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Carolina

Maria de
Jesus
Jarid Arraes
Essa é uma escritora No ano de trinta e sete Como era catadora
Que já foi ignorada Carolina então mudou Pelos lixos encontrava
E durante a sua vida Para a capital, São Paulo O papel e o caderno
Foi também muito explorada Onde muito batalhou Que por fim utilizava
Mas por muitos, hoje em dia Construiu o seu barraco Como o famoso Diário
É com honras adorada. E ali se instalou. Onde tudo registrava.

Sua história verdadeira Na favela Canindé Tudo que assucedia


Começou em Sacramento Sua vida foi sofrida Na favela onde vivia
Na rural comunidade A maior luta diária Carolina prontamente
Foi de Minas um rebento Era a busca por comida Em relatos escrevia
Era o ano de quatorze Uma vida esfomeada Irritando seus vizinhos
Inda mil e novecentos. Sempre muito deprimida. E causando agonia.

Pouco tempo se passava Carolina ainda tinha Nem por isso ela parava
Desde o fim da escravidão Três filhos para cuidar Precisava escrever
E, portanto, o que existia Todos de pais diferentes E sonhava com sucesso
Era a dor da servidão Pois jamais quis se casar Com dinheiro pra comer
O racismo dominava Só pensava em liberdade Pois a vida da favela
Espalhando humilhação. Pra fazer seu desejar. Ela não queria ter.

Sua mãe era solteira O que mais ela gostava Num tal dia por acaso
Pela igreja excomungada Era ler, era escrever Um jornalista apareceu
Pois o homem era casado Sendo maior passatempo Na favela onde morava
E findou abandonada E registro do viver Carolina e filhos seus
Com a filha pra criar Nas palavras mergulhava Ele ouviu a confusão
E por muitos execrada. Para assim sobreviver. E a escritora conheceu.
No momento, Carolina Desejava até cantar Carolina é um tesouro
Com a escrita ameaçava Mais um livro ela escreveu: Para o povo brasileiro
"Vou botar no meu diário" Casa de Alvenaria É orgulho pras mulheres
Carolina assim gritava Cheio de relatos seus Para o povo negro inteiro
O jornalista interessado Sobre a vida que mudava Referência como exemplo
Foi saber o que rolava. E o que mais lhe aconteceu. De valor testamenteiro.

Então soube dos cadernos Mas aí já não gostaram Muito mais há publicado
Que Carolina escrevia Por imensa hipocrisia Sobre a vida da escritora
Ficou muito impressionado Pois Carolina contava Os seus livros de poemas
Com o valor que ali continha Os males da burguesia De provérbios pensadora
E depois de muita espera E o amargo esquecimento Abra o seu conhecimento
O seu livro aparecia. Logo mais se chegaria. Que ela é merecedora.

Foi o Quarto de Despejo Carolina até tentou E por fim com muito orgulho
O primeiro publicado Publicou material O cordel já vou fechando
Um sucesso monstruoso No ano de sessenta e três Com sinceridade espero
Tão vendido e aclamado Mais dois livros afinal Que termine interessando
Carolina fez dinheiro Mas estava ignorada Se você não conhecia
Com o livro elogiado. Novamente marginal. O que estive aqui contando.

Sua obra era importante E de novo catadora Carolina eternamente


Pela vil realidade Acabou no sofrimento Uma imensa inspiração
Que ali estava exposta Só depois de sua morte Uma força grandiosa
Tal ferida da cidade Teve o reconhecimento E também validação
A favela e a pobreza Com Diário de Bitita A mulher negra escritora
De Carolina a verdade. Grandioso documento. Que despeja o coração.

Por causa do sucesso Recomendo que pesquise


Do dinheiro que ganhou Muito mais dessa escritora
Carolina finalmente Que era mãe, era poeta
Da favela se mudou Era forte inspiradora
Numa casa de tijolos E ainda uma artista
Com seus filhos habitou. Com talento de cantora.

O problema, no entanto, Por racismo e elitismo


Era a grande exploração Pouco dela hoje se fala
Carolina se sentia Mas tamanho preconceito
Como fosse na prisão Seu legado jamais cala
Pois bem mais ela queria É por isso que eu lembro
Enfrentando impedição. E meu grito não entala.

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