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LETRAS, OFÍCIOS E BONS COSTUMES

THAIS NIVIA DE LIMA E FONSECA

A ocupação do território brasileiro no período colonial não foi a mera transplantação da


civilização europeia, mas foi um processo profundamente marcado pelo encontro de
diferentes culturas e pelas condições materiais concretas de vida e de trabalho nessas terras.
(31)

No século XVIII, autoridades portuguesas produziram muitos documentos que revelavam a


preocupação com o “descontrole” e a “falta de civilidade” dos domínios americanos,
sobretudo da região das Minas. São instruções de ou para governadores. (31)

Nesses documentos, a educação surgia como solução possível para o estado de desordem (31)

Em 1721, D. João V manda o governador de Minas, Dom Lourenço de Almeida fazer o possível
para que haja mais casamentos na capitania e ordena também o governador tratasse com os
oficiais das Câmaras de haver em cada Vila um Mestre que ensine a ler e escrever e outro que
ensine latim, e que os pais mandassem seus filhos a estas escolas e os ditos pais pagassem os
professores (32)

Havia preocupação, por parte das autoridades com a expressiva presença de negros e mestiços
em Minas (fossem como livres ou como escravos). Considerados inferiores, deveriam ser alvo
do controle do Estado e da Igreja (33)

Na primeira metade do XVIII, a Coroa estava mais preocupada em consolidar em Minas a


estrutura administrativa e em organizar a produção aurífera. Por isso, se preocupou pouco
com a educação institucionalizada. (33)

A produção intelectual portuguesa do século XVIII esteve fortemente influenciada pelo


pensamento iluminista de Ribeiro Sanchez – educar mas mantendo as posições consolidadas
do Antigo Regime (36)

Havia em Minas a concepção do exemplo como meio para se alcançar a educação (36-37).

Não era tão raro na sociedade colonial que indivíduos nascidos em condições desfavoráveis
conseguissem alguma ascensão por meio da educação, mesmo que elementar (40) – a autora
comenta documento de Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos. (40)

As autoridades portuguesas se preocupavam com a educação como meio para a civilidade e


como recurso ao trabalho como meio de ocupar a população, retirando-a dos riscos da
civilidade. (40) – As Ordenações Filipinas tinham leis que obrigavam as Câmaras a dar
educação aos órfãos e expostos.

As Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, elaboradas em 1707 tornaram-se a


“principal legislação eclesiástica da América Portuguesa no período colonial. E elas
determinavam que pais, mestres, amos e senhores deveriam ensinar ou fazer ensinar a
doutrina cristã aos filhos, criados e escravos. (46) Esse documento representava a adesão de
Portugal às determinações do Concílio de Trento (1545-1563).
A Carta Régia de 9 de julho de 1711 proibiu a entrada, nas Minas, do clero regular e de padrees
seculares sem paróquias, além de ordenar a sua expulsão do território. A medida foi reforçada
em 1721. (104). O espaço religioso foi então ocupado pelas associações leigas.

As ações educativas das Irmandades e Ordens terceiras são pouco estudadas. Produziu-se mais
sobre o caráter assistencialista delas.

Na Capitania de Minas Gerais a maior parte dos meninos criados com rendas das Câmaras,
encontrados nos documentos analisados, eram encaminhados para o aprendizado do ofício de
alfaiate e da música. Esse último era particularmente procurado, pois a atividade musical era
razoavelmente intensa nas principais vilas da Capitania, ativada pela frequência das
encomendas de composições e de execuções, pelas Câmaras, irmandades e ordens terceiras.
Muitos meninos e jovens atuavam como instrumentistas, mas principalmente como cantores
nos coros que se apresentavam durante as festas civis e religiosas. (117)

Na América portuguesa, as associações leigas eram classificadas de acordo com critérios


étnicos, sociais e/ou profissionais, Eram associações de auxílio mútuo, em que todos assumiam
responsabilidades em relação aos inegrantes. Elas elaboravam um Estatuto ou Livro de
Compromisso onde estabeleciam os deveres e direitos dos irmãos. Esse documento era
confirmado pela Coroa Portuguesa e tinha que estar em conformidade com a normatização
eclesiástica presente nas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. (146)

O Livro de Compromisso versava sobre a escolha de dirigentes da mesa, as festividades, as


atribuições de cargos, a associação de irmãos, ente outros assuntos. (146)

Estudar a educação na colônia é importante para o conhecimento sobre as práticas educativas


entendidas como práticas sociais e culturais, e, não exclusivamente no âmbito da educação
escolar. (150).

Referências bibliográficas.

Nas referências, a autora menciona Peter Burke (História e teoria social) e Bourdier (Coisas
ditas). Cita também Chartier (A história cultura, práticas e representações) e Ginzburg (A
micro-história)

Figueiredo, Luciano. Barrocas famílias: vida familiar em Minas Gerais no século XVIII.

Fonseca, Thais Nivia de Lima e, Instrução e Assistência na Capitania de Minas Gerais

Fonseca, Thais Nivia de Lima e, Segundo a qualidade de suas pessoas e fazenda:

Lopes, Eliane Marta Teixeira; Faria Fillho, Luciano; Veiga, Cyinthia Geive (ORGs) 500 anos de
educação no Brasil

Marcílio, Maria Luiza. A roda dos expostos e a criança abandonada na História do Brasil

Paiva, Eduardo França. Leituras (im)possíveis: negros e mestiços leitores na América


Portuguesa

Romeiro, Adriana; Botelho, Angela Vianna. Dicionário Histórico das Minas Gerais
Scarano, Julita. Criança esquecida das Minas Gerais. In Del Priore, Mary. História das crianças
no Brasil

Souza, Laura de Mello e. As câmaras, a exposição de crianças e a discriminação racial. In:


Norma e conflito: aspectos da História de Minas no século XVIII.

Souza, Laura de Mello e. Desclassificados do Ouro: a pobreza mineira no século XVIII.

Vidal, Diana Gonçalves; Faria Filho, Luciano Mendes de. História da Educação no Brasil: a
constituição histórica do campo.

Villalta, Luiz Carlos. Educação: nascimento, haveres e gêneros. In Resende, Maria Efigênia Lage
de. As Minas setecentistas

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