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1 INTRODUÇÃO
A política de preços dos combustíveis fósseis no Brasil e as consequentes
imprevisibilidades associadas têm gerado debates entre diversos atores políticos
e privados. No começo da década de 2010, foi posta em prática uma política de
preços de combustíveis fósseis descolados dos preços internacionais com o intuito
de controlar a inflação. Como resultado, eles ficaram relativamente mais baixos em
relação aos padrões internacionais. Desde 2016, em contraponto a esse cenário,
houve no Brasil uma mudança política radical, que fez com que os preços de
derivados do petróleo fossem atrelados aos padrões internacionais, o que elevou
os preços no país. O controle de preços da gasolina estava associado ao paradigma
novo desenvolvimentista, que pautou uma maior intervenção governamental na
economia a partir de 2004, por meio de políticas setoriais específicas (Vieira Filho e
Fishlow, 2017). Nesse contexto, a Petrobras foi acionada para mitigar o incremento
das taxas de inflação de 2011 a 2014, durante o primeiro mandato de Dilma
Rousseff. O uso da Petrobras como instrumento de política foi potencializado pelo
fato de a estatal praticamente possuir o monopólio do refino e da distribuição de
combustíveis fósseis no Brasil.
O primeiro contexto de política de preços dos combustíveis fósseis afetou os
produtores de etanol brasileiros, haja vista que o setor perdeu competitividade ante
os preços mais baixos da gasolina, produto substituto do etanol. Nesse sentido, esse
cenário estimulou o uso de combustíveis fósseis em detrimento de combustíveis
de fontes renováveis. Segundo Hayami e Ruttan (1985), a mudança nos preços
relativos influencia as trajetórias tecnológicas, o que foi tratado por um arcabouço
de inovação institucional induzida. Com o aumento no preço dos combustíveis
1. Professor adjunto da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG), com atuação no Programa de
Pós-Graduação em Agronegócio (PPAGRO) e no Programa de Pós-Graduação em Economia (PPE), ambos da UFG.
E-mail: <marcelo.ferreira@ufg.br>.
2. Técnico de planejamento e pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur)
do Ipea; diretor de programa da Secretaria Executiva do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa); e professor do Programa de Pós-Graduação em Agronegócio da Universidade de Brasília (Propaga/UnB).
E-mail: <jose.vieira@ipea.gov.br>.
Para contornar essa situação, o governo federal editou a Medida Provisória no 832,
de 27 de maio de 2018, que, por sua vez, deu origem à Resolução no 5.820, de 30 de
maio de 2018, estabelecendo preços mínimos para o frete no Brasil.
Diante dos cenários apresentados, este capítulo busca: i) analisar a relação
entre a demanda por etanol no Brasil considerando a elasticidade-preço cruzada da
gasolina contida na literatura; ii) contextualizar as principais variáveis no mercado
de transporte rodoviário de carga; e iii) avaliar a política de preço mínimo do frete
implantada como resposta à greve dos caminhoneiros.
Além desta breve introdução, a argumentação está dividida em uma seção
abordando a perspectiva histórica da atuação da Petrobras nos últimos anos.
Em seguida, discute-se a relação entre a demanda de gasolina e etanol hidratado
e os respectivos preços. As implicações do preço do diesel e da política de preços
mínimo do frete sobre o setor de transporte rodoviário de carga são apresentadas
em uma seção posterior. Por fim, seguem as principais considerações e sugestões
de políticas públicas.
3. Apesar de o monopólio legal da Petrobras na exploração de petróleo no Brasil ter sido revogado em 1997, a empresa
se apresenta como único player de relevância no setor, sobretudo no refino de petróleo.
4. Um exemplo da atuação da Petrobras junto ao PNPB foi a tentativa de inserção de pequenos produtores de mamona
do Semiárido nordestino na cadeia de produção do biodiesel. Não obstante os esforços da empresa em fomentar a
atividade na região, não houve crescimento expressivo na produção. Essa falta de efetividade das ações da Petrobras
foi decorrente de diversos custos de transação existentes (Watanabe, Bijman e Slingerland, 2012), que a empresa teve
dificuldade em contornar, e das instabilidades causadas no mercado associadas ao PNPB (César e Batalha, 2010; Ferreira,
Daniel e Lima, 2015), que afastaram potenciais agricultores da cadeia de produção de biodiesel.
5. Embora relevante, não se pretende aprofundar na discussão a operação Lava Jato, que teve um papel central no
combate à corrupção, com desdobramentos econômicos na atividade produtiva setorial.
2014, os lucros menores de 2011 a 2014 foram associados à política de preços dos
combustíveis e à política de investimentos da companhia. Cabe destacar, também,
que as reduções observadas nos lucros neste período se deram em um contexto de
aumento de capital e da dívida da empresa. Assim, a queda nos lucros foi ainda mais
prejudicial, pois representava uma redução na remuneração do capital e na capacidade
de a empresa honrar os compromissos financeiros. Apesar de a maior dívida líquida e
o menor lucro não serem observados no período de vigência da política de controle de
preços, é naquele momento que se nota uma reversão de tendências.
GRÁFICO 1
Dívida e lucro líquidos nominais da Petrobras (2006-2018)
(Em R$ bilhões)
20 Política de Fim 450
controle de preços 2015q1 400
10
350
0 300
Início
Dívida
Lucro
2011q1 250
-10
200
-20 150
100
-30
50
-40 0
Mar./2007
Mar./2014
Maio/2008
Maio/2015
Ago./2006
Ago./2013
Abr./2011
Abr./2018
Out./2007
Jun./2012
Out./2014
Dez./2008
Dez./2015
Jan./2006
Jan./2013
Nov./2011
Jul./2009
Jul./2016
Fev./2010
Fev./2017
Set./2010
Set./2017
Lucro Dívida
A partir de 2015, fica difícil distinguir as reais causas dos lucros negativos,
pois boa parte se deveu ao reconhecimento no balanço patrimonial de perdas
causadas por corrupção nos anos precedentes. Não obstante, observa-se tendência
de crescimento no lucro líquido a partir de 2016 – consequência da mudança
da política de preços e da revisão das ações de investimento. Uma outra ação
tomada por parte da diretoria foi o estabelecimento de regras mais restritivas para
a liberação de recursos. Em outras palavras, a reversão das políticas praticadas no
começo da década de 2010 melhorou a situação financeira da Petrobras, uma vez
que se observa redução na sua dívida líquida e aumento no lucro a partir de 2016.
Um outro ponto que contribuiu sobremaneira para a redução da lucratividade da
empresa foi a queda observada nos preços do petróleo. Em junho de 2014, o preço do
barril de petróleo West Texas Intermediate (WTI) no Texas (referência internacional)
estava em US$ 105,24. Após quedas sistemáticas, atingiu o nível mais baixo em fevereiro
de 2016 – US$ 30,39/barril. Essas quedas estavam associadas ao aumento da produção
6. Um BEP representa cerca de 260 litros de etanol hidratado ou 196 litros de gasolina C. Essa medida é muito
utilizada em trabalhos de demanda de combustíveis para colocar todas as informações na mesma base de comparação.
Disponível em: <http://www.anp.gov.br/images/publicacoes/anuario-estatistico/2015/76748.pdf>.
GRÁFICO 2
Preços do etanol hidratado e da gasolina C (2003-2018)
(Em R$/BEPs)
1.100 Política de
controle de preços Fim
Início
1.000 2/2015
1/2011
900
800
700
600
Out./2003
Out./2006
Out./2009
Out./2012
Out./2015
Out./2018
Abr./2005
Abr./2008
Abr./2011
Abr./2014
Abr./2017
Jan./2003
Jan./2006
Jan./2009
Jan./2012
Jan./2015
Jan./2018
Jul./2004
Jul./2007
Jul./2010
Jul./2013
Jul./2016
Etanol hidratado Gasolina
Fonte: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Disponível em: <http://www.anp.govbrprecose-
defesa/234-precos/levantamento-de-precos/868-serie-historica-do-levantamento-de-precos-e-de-margens-de-comercializacao-
de-combustiveis>.
Elaboração dos autores.
Obs.: Os preços foram deflacionados pelo Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) da Fundação Getulio Vargas
(FGV) obtidos junto ao Ipeadata. Disponível em: <http://ipeadata.gov.br/Default.aspx>.
GRÁFICO 3
Consumo de etanol hidratado e de gasolina (2003-2018)
(Em BEPs milhões)
8 250
Política de
Início
7 controle de preços
1/2011
200
Etanol hidratado
6
5
Gasolina
150
4
3 100
2 Fim
2/2015 50
1
0 0
Maio/2010
Mar./2012
Ago./2007
Ago./2018
Abr./2011
Out./2005
Out./2016
Dez./2003
Dez./2014
Jan./2003
Jan./2014
Nov./2004
Jul./2008
Jun./2009
Nov./2015
Set./2006
Fev./2013
Set./2017
Fonte: ANP.
Elaboração dos autores.
TABELA 1
Estimativas da elasticidade cruzada da demanda por etanol com o preço da gasolina
Trabalho Periódico Período Elasticidade
Iootty, Pinto Junior e Ebeling (2009) Energy Policy 1970-2005 8,1
Freitas e Kaneko (2011a) Energy Policy 2003-2010 0,589-2,325
Freitas e Kaneko (2011b) Energy Economics 2003-2010 1,99
Santos (2013) Energy Economics 2001-2010 7,99
Gomez e Legey (2015) Energy 2001-2011 Variável
Rodrigues, Losekann e Silveira Filho (2018) Energy Economics 2001-2016 0,63-1,86
Cardoso et al. (2019) Energy Policy 2001-2014 0,296-2,323
gastos das famílias. Atrelado a isso, o etanol seria considerado um bem inferior à
gasolina para uma parcela dos consumidores.
Essa hipótese é consonante com achados da literatura recente. Salvo e
Huse (2013) argumentam que questões relacionadas a menor autonomia dos
carros abastecidos com etanol hidratado levam motoristas de maior renda
(isto é, com maior custo de oportunidade do tempo) e motoristas que viajam
maiores distâncias a abastecer com gasolina a fim de reduzir as idas aos postos de
gasolina. Ainda nesse sentido, os autores indicam que consumidores mais velhos
e preocupados com questões mecânicas também evitam abastecer com etanol.
Em um sentido inverso, consumidores preocupados com questões ambientais e
com o consumo de combustível produzido localmente estão mais propensos a
abastecer com etanol. Assim, o conjunto de consumidores é bastante heterogêneo,
e a usual relação 0,70 do preço do etanol sobre o preço da gasolina, apesar de
relevante na tomada de decisão, não representa unicamente as preferências dos
consumidores. Em outras palavras, o etanol hidratado e a gasolina não seriam
substitutos perfeitos. Essa heterogeneidade também foi observada no mercado
americano (Anderson, 2012).
Dessa forma, à medida que o preço da gasolina aumenta, uma parcela maior
desses consumidores decide consumir o etanol em substituição à gasolina, por
meio de um efeito renda. Dessa maneira, a base de consumidores de etanol é
maior (ou menor) e menos (ou mais) sensível ao preço da gasolina quando ele está
elevado (ou baixo). Assim, o período de preços baixos da gasolina indicaria uma
enorme perda de competitividade do etanol, e isso ocorre porque o potencial de
substituibilidade da gasolina ante o etanol seria relativamente maior. Para lidar com
essa realidade, as usinas teriam que reduzir o preço de maneira mais substancial,
de modo a não perder uma parcela de mercado. Uma segunda implicação estaria
associada ao desincentivo do uso de combustíveis renováveis, haja vista que a gasolina
estaria mais atrativa para uma gama maior de consumidores. De forma oposta, a
política de preços vigente nos últimos anos estaria favorecendo as usinas de etanol
e, consequentemente, o consumo de combustíveis renováveis. De certa forma, esse
comportamento pode ser observado nos gráficos 2 e 3, em que houve uma retração
substancial no consumo de etanol em razão dos preços baixos e um crescimento
à medida que os preços aumentaram, a partir de 2018. A verificação dessa não
linearidade da elasticidade cruzada, todavia, deve ser feita por procedimentos
econométricos adequados, como foi feito nos trabalhos expostos na tabela 1.
De maneira geral, as análises indicam que a sensibilidade da demanda de
etanol ao preço da gasolina no Brasil pode estar condicionada ao nível de preço da
gasolina. Isso traz algumas implicações. Primeiramente, os preços altos da gasolina
observados de 2003 até meados de 2008 foram um fator importante para alavancar o
GRÁFICO 4
Preços reais do diesel no Brasil no atacado e no varejo (jul./2001-jan./2019)
(Em R$/l)
4,2
4,0
3,8
3,6
3,4
3,2
3,0
2,8
2,6
2,4
Jul./2001
Abr./2002
Jan./2003
Out./2003
Jul./2004
Abr./2005
Jan./2006
Out./2006
Jul./2007
Abr./2008
Jan./2009
Out./2009
Jul./2010
Abr./2011
Jan./2012
Out./2012
Jul./2013
Abr./2014
Jan./2015
Out./2015
Jul./2016
Abr./2017
Jan./2018
Out./2018
sazonalidade do PIB, observa-se que essa variável “andou de lado” ao longo dos
últimos anos. Esse cenário macroeconômico afetou os serviços de transporte no
Brasil, reduzindo a demanda por frete rodoviário.
GRÁFICO 5
PIB brasileiro real por trimestre (1o trim./2011-3o trim./2018)
(Em R$ bilhões)
1.950
1.900
1.850
1.800
1.750
1.700
1.650
1.600
1.550
1.500
Jan./2011
Maio/2011
Set./2011
Jan./2012
Maio/2012
Set./2012
Jan./2013
Maio/2013
Set./2013
Jan./2014
Maio/2014
Set./2014
Jan./2015
Maio/2015
Set./2015
Jan./2016
Maio/2016
Set./2016
Jan./2017
Maio/2017
Set./2017
Jan./2018
Maio/2018
Fonte: Ipeadata. Disponível em: <http://ipeadata.gov.br/Default.aspx>.
Elaboração dos autores.
GRÁFICO 6
Licenciamentos de caminhões e ônibus no Brasil (2001-2019)
(Em 1 mil unidades)
18
16 Crise
14 2015
12
10
8
6
4
2
0
Mar./2005
Mar./2010
Mar./2015
Maio/2004
Maio/2009
Maio/2014
Jan./2001
Jan./2006
Jan./2011
Jan./2016
Nov./2001
Nov./2006
Nov./2011
Nov./2016
Jul./2003
Jul./2008
Jul./2013
Jul./2018
Set./2002
Set./2007
Set./2012
Set./2017
Caminhões Ônibus
Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Disponível em: <http://www.anfavea.combr/
docs/SeriesTemporais_Autoveiculos.xlsm>.
Elaboração dos autores.
GRÁFICO 7
Consumo de diesel no Brasil (2001-2018)
(Em BEPs milhões)
35 Fim
2015
30
25
20
15
Abr./2003
Abr./2006
Abr./2009
Abr./2012
Abr./2015
Abr./2018
Out./2001
Out./2004
Out./2007
Out./2010
Out./2013
Out./2016
Jan./2001
Jan./2004
Jan./2007
Jan./2010
Jan./2013
Jan./2016
Jul./2002
Jul./2005
Jul./2008
Jul./2011
Jul./2014
Jul./2017
Fonte: ANP.
Elaboração dos autores.
O preço do frete, por seu turno, não apresentou quedas sistemáticas após
a crise de 2015 (gráfico 8).10 Para se ter uma visão resumida e ao mesmo tempo
representativa da realidade brasileira, foram selecionadas três rotas de transporte.
A primeira representa o transporte entre os principais centros econômicos do
Brasil, os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. A segunda representa um
importante corredor de exportação de produtos agrícolas, que vai do Mato Grosso
ao Paraná. A terceira representa a rota mais distante disponibilizada pelo Sifreca,
que vai do Rio Grande do Sul a Roraima. O que se verificou foi a instabilidade no
preço do frete para a rota São Paulo-Rio de Janeiro, com uma tímida tendência de
crescimento anual de 0,09%, e uma redução sistemática para as rotas mais longas na
série analisada, com taxas em torno de -1,3% ao ano (a.a.). Para estas duas últimas
rotas, contudo, tem-se certa estabilidade no preço do frete desde 2013, sendo os
preços praticados em 2017 muito próximos aos preços daquele ano.
Em suma, o setor de transporte rodoviário de carga começou a segunda metade
da década de 2010 com excesso de capital na forma de caminhões, aumentos
sistemáticos no preço do diesel (principal insumo variável), preços estáveis do
frete em relação ao período pré-crise e com redução na demanda diante da crise
econômica. Todos esses fatores contribuíram para a perda de lucratividade do setor,
uma vez que os custos fixos não eram diluídos por falta de demanda, os custos
10. Cabe ressaltar que esses dados foram adquiridos junto ao Sistema de Informações de Fretes (Sifreca) da Fundação
de Estudos Agrários Luiz de Queiroz por um contrato de aquisição do Ipea.
GRÁFICO 8
Preços do frete em rotas selecionadas (2002-2017)
(Em R$/t*km)
0,20
0,19 Crise
2015
0,18
0,17
0,16
0,15
0,14
0,13
0,12
0,11
0,10
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Fonte: Sifreca.
Elaboração dos autores.
Obs.: Dados deflacionados com base em 2017 pelo IGP-DI da FGV obtido junto ao Ipeadata. Disponível em: <http://ipeadata.
gov.br/Default.aspx>.
Visando contornar essa situação, foi feita regulação específica para criar uma
política de preços mínimos do frete no Brasil. De acordo com a resolução da ANTT,
o preço mínimo é calculado por meio de estudos técnicos e balizado por meio da
apuração do custo total para diversas categorias de transporte rodoviário de cargas.
O custo total é computado a partir de diversos componentes de custo fixo e de custo
variável. Os componentes de custo fixo são: depreciação, remuneração mensal do
capital, custos da mão de obra do motorista e custos com tributos. Compõem o custo
variável: manutenção, combustível, aditivo Arla 32, lubrificantes, lavagem e graxas,
pneus e recauchutagem. A partir desses custos seria calculado o custo-peso, que indica
o custo por quilômetro rodado, que é obtido pelo custo total de deslocamento da
carga (custo fixo mais custo variado, já apresentado) mais o custo do tempo parado
de carga e descarga dividido pela distância percorrida e pelo número de eixos.
A partir desses custos é calculado o custo-peso em toneladas por tipo de carga e
por tipo de caminhão, quais sejam: veículo de três eixos com carga geral; veículo de
cinco eixos com carga granel; veículo de cinco eixos com carga neogranel; veículo
de seis eixos com carga frigorificada; e veículo de oito eixos com carga perigosa.
Esses custos podem ser verificados na tabela A.1 no apêndice deste capítulo.
5 CONCLUSÕES
Este capítulo procurou analisar como intervenções governamentais, sobretudo
no sistema de preços, podem gerar efeitos indesejáveis na economia. De um lado,
verificou-se o comportamento da demanda de etanol e a elasticidade-preço cruzada
com a gasolina. De outro, avaliou-se o tabelamento do frete como intervenção para
contornar a perda de lucratividade do transporte rodoviário de carga.
A política de controle de preço dos combustíveis, em um primeiro momento,
e a estratégia de atrelar os preços domésticos aos internacionais, em um segundo
momento, impactaram o comportamento da produção de etanol. A primeira
política, ao reduzir o preço da gasolina, desestimulou os investimentos setoriais da
cadeia produtiva de etanol, bem como reduziu a lucratividade dos investimentos que
já haviam sido feitos. A segunda, ao atrelar o preço dos combustíveis às flutuações
exógenas do mercado internacional, elevou a demanda por etanol no Brasil.
A atuação governamental também afetou o transporte rodoviário de carga.
Inicialmente, houve estímulo ao setor via concessão de crédito para investimento
e preços baixos do diesel, o que favoreceu a ampliação da frota no mercado.
Essas políticas, todavia, mostraram-se insustentáveis, e o setor entrou em crise
com a retração econômica. Esse cenário foi agravado pelo aumento do preço do
diesel e pelo excesso de capital investido no setor nos anos anteriores, representado
pela compra de caminhões. Portanto, há dois movimentos em termos de oferta
e demanda: i) com maior oferta de frota de transporte, menor o preço do frete; e
ii) com maior flutuação e aumento do preço do diesel, maior o custo de transporte
e menor a rentabilidade da atividade. Para lidar com esse cenário, o governo
propôs novas políticas de intervenção no sistema de preços, gerando desequilíbrios
produtivos no setor.
Por um lado, diante do exposto e estudado, sugere-se a manutenção da política
de preços dos combustíveis fósseis vinculados aos preços do mercado internacional.
Desse modo, não há redução na rentabilidade da Petrobras, assim como se permite
o autoajuste de preços via mercado de etanol hidratado, contribuindo para a
manutenção dos níveis de investimento na produção. Assim, em momentos de
preços altos da gasolina, haverá maior consumo de etanol e vice-versa.
Por outro lado, com relação à política de preços mínimos do frete, a recomendação
seria a descontinuação do tabelamento, de modo a evitar o desestímulo econômico e
os conflitos entre os agentes. Ressalta-se, contudo, que essa recomendação é puramente
econômica, sendo que outras variáveis têm que ser levadas em conta, sobretudo o
cenário político. Em outras palavras, a sugestão de descontinuar o tabelamento
representa o bônus que toda a sociedade terá se o esforço de conseguir convencer o
setor de transporte rodoviário de carga da mudança de política for bem-sucedido.
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APÊNDICE
GRÁFICO A.1
Preços reais do diesel S10 no varejo e no atacado (dez./2012-jan./2019)
(Em R$/l)
3,9
3,7
3,5
3,3
3,1
2,9
2,7
Dez./2012
Abr./2013
Ago./2013
Dez./2013
Abr./2014
Ago./2014
Dez./2014
Abr./2015
Ago./2015
Dez./2015
Abr./2016
Ago./2016
Dez./2016
Abr./2017
Ago./2017
Dez./2017
Abr./2018
Ago./2018
Dez./2018
Diesel S10 varejo Diesel S10 atacado
Fonte: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Disponível em: <http://www.anp.gov.brdados-
estatisticos>.
Elaboração dos autores.
Obs.: Dados deflacionados com base no Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) da Fundação Getulio Vargas
(FGV) obtido em janeiro de 2019 junto ao Ipeadata. Disponível em: <http://ipeadata.gov.br/Default.aspx>.
TABELA A.1
Preços mínimos do frete da Resolução no 5.820 da Agência Nacional de Transportes
Terrestres (ANTT)
(Em R$ por km/eixo)
Distância Tipo de carga
De Até Geral Granel Neogranel Frigorificada Perigosa
1 100 2,10 2,05 1,87 1,47 1,64
101 200 1,28 1,27 1,14 0,90 0,91
201 300 1,11 1,11 1,00 0,79 0,77
301 400 1,04 1,04 0,93 0,74 0,71
401 500 1,00 1,00 0,90 0,71 0,67
501 600 0,98 0,98 0,88 0,69 0,65
601 700 0,96 0,96 0,86 0,68 0,63
701 800 0,95 0,95 0,85 0,67 0,62
801 900 0,94 0,94 0,84 0,67 0,61
901 1.000 0,93 0,93 0,83 0,66 0,61
1.001 1.100 0,92 0,93 0,83 0,66 0,60
(Continua)
(Continuação)
Distância Tipo de carga
De Até Geral Granel Neogranel Frigorificada Perigosa
1.101 1.200 0,92 0,92 0,82 0,65 0,60
1.201 1.300 0,91 0,92 0,82 0,65 0,59
1.301 1.400 0,91 0,91 0,82 0,65 0,59
1.401 1.500 0,91 0,91 0,81 0,64 0,59
1.501 1.600 0,90 0,91 0,81 0,64 0,59
1.601 1.700 0,90 0,90 0,81 0,64 0,58
1.701 1.800 0,90 0,90 0,81 0,64 0,58
1.801 1.900 0,90 0,90 0,80 0,64 0,58
1.901 2.000 0,89 0,90 0,80 0,64 0,58
2.001 2.100 0,89 0,90 0,80 0,64 0,58
2.101 2.200 0,89 0,90 0,80 0,64 0,58
2.201 2.300 0,89 0,90 0,80 0,63 0,57
2.301 2.400 0,89 0,89 0,80 0,63 0,57
2.401 2.500 0,89 0,89 0,80 0,63 0,57
2.501 2.600 0,89 0,89 0,80 0,63 0,57
2.601 2.700 0,89 0,89 0,80 0,63 0,57
2.701 2.800 0,89 0,89 0,79 0,63 0,57
2.801 2.900 0,88 0,89 0,79 0,63 0,57
2.901 3.000 0,88 0,89 0,79 0,63 0,57