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Cristina Freire
MAC USP
São Paulo
2012
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Lourival Gomes Machado do Museu de Arte
Contemporânea da Universidade de São Paulo
“Não faço filosofia, senão vida”: Isidoro Valcárcel Medina no MAC USP: arte-
sociedade-arte-vida / organização Cristina Freire. São Paulo: Museu de Arte
Contemporânea da Universidade de São Paulo, 2012 (vol.II)
160 p. ; il. (MAC Essencial 4)
ISBN 978-85-7229-057-9
CDD – 759.0675
A Cidade e o Estrangeiro
Isidoro Valcárcel Medina em São Paulo 12
O Artista e a Viagem 14
O Museu e o Estrangeiro: Vanguarda Artística Internacional
nos Anos 1970 no MAC USP 17
O Artista e o Museu: Passado, Presente e Futuro. 18
Performance em Resistência
18 Fotografias/18 Estórias 23
Roteiro de Viagem de Isidoro Valcárcel Medina
pela América do Sul 24
Correspondência (1975–2012) 32
SOBRE as OBRAS 58
Entrevista 124
1 FREIRE, Cristina (org.). Hervé Fischer no MAC USP: arte sociológica e conexões: arte-
sociedade-arte-vida. Coleção MAC ESSENCIAL. São Paulo: Museu de Arte Contemporânea
da Universidade de São Paulo, 2012.
2 A Professora coordena o Grupo de Estudos Arte Conceitual e Conceitualismos no Museu
– GEACC – CNPq, integrado, entre outros estudantes por Adriana Palma, Arthur Medeiros,
Eduardo Akio, Emanuelle Schneider, Heloísa Louzada, Jonas Pimentel, Douglas Romão e
Carolina Castanheda.
Cristina Freire
Curadora
1 VALCÁRCEL MEDINA, I., Arquitectura Prematura, Fisuras. Madri, nº 8, p. 4-7, 2000 apud
FUNDACIÓ ANTONI TÀPIES, Ir y venir de Valcárcel Medina. Barcelona, 2002, p. 83.
2 Isidoro Valcárcel Medina (Murcia, Espanha, 1937). Vive e trabalha em Madri.
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O artista e a viagem
Isidoro Valcárcel Medina, então prestes a completar quarenta anos de
idade, deixa a Espanha e parte para uma viagem pela América do Sul.
Seu projeto é mobilizado pelo desejo de conhecer o continente e, para
tanto, conta com pouquíssimos recursos materiais. Não seria o primeiro
e nem o único. Para o Brasil já haviam viajado seus conhecidos Júlio
Plaza e Antoni Muntadas, naquela mesma década de 1970. Pelos con-
tatos com a rede de arte postal, Valcárcel Medina já era conhecido de
outros artistas latino-americanos tendo inclusive enviado trabalho para
a exposição Prospectiva’74, no MAC USP.
Seu projeto de arte é simples, mistura-se na sua própria vida e por isso
desloca-se com pouca bagagem. Antes da partida, buscando apoio
para a viagem, procura o Ministério das Relações Exteriores em Madri,
que oferece ajuda para o envio de seus quadros. Obviamente não havia
qualquer pintura ou coisa semelhante para despachar e Valcárcel
Medina lamenta, já de saída, o desencontro entre o sentido de suas
práticas artísticas conceituais e a inteligibilidade da arte, limitada às
concepções tradicionais.
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O Museu e o estrangeiro:
Vanguarda artística internacional
nos anos de 1970 no MAC USP
A vinda de Valcárcel Medina ao Brasil nos anos de 1970 torna tangível
uma cartografia pontuada por pessoas e instituições, que foram acolhe-
doras e disseminadoras da vanguarda internacional naquele momento,
na América do Sul.
Não raro, a relação de artistas com as instituições foi resultante de
uma equação desequilibrada, entre os parcos recursos materiais dispo-
níveis, a generosidade e o compromisso solidário entre artistas e críti-
cos, que construíram relações por meio da arte, pautadas na confiança
mútua e frequentemente distantes dos interesses do mercado.
5 VALCÁRCEL MEDINA, I. La memoria propia, es la mejor fuente de documentación. Madrid:
S.N., 1994. Disponível em: <http://www.uclm.es/cdce/sin/sin1/valcar1.htm>. Acesso em:
01 out. 2012.
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(...) Não mais a arte parcial e fragmentária, a arte para ser contemplada,
a arte-oasis, mas sim a arte para ser vivida, a arte habitada, a arte-tudo 6.
7 Idem.
8 O catálogo Ir y Venir de Valcárcel Medina é primeira publicação mais abrangente sobre
sua obra e acompanhou uma mostra antológica na Fundació Tàpies (Barcelona, 2002).
Vários dos trabalhos ali apresentados estão referidos nessa publicação que possibilitou
avançar no estudo de nosso acervo. Em 2012, a propósito da participação do MAC USP no
projeto 18 Fotografias/18 Estórias visitamos o artista em sua casa em Madri na companhia
da curadora basca Miren Jaio. (Veja entrevista nessa publicação).
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11 A patafísica, que deu origem ao Collège de Pataphysique, foi criada pelo dramaturgo
francês Alfred Jarry, autor do Ubu Rei, expressa-se através das ideias de seu personagem,
Doutor Faustroll. Disponível em <http://www.college-de-pataphysique.fr/presentation.
html>.Acesso em: 10 de out. 2012.
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1 O CAYC – (Centro de Arte y Comunicación) foi fundado por Jorge Glusberg em Buenos
Aires e agregou os artistas argentinos: Jacques Bedel, Luis Benedit, Gonzáles Mir, Victor
Grippo, Leopoldo Maler, Vicente Marotta, Alfredo Portilhos, Luis Pazos, Clorindo Testa, entre
outros. Através do grupo CAYC (inicialmente Grupo dos Treze) foram organizados debates,
eventos e exposições, especialmente com a participação de artistas latino-americanos. Fo-
ram frequentes projetos e exposições relacionando a arte às novas tecnologias. O CAYC
teve importante papel na divulgação da arte latino-americana no período da ditadura militar
na Argentina (1976–1983), promovendo exposições em Londres, Kassel, São Paulo entre
outras cidades.
2 Desde 1939, a Espanha esteve sob a ditadura franquista, após sua vitória na Guerra
Civil, o general Francisco Franco governou a Espanha do início da II Guerra Mundial até sua
morte em 1975.
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3 Presidente do Chile de 1970 a 1973, deposto por um golpe de Estado liderado por
Augusto Pinochet.
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1 Ver: PUJALS GESALÍ, Esteban. La medida de lo posible: arte y vida de Valcárcel Medina. In:
FUNDACIÓ ANTONI TÀPIES, Ir y Venir de Valcárcel Medina. Barcelona, 2002, p. 46.
2 VALCÁRCEL MEDINA, I. Texto de apresentação da exposição A continuação. Galeria
Seiquer, Madri, 1970 apud FUNDACIÓ ANTONI TÀPIES, Ir y Venir de Valcárcel Medina.
Barcelona, 2002, p. 133.
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1 In: La Medida de lo Posible: Arte y Vida de Valcárcel Medina. FUNDACIÓ ANTONI TÀPIES, Ir
y Venir de Valcárcel Medina. Barcelona, 2002, p. 49.
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Neste trabalho o artista realiza uma medição do rio Sena, Paris, por
meio de bolas coloridas atravessando vinte e seis pontes durante
3 horas. A ação teve início na Pont National, onde o artista, junto à
sua amiga Esther Ferrer, joga uma bola de plástico colorida na água e
começa a andar no sentido da correnteza do rio, jogando outra bola de
cor diferente a cada ponte e assim sucessivamente.
Esta ação urbana, considerada pelo artista como passeggiata (passeio),
estabelece uma relação lúdica com o espaço público. Desse modo,
Valcárcel Medina nos coloca em diálogo com uma noção excêntrica e
desviante do uso do espaço público, propondo outro modo de ocupação
e apropriação da cidade. Uma relação entre rigor, considerando que há
um método de análise por intermédio das bolas coloridas, e estranha-
mento, sobretudo do ato pretensamente objetivo de medir. A obra foi
exibida pelo MAC USP na exposição Poéticas Visuais (1977).
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Entrevistas, 1976
“Arte ambulante quando você perambula. Arte quieta quando estiver imó-
vel. Mas, a arte dos artistas, enquanto dure ou seja necessária, há de ser
ativa. Fica o elemento da consciência. É o que impossibilita a equação arte
= vida. Porque nem a arte repetitiva – de formas ou de atitudes – é vida
consciente, nem a vida mecânica pode estimar-se como comportamento
consciente”1
1 Manifesto del Arte Ambulante, Madri, 1976 Apud FUNDACIÓ ANTONI TÀPIES, Ir y Venir de
Valcárcel Medina. Barcelona, 2002, p. 149.
1 VALCÀRCEL MEDINA, I. Ley del Arte: Ley reguladora del ejercicio, disfrute y comercializa-
ción del arte. Valencia: Prefectura de Valencia, Sala Parpalló, 2008.
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1 Tradução baseada na versão publicada in: FUNDACIÓ ANTONI TÀPIES. Ir y venir de Valcár-
cel Medina. Barcelona, 2002, (Catálogo de Exposição), pp.64-65. Este texto participou do
Festival A Situação na Universidad Internacional Menédez Pelayo, em 1993.
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Cristina Freire
com a participação de Miren Jaio
Madri, Espanha, março de 2012.
Cristina Freire (CF): Isidoro, para mim é uma honra conhecer você.
Gostaria de conversar um pouco sobre sua experiência na América do
Sul: como foi que chegou lá, onde você foi e como foram os contatos.
Poderia nos contar um pouco?
Valcárcel Medina (VM): Sim, ainda que tenha se passado muito tempo,
acho que me lembro bem. Eu tinha um contato com o CAYC de Buenos
Aires e com o MAC de São Paulo. Assim, se organizou uma parceria
com a intenção de fazer exposições nos dois lugares, e além disso,
fazer trabalhos independentes na rua ou no museu. Aproveitando que
eu tinha que viajar para São Paulo e para Buenos Aires, fiz duas esca-
las: em Assunção e em Montevidéu, onde realizei alguns trabalhos.
Concretamente, o trabalho de São Paulo consistiu em uma exposição
que durou poucos dias no museu. Um dos meus trabalhos, com cer-
teza, não está documentado: nos jornais e nas rádios de São Paulo,
anunciou-se que havia um artista estrangeiro que queria fazer uma
visita à cidade e que ele estaria em um dia e hora determinados em um
ponto central de São Paulo, esperando aquelas pessoas que quisessem
me acompanhar pela cidade. E não foi ninguém. Eu sei o nome do lugar,
mas não me recordo agora... Era um lugar no qual existiam escadas –
um lugar bastante importante. Eu estava ali em cima e quando passou
uma hora e meia, eu disse: “Eu vou embora”. Essa foi a parte engra-
çada. Além disso, foi muito positiva essa experiência de falar com as
pessoas porque há alguma semelhança entre os dois idiomas, não?
Mas me comuniquei sem usar uma única palavra em português.
CF: Como foi esse projeto Entrevistas (1976)?
VM: Simplesmente, eu estava na rua, levava um microfone e dizia:
“Bom dia, por favor, você poderia falar comigo um pouco? Eu não sei
nada de português, mas gostaria de falar com você, é possível? Está
disposto?” A partir daí, a conversa durava cinco segundos ou meia
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Relógios, 1973
Relojes
Madrid: Edição do autor
off set sobre papel e
caixa de papel cartão,
365 pranchas, 9,8 x 9,8 x 5,8cm
Doação artista
Entrevistas, 1976
fita magnética 1/4 de pol., 43 min 17 s
Doação artista
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Exame, 1975
Examen
datilografia, esferográfica, grafite,
hidrográfica e off set sobre papel, fio de
nylon e fita adesiva colados sobre papel,
43 x 774 cm
Doação artista
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Miren Jaio
Bulegoa z/b
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DÍAZ CUYÁS, José. The Everyday Fact as Peripety. Afterall: A Journal of Art,
Context, and Enquiry, Chicago, n. 26, Spring 2011, p. 69-75.
MUSEO DE CIENCIAS Y ARTE DEL MÉXICO. Década del 70. Ciudad del
México, 1977. 1 v. (Catálogo de Exposição).
PÉREZ, David. Sin marco: arte y actitud en Juan Hidalgo, Isidoro Valcárcel
medina y Esther Ferre. València: Universidad Politècnica de València, 2008.
224 p.
PEREZ VILLÉN, Ángel Luis. Isidoro Valcárcel Medina. Lápiz, Madrid, n. 103,
1994, p. 73-74.
Infografia
ANAR i venir de Valcárcel Medina. Barcelona: Fundació Antoni Tàpies, 2002.
Disponível em:
<http://www.fundaciotapies.org/site/spip.php?ar ticle1050&var_
recherche=ir%20y%20venir>. Acesso em: 01 out. 2012.
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