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Elda Ivo Viana, 40 anos de reinado!

Dona Elda, Mãe Elda, Elda d’Oxóssi, rainha Elda, sacerdotiza Elda Viana, Elda de Porto
Rico, ialorixá Elda Viana, Elda da Macaia do Oxossi, títulos que escondem e desvelam
uma mulher guerreira de 81 anos, 40 deles como rainha de uma grande nação de baque
virado: Elda Ivo Viana, rainha da Nação do Maracatu Porto Rico.

Nome - Elda Ivo Viana.


• RG - 1175675 SDS/PE CPF 101.739.194-72
• Data e local do nascimento
• Residência - Rua Eurico Virtuvio, 483, Pina, Recife/PE, CEP: 51011-140
• Presidente da empresa Nação Maracatu Porto Rico, CNPJ no 10.052.454/0001-60
• Yalorixá do Ylê Oxossi Guongobira,
• Rainha e Presidente da Nação do Maracatu Porto Rico

Na entrevista concedida por Elda Ivo Viana para Carmen


Lélis ela declara que nasceu em 02 de março de 1939, em
Recife, filha de Luiz Ivo Viana e Eucidália Ivo Viana, ambos
devotos da Assembléia de Deus.

Casou muito cedo e com o marido foi morar no Rio de


Janeiro onde conheceu a umbanda e teve 3 de seus filhos:
Edileuza, Baiano [já falecido] e Jailton.
Em 1955, portanto com 16 anos, já morava no Rio de Janeiro e foi mãe de Edileuza Lira da Silva – mais
conhecida como Mãe Leu da Oxum ou Dona Leu:
Nasceu em 25 de Setembro de 1955 na cidade do Rio de Janeiro, no Estado do Rio de Janeiro.
Atualmente Mãe Leu é também a princesa da Nação, herdeira do trono e Yakekerê (Mãe Pequena)
do Ylê. Sua neta Leoranya, filha de Claudinha, é batuqueira da nação e já foi Rainha da Corte do
Baque mirim.

No final da década de 60 a família voltou para o Recife e foi morar no bairro de Mangabeira, zona norte e
depois mudou para a comunidade do Bode, bairro do Pina.
Em 1969 com 30 anos foi mãe de Jailson Viana Chacon, Mestre Chacon:
Nascido em 06 de Fevereiro de 1969 em Recife – PE. Desde a adolescência já mestreava a Nação
do Maracatu Porto Rico em apresentações folclóricas como vice diretor de bateria pois na época
não existia o termo Mestre e sim Diretor e Vice Diretor de bateria, a partir do ano 2000 é o Mestre
do Maracatu. É Babalorixá  e atualmente junto com sua irmã Edileuza de Oxum cuida da parte
espiritual da Macaia de Oxóssi. Todos os seus filhos - Jeisse, Jhayana, Jhadyel - foram/são
batuqueiros e a pequena Jhadyanna, nascida em 2018, com certeza estará na nação.

"Em Recife foi feita ainda na década de 1970, na nação nagô e mais tarde na década de 1980, na
nação jeje pelo renomado Babalorixá Raminho de Oxóssi, sendo que hoje ela afirma que seu terreiro
é traçado jeje-nagô." (ABZ Koslinski)

Dona Elda conta que o maracatu não a interessava, frequentava a casa de Eudes Chagas por causa da religião
para se aprofundar no nagô. Seu filho, Jailson Chacon Viana conta que conheceu o maracatu em 1976,
quando tinha sete anos.

Minha mãe, Dona Elda, me levava junto na casa de seu avô de santo Eudes, que estava lhe ensinando
o conhecimento do Ifá (Jogo de Búzios). Era depois da escola, nos finais de tarde. Eudes falava sobre
o maracatu e eu já criança, ouvia atento. Minha mãe começou a sair de baiana e eu de índio. Os
irmãos de lanceiro e outros personagens, todos envolvidos desde cedo.

Elda foi uma rainha inovadora, e revolucionária conseguindo inúmeras vitória e legitimidade dentro da
tradição do maracatu. Aos 41 anos estava morando no Pina e com seu terreiro instalado, com muitas filhas,
muitas moças bonitas, sempre com muita gente em torno dela como contou Armando Arruda a Ivaldo Lima e
a partir de uma iniciativa de alguns folcloristas amigos de Eudes Chagas, o Porto Rico do Oriente sai do
museu e dona Elda, que que iria participar como princesa, foi escolhida rainha.

O maracatu que ela herdou não passava de alguns tambores, 12 a 14, caixa e gonguê, uma corte pequena, um
estandarte antigo. Eudes Chagas não tinha conseguido manter o maracatu para fazer frente ao Indiano e
Elefante. Mestre Jaime foi contratado como diretor de apito e aparecia aos domingos de tarde para os ensaios
sem entrar em outros aspectos da nação. Dona Elda foi a única responsável pelas decisões que levaram Porto
Rico a ser a nação vitoriosa das duas últimas décadas do século passado. Recebeu uma ajuda inicial de
alguns folcloristas para fazer sua coroação e colocar o maracatu na rua, mas não se deixou prender por eles.

"Afasta-se de Armando Arruda e todos os que tentam


imobilizar seu maracatu na “camisa de força da
tradição”, convida Raminho de Oxóssi para ser seu rei, e
com isso ganha apoios diversos, a exemplo dos
organizadores da Noite dos Tambores Silenciosos. Elda
Viana demonstrou uma incrível capacidade para jogar
com a tradição (coroação) e com a implantação de
grandes mudanças nos figurinos, aproximando-os do
luxo e glamour das escolas de samba. A introdução de
grupos de dança com coreografias durante o desfile,
fazendo composições com outras agremiações para
engrandecer em número o Porto Rico, foi outro recurso utilizado. Estas estratégias surtem rápido
efeito, pois em 1983 o Porto Rico é consagrado campeão no carnaval, repetindo o feito em 1984 e
1985. Seu prestígio cresce e com ele as alianças, imprescindíveis para a construção de uma
hegemonia entre os maracatuzeiros e maracatuzeiras. […] O certo é que à medida que Elda Viana,
do Porto Rico, inovava nos seus desfiles e arrebatava os campeonatos, os demais maracatus
procuravam imitá-la, mesmo que de forma tímida.
(LIMA, Ivaldo MF, doutorado)

Depois de 3 anos a nação comandada por Elda ivo Viana passa a ganhar quase todos os anos e quando perde
fica em segundo. Inovando com mais brilho e saias com armações, introduzindo a corte mirim e a bruxa de
pano, provocando polêmicas.
Em 2 de agosto de 1985 funda o Urso Zé da Pinga no bairro do Pina junto com seus filhos do Ilê Axé Oxóssi
Gongobira, ligado à religião Jurema Sagrada.

Líder religiosa e gestora, durante 20 anos ela foi a única mola propulsora de toda a nação. Alem da
articulação política com as prefeitura e outras nações, ela fazia toda a gestão dos recursos para conseguir
colocar o maracatu na rua, um maracatu cada vez com mais brilho e beleza.
Sempre costurou e durante anos fez as fantasias da nação. Em vários documentários que registram alguns
cotidianos da nação ela aparece pilotando sua máquina de costura.

Dona Elda é funcionária pública aposentada. Trabalhou na escola Assis Chateaubriand, em Brasília Teimosa,
onde foi zeladora e professora de OSPB, matéria que poderia ser dada por leigos. Ela conta que o foco da
matéria era disciplina, ensinar as crianças se comportar, a falar corretamente, a cumprimentar as pessoas.

Manteve uma Escolinha de reforço na sua casa no Bode, onde ensinava o básico da matemática - as 4
operações e tabuada - e fazia as lições de casa com as crianças. Da escolinha de reforço pra Escolinha de
Baque foi um pulo. Ela já tinha sido a responsável pela introdução da corte mirim nos desfiles de maracatu e
agora montava a Escola de Batuque. As crianças que frequentaram essa escola nos anos 80, hoje são grandes
batuqueiros da nação.

A partir de 2000 seu filho Mestre Chacon passa a dividir com ela as responsabilidades e se torna o diretor de
apito, mestre de Porto Rico. Até 2010 (?) dona Elda ainda costurava as roupas da corte e continuava atuando
como líder religiosa e rainha.
"Dona Elda, apesar de continuar sendo a rainha do Maracatu, atualmente não é a responsável pela
manutenção e organização da sede por estar com a doença de Alzheimer e impossibilitada de
continuar em suas funções sendo substituída por sua filha, Edileusa Viana. Mesmo assim, ela
continua desfilando. “Quando ela sai na passarela, você não reconhece ela, não. Já é outra pessoa, já
fica com a proteção de todo mundo, os espíritos e orixás chegam modificando ela”, conta Amanda
Mariana, integrante da Nação. [Queiroz, Leandro. Coroado no Congo, no movimento Manguebeat ]
Alegre e dramática, sempre gostou de cantar boleros, quase de representá-los.
Uma mulher inteligente que sabia conversar e formar parcerias quando era necessário.

"Se o trabalho do candomblé for hoje para mim ir


para a igreja, receber a missa, a benção do padre,
então meu trabalho hoje foi este, então tenho de
seguir logo para a igreja. Eu vou à igreja quando o
candomblé permite para eu ir à igreja.” (Elda
Viana, yalorixa e rainha do maracatu, depoimento
para o documentário da BBC, The actress, The
bishop and the carnival Queen.)

Muito das ideias e estratégias de dona Elda estão presentes


no documentário The Actress, The Bishop and the
Carnival Queen produzido pela BBC em 1991 de cerca de
48 minutos.

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