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Tia Ciata | A pioneira do samba carioca

November 10, 2018

Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata, foi uma cozinheira e
mãe de santo brasileira. Foi a mais famosa de todas as baianas, a mais
influente, relembrada em todos os relatos do surgimento do samba carioca e
dos ranchos, onde seu nome aparece gravado Siata, Ciata ou Assiata. Foi
iniciada no candomblé em Salvador por Bangboshê Obitikô, era filha de
Oxum. No Rio de Janeiro era Iyakekerê na casa de João Alabá.

Seu nome, afirmado por seus descendentes e que figura nos livros que se
referem à baiana, quando escrito por extenso, é Hilária Batista de Almeida.
Entretanto, no seu atestado de óbito, está como Hilária Pereira de Almeida, e
numa petição para sócio do Clube Municipal encaminhada por seu filho João
Paulo em 1949, este escreve o nome da mãe como Hilária Pereira Ernesto da
Silva. Dúvidas documentais sem maior importância.

Também ficou marcada como uma das principais animadoras da cultura


negra nas nascentes favelas cariocas. Ela era a dona de uma casa onde se
reuniam sambistas e onde foi criado "Pelo Telefone", o primeiro samba
gravado em disco, assinado por Donga e Mauro de Almeida, na voz do cantor
Bahiano, nascido também em Santo Amaro da Purificação.

Tia Ciata nasceu em Santo Amaro da Purificação em 23 de abril de 1854,


porém há relatos de que seu nascimento data de 13/01/1854. Foi a mais
famosa das tias baianas, que eram na maioria Iyalorixás do candomblé que
deixaram Salvador por causa das perseguições policiais, do início do século.
Eram negras baianas que foram para o Rio de Janeiro especialmente na
última década do século XIX e na primeira do século XX para morar na
região da Cidade Nova, do Catumbi, Gamboa, Santo Cristo e arredores.

Em 1876, com 22 anos, chegou ao Rio de Janeiro, indo morar inicialmente na


Rua General Câmara. Tempos depois, se mudou por conveniência para as
vizinhanças de um dos líderes da colônia baiana no Rio de Janeiro, Miguel
Pequeno, marido de Dona Amélia do Kitundi, na Rua da Alfândega, 304.
Com 22 anos, Tia Ciata trouxe o Samba de Roda para o Rio de Janeiro.

Logo na chegada ao Rio de Janeiro, conheceu Noberto da Rocha Guimarães


com o qual se envolveu e acabou ficando grávida de sua primeira filha, lhe
dando o nome de Isabel. O caso dos dois não foi adiante. Ela acabou se
separando de Noberto e, para sustentar a filha, começou a trabalhar como
quituteira na Rua Sete de Setembro, sempre paramentada com suas vestes de
baiana. Era na comida que ela expressava suas convicções religiosas, ou
seja, a sua fé no candomblé, religião proibida e perseguida naqueles tempos.
Ia para o ponto de venda com sua roupa de baiana uma saia rodada e bem
engomada, turbante e diversos colares (guias ou fio-de-contas) e pulseiras
sempre na cor do orixá que iria homenagear. O tabuleiro era famoso e farto,
repleto de bolos e manjares que faziam a alegria dos transeuntes de todas as
classes sociais.

Mais tarde, Tia Ciata casou-se com João Batista da Silva, que para aquela
época era um negro bem-sucedido na vida. Deste casamento resultaram 14
filhos, uma relação fundamental para a sua afirmação na Pequena África,
como era conhecida a área da Praça Onze nesta época.

Recebia todos os finais de semana em sua casa, nos pagodes, que eram festas
dançantes, regadas a música da melhor qualidade e claro seus quitutes.
Partideira reconhecida, cantava com autoridade respondendo aos refrões das
festas, que se arrastavam por dias. Tia Ciata cuidava para que a comida
estivesse sempre quente e saborosa e o samba nunca parasse.

Foi em sua casa que se reuniram os maiores compositores e malandros, como


Donga, Sinhô e João da Baiana, para saraus. A hospitalidade dessas baianas
fornecia a base para que os compositores pudessem desenvolver no Rio de
Janeiro. A casa da Tia Ciata na Praça Onze era tradicional ponto de
encontro de personagens do samba carioca, tanto que nos primeiros anos de
desfile das escolas de samba, era "obrigatório" passar diante de sua casa.

Normalmente, a polícia perseguia estes encontros, mas Tia Ciata era famosa
por seu lado curandeiro e foi justamente um investigador e chofer de polícia,
conhecido como Bispo que proporcionou a ela uma interessante história
envolvendo o presidente da República, Wenceslau Brás. O presidente estava
adoentado em virtude de uma ferida na perna que os médicos não
conseguiam curar e este investigador então disse ao presidente que Tia Ciata
poderia curá-lo. Feito isto, foi falar com ela, dizendo:

- Ele é um homem, um senhor do bem. Ele é o criador desse negócio da Lei


de um dia não trabalha...

E ela respondeu:

- Quem precisa de caridade que venha cá!

Ela então incorporou um Orixá que disse aos presentes haver cura para a tal
ferida e recomendou a Wenceslau Brás que fizesse uma pasta feita de ervas
que deveria ser colocada por três dias seguidos. O presidente ficou bom e em
troca ofereceu a realização de qualquer pedido. Tia Ciata respondeu que não
precisava de nada, mas que seu marido sim, pedindo para o presidente um
trabalho no serviço público, "pois minha família é numerosa", explicou ela.

Além dos doces, Tia Ciata alugava as roupas de baiana para os teatros, para
que fossem usados como figurinos de peça e para o Carnaval dos clubes.
Nesta época, mesmo os homens, se vestiam com as suas fantasias, se
divertindo nos blocos de rua. Com este comércio, muita gente da Zona Sul da
cidade, da alta sociedade, ia à casa da baiana e passando assim a frequentar
as suas festas. Era nessas festas que Tia Ciata passou a dar consultas com
seus Orixás. Sua casa é uma referência na história do samba, do candomblé e
da cidade.

Em 1910, morreu seu marido João Batista da Silva, mas ela já havia
conquistado o seu lugar de estrela no universo do samba carioca. Era
respeitada na cidade, coisa de cidadão, muito longe da realidade comum dos
negros de sua época.

Todo o ano, durante o Carnaval, armava uma barraca na Praça Onze,


reunindo desde trabalhadores até a fina flor da malandragem. Na barraca
eram lançadas as músicas, as conhecidas marchinhas, que ficariam famosas
no Carnaval do Rio de Janeiro.

Tia Ciata morreu no Rio de Janeiro, em 1924, aos 70 anos, mas até hoje é
parte fundamental da memória do samba. Curiosamente, existem
pouquíssimas imagens de dela.

FONTE: Famosos que partiram

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