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UNIDADE 3 - TEXTO 1 - A Escola Contemporânea Diante Do Fracasso Escolar
UNIDADE 3 - TEXTO 1 - A Escola Contemporânea Diante Do Fracasso Escolar
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Marilene Gonzaga Gomes Travi; Lisiane Machado de Oliveira-Menegotto; Geraldine Alves dos Santos
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Travi MGG et al.
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A escola contemporânea diante do fracasso escolar
seu potencial cognitivo. Por oligotimia social, a das sociedades e das pessoas. Ela não carece de
autora propõe-se a pensar no social como uma vitalidade. Seu propalado anacronismo parece
forma de impedimento do desenvolvimento cog- ser seu catalisador, como uma Fênix que renasce
nitivo, manifestando-se sob a forma de prejuízos das próprias cinzas. Se a escola da modernidade
na autonomia do pensamento. não se sustenta mais, ela se transmuta, se hi-
Fernández1, na mesma lógica de Paín4, faz bridiza em múltiplos cruzamentos e se reproduz
referências a “[...] uma sociedade enferma e nos infinitos discursos que sobre ela enunciam.
causadora de enfermidades, que provoca oligo- Ela certamente não é de um único jeito, não
timia social e grande parte dos transtornos de toma uma só forma. Ela própria já começa a
‘aprendizagem reativos’[...]”. Estes elementos se reconhecer como território de diversidade,
permitem considerar que no social e, especial- contorcionista da incerteza, prisioneira dos po-
mente em nossas escolas, a (re)produção do deres que a dobram. Mas uma escola que fala
fracasso escolar torna-se cada vez mais respon- a língua do seu tempoespaço poderia continuar
sável pela exclusão de muitas crianças e jovens. fazendo diferença no processo de socialização e
Sendo assim, o espaço escolar que deveria ser educação dos humanos.”
de formação de indivíduos críticos e capazes Sem dúvida, a escola ainda ocupa um lugar
de transformar a realidade pode tornar-se um central na vida das pessoas. É nela que são
ambiente que contribui para o aprisionamento depositadas inúmeras expectativas em relação
da inteligência e, portanto, a exclusão. ao futuro do sujeito e da sociedade. É também o
Dolto5 refere que as causas para o fracasso espaço por excelência onde o sujeito estabelece
escolar situam-se em “três ordens: sociológica, laços sociais para além da família.
psicológica e pedagógica”. Esses fatores se con- Cabe salientar que a escola sofre os impactos
jugam e são interdependentes. A autora ainda das transformações sociais. Dentre tais trans-
aponta a necessidade de se apropriar da intera- formações destacam-se as novas configurações
ção desses fatores e compreender seus elementos da família. Atualmente, estamos diante de um
intercambiáveis para, então, entender seus efei- declínio do exercício das funções parentais. O
tos no fracasso escolar. Para tanto, é necessário que vemos é, muitas vezes, a família delegando
que haja um olhar mais amplo para as questões à escola responsabilidades que outrora eram
do fracasso escolar. Olhar que se volte para o culturalmente suas. O declínio do exercício das
entendimento do sistema escolar atual e para a funções parentais gera impasses na constituição
compreensão dos processos de aprendizagem, o subjetiva, fazendo com que as crianças cheguem
que aponta para a importância de um trabalho às escolas com fraturas significativas no desejo
articulado e interdisciplinar, no espaço escolar de aprender. Muitas delas apresentam proble-
ou não escolar, buscando conceber sujeito e ins- mas de aprendizagem como sintoma4, o que
tituição na sua integralidade, sem desconsiderar exige da escola um redimencionamento de suas
as suas singularidades. práticas e processos. Paralelamente, a escola, na
De acordo com Costa6, a escola do século atualidade, está diante do imperativo que reza
XXI é alvo de discussões e reflexões entre os que ela deve ser para todos.
docentes, intelectuais e pesquisadores. Por meio Em relação a isso, Beyer7 afirma que “uma
de diferentes olhares, esses profissionais tentam escola para todos nunca existiu” e que a escola
encontrar caminhos para uma escola que asse- sempre foi imposta como uma fonte de poder
gure uma formação cultural e científica para toda social, em que somente os mais abastados eram
a vida do sujeito. Costa ilustra o momento atual os mais privilegiados. Ele evidencia que:
da educação contemporânea salientando que: “[...] na história da educação formal ou escolar,
“[...] parece que a escola do século XXI ainda se nunca houve uma escola que recebesse todas as
mantém como uma instituição central na vida crianças, sem exceção alguma. As escolas sempre
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se serviram de algum tipo de seleção. Todas elas Psicopedagogia traz subsídios importantes para
foram, cada uma à sua maneira, escolas espe- a implantação de uma escola verdadeiramente
ciais, isto é, escolas para crianças selecionadas. inclusiva e, sobretudo, uma escola que busque a
As escolas de filosofia da Antiguidade, os mos- não (re)produção do fracasso escolar.
teiros da Idade Média, as escolas de filosofia da Estamos propondo uma articulação inter-
Renascença - todas foram escolas especiais para disciplinar que possibilite apoio ao professor
crianças especiais, selecionadas. Neste sentido, que, diante da diferença, se vê desamparado e
também hoje as melhores escolas particulares impotente. Entendemos por diferença o aluno
em nosso país são escolas especiais, que acolhem que deflagra angústia no professor, por um dis-
não todas as crianças, porém, apenas algumas tanciamento significativo em relação aquilo que
delas (obviamente, aquelas cujas famílias têm ele espera. Nesse sentido, alunos com necessi-
condição financeira privilegiada para bancar dades especiais, bem como alunos com proble-
seus estudos).“ mas de aprendizagem, podem representar para
Embora a escola nunca tenha sido para to- esse professor a diferença. O aluno diferente,
dos, é fato que a Declaração de Salamanca da não raramente, remete o professor a um estado
UNESCO8 teve um impacto social, cobrando da de não saber o que fazer. Nessa perspectiva, a
escola e da sociedade uma abertura para as dife- Psicanálise, a Psicopedagogia e a Pedagogia,
renças. A proposta da Educação Inclusiva remete de forma interdisciplinar, podem auxiliar o pro-
a uma ressignificação das práticas pedagógicas, fessor a retomar a sua função como educador. A
respaldando-se no paradigma do respeito às di- Psicanálise trabalha no campo da subjetividade
ferenças. Exige uma nova organização da escola, e dos modos de subjetivação e de relação com
sendo esta pautada por processos que assegurem o outro. A Pedagogia trabalha no campo do
o acesso, a permanência e a aprendizagem de currículo, do método e da avaliação. A Psicope-
todos os alunos. As transformações pautadas dagogia se insere no campo da aprendizagem
nas novas configurações familiares, bem como o humana, tendo como foco de estudo o aprender
imperativo trazido pelo movimento da educação e o não aprender, ressignificando as relações
inclusiva, sem dúvida tiveram um impacto na do sujeito com as mais diversas aprendizagens.
escola, gerando inquietações, angústias, incer- Trata-se de saberes que ao serem articulados
tezas e inseguranças. podem trazer importantes benefícios à escola e
O professor, diante disso, é quem tem ma- ao social, como um todo.
nifestado maior sofrimento, uma vez que tais
transformações exigem dele um reposiciona- A TRAJETÓRIA DE UM ADOLESCENTE
mento, pautando sua função para o olhar para NO PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR:
diferentes processos de ensino e aprendizagem. UMA VINHETA DE CASO CLÍNICO
Isso porque o professor está frente a alunos que, Partiremos de uma vinheta de caso clínico para
muitas vezes, apresentam impasses no que se discutir as questões relativas ao fracasso escolar na
refere à aprendizagem e ao relacionamento sociedade contemporânea. Trata-se de um adoles-
interpessoal, sendo frequente o sentimento de cente com significativos problemas de aprendiza-
incapacidade e até mesmo a recusa em trabalhar gem, enfrentando dilemas referentes ao processo
com eles. Por isso, é preemente que o professor de inclusão social. Nossa discussão será pautada
seja acompanhado nesse processo. na defesa de um trabalho de cunho interdisciplinar
Pensar na escola e no educador em meio a entre a Psicopedagogia, a Psicanálise e a Pedago-
este panorama social em plenas transformações gia, contando com todo o respaldo necessário da
aponta para a necessidade de criação de parcerias escola em que o rapaz estava estudando.
que possam trabalhar de forma articulada. Nesse Estaremos referindo o adolescente em ques-
sentido, a articulação da Pedagogia, Psicanálise e tão pelo nome fictício de Carlos, no sentido de
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preservar sua identidade. Trata-se de um rapaz, caminhado para uma avaliação psicopedagógi-
que na época dos atendimentos tinha 15 anos de ca. Avaliação que confirmou a preocupação da
idade. Estava cursando o primeiro ano do ensino escola quanto ao problema de aprendizagem.
médio numa escola da rede particular de ensino. Carlos também foi encaminhado para uma
Chamava a atenção o seu aspecto sindrômi- avaliação psíquica, havendo a necessidade
co, caracterizado por olhos puxados e um corpo de indicação de um tratamento nessa área,
hipotônico, que lhe concedia um ar desajeitado. realizado paralelamente ao acompanhamento
Além disso, apresentava uma expressão apática, psicopedagógico, que já se efetuava.
como se nada lhe despertasse interesse. Embora O acompanhamento psicopedagógico e
sua aparência indicasse uma alteração genética, psíquico, na realidade, não se propunham a
os pais se recusaram a realizar uma investigação trabalhar somente com os comprometimentos
com tal especialista. de Carlos no âmbito clínico. O trabalho estava
A queixa da escola era que Carlos apre- calcado numa proposta de articulação interdis-
sentava uma desorganização que o impedia ciplinar, considerando os saberes da Pedagogia,
de aprender e realizar as atividades escolares. Psicopedagogia e Psicanálise, no sentido de
Aprender não parecia fazer algum sentido na fazer valer o processo de educação inclusiva de
vida dele. Sua apatia também se apresentava Carlos. Afinal, havia a necessidade de prepará-lo
na relação com os pares, sendo, por conta disso, para os três anos do ensino médio e para a sua
segregado pelos colegas. inclusão social em outras dimensões, como por
A avaliação médica, realizada no período da exemplo, trabalho e esporte.
sua infância, acusava uma significativa defici- O trabalho interdisciplinar ocorreu a partir
ência auditiva, apresentando 100% de perda de reuniões com a equipe pedagógica, que se
auditiva no ouvido direito. Também apresen- encarregava de repassar nossas discussões para
tava dificuldade visual, que fora diagnosticada os professores. Em determinadas situações, en-
apenas na adolescência. Sua problemática, no tretanto, se fez necessário o contato com todos os
entanto, não era apenas de caráter orgânico- professores para conversarmos sobre os avanços
funcional, atingindo também a esfera psíquica, terapêuticos de Carlos e sobre questionamentos
sociocultural e familiar. e orientações quanto ao desenvolvimento do
Os pais relatavam uma gravidez não planeja- trabalho em sala de aula. Tais espaços foram
da e muito sofrida para a mãe, devido a um qua- pautados, especialmente, por reflexões acerca da
dro de depressão e de inúmeras hospitalizações. necessidade de flexibilização curricular, já que
O parto foi induzido e muito difícil, com muito Carlos apresentava significativas lacunas relati-
sofrimento para a mãe e para o bebê. Segundo vas à aprendizagem formal. A principal queixa
ela, o menino nasceu “roxinho”, remetendo-nos da escola era de que Carlos revelava precárias
a pensar num quadro de cianose, precisando condições para a interpretação e compreensão de
da intervenção imediata do pediatra. Era um textos, além de ter dificuldades em estabelecer
bebê descrito pelos pais como “bonzinho”, pois relações entre os conhecimentos já adquiridos
quase não chorava. e os novos. Para os professores, era sempre um
A história escolar de Carlos foi de muito recomeço com o aluno nas atividades em sala
sofrimento, caracterizada por uma sucessão de aula. Do ponto de vista psicopedagógico, a
de reprovações, sendo também marcada por avaliação demonstrou que Carlos apresentava
muitos fracassos na leitura e escrita. Chegou uma total rejeição aos objetos de aprendizagem
ao ensino médio com lacunas significativas escolar e um déficit lúdico, demonstrando em-
na construção do seu conhecimento formal. pobrecimento quanto à capacidade de antecipar,
Foi somente no ensino médio, quando Carlos coordenar e classificar. Também apresentava
passou a estudar numa nova escola, que foi en- acentuada dificuldade para criar e recriar o
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foi essencial o empenho com os pais no sentido Para Carlos, entretanto, a escola era um
de resgatar os seus lugares nas relações fami- espaço que o remetia a frustrações e fracassos.
liares e, sobretudo, o lugar de sujeito de Carlos. Nesse sentido, havia a necessidade de ressig-
Isso envolveu percorrer os desejos de cada um nificação desse lugar e da relação entre Carlos
em relação ao filho, o que nos possibilitou es- e a escola. Isso deflagrou um repensar sobre
tabelecer os contornos entre as limitações e as as práticas escolares, que fora fundamental
potencialidades de Carlos, para que esses pais para o processo de ressignificação da escola.
pudessem, a partir de então, permitir que ele A proposta era promover o máximo de autono-
conquistasse um lugar nessa família, marcado mia e autovalorização do aluno, respeitando
por satisfações, por alegrias e não mais somente as diferenças, as limitações e, principalmente,
por decepções e frustrações. O trabalho também acreditando no potencial e nas possibilidades
possibilitou o resgate da curiosidade, do prazer de sua aprendizagem. Isso exigiu que a escola
da descoberta e do aprender, da autonomia e da saísse da lógica curricular como algo engessado
autoria de pensamento, pois o lugar destinado e previsto, para entrar na lógica da primazia
pela família ao aluno era “o lugar do que não do sujeito. Sendo assim, não falamos mais de
pode aprender”1. Para eles, Carlos não sabia, não integração e sim de inclusão. A diferença en-
podia e não devia fazer nada. Como já foi sinali- tre integração e inclusão é que na primeira os
zado anteriormente, os pais de Carlos ocupavam alunos devem se adaptar ao que está posto no
lugares de poucos desejos em relação ao filho. currículo, sendo ele ainda a referência das rela-
O trabalho clínico era guiado por esses pres- ções de ensino e aprendizagem; na segunda, há
supostos, porém o caso apontava para o fracasso uma abertura, por parte da escola, às diferenças
escolar como produto de uma complexidade de e, nesse sentido, a aprendizagem se dá por meio
fatores. Nesse sentido, não apontava somente de adaptações curriculares, considerando os
para as questões subjetivas de Carlos, mas diferentes modos de subjetivação e de aprender.
também a uma idéia de possíveis fracassos no Esta vinheta de caso clínico nos remete a
processo de inclusão. Embora as dificuldades de pensar em problemas de aprendizagem que
Carlos apontassem para problemas de aprendi- conjuguem os aspectos de ordem sintomática
zagem como sintoma, não poderíamos descon- e os aspectos institucionais. Incluímos aqui os
siderar a presença de impasses institucionais, aspectos institucionais, pois se tratava de uma
de modo que Carlos também poderia estar apre- escola que, não muito diferente das demais, se
sentando problemas de aprendizagem reativos1. confrontava com muitas dificuldades para tra-
Nesse sentido, o fato de apresentar problemas de balhar com a inclusão. Não contava com uma
aprendizagem como sintoma não invalida de se proposta efetivamente inclusiva em seu Projeto
pensar nos obstáculos institucionais. Isso porque Político-Pedagógico e, ademais, seu corpo do-
o aluno que apresenta significativos problemas cente não se sentia capaz para agir de acordo
de aprendizagem, não raras vezes, desestabiliza com os pressupostos da educação inclusiva.
o professor, fazendo-o perder suas referências Nesse sentido, a experiência com Carlos foi fun-
em relação a sua atuação docente. Assim sen- damental, pois o trabalho foi se dando a partir
do, era fundamental que o trabalho clínico não da prática diária. Para tanto, foram necessários
permanecesse reduzido aos aspectos subjetivos encontros sistemáticos com a equipe pedagógica
de Carlos, e sim que propusesse uma articulação da escola. Afinal, essa equipe era responsável
interdisciplinar com a Pedagogia, baseado na pela gestão pedagógica da escola. O trabalho
premissa de que a escola era um espaço vital se inscreveu numa proposta interdisciplinar,
para ele, assim como é para todas as crianças e por meio do estabelecimento de uma relação de
jovens. Um espaço de estabelecimento de laços parceria entre a clínica e a escola. Também foi
sociais para além da família. necessário realizar encontros com os professores,
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para que eles pudessem encontrar ali um espaço uma avaliação constante quanto ao processo
de fala, de escuta, enfim, de trocas. O trabalho inclusivo. Os pais, por sua vez, permaneceram
sempre se deu no sentido de refletir sobre o fra- atrelados ao processo de inclusão de seu filho,
casso escolar como não sendo apenas produto acompanhando-o na escola e nos atendimentos.
de funções parentais fragilizadas e de problemas Apesar das dificuldades encontradas por
de constituição subjetiva, mas também produto Carlos em sua trajetória, poderíamos definir tal
institucional, pensando aqui as relações esta- experiência de inclusão como exitosa. Carlos
belecidas na escola, pois elas facilmente podem terminou o terceiro ano do ensino médio com
reproduzir a questão sintomática, aprisionando- perspectivas de fazer um curso técnico na área
se nas limitações do aluno, sem conseguir, da informática pelo qual estava mais identifi-
portanto, investir nas suas reais capacidades e cado. No entanto, o mais importante é que no
potencialidades. É nesse sentido que aqui postu- transcorrer do trabalho, Carlos conseguiu esta-
lamos que a escola pode se colocar num lugar de belecer os contornos entre seus limites e suas
(re)produção do fracasso. potencialidades.
Defendemos no presente artigo a importância Diante da complexidade das relações sociais,
de um trabalho clínico articulado com o trabalho acreditamos que a escola contemporânea não
educacional. Afinal, de nada adianta trabalhar as tem mais como fugir da perspectiva interdisci-
questões sintomáticas se, no âmbito da escola, plinar. Isso porque tal complexidade requer a
não há um trabalho efetivamente inclusivo, que interface de diferentes saberes, na medida em
acolha as diferenças, as limitações e aposte nas que um só não dá conta de suas vicissitudes.
potencialidades do aluno. Ao longo dos encon- Nesse sentido, articular os saberes da educação
tros com a escola, fomos percebendo os avanços e da saúde é de fundamental importância, no
de todos: dos trabalhos clínicos, da escola, da sentido de promover reflexões e ações de forma
família e, sobretudo, de Carlos. Isso porque os mais integrada e global.
diferentes saberes articularam-se e tornaram
possível uma visão mais global e integrada de Considerações finais
Carlos. Os avanços, nesse sentido, foram visí- O presente artigo se propôs a discutir os
veis a partir do momento em que, efetivamente, desafios da escola contemporânea diante dos
criou-se um espaço interdisciplinar. Podería- problemas de aprendizagem e da inclusão. Vi-
mos dizer que tal espaço também operou em mos que a escola contemporânea está diante da
caráter preventivo, uma vez que conseguimos complexidade das relações sociais, necessitando
evitar maiores riscos inerentes ao processo de rever seus paradigmas, na medida em que ainda
subjetivação e aprendizagem em casos como o ocupa um lugar central e de referência na vida
de Carlos. Um dos maiores produtos de nosso das pessoas. Um dos maiores desafios enfren-
trabalho em parceria foi reconhecer as potencia- tados pela escola contemporânea refere-se aos
lidades de Carlos e seu ritmo de aprendizagem impactos gerados pela educação inclusiva, o que
singular, por parte da escola e da família. Cabe a coloca diante da diferença, seja nos aspectos
salientar que tanto a escola como a família de constituição subjetiva ou de aprendizagem.
conseguiram bravamente enfrentar os desafios Sendo assim, a escola precisa repensar sua
da inclusão. Do ponto de vista da escola, os identidade para não somente acolher a diferen-
professores mantiveram-se abertos e desejosos ça, mas também assegurar a permanência e a
em relação ao processo de aprendizagem de aprendizagem de crianças e adolescentes com
Carlos. A coordenação pedagógica da escola, problemas de aprendizagem.
no decorrer dos três anos do ensino médio, Quando a escola não se flexibiliza, mantendo-
ficou em contato frequente com a psicóloga se num sistema rígido e engessado, facilmente
e psicopedagoga clínica permitindo, assim, pode produzir ou reproduzir o fracasso escolar. A
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reprodução do fracasso escolar, em geral, ocorre um espaço de escuta e discussão sobre questões
quando a escola se identifica com a família, não de aprendizagem e comportamento, no sentido de
apostando nas reais possibilidades e capacidades restabelecer o saber do professor, para que ele possa
de cada sujeito e, portanto, não respeitando a sua também apostar nas potencialidades do aluno.
singularidade no processo de aprendizagem. Embora o artigo tenha apresentado somente
A partir do relato da vinheta de caso clínico e das uma vinheta de um caso clínico, sendo, portanto,
intervenções da Psicopedagogia e da Psicologia foi impossível realizar generalizações, nosso intuito
possível compreender a importância de um trabalho foi trazer a contribuição de uma experiência
interdisciplinar, que possibilite a comunhão destes exitosa de inclusão, apontando que o diálogo
diferentes saberes, compondo uma visão integrada interdisciplinar é fundamental em casos como o
do sujeito, de modo que sejam respeitadas suas de Carlos. Isso porque o fracasso escolar é fruto
diferenças e peculiaridades. Percebemos também de uma complexidade de fatores, exigindo um
que a escola, frente à diferença, se vê, muitas vezes, olhar amplo e integrado dos diferentes saberes
numa condição de desamparo, necessitando de envolvidos com a saúde e a educação.
Summary
The contemporary school concerning the school failure
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