε), por A ser aberto o δ pode ser
escolhido de maneira tal que (a − δ, a + δ) ∩ A = (a − δ, a + δ), logo
Demonstração. Seja a1 ∈ f −1 (A) então existe a ∈ A tal que f (a1 ) = f (a). Vamos
mostrar que a1 é ponto interior de f −1 (A).
Como A é aberto, dado a ∈ A existe δ > 0 tal que (a − δ, a + δ) = Ia ⊂ A, a imagem
desse intervalo é um intervalo( pois a função é contı́nua) que contém um intervalo aberto
centrado em f (a), por isso podemos tomar ε > 0 tal que (f (a) − ε, a + ε) ⊂ f (Ia ) ⊂ f (A).
Ainda por continuidade existe δ1 > 0 tal que para x ∈ (a1 − δ1 , a1 + δ1 ) tem-se f (x) ∈
(f (a1 )−ε, f (a1 )+ε) = (f (a)−ε, f (a)+ε) ⊂ f (A) disso segue que (a1 −δ1 , a1 +δ1 ) ⊂ f −1 (A)
pois a imagem desse conjunto está contida em f (A), logo a1 é ponto interior de f −1 (A).
Demonstração.
⇒). Suponha A aberto, considere a função g : B → A, inversa de f , vale que g −1 (A) =
B por g ser bijeção, então por continuidade B é aberto.
⇐). Suponha B aberto. f −1 (B) = A por ser bijeção e por resultado anterior A é então
aberto.
Com isso concluı́mos que um homeomorfismo leva abertos em abertos.
Exemplo 16. Dadas f e h do exemplo anterior elas são bijeções com inversas contı́nuas
portanto levam abertos em abertos, dado A aberto vale que f (A) e h(A) são abertos.
Existe A aberto tal que g(A) não é aberto, como por exemplo A = (−1, 1) que possui
imagem [0, 1).
Propriedade 41. A imagem f (A) de um conjunto compacto A por uma função contı́nua
f : A → R é um conjunto compacto.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 28
Demonstração. Para mostrar que f (A) é compacto, vamos mostrar que toda sequência
(yn ) em f (A) possui subsequência convergente em f (A).
∀(yn ) em f (A) definimos (xn ) tal que yn = f (xn ), com (xn ) em A. Como A é compacto
a sequência (xn ) possui subsequência (xnk )k que converge para um ponto a ∈ A. Sendo
f contı́nua em a e lim xnk = a concluı́mos que lim f (xnk ) = f (a) ∈ f (A), logo (yn ) em A
k k
arbitrária possui subsequência f (xnk ) que converge, assim f (A) é compacto.
1
Exemplo 17. Seja f : [0, 1] → R com f (x) = max{x, } , f possui mı́nimo e máximo
2x
global, pois é contı́nua e definida em um compacto .
1
Definindo g : [0, 1] → R com g(x) = x − x então f possui raiz em [0, 1], pois é
2
1
contı́nua e tem-se g(0) = −1 e g(1) = .
2
a relação |f (y) − f (x)| ≥ cε ε ∀cε > 0 implica que f (A) não é limitado, logo f não pode
ser contı́nua, pois a imagem do compacto A seria o compacto f (A) que é limitado.
Demonstração. Como lim f (x) = k então tomando ε = 1, existe A > 0 tal que para
x→∞
x > A vale |f (x) − k| < 1, como no conjunto [0, A] a imagem da função admite máximo
e mı́nimo, então f é limitada em [0, A], sendo que para x > A vale |f (x) − k| < 1, então
f é limitada.
Propriedade 44. Sejam f : [a, b] → R uma função contı́nua , (xk )uk=v pontos do intervalo
[a, b] para u e v inteiros com u ≥ v. Então existe um ponto c ∈ (a, b) tal que se verifica
∑
u
f (xk ) = (u + 1 − v)f (c).
k=v
Se a igualdade acontecer em algum dos lados nossa propriedade está demonstrada pois
aconteceria
∑
u
f (z)(u + 1 − v) = f (xk )
k=v
ou
∑
u
f (xk ) = f (y)(u + 1 − v)
k=v
se z < y tomamos o TVI com o intervalo [z, y], assim irá existir c ∈ (z, y) ⊂ (a, b) tal que
f (c) = t daı́
∑
u
f (xk ) ∑
u
k=v
f (c) = , (u + 1 − v)f (c) = f (xk ).
(u + 1 − v) k=v
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 30
tomando a função g(x) = −f (x) ela é contı́nua no intervalo, aplicamos então o TVI de
onde segue que existe c ∈ (y, z) ⊂ (a, b) tal que g(c) = −t ou −f (c) = −t, f (c) = t daı́
∑
u
f (xk ) ∑
u
k=v
f (c) = , (u + 1 − v)f (c) = f (xk ).
(u + 1 − v) k=v
Corolário 18. Sejam f : [a, b] → R contı́nua e (xk )nk=1 pontos de [a, b] então existe
c ∈ (a, b) tal que
∑
n
f (xk ) = nf (c).
k=1
Propriedade 45. Sejam f : [a, b] → R uma função contı́nua com f (x) > 0∀x ∈ [a, b],
(xk )|uk=v pontos do intervalo [a, b] para u e v inteiros com u ≥ v. Então existe um ponto
c ∈ (a, b) tal que se verifica
∏
u
f (xk ) = f (c)(u+1−v) .
k=v
Se a igualdade acontecer em algum dos lados nossa propriedade está demonstrada pois
aconteceria
∏
u
(u+1−v)
f (z) = f (xk )
k=v
ou
∏
u
f (xk ) = f (y)(u+1−v)
k=v
tomamos o TVI , assim irá existir c ∈ (z, y) ⊂ (a, b) tal que f (c) = t daı́
(∏
u ) (u+1−v)
1
∏
u
(u+1−v)
f (c) = f (xk ) , f (c) = f (xk ).
k=v k=v
Corolário 19. Sejam f : [a, b] → R contı́nua com f ≥ 0 e (xk |nk=1 ) pontos de [a, b] então
existe c ∈ (a, b) tal que
∏
n ( )n
f (xk ) = f (c) .
k=1
Demonstração. Como a função é contı́nua definida num compacto, então sua imagem
é um compacto, implicando que existe x0 ∈ A tal que f (x) ≥ f (x0 )∀x ∈ A, como vale
f (x0 ) > 0 tomamos f (x0 ) = c.
Propriedade 49. Seja f : R → R contı́nua com lim f (x) = lim f (x) = ∞. Então
x→∞ x→−∞
Podemos tomar A > 0 tal que A > B, A > a, −A < −B1 , −A < a, logo para x > A, y <
−A tem-se f (x) > f (a), f (y) > f (a), f restrita à [−A, A] possui mı́nimo f (x0 ) pois o
conjunto é compacto, além disso como a ∈ [−A, A] segue que f (x0 ) ≥ f (a), tal valor f (x0 )
é mı́nimo global da função, pois em [−A, A] tal valor é mı́nimo e fora desse intervalo a
função assume valores maiores que f (x0 ).
Propriedade 50. Seja f : R → R contı́nua com lim f (x) = ∞ e lim f (x) = −∞.
x→∞ x→−∞
Então para todo c ∈ R existe entre as raı́zes da equação f (x) = c uma cujo módulo é
mı́nimo.
Podemos tomar A > 0 tal que A > B, A > c, −A < −B1 , −A < −c, logo para x >
A, y < −A tem-se f (x) > c, f (y) < −c. As raı́zes de f (x) = c pertencem ao conjunto
[−A, A]. Seja V = {|x| ∈ [−A, A] | f (x) = c}, tal conjunto é limitado inferiormente, logo
possui ı́nfimo. Seja t = inf V . Se o ı́nfimo pertence ao conjunto nada precisamos fazer,
essa é nossa raı́z com módulo mı́nimo. Se não, existe (xn ) ∈ V tal que lim xn = t, vale
f (xn ) = c ∀n ∈ N e por continuidade de f temos lim f (xn ) = f (t) = c, então o ı́nfimo
pertence ao conjunto, logo existe sempre uma raı́z cujo módulo é mı́nimo.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 33
Propriedade 51. Não existe f : [a, b] → R contı́nua que assume cada um dos seus valores
f (x) exatamente duas vezes.
x, y > A
x ∈ [−B, A] y > A
x, y ∈ [−B, A]
x, y < −B.
Exemplo 18. A condição anterior não é necessária para que uma função seja uniforme-
mente contı́nua, como mostra o caso da função real com f (x) = x , cujos limites não
existem.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 36
1 1
Exemplo 20. A função f : R → R dada por f (x) = é contı́nua e vale lim =
1 + x2 x→∞ 1 + x2
1
lim = 0 logo f é uniformemente contı́nua.
x→−∞ 1 + x2
Demonstração. Sabendo que a função é lipschitziana, existe c > 0 tal que ∀x, y ∈
ε
A ⇒ |f (x) − f (y)| ≤ c|x − y|. Para cada ε > 0 tomamos δ = logo
c
ε
∀ε > 0, ∃δ > 0 | x, y ∈ A, |x − y| < δ = ⇒
c
multiplicando por c não altera a desigualdade pois c > 0, c|x − y| < ε e usando a condição
de ser lipschitziana segue
|f (x) − f (y)| ≤ c|x − y| < ε
logo |f (x) − f (y)| < ε que implica a função ser uniformemente contı́nua.
Exemplo 22. A função f : R → R dada por f (x) = |x| é lipschitziana, pois vale
como lim xn − yn , existe n0 ∈ N tal que n > n0 implica |xn − yn | < δ que implica pela
condição de continuidade uniforme que |f (xn ) − f (yn )| < ε, logo lim f (xn ) − f (yn ) = 0.
⇐. Na volta vamos usar a contrapositiva. Temos que provar então que se f não é
uniformemente contı́nua, então existem (xn ), (yn ) em A com lim xn − yn = 0 e lim f (yn ) −
f (xn ) ̸= 0. Como f não é uniformemente contı́nua podemos tomar pontos (xn ) e (yn ) em
1
A tais que |xn − yn | < e |f (xn ) − f (yn )| ≥ ε, daı́ lim xn − yn = 0 e lim f (xn ) − f (yn ) ̸= 0,
n
o que demonstra a proposição.
Esse critério pode ser de grande utilidade para decidir quando uma função não é
uniformemente contı́nua, veremos um exemplo a seguir.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 38
Exemplo 23. A função real dada por f (x) = ex não é uniformemente contı́nua, pois
tomamos xn = ln(n+1) e yn = ln(n), valendo lim xn −yn = 0 e f (xn )−f (yn ) = n+1−n = 1
que não tende a zero.
π π
Exemplo 24. A função f : (− , ) → R com f (x) = tg(x) não é uniformemente
2 2
π π
contı́nua pois tomando xn = artg(n + 1) e yn = arctan(n) então lim xn − yn = − = 0
2 2
e f (xn ) − f (yn ) = n + 1 − n = 1.
Exemplo 25. A função f : (0, ∞) → R com f (x) = ln(x) não é uniformemente contı́nua,
2 1
pois tomando xn = e yn = temos lim xn − yn = 0 e
n n
2 1 2n
lim f (xn ) − f (yn ) = lim ln( ) − ln( ) = lim ln( ) = ln(2) ̸= 0.
n n n
1 1
f (yn ) − f (xn ) = sen((n + )π) − sen(nπ) = sen((n + )π)
2 2
1
Propriedade 63. A função f : [0, ∞) → R com f (x) = x p é uniformemente contı́nua.
Demonstração. Sejam (xn ) e (yn ) duas sequências em [0, ∞) tais que lim xn − yn = 0
1
então lim |xn − yn | = 0 ⇒ lim |xn − yn | p = 0, agora usamos a desigualdade
1 1 1
|a p − b p | ≤ |a − b| p
tomando a = xn e b = yn tem-se
1 1 1
|xnp − ynp | ≤ |xn − yn | p
1 1 1 1
pelo teorema do sanduı́che tem-se lim |xnp − ynp | daı́ lim xnp − ynp = 0 o que implica f ser
uniformemente contı́nua pelo critério de sequências.
√
Exemplo 27. Em especial a função f : [a, ∞) com f (x) = x é uniformemente contı́nua,
pelo critério de sequências.
Sejam (xn ) e (yn ) duas sequências em [a, ∞) tais que lim xn − yn = 0 então lim |xn −
1
yn | = 0 ⇒ lim |xn − yn | 2 = 0, agora usamos a desigualdade
1 1 1
|a 2 − b 2 | ≤ |a − b| 2
tomando a = xn e b = yn tem-se
1 1 1
|xn2 − yn2 | ≤ |xn − yn | 2
1 1 1 1
pelo teorema do sanduı́che tem-se lim |xn2 − yn2 | daı́ lim xn2 − yn2 = 0 o que implica f ser
uniformemente contı́nua pelo critério de sequências.
Demonstração.
Demonstração. Dada uma sequência arbitrária (xn ) em A tal que lim xn = a, tal
sequência é sequência de Cauchy, logo f (xn ) também é de Cauchy, logo convergente, pela
arbitrariedade da sequência (xn ), segue que lim f (x) existe pelo critério do limite.
x→a
Demonstração. Suponha por absurdo A seja compacto e que f não seja uniforme-
1
mente contı́nua, então existe ε > 0 tal que ∀n ∈ N , existe xn , yn ∈ A com |xn − yn | <
n
e |f (xn ) − f (yn )| ≥ ε. Como A é compacto, existe uma subsequência (xnk )k de (xn ) tal
que lim xnk = a ∈ A pela desigualdade |xn − yn | segue também que lim ynk = a, como f
é contı́nua lim f (xnk ) = lim f (ynk ) = f (a) o que contradiz |f (xnk ) − f (ynk )| ≥ ε logo f é
k k
uniformemente contı́nua.
Demonstração. Dado ε arbitrário existe δ1 > 0 tal que |x−y| < δ1 ⇒ |f (x)−f (y)| <
ε ε
e δ1 > 0 tal que |x − y| < δ2 ⇒ |g(x) − g(y)| < tomando δ = min{δ1 , δ2 } segue que
2 2
ε ε
|g(x) − g(y)| < e |f (x) − f (y)| < , pela desigualdade triangular tem-se
2 2
ε ε
|g(x) + f (x) − g(y) − f (y)| ≤ |g(x) − g(y)| + |f (x) − f (y)| < +
2 2
logo f + g é uniformemente contı́nua.
Exemplo 28. f , g : R → R podem ser uniformemente contı́nuas, porém f.g ser não
uniformemente contı́nua. Como exemplo tomamos funções com lei f (x) = x = g(x) e
f (x).g(x) = x2 não é uniformemente contı́nua.
f (yn ).g(yn ) − f (xn ).g(xn ) = f (yn ).g(yn ) − f (xn ).g(yn ) + f (xn ).g(yn ) − f (xn ).g(xn ) =
pois (f (xn )) e (g(yn )) são limitadas, usamos também que f e g são uniformemente con-
vergentes e o critério de sequências. Portanto vale que lim f (yn ).g(yn ) − f (xn ).g(xn ) e daı́
f.g é uniformemente contı́nua.
Demonstração. Suponha por absurdo que A seja limitado e f seja ilimitada supe-
riormente então existe x ∈ A tal que f (x) > k para qualquer k natural, então podemos
construir uma sequência (f (xk )) tal que vale f (xk+1 ) > f (xk ) + 1, podemos tomar um
ponto x1 ∈ A tomando f (x1 ) e como f é ilimitada podemos escolher x2 ∈ A tal que
f (x2 ) > f (x1 ) + 1, assim definimos indutivamente a sequência (xn ), como (xn ) ∈ A é
uma sequência num conjunto limitado, então ela possui uma subsequência (xn )n∈L que
é convergente, com tal subsequência podemos definir naturalmente uma sequência (zn )
convergente em que vale a propriedade f (zk+1 ) > f (zk ) + 1, existindo lim zn = a ∈ R.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 42
Tomando a sequência (yn ) definida como yn = zn+1 , ela é uma subsequência de (zn ),
logo converge para o mesmo limite, temos então lim yn − zn = 0 e f (yn ) − f (zn ) > 1 logo
não vale lim f (zn ) − f (yn ) = 0 o que é deveria valer pois f é uniformemente contı́nua,
então chegamos num absurdo.
1
Corolário 20. A função f : (0, 1) → R, com f (x) = não é uniformemente contı́nua,
x
pois ela é definida num conjunto limitado, porém não é limitada.
f :M →N
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 43
Assim uma contração fraca é uma função Lipschitz para c = 1, logo é contı́nua.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 44
Exemplo 29. Seja a ∈ N a função f : M → N dada por f (x) = a é uma imersão fraca,
pois dN (f (x), f (y)) = dN (a, a) = 0 e vale sempre
0 ≤ d(x, y) ∀x, y ∈ M.
Exemplo 30. Toda imersão isométrica é uma contração fraca, pois vale dN (f (x), f (y)) =
d(x, y).
Demonstração. Dados dois elementos do produto cartesiano x = (xs )n1 e y = (ys )n1
a distância entre eles é dada por
para v ∈ In e por ser máximo vale ds (xs , ys ) ≤ dv (xv , yv ) para todo s ∈ In , em particular
vale também para s = k,dk (xk , yk ) ≤ dv (xv , yv ) . Na imagem da função projeção temos
pk (x) = xk e pk (y) = yk , daı́ dk (pk (x), pk (y)) = dk (xk , yk ) mas temos que dk (xk , yk ) ≤
dc (x, y) logo a função é uma contração fraca, logo contı́nua.
como a é ponto isolado existe δ > 0 tal que o único ponto x que satisfaz d(x, a) < δ é
x = a, mas em x = a vale f (x) = f (a) daı́ ⇒ d(f (x), f (a)) = 0 < ε para qualquer ε,
então f é contı́nua em a.
como f (x) ∈ N segue da propriedade anterior que d(g(f (x)), g(f (a)) < ε daı́
1.8 Homeomorfismo
Definição 19. Dizemos que a métrica d1 é mais fina que d2 quando existe uma constante
c > 0 tal que
d2 (x, y) ≤ cd1 (x, y)
d(x, y) < δ ⇒ d(f (x), f (y)) < δ1 ⇒ d(f (g(x)), f (g(y))) < ε
Demonstração. Para todos x, y ∈ M vale d(f (x), f (y)) ≤ cd(x, y) para algum c > 0.
ε
Para qualquer ε > 0 podemos tomar δ = , daı́ se d(x, y) < δ , cd(x, y) < cδ = ε, logo
c
d(f (x), f (y)) ≤ cd(x, y) < ε o que implica a função ser uniformemente continua.
∑
k−1 ∑
k−1 ∑
k−1
0≤ d(f (bs+1 ), f (bs ))+ ∆s d(f (y), bs ) = d(f (bs+1 ), f (bs ))+d(f (y), bk )−d(f (y), b1 )
s=1 s=1 s=1
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 48
∑
k−1
d(f (y), b1 ) ≤ d(f (bs+1 ), f (bs )) + d(f (y), bk )
s=1
∑
k−1
d(f (x), f (y)) ≤ d(f (x), f (b1 )) + d(f (bs+1 ), f (bs )) + d(f (y), bk )
s=1
como cada uma das parcelas acima está num intervalo de comprimento menor que delta,
tem-se
∑
k−1
d(f (x), f (y)) ≤ 1 + 1 + 1 = 1 + k − 1 + 1 = k + 1 ≤ n + 1.
s=1
Exemplo 31. f pode ser uniformemente convergente e não ser lipschitziana. Por exemplo
√
a função f : [0, ∞) → [0, ∞) dada por f (x) = x.
Propriedade 87. Sejam (Ek )n1 espaços vetoriais normados com n ≥ 2. Uma aplicação
∏
n
n-linear f : Ek → f é uniformemente contı́nua sse é identicamente nula.
k=1
Exemplo 33. Se duas métricas d1 e d2 provêm de normas em E, então elas são equiva-
lentes sse são uniformemente equivalentes.