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I

COMO SELECIONAR OS PRESBÍTEROS E DIÁCONOS

Escrito por Rev. Ronald Barns

Traduzido por Rev. Ewerton B. Tokashiki

Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho


2014

PREFÁCIO DO TRADUTOR

Escolher oficiais para que governem a igreja local é um processo de grande responsabilidade.
Este dever é facilitado pelo fato de Deus conduzir ambas as partes. De um lado, cremos que Deus
capacita alguns homens com dons, coloca neles um santo temor, aguça a percepção da seriedade de
tão honroso ministério, e os habilita a servir com amor o rebanho de Cristo Jesus. Por outro lado, a
igreja local é iluminada a entender que o mesmo Senhor lhe concede discernimento para a escolha
de homens para que a pastoreiem, supervisionem, e nela sirvam conduzindo-a na fidelidade da
Palavra de Deus, com a suprema finalidade de glorificar ao Senhor Deus.

Traduzi este texto pensando em auxiliar aos membros de nossa igreja no entendimento da
natureza, qualificação e função dos oficiais segundo o Novo Testamento. Ele será útil tanto os
irmãos que aspiram servir nos ofícios, ajudando-os num autoexame, bem como deverá ser útil para
os demais membros na reflexão da instrução bíblica quanto ao que é o presbítero e o diácono.
Assim, espero que ao estudar estas poucas páginas você possa firmar a sua convicção e usar o seu
discernimento, no temor do Senhor, para o bem, a saúde e a pureza da igreja local.

Dedico esta tradução ao Seminário Presbiteriano Brasil Central extensão Ji-Paraná em


Rondônia, onde há 11 anos auxilio no treinamento dos futuros pastores do rebanho de Deus.
II

1. INTRODUÇÃO

Uma das decisões mais importantes que uma congregação pode fazer é a de selecionar
oficiais. Os oficiais que são escolhidos pela congregação serão os líderes da igreja e estabelecerão a
direção do seu ministério. Esta é a razão pela qual é da mais alta importância que cada membro
conheça os requisitos bíblicos para eleger os presbíteros e diáconos, e o procedimento para tal
seleção. Se nisto a congregação cometer erros, as consequências serão desastrosas para a vida e
serviço da igreja, bem como serão difíceis de serem superados. O propósito deste folheto é prover,
aos membros da igreja, com uma clara apresentação do ensino básico da Escritura acerca dos
procedimentos para selecionar homens de Deus.

2. PROCEDIMENTO BÍBLICO PARA OBTER HOMENS DE DEUS

Sempre é mal que uma igreja conduza o processo de seleção de oficiais de forma leviana. O
processo utilizado para conseguir homens que sirvam como presbíteros e diáconos na igreja local é
essencial para promover uma eleição de homens piedosos que cuidem da igreja de Cristo, tal como
Cristo requer. Esta é a razão pela qual a congregação não deve empreender este processo de
qualquer modo, ou de maneira negligente. O apóstolo Paulo adverte em 1 Tm 5:22 que “a ninguém
imponhas precipitadamente as mãos. Não te tornes cúmplice de pecados de outrem. Conserva-te a ti
mesmo puro.”1

Quando a congregação seleciona oficiais de modo apressado, aumenta a probabilidade de


que os eleitos não sejam chamados por Deus para servirem no ofício para o qual foram escolhidos
pela igreja local. A ênfase que sempre deve ter em mente é de que, ao selecionar oficiais, a
congregação se envolve numa atividade da mais solene e espiritual. A pergunta que deve estar diante
da congregação é: quais homens de nossa congregação, se é que há, Deus equipou e chamou para
servir como oficiais? Para descobrir quem são estes homens a congregação deve busca-los
cuidadosamente e em oração, segundo os princípios firmados na Bíblia. Este procedimento nunca
deve feito de modo indiferente [ou como não se fosse de grande importância]. A liderança da igreja
deve convencer a congregação do fato de que ela escolherá aqueles sob cuja supervisão e cuidado,
estará a congregação. Este é o caso, particularmente, tratando-se da eleição do ofício de presbítero.

O apóstolo Paulo, em At 20:28, dá instruções aos presbíteros da igreja de Éfeso, dizendo:


“atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para
pastoreardes a Igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue.”

2.1. Aos presbíteros são encarregados de pastorear o rebanho.

A palavra grega transmite claramente os deveres do pastor que com frequência traduz-se por
“supervisionar”. Esta palavra é traduzida também por “bispo”.2 É uma combinação de palavras
gregas que juntas transmitem o significado de um intenso cuidado e supervisão. Em Tt 1:5 o
apóstolo Paulo dá instruções a Tito acerca do chamamento dos presbíteros nas igrejas da Ilha de
Creta. Em Tt 1:7 Paulo se refere a estes presbíteros com a palavra “supervisor”, ou, “bispo”. Assim,
o presbítero deve funcionar como um supervisor, cuidando daqueles que Cristo reuniu em sua
igreja, pela sua graça. O leitor deve consultar a ordem eclesiástica de sua igreja, a qual também

1
As citações bíblicas serão da “Versão Almeida Atualizada” da SBB. Nota do tradutor.
2
A palavra “bispo” não significa um ofício superior, como é usado no sistema episcopal de governo de algumas
igrejas, mas, ele indica apenas a função de supervisionar, sendo este o seu sentido original. Nota do tradutor.
III

normalmente especifica as tarefas atribuídas ao presbítero.3 As funções do presbítero sendo sérias e


exigentes, exigem que somente homens chamados por Deus devem ser escolhidos para esta tarefa.
As congregações devem ter o cuidado de não selecionar a quem Deus não chamou, nem equipou.

Em Hb 13:17, a Bíblia nos diz: “obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles;
pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não
gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.”

Deste modo, o seu dever será o de obedecer a estes homens e submeter-se a sua liderança, a
congregação deve esforçar para selecionar somente a quem Deus chamou. O não seguir as diretrizes
de Deus conduziria a alguns problemas na vida da igreja. A igreja não será o que Deus estabeleceu, e
estará desprovida de uma liderança piedosa, a qual é o requisito para o cumprimento deste
propósito.

3. PRINCÍPIOS PARA A SELEÇÃO DE OFICIAIS

Então como deve a igreja realizar a tarefa de selecionar os oficiais a quem Deus chamou e
equipou? Há alguns princípios que devemos ter em mente durante o processo de eleger oficiais.

3.1. Deus concedeu um governo para a igreja.

A congregação deve estar consciente do fato de que Deus não deixou a sua igreja sem a
liderança adequada, que ela necessita para cumprir com a missão que Ele confiou a ela. Em Ef 4:11-
12 lemos que Cristo subiu aos céus e levou cativo um grande exército de homens dos quais Ele é
proprietário por direito de havê-los redimido, e que dentro desta multidão de cativos, Cristo
selecionou alguns para dar-lhes como dons para a igreja: “e ele mesmo concedeu uns para apóstolos,
outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao
aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de
Cristo.”

Alguns dos redimidos foram escolhidos por Cristo para servir na igreja na posição de pastores
e mestres. Portanto, a igreja pode descansar confiante de que o Senhor proverá, dentre os homens da
congregação, a liderança necessária.

A igreja pode iniciar orando a fim de identificar os homens a quem Cristo deu para a igreja
com a finalidade de servir como pastores e mestres. É minha convicção que a designação “pastores-
mestres” neste versículo se aplica tanto aos presbíteros docentes como aos regentes. Todavia, ainda
que se negue esta possibilidade, o princípio é o mesmo. Quem deve servir como oficiais na igreja
devem fazê-lo porque Cristo os escolheu e deu à igreja como dons para o benefício do crescimento.

Quando uma congregação entra no processo de eleger oficiais com esta convicção
fundamental, esta eleição será mais cuidadosa e diligente para selecionar aqueles a quem Cristo
chamou.

3.2. Os homens da igreja devem desejar servir a Cristo e a sua igreja.

33
A “Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil” declara as prerrogativas dos presbíteros nos Artigos 50-58.
Nota do tradutor.
IV

Aos homens da congregação devem ser ensinados que almejem serem usados ao máximo
grau possível no serviço do Senhor Jesus Cristo e a sua igreja. Cada homem deve considerar em
oração se seu Senhor o equipou para servir como um oficial, ou se seu Senhor o está chamando para
esta tarefa. Um sentido de chamado é de muitíssima importância quando se está tratando de
determinar se deve ou não buscar um ofício na igreja. Se um irmão chega à convicção pessoal de que
o Senhor o está chamando para servir como um oficial e que o Ele o equipou para fazê-lo, então, ele
deve declarar aos líderes e para a congregação que aspira ao ofício de presbítero, ou de diácono.
Assim, pois, em 1 Tm 3:1 declara: “fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra
almeja.”

O possível oficial não é aquele que nunca em sua vida pensou servir a Cristo e a sua igreja na
posição de um oficial até o momento em que alguém o indica para tal ofício. Ao contrário, deve ser
aquele que busca ser benefício e benção para o corpo de Cristo no exercício de seus dons, enquanto
que em oração está discernindo o chamado de Deus para a sua vida.

A congregação deve eleger homens que estão convencidos, ou no processo de estar


convencidos em seus próprios corações e mentes que o Senhor Jesus os está chamando para servir
em sua igreja com esta capacitação. Eleger um homem para um ofício da igreja que nunca
considerou os seus próprios dons e chamado, e a quem nunca esteve envolvido em servir aos
membros da congregação, em minha opinião, é por demais atrevimento. É esperado que o possível
oficial esteja orando acerca de sua utilidade para a igreja de Cristo e esteja tratando de envolver-se
em servir ao corpo de crentes.

O apóstolo Paulo orienta aos homens a pensar em termos de se Deus os utilizará ou não
nesta capacidade, quando diz: “fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra
almeja”. Não há nada inerentemente mau que alguém “deseje” um ofício na igreja. Não é um sinal
de arrogância, e sim um sinal de que tal irmão está humildemente buscando a vontade de Deus
acerca do serviço na igreja de Cristo. A palavra “desejar, ou aspirar” significa o “estender a mão para
colher algo”. A motivação para esta aspiração é extremamente importante.

Não deve ser aceito que este irmão busque a honra dos homens, ou o suposto prestígio da
posição, pelo contrário, que ele procure servir à igreja de Cristo e promover a glória do seu Senhor.
O possível candidato para o ofício na igreja deve examinar o seu coração diante do Senhor à luz do
caráter dos requisitos mencionados pelo apóstolo Paulo em 1 Tm 3:2-13 e Tt 1:6-9.

Ainda que um homem se convença de que o Senhor o chamou para servir à igreja como
oficial, este deve submeter-se a uma avaliação dos líderes da igreja e dos membros da congregação.
É aqui onde eles afirmam, ou não as suas convicções. Ninguém que não tenha a confirmação da
igreja deve entrar no ofício da igreja.

3.3. A instrução da congregação.

A congregação deve receber a instrução acerca dos requisitos e caráter dos homens a quem
Cristo quer que sejam os pastores e diáconos de sua igreja. Pois a congregação tem a
responsabilidade de selecionar dentre os seus próprios membros, é essencial que eles sejam treinados
para reconhecer àqueles que foram chamados e dotados por Deus.

Se não pode reconhecê-los, é porque não sabem o que devem buscar, e inevitavelmente
empregarão falsos critérios para escolher os oficiais. Frequentemente as igrejas elegem com oficiais
homens com base em sua posição social na comunidade. Algumas vezes se escolhe para ser oficial
um homem porque é empresário. Se forem usados estes critérios não bíblicos serão eleitos homens
V

que Deus não chamou nem mesmo equipou. Enquanto muitos membros da igreja chegam a se
convencer que um indivíduo tem os dons e que os utilizará no ministério da igreja, eles devem
comunicar as suas convicções a esta pessoa, e também a liderança em exercício da igreja. Isto
equivale a propor a este irmão como candidato para o ofício.

3.4. O Conselho pode propor a eleição e ordenação de seus oficiais.4

Quando a igreja claramente reconhece que há vários homens que são chamados e com dons
dados por Deus para servir como oficiais na igreja, o Conselho pode propor a sua eleição e
ordenação. O procedimento específico para que o processo chegue a materializar-se, geralmente, é
uma variação de cinco aspectos: indicação de candidatos, treinamento, exame, eleição e a ordenação.

3.4.1. A indicação de candidatos.

Temos apresentado que a proposta de candidatos de uma maneira informal. Como disse
anteriormente, quando um membro da congregação está convencido que um irmão está exercendo
os seus dons na igreja para o seu bem, seja como um servo nas obras de misericórdia, ou como
mestre e supervisor das necessidades espirituais, então, tal membro que observou isto na vida de seu
irmão, deve comunicar a sua convicção de que ele pode ser um oficial. Ao fazer isto, é equivalente a
propor-lhe que aceite ser um candidato para o ofício de diácono ou presbítero. Todavia, isto ainda
não seria uma proposta formal. Cada igreja estabelece dentro de sua forma de governo um método,
ou procedimento para receber formalmente propostas de candidatos dentre os membros da
congregação.5

Quando se marca a data para receber as propostas de candidatos, então, tem que animar aos
membros da congregação a dar, formalmente, o nome de um irmão que eles creem ser adequado
para ser um de seus líderes. Então, ele será examinado pelo Conselho dentro das datas apresentadas
para a igreja.

3.4.2. O treinamento dos candidatos

Em muitas igrejas, após serem recebidos os nomes dos candidatos inicia-se um período de
treinamento de parte dos líderes da igreja (que é o Conselho e da Junta Diaconal). Durante este tempo
requer-se dos vários candidatos um período de capacitação a fim de familiarizá-los com os assuntos
doutrinários específicos, assuntos do sistema constitucional e do governo da igreja. Não há nada de
errado com este procedimento, mas necessitamos de uma palavra de advertência a respeito desta
prática.

Em primeiro lugar, não há uma quantidade de treinamento que faça de um homem um


diácono, ou um presbítero. Somente Deus equipa aos homens para servir como diáconos ou
presbíteros da igreja. Em At 20:28 Paulo exorta aos presbíteros da igreja de Éfeso, dizendo: “atendei
por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos [ou supervisores]
...”. Se o próprio Senhor não equipou, nem deu dons a alguém para desempenhar um ofício, não há
quantidade de treinamento que possa convertê-lo num oficial. Por esta razão é muito importante
que as congregações reconheçam e aos homens dentre os irmãos, a quem Deus deu dons para o
4
Adaptei este parágrafo devido a algumas diferenças na eclesiologia adotada pelo autor. Aqui ele que difere do
processo usado para convocação de Assembleia Extraordinária para eleição de oficiais, que é uma prerrogativa do
Conselho, segundo a “Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil”. Nota do tradutor.
5
O Conselho da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho adota o critério de que cinco membros em plena
comunhão podem, após consultar o irmão, indica-lo formalmente por escrito ao Conselho. Os presbíteros avaliam
o nome e aprovando-o, é apresentado à igreja como candidato. Nota do tradutor.
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ofício. Ninguém deve recrutado para ser um oficial na igreja e só depois capacitá-lo para isto. Isto
seria fazer o contrário ao que determina as Escrituras. Um irmão deve ser indicado ao ofício de
presbítero ou diácono porque é percebido por vários membros da congregação que ele desempenha
tal capacidade. Essa é a razão para se propor a candidatura. Não pode se propor com base nalguma
suposta utilidade para a igreja, sobre suposição que este irmão chegará a ser o que deve ser durante o
exercício do ofício. Não é concebível que se ensine a um irmão de tal maneira, que entenda e adote
as doutrinas da Bíblia acerca do ofício de presbítero e diácono, em poucas semanas de treinamento.

Nas igrejas presbiterianas se requer dos oficiais que adotem e subscrevam o sistema de
doutrina da Confissão de Fé de Westminster. Certamente é impossível que alguém seja capacitado
quanto ao significado e importância da Confissão de Fé em poucas semanas de capacitação. Os
candidatos indicados devem ser aqueles que demonstram amor pela verdade de Deus, e um desejo
consciente de crescer no conhecimento desta verdade, tal qual está estabelecida na Bíblia.

Quando terminar o período de treinamento, cada um dos candidatos deve ser encaminhado
para o Conselho, a fim de serem avaliados, e para garantir de que cumpram os requisitos. O
testemunho pessoal dos candidatos deve ser claro, o conhecimento das Escrituras por parte do
candidato dever ser profundo, a sua compreensão das doutrinas de nossa fé reformada também deve
ser consistente.

3.4.3. O exame dos candidatos.

O candidato, como disse o apóstolo Paulo em Tt 1:9, que deve ser “apegado à palavra fiel,
que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para
convencer os que o contradizem”. O propósito do exame é garantir que os candidatos que exercerão
o ofício de supervisão na igreja cumpram com os requisitos estabelecidos nas Escrituras. Os
candidatos que reúnem os requisitos e consigam passar no exame, devem então, ser apresentados
como aptos para serem eleitos pela congregação.

3.4.4. A eleição

Depois de completado o exame, entra o momento da eleição. Este é o tempo em que os


líderes apresentam os candidatos que completaram a avaliação com êxito. Todavia, isto não significa
que estes candidatos serão automaticamente eleitos para o ofício para o qual foram indicados. A
eleição de oficiais da igreja é a oportunidade para que cada membro da congregação expresse a sua
convicção quanto à vontade de Deus para cada candidato. Cada membro, numa atitude de oração,
deve chegar à convicção a respeito da vontade de Deus para com os candidatos apresentados.
Quando ocorre a votação, a congregação põe em evidência a sua vontade coletiva acerca de cada
candidato proposto. É necessário um controle deste procedimento, pois nenhum membro da igreja
deve ditar a igreja quem deve ser seus oficiais. Ao contrário, cada membro dá o seu voto de
consciência, e logo, tem que estar disposto a submeter-se aos seus demais irmãos com respeito ao
resultado da eleição.

3.4.5. A ordenação.

Concluída a eleição dos oficiais, então, os líderes da igreja devem determinar a data de
ordenarão dos eleitos em seus respectivos ofícios. Geralmente, os presbíteros ordenam os
escolhidos durante um culto de adoração. Como dissemos anteriormente, ninguém assume a um
ofício na igreja mediante o autonomeamento. Pelo contrário, os que foram indicados, treinados,
examinados e eleitos devem ser chamados ao seu ofício de supervisão da igreja. Eles têm que serem
separados dentre os membros da congregação para o ofício mediante a imposição de mãos e oração
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na presença do povo de Deus que os reconhece como homens de Deus concedidos à congregação
pelo próprio Deus.

Este processo poderia parecer longo e tedioso para alguns, mas se uma congregação o faz
fielmente, e com atitude de oração, resultará ser uma fonte de benção para esta congregação. Assim,
mediante isto, a congregação descobre os homens de Deus dentre os seus membros, e neles
encontrarão uma grande e abundante provisão de uma liderança piedosa para eles, a qual fará a igreja
forte e eficaz para os muitos anos vindouros.

4. OS REQUISITOS PARA OS PRESBÍTEROS (1 Tm 3:1-13 e Tt 1:6-9)

4.1. REQUISITOS POSITIVOS

4.1.1. Irrepreensíveis: Isto significa que não deverá ter nada de indigno que se reprove num
presbítero em potencial. A palavra grega literalmente significa “ao que não se pode exigir contas”. A
ideia que comunica é que não há nada pelo qual alguém possa ser acusado para desqualifica-lo,
inclusive, após uma investigação pública. Coisas que ocorreram no passado devem ser tratadas e
resolvidas de maneira bíblica. A vida do presbítero deve ser um bom exemplo de moral e pureza
para o grupo.

4.1.2. Fidelidade marital: “marido de uma só mulher”. Se o presbítero potencial é casado, deve
caracterizar-se por uma inquestionável fidelidade a sua esposa. Se houver uma menor dúvida acerca
da fidelidade a sua esposa num potencial presbítero, então, não é apto para cuidar da esposa de
Cristo (a igreja). Se o potencial presbítero é solteiro, deve caracterizar-se, em seu trato com as
mulheres, por uma fidelidade de seu coração e pelo conceito bíblico de matrimônio.

4.1.3. Que tenha filhos crentes e submissos: Se há crianças no lar do potencial presbítero, eles devem
estar claramente sob o seu controle e autoridade. Devem ser filhos crentes que estejam sendo
treinados por seus pais nas doutrinas da Palavra de Deus. Em 1 Tm 3:1 Paulo nos diz do presbítero:
“que governe bem a sua casa, e que tenha seus filhos em toda sujeição com toda honestidade.”

Creio que isto é o que Paulo tenha em mente quando nos instruí em Tito que o presbítero
deve ser pai de filhos crentes. Estes são filhos do pacto e devem ser criados num lar de crentes. Este
é um dever pactual. O potencial presbítero deve ser um homem que entende as suas obrigações de
um pai sob o pacto de Deus. Os seus filhos não devem ser acusados de dissolução ou rebeldia. Se
um homem não pode pastorear o seu próprio rebanho (sua família), como poderá pastorear o
rebanho de Deus?

4.1.4. Hospitaleiro: Traduzindo literalmente do texto grego, o termo hospitaleiro significa “amante de
forasteiros”. O seu lar deve ser um refúgio da graça e misericórdia de Deus para as pessoas que se
encontram no desespero causado pela escravidão do pecado.

A oração e a prática do presbítero devem estar acompanhadas de seu ministério de abrir o


seu lar para outros. O potencial presbítero deveria orar assim: “Oh, Senhor, que as pessoas achem
salvação dentro das paredes de minha casa!”

4.1.5. Amante do bem: O presbítero deve amar aquelas coisas que podem dispor para um impacto
benéfico sobre as pessoas. Portanto, também deve ter a correspondente rejeição para o mal e seus
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devastadores efeitos sobre as pessoas. Deve ser um amante dedicado do que é bom, porque tem um
profundo amor a Deus que é especialmente bom.

5.1.6. Sóbrio: O presbítero deve ter uma compreensão séria e realista da vida. Não deve ser um
“idealista” que sempre está sonhando, mas que não tem conhecimento prático que possa realizar as
coisas. Todavia, deve estar comprometido com os ideais da Palavra de Deus. Deve avaliar todas as
coisas à luz da Palavra de Deus e tomar os passos apropriados para obedecê-los. Não deve ser “um
pessimista”. Em liderar o rebanho de Deus, não deve temer adentrar o desconhecido, nem de
intentar coisas novas. Deve estar na capacidade de formular juízos sábios. Não deve ser receoso,
nem tão pouco deve resistir em tomar decisões duras quando for necessário.

5.1.7. Justo: O presbítero deve ser um homem que é justo em todos os seus juízos por aderir
estritamente à justa Palavra de Deus como a sua única norma para julgar. Não deve mostrar
favoritismo, nem sequer aos membros de sua própria família. Isto é particularmente importante
quando se trata de administrar a disciplina eclesiástica.

5.1.8. Piedoso: O presbítero deve ser um homem de piedade e devoção. O testemunho de sua vida
diária com Deus deve ser clara. Deve ocupar-se dia a dia com a Palavra de Deus buscando saber a
vontade revelada de seu Salvador. Deve dedicar-se diariamente à oração, comunicando-se com o
Senhor e encomendando-lhe os detalhes de sua vida. É essencial que o presbítero seja um homem
piedoso. Ele não deve assumir os seus deveres pastorais de maneira fria, semelhante a um mero
empresário, pelo contrário, que deve ver as suas responsabilidades de uma maneira primordialmente
espiritual.

5.1.9. Domínio próprio: A palavra grega utilizada para “domínio próprio” literalmente significa “ter
fortaleza interna”. Todas as paixões e desejos do presbítero devem estar sob o seu controle, posto
que vive uma vida sob o controle do Espírito Santo que vive nele. Deve ser um homem que
manifesta o fruto do Espírito, pois, parte deste fruto é o “domínio próprio”. O presbítero deve ter
“fortaleza interna” que o capacita manter controlados os seus desejos, e desta maneira canalizar as
suas energias para servir em obediência ao Senhor. Como pode exercer um controle piedoso sobre a
igreja do Senhor Jesus Cristo se não pode controlar a si mesmo?

5.1.10. Apto para ensinar: Isto significa que o presbítero deve conhecer a sã doutrina de Deus de
uma maneira profunda. (A Confissão de Fé de Westminster é o documento confessional das igrejas
presbiterianas, e é considerado por elas como uma clara apresentação da sã doutrina das Escrituras).
O presbítero não somente deve possuir um conhecimento pessoal da doutrina bíblica, como
também deve ter a habilidade de ensiná-la.

Deve ter a destreza de comunicar a verdade de Deus de tal maneira, que as pessoas sejam
confrontadas com ela. Deve ser um homem de tal maneira dotado e equipado que tenha a
capacidade de defender a sã doutrina dos ataques daqueles que são inimigos da fé. Deve estar na
capacidade de refutar àqueles que contradizem a sã doutrina. Uma coisa é conhecer a verdade para
si, mas outra coisa é ter a capacidade de explica-la aos outros. Ainda, é algo completamente distinto
ter a capacidade de defender a verdade contra os ataques e de refutar quem a ataca.

4.2. REQUISITOS NEGATIVOS

4.2.1. Teimoso: O presbítero deve ter controle de si mesmo, mas não deve ser obstinado. Ou seja,
não deve ser alguém que se preocupa em agradar a si mesmo, ou de impor-se sobre os demais. Não
deve ser dominado pelo interesse próprio. Somente pode ser presbítero na medida em que
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demonstra que ele se preocupa pelas necessidades e interesses dos demais. Tem que pastorear as
ovelhas de Jesus.

4.2.2. Não iracundo: O presbítero não deve ser alguém que se ira com muita facilidade, ou que
facilmente cede à provocação. Deve ser alguém que pacifica confrontos, pelo fato de ser um
administrador de Deus. Não deve ser alguém que provoca contendas.

4.2.3. Não dado ao vinho: A palavra grega literalmente significa “esperar pelo vinho”. A referência é
claramente dirigida a alguém que abusa do vinho. O presbítero não deve ser controlado por
nenhuma influência externa, ou substâncias estranhas. Somente deve ser controlado pelo Espírito de
Deus, aquele que produz o fruto do controle de si mesmo. Não se requer a abstinência total do
vinho. Ainda alguém poderá escolher abster-se do vinho por diferentes razões.

4.2.4. Não violento: A palavra grega significa literalmente “um espancador ou lutador”. O presbítero
não deve ser alguém que resolve os seus desacordos com os punhos. Deve ser hábil no debate e na
argumentação pacífica, raciocinando com as pessoas com base nas Escrituras. Deve ser pacificador e
não alguém que provoca contendas, ou alguém que resolve dificuldades ameaçando àqueles com
quem tem desacordos.

4.2.5. Não amante da ganância desonesta: O presbítero não deve ser alguém abertamente
preocupado com dinheiro, ou de usar o ofício de presbítero como um meio de enriquecimento. Isto
não significa que o presbítero não tenha o direito de receber um salário por seu trabalho como é o
caso dos presbíteros docentes, ou pastores. Todavia, isto significa que o presbítero não deve
pastorear o rebanho de Deus como um meio de encher os seus bolsos. De fato, os detalhes
financeiros diários da igreja não devem estar sob o seu cuidado. Os diáconos da igreja, sob a
supervisão do Conselho, devem ser os que manejam estes detalhes e as finanças da igreja. Muitos
presbíteros se desviaram pela sedução das riquezas. Portanto, deve ficar bem claro que quem aspira
o ofício de presbítero deve estar livre deste estorvo.

4.2.6. Não seja um neófito: O presbítero não deve ser um neném na fé. Deve ser um homem que foi
provado perseverantemente pelo tempo. O novo convertido não é um homem provado e está
suscetível de cair em pecado e desta maneira de atrair grande reprovação ao nome de Cristo e de sua
Igreja. O presbítero deve ser um cristão maduro cujo caráter foi provocado nas provas da vida, e em
situações que sucederam no tempo. O novo convertido não teve o tempo necessário para crescer e
amadurecer em seu entendimento das Escrituras, pois adquirir sabedoria exige tempo.

5. PRESBÍTEROS DOCENTES E PRESBÍTEROS REGENTES

Na igreja presbiteriana sempre houve presbíteros docentes (pastores), presbíteros regentes e


os diáconos. Há contínuo debate acerca da relação entre presbítero docente e regente. Alguns
adotam a perspectiva de que o presbítero docente e o regente são realmente dois ofícios distintos e
separados na igreja. Estes eruditos argumentam que há três ofícios na liderança da igreja: o pastor ou
presbítero docente, o presbítero regente, e o diácono. Outros estudiosos, incluindo o presente, estão
convencidos de que o ofício de presbítero é apenas um ofício, e que a classificação de presbítero
docente e regente indicam duas classes do mesmo grupo de presbíteros. Portanto, devemos analisar
e responder à pergunta quanto às diferenças entre estas duas classes de presbíteros. Como e por que
o presbítero docente é diferente do presbítero regente? Esta pergunta pode-se responder de diversas
maneiras, e muita confusão prevaleceu como resultado dela.
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Muitos formulam as suas respostas sob uma perigosa compreensão da diferença essencial
entre o presbítero docente e regente, e com este mau entendimento em mente respondem a esta
pergunta. Espero que este assunto fique esclarecido de uma maneira que seja de ajuda aos membros
da congregação na eleição de homens para o ofício de presbítero.

Em 1 Tm 3:2 estabelece que o presbítero deve ser alguém que seja apto para ensinar. Há
muitas igrejas que mantém uma infeliz distinção entre as duas classes de presbíteros. Pode-se
entender que esta distinção tenha ganhado terreno na mente dos crentes, pois é originada da mesma
nomenclatura que se utiliza para designar as duas classes de presbíteros. A designação de uma classe
como “presbíteros regentes” induziu alguns ou, a crer em princípio, ou a negá-lo na prática, que “o
presbítero regente” não deve empenhar-se no ministério do ensino da igreja.

Em mais de uma oportunidade o autor se encontrou com presbíteros regentes que, quando
desafiados com a necessidade de que eles deveriam participar da responsabilidade de ensinar na
igreja, responderam dizendo: “não sou apto para ensinar”. De fato, o problema neste sentido é
evidente. Se alguém não é “apto para ensinar”, então, não poderia ser presbítero na igreja. Em 1 Tm
3:2 exige que todos os presbíteros sejam docentes, ou que os regentes devem ser aptos para ensinar.
Com efeito, os presbíteros governam na igreja somente através do ensino e aplicação da Palavra de
Deus na vida da congregação. Portanto, está claro que todos os presbíteros, em virtude de seu
ofício, governam e ensinam. Tanto os presbíteros docentes como os regentes devem ensinar.

Concluído que todos os presbíteros devem ensinar, revisemos novamente a explicação da


exigência de “ser aptos para o ensino”. O presbítero deve ser apto para ensinar, ou seja, deve
conhecer profundamente a sã doutrina da Palavra de Deus. Deve ser hábil em comunicar a verdade
de Deus de tal maneira que as pessoas sejam confrontadas com ela. Também deve estar
sobremaneira dotado e equipado para que tenha a habilidade de refutar a quem contradiz a doutrina.

Entretanto, ainda devemos considerar outro assunto acerca do ofício de presbítero. Quão
forte deve ser a sua aptidão para ensinar por parte do presbítero? Deve ser apto para dirigir-se a
grandes multidões com intenso entusiasmo e exortação? Ou, pode o presbítero “ser apto para
ensinar” somente em encontros individuais?

O apóstolo Paulo não dá nenhuma indicação de quão forte deve ser a aptidão do presbítero
para ensinar. Assim, pois, deve permitir-se como aceitável que a mínima aptidão para ensinar seja a
de comunicar a Palavra de Deus a pessoas individualmente. Todavia, é razoável que quanto maior
seja o dom de ensino, o povo de Deus estará em melhor condição. Ainda que a igreja deva orar para
que Deus lhe conceda homens com excepcional aptidão, não deve ter nenhuma noção preconcebida
sobre quão forte deve ser aptidão do presbítero para ensinar. Dentre os presbíteros de uma igreja,
alguns possuirão diferentes proporções do dom de ensinar (Rm 12:6).

Alguns serão capazes de eficazmente ensinar multidões. Outros somente terão a capacidade
de modo efetivo de dirigir pequenos grupos. De todos os modos, o presbítero (todos os presbíteros)
deve ser apto para ensinar. Cada presbítero deve ser julgado segundo a sua vida e ministério. A
congregação deve determinar se um potencial presbítero é, ou não, apto para ensinar tão
efetivamente conforme a explicação.

Há um assunto final que é necessário mencionar. É muito claro que os presbíteros (todos
eles) governam e ensinam. Também está claro que nem todos governam e ensinam com a mesma
força. Pois, aqui está a diferença da capacidade e habilidade que radica a diferença entre o presbítero
docente do regente. O “presbítero docente” é diferente do presbítero regente não porque possua um
XI

chamado, ou um ofício totalmente diferente. O presbítero docente é separado pela igreja para pregar
a Palavra em razão da excepcional força de seus dons.

É sábio que a igreja separe certos homens excepcionalmente dotados para a tarefa, em
tempo integral, da pregação e ensino da Palavra. A igreja será grandemente abençoada, se em seu
meio há presbíteros que são financeiramente apoiados para que dediquem todo o seu tempo para
ensinar e pregar a seu povo a verdade de Deus, que transforma a vida. Historicamente falando esta
tarefa se denominou de “o chamado ao ministério do Evangelho”. Na realidade, é um chamado para
pregar. Na realidade, é um chamado para pregar. É preocupante quando presbíteros docentes que
foram chamados por Deus para pregar a Palavra usam todo o seu tempo para organizar programas e
para atuar como um apresentador de atividades do Domingo pela manhã, em vez de alimentar o
rebanho com comida sólida da Palavra de Deus. O “presbítero docente” não é apenas um mestre da
Palavra de Deus, mas é também, alguém que possuí o forte dom de ser apto para pregar a Palavra de
Deus com grande convicção e com um impacto benéfico sobre o povo de Deus. Aqui é onde está a
raiz da diferença entre o “presbítero docente” e o “presbítero regente”, e na aptidão para pregar a
Palavra de Deus.

Ainda poderia se perguntar acerca da distinção entre “pregar a Palavra” e “ensinar a


Palavra”. Esta é uma distinção legítima? É difícil explicar a diferença entre estas duas atividades e
responsabilidades dos presbíteros da igreja. Quando se estuda as Escrituras para encontrar alguma
clara e rápida diferença da natureza objetiva, está não se encontra. As pessoas tem maior aptidão
para reconhecer que a pregação sobressai ao ensino do que para descrever as diferenças entre elas.
Alguns propuseram que o ingrediente crucial é a exortação. Todavia, toda boa pregação é tanto
pregar com exortar, e todo bom ensino inclui também a exortação. Mas, ao estudar as Escrituras
detalhadamente, parece que há algumas diferenças entre estas duas tarefas.

O apóstolo Paulo disse em 1 Tm 2:7 “para isto fui designado pregador (kerusso) e apóstolo
(afirmo a verdade, não minto), mestre dos gentios na fé e na verdade.” E, em 2 Tm 1:11 o apóstolo
declara algo parecido “para o qual eu fui designado pregador (kerusso), apóstolo e mestre”. A partir
destes dois textos parece que o apóstolo reconhecia uma distinção entre o ensino e a pregação.
Paulo disse que ele foi chamado para ser tanto pregador como mestre. A pregação parece ser sempre
um ministério público de anunciar a verdade de Deus a um grupo, acompanhada pela benção do
Espírito Santo que move a ação aos corações de seu povo (At 20:20-27 e Rm 10:14). Por outro lado,
o ensino parece ser mais um intento calculado de proclamar a Palavra de Deus, seja apenas para uma
pessoa ou a muitas. Ainda que o bom ensino seja motivador, parece que a pregação o é muito mais.

Revisado a possível distinção entre o ensino e a pregação, ainda permanece outra pergunta a
ser feita do ofício de presbítero. Todos os presbíteros devem ser aptos para pregar?

Se o que temos falado anteriormente acerca da diferença entre a pregação e o ensino está
correto, a resposta a esta pergunta é “não”. Nem todos os presbíteros devem ter a aptidão de pregar
ainda que todos eles devem ter a aptidão para ensinar. Nota-se, uma vez mais, que o apóstolo Paulo
não estabelece a aptidão de pregar como um requisito par aos presbíteros em 1 Tm 3:1-7. Todavia,
quando o apóstolo fala diretamente a Timóteo, lhe exige pregar (kerusso). Ou seja, o ofício e a
posição de liderança de Timóteo exigiam dele a habilidade de pregar além da habilidade de ensinar.
Hoje em dia, o presbítero que tem o encargo de pregar a Palavra para a congregação do povo de
Deus é chamado “ministro do evangelho” ou “pregador”.

É esta distinção correta? O é em algum sentido, e não o é em outros sentidos. A resposta é


“não” no sentido de que todos os presbíteros são ministros da Palavra, por serem responsáveis de
ensinar a Palavra de Deus a seu povo. Eles governam o rebanho de Deus ao ensinar e aplicar a
XII

verdade de Deus a todas as esferas da vida. Se há alguma diferença entre os presbíteros, esta não tem
a ver com que uns sejam ministros do evangelho e outros não. Todavia, há outro sentido em que
podemos dizer que o presbítero que é chamado como “ministro do evangelho” é diferente dos
demais presbíteros. Temos que reconhecer que alguns presbíteros não somente têm o dom de
ensinar, mas também têm a aptidão de pregar a Palavra de Deus. Estes presbíteros são dotados por
Deus para serem arautos de sua Palavra ante o seu povo de tal modo que, segundo o princípio de 1
Tm 5:17-18, eles devem receber uma remuneração por tal trabalho. Os presbíteros que somente
ensinam também poderiam receber um salário por seu trabalho, mas especialmente aqueles que
“trabalham em pregar e ensinar”.

Note-se ainda que o ofício de presbítero é somente um. Seja qual for o “presbítero regente”,
ou, o “presbítero docente”, Deus exige que o presbítero ensine as Escrituras e que exerça cuidado
pastoral sobre o rebanho. Em outras palavras, existe uma paridade (igualdade) entre o “presbítero
docente” e o “regente”, e ambos têm o mesmo ofício, a mesma autoridade e basicamente as mesmas
responsabilidades. Todavia, alguns presbíteros, em razão da força dos seus dons e de sua aptidão
para pregar, devem ser separados, ou chamados, de uma maneira especial para pregar a Palavra de
Deus e, ser remunerados por seu trabalho para que eles estejam livres para desenvolver e utilizar os
seus dons para maior benção da igreja de Cristo. A estes presbíteros lhes denomina “presbíteros
docentes”.

Talvez, a melhor maneira de se falar acerca dos presbíteros da igreja com respeito a seus
diferentes chamados seja assim:

6. CONSIDERAÇÕES BÁSICAS ACERCA DO OFÍCIO DE DIÁCONO

Dois ofícios foram estabelecidos por Cristo em sua igreja. Em primeiro lugar temos o ofício
de presbítero, cujo dever é o cuidado pastoral e o bem-estar do corpo de Cristo. Em segundo lugar,
temos o ofício de diácono, cujo dever é cuidar das necessidades físicas da congregação e de levar
adiante o ministério da misericórdia. Ainda que esta distinção pareça bastante simplista, todavia, isto
é fundamental. As diferenças entre o ofício de presbítero e diácono estão, a princípio, estabelecidas
no episódio registrado em At 6:1-6:

Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos
helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na
distribuição diária. Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram:
não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Mas,
irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de
sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à
oração e ao ministério da palavra. O parecer agradou a toda a comunidade; e elegeram
Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão,
Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. Apresentaram-nos perante os apóstolos, e
estes, orando, lhes impuseram as mãos.

Notemos que o problema em questão neste texto é a necessidade física e o bem-estar das
viúvas. Aparentemente por parte da igreja havia se determinado o modo de cuidar das viúvas
necessitadas. A discussão resultou baseada no problema que as viúvas dos judeus-gregos6 não
estavam sendo bem atendidas. Quando este assunto se tornou conhecido dos apóstolos, eles

6
O texto se refere aos judeus da dispersão, i.e., judeus que falavam grego. Nota do tradutor.
XIII

decidiram que “não é justo que deixemos a Palavra de Deus para servir as mesas” (At 6:2). Mas, e
ainda, eles declararam “nós nos dedicaremos à oração e ao ministério da Palavra”. Desta maneira os
apóstolos estabeleceram uma divisão de trabalho entre aqueles que cuidam da igreja. Os apóstolos
sustentavam que os seus deveres primordiais estavam na esfera do cuidado espiritual do povo de
Deus, e que se eles se dedicassem a atender as necessidades físicas da congregação estariam se
desviando de seus deveres primordiais; ou seja, da oração e do ministério da Palavra.

O ofício de presbítero continua a tradição apostólica do cuidado espiritual do povo de Deus.


O Senhor Jesus Cristo encarregou ao apóstolo Pedro que pastoreasse as suas ovelhas, e o apóstolo
por sua vez encarregou aos presbíteros da igreja (chamados companheiros presbíteros) o dever de
pastorear o rebanho de Deus que está entre eles (1 Pe 5:1-5). Deve-se enfatizar que os apóstolos não
se recusaram o servir às mesas porque era algo que estava abaixo deles, e sim porque isto lhes
desviaria do que Deus lhes havia exigido como pastores do rebanho.

Portanto, instruíram ao povo de Deus que escolhessem homens especiais dentre a


congregação para que atendessem as necessidades físicas da congregação. Estes homens eram,
segundo At 6:3, “homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria”. Estes homens
serviram com a mesma capacidade que aqueles que mais tarde serviram a igreja como diáconos. A
pala “diácono” (diakonos) literalmente significa “apurar por algo, buscar”.

Assim, o diácono é chamado por Deus e confirmado pelo povo de Deus como um servidor. É
aquele que tem que ocupar-se dos assuntos do povo de Deus quanto as suas necessidades. Ele é
alguém que serve ao povo de Deus com um coração compadecido.

Em muitas congregações os diáconos fazem algo além de recolher os dízimos e ofertas,


pagar os recibos de luz, água ou regar o jardim da igreja, fechar ou abrir as portas, varrer a igreja.
Estes são deveres dignos, mas isto não é tudo o que deve fazer um diácono. Em At 6 estes
protodiáconos eram os administradores do cuidado das viúvas da igreja. Segundo Tg 1:27 é um sinal de
“religião pura e sem mácula é esta, visitar os órfãos e as viúvas em suas aflições.” Os deveres do
diácono é tudo o que é necessário dentro dos limites legítimos do ministério da igreja para servir às
necessidades físicas do povo de Deus.

Historicamente, o ministério diaconal deu de comer aos necessitados, proveu de teto aos que
não tinham casa, vestiu aos desnudos, visitou aos encarcerados, educou aos ignorantes e cuidou dos
enfermos. Em outras palavras, o plano de Deus para o bem-estar que é parte inerente da comunhão
dos santos e o ministério diaconal da igreja está projetado para promover e desenvolvê-lo. Os
diáconos devem ajudar ao povo de Deus a administrar o seu dinheiro, oferecer empréstimos aos
pobres sem interesse em casos de emergência e ajudar a congregação manifestar a compaixão e
misericórdia de seu Deus de maneira concreta e mensurável. Certamente que cada cristão deve ser
um servo, e os diáconos devem conduzi-los pelo caminho do altruísmo e serviço sem egoísmo, no
nome e para a glória do Senhor Jesus Cristo.

7. UMA BREVE EXPLICAÇÃO DOS REQUISITOS DO OFÍCIO DE DIÁCONO

A medida que a igreja amadurecia durante o primeiro século, o ofício de diácono chegou a er
um ofício permanente na vida e ministério da igreja. O apóstolo Paulo trata mais amplamente dos
requisitos para o ofício de diácono em 1 Tm 3:8-13. As qualificações estão enumeradas com uma
breve explicação de cada uma delas.
XIV

7.1. REQUISITOS POSITIVOS

7.1.1. Honestos: Esta palavra vem do grego semnous que significa reverendo, augusto, venerável,
sério, seriedade de propósito, conduta respeitável. O diácono deve ser um homem de dignidade.
Não ser grosseiro, nem de más maneiras no cuidado das necessidades do povo de Deus. O ofício
que ele ocupa requer uma atitude de reverência.

7.1.2. Consciência limpa: Este requisito se encontra em 1 Tm 3:9. Exige-se que o diácono seja um
homem que esteja “mantendo a fé com clara consciência,” literalmente significa “com limpa
(kathera) consciência”. “A fé” à que se refere este versículo é o depósito da doutrina cristã revelada
por nosso Senhor e o ministério dos apóstolos. É chamado de “mistério” porque somente é
conhecida por Deus quem a revelou mediante os profetas e apóstolos, e porque somente é
verdadeiramente conhecida quando Deus a aplica ao coração pela soberana obra do Espírito Santo.
O diácono deve ser alguém que evidencia uma preservação tenaz da santa fé e que o faz com
consciência limpa. Ou seja, a sua consciência deve ser limpa de qualquer pecado não confessado ou
de algum motivo impuro. Deve abraçar a fé, motivado por uma sincera consciência de sua
pecaminosidade, e de um coração genuinamente arrependido.

7.1.3. Irrepreensível: Esta palavra vem do grego anegkletos e significa “fazer entrar/intervir/pedir
ajuda de”, mas esta palavra composta está precedida de um prefixo negativo o qual indica “o que
não pode questionar-se”. Ou seja, um homem está livre de toda reprovação se após uma profunda
investigação não se encontra nada contra o que acusá-lo. Ninguém deveria estar na possibilidade de
acusa-lo de ter um caráter mentiroso, de desonestidade, de impiedade em seus negócios, etc. Não ser
diácono na igreja de Cristo sem passar por um período de avaliação. Em At 6:3 os apóstolos exigem
que estes homens, que servirão a congregação, devem ser “homens de boa reputação”. Se um
homem não tem boa reputação, e se há alguma reprovação contra ele, então, não cumpre os
requisitos para servir como diácono.

7.1.4. Marido de uma só mulher: Literalmente o diácono deve ser “homem de uma só mulher”. Ou
seja, se o potencial diácono é casado deve caracterizar-se por uma inquestionável fidelidade a sua
esposa. Um homem que não está qualificado para cuidar das necessidades da esposa de Cristo (a
igreja), se houver a menor dúvida de sua fidelidade por sua própria esposa! Se o potencial diácono
não é casado, este deve caracterizar-se por uma pureza e solteirice de coração pelos preceitos
bíblicos do matrimônio e do sexo.

7.1.5. Bom administrador de seus filhos e sua casa: Se há filhos no lar, estes devem estar claramente
sob a sua autoridade e controle. A palavra grega que se traduz como “administrador”, literalmente
significa “governar”. Os seus filhos devem ser disciplinados. O diácono deve treinar os seus filhos
nas doutrinas da Palavra de Deus. O potencial diácono deve ser um varão que entende os seus
deveres sob o pacto de seu Deus. Deve governar bem a sua casa. Se um homem não pode cuidar das
necessidades de seu próprio lar, como poderá cuidar das necessidades da família de Deus?

7.2. REQUISITOS NEGATIVOS

7.2.1. Não ser de ânimo doble: A palavra grega que descreve esta característica é dialogous que
literalmente significa “dizer a mesma palavra duas vezes”. O diácono não deve ser tagarela. A
indicação é que em seu conhecimento íntimo das necessidades das pessoas, possa ser tentado a
repetir palavras que não deveriam repetir; ou, que dê sua opinião particular acerca de um ocorrido a
uma pessoa, e outra diferente opinião a outra pessoa. O diácono deve fazer algo assim.
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7.2.2. Não dado ao vinho: Ou seja, o diácono não deve ser um homem que é controlado pelo vinho,
ou qualquer outra influência externa. A palavra que se traduz “dado/apegado” pode ser traduzida
literalmente como “entregar-se”. O diácono deve entregar-se somente ao Senhor e ao Espírito
Santo. Em At 6:3 os apóstolos exigiram que o diácono fosse um homem “cheio do Espírito Santo e
de sabedoria”. Deve-se notar que não se exige a abstinência total; ainda que, se alguém o considera
sábio, pode livremente escolher abster-se.

7.2.3. Não é amante da ganância desonesta: Ou seja, o diácono não deve estar muito preocupado
pelo dinheiro, ou utilizar o seu ofício de diácono como uma maneira de enriquecer. O diácono ao
cuidar dos pobres, órfãos, viúvas e outros necessitados do rebanho, estará envolvido no manejo de
recursos. Portanto, deve ser livre de um ímpio desejo de enriquecimento.

Alonzo Ramírez, org., Manual de capacitación para ancianos governantes y diáconos (San Jose, Editorial
CLIR – Confraternidad Latinoamericana de Iglesias Reformadas, 2010), pp. 237-263.

Terminada 4 de Setembro de 2014.


Tradução por Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de teologia sistemática no SPBC-RO em Ji-Paraná/RO.

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