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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Distrito Federal
3ª Vara Federal Cível da SJDF

SENTENÇA TIPO "C"


PROCESSO: 1005664-77.2021.4.01.3400
CLASSE: MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL (120)
POLO ATIVO: CONSELHO REGIONAL DE ODONTOLOGIA DO DISTRITO FEDERAL
REPRESENTANTES POLO ATIVO: MARCUS VILMON TEIXEIRA DOS SANTOS - DF20414 e
ANDRE AMANAJAS DE AGUIAR - DF26992
POLO PASSIVO:SECRETÁRIO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL e outros

SENTENÇA

I – RELATÓRIO

Trata-se de MANDADO DE SEGURANÇA impetrado por CONSELHO REGIONAL


DE ODONTOLOGIA DO DISTRITO FEDERAL - CRO-DF em face do ato atribuído ao
SECRETÁRIO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL – SES-DF, em que se busca provimento
judicial em sede de liminar e de mérito para que o impetrado inclua os profissionais da
Odontologia da esfera privada na fase 1 de vacinação, iniciando, imediatamente, a imunização
desses profissionais e antes da conclusão da fase 2.

Relata que no plano de vacinação estabelecido pelo Impetrado, estabeleceu-se que


o grupo prioritário de vacinação, contemplado na primeira fase, seria o de profissionais de saúde,
não fazendo diferenciação entre profissionais da rede particular e pública, tampouco entre
profissionais de saúde que atendiam na linha de frente do enfrentamento à COVID-19 ou aqueles
que prestam atendimento de forma geral.

Aduz que na fase 1, por mera deliberação arbitrária do Impetrado, apenas e tão
somente foi aplicada vacina aos profissionais das redes públicas de atenção à saúde e àqueles
que estavam atuando na linha de frente ao enfrentamento à COVID19. Necessário dizer que os
profissionais da Odontologia que atuam na rede pública também foram vacinados, esquecendo-
se, no entanto, daqueles que atuam na esfera particular (consultórios, clínicas e hospitais
particulares), mas que se expõem aos riscos de contaminação com o vírus de mesma forma que

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aqueles da esfera pública.

Alega que os profissionais da Odontologia que atuam na rede particular se


submetem aos mesmos riscos e circunstancias dos que atuam na rede pública, haja vista que
atendem seus pacientes, se submetem a longas jornadas de trabalho em clínicas, consultórios e,
também hospitais, são obrigados a usar toda paramentação para atendimento, bem como a
obedecer aos protocolos de saúde estabelecidos pelo estado, tudo com o fim de minimizar os
riscos de contágio e proteger a si e seus pacientes. Desse modo, não poderiam ser excluídos da
fase 1 de vacinação.

A inicial veio acompanhada de procuração e documentos.

Custas recolhidas.

É o que bastava a relatar. DECIDO.

II - FUNDAMENTAÇÃO

Em que pese o esforço da parte Impetrante na presente ação mandamental,


entendo que ela é destituída de legitimidade ativa ad causam.

Explico.

Primeiramente, a Constituição Federal não traz entre no rol de legitimados a


impetrar mandado de segurança coletivo o Conselho Profissional:

Art. 5º (...)

LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:

a) partido político com representação no Congresso Nacional;

b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em


funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados; Grifei

Ora, a impetrante não é uma organização sindical ou entidade de classe; ela não
tem associados; ela é um órgão instituído por lei, uma autarquia, integrando, portanto, a
administração pública indireta.

Desse modo, enquanto as entidades de classe e os sindicatos representam,


determinada categoria profissional ou segmento da sociedade, os Conselhos Profissionais agem
em nome do Estado na regulamentação e na fiscalização de determinado ofício ou profissão.

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Nesse diapasão, conforme estabelece a Lei nº 4.324/64, a impetrante tem como
escopo a supervisão da ética profissional. Além disso, ante ao princípio da legalidade, o qual a
administração pública está submetida, a norma não dispões dentre as competências do Conselho
Regional essa legitimidade para impetrar mandado de segurança coletivo visando a defesa da
categoria, verbis:

Art. 2º O Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Odontologia ora instituídos constituem


em seu conjunto uma autarquia, sendo cada um deles dotado de personalidade jurídica de
direito público, com autonomia administrativa e financeira, e têm por finalidade a supervisão
da ética profissional em toda a República, cabendo-lhes zelar e trabalhar pelo perfeito
desempenho ético da odontologia e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que
a exercem legalmente.

Art. 11. Aos Conselhos Regionais compete:

a) deliberar sobre inscrição e cancelamento, em seus quadros, de profissionais registrados na


forma desta lei;

b) fiscalizar o exercício da profissão, em harmonia com os órgãos sanitários competentes;

c) deliberar sobre assuntos atinentes à ética profissional, impondo a seus infratores as devidas
penalidades;

d) organizar o seu regimento interno, submetendo-o à aprovação do Conselho Federal;

e) sugerir ao Conselho Federal as medidas necessárias à regularidade dos serviços e à


fiscalização do exercício profissional;

f) eleger um delegado-eleitor para a assembleia referida no art 3º;

g) dirimir dúvidas relativas à competência e âmbito das atividades profissionais, com recurso
suspensivo para o Conselho Federal;

h) expedir carteiras profissionais;

i) promover por todos os meios ao seu alcance o perfeito desempenho técnico e moral de
odontologia, da profissão e dos que a exerçam;

j) publicar relatórios anuais de seus trabalhos e a relação dos profissionais registrados;

k) exercer os atos de jurisdição que por lei lhes sejam cometidos;

l) designar um representante em cada município de sua jurisdição;

m) submeter à aprovação do Conselho Federal o orçamento e as contas anuais. Grifei

Esse vem sendo o entendimento do TRF-1:

ADMINISTRTIVO E PROCESSUAL CIVIL. CONCURSO PÚBLICO. MANDADO DE


SEGURANÇA COLETIVO. CONSELHO REGIONAL DE BIOMEDICINA DA 2ª REGIÃO.
ILEGITIMIDADE ATIVA RECONHECIDA. PROCESSO EXTINTO, SEM RESOLUÇÃO DO

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MÉRITO. APELAÇÃO PREJUDICADA. 1. Mandado de segurança impetrado pelo Conselho
Regional de Biomedicina da 2ª Região contra ato do Diretor Geral da Fundação de
Hematologia e Hemoterapia da Bahia (Hemoba), objetivando alterar o Edital n. 003/2013-
Hemoba, para possibilitar a inscrição dos profissionais Biomédicos nas vagas destinadas
exclusivamente aos profissionais farmacêuticos bioquímicos, com a abertura de novo
prazo de inscrição para os biomédicos interessados em participar do certame. 2. A
Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso LXX, dispõe que "o mandado de segurança
coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso
Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de
seus membros ou associados", não se enquadrando o conselho profissional em nenhuma
das categorias previstas na Constituição Federal. 3. Ilegitimidade ativa ad causam que se
reconhece, declarando-se a extinção do processo, sem resolução de mérito, na forma do
art. 485, inciso VI, do CPC/2015. 4. Apelação do impetrante, prejudicada. (AC 0028831-
33.2013.4.01.3300, DESEMBARGADOR FEDERAL DANIEL PAES RIBEIRO, TRF1 - SEXTA
TURMA, PJe 19/12/2019 PAG.). Grifei

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. CONCURSO PÚBLICO. MANDADO DE


SEGURANÇA COLETIVO. CONSELHO REGIONAL DE TÉCNICOS EM RADIOLOGIA DA 9ª
REGIÃO. ILEGITIMIDADE ATIVA. PROCESSO EXTINTO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO.
ART. 267, INCISO VI, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973 (CPC/1973). SENTENÇA
MANTIDA. 1. A controvérsia instaurada nos autos gira em torno da legitimidade ativa, ou
não, do Conselho Regional de Técnicos em Radiologia da 9ª Região para impetrar
mandado de segurança coletivo. 2. Na hipótese, trata-se de mandado de segurança
impetrado pelo Conselho Regional de Técnicos em Radiologia - CRTR - 9ª Região contra
ato do Prefeito do Município de Goianésia (GO), objetivando a declaração de nulidade de
concurso público para preenchimento do cargo de Técnico em Radiologia (Edital n.
001/2013), até a retificação pretendida no que se refere à carga horária e ao vencimento
mínimo dos Técnicos em Radiologia. 3. A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso
LXX, dispõe que "o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido
político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de
classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano,
em defesa dos interesses de seus membros ou associados", não se enquadrando o
conselho profissional em nenhuma das categorias previstas na Constituição Federal. 4.
Apelação desprovida. (AMS 0040119-57.2013.4.01.3500, DESEMBARGADOR FEDERAL
DANIEL PAES RIBEIRO, TRF1 - SEXTA TURMA, e-DJF1 29/11/2019 PAG.). Grifei

Outrossim, a alegação de que o Sindicato dos o Sindicato dos Odontologistas do


Distrito Federal - SODF possui uma atuação parca no Distrito Federal, não atuando de modo
efetivo, relegando os profissionais da Odontologia a uma total ausência de representação, não o
legitima juridicamente para a presente demanda, conforme prevê o art. 18, do CPC[1].

III – DISPOSITIVO

Forte em tais razões, INDEFIRO A PETIÇÃO INICIAL e DENEGO A SEGURANÇA.

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Decreto a extinção do processo sem julgamento de mérito, com fulcro no
artigo 6º, § 5º e artigo 10, ambos da Lei nº 12.016/09[2] c/c o art. 485, incisos I e VI, do
Código de Processo Civil[3].

Custas ex lege.

Sem honorários advocatícios, por força do art. 25, da Lei n.º 12.016/2009.

Publique-se. Intimem-se.

Sentença registrada eletronicamente.

Transitada em julgado, arquivem-se os autos com baixa na distribuição.

Brasília (DF), assinado na data constante do rodapé.

(assinado eletronicamente)

BRUNO ANDERSON SANTOS DA SILVA

Juiz Federal Substituto da 3ª Vara Federal/SJDF

[1] Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento
jurídico.

[2] Art. 6º A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei processual, será
apresentada em 2 (duas) vias com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda e
indicará, além da autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual
exerce atribuições.

§ 5º Denega-se o mandado de segurança nos casos previstos pelo art. 267 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro
de 1973 - Código de Processo Civil.

Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, por decisão motivada, quando não for o caso de mandado de
segurança ou lhe faltar algum dos requisitos legais ou quando decorrido o prazo legal para a impetração.

[3] Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:

I - indeferir a petição inicial;

VI – verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;

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