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l1~lEARTIGOS

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E
MARKETING
COMO OBTER CLIENTES E MERCADOS

* Carlos Alberto Gonçalves


~ Cid Gonçalves Filho

"Marketing é tão básico que não pode ser con-


siderado uma junção separada. É o próprio negócio
observado do ponto de vista de seu resultado final,
isto é, do ponto de vista do cliente."
Peter Drucker

PALAVRAS-CHAVE:
marketing de relacionamento, database marketing, sistema de informação em marketing, clientes, vantagem competitiva,
tecnologia da informação, negócios, estratégia mercadológica, competição, mudança social.

KEYWORDS:
relationship marketing, database marketing, marketing information system, clients, competitive advantage, information technology, business,
marketing strategy, competition, social change.

* Professor do Centro de Pós-Graduação em Administração da UFMG.


'Cc Professor Titular da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis da FUMEC/MG.

Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 35, n. 4, p. 21-32 Jul./Ago. 1995 21


l1~lJARTIGOS

A Tecnologia da Informação passa a ser vista como


uma arma para obtenção de clientes e negócios
competitivos. Permite que o Marketing trate
novamente necessidades e desejos de forma
personalizada.

The Information Technologies can be seen as an


important resource to get clients and competitive
business. It makes possible Marketing actions to
treat needs and desires in a personalized way
again.

A
informação é hoje poderoso recur- tar com o paradigma da orientação a obje-
so das organizações, permitindo a tos, a inteligência artificial se desenvolve
estas perfeito alinhamento estraté- e o reconhecimento da fala já se está tor-
gico - mediante constantes fluxos bi- nando uma realidade. Alguns projetos de
direcionais entre a empresa e o macro- redes e TVs a cabo sinalizam a possibi-
ambiente -, e criando condições para que lidade de se terem disponíveis 500 canais
se viabilizem seus objetivos e se cumpra ativos por 24 horas. Em vista desse de-
sua missão corporativa. As empresas têm, senvolvimento tecnológico, deve-se anali-
no fluxo informacional, o elo que une e sar as palavras de Andy Cove, presidente
coordena seus componentes, o que propi- da Intel Corp.: "Você pode retardar a tecno-
cia a manutenção do equilíbrio e da in- logia, mas o custo de retardá-la é geralmente
tegração em um ambiente em crescente alto ".
mutação. A tecnologia da informação, que surgiu
Vários autores têm elaborado comentá- como ferramenta de redução de custos e
rios sobre a passagem da era industrial agilizadora do processamento de informa-
para a era da informação, situação na qual ção, tem sido cada vez mais aplicada em
as atividades informacionais, que têm no todos os ramos da atividade humana, de-
conhecimento sua maior riqueza, ultrapas- vido ao crescimento exponencial de seus
saram as industriais. Em junho de 1994, a recursos e habilidades. Diante desse cená-
revista Business Week1 publicou uma pes- rio, milhares de organizações passaram a
quisa constatando que o investimento pri- usar a tecnologia da informação não so-
vado em tecnologia da informação é hoje mente para automatizar processos repe-
o dobro daquele voltado para máquinas titivos, reduzir despesas e agilizar tarefas,
industriais. Em 1975a relação era inversa. mas principalmente para viabilizar e oti-
Conforme essa mesma pesquisa, a expor- mizar o relacionamento com clientes e com
tação de produtos de informática e soft- o macroambiente, obtendo vantagem com-
ware nos EUA é hoje mais representativa petitiva nos seus negócios. A Federal
do que a de veículos e peças, empregando Express permite ao cliente localizar on-line
1. VERIIY, John. lhe info revo- o volume despachado; a American Hos-
lution. Business Week, New
já mais pessoas.
York, p.36-41, June 1994. Segundo Synnotf', hoje a maioria das pital Supply instalou terminais junto aos
pessoas nos EUA está na área de serviços seus clientes, permitindo-lhes fazer pedi-
2. SYNNOn, Willian R. The in- altamente informacionais e baseadas em dos on-line que, além de serem mais eco-
formation weapon: winning
customers and markets with conhecimento. Em termos de hardware, a nômicos, são processados muito mais ra-
technology. New York: John velocidade de processamento sobe rapida- pidamente e com segurança',
Wiley & Sons, 1987. mente, o processamento paralelo é uma A importância dos processos informa-
3. Idem, ibidem. realidade, a optoeletrônica e a comunica- cionais pode ser sentida com a recente re-
ção sem fio agilizam as redes, e até o ano percussão dos conceitos de reengenharia
4. HAMMER, M., CHAMPY, J. de 1997cada micro pessoal terá mais de 1 de Hammer e Champy', que sugerem um
Reengenharia. Rio de Janeiro:
Campus, 1993. gigabyte de disco. O software passa a con- enfoque nos processos que criam valor

22 © 1995, Revista de Administração de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil.


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E MARKEll NG...

para o cliente e que cortam transversal- sil e EUA têm exigido deles conexão com
mente os departamentos das organizações. seus computadores, para pedidos, cobran-
Uma análise mais profunda dos sete prin- ça e contas a pagar. Essas organizações não
cípios da reengenharia, encontrados no querem trabalhar com instituições que
artigo pioneiro de Hammer", demonstra gerem atrasos, erros e não tenham capaci-
que cinco deles dizem respeito ao fluxo tação adequada. Tentam evitar, assim,
informacional e que todos se relacionam transtornos no seu processo produtivo.
com o papel capacitador da tecnologia da Além disso, determinam o tipo de tecno-
informação. Conforme Webster6, pode-se logia a ser utilizada, criando padrões que
verificar uma tendência de formação de impõem constante atualização das poten-
organizações em rede, resultantes de alian- cialidades tecnológicas do parceiro. Exem-
ças estratégicas e outros tipos de associa- plo deste fato é o padrão Edifact, da ONU
ções - divisões, subsidiárias, representan- (Organização das Nações Unidas), já ado-
tes - que atuam como uma confederação, tado por várias companhias.
uma coalizão frouxa e flexível guiada por Em novembro de 1994, Verity e Hof', na
um núcleo. O núcleo da organização em revista Business Week, completaram essa
forma de rede tem funções tais como de- visão, informando que a Internet, rede
senvolver e coordenar as alianças, mundial até agora utilizada somente para
direcionar recursos financeiros e tecnoló- fins científicos, irá mudar a forma das or-
gicos, definir e gerenciar a competência ganizações fazerem seus negócios via home
central do núcleo, desenvolver relaciona- shopping, publicidade, trocas de informa-
mentos com clientes e gerenciar recursos ções, divulgação de publicações etc. Em-
de informação que integram a rede. A cha- presas como AD Online Agency e Open
ve para esse tipo de organização é evitar Market, entre outras, demonstram servi-
fazer o máximo de coisas, especialmente ços disponíveis, com telas gráficas e ami-
aquelas que não fazemos bem e outras gáveis.
empresas podem fazer melhor, desenvol- Imagine se o seu concorrente permitir
vendo e concentrando-se na competência ao cliente, por meio de notebook conectado
e competitividade do núcleo. As organi- a um telefone celular, consultar preços,
zações em rede necessitam da tecnologia fazer pedidos, obter informações e saldo e
da informação para ligar seus componen- aplicar dinheiro. Por que o cliente irá pre-
tes e parceiros, de modo a gerar perfeita ferir outro serviço? Se você recebe em sua
integração, rápida comunicação e agilida- casa, uma semana antes do aniversário do
de na resposta. A IBM (International seu filho, oferta de brinquedos voltados
Business of Machine) é um exemplo de or- para ele - quanto a idade, sexo e prefe-
ganização que está reinvestindo em si rências -, será que você se dará o traba-
mesma sob o conceito de rede. Neste novo lho de ir até uma loja? Se você pode, via
enfoque a informação cria relacionamen- microcomputador, personalizar os produ-
tos a longo prazo com clientes, associações tos oferecidos, e dali mesmo transmitir o
e alianças estratégicas. pedido, por que irá telefonar a alguma loja
As redes digitais integradas e os satéli- para saber se ela tem o que você deseja?
tes distribuídos, em implantação nos EUA Este é o início de uma corrida pelo uso da
e Europa, levarão, através de fibras óticas tecnologia, da qual quem estiver fora aca-
e sinais analógicos de alta freqüência, flu- bará à margem do mercado. O grande de-
xos de informação até lares, empresas e safio do profissional de marketing e infor-
indústrias. Cada lar terá um equipamen- mação será planejar, construir, administrar
to - misto de televisão, computador, te- e avaliar sistemas de informação, funda- 5. HAMMER, Michael. Reengi-
neering work: don't auto mate,
lefone e fax - que permitirá comprar, ver, mentais para as organizações, em sintonia obliterate. Harvard Business
obter, comunicar, imprimir e armazenar com suas estratégias de negócio, visando Review, Boston, v. 68, n. 4,
todo tipo de informação que se desejar. A a atingir sua missão, objetivos e metas, em p.104-112, July/Aug. 1990.
Microsoft está preparando um servidor de um ambiente sob constante mutação. 6. WEBSlER, F. lhe changing
vídeo Tiger, um aparelho que, posiciona- role of marketing in the corpo-
do sobre o televisor, permitirá vídeo digi- PLANEJAMENTO INTEGRADO DE NEGÓCIOS ration. Journal of Marketing,
Chicago, v. 56, n. 57, p. 1-17,
tal e interativo. As empresas poderão man- E SISTEMAS E O MODELO DE PORTER Oct, 1992.
ter entre si comunicação tão eficiente, que
somente aquelas integradas conseguirão No passado, muitas empresas faziam 7. VERllY, J., HOF, R. D. lhe
Internet: how it will change the
sobreviver. planejamento estratégico de seus negó- way you do business. Business
Buscando uma atuação conjunta com cios e, depois, um PDI ( Plano Diretor de Week, New York, n. 3.383,
seus parceiros, várias organizações no Bra- Informática), que deveria reagir ao que foi p. 38-46, Nov. 1994.

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proposto pelo planejamento empresarial. vemos construir sistemas que reduzam
Hoje, somente o planejamento integrado custos, automatizem, controlem etc. Se a
de negócios e sistemas, realizado como um estratégia é suporte, devemos reduzir o
todo, pro ativamente, buscando oportuni- corpo de profissionais que mantém os sis-
dades e alternativas, tratando a informa- temas de apoio ao produto, apenas fazen-
ção como os outros recursos (capital, hu- do o essencial. Assim, gera-se o elo entre
manos e físicos), é sinérgico com as metas as estratégias genéricas de Porter e as es-
negociais da empresa. Nesse sentido, po- tratégias para sistemas de informação.
de-se analisar as estratégias genéricas de
Porter" para negócios, e integrá-las com as TÉCNICAS PARA INOVAR E USAR A
estratégias de sistemas de informação. TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DE FORMA
Para tanto, são necessários dois grupos de COMPETITIVA
conceitos introduzidos por Porter", Con-
forme esse autor, os segmentos de negó- Synnott" classifica os sistemas de infor-
cio podem ser classificados nas seguintes mação como Operativos (suporte à parte
categorias: operacional e de produção da empresa),
Gerencial (apoio a tomadas de decisão) e
• decadentes: sem lucros e declinando - Suporte a Clientes (SSC-Sistemas de Apoio
candidatos a serem extintos; a Clientes: apoio a operações com clien-
• colheita: baseia-se em técnicas ultrapas- tes). A inovação tecnológica normalmen-
sadas de cortar custos e/cu crescer pre- te está voltada para os SSc. Home bank é
ços até que os lucros desapareçam, de uma típica aplicação de SSC. Para que haja
onde a empresa tira seu lucro atual; inovação tecnológica, podemos imple-
• enfoque: focaliza um segmento do mer- mentar pesquisas de mercado e serviços
cado onde se pode competir com suces- de informação para inteligência competi-
so utilizando-se de vantagem de custo/ tiva e mesmo criar área de pesquisa e de-
produto; senvolvimento em tecnologia da informa-
• líderes: atuam em um bom mercado e ção, como o Office of Innovation, da
com possibilidade de crescimento. Kodak, ou Information Services Division,
do Citibank. Também pode-se inserir pes-
Segundo Porter", são estas as estraté- soal de tecnologia nas áreas de produto,
gias genéricas para se obter vantagem criando" empreendedores tecnológicos" e
competitiva: gerando uma aliança entre o pessoal de
sistemas e aqueles que lidam com clientes.
• liderança de custo: deve-se ter um pro-
duto de baixo custo, para que se possa DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS DE
obter um bom potencial de manuten- INFORMAÇÃO DE MARKETlNG
ção de preços baixos;
• diferenciação: deve-se criar um único São sistemas capazes de reunir, selecio-
produto ou serviço diferenciável no mer- nar, avaliar e distribuir as informações ne-
cado; cessárias e precisas, para que o profissio-
• enfoque: deve-se encontrar um nicho no nal de marketingpossa tomar decisões. Ini-
mercado no qual seja possível competir cialmente, identificam-se necessidades de
favoravelmente. Pode-se utilizar van- informação, de modo a gerar subsídios
tagem de custo ou diferenciação. para a construção dos Sistemas de Infor-
mação de Marketing (SIM). Usualmente es-
Assim, surge o modelo de competitivi- tes sistemas contemplam três áreas:
da de estratégica, proposto por Synnott",
que une as estratégias de negócio e tecno- • registros internos: dados e informações
8. PORTER, Michael. Vanta- logia, para cada tipo de segmento de negó- existentes dentro da organização. Podem
gemcompetitiva. Rio de Janei- cio e sua estratégia genérica. vir dos sistemas aplicativos já implanta-
ro: Campus, 1989.
Por exemplo, se a estratégia para o seg- dos e do pessoal interno, e podem con-
9. . Competitive mento/produto é a diferenciação, deve- templar dados de vendas, custos, lucros
strategy. New York: The Free mos buscar inovação tecnológica, agregan- e receitas, crescimento de segmentos,
Press, 1980.
do valor para o cliente, mediante informa- estoques, prazos de produção, entrega,
10. Idem, ibidem. ção, serviços e facilidades geradas pela revendedores, distribuição das vendas e
tecnologia de informação, sistemas para clientes atuais. A Sears, por exemplo,
11. SYNNOTT,Willian R. Op. cit.
controle e gestão de qualidade etc. Se a mantém cadastro com 40 milhões de
12. Idem, ibidem. estratégia de negócio é preço/custo, de- clientes e o utiliza para promoções. A

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TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E MARKETING ...

Mead Paper permite aos vendedores


conhecer o estoque em segundos. Fa-
zem, ambas as empresas, uso dos siste-
mas operativos existentes, dos sistemas
de informação gerencial e do EIS
(Executive Information Systems);
• pesquisas de mercado;
• inteligência de marketing: informações
sobre o macroambiente e o microam-
biente de marketing, incluindo clientes e
concorrentes, fruto de um monitora-
mento ambiental contínuo. Esse moni-
toramento pode usar, como fontes, en-
trevistas de seleção de empregados de
concorrentes, clientes de concorrentes,
material publicado e documentos públi-
cos, observação dos concorrentes, seus
produtos (desmontar, aprender), evidên-
cias físicas (caminhões que entram e
saem, lixo dos concorrentes). Além dis-
so, pode-se monitorar vendas e paten- nos grupos conhecidos corno" quatro Ps"
tes e comprar serviço de banco de da- (Praça, Promoção, Produto, Produtivida-
dos. Segundo Auster e Choo-', estas são de). Vamos analisar os benefícios do uso
.as principais fontes de informação nas da tecnologia da informação no marketing,
organizações: sob a ótica de cada um desses grupos de
variáveis. Os recursos citados atendem,
* fontes externas: clientes, competido- muitas vezes, a mais de um dos quatro Ps,
res, associações de classe, governo e mas estão sendo incluídos naquele mais
outras pessoas externas, jornais, pe- significativo. Os itens abaixo são mais sig-
riódicos, publicações do governo, bi- nificativos quando o produto não é a pró-
bliotecas externas, anais de conferên- pria informação, quando, no caso, a apli-
cias, relatórios de companhias de pes- cação da TI é simplesmente essencial.
quisa e serviços de informação eletrô-
nica; 12 P: Praça
* fontes internas: superiores, profis- Pode-se aplicar a tecnologia da informa-
sionais, subordinados, memorandos, ção ampliando o conceito de praça e dife-
circulares, relatórios, estudos, biblio- renciando o produto das seguintes ma-
teca e informações geradas pelos sis- neiras:
temas de informações gerenciais.
• compra por computador: permite que
Degent" mapeia os processos dos servi- se realizem vendas sem estoque, apenas
ços de inteligência empresarial e propõe o intermediando a transação entre o clien-
fluxo de informação apresentado na figu- te e o fornecedor. Pode ser realizada em
ra 1para a operacionalização deste serviço. casa, via microcomputador, o que repre-
O centro da questão é a pequena mar- senta uma tendência, com o advento da
gem de automação e estruturação da co- superinfovia, crescimento das redes de 13. AUSTER, E., CHOO, C. W.
leta, avaliação e divulgação. Os processos telecomunicações e redução de preço dos Environmental scanning: a con-
computadores. Exemplos: o Prodigy, sis- ceptual framework for studying
informacionais relativos às fontes externas lhe information seeking beha-
são pouco trabalhados, mesmo hoje, em tema da IBM e Sears, permite compras, vior of executives. In: 54th
plena era da reengenharia. reservas de passagens aéreas, hotéis ou Anual Meeting ot the American
veículos, competições,acesso a previsões Saciety af Infarmatian Scien-
ce. Medford: Learned Informa-
M/X DE MARKET/NG E A TECNOLOGIA DA do tempo etc. O Home Shopping, que tam- lion Inc. 1991.
INFORMAÇÃO bém pode ser feito através de terminais
instalados junto ao cliente, permite pro- 14. DEGENT, R. J. A importân-
cia estratégica do serviço de in-
Define-se Mix de Marketing como sen- cessar pedidos, cobrança, pagamentos a teligência empresarial. Revista
do um grupo de variáveis controláveis de fornecedores etc., tal como o faz a de Administração de Empre-
markeiing que a empresa utiliza para ob- American Hospital Supply ". Os quios- sas, São Paulo, v. 26, n.1, p.77-
84, jan./mar. 1984.
ter a resposta que deseja no mercado alvo. ques multimídia com touch screen (telas
As diversas variáveis podem ser reunidas sensíveis ao toque) também permitem 15. SYNNOn, Willian R. Op. cit.

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compra direta. i}Electronicstore faz ven- • notebooks (microcomputadores portá-
das com estes quiosques, com emissão teis): utilizados por vendedores, esses
de recibo e indicação do prazo de entre- equipamentos deixam-lhes mais tempo
ga. O Sam's Club, da K-Mart, também para vender, ao lhes permitir reduzir e
está usando esta tecnologia, segundo agilizar as tarefas administrativas". Na
Kotler e Armstrong". Na era da realida- Shell Chemical, os vendedores fazem
de virtual será possível andar pelos cor- controle de despesas e reembolso, arma-
redores das lojas apenas movendo o zenam sua base de clientes, conectam-
mo use, e, como se estando presente no se via correio eletrônico, acessam docu-
local, manipular, girar, ver de perto e mentos corporativos, fazem sua agenda,
comprar as mercadorias. Os conhecidos gráficos etc. A Frito-Lay permite que os
sistemas de reserva de passagem aérea, vendedores enviem à matriz, via modem,
utilizados por agências de viagens e relatórios de vendas diários. A Alleghe-
companhias aéreas, são realizados por ny Beverage agilizou pedidos e controle
via eletrônica. O EDI (Electronic Data do estoque;
Interchange), ou intercâmbio eletrônico • expert systems: são sistemas de compu-
de informações, que consiste de troca tador que simulam o conhecimento de
de arquivos eletrônicos entre organi- um especialista, e têm sido utilizados
zações, encontra-se em pleno crescimen- para apoiar os clientes na decisão de
to, aproximando fornecedores, clien- compras e especificação de produtos
tes, bancos etc. Algumas empresas só adequados. Por exemplo, esse sistema é
trabalham com bancos e fornecedores utilizado para as apólices de seguro da
que se utilizam do EDI, eliminando flu- Coopers & Lybrand; na GM o sistema
xo de papel e erros. As VANs (redes de EPIC permite aos vendedores consultar
valor agregado), que são empresas pos- microcomputadores com cores, preços,
suidoras de redes nacionais e interna- modelos etc.20;
cionais, alugam serviços para conexão • sistemas de vídeo por computador:
entre parceiros comerciais. Um conceito permitem aos clientes verem a si mes-
corrente entre algumas empresas diz: mos utilizando o produto antes da com-
"No EDI, No Business" (sem EDI não há pra. Por exemplo, na LS Ayers, pelo sis-
negócio); tema Magic Mirror uma pessoa pode se
• sistemas de distribuição: permite aos ver na coleção de roupas da loja antes
clientes consultas on-line. Por exemplo, de experimentá-las - isso já permitiu à
a Federal Express possui banco de da- LS Ayers obter 700% de aumento em
dos indicando !1 posição das mercado- vendas em uma semana. Outras aplica-
rias despachadas e o local onde se en- ções voltam-se para cirurgia plástica e
contram; os pacotes passam pelas leito- cortes de cabelo":
ras de código de barra várias vezes du- • códigos de barra, cartões magnéticos,
rante o trajeto, inclusive nos caminhões. impressores de cheques etc.: são siste-
Assim, mediante consultas on-line, os mas que permitem a agilização de check
clientes podem saber onde se encontram outs;
suas encomendas": • cartões de débito e smart cards: mais
• multiplicação dos pontos de venda: re- especificamente, smart cards, são cartões
fere-se às possibilidades de aumento de magnéticos inteligentes que contêm chip
pontos de venda, tal como o fez, por de memória interno e carregam, além de
exemplo, o banco de Boston, ao instalar informações diversas - reservas de ho-
caixas automáticos em supermercados; téis, tíquetes, passagens aéreas - dinhei-
• telemarketing-televenda: refere-se à di- ro eletronicamente gravado, que pode
16. KOTLER, P., ARMSTRONG,
G. Princípios de marketing. vulgação via correios, serviços telefôni- ser transferido na hora.
Englewod Gliffs: Prentice Hall, cos como os de prefixo 900, televisão e
1993. pedidos por catálogo. Um exemplo é o 39 P: Produto
17. SYNNOTT,Willian R. Op. cit. Citi$hopper, com um milhão de mem- Com relação ao produto, vários dos
bros que compram por telefone". itens citados em outros Ps sem dúvida o
18. Idem, ibidem. diferenciam e o ampliam, mas podem, ain-
29 P: Promoção/vendas da, ser citados:
19. KOTLER, P.,ARMSTRONG,
G. Op. cit.; SYNNOn, Willian, A promoção, o processo de venda, tem si-
R.Op.cit. do otimizada com as seguintes aplicações: • expansão do conceito do produto, com
serviços de atendimento ao cliente, onde
20. SYNNOTT,Op. cit.
• videocassete, teleconferência, videodis- o pessoal tem acesso a informações mais
21. Idem, ibidem. co, CD-ROMi solicitadas, garantia dos produtos, pon-

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tos de manutenção, problemas mais fre- pre o menor preço. Comprava-se do for-
qüentes, coleta de sugestões etc. Por necedor mais barato e mantinha-se, com
exemplo, no Bank of Boston, 87% dos outros vendedores, um relacionamento
problemas dos clientes são simples, pre- que visava a manter a pressão por preço
visíveis, e são respondidos na hora", baixo. Porém, a troca constante de forne-
Outro exemplo são as concessionárias de cedores tinha um custo: gerava produtos
veículos, que fazem acompanhamento que tinham elevado índice de rejeição, com
da revisão dos veículos; insuficiente inspeção da qualidade do ma-
• sistemas de monitoramento e controle terial recebido. Os estoques deveriam ser
da qualidade; bem controlados e administrados devido
• atuação sinérgica com a estratégia de ne- ao grande número de fornecedores com
gócio: baixar custo, diferenciar ou en- prazos de entrega, qualidade e negociação
focar. distintas. Empresas japonesas concorren-
tes estabeleceram associações comseusfor-
42 P: Produtividade necedores de modo a obter mercadorias de
Produtividade é uma palavra-chave qualidade conhecida, por um preço razoá-
para os líderes de custo. Aumento da pro- vel, permitindo-lhes melhorar a qualida-
dutividade e redução de custos estão as- de de seus produtos e reduzir estoques,
sociados ao aumento de produtividade: custos de compra e controles.
Observando-se, do ponto de vista teóri-
• operacional: envolve sistemas de auto- co, essas perspectivas, ver o marketing co-
mação, controle da produção, reenge- mo um processo de maximização de lucro
nharia e qualidade; focado em transações independentes no
• gerencial: é obtida com a construção de mercado não se encaixa
sistemas de informação gerencial, cen- nas relações de longo A implementação de estratégias
tros de informação, uso de microcompu- prazo com os clientes e voltadas para o mercado vai
tadores (PCs), EIS (Executive Informa- na formação de alianças requerer habilidades em projeto,
tion System - sistemas de informação estratégicas. O foco desenvolvimento, gerência e
para executivos e apoio a tomadas de de- muda de produtos e controle de alianças estratégicas
cisão), sistemas especializados e de trei- empresas para pes- com parceiros de todos os tipos,
namento; soas / organizações e o mantendo-os todos sempre
• de escritório: pode ser obtida por meio processo social que une focados no cliente em mutação
de micros (PCs), automação de serviços estes atores em um re- inserido em um mercado global.
de escritório, softwares para workgroups lacionamento. A pró-
- que viabilizam e facilitam o trabalho pria distinção entre a firma e seu ambien-
em grupo - e correio eletrônico; te de mercado torna-se nebulosa nas or-
• de informática: é obtida com o uso de ganizações em rede (consumidores / forne-
metodologias modernas, treinamento e cedores) construídas em termos de asso-
terceirização, linguagens mais podero- ciações onde os limites tradicionais da fir-
sas, geradores de aplicação e redução de ma tornam-se menos distintos.
custos de manutenção. O processo de compra não pode ser ava-
liado isoladamente, como se cada compra
Além desses, associa-se também o au- independesse das demais. Apartir de uma
mento de produtividade no cliente: facili- compra, evoluiu-se para compras repeti-
tam-se as suas operações mediante a au- tivas, relacionamentos de longo prazo e
tomatização de processos empresa-cliente. associações com dependência em uma cer-
ta área de atividade, onde a confiança
MARKETING DE RELACIONAMENTO substituiu a postura de adversários. Pre-
ços estão sujeitos a negociações segundo
Henry Ford já preconizava que a ven- parâmetros de mercado, mas não são de-
da de um veículo é só o início de um lon- finidos por este. Compras repetitivas re-
go relacionamento com o cliente. Como se duzem custos de publicidade. O fato de
sabe, obter um novo cliente custa mais caro um vendedor pensar na possibilidade de
do que manter os já existentes. E clientes novas vendas para o comprador pode fa-
satisfeitos trazem outros. Este conceito se vorecer a negociação. Fica mais fácil, para
choca com a maneira pela qual algumas o comprador, quando este sabe onde en-
empresas americanas lidavam com seus contrar o que deseja por um custo razoá-
fornecedores, com os quais buscavam sem- vel. A criação desses relacionamentos ven- 22. Idem, ibidem.

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dedor-comprador fazem a venda ficar do Peppers e Rogers", há vinte anos um
mais eficiente. artigo de marketing perguntava: Grace
A implementação de estratégias volta- Slick (vocalista da banda Jefferson Air-
das para o mercado vai requerer habilida- plane/Star-ship) e Tricia Nixon, a burgue-
des em projeto, desenvolvimento, gerên- sa filha de Richard Nixon, são a mesma
cia e controle de alianças estratégicas com pessoa? O que tornou esta pergunta es-
parceiros de todos os tipos, mantendo-os, pantosa na década de 70 foi o fato de que
todos, sempre facadas no cliente em mu- ela corroía a validade dos tradicionais ins-
tação inserido no mercado global. O nú- trumentos demográficos para segmentar
cleo da organização será definido pelos consumidores em grupos distintos. Carac-
mercados a que se destina e pela sua base terísticas demográficas tais como idade,
de conhecimento, competência técnica, e sexo e renda não são o bastante para
não por suas fábricas e prédios. O foco no diferenciar ou agrupar clientes. E neces-
consumidor e o posicionamento assistidos sário conhecer realmente os clientes, suas
pela tecnologia da informação serão os atitudes, valores, crenças e estilo de vida.
limites flexíveis que mante- Nash" revela que o database marketing e
rão a organização coesa. o marketing individual completam o círculo
Conforme Regis de evolução do markeiing. As vendas co-
McKenna23, o novo meçaram com a comunicação" de um para
marketing será basea- um", atrás de um balcão ou na porta da
do no conhecimento casa, um processo em que o relacionamen-
e na experiência, a to entre vendedor e cliente permitia, ao
empresa dominará primeiro, fornecer a honestidade da mar-
uma escala de conhe- ca, a confiança e segurança que o outro ne-
cimento - da tecno- cessitava para utilizar um novo produto.
logia, dos concorren- Com o marketing de massa, esse tipo de re-
tes, dos clientes, da or- lacionamento deteriorou-se em vários
ganização, do ambien- campos. O nome da marca tornou-se a fon-
te competitivo -, colo- te de confiança e autoridade. Podia-se
cando em prática as seguintes atitudes: in- contar com a Sony para televisões ou
tegrar o cliente ao processo de desenvol- Brastemp para geladeiras. Mesmo assim,
vimento e trabalhar a infra-estrutura de no entanto, essas excelentes companhias
fornecedores, sócios e usuários que ajuda- não conseguiram compensar a perda do
rão a manter a reputação da empresa. Em relacionamento aconselhador de um para
/I

um mercado de mudanças rápidas, a credi- um" ou dos serviços contínuos das ven-
bilidade torna-se o valor de sustentação da das nos velhos tempos, que fazia com que
empresa. As relações são a chave, a base o vendedor / dono do estabelecimento co-
da escolha do cliente. O que é uma marca nhecesse o comprador e, a partir desse
bem-sucedida senão uma relação especial? fato, perguntasse da família, guardando" o
Para melhor se relacionar com seus clien- que você mais gosta para quando você
tes, as organizações devem posicionar seus voltar" etc. Essa comunicação exige, assim,
produtos e a si mesma, criando uma per- conhecimento dos clientes como indiví-
sonalidade própria. duos, considerando cada um com suas ne-
cessidades, preferências, interesses e per-
SATURAÇÃO DO MARKETlNG DE MASSA E sonalidade exclusiva. A televisão de mas-
SEGMENTAÇÃO sa não tem este conhecimento, as revistas
também não o tem.
O mercado é segmentado agrupando- Mckeena" afirma que a propaganda
se os compradores por itens comuns, tais está atingindo a obsolescência. No antigo
23. McKENNA, Reuis. Marke- como desejos, localizações, atitudes de modelo de marketingvendiam-se bens pro-
ting de relacionamento. Rio de compra etc. A organização passa a centrar duzidos em massa, para um mercado de
Janeiro: Campus, 1993. massa, 'através de comunicação de massa.
seus esforços nos mercados em que ela
24. PEPPERS, D., ROGERS, M. pode atender melhor e obter resultados A tarefa do marketing era usar a publici-
Marketing um a um. Rio de Ja- mais expressivos. Porém, esta visão do dade de modo a transmitir uma mensagem
neiro: Campus, 1994. unilateral: "Compre isto!". Esta mensagem
markeiing de massa, pela qual, por ques-
25. NASH, E. Database Marke- tões técnicas e gerenciais os clientes são não funciona mais. Em 1989 os anúncios
ting. São Paulo: Makron Books, tratadqs em grupos, como se fossem em jornais aumentaram 4%, comparados
1994. aos 6% de 1988e 9% de 1987.Segundo um
iguais, pode produzir distorções no mes-
26. McKENNA, Regis. Op. cít. mo nível em que traria benefícios. Segun- estudo de [ohn Philip [ones, da Syracuse

28 RAE • v. 35 • n.4 • Jul./Ago. 1995


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E MARKETlNG ...

University, os gastos com propaganda clientes - um cliente de cada vez. Os lu-


estacionaram em 1,5%do PIB (Produto In- cros focarão menos o curto prazo mas
terno Bruto), em 1984.O excesso de publi- aqueles provenientes da relação duradou-
cidade começou a ricochetear em si pró- ra com o cliente.
pria. Nos Estados Unidos, os consumido- A mídia individualizada permite trans-
res são bombardeados por três mil men- mitir uma mensagem única a um indiví-
sagens de marketing por dia. Porém, um duo específico. É bilateral, permite men-
grande número de vozes produz impacto sagens do cliente para a empresa, e é eco-
menor. Os consumidores não conseguem nômica. Uma parte da mídia individuali-
lembrar que comercial apresenta determi- zada já existe, o restante está chegando:
nado produto, nem tampouco as qualida- 50%das residências nos EUApossuem fax,
des que diferenciam um produto do ou- a TV interativa está a caminho e há uma
tro, gerando confusão. Os anúncios torna- proliferação crescente de PCs, telefones
ram-se irritantes e é comum o consumi- celulares, notepads etc.
dor, com seu controle remoto, mudar de O profissional de marketing de massa
canal ou mesmo reduzir o volume da tele- tenta vender um produto ao maior núme-
visão. Quanto aos jornais, muitas vezes, ro de consumidores possível. O profissio-
na leitura, as páginas são puladas ou os nal de marketing individualizado busca
anúncios nem notados. vender a um único cliente o maior núme-
Peppers e Rogers" analisam o marketing ro - e diferentes linhas - de produtos
de massa, comparando-o com o marketing possível, durante um longo período de
individualizado. Citam o exemplo da Kel- tempo. Não estamos lidando somente com
logg, na qual as compras de cereais são a qualidade do produto, mas principal-
vistas como uma torta com milhões de mente com a qualidade do relacionamen-
transações independentes. A questão é to. Em vez de medir o sucesso pelo núme-
aumentar o número de transações de com- ro de transações realizadas no período
pra, com relação à concorrência. Mas po- neste mercado, o sucesso será medido pela
de-se olhar essa torta de forma completa- perspectiva de valor futuro que o cliente
mente diferente. Esses milhões de transa- atribuir à empresa. A verdadeira medida
ções, na verdade, não são independentes. do sucesso da empresa não será a fatia de
Cada .uma é parte de pequenas compras mercado, mas a fatia de clientes. Voltar-se
matinais feitas pelo mesmo consumidor. para esta fatia significa assegurar-se de
Os consumidores lembram-se da última que cada cliente individual que compra o
vez que compraram o produto, se foi bom seu produto comprará mais, somente da
ou não. Mas o consumidor individual não sua marca, em vez de utilizar-se de outra
representa nem um pontinho na tela do solução. A exigência fundamental da fatia
computador das organizações. Estas não de clientes é conhecer cada um deles, sa-
conhecem o cliente individual. Por isso um ber quem jamais comprará o seu produto
cheque desse cliente é devolvido ao ban- para parar de gastar dinheiro e quem tem
co mesmo após anos de movimentação. real potencial de compra. Este pode, inclu-
Também é por esta razão que toda semana sive, transformar-se em defensor do seu
o seu supermercado pede a carteira de produto, além de leal consumidor.
identidade para aceitar o seu cheque. Essas A tecnologia da informação permite-nos
empresas fazem marketing tentando sem- usar o computador como memória adicio-
pre obter novos clientes, mas não têm nal, que viabiliaza conhecer cada cliente,
grande preocupação em reter os que já um a um, como no passado o médico local
possui. conhecia seus pacientes. O marketing indi-
vidualizado destaca-se, comparativamen-
o FUTURO INDIVIDUALIZADO E te, do marketing de massa da seguinte ma-
"MARKETING UM A UM" neira:

Peppers e Rogers" afirmam que o anti- • o marketing de massa exige que os ge-
go paradigma da produção, mídia e mar- rentes de produto vendam um produto
keting de massa estão sendo substituídos de cada vez para o maior número de
por um outro, inteiramente novo, um sis- clientes, mas o marketing individualiza-
tema econômico individualizado. O futu- do exige que os gerentes de clientes ven-
ro será caracterizado por uma produção dam a maior quantidade de produtos
para um cliente de cada vez; 27. PEPPERS, D., ROGERS, M.
personalizada, uma mídia individualiza- Op. cit.
da, mudando as regras da concorrência: • o profissional do marketing de massa bus-
em vez da fatia de mercado, a fatia de ca diferenciar seus produtos, mas o pro- 28. Idem, ibidem.

RAE • v. 35 • n. 4 • Jul./Ago. 1995 29


11~lEARTIGOS
fissional do marketing individualizado relação a um chip de memória -, ao per-
procura diferenciar seus clientes; guntar a um engenheiro porque selecio-
• o profissional do marketing de massa pro- nara o chip da Intel, esperou explicação em
cura obter um fluxo constante de clien- jargão técnico nesse sentido: "porque ele tem
tes novos, mas o profissional do marke- tempo de acesso de tantos 'nano' segundos"
ting individualizado busca obter novos ou "sua dissipação de força é 'assim e assa-
negócios com os clientes que já possui; do'". Porém, a resposta foi de que quase
• um profissional de marketing de massa todos os chips que usava eram da Intel,
concentra-se nas economias de escala, sendo natural, assim, que o novo chip tam-
mas o profissional do marketing indivi- bém o fosse. O engenheiro completou:
dualizado o faz na economia de escopo, "simplesmente compramos da Intel porque te-
ou seja de poder economizar seus es- mos uma relação comercial com ela e confia-
forços ao concentrar-se e otimizar o mar- mos na empresa" .
keting dos clientes um a um. No marketing individualizado, o antigo
organograma da área de marketing deve ser
A curto prazo não é muito difícil se com- modificado. No lugar de gerências de pro-
prar uma fatia de mercado. A menos que duto, temos gerências de clientes, onde ca-
o produto seja inovador, ou seja, possui da gerente é responsável por um conjun-
baixa concorrência ou demanda muito to de clientes. Os gerentes de clientes po-
grande, pode-se aumentar a fatia de mer- dem ser chamados de gerentes de relacio-
cado com descontos, abatimentos, cupons namento. A Ciba-Geigy e a USAir são
etc. Como o jogo do abatimento é acessí- clientes da IBM. Cada um destes clientes
vel a todo mundo, todos estão jogando é de responsabilidade de um gerente es-
com as mesmas regras, e é raro o desconto pecífico. É função desta pessoa conhecer,
oferecido por uma empresa não ser igua- da melhor forma possível, os negócios des-
lado pelos concorrentes. Assim, os aumen- sas empresas-cliente, de modo a assegu-
tos de fatia de mercado são comprados e pa- rar a participação da IBM na maior parte
gos com margens de lucro cada vez me- possível dos seus negócios de informática.
nores.
O relacionamento da empresa com seus SISTEMAS DE INFORMAÇÃO PARA
clientes e o seu posicionamento sob o pon- GERÊNCIA DO RELACIONAMENTO COM
to de vista destes clientes são elementos CLIENTES
intangíveis de marketing que podem in-
fluenciar mais os negócios que o preço ou Sistemas de Informação para Gerência
o produto. Mclcenna", quando realizava do Relacionamento com Clientes são siste-
29. McKENNA, Regis. Op. cit. um estudo de mercado para a Intel- com mas planejados, construídos e administra-

EXEMPLOS PIONEIROS DE OATABASE MARKETING


A American Express está usando compu com massivo envia 400 milhões de malas por ano. Um mês antes do aniversário do clien-
processamento paralelo, e baseandosuas pro s dados das tran- te, envia-lhe ofertass. A R. R. Donneley tem 8 mil versões do Farm Jouma/.
sações de seus membros. A Philip Morris ma promoção do para tipos diferentes de propriedade. culturas e dados demográficos4•
cigarro Marlboro, distribuindo 30 milhões de brindes afumantes, além de São aplicações dos sistemas de informação de clientes:
construir um banco de dados com 26 milhões de nomes. No lançamento
de uma nova marca de cigarros, ofereceu dois ma . ros • aumento da venda;
um que preenchesse um questionário. Obteve o cadastro d mil de • reconquista de clientes;
r~:~~i~;n~g~~u:~~er;::!~.ãO, da concorrência; obteve ainda retorno do • estímulo à freqüência de compras;
• aumento da produtividade de vendas;
No Brasil, em 1987, o Centro Aupitivo Telex detinha. em relação à • aproximação do cliente;
Siemens, 50% a mais do mercado de aparelhos auditivos. O Centro Audi- • maximização do relacionamento;
tivo Telexfazia publicidade em televisão, mas 98% do públiCOnão estava • bloqueio da concorrência;
interessado em seus produtos. A Siemens começou a enviar publicidade • apoio à estratégia (4 Ps);
e atuar somente sobre o público-alvo. Hoje, o Centro Auditivo Telex pos- • produção de propaganda alinhada com as necessidades do
sui só 20% do mercado. cliente;
A Nestlé, por meio de seu serviço de atendimento ao consumidor, acom- • identificação do Core Group (grupo central de interesse);
panha e cadastra crianças. A Brastemp criou seu clube de consumidores. • realização de pesquisas (considerando o database como um "'oeus
A Kibon cadastra o hobby de seus consumidores, visando ao patroclnio group" gigante) e testes de mercado;
de esportes2• • cruzamento com cadastros de terceiros não-concorrentes;
A SE americana mantém dados geográficos. demográficos e • upgrade vertical (assinatura por perlodo maior) e horizontal (outras
psicográficos dos clientes, com seu histórico de compras. Sabem o que e assinaturas e produtos);
quando o cliente comprou. Após a vida útil do aparelho enviam ao cliente • diferenciação da oferta de produtos e preços, por segmento;
publicidade sobre os novos produtos. A empresa Fingerhut, através de ma- • criação de jornais e prospectos, apoio a agentes, criação de clubes e car-
Ia direta e brindes, tem cadastro de 20 milhões de clientes, para os quais tões "for members on/y", demarketíng e retenção dos clientes atuais.

30 RAE • v. 35 • n. 4 • Jul./Ago. 1995


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E MARKETING ...

dos de modo a maximizar a sintonia e o conto, o consumidor deve apresentar o car-


relacionamento entre a organização e seus tão, que é lido em uma leitora no caixa.
clientes, permitindo a recepção e manu- Ao mesmo tempo que o cliente economi-
tenção de informações sobre esses clien- za alguns dólares, o histórico da compra é
tes atuais ou potenciais, seu comportamen- armazenado nos computadores da compa-
to, desejos e necessidades, além de forne- nhia. Mantendo estas informações, a A&P
cer subsídios para a gerência estratégica tem condições de estabelecer relaciona-
de marketing da empresa e otimizar os re- mentos de longo prazo com seus clientes
sultados obtidos no mercado. e obter vantagem competitiva sobre as ca-
Esses sistemas permitem maximizar o deias regionais de supermercados. A em-
relacionamento com os clientes, ao criar, presa centralizou suas compras e reduziu
na organização, uma memória - por meio custos, mas faz ofertas dos produtos regio-
do computador - que permite, em larga nalmente para o mercado local, oferecen-
escala, conhecer cada cliente ou possível do aos consumidores os produtos de sua
cliente mais detalhadamente do que o preferência. O cartão permite, aos clientes
dono de uma pequena mercearia conhece leais e mais freqüentes, descontos espe-
seus fregueses, direcionando as ofertas, ciais, assim como também pode oferecer
moldando os produtos e criando uma via Coca-Cola aos bebedores de Pepsi e vice-
de mão dupla de informação entre a em- versa. Pode oferecer aos fumantes assí-
presa e o mercado. A tecnologia fará com duos uma nova marca ou mesmo ofertas
que o marketing seja feito um a um", como
U para experimentaroutro tipo de cigarro,atin-
no passado, porém com grande número gindo em 100% os clientes-alvo (como os
de clientes. Somente as organizações de- clientes são acionados um a um, clientes-
tentoras dos sistemas de gerência de alvo soa melhor que mercado-alvo).
clientes poderão manter relacionamentos A tecnologia da informação torna-se
ótimos com grande número de clientes, e capacitadora de uma reengenharia no
fazer um markeiing onde a oferta terá en- marketing de massa, mudando o paradig-
dereço certo e o cliente terá resposta e ma tradicional e permitindo que o mar-
acompanhamento individual, como se fos- keting individualizado se torne realidade.
se único. Os sistemas de informação para a gerên-
Besserr" apresenta o exemplo da rede cia de relacionamento com clientes são o
de supermercadosA&P, que incentiva seus suporte da gerência de clientes da organi-
clientes a obterem o cartão magnético zação. Esses sistemas são compostos de 30. BESSEN, Jim. Riding the
Bonus Saver, que, além de facilitar o check bancos de dados (database) e de programas marketing information wave.
Harvard Business Review,
out, dá acesso a descontos em mercadorias de computador (sistemas aplicativos) Boston, v.71, n. 5, p.150-160,
marcadas a cada semana. Para obter o des- construídos de modo a otimizar o relacio- Sep./Oct. 1993.

Outros exemplos de uso de Sistemas de Informações de clientes apoia- O que é possivel fazer com esses bancos de dados? Os usos são ilimi-
dos em data bases 5: tados, para conquista, programas de lealdade, lançamento de novas mar-
casetc.
• United Artists TIIeaters (objetivo: lealdade do cliente). Cada vez que o
cliente comprava um bilhete, o programa registrava, através de cartões Na revista Harvard8usiness Review, de setembro de 19946, uma charge
magnéticos, o tipo de filme, dia da semana e período de exibição. São mostra um consumidor incauto que, tomando banho e escovando os den-
oferecidos incentivos gratuitos como pipoca e refrigerantes ou escolha tes não percebe que está sendo observado por homens de marketing por
de poltronas. O sistema envia promoções sobre determinado tipo de todos os lados. É citado também o caso de Lisa Tomaino, casada com um
filme para quem se interessaria pelo mesmo, além de outras, para pe- pOlicial,que manteve secreto o seu endereço, para evitar malas diretas
ríodos fora de pico (válido para linhas aéreas e hotelaria); publicidade. No último ano ela teve um filho. Foi muito para seu grande
• Brlstol-Myers Squibb (NUPRIN) (objetivo: experimentação). A Nuprin segredo. Seis semanas mais tarde ela estava inundada de mala direta
Challenge preparou programa com um livro de informações sobre doen- para novas mães. O hospital vendera seu nome e endereço para uma
ças, amostras de produtos, um bilhete de sorteio (US$ 20,000.00), um empresa de marketing direto.
cupom de venda rastreando-a e um cupom de pesquisa. As ofertas fo-
ram feitas em jornais, revistas, TV, "disque 800" e mala direta. Foram
obtidas 500 mil respostas. Dos que responderam ao "disque 800", 80% 1. BESSEN,Jim. Op. cit.
eram clientes do Tylenol, o maior concorrente; 2. MENDONCA, Cláudio. A eficiência do Database. Marketing e Negócios,
• Budwelser (objetivo: construção de banco de dados). A campanha, Rio de Janeiro, aoo 11,n. 17, p.27-28, fev. 1994.
estruturada em anúncios de uma página, em várias revistas, oferecia 3. KOTLER, p., ARMSTRONG, G. Op. cít,
sorteios de jeeps Cherokees dourados, 500 bikes Trek e 250 mil brin-
des, além de um prêmio de 1 milhão em ouro, para ser atribuído com 4. BESSEN,Jim. Op. cit.
base num desenho. Em troca, bastava preencher um questionário com 5. NASH, E. Op. cit.
nome, telefone, data de nascimento, o nome da cerveja preferida e a
.1i.B~SSEN, Jim.Op. cit.
freqüência com que a bebia.

RAE • v. 35 • n. 4 • Jul./Ago. 1995 31


l1~lEARTIGOS
te, preenchendo cartões de garantia, par-
ticipando de concursos, preenchendo
cadastros. Os dados dão entrada no com-
putador e são combinados com bases pú-
blicas;
• digerindo dados: usando sofisticadas
técnicas estatísticas, o computador agre-
ga e classifica os dados, gerando um
banco de dados consolidado;
• encontrando o consumidor ideal: o
computador encontra os consumidores
ideais para um dado produto baseando-
se nos dados daqueles que já compram
muito o produto. Os consumidores são
também classificados por características
tais como interesses, renda etc.;
namento com clientes. Através de moni- • usando o conhecimento: os dados po-
toramento ambiental e de coleta de infor- dem ser usados com vários fins, tais co-
mações internas e externas, os dados são mo determinar promoções, desenvolver
validados e armazenados em um banco de novos produtos e assegurar que os consu-
dados (database), que é a memória de nos- midores apropriados os conheçam, man-
so sistema. Apartir das informações arma- dar mensagens para a audiência certa;
zenadas, é gerido o processo de adminis- • compartilhando dados com revende-
tração e gerência de marketing, incluindo dores: scanners em caixas registradoras
a geração de oportunidades, estratégias, informam quem comprou e onde. Asso-
planejamento, implantação, operação e ciados com os dados do fabricante, per-
controle das atividades de marketing. A mitem planejar publicidade local, alo-
estrutura desse sistema pode ser visua- cação de prateleiras e layouts de lojas;
lizada na figura 2. • redefinindo o database: o database é
Sistemas de Gerência de Clientes são constantemente atualizado com respos-
um subconjunto do que definimos como tas a cupons, clubes de produtos, "tele-
DatabaseMarketing. Database Marketing re- fone 800", concursos,listasde terceirosetc.
fere-se à utilização de bases de dados (in-
formações armazenadas em mídia eletrô-
CONCLUSÕES
nica) e de sistemas de informação, para
otimizar os resultados de marketing. Essas
Com a redução dos custos dos equipa-
informações ou sistemas, como o próprio
mentos processadores de informação
nome o diz, referem-se ao marketing como
(computadores, fax, TV interativa, telefo-
um todo e a todos os públicos envolvidos
ne, telefone celular, bips e notepads), expan-
no macroambiente da organização, entre
são das redes e mídia informacional (fibra
os quais, fornecedores, concorrentes, go-
ótica e rede mundial de satélites), desen-
verno etc. Na prática, porém, quando se
volvimento do software e hardware, as pos-
fala em database markeiing, a literatura ge-
sibilidades de se aplicar a tecnologia da
ralmente define-o como guardar e tratar
1/

informação no marketing aumentarão a


informações sobre clientes, geralmente visan-
cada dia, a cada minuto. Ganharão os ino-
do à promoção", ficando o conceito de da-
vadores aqueles que saírem na frente, ob-
tabase marketing igualado aos dos siste-
tendo vantagem competitiva ao melhorar
mas de gerência de clientes.
A revista Business Week, em sua edição o relacionamento com os clientes, tornar-
de setembro de 199431, traz Database Marke- se-ão um alvo móvel mais difícil de ser se-
ting como matéría de capa. Conforme o guido pela concorrência. Ganharão os
quadro preparado pela Coopers & Ly- clientes que, de posse de recursos cada vez
brand Consulting, apresentado naquela mais fáceis para escolher e obter o que de-
matéría, o ciclo do database marketing é o sejarem, poderão ter as suas necessidades
seguinte: sempre mais satisfeitas. O
31. LEWYN, M.,VERITY, J.
Database Marketing. Business . coletando dados: o cliente fornece infor-
Week, New York, n. 3.372, ~ 0950403
p.34-40, Sep. 1994.
mações sobre si mesmo voluntariamen-

32 Artigo recebido pela Redação da RAE em agosto/1994, avaliado em setembro/1994 e fevereiro/1995 e aprovado para publicação em abril/1995.

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