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© 2020 Mondru Editora
Edição
Juliana Matos
Jeferson Barbosa
Leonardo Triandópolis Vieira
Tamlyn Ghannan
Revisão
A
Juliana Matos
A D
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
IZ
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) AL
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18-21177 CDD-869.1
Ó
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C
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PREFÁCIO
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A
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AD
Pid qui ut undunti iscium non ped que nim quiae pero il-
Luptaquisqui in reptatibus sequis inciatur, et velende bi-
IZ
taque culles illant exerior remquia inciis voluptate porem
AL
volor adi doluptatur adit fugitata quibus audis dolorepre
N
A
optur?
AD
Em. Itatia quid que volesequi unt veni odi dolut iliquod quo
cum volum serum, ipsa coris eveliquatem ex ex et fugitat
IZ
landio blabo. Uptatent offictem quaspel estrunt que dolla-
AL
bo remodit la delignam enducilliam qui officto ius sam,
N
siti te con non eati quibus con nus, elene cum videmporro
et quid ut enimagnimus.
N
10 |
archicia quaepero comnis que si doluptatum arum rehent
hitat aut rest aute nonsequi nis et, simillorem iuntore ni-
maio consedi sae consecte cupit eum aut volorro te nis est
occullabo. Ut aut dolorias dicia con culparum que ventur
maio. Et et as aboribusam et est iumquae rsperio nsequasit
etur maximendamus asitatias suntota turiasp erumquam
reped mo diant audipsus, ut peri quunt venihitas samus
di re volorrovid que dolo berro officiis consecaturis dolora
A
cus autem. Verro quam qui des et voloris acepre conseri
AD
tatustiam et quid quam, untionsedi blab ius doloreicius.
Ped que re nimincia quae nonsedi tasperit ipsae vitatem
IZ
adia vel ma nimene rem autem. Ebitata nullaut qui ut et
AL
pelicto tature natum essi dem res velique natium venias es
N
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ÃO
APRESENTAÇÃO
FI
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AD
Unduciae consero omnimpos abora sequam iuntiat ibus-
IZ
cipsae peliqui busciendel iuntecte ium in reictiur, sequis
AL
pre volo omni doluptis sit vel mod ut quiatquis endam
N
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voluptate vit ullab intem rehendundis ipsum arum volup-
tas aborera ducient aut officim est dollorrunt evendel iur,
is aut asiminv ellorit, arum quaest de voloraesto comnit
autae volorerit, qui qui que qui omniaepro officat quunto
eos adit ent.
Alit, sin nis nonsedi tiuntium at arciaes repro quisitasi bla
pos sequae naturio reicipi cianist, illibusam simolupta cor
aut repersp elluptatur, veribus, et et quaerum nist fugiti
A
optur?
AD
Em. Itatia quid que volesequi unt veni odi dolut iliquod quo
cum volum serum, ipsa coris eveliquatem ex ex et fugitat
IZ
landio blabo. Uptatent offictem quaspel estrunt que dolla-
AL
bo remodit la delignam enducilliam qui officto ius sam,
N
siti te con non eati quibus con nus, elene cum videmporro
et quid ut enimagnimus.
N
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archicia quaepero comnis que si doluptatum arum rehent
hitat aut rest aute nonsequi nis et, simillorem iuntore ni-
maio consedi sae consecte cupit eum aut volorro te nis est
occullabo. Ut aut dolorias dicia con culparum que ventur
maio. Et et as aboribusam et est iumquae rsperio nsequasit
etur maximendamus asitatias suntota turiasp erumquam
reped mo diant audipsus, ut peri quunt venihitas samus
di re volorrovid que dolo berro officiis consecaturis dolora
A
cus autem. Verro quam qui des et voloris acepre conseri
AD
tatustiam et quid quam, untionsedi blab ius doloreicius.
Ped que re nimincia quae nonsedi tasperit ipsae vitatem
IZ
adia vel ma nimene rem autem. Ebitata nullaut qui ut et
AL
pelicto tature natum essi dem res velique natium venias es
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Ó SUMÁRIO
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A
A
Protestar – Enzo Fuji ______________________________ 23
AD
cidade – Elieni Caputo _____________________________ 27
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A Guasca – Diêgo Laurentino ________________________ 29
AL
N
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Naqueles dias - Henrique Cesar Cardoso do Couto _______ 83
A
Que democracia o abençoe - José Rodrigues ____________ 113
AD
Profilaxia - Renata Penzani __________________________ 117
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Terceira pessoa do plural - Renata Penzani _____________ 120
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protestar
quem há de entrar
entramos então na rua,
pedimos licença a quem se
A
encontrava desajustado,
AD
quase pouco integrado, parte oca,
IZ
dissemos-lhes, é aqui AL
um protesto com suspiros,
um protesto de respirar,
N
de revolução,
N
indelicadamente,
sorrindo aos outros,
A
PI
indelicado,
C
| 23
dissemos-lhes, será rápido,
é um protesto com suspiros,
um ato de respiração.
perguntaram-nos, que desejam.
dissemos-lhes, é pouco, custa
pouco, respirar como se fosse
A
suspirar ainda quer dizer alguma coisa.
AD
suspirar é ainda uma grande arte.
e respondeu-nos, deve de ser
uma crítica ao governo. e era sim.
IZ
AL
um protesto com suspiros, e os outros
N
um respeito.
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cidade
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[ perdido –
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A
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28 |
A Guasca
A
depois asfalto em piche,
AD
a cidade de concreto,
IZ
mas em uma de suas rachaduras: AL
uma guasca flori tímida.
É inverno e chove sempre,
N
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Grito
A
[-prego,
AD
De me corroerem as carnes e os meus olhos cegarem perante]
IZ
[ tamanha ignomínia social,
AL
De me doerem as entranhas na fome do pão retirado da minha]
[mesa.
N
[-das,
N
| 33
[de TV,
Somos um povo sem chão,
mas que brada por justiça,
Um povo obstruído, repisado, esmagado,
Mas somos do tamanho de todo o mundo.
A
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Oração ao Corpo Pleno
A
andemos nas águas
AD
IZ
Antes do fim das águas AL
sejamos as taças da ira
N
de balas, de açoites
C
de bits
| 37
As batidas que conduzem doem
nos ouvidos dos boçais
e batemos estacas e tambores até tremer o chão
A
Como ceifar os campos pelas daninhas
AD
derrubando toda transgenia
e da toga da injustiça
Ó
C
38 |
Faremos a comunhão
entre o pai, a mãe, os filhos, as filhas e eguns
derramando sangue apenas para lavar a terra
e lavrar a terra
A
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Raízes
Um menino caminha.
A
negra.
AD
Semente negra
IZ
para ser semeada AL
como se semeia a lua
como se semeia o sol.
N
FI
É na terra vermelha
ÃO
cai
floresce
A
PI
e renasce.
Ó
C
Renasce a semente
dos que deram voltas
ao redor dos baobás
dos que se jogaram ao mar
dos que sobreviveram à salgada travessia
dos que marcaram com suor o chão das lavouras
| 41
e com sangue o tronco.
Renasce a semente
Dos que protegeram suas crias junto ao peito
dos que tiveram as crias arrancadas dos braços
dos que tiveram os gritos abafados
e os cantos silenciados.
A
Renasce a semente
AD
dos que foram calados por amargas balas
dos esquecidos nos quartos de despejo
dos injustiçados,
IZ
AL
arrastados pelas ruas.
N
FI
Renasce a semente
ÃO
o menino para.
Suas negras mãos estão envelhecidas
Ó
C
- Já não é um menino
e a negra semente
se fez
raiz.
42 |
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46 |
Sobre aquilo que faz
manhãs
A
numa hora marcada
AD
ele sempre foi escuro, lá fora,
IZ
onde a luz já não alcançava
AL
Escuridão não transita
N
simplesmente é e
FI
sempre está
o que transita é a luz,
ÃO
Se perdemos os alertas
PI
| 47
um amanhecer
pois a luz que transita
e faz manhãs
essa nunca está lá fora
lá fora foi sempre escuro
tem quem anoiteça na própria noite
e no escurecer se esqueça
que a luz de há pouco
A
não viera de fora
AD
nem dali, do outro
A luz esteve na sombra
e ainda está
IZ
AL
numa sombra inquieta
N
e continuam sonhando.
N
A
PI
Ó
C
48 |
(r)existir
A
AD
Há de se romper com a pele
IZ
À espera das asas de uma desistência,
AL
pois há poder em renunciar-se a uma outra parte de si
N
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As folhas não são verdes
afinal?
A
AD
A esperança é capim
IZ
que cresce num pasto seco e morre.
AL
As folhas não são verdes afinal?
N
FI
| 53
Nossa bússola está bêbada de sal,
não passamos de calos nos pés dos furacões,
sedentos por sombra ou por um pouco qualquer
daquilo que os Mongoiós plantavam
em couro e passos ritmados.
Mas é tarde.
Quem inventou os bonecos de chumbo?
A
Quem nos inventou?
AD
Um grito na Síria, um estupro na Índia, um Pataxó assassinado,
um Sudanês mutilado, um tiro na Rocinha,
IZ
não é mais importante que a final do campeonato.
AL
Não é mais importante que o último capítulo da novela.
N
54 |
Cantos incessantes resistem nas copas dos chorões.
Pena não ser pau de tinta
para pintarmos nossas almas de vermelho
e descermos a ladeira da vida,
rumo ao sol agreste,
pisando de olhos fechados
em nuvens de poeira.
A
AD
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A
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PI
56 |
previsão do tempo
A
AD
IZ
AL
N
ares densos
ÃO
tempo encoberto
elevado risco de tormentas
A
PI
torrentes de gritos
C
possibilidade de pancadas
em caso de chuva de balas
inundação de rancor
atenção especial para fechar as janelas e
tirar as peças vermelhas do varal
| 57
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[tic-toc
A
[tic-toc
AD
Vila Alva, Vila Alva
IZ
[tic-toc AL
o ditante pede calma
o ditante pede calma
N
isso sim
ÃO
Vila Alva
temos outro tempo que não o do mundo
[tic-toc
flores, tragam mais flores
ditante na rua, tiros de paz
vamos, na vanguarda
| 61
saímos à calçada da nação
e agora, que se faz?
que tocam os sinos e treme a cidade
que os enfermos choram e a flora arde
debelam os pobres à flor da idade
[tic-toc
outro ponteiro
[tic-toc
A
espingarda em punho
AD
[tic-toc
segurança primeiro
[tic-toc
IZ
AL
N
[tic-toc
A
PI
guardem as máquinas
a munição pesada fica na caixa
livros?
que é isso?
dá-lhes uma achega
[tic-toc
mas qual tic-toc? já chega
62 |
vamos todo para casa
não notam que o sol já tarda?
os cravos não murcham
até para o ano, camarada
A
AD
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FI
ÃO
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PI
Ó
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Anauê
A
AD
I. Ah, Brasil…
IZ
AL
N
um fuzil,
teu nublado futuro, teu mito pueril, teu dizer sanguinário,
N
de mandar.
| 65
lobbies, hobbies, débeis bancadas de bíblia, bala e boiada,
tuas matas estão mortas e prensadas na maconha barata de
‘muricans bronzeados,
teu lema é punchline de piada,
teu futuro é duro, um furo e um tiro no escuro, dura, duram os
mesmos nomes no poder.
A
um nome na boca dos mendigos mortos de hipotermia e afoga-
AD
mento às seis da manhã,
um jogo de xadrez entre aristocrata, militar e burguês,
IZ
uma sentença de morte aos sem-terra, aos sem-teto, aos sem-
AL
-comida, aos sem- esperança,
N
66 |
II. a festa
Deus vincit: abençoado seja o povo das ruas, das cidades e das
luas brasileiras
que corta sua própria garganta com baionetas,
que bate a cara nos escudos de tropas de choque,
que glorifica e condena a marcha fascista enquanto marcha
como um fascista,
A
que se sacrifica às máquinas que rugem lotadas de desespero e
D
às chamas de Moloch,
A
que quebra estátuas de falsos ídolos com falsos ídolos nas
mãos,
IZ
AL
que comemora laico a bancada evangélica,
N
idiótica,
que se engana, que sofre, que morre, mata e é morto
N
porque tua luta, tua verdade e tua falcatrua são, na festa, con-
A
PI
| 67
III. acabou
A
no controle do imaginário, teus braços e pernas revoltados
AD
permanecem estáticos,
no palácio do planalto, entoam cantos a um deus macabro de
um olho,
IZ
AL
na favela do teu lado, soldados destroem barracos e infâncias.
N
FI
ÃO
N
A
PI
Ó
C
68 |
IV.
A
para ter fé em você, Brasil?
AD
Vila Alva
temos outro tempo que não o do mundo
IZ
AL
[tic-toc
N
vamos, na vanguarda
N
A
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FI
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A
Bücherverbrennung
A
Não gritou “Fogo em São Cristóvão”
AD
Na noite fria.
IZ
AL
Queimam as raízes
Do fracasso de um povo.
N
Queimam máscaras,
FI
Vestes, utensílios,
ÃO
Fósseis, teses,
N
Descendentes perdidos…
A
PI
Queima o esforço
Ó
Pátria bastarda,
| 73
Ignorada,
Salve a si mesma
De si mesma,
Inimiga da humanidade,
ISIS anti-ideológica.
A
AD
O debochado dito diz
Pra plantar uma árvore,
Escrever um livro
IZ
AL
E ter um filho
N
Depois da inescapável.
ÃO
São cortadas
Pra fazer a mesa de quem,
Ó
C
Na canetada,
Esquece a derrubada da Amazônia.
74 |
É bala no pente
E faca na caveira.
A
Quando for conveniente.
AD
Mas, ora, veja, que piada
Sem graça.
IZ
AL
N
Onde se morre
ÃO
Completamente,
Com “m” minúsculo,
N
Onde se morre
E ninguém pergunta
“Por quê?”.
Onde se morre
E ninguém pergunta
“Do quê?”.
| 75
Mata Marielle,
Mata José,
Mata Diego,
Mata Letícia,
Mata Gabriel
E ninguém pergunta “Quem matou?”.
A
O Brasil matou.
AD
E queimou os arquivos,
Como queima museus,
Universidades, teatros, livros…
IZ
AL
O Brasil matou e queimou.
N
FI
Poupe Pompeia,
ÃO
Verde-amarelo Vesúvio…
N
Queime a constituição,
Queime o presidente
Ó
C
Na noite abafada,
As quadrilhas de Nero
Assistem o resultado
76 |
De seu trabalho bem feito.
Reforma até a previdência,
Mas não os museus…
Marque os brasileiros,
A imprensa fascista
E a classe média escravocrata
Com o número da besta.
A
E quem tiver juízo o calcule,
AD
Pois é: 1199.
Ah, Brasil,
IZ
AL
Se até quem te deu tudo,
N
Hoje é cinzas,
FI
Serei o quê?
Ah, Brasil,
N
Ah, Brasil,
Tão pouco pau te resta
Ó
C
| 77
Mas a culpa é tua,
Não minha,
Por se repetir tanto,
Tantas anedotas de abandono e negligência…
A
Mais nenhum poema além desse aqui…
AD
Porque teus incêndios, Brasil,
São criminosamente
IZ
AL
Evitáveis,
N
78 |
Queimem-me como Kafka
Para que não receba mais
Menções honrosas da honra
De ser um lixo e de não ser bom,
De não ser bom o bastante.
A
Puta dos cidadãos de bem,
AD
Horrorizados com meu horror
E feridos por meu fracasso.
IZ
AL
Queimem-me como Kafka
N
As análises literárias
Ou os lamentos conservadores.
N
A
PI
Com a satisfação
De ver minha alma na pilha
Porque, nesse país, todo esforço é vão.
| 79
E tudo tira.
A
Vai que sobro por acidente
AD
E sirvo de memória
Pr’esse país inexistente.
IZ
AL
Queimem-me,
N
Conhecido ou não,
FI
Qualquer explicação
Para todas as merdas que engolimos.
N
A
PI
80 |
C
Ó
PI
A
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ÃO
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A
| 81
A
AD
IZ
AL
N
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ÃO
N
A
PI
82 |
Naqueles dias
A
[na carne.
AD
As chaminés da padaria atacavam o nosso ozônio.
IZ
AL
Naqueles dias palestravam sobre o ozônio
Enquanto os pirralhos atuavam os jogos de poder e submissão.
N
FI
| 83
Amantes teimosos de ablepsias.
A
pecado.
AD
Já não sei se ainda temos ozônio,
Mas os infantes ainda se alternam democraticamente entre os
papeis de polícia e ladrão.
IZ
AL
E apesar dos desvios, as águas discordantes morrem no abraço
N
impetuoso.
FI
É cômico, é desgostoso
A
PI
É óbvio, é turvo.
Ó
C
84 |
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
| 85
A
AD
IZ
AL
N
FI
ÃO
N
A
PI
Ó
86 |
GENTE DE BEM
Em ares de retorno
presenciei senhoras de respeito
diante do altar
clamando aos ventos do inverno,
A
dantescos,
AD
animalescos,
IZ
que a toda essa gente AL
viessem açoitar.
Em ares de regresso
N
no sagrado lar
ÃO
estúpidas,
violentas,
A
PI
viessem afogar.
C
Em ares de incipiência
testemunhei mulheres de saber
com hóstia pendular
implorando ao Triângulo de Afar,
sísmico,
maníaco,
| 87
que a toda essa gente
viesse derrubar.
Em ares de atrocidade
cassei profetas parlamentados
Excelentíssimos senhores e Excelentíssimas senhoras,
no alto do Altar
declarando ao Patrono dos Céus,
colérico,
A
estrepitoso,
AD
que a toda essa gente
viesse incinerar.
Em ares de barbárie
IZ
AL
escutei Milordes do ouro,
N
no protegido lar
ÃO
limpos,
A
PI
Em ares de loucura
Avistei falsos Messias,
Lobos acima de tudo e Egos acima de todos,
com crucifixo Czar
rezando ao Deus da Maioria,
falso,
odioso,
88 |
que a toda essa gente
viesse desonrar.
Contra os ares de ignorância
Acompanhei homens e mulheres,
irmãs e irmãos,
amigos e grandes amores.
Contra os ares de repulsa
lutei por Judas e Barrabás,
A
Joanas e D’arcs,
AD
Marielles e Môas.
Gritei por meus
camaradas-acusadores:
IZ
AL
tão cegos,
N
tão surdos,
FI
tão faladores.
ÃO
mutados,
transfigurados.
Ó
C
| 89
santíssimos rebanhos,
sobre o mais épico altar
gritando ao monumento antigo,
leproso,
raivoso,
que proteja somente a eles:
a toda esta gente de bem.
A
AD
IZ
AL
N
FI
ÃO
N
A
PI
Ó
C
90 |
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
| 91
A
AD
IZ
AL
N
FI
ÃO
N
A
PI
Ó
C
92 |
Nós
A
das botas grossas
AD
pequenas pedrinhas pontiagudas
IZ
que perfuram os mindinhos derrotadosAL
de seus pés.
N
de suas bocas
Ó
C
| 93
quando eles pararem
que sintam nos ombros
baixo as fardas pesadas
o peso da frivolidade de suas causas
que massacram os ânimos torpes
de suas idades
e nós
A
quando pararem, marchemos
AD
enquanto respirarem, lutemos
enquanto falarem, gritemos
quando caminharem, lembremos
IZ
AL
deles e de nós
N
FI
ÃO
N
A
PI
Ó
C
94 |
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
| 95
96 |
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
| 97
A
AD
IZ
AL
N
FI
ÃO
N
A
PI
Ó
98 |
triunfo
não grito
A
não resisto
D
A
IZ
estou certo da derrota AL
tanto quanto da impermanência
N
– tenho em mim
FI
cultivo revoltas
Ó
em fogo brando
C
| 99
e nós ainda estaremos aqui
sobre as ruínas
– triunfantes
A
DA
IZ
AL
N
FI
ÃO
N
A
PI
Ó
C
100 |
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
| 101
102 |
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
| 103
104 |
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
| 105
A
AD
IZ
AL
N
FI
ÃO
N
A
PI
Ó
106 |
Quermessy
A
Eu vi as bandeiras desfraldadas,
AD
Como muralhas de fraldas sujas,
IZ
No meio da pracinha de guerra, onde,AL
No domingo, morno como sangue,
Crianças tomavam sorvetes e balas.
N
FI
Eu vi a bandinha paramilitar
ÃO
| 107
Na confusão do corre-corre dos ratos
No meio da pirotecnia esfumada
Minha vontade era correr também
Mas minha vontade já não era minha
Nem minhas pernas, nem nada.
A
AD
IZ
AL
N
FI
ÃO
N
A
PI
Ó
C
108 |
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
| 109
A
A D
IZ
AL
N
FI
ÃO
N
A
PI
110 |
Insônia
A
os carneiros já foram contados
D
recontados
A
IZ
categorizados AL
por cor
tamanho
N
idade
FI
tentando prever
de que lado vai vir
A
PI
a próxima lança
Ó
o próximo soco
C
de braços
que já me abraçaram
mas se cansaram de fingir
que suportam
a minha existência
| 111
A
AD
IZ
AL
N
FI
ÃO
N
A
PI
Ó
C
112 |
QUE DEMOCRACIA O
ABENÇOE
A
Afagar-te-ás, criatura, em minhas asas.
AD
Torno-me a genitora em missão, crio-te atenta,
IZ
Vindes, sei, de vísceras apodrecidas; jazadas.
AL
Outorgue-me Democracia e abençoo-te opulenta.
N
FI
| 113
114 |
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
| 115
A
AD
IZ
AL
N
FI
ÃO
N
A
PI
116 |
Profilaxia
A
AD
Um poema que fale baixinho,
IZ
não atrapalhe o trânsito AL
contribua com o meio-ambiente, separe o lixo
Um poema sustentável
N
FI
melhore a circulação
N
Um poema diurético
Ó
C
| 117
Ao contrário:
o poema está descalço,
– até ele, imprevisivelmente mudo –
no meio da rua pede qualquer coisa como uma palavra
Tem uma pedra em cada mão
e com as duas faz malabarismos
A
AD
Ainda assim,
o poema civilizado
não usa as pedras
IZ
AL
para nada mais.
N
FI
ÃO
N
A
PI
Ó
C
118 |
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
| 119
Terceira pessoa do plural
O poeta me ensinou
que somos iguais em tudo na vida
que morremos um pouco por dia
de fome ou de frio
A
mas
AD
fome eles não conhecem
IZ
o frio já ouviram falar AL
para eles não precisa existir
primeira pessoa do plural
N
se pratique ensinamentos
que vêm dentro de um poema
A
PI
repousa esquecido
C
O poeta me ensinou
que somos iguais em tudo na vida
que morremos um pouco por dia
120 |
de fome ou de frio
A
como se dissessem sobre o mundo
AD
alguma coisa de verdade.
IZ
detestam miudezas - Eles, os grandes.
AL
aquelas que vêm disfarçadas
N
num verso
FI
na contramaré torcer
por essas canções escritas
Ó
C
embrulhar porcamente
umas palavras
nesse papel transparente
papel-manteiga fatigado do discurso de tanta gente que já quis
dizer
| 121
sobre o mundo alguma coisa de verdade
à mão de qualquer um que passe
e de repente desvie o olhar
do umbigo
A
AD
IZ
AL
N
FI
ÃO
N
A
PI
Ó
C
122 |
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
| 123
A
AD
IZ
AL
N
FI
ÃO
N
A
PI
124 |
JUS PUNIENDI
A
A urna eletrônica confirma:
D
A elite vive em torres de marfim
A
IZ
E elege com seu voto quem legisla AL
A fim de haver direito de punir.
N
| 125
A
AD
IZ
AL
N
FI
ÃO
N
A
PI
Ó
C
126 |
Cortaram minhas asas
A
AD
IZ
AL
N
FI
ÃO
N
| 127
128 |
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
| 129
130 |
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
| 131
132 |
C
Ó IMAGENS
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
A
Udis volenih iciisi il idunt vendebit dem est, simenient lab in ex
AD
eumquo ipsunt ipsam aut venis excerfe ruptaecus, que occae
IZ
veleces ciumque rem quiatquibus.
AL
Iberuntinti nat aut ut ommolupta excernam seceatur autatium
N
fugit parum quia volore etur mos alicilisi solupturem nobis aut
FI
ra pre pora dessita ssimusto odis id unt mi, untio modi dellat-
ÃO
quundi blaut abo. Rum fugiatu rionsedi odit dus et harum no-
N
| 133
134 |
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
AD
A
C
Ó
PI
A
N
ÃO
FI
N
AL
IZ
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A
| 135
A
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IZ
AL
N
FI
ÃO
N
A
PI
Ó
C
136 |