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AULA 6
SEMIOLOGIA NEUROLÓGICA
Os neurônios motores inferiores têm seus corpos celulares localizados na medula espinhal
e são denominados células do corno anterior. Seus axônios transmitem impulsos através das
raízes anteriores que saem da medula (lembrar: anterior = motor e posterior = sensitivo) e por
nervos espinhais até os nervos periféricos, terminando na junção neuromuscular.
SISTEMA DE GÂNGLIOS DA BASE: inclui vias motoras situadas entre o córtex cerebral, os
gânglios da base, o tronco cerebral e a medula espinhal. Ajuda a manter o tônus muscular e a
controlar os movimentos corporais, especialmente os movimentos automáticos mais grosseiros,
como deambular. Não causa paralisia. Produz alterações no tônus muscular, distúrbios da
postura e da marcha, lentidão ou abolição de movimentos espontâneos e automáticos
(bradicinesia).
Essas três vias motoras fazem contato com as células do corno anterior da medula espinhal.
*Lesões do neurônio motor superior = tônus muscular aumentado, reflexos tendinosos profundos
exagerados.
TAYNARA LOPES – 3º PERÍODO 107
*Lesões do neurônio motor inferior = fraqueza e paralisia ipsilaterais, tônus muscular e reflexos
diminuídos ou ausentes.
O trato motor sai da área motora do cérebro. Próximo à medula ele se cruza
(decussação das pirâmides) – a maior parte do que está do lado direito vai para o lado
esquerdo e vice versa. O nervo vai transitar pelo canal medular. De onde ele sai para inervar as
regiões, há a primeira sinapse. Antes dessa primeira sinapse chama-se de neurônio motor
superior e depois da sinapse chama-se de neurônio motor inferior (o nervo que vai para a
periferia). Quando chega ao músculo, esse neurônio motor faz outra sinapse, que recebe o nome
de junção neuromuscular (JNM). Qualquer lugar que atinge esses neurônios leva a problemas
musculares no paciente e é necessário identificar a origem.
A lesão na junção neuromuscular aparece e desaparece, ou seja, varia ao longo do dia – não é
contínua e o paciente costuma ter diplopia (os músculos extrínsecos da acomodação visual
estão enfraquecidos e incapacitados de focar imagens) e ptose. Pensar em miastenia gravis e
botulismo.
CASO 1:
ID: G.B., 78 anos, aposentado, natural e residente de Curitiba, católico e com filhos.
O exame físico desse paciente deve ser reflexivo, ou seja, baseado nas hipóteses
diagnósticas (bem direcionado). Os exames musculoesquelético e vascular, além do exame
neurológico devem ser feitos.
EXAME NEUROLÓGICO
MARCHA: olhar o paciente ao entrar ou pedir para que ele ande no início do exame.
Consiste em ver o paciente andar de frente e de costas, pesquisando marchas características.
Observar a postura, o equilíbrio, o balanço dos braços e os movimentos das pernas.
Pedir para o paciente andar nas pontas dos pés e, em seguida, apoiado apenas nos
calcanhares. A marcha na ponta dos dedos dos pés e calcanhares pode revelar uma fraqueza
muscular distal nas pernas. A incapacidade de andar sobre os calcanhares é uma prova sensível
da lesão do trato cortico-espinhal.
*Ataxia cerebelar. É uma marcha sem coordenação, cambaleante e instável. Pode ser decorrente
de uma doença cerebelar, perda do sentido posicional ou intoxicação. É pouco firme e de base
ampla, com dificuldade exagerada nas curvas. O paciente não consegue andar com firmeza com
os pés juntos, quer os olhos estejam fechados ou abertos. Paciente apresenta dismetria,
nistagmo e tremor intencional associados. A ataxia pode ser evidenciada ao realizar o teste da
fila indiana – pedir para o paciente andar em linha reta com os dedos de um dos pés tocando
o calcanhar do outro pé.
*Marcha em tesoura. Há espasticidade bilateral nas extremidades inferiores, com espasmo adutor
e propriocepção anormal. A marcha é rígida. O paciente avança cada perna lentamente e as
coxas tendem a cruzar adiante uma da outra a cada passo. Os passos são curtos e os
pacientes parecem estar caminhando dentro da água.
*Marcha parkinsoniana. A postura é inclinada para frente, com flexão da cabeça, dos braços,
quadris e joelhos. Os passos são curtos e arrastando os pés, com aceleração involuntária.
*Ataxia sensorial. O paciente perde o sentido posicional das pernas. A marcha é pouco firme e
de base ampla (pés bem separados). Os pacientes jogam os pés para a frente e para fora e os
colocam no solo primeiro com os calcanhares. Olham para o chão, procurando orientação ao
caminhar. Não conseguem ficar de pé com os olhos fechados e com os pés unidos (sinal de
Romberg positivo).
O tônus é medido pela resistência que o paciente oferece aos movimentos passivos que
o examinador tenta fazer.
*Flacidez. Quando o tônus muscular está diminuído ou ausente. Indica lesão de neurônio motor
inferior ou fase aguda de lesão de neurônio motor superior.
*Paratonia. É uma rigidez constante, o paciente não consegue relaxar a musculatura em nenhum
momento e com nenhum movimento
REFLEXOS: costumam ser feitos antes de todos os outros porque o tônus muscular e a
força podem altera-los. Podem estar normais, diminuídos ou aumentados. Os reflexos profundos
podem ser analisados com diversos tipos de martelos. Consiste em bater nos ligamentos,
tendões ou músculos, procurando a resposta do arco-reflexo. São divididos em (a) profundos e
(b) cutâneos. Ambos precisam que o paciente esteja relaxado.
4+ reflexos muito rápidos, hiperativos e com clono (oscilações rítmicas entre flexão e
extensão).
2+ reflexo normal.
*Hiper-reflexia. Reflexo aumentado. Sugere lesões do sistema nervoso central ao longo do trato
cortico-espinhal descendente. Associar com neurônio motor superior, fraqueza, espasticidade ou
sinal de Babinski positivo. Pesquisar presença de clônus (ou clono) do tornozelo.
*Clônus no tornozelo: apoiar o joelho na posição de flexão parcial, com a outra mão
efetuar a dorsiflexão e a flexão plantar do pé algumas vezes, ao mesmo tempo em que
pede para o paciente relaxar. Em seguida, fazer uma dorsiflexão súbita do pé e mantê-lo
nessa posição. Pesquisar e palpar a presença de oscilações rítmicas entre a dorsiflexão e
a flexão plantar. O tornozelo não reage a esse estimulo na maioria dos indivíduos
normais.
*Hiporreflexia ou ausência de reflexos. Indicam doenças das raízes nervosas espinhais, nervos
espinhais, plexos ou nervos periféricos. Associar com neurônio motor inferior, fraqueza, atrofia e
fasciculações.
FORÇA MUSCULAR: pedir para o paciente fazer determinado movimento. Testar todos
os grupamentos musculares de interesse. Sempre comparar um lado com o outro. Testar os
movimentos passíveis do musculo de flexão, extensão, abdução e adução. Solicitar ao paciente
que se movimente ativamente contra sua resistência ou que tente resistir aos movimentos
passivos que você tenta fazer.
4 = vence a gravidade, mas oferece algum grau de resistência (ao puxar o movimento do
paciente, minha força vence a dele)
Fazer o teste da preensão, pedindo que o paciente aperte dois de seus dedos o mais
forte possível (evitar se machucar).
Testar extensão e flexão do joelho, solicitando que o paciente estique a perna contra sua
resistência e flexione a perna contra sua resistência.
*As doenças reumatológicas podem causar fraqueza muscular também – a característica dessa
fraqueza, além da dor, é ser maior na região proximal em relação à distal.
Comparar regiões simétricas dos dois lados do corpo, regiões distais com as proximais e
a lesionada com a normal.
*Hipoestesia é a diminuição da sensibilidade. O paciente diz que não sente mais as pernas, por
exemplo.
apenas pelo tato. Sempre com os olhos fechados. Se ele não reconhecer, diz-se
que tem astereognosia.
A grafestesia é a capacidade de o paciente identificar números e letras
desenhados na palma da sua mão. Desenhar um número ou uma letra na mão
do paciente, com os olhos fechados, e perguntar se ele consegue identificar
qual é.
A discriminação de dois pontos é feita tocando em dois pontos do paciente,
com alguma distância entre si e perguntar se o paciente sente os dois.
A localização de pontos é feita quando você pede para o paciente fechar os
olhos e toca em alguma parte de seu corpo. Depois pede para ele abrir os
olhos e indicar onde sentiu o toque.
O conhecimento dos
dermátomos também
ajuda a localizar as
lesões neurológicas a
um nível especifico da
medula espinhal, es-
pecialmente em trau-
matismos raquimedula-
res. Dermátomo é uma
faixa de pele inervada
pela raiz sensorial de
um único nervo espi-
nhal. A análise dos
dermátomos permite
identificar a área de
alteração de sensibili-
dade a partir de qual
inervação foi acome-
tida.
- Movimentos alternantes rápidos: pedir para o paciente bater com o dorso da mão sobre
a coxa, levantar a mão e virá-la e, em seguida, bater no mesmo lugar da coxa com a palma da
mão voltada para baixo. Tentar fazer esse movimento o mais rápido possível. Avalia a cinesia.
- Movimento ponto a ponto: (1) índex-nariz – solicitar ao paciente que toque seu indicador
em seu nariz, (2) índex-índex – fixar seu dedo em frente ao paciente e pedir que ele toque
nesse dedo e depois em seu nariz e (3) calcanhar-canela – pedir para o paciente colocar um
dos calcanhares sobre o joelho oposto e desliza-lo pela canela até o hálux. Os três avaliam a
metria do paciente e se estiverem alterados, indicam dismetria.
*Teste de Romberg. Testa o sentido de posição. O paciente deve ficar inicialmente de pé, com
os pés juntos e os olhos abertos e, em seguida, fechar os dois olhos durante 30 a 60
segundos, sem apoio. Observar a capacidade de o paciente manter sua postura ereta. É normal
verificar algumas pequenas oscilações. É positivo quando o paciente perde o equilíbrio ao fechar
os olhos nessa posição. Se o paciente já está com desequilíbrio com os olhos abertos, pensar
em lesão cerebelar.
*Sinal do rebote. Pedir para o paciente fazer força de contração com os braços flexionados em
frente ao tórax e oferece resistência, puxando para fora e pedindo para ele continuar fazendo
força – soltar de repente para verificar se o paciente vai ter o reflexo de não parar o
movimento antes de se bater.
*Nistagmo. É o movimento involuntário dos olhos – o nistagmo central é para todos os lados
(envolve o cerebelo), enquanto que o periférico é um único movimento apenas (nervo vestibular
do 8º par craniano).
TAYNARA LOPES – 3º PERÍODO 117
PARES CRANIANOS
NERVO OLFATÓRIO. O teste é feito com odores, pedindo para o paciente reconhece-los. É
comum embeber algodão com álcool e pedir para o paciente cheirar ou um copo de
café, que são cheiros bem característicos. Antes do teste, ocluir uma das narinas e
verificar se nenhuma delas está obstruída por desvio de septo, pólipos e secreções.
O paciente deve estar com os olhos fechados. Em seguida, ocluir uma das narinas e
testar o olfato da outra com a substância de odor característico. Perguntar se o paciente
(1) sente o cheiro e (2) reconhece a que pertence.
NERVO ÓPTICO. São realizados três testes para esse nervo: (a) acuidade visual, (b) fundo
de olho por oftalmoscopia e (c) campos visuais.
a. ACUIDADE VISUAL: se o paciente usa óculos, eles
devem ser mantidos no rosto. Usa-se a tabela de
Snellen ou pede para o paciente ler algumas placas
do consultório ou do hospital.
b. FUNDO DE OLHO: avaliar se existe alguma patologia
e, principalmente, o disco óptico, que contém o nervo
em si. Palidez no disco óptico pode indicar atrofia do
nervo e saliência do disco, papiledema.
c. CAMPOS VISUAIS: avaliar os polos temporais e nasais
da visão a partir da movimentação dos dedos ao
longo de 180 graus ao redor do paciente, analisando
até que ponto ele consegue enxergar os dedos.
terceiro par craniano porque a intensidade luminosa é percebida pelo nervo óptico e a
miose é feita pelo nervo oculomotor.
NERVO TRIGÊMEO. Para testar sua inervação motora, pedir para o paciente cerrar os
dentes, palpando o musculo temporal e o masseter. No teste da inervação sensorial, testa
a sensibilidade de toda a face, tanto tátil (apenas encostar um objetivo ou os próprios
dedos) quanto dolorosa (espetar alguns pontos delicadamente). Os olhos do paciente
devem permanecer fechados. Tomar cuidado para não machucar o rosto do paciente
porque é uma região mais sensível.
Reflexo do trigêmeo: percutir o mento do paciente, com ele de boca aberta, e perceber um leve
fechamento da boca.
TAYNARA LOPES – 3º PERÍODO 119
NERVO FACIAL. Pedir para o paciente fazer caretas. Já é visível alguma alteração na
inspeção da face e enquanto o paciente fala. Pedir para o paciente enrugar a testa,
levantar as sobrancelhas, fechar bem os dois olhos e fazer resistência à tentativa de abri-
los, mostrar os dentes superiores e inferiores, sorrir e inflar as bochechas com ar.
o Lesão central – afeta a região inferior da face. O desvio da rima bucal acontece
para o lado da lesão (é o lado que não está paralisado) – é ipsilateral. O olho se
fecha, com discreta fraqueza, a testa enruga e a sobrancelha se eleva.
o Lesão periférica – afeta a região superior e inferior da face. O desvio da rima
bucal acontece para o lado oposto da lesão (a lesão acomete o lado que está
paralisado) – é contralateral. Há, ainda, perda do paladar, hiperacusia, aumento ou
diminuição do lacrimejamento. O olho não fecha, o globo ocular fica girado para a
cima. A testa não enruga e a sobrancelha não se eleva.
Esse nervo também confere função sensitiva do gosto aos 2/3 anteriores da língua
(identificar se o paciente sente gostos diferentes, como amargo ou doce).
NERVO VESTIBULOCOCLEAR. O coclear é testado por teste de Weber e Rinne e pelo teste
do sussurro (se o paciente ouvir o sussurro, os outros não precisam ser feitos – o ideal
é sempre tapar um dos ouvidos e fazer barulhos extremamente baixos no ouvido
contrário). O nervo vestibular é testado pelo teste de Romberg, principalmente em casos
de nistagmo e vertigens.
O palato não se eleva na lesão bilateral do nervo vago. Na paralisia unilateral, um lado
não se eleva e é tracionado para o lado normal, junto com a úvula.
Pedir para o paciente girar a cabeça para os dois lados, fazendo força contra sua mão.
Observar a contração do esternocleidomastoideo oposto e notar a força do movimento
contra a sua mão.
NERVO HIPOGLOSSO. Checar a mobilidade e a força muscular da língua (pede para ele
empurrar as bochechas com a língua). A língua quando projetada para fora se desvia na
direção lesão.
Lesão de neurônio motor superior do trato piramidal: paciente com tônus com hipertonia
(espasticidade e sinal do canivete positivo), hiper-reflexia patelar e de Aquileu (reflexos
patológicos), podem apresentar clônus, hemiplegia ou hemiparesia contralateral (se já tiver
cruzado na medula) ou do mesmo lado se for antes da medula. Quadro típico de AVC.
Lesão de neurônio motor inferior: são polineuropatias dos nervos periféricos. O tônus muscular
vai estar diminuído (flacidez), diminuição dos reflexos, sem reflexos patológicos (sem Babinski),
perde sensibilidade, há atrofia muscular (do lado da alteração nervosa), plegia ipsilateral e
fasciculações (movimento involuntário de uma região muscular especifica).
ANÁTOMO-CLÍNICO
CASO CLÍNICO 1:
Paciente encontrada em casa, sexo feminino, desmaiada, sem traumatismo, por volta dos 20 a
30 anos de idade. PA de 170x110, FC de 45 bpm, T 37°C, FR de 8 rpm e saturação 94%.
Até que provem o contrário essa paciente tem lesão de coluna cervical, portanto, é
preciso averiguar. A primeira coisa a se fazer, portanto, é imobilizá-la. Além disso, deve ser feito
exame de glicemia, para saber se a possível causa do desmaio foi por hipoglicemia. Porém, o
que fala contra hipoglicemia nesse caso é ausência de sudorese e taquicardia. Logo, é preciso
obter um histórico fiel sobre essa situação, tentando saber o que aconteceu antes, durante e
depois da síncope.
*Anisocoria e fixa: pupila não fotorreagente. Nesses pacientes não tem como fazer
acomodação. Geralmente isso ocorre por lesão ou compressão de III NC (oculomotor). A
compressão do nervo pode ocorrer por herniação do lobo temporal
*Isocoria, média e fixa: pupilas iguais, de tamanho médio e sem reflexo fotorreagente e
consensual. Lesões de mesencéfalo geralmente fazem isso, ou até em morte cerebral.
*Isocoria, reagente e miose: a reação é sútil. Ocorre devido a intoxicação por opióides, ou
lesão de ponte.
SÍNDROME DE HORNER: paciente apresenta ptose, miose e anidrose (olho seco) e tumor no
pulmão (lobo superior direito) – ocorre compressão do gânglio estrelado. Disfunções são
ipsilaterais.
ARGYLL ROBERTSON: ocorre em pacientes com sífilis. Pupila puntiforme (miótica), sem
reflexo luminoso, mas com acomodação preservada.
SINAL DE “LA SEGUE” PARA MENINGITE: ao levantar a perna do paciente, ele refere
dor no pescoço – indica inflamação meníngea.