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A LOCALIZAÇÃO DA NOVA CAPITAL DA

REPÚBLICA

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

1948

Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados


Centro de Documentação e Informação
Coordenação de Biblioteca
http://bd.camara.gov.br

"Dissemina os documentos digitais de interesse da atividade legislativa e da sociedade.”


INSTITUT O BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E F.sT ATIST ICA

A Local ização
da

o a Capital da República

I. PART E
Resolução n. 388, de 21 dejulho de 1948, da Assem-
bl éia Geral do Conselho Nacional de Estatlstica.

11. PARTE
Esclarecimentos e Sugestões.

C OMISSÃO C.E F' N AI'H~ AS -

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A LOCALIZAÇÃO DA NOVA
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CAPITAL DA REPUBLICA
INST ITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA

A Localização
da

Nova Capital da República

I PART E
Resolução n. 388, de 21 ju/110 de 194:8, da Assem-
bl éia Geral do Conselho N acional de Estatlstica,

11. PARTE
Esclarecimentos e Sugestões.

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Serviço Grá fico do Institu to Brasileiro de Geografia e Est atística
~ 19 4 8

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I N DI CE

PRIM EI RA PARTE

RESOLUÇ AO N. O 388, D E 21 DE JULHO DE 1948, DA ASSEMBLJ'::IA G ERAL


DO CO NSEL H O N ACI ONAL DE ESTAT íSTICA 0 •• • 0 . o . o" o o • • o. o 3

A N EXO S :

1. ESPIGAO MESTRE DO BRASIL E CONCEITO GEOPOLíTICO DO PLA-


N ALT O CENT R AL o • • • • • • • • • 9

lI. NO VA CAP I TAL FEDERAL (CONS ID ER AÇO ES GERAIS SOBRE AS BA -


S ES P ARA SEU PLANEJAMENTO E E X EC UÇAO ):

1- Po pul a ção 20
2- Super flcl e 23
3 - Po litlca t er r ito r ia l 25
4 - Fina nc iam ent o 26
5- Ad m inistr a ção 27

S EGU N DA PA RTE

ESCL ARE OIM ENT OS E SUGESTOES (D OCU MEN T OS SU BSCRIT OS PELO


ANTIG O SE CRE T ARIO-G ER AL DO I NSTITUTO BRASILEIRO DE
G EOGRAFI A E ES T AT í STICA ) :

1. A prop ós it o de um d isc urso n a As s emb léi a Cons ti t u int e 31


11. Palavr as d e agrad ecimento 37
lU o Brasilia, Cap it al do Br a s il .. 71
PR IMEIRA PARTE

Resolução n.? 388, de 21 de julho de 1948, da As sem-


bléia G eral do Cons e lho Nacional de Estatística.

Exprime votos e suge stões do Conselho


a propósit o da transferência da Capital
da R epú blica para o Planalto Cen tral
do B rasil .
ASSEMBLÉIA GERAL DO
CONSELHO NACIONAL DE ESTATÍSTICA
RESOLUÇÃO N.o 388, DE 21 DE JULHO DE 1948
Expr ime vo tos e sugestõ es do Con selho a propósito da t r an sf er ência
da Cap ital d a Rep ú blica pa ra o Planalto Central do B ra sil.

A Assembléia Geral do Con selho Naci onal de Estatí stica, usando


das suas atribuições, e
con side ra n do que a construção da nova Cap it al do Brasil é po-
deroso instrumento de que dispõe a Nação para prov ocar a mudan-
ça de rumos que a vida nacional reclama;
con siderando que, em contr á rio à voca ção históri ca do p a ís , e
com sentido oposto ao movimento pion eiro da sua formação, prete-
rido s ta mbém os seus mais prem entes in terêsses de progresso, en-
grandecimen to e segurança, a mobilidade demográfica pr ovocada
pela te n dên cia à concent r açã o urbana - tend ência errada e con-
trapr oducente, porqu e unilateral em todos os sentidos - está crian-
do o gra víssimo perigo do desloc amento em massa das populações
ru ra is para estreita orl a marítima, além do mais em preferência
e convergência crescentes para as grandes metrópoles;
considerando que essa contingência social está relegando a
maior parte do território pátrio à sit ua ção de imensos latifún dios
coloniais, ora como "espa ços vazios", ora como o ecúmeno de dé-
beis atividades extra tivas ou pa storis , pontilhado de algumas "il has"
formadas pelas áre a s de efetiva mas ainda mal organizada exp lo-
ração agrária ;
consideran do que o abandono do Brasil interior não está sequer
servindo para consolid ar uma área - embora restrita mas n uclear
- de saudável potencia lidada econômica, e submetida a equ ilibra da
estrutura socia l;
con siderando que , ao contrário, as cor rentes de população, em
precipitad o deslo camento , vêm alimentando a "urbanização", t en-
dente a descontrolado adensamento dem ográfico, destituída de con-
sistência econ ôm ica e nas piores condições de desequilíbrio socia l ;
con siderando que, nas metrópoles viciosamente dilatadas, avul-
tam e se agravam os problemas do traba lh o, da assistê nc ia , da ha-
bitação, do transporte, do aba stecim ento e da ordem pú blica, ao
mesmo tempo que a ssumem intensidade alarmante os índices ne -
ga ti vos de saúde social, de molde a apr esent a r um quadro sombrio
-4-

que desafia a at ivida de governamental e o pa tri oti smo de t odos os


brasileiros;
consider ando que t al estado de cousas, além de prep ar ar um
clim a de descon te n t amento e baixa m oralida de pú blica , propício às
a git a ções ou desordens, esgotará em bre ve , através de tentat iva s
parciais e frust ras para resolver os problemas emergentes, os re -
cu rsos econ ômicos que ain da possam ser reti rados, sob crescen t e
pressão e esgotamento, de n ossa debilitad a organi zaçã o agrá ria;
con siderando, por cons egui n t e, que à Naçã o corr e o dever de
escolh er e ut iliza r uma determ inante poder osa, a um só t em po de
al cance polític o, a dmin ist rativo, social e econômico, em con dições
de conter, ou ao men os sot rea r, o t or rencial inc reme nto urbanístic o,
de mod o que a mobilidade demográfica volt e a ter o senti do de in-
t egra çã o nacional, em t ôda a amplit ude do seu espa ço geográfico;
cons ideran do que êsse objetivo sa lutar será o de con t ra ba t er
aqu êle re fluxo, par a a orl a oceân ica. da s corrent es de povoamento
que, no decurso dos três primei ros séculos da formaçã o n a cional, pe-
n et r ar a m e ocupara m os se rtões ocid entais e conseguiram const ru ir
o Br a sil e da r-lh e un ida de como um dos maiores e mais bem dotados
p aíses do mundo;
consideran do, t a mbém, que essa re ver sã o n ecessária se comple-
t ará, de m odo satisfatório, um a vez sejam as fôrças econ ôm icas e
demográ ficas libert adas do compreen sível fascín io que no presen t e
exercem sôbre ela s, sem n eutr alização , as gran des me trópol es da
orla ma ríti ma ;
consideran do, porém , exigir t al objet ivo possa m aquelas fôrças
t ran sferir -se para uma órbita de gra vitação em tôrno de cen tr os ín -
teriore s de corresponden tes pers pectivas n o que concerne ao conf ôr t o,
be m-estar , progr esso e êxit o, enc on trando a í estímulo e fac ilida des
para in iciativas proveitosas, e em at raentes con dições de trabal ho ,
na exploração r ural;
con sider ando, pois, que con stit ui providência de alcance nacio-
nal ca paz de efetiva r t al conversã o de tend ên cias a muda nça da
Capita l da Repú blica para um pont o de ond e lhe fiquem assegurados,
t ant o no presente quan t o n o fu t ur o, o op t i mum. de a t uação coorde-
n ad ora sôbre tôda a Naçã o e o aproveit ame nto das fôrça s propul-
sivas e civiliza dora s, decorrentes de sua mi ssã o política , em benefício
diret o de ampla reg iã o centr al e em progr essiva e equilibra da infl uên -
c ia sôbre as dem ai s á rea s do pa ís ;
conside ran do que a dúplice polaridade dos centros de a t ração
demográfica , por mot ivos socia is, econ ômicos ou polít icos, é a ma is
fort e circuns tânc ia que de momen to poder á a t ua r sôbre as popula -
ções e as fôrç a s de pr ogresso, provocando a con versã o do seu des-
locamento e, assim, o n atural ret ôrno para o interior;
-5-

considerando que essa área social e politica men te orga ni za da


en tre a capital in te ri or e a costa provocar ia , n o m íni mo, o equilí -
brio entre os deslocamen tos que a inda Se processassem, daí resul-
tando a r ela tiva est abilidade das massa s rur ícolas ou rec ém-urban í-
zadas em sua atual dist r ibuição e o estan camento do êxodo p ara os
ma iore s cen t ros ;
con siderando que êsse equilíb rio depressa Se consolida ria sob a
in fluên cia das novas fa cilid a des e per spectiva s abert a s às iniciati-
vas da int eligên cia e do traba lho, em tôda uma vasta regiã o me di-
te rrân ea ;
con sidera n do, por outro lado, que, pa r a assegur ar a eficá cia da
sua ação de presença n o fut ur o, a situação in te rior da Capítal n ã o
deve af asta r -se do pont o em que se en contra o máximo deseja do de
segu ran ça e proteçã o, com bin adamente à eqüidistâ ncia dos extremos
do te rritório nacion al , segun do os difer en te s rumos ;
considerando que só essa pos ição ser á defin itiva pa ra a Cap it al
do Brasil, e deve por isso mesmo a ssin alar o local da sua const ruçã o,
a fim de que as diferen ciações e condicionamen tos regio nais, capa -
zes de prov ocar graves dissocia ções, tenh am os seu s efeitos ne utra-
lizad os pela s fôrças de harmonizaçã o e un idade emergen tes de uma
metrópole que represente de fato o mais forte vínculo da uni ão na-
cional;
considerando que tal posição está predestinadamente in dicada,
pela con figuração te r ri toria l do país, naquele pont o centra l em que
também se encontram e se unem, em perfeita conc ordância , a s tr ês.
grandes ger atrízes ou expressões geográficas das dif erenciaç ões r egio-
nais brasileira s, ou sej am as três a mplas conchas hidrográficas do
Amazona s, do Prata e do São Franci sco;
consid erando que o Planalto Cen t ral, onde se localiz a o ponto
acima ref erido, se encontra, conquanto próx imo do equador, n uma
a lti tude que lhe dá condições clim á ticas privilegiadas, com admirá -
vel ín dice de sal ubridade;
consider ando que a r egião dispõe também de abundante e per e-
ne ir r iga ção , com potên cia hidráu lica apta a pro duzir ener gia elé-
t rica suficien te para at end er às necessida des dos nov os núcleos de-
mográ ficos ;
considerando, en tret an t o, que o potencia l h idr áu lico está dis-
tribuído de modo a n ão fav orec er a transformação da Capital do
paí s n um grande cen t ro industrial, mas permit indo, ao cont rá rio,
o aparecimento de um sistema de cidades sa té lit es, n a s difer en t es
direções e a distâncias várias, com apr eciáv el capacidade de pro-
du ção ;
considerando, ai n da , qu e uma área prà t icam en te ilimitada e de
grande feracidade, em tôrno do seu ponto cen tral, pode permiti r n o
-6-

Planalto o dese n volvim ento de uma economia agr ária diversificada,


onde se pratiquem com excelen t e rendimento quase t ôdas a s lavou-
ras dos clim as quentes e temperados, e até mesmo dos climas frios,
bem assim as atividades da cri ação;
considerando que essa á rea cen tral do Brasil foi reconhecida,
estudada e caracterizada pela Comissão Cruls, que ali delimitou, na
forma da Cons tituição então vigente, o "distrito federal" da futura
metrópole brasileira;
considerando que a Comissão de Estudos da localização da Nova
Ca pit al, constituída para executar os trabalhos preliminares rela-
II cion ados com o preceito cons t it ucional concernente à transferência
da metrópole brasileira para o Planalto Central, já verificou de visu
e conf irmou as circunstâncias tôdas que preconizam, por motivos
imperiosos e decisivos, de ordem geo-econômica, geo-socí al e geo-po-
lít ica , o destino que a Nação, há mais de século, lhe reconheceu pela
I voz dos mais avis ados homens públicos, todo s êles igualmente em-
·1 polgados por essa diretriz suprema de recuperação e construção do
I, Brasil - a interiorização da Capital da República nas melhores con-
dições p oss íveis :
con side rando, por outro lado, que podem crescer de ponto, subi-
tament e, os inconvenientes e perigos imediatos, referentes à segu-
ran ça nacional , além dos perigos e pr ejuízos mediatos já apon ta dos,
que decorrem da localização da Cap it al na cidade do Rio de Janeiro;
con siderando as esclarecidas con ceituações e sug estões do Gene-
ral Djalma Poli Coelho , emin ente Diretor do Serviço Geográfico do
Exército e Presidente da Comissão de Estudos para a Localização da
Nova Ca pit al, constante de duas breves e convincentes monografias
a pro pósit o dos asp ectos fundamenta is do problema, a saber, a de-
fin ição do "p onto central" procura do e o estabelecim ento das "b a -
ses" par a planejamento e execução da transferência da Capital;
con sidera nd o que os pon tos de vist a sustenta dos nesses traba-
lh os estã o in spir a dos pela exa ta e imparcial colocação do problema,
são con for mes ao t est emunho e às a spirações dos que estudar am o
assun to n o passado, e atendem a to dos os complexos imperativos da
situa çã o em que se encontra o pais e da hora perigosa que vive o
mu ndo ;
con siderando que as conclusões e diretrizes firmadas nas citadas
m onogr a fia s, encontram confirmação nos fatos da vida brasileira
já in t erpretados pelo Inst ituto, qua n do teve oportunidade de atender
a uma interpela ção do Govêrno sôbre os rumos que a Estatistica
poder ia indicar à cautelosa e prudente solução dos problemas básicos
da org an ização nacional ;
con sideran do que, segundo os estudos e pronunciament os reali-
zados, a á rea povoada e desenvolvida sob o influxo da capital interior
-7 -

poderá tornar-se o fulcro da unidade nacional, porquanto atuará


coesivamente sôbre as diferentes partes do pa ís e, dessa forma, es -
tará em condições de erigir, com tôdas elas, o grande todo que deve
ser a Na ção Brasileira;
con siderando, finalm ente, que a a ção civilizadora irradiada da
área central em que se locali zar a metrópole, tornará impossível a
perma nênci a perigosa dos grandes esp a ços vazios que hoje retraem,
fr acionam e amesquinham o corpo polí tico da Nação, a ponto de
"dividir" o país em regiões quase inteiramente isoladas umas das
outras,

RESOLVE:

Art. 1.0 - O Conselho Nacional de Estatí st ica apresenta a Sua


Excelên cia o General Eurico Ga spar Dutra , Dignisslmo Preside n te
da República , calorosas con gratula ções cívicas pela firme e esclare-
cida deci sã o com que re solveu en fren tar a transferênci a da Capital
do País para o Planalto Central, adotando o melhor critério de in-
terpretação do preceito constitucional e tomando prudentes medi-
das para enc aminhar o empreendimento .
Art. 2.° - Ao Conselho é também sumamente grato deixar con -
signado o seu regozijo patriótico pela feli z orientação dada a os pri-
meiros t rab alhos da Comissão de Estudos da Localização da Capital
da República , conforme a sín tes e formulada pe lo seu ilust re Pre-
sidente .
Art. 3.° - O Conselho assinala, ainda, o fa to de coinc idir inte-
gralmente com o pensamento que os Estatí sticos Brasileir os já fir-
maram, há mu ito e unânime mente , o ponto de vista claramen te ex-
posto pelo General Djalma Po li Coelho, Presid ente da referi da Co-
m issão e que , por feli z cir cu nstância, t am bém fa la em nome do
Serviço Geo gráfico do Exército .
Art. 4.° - É decl arada a inteira confiança do Con selho em que
as conclusões, diretrizes ger a is e alvit res já oferecidos à opinião
pública pelos membros da Comissão de Estudos da Mudança da
Capital, também hão de encont r ar unidade e decisão un ânime no
pronunciamento fin al da me sma comissão. conquistando, do mesmo
passo, o apoio de t ôdas as instituições que podem exprimir a opinião
nacional no que se refere às repercussões sociais, econômicas e po -
líticas da ínterioríza ção da metrópole brasileira .
Art. 5.° - O Con selho espera, ou t rossim , que a m ud an ça da Ca-
pital para aquela área central, a que bem se pode chamar " o coração
do Brasil", encontrará, afinal , por fôr ça dos seus fu ndamentos, ob-
jetivos e sign ificação , a "rea lizaç ão heróica" - que não deve nem
-8-

pode faltar a um empreendimen t o de tão decisivo alcance para os


destinos da Nação - por parte do Govêrno da República, apoiado
sem discrepância por todos os Govêrnos Regionais e Municipais.
Art. 6.° - Como esclareciment os indispensáveis ao transcen-
den te pro blem a nacional ora focalizado, e para compreen são histó-
rica da solidariedade plena do Conselh o às con clusões do General
Djalma Poli Coelh o, relacionadas com a escolha do local e o plane-
jamento para construção da nova Capital do Br asil , são inc orpora-
da s à presente Reso lução as monogra fias "Espi gão Mestre do Brasil
e conceito geopolítico do Planalto Cen tral" e "Nova Ca pit al Fede-
ra l, con siderações ger ais sôbre a s ba ses para seu plan eja men t o e
execução" .
Art . 7.° - Completando o depoimento dos Estatísticos Br asileir os
sôbre a mudança da Capital da R epública, su gere a Assem bléia Ge-
ral, dat a v en ia , me reç am também especial exame por parte da Co-
missã o de Est udos da localiza ção da Capital a conven iên cia e possi-
bili da de de fica rem atendidos, n os com petentes planos, os seguintes
pon tos, a seu ver igualmente fun damen tais:
I. O en ca minhamento simultân eo de um a solu ção política pela
qual se at enda com justiça , sem perder de vista os interêsses na-
cionais, a situ açã o da Cidade do Rio de J aneiro, cujo pr ogresso não
pod e en trar em declín io ou eclipse, pois nela encontra o Brasil
sua expr essão mel h or de civilização e cultura.
I!. A escolha dessa solução sob o critério de ficarem a ssegura-
dos, à cidade do Rio de Janeiro, foros polí ti cos, ba se territorial e
suport e econômico em justa corre spondência com o ri t mo de vida
e a influên cia que a atual metrópole mantém para honra e em
ben efício de to do o país.
lI! . A interiorização imediata da Capital, mediante a t rans-
ferência provisór ia dos principais órgãos do Qovêrno da República
pa ra uma cidade in terior, desde que est a ofereça as con d ições ne-
II I
cessá rias e esteja colocada a meio camin ho entre o Rio de Janeiro
e o Planalto Cen tr al.
IV. O atendimento por me io da medida focalizada no it em pre-
ceden te , dos seguin t es obj etivos :
a) com um mín imo de despesas e quase sem modificações na
ordem a tual, imprimir efet ivo com êço de realiza ção ao gran-
de empreen dimen t o, de sort e a as segurar, qua nto possível,
o n orm al pr osseguimen to da transferência, segundo o plano
assentado;
b) situar melhor a ação governamental, para que possa pro-
mover, em tôdas as su as exi gên cias, o plano da constru ção
e os empreendimentos preparatórios quanto ao povoamen-
- 9-

to da região cen tral e às r especti vas comunic ações, segun do


as principais linhas que lh e devem dar ace sso em relação
às difer en tes regiões do pa ís;
c) encam inhar de pronto a providência política que deva ser
t omad a no pro pósit o de garan tir futuro e foros condignos
à a tual metrópole;
d) assegura r à Nação, quanto an tes , ambiente mais tran qüilo,
pa ra o seu Govêrno, e melho res con dições de defesa, nest a
h ora tão cheia de graves ameaças e surpresas que o mundo
está viven do.
R io d e .Ja nei r o. em 21 de j ulho de 1948, ano 13.0 do I nstitu to. - Confe r id o
e nume r ad o. Waldem ar L op es, Secre t ário -As s is t e n t e d a As s e mbléia . Visto e
rubrica d o. R afael X avi er, Secr etário -Ge ral d o I nstit u t o. Publique- s e. J 086
Carl 08 d e llIaced o Soar es, Pres iden t e do Ins tituto e do Co ns elho .

ANEXOS A RESOLUÇÃO N.o 388

E stndos do General Djalma Poli Coelho, Diretor do Se r vteo Ge og r ã!ico


d o E xército e Preside nte da Com is são d e E st nd os para a Lo ca liz ação
d a Nova Capital do Brasil

ESPIGAO ME STRE DO BRASIL E CONCEITO GEOPOLíTICO


DO PLANALTO CENTRAL

Prefácio

~s te tra ba lh o visa chama r a a te n çã o d os b ra s ile iro s, em geral , sõb re a signi-


ficaçã o geopolltica do " espigão me s tr e do B ra s il ", di viso r d e á gu a s entr e a s
n ossas t r ês principais bacias hi d rográfi cas, com o acid e n t e ve r dad eirame n t e caracte-
rlstl co , que é, d o P la n a lt o Ce n t r a l , on de d ev e se r es ta be lecid a a no va Capit a l ,
por determinaç ã o e xpre ssa da Cons tit u ição F ed e r a l d e 1946 .
Dep ois q ue fo i n ov a m e n te a gitado o probl ema d a m udan ça da Ca p it al, em
v irtude da p r omul ga çã o d es sa Con s ti t u içã o, su rgi ram al guma s op ini ões q ue pro-
cu ravam d esacreditar a á rea d em arca d a em 1892, pela Com is sã o d c que fo i chef e
o Dr , L uiz Cr u ls .
];: po r ém n ot á vel a p r ecar ie d a d e d os fatos e m que tais opiniões s e es t r ib a m .
Tud o são afirmativas s em pr ovas. De outro la do , es sas a f irmativas es tão e m fl a -
gran te contraste com o que d oc umentadamen te conclui u a q ue la Com is s ão , e m s eu
r el atório pub li cad o em 1894.
Urn a d as asserções m a is Ireq üen t es , d e q ue a ár ea d o r e t â n g u lo d e 14 400 q ui-
lôm et r os q ua drad os, d emarc ada pel a Comissã o Cr uls , é es t éril po r que é f o rmada
d e " ce r rad ões " , em ch apada s are n itl ca s, onde nad a s e poderá p lanta r ou c r ia r
e onde fa lta m po r complet o as á gua s p ot á vei s e os mate r ia is d e co nst r u çã o In -
d is pensáve is à edí r íca ção d o novo Di s t r ito F ed e ra l.
- 10-

Ora, os trabalhos d e cam po da Comissão, de que so u Presidente, desautori-


zam com pletamente essas levianas opini ões.
Fi cou provado, mais u ma vez, q u e aquela ãrea po ssui excelentes q ualidades
agrol óg'ícas, justam ente pel a gr a n de q ua nti dade d e água s corr ent es que a U são
encontradas o ano t od o , mesmo n os s eis me ses de es tiage m q u e alter na m regular-
mente com os seis mes es d a s chuvas.
Quanto aos materia is d e co ns t r ução , fic ou outra ve z ex ube r an teme nte de-
m onstrado que, n o r etângul o d e Cruls e suas Im edia ç ões , existe m madeiras de
con struçã o e existem abundantes formações de gnaí ss e e m íca ch íst os , As areias
e os saibr os são Igualm en t e ab u n da n te s. A canga se presta muit o bem à prepa-
ração d o concreto .
É a bu n dan tissimo o calcá reo, is ento quase Inteirament e de m agnésia , isto é,
está. a s s egura da , de um mo do ab soluto, a possibil ida de de fa brica ção do cim ento
em la rga escala .
A poss ib ili d ad e d e en erg ia elé t ri ca exls te , sob a forma de vá r ias quedas d'água,
espalha da s por t ôda a r e giã o, t al como convém a o problema , q ue exclui o pen-
samento de q ualquer área d e ind ú st r ias pesa da s , d e âmbito na cion al .
,
Por tudo Isso, acred ito q u e a m en ção d êsses r esult a dos, j á o btidos pela
I Com iss ã o de q ue so u Pres id ent e , co nstitui u m b om p r efá cio pa r a ês te trabalho
de geopolltlca a plic ada ao Brasil .

I~ Desenvolvimento do t ema

1. T orna-s e n ece s sá r io es ta be lece r clarament e o con ce it o do planalto cent r a l


do Bra sil , porque é par a ês se pl a na lto q ue a Co nsti t ui çã o vigen te mand a t a xa -
ti va men t e t r a nsfer ir a Ca p ita l Federal.
E nten dem a lg uns que ês s e conceito é vago, t a n t o assim qu e , n o po nt o de vis ta
geológico , o pla nal t o cen tr a l se r ia t ôda a qu ela im ensa á r e a d e o nd e desc em n u -
meros os ri os formadores d a s bacias a m azônica , pl atina e sã o-f r a nc isca na , al ém
de outra s b acia s m en ores do n oss o Nordes te .
Es sa á re a r epres enta al gu ns milhões d e quil ôm etros q uad r a dos , de terrenos
s edi men tares a poiados em r och as orogê rrlcas ,
T od os êsses t errenos foram s ulcados pel a eros ão e o q ue d êlcs ai nda r esta,
n os Es tados de Goiás e Mato Grosso, são muitos a ltiplanos q ue, segu in do-s e uns
a os ou t ros , constituem o "espi gão m estre" do Bras il, q ue dí víd e águas entre as
bacia s do Ama zonas e d o Prata .
I~I
Con s ti t uem êles a in da os "espigões s ecun dár ios " q u e, d a regi ã o de Planaltln a ,
em Goiás , s eguem para o Nor te e para o Sul, formando os li m it es das e nc os t a s
oci d en t ais do Ri o São Francisco,
Tant o o ramal q ue segue pa ra o No rte com o o que se d ir ige para o Sul,
s ubdivid em -se p or sua vez, em outras Im por t a nt es li nh as de al tur a .
Assi m se es tab elece a con ti n u ida d e de a lguma s li nh as s êcas do n os so t erritório,
qu e li gam . por exe m plo , Bel ém d o P ará e Sant'Ana do Liv ramen to e que vão d e
T ouros (R io Gra nde do Nort e ) a Sucre (BoUvia ) , além d e ou t ra s des s a s linh a s
s êca s .
E d es sa ma ne ira s e fo r m a a com pa r tl men t a çã o do Bras il cm s e is gra nd es ba-
cias hi d r og ráfi cas. com o est á. In d icado e s qu emà tl came n t e no d es enh o a nexo , que
d en om in amos "Bacias hi d rog ré.fic as pri n cip ais do Brasil e d rvísore s ge r a is das
r es pect ivas á guas " . O exame a t ento dê s se g ráfico facllita mult o a co m p reen sã o
do q u e pre te n de m os dizer n este ca p itulo.
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2 . A vas ti dã o t err itorial cob erta pel os r eferidos a lt ip la nos s uces si vos , não
s e presta porém. em t õdas a s suas d ifere nt es partes , a os f i n s p oll t i cos da mu-
da nça d a Ca p ital , s en ã o naq uel a s ua por çã o es pe cial q u e p od e s er co ns id erada
com o cen t ral em r ela ção a to d o o B rasil . por n ão es ta r m u ito des ig ualme nte
afast a da da ma ioria d os p on t os d e nossas fr on t eira s t er r es t r es e ma r itima s .
Qua n t o mais central I ór a porçã o cons ide r a da . mai s conven ien te ela s erá. e m
p ri ncipi o, para a loca li za ção d a Ca pit al. por iss o que a ss im s e t or na m eq u iva -
len te s a s pos s ibil ida dc s de li gaç ão com tõdas a s r e giões ma is a fas ta da s do pa is.
N ão im po rta s abe r s e as cond ições loca is. d essas reg iões m a is a fa s tadas . são
ou n ã o a s m esma s a t ua lm ente . O gOl:~ r 1!o t em o b rigaçüo pr ecíp ua d e assis ti r
t 6da s as p art es d o t €1"rit6ri o 'laci on al e, n a 1:erda d e, d el' e assi st i r com mais d es-
1:elo a qn el as q ue f oram m en os [ aco r eci âas p ela 1latur c::a ou q u e f ic aram m ais d is -
t antes d os centr os em qn e já se est a be l eceu f i r mem en t e o prog r esso.
No Brasil ex is tem "zonas des p r eza d a s" e " zona s fa vor ecida s ". Essa di scr imi -
n açã o é posi ti vam ente um gran de o bs tácu lo a o engr a n d eci m ento geral d o pa is e
s e a p r es enta em choca nt e cont r as te com as as pi ra ções d e gra nd es massas de s ua
p opu la çã o, or ig in ando-se dai u m pr ecá r io s entimento d e u n ida de pol ít lca ,
O conceito de pla nalt o cen t ra l não pod e ser estr ita m en te geométri co. em r e-
la çã o a u ma á r ea q u e n ão é reg ular, como é o cas o da á r ea d o Bra s il. Mas é In-
conven ie n te q ue êss e conce ito des p reze to tal men t e a noçã o geomét r ica de cen t ro.
poi s is so im por t a r ia em d e ixa r de levar em conta o qu e em si m es m o é o mais
importa nte : as d istâncias .
3 . Ent ã o , se o con cei to de pla nalto cen t ral, nã o dev e ser pu ramente flsiográ-
fico ou g eológ ico , sem se torna r desm es urad o e im preciso e se t a m bém , co mo
acaba m os d e d izer, t a l con ceit o não p ode s er estr it amente g eo métrico. po r q u e
en tã o n ão s e coad unaria com as irregula r id a des da á r ea do t er r it ório b r a s ile ir o.
s ó nos r es t a, para no s a t er m os a um pr in cip io lóg ico . p rocu r a rmos um ou t r o
cr it é rio q ue po ss a a ju s t a r -s e aos s uper ior es obj eti vos po Hti cos qu e a naclo na lldade
t em ti do e m vista. n os a nti gos e r eit era d os p r onu nciame ntos em fa vor da m u-
da n ça da sua Cap ital .
Haver á u ma .. t ~ cn l ca " capa z de da r so luç ão a o problem a da muda nça , q ue é.
u m p ro bl em a a nt es de t u d o poHti co ?
Par ece- n os qu e não . Um a com iss ão de t écn icos não p ode r es olver sõzt nh a
ês se p roblema , po r Iss o que não há p r ece ito s , nem r egras, nem fór mul as, n em
eq ua ções em q ue êss e pr obi em a po ssa ser t ra d uzido.
Com u ma comi ss ã o de t écnicos. em que en t rem geó logos . me teoro lo gis t a s , Ur-
ba n is t as . higien istas etc .. s e ess a com is s ã o é nume rosa. Ind o a lém de cinco ou s eis
m em bros, co r r e- se o r isco d e não s e pod er r es olve r nada . pois é Ine vít áve l o ap a -
r ecim en to de vá r ias o p in iõe s dive r gent es o u con t ra ditórias .
A mel hor m a n e ira d e s e r esol ver o p ro blema da muda n ça é, n o noss o m odo d e
enten de r , ou t r a .
Há u m prob lema p olítico q u e consis t e em s e escolher a r eg iã o de u m n ovo
Distrit o Feder a l. n o p lana lt o ce nt ral do Bra sil. Pa ra es s a esc ol ha d evem s er le-
va dos em consider aç ã o : a pos ição. a área , a p opu la çã o, a politi ca t erritor ia l . o
f ina ncia m ent o e a a d m in ist raçã o. con sti t u in do êss cs ass untos as ba s es pa ra o
plan ej a men t o e a exe cu ção da mudanç a . Ad otad a s essa s ba s es , a r e gião d eve se r
sumària mente e scol h ida por lei. no pla na lto cent r a l, co n fo r me exi ge a Cons ti t ui çã o .
Não h á ne nhu ma d if icu lda d e pa ra is so. con for m e es tá de mon strad o no nos so tra-
b al h o ASP E CT OS F UNDAM E NTA I S DO P R OBL ElIlA D A )lUDAKÇA DA CAPITAL
P AR A O P L AN AL T O CE NTRAL.
Surge d epois o se gu ndo prob l em a /t cn i co q u e. êsse sim. po de e deve ser r es oi-
vido por u ma com iss ã o de t écn icos.

«
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Trata-se agora d e , dentro da área já p oliticamente esc olhida ou adot ada, p la -


n ej ar a constr u çã o da cl dad e (ou do s is t e ma de cldades) que deve s er o n ovo
centro admini s t r ativo da Un iã o Bra s llelra .
O m odo pel o q ua l s e es tá procura ndo r es olv er o problema da mudança da
Ca p it al, por m eio d e uma com is são de 12 m embros , n ã o nos parece a certado . Pa -
r ece-nos até muito d es acert a d o. s en do d e r ecear que dessa comissão não ve n ha
a sa ir nunca uma s oluçã o satisfatória . T em os s érios motivos para pen sar as s im,
emb ora nã o queiramos tratar aq u i dê s s es moti vos . A s eu t empo é prováv el que
t enhamos de manifcstar mais claramente o q ue p en samos .
4 . Há um termo moderno e exp ress ivo - GEOPOLITICA - que parece caber
multo b em na definição d e um critér io qu e o gov êr rio p oderia t er adotad o p a ra
a mudança da Capital .
e necessár io entre tanto u sar ês se t êrmo com muita ca utela, a fi m d e se ev itar
o in con veniente de usá-lo se m pro po stto ,
N ã o bast a fal ar em geopoli ti ca, com o s e quisés s em os exptorar a pen as alguma
virtu de má g ica d es sa m u lt o bem form a da pa lavra. Nã o é suricl ente de ixa r -se
en cantar pcla pot ência verbal d êsse vo cáb u lo .
e Ind isp en sá vel que ap liq u em os r ea lm ent e . ao que es t a mos di zen do, ou ao
que q u eremos fa zer, a lguns pri ncl p ios . j á be m es ta b elecidos e fo rmula d os . de
li:e op olitica .
T or na -s e n eces sário começar pela d efi n ição de ge opo li tica .
Vam os a qu i p rocu rar fa zê -lo , usana o par a Isso o que escreve u um dos pr inci-
pais fu nd a do res dessa d isciplina , que é hoj e tida como neces s ária a q u em quer
e nten de r o j ôgo das for ças econômic as e politica s na s r ela ções internacio na is e,
m esm o nas relaç ões mternas da s n a ções .
A vi da internacional m od erna a ss umiu pr op orç ões, q ue n os ob ri gam a pensar
cada vez m a is em es ca la mu nd ia l, t al é a in flu ência q u e exer cem u n s sóbre os
outros os vários continentes , pa r a não di zer os vá r ios pais es .
O conceito de Estado t orn ou -s e p r epon der a nt e . Mas o con ceito q u e a fi nal
s e t em ho j e de Estado é o d e um or ga n is m o s uje ito a leis inex orá veis , de cresc i-
m en t o, q ue ope r a m indep en dent emen t e dos cid a dão s . :€ss e conce it o é muito con -
ven ient e para os Es tados fort es e é m u it o in con ven iente para os E ~ta dos fr acos .
Aos es tados fracos não é permitido pen sar em cr escer . . .
" A g eop oli t ica é uma t entativa de t coria do Estad o, com o or ga nismo geográ -
fi co ou como fen õm eno n o espaço, is t o é, de uma t eoria de Es t ad o com o t e r ra ,
como t erritó rio . com o d om In ia, como r e ino em s uma. Com o ci ên cia politica .
a geopol!ti ca semp re t em em vist a a u nid a de do Estad o e visa co mp ree nder
a nat ureza do Estad o, a o pa sso qu e a geo grafia p oli ti ca est ud a a t erra co mo
asse n t o da riqueza h um a na , em suas r elaç ões com os atributos p er m a nentes
d a t erra ."
Esta d efini çã o é dada pe lo cie nt ist a s ueco RUDOLF KJELLEN a q uem s e d eve
nã o sà m ente a cr ia ção do ter m o GE OPOLI TI CA , s em d ú vida al g um a um t ermo
h à b il men t e forma do, com o t a m b ém os e s t ud os f un dam entais que viera m fa zer
da ge opolitica. so b re t ud o na Ale ma nha, um s is t em a de co nhe cime n t os c u ma li n-
gu a gem utilis sima s . Nos di as d e hoj e . e m q u e grandes q uest ões de Es t a dos e
t erritór io s em pol ga m t õda a Hu ma n idade, p r od uzin do gu erras terrí veis, a s q ues-
tões geopoli tica s devem se r con h eci das de t odos os que t êm resp onsa b il idade no
g ovêrno.
A definição de KJELLE N m ostra que es t a mos em p r es en ça ai nd a de u ma
"ten tati va " de t eoria d e Est ad o, onde a " un id a de do Est a do" e a " n a tur eza do
Est a do" devem se mescl ar com o "territ óri o", co m a "terra" , com o " d o rn ln ío " .
Es s a mes cl a produz u m res u ltado, que é o d estino da Naç ã o . ser co nscie nte s dês se
de stino e trabalhar p or êle - e is o que n os pod e talvez ensi na r a geopolltica .

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A d efi n içã o de K J E L L E N . s en do em si m es ma al eató ria. no s ajuda a com-


p reend er ou t r a s d e fi ni ções que já tivem os o po r t u ni da de de ci t a r , n o t rabalh o
d e nom i na d o AS P ECTOS F UNDAM ENT AIS DO PROB L E MA DA MUDANÇA DA
CAPITAL PARA O P L ANA L TO CE NTRAL .
P od e m os d ize r . po r e x emplo , q u e a ge o poli tl ca é a "geogra fla a pli ca d a à po-
l ít íca d e p od e r na cional d e um Estado " . PoHt i ca d e p od er naci onal é uma e x -
pressão q ue pa r ec e fa ze r ap êlo a o p rincipio da t e rra com binada co m o p ri n ci pio d o
h om em. d e onde r es ult a m a f ôrça eco n ômi ca, a f ôr ça m ili tar e t c . d e u m pa is .
A g eop ol! ti ca é t a m bé m a "es trat égia d e fato d e u m E s tado " . H á a es t ratég ia
m ili tar q ue s e es tuda n os I ívros m ili t ares m as, e m cad a Es tad o . h á u ma es t r a-
tég ia na ci onal . u ma es trat égia d e fa t o. u m a ori e n t a ção naci o nal. t a nto m ai s p al-
pá vc l qua n t o m ais importan te . mais in fl u en t e . m a is a ti vo e ma is r ico é o Es tado
e mai s com pe te n t es os h ome n s q ue o r epresent am .
F inal mente . pod e mo s di zer que a gcopol ít í ca é a " r a cion ali za ção do s es fo rç o s
e moci onai s d e uma Na çã o" . Sen d o o Esta d o u m org a ni s mo es pacia l. q u e p ro cu r a
c r es cer e e ngra n d ecer-s e . é Itclt o a dm iti r q ue êsse o r ga nismo tenha tam b ém u m a
e x is tê n cia e mo cional . As vib ra ções e m oc io na is d e ve m p or é m s er di ri gi das . se r
contr ola d a s , se r r a cionali za d as . po r u ma d ou t r ina g eop ol ltica co nhecida pelo m e -
nos d os es t a d is t a s . sob pe na d e pod e r s er a n açã o d es v ia d a para d ireções pe r igosas .
Tudo Iss o q ue fi ca d it o s õbre a d efi n ição do t êrmo "geopol!t ica " se r ve pa r a
n os m os tra r q u e es tamo s real me nte e m p r es ença d e um a s peto im porta nte d a ge o-
gra f ia politi ca ou m elhor d e u rna cousa a in d a mais i m por t a n te do q u e a g eo g rafia
poUti ca . Esta , a g eog r a fi a polttlcn, some nte v ê na t erra o a s s e nt o da r iqueza
huma n a , a q ual de pende e m ca d a cas o. das q uali dadcs ou atr ib uto s permanentes
da te r r a. A geo pol ít ica vê o fe n ômc n o m a is co m pli ca d o c mais alto do Es t a d o.
ist o é . a ação do h omem s ôb r e a t e r ra. cria n d o o o rganis mo p olltico - o Esta -
do - cuja natu r eza p rocu r a b em co n h ece r e c uja u nidad e procu ra bcm g a ranti r .
H á a lguma co us a d e h er ói co na geopo l lt tca , a o pa sso que na geograf ia p oli-
tica t ud o é t el ú r ico . Eis o moti vo pel o q ual a noção d e Est a d o t em im pres s ionad o
t a n t os home ns em inen tes . a co n tar d e P la tã o e d e Ar ist ó tel es.
5 . Se. sa in d o d es sas cons id e raçõe s g erais. q uere mos agor a a pl tca r a t eoria
geop olitica d e Es ta d o ao Bra sil, que é afl na l o q u e no s in te re ssa , d ev e m os co -
m eça r po r comp r ee n d e r a Natureza do Es t ado Brasil ei r o, com o or g a n is mo g eo grá-
fi co o u . m elh o r . co mo f e nôm en o espec ial sul -a m e r ica no. E m s eg ui da d eve m os
cogita r de d esco b r Ir os melhores mel as d e pres ervar a Un i dade d o Estado Bra-
silei r o, 'e m fa ce do s pe r igos presentes e f uturos, in te rnos e ex ter nos q ue podem
amea ça r essa un id a d e.
Essa a nálise t em s ido feita por b om núm ero d e esc r ito r es com pe t en t es . Al -
b e r to T ô r res parece t er si d o u m d os m a is argutos anali s tas da nos s a chamada
" reall d ade ". A "rea ll dade" d o Brasil é afina i a " Na t u r eza do Estad o B ra s ileiro ".
Va mos a qui t ra çar, e m poucas frases , um e xa me d a n atu r e za d o Es tad o brasi-
le iro, d eixando pa ra o ut ro s mais co m pe t e nte s o en cargo de co m pletar és s e e xame.
O Bra s il , co mo Estado. é r el a tivame n t e mal est r u t u ra do por q ue as partes d e
q u e é forma d o - os "Es ta d os " - s ão muit os hete r og ê neas no ponto d e vis t a das
áreas, d as p opulações, das riquezas, d o clima e d o s ol o . Muitas t ê m s ido as pro-
postas d e r ed ivlsão ter ri to r ia l d o Bra s il . bas ea d a s no estu d o d es sa im p r essio na n te
h etero g e ne id a d e. É im po ss ível d e ix a r -se de r el a ci onar co m essa heterogene id a de
t u d o o q u e oco r r e d e desa g ra d á vel no Brasil : d espovoa m e n to , falta de li ga ções
int ernas , s u ba llme ntação d o pov o, pe r m a n ê ncia d e end em ias etc ,
A Fed eração d os Es t a do s Bras ile ir os é, por iss o m esm o. m a l ci m en tada. Niio
existe um p ro fu n d o se ntiment o pop ul a r d e F ed e ração .
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Desd e o Imp ério se t em sent ido es sa au s ência de um a forte e irn eri ta ção , como
se verifica d os m ovim en t os q u e s e ch ama ram da Re pública d o Equa d or (P er -
n a mbuco ) e da Repú bli ca de P ir atinin (R io G ran de do Sul ) .
Na R epú b li ca , tivemo s o eq u iva le nte dê s scs mov im entos na Revoluçã o Fed e-
r alist a d e 1893 (Ri o Grand e do Sul ) e na R evolução Con s tit uci ona li sta de 1930
(S ão Paulo).
Albert o T ôr r es di vis ou , n o fu nd o d êss es m ovim en t os , um oen tr ttu otsmo qu e
a fina l é a mesma co usa q u e separ a t is mo e s e a med ro nto u com ês s e fen ôm en o ,
A d up la fal t a de es t r ut uraç ã o e d e ci men tação en t re as par t es d o Es tado B ra-
s ileiro, é u ma verrla dc. perigosa verdad e a liás . q ue prov ém da va stidã o d o t erri-
t óri o, da peq uen a d ensid a de d em og ráfica e das pr ecár ias com un icaç ões Inter iores ,
t:ss es três in con ven ientes ocasionam o isola m en to da s nossas ci dad es e e x pli -
cam a in exi stência do cspir ito de coesão nac iona l. R esult a m d êss es rat õr es o
a nal fab eti s mo e a doen ça . O h om em brasileir o t em um escasso va lor econô m ico :
prod uz pouco e consom e pouco .
O In d ice da mo r t a li dad e, principalme nte inf a n t il . é eleva do ,
O p ro gresso ma te rial é lento. A nossa a gr icul tur a não u sa m á q u inas . Fa ltam
e ngenh ei ros no Br a s il. Fal t am mé dicos e en fer m e iros n o int er ior , Em compen -
s ação. sob ram a dv ogad os , p oe tas . j or nalist as e fun c io ná ri os b u ro cr ático s na s ci-
dades .
A popula çã o d as cidades procu r a m a is o lu xo d o q ue o b em -es tar . ao p asso
que a do inter ior vive l it eralmen t e na mi s éria . pr ivad a dos m a is el em entares
con for t os .
O pad rã o d e vida m édi o de nos sas popul ações é G v êzes inferi o r a o da s da-
Europa. Em r el a çã o ao s Es t a dos Un id os a nos sa infer iori da de é pelo m en os 4
v êzes ma io r do q ue em r ela çã o à Europ a . Is to é . t em os um padrão de vida 24
v êzes ma is baixo q ue o d os a me r ica nos .
A n ossa in s t r ução p r im á r ia é defici en t e . Em ca da circ u ns cr içã o t e r rito r ial,
é muit o mai or o núme r o de cr ia n ças q ue nã o f reqü en tam a s escola s . do q u e
o n úm er o das q ue a s fr eq üenta m .
A In str ução s ecu nd á r ia é d ef iciente. em q ua lid a de e em quantida de . Atin giu
ülti m am ent e ext remos de inefi ci ên cia. q ue t êm s ido levad os a o con h eci m ento pú-
blico. com es tar r eci m en to do s qu e pres tam at enç ão a êsse aspeto d e no s sa si-
tuaç ão a t ua l.
A Ins truçã o s upe r ior co nti n ua a s er mu ito cr iti ca da . Há m ais .g ôs t o p el os
di plom a s e pelos a né is d e grau , do qu e pel os co nh eci me n tos c ie n tjf ico s , A
ciência nã o é cu lti vad a no B ras il. senão em esc a la ins ig nifi ca nt e , H á muitos
letrad os e po ucos hom ens cu lt os ,
O espect ro do co m u n is mo a pav ora um a parte da na çã o. a o pa s so q ue a o utra
parte s onh a com a mi r ag em d es s a do utr ina , E t anto u ma parte, com o a out ra ,
não m ost r a qualq uer bas e e m s uas convicçõe s, A q u estdo so cial no Brasil é
muito ma l co nhecid a .
6 . A u n id ad e do Bra sil . co mo Esta do, é em conseqüência instá vel. m u lt o
em bo ra s e pos sa di zer q ue ela t em s ido m a nti da . atrav és de s érias viciss it udes ,
Al gu n s publlcls t as naci o nai s t êm freq üe nteme nt e manifestado admiração d ia nt e
d essa u n ida d e q u e se ma n té m m a l g-rado tant os fatôres a dversos, che g-ando a l guns
a ver em nela u m m ilagre ,
Sej a co mo r õr, a verdad e é que dev emos aumentar as ga r a ntias de manute nçã o
d essa u n ida de , o qu e s om en te po de rá se r f eit o por u ma es t r ut u ra çã o e uma c1-
mentaçã o n ova s do Br a sil , aumenta nd o- lh es a " r iqueza huma na" po r um u so mais
amp lo das t erra s ine xploradas , qu e consti t u em a maior parte d o n osso t erritório.
-16 -

J á tratamos d êste ass u nt o em " ASPECT OS FUNDAMENTAIS DO PROBLEMA DA


MUD ANÇA DA CAPITAL PARA O PLANALTO CENT RAL" ,
Nã o quer em os cr escer com o t err itório , poi s n os b a stam os 8.5 milhões d e qui-
l ôm et r os quad rados q ue já pos s u ímos , Mas p r ecis amos cr escer como p o t en ci al
hu m an o .
Cr esc iment o de potenci a l h umano s ign ifica aumento da po pu la ção, a u m ento d a
á re a cu lti vada, p en et raç ão do In t er ior , " b a nd e ir is mo " , ma r cha para o ce nt ro e o
oes te , aumen t o das ' r éd es de comun ica ções , Incor po r aç ã o dos selvagen s. etc .
7 , T ud o Is so precisa s er feito d en t ro do p rlncipl o d a li berdad e po Iftl ea
q ue é tra d icion al n a América e que é m u ito d o a g ra do dos bras ileir os . Precisa
s er feit o po r co ncu rs o de t odos , o q ue d e ma n da u ma compreens ão ge ra l d os
p rob le ma s . Nã o deve se r fei to p or atos de si mp les von tade do go v êr no , atos qu e
p ode m se r in s p ir a dos em pr eocup a çõ es pes soai s e s ub alt ern as, de ca rát e r r e g ional.
Pa ra praticar a t os de bem in sp ir a da geo pol ít lca , são neces sários bon s go -
ve rnos , o q ue q uer d izer q u e s ã o ne cessári os gover n os q ue es te jam d e po sse de
u ma dou t ri na politlca basea da n o conh eciment o e us o d a t erra e no co nce it o s u -
p er ior da se pa raçã o d os p od er es t em porais e es p ir it u a is , de onde r es u lta o con -
cei t o ria li berda de .
S en d o o Bra s l1 a ún ica naç ão de origem portu gu ês n, n um conti ne nt e q ue é
quas e t od o d e or igem es pa nho la e s en d o o Br as il. a lém d is so , o d et ent or da
ma io r á rea, aliá s a " área ce nt ra l " do con tinente, há u m natu ral con traste do solo
e de sa n gu e en t r e o Br as il e os seus vlz inh os , No es tado a tual da civ íl íza çã o ni n -
g uém igno ra q u e es s e cont raste t em s eu s peri gos. Co nhecer êsses peri gos, pa ra
prevenir s uas conseqüências ma lé fica s , õsse é um deve r d e t odos os es t adista s
b r as ile iros,
Es sa prevenção se r esu m e em for talecer a s it uação geopo Iftl ca da Na çã o, pelo
a um ento da r iq ueza humana e pela hornog en tzaç ão po li tlca d o Estad o, a ca ban do-se
com a s á r eas " fav or-ecidas " e as áreas " d e sprezadas " e oc upand o principalmen t e a
área ce n t ra l do t er r it ór io brasileiro .
8 , Volta n do ao assunto d os cr ité r io s pa ra a de fi n ição d o pl analto ce nt ral,
n o in t u it o d e fixa r b em o que vi sa a Con s ti t u ição de 1946. torna -se In d is pensá vel ,
d isse mos, apelar pa ra o c r it é ri o geop olí ti co , ~ es s e cri t ério, na sua a cep ção
m ai s eleva da , q ue va i n os perm iti r compr ee nd er a n a t u r eza d o Estado b r a s il eir o
e a melh o r m a neira de re s gu ardar a sua uni da d e , Vim os qu e isso s om ente po-
d erá ser fe ito po r m eio do es tudo das n ossa s r ealí da d es geográfi cas e t a mb ém
procu ra nd o co mp re en der a m elhor d ir eçã o q ue dev er á s er dada a os esfor ço s emo-
ci ona is d e noss o PO \' O, q ue des ej a ver o B ra s il Ilv r e da pos ição secundári a a q ue
t e m s ido r ele ga d o a t é ho 'e , no co nj u n to das na ções . Os bras ile iro s nã o com -
pree n dem que s ua pát r ia n ão sej a ma is r ica e mais adianta da e atribuem is so,
e m gra n de par t e, a er r os d e s eus g over no s , Querem ver o Brasil engr a nd eci d o
pelo p ro gr esso e em paz Int erna e ext er na , m a s d ese j a m a dq uiri r mai s con fia nça
n es se pr ogres so e n es sa paz . q ue ev iden t eme nt e não d ev em s er um res ul tado
d o a ca so ,
Pode-se r a cion ali zar o p rogre s so do Brasil, por m elo de u ma geopolí ti ca
adeq uada .
É n eces s á ri o, co mo r em édio principa l co nt ra t odos os n os sos des aj u st amont os .
esta belecer um sistema m ai s na t u ral e mai s fácil de li ga ções Int er io r es en t r e
t 6das as par t es de n os so t e r r itório. co ns t r uin do um si st ema d e es t r ad as de r o-
dagem e de ferro e u sa n do os r ios nave gá vei s de mo do a unir r à plda me nt e t od os
os Estad os da Un iã o à sua Ca p ital , co loc ada no Centro . É n eces sári o edifica r
um Brasil mais un id o, u ti li za nd o po r igual t 6d as as fôr ças na ci onais , sem In da-
g a r se elas s ã o d o Norte, d o Cen tro ou do Su l.
- 17 -

Cons e r va n d o r ig oros a m ente o p rincip io co ns ti tuci onal d e a uton om ia d os E s-


t ad os e mes m o d os Mu n íclp los , s u bor d i na d o a o p r i nci p io f ed e r ativo, o q u e é
muito s im páti co ao es p ir it o da nação b ras il ei r a , é necessário ma n t er t õd as aqu e-
l as f ôr ça s em natura l h a r m onia, gra vitando em t õr no d a Id éia de u rna P á tria
úni ca, indivislvel , n a qual a Ordem equilibre o P ro gress o , s egundo o l em a in com-
parável d e nossa Band eira .
T u d o d e ve se r fei t o se m s e sa ir d a noção d e n os sa r eali da d e , Ist o é, levand o
e m conta o povo e a t e r r a q u e poss u ímo s . Mes mo q ue a t er ra f osse má e que o
povo f ôss e in ca pa z, ainda assim e ra co m essa t e rra e co m õsse povo q ue ter ía mo s
de no s h a ver .
F elizm ente n ã o é ês se o ca so . No sso p ovo e no s sa t e r ra são ca paz es d e muita
cou sa , co m o t e m s id o nu m erosas vê zes d em onstrado .
A capacid a d e de um povo t a mb ém se d es envolve , quan d o se e m p rega m para isso
m eio s ad equad os . Qu anto a t erra , a ciênc ia e a ind ú st r ia ca da d ia n os p õorn na
pos se d e no vos mei os d e to rná- la m a is produti va e mais fav orá vel à sa ú d e ,
10 . F e it a essa lon ga di g rcs sã o e m t õr n o d a d efin ição d e g eopo li tica, d epois
d e t êrrnos vis to q u e o cr it é r io geo lóg ico e o c r it é r io g eom é tr ico n ão bas t a m para
fu nd a m entar a s olu ção d e n oss o probl ema, pod em os co n cl ui r q ue o m a is ace r t a d o
é co ns ide ra r -s e com o ve r d a d e ir o planalto ce n t ral d o Brasil , para os ef eitos d a
m u da n ça da Ca pit al , aq uela pa r t e d o " es pig ão mest re " ou d iv or t i u m aq ua ru m da s
b aci as a ma zô n ica e pla t ina , a qua l, s it ua d a em t e r r it ório go ia no , vem m o r re r nas
en cos ta s ocid e n tais do val e d o R io Sã o Fra n ci sco.
Nes sa pa r t e d o pla nalt o ce n t ra l , podemos t ra ça r o per imetro d e uma á rea
d e c êrc a d e 50 000 quil ôm etr os quadrado s para d e n t ro d ela or g an izar um n ovo
D istr it o F ed eral que p od emos muito bem ch a ma r d e D istrit o F ed eral do s P ir in e us ,
p or n êle fi ca r e m situad os os maj estoso s Pi cos d êss e n om e ,
T e r e m os a ssim satisfe ito u ma co n d içã o geopoli ti ca da m ai or t ranscen d ê ncia
par a o Bras il , porque aquel a á r ea, ca s o escol hamo s con ve n ie n t e m en t e a s li n ha s
g-eod ési ca s q ue a vão ci r cun s creve r , p od e r á confin ar co m três E stad os : Go iás ,
B a hi a e Minas, es t and o a lém d isso d eb ruça d a sõ b r e os vales d o Toca ntins e d o
S ão Fra n cisco , num a a va nçada para o No r t e e o Nordeste que pod er á te r gra n d es
r epe r cussões n o futuro.
Nã o é p r eci so di zer q ue a esco lh a d es sa área se r á u m pod eroso m e lo d e s e
garanti r a ci me n t ação d a un idade na ci ona l , isto é , o f ortaleci m ento des sa u ni-
d a d e . Aliás, não e x is t e , para êsse elev a do fi m , ou t ro m elo .
U. O geopolltico alem ã o OTTO MAULL, q u e f êz u m a e x cu rsã o no in t e r io r
do B ra s il em 1923 e que , ness e m es mo ano, p rofer iu u m a co nfe r ên cia n a Escola
P oli t éc n ica d o R io d e JaneI r o , f ormul ou n es sa conferência a s eguin te p e r g unta :
q u al é a est ru t u ra p oliti co- g eog r áfi ca do Brasil r
E r es pon d e u : n ão é, com o t al vez se su pun h a, o caf é; t amb ém não é o d esen -
v olvi me n t o d a economi a na ci on al.
A r es posta d e MAULL fu n d a-se n o "fato d e ser enco n t rada n as r eg i ões d o
centr o d o B ra sil u ma f ormação p ollt i ca, n aci011a1, soci al , jur ídica e econômic a" .
Ac h a m os par ticula r me n t e inte r essa nt e essa obs e rv a çã o d e u m h om em q ue
pouco s e d em o r ou n o Bra s il mas q ue, a ssim me s mo , t ev e a h a b il id a d e de pe rc e-
b er u ma re a li d a d e na ci on al das ma is n ot á ve is e q ue n em todos os bras ile iros
perceb eram ai n d a . T od os os que co n he ce m o ce n t r o do Bras il conf ir ma m a e x is-
t ên cia d es sa "fo r m a çã o " . Nela se f u n dame n ta para n ós a q ues tão da m u d a n ça
da Ca pit a l, Nã o s e p re t en d e, co mo m u ita g e n t e s upõe. co locar a Ca p it a l d o
Bra sil n u m d es e r to , nu ma pa isa g em In e x p r eas íva , onde o go v êr no fi cará iso la d o .
Abso lu t a m e n t e não é êsse o caso . O B ras il cen t ral, g eopoli ticamen te fa la ndo, é
j á u ma for m a çã o po l ít íca , na cion a l. so cial, j urld ica e econ ôm ica , se g u nd o a feliz
d iscrim in aç ão d e OTTO MAULL .

:2

_____________
D
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" Com e xcele n t e clima e fa vo rá veis cond i ções d e habit ab il id ad e pa r a o colono


e u r ope u, o im po r t a nte n úcleo ce n t r al do Bra s il t em ai n d a a va n tage m eco n õ-
mi ca e po l ít íca d e s e po d er p ôr e m direto e r á p id o contato fl u v ial com t od o
o r est o do pa is . De fa t o , daq uela zon a elevad a d eflu em á guas pa ra as n os sa s
três g r a n d es ba ci a s. A li n h a d e c u rneadas, q u e nã o é or ogrà fl came n t e f or-
mada por a nt ecli na is d a s camada s , m as ge rada pel o t r a ba lh o d e e r osã o d a s
á g ua s no s t e rre n os s edim e nta r es , s e gu e e m contin uada s c u r vas d esd e o Pico
d os P i r ine us a t é a la g oa do Mes t re d e Armas e s erve pa ra s epa r a r as á g u a s
q ue d e ma ndam o Am a zon as , pe lo R io das Alma s e Ri o d os Pat os , o u d efl uem
pa r a o P ara ná pel os R ios Coru m b á e São Ba rtolomeu . No e x t r e mo Leste
d es sa linha d e vert ent es h á u m e x t e nso ch a padão com a co t a méd ia d e m il
me t r os , pe r t o d e 4 lé gu a s a W~'W d e F o r m osa, num a para g em o nd e, s e g u ndo
o D I'. Cr u is, " a um ti r o d e fuzil umas das o ut r as , s e v êm as cabece iras dos
ri be ir ões Sa nta R it a , q u e é ve rte n te d o R io Sã o F ra nci s co pelo Ri o P r êto : e
Band ei r in ha , q ue é ve r tent e do Am a zon as, at r a vés d o P a r an ã e T oca n t ins ;
e Si ti o N ovo, vert ente do R io da Prat a , pelo Sã o B art o lom e u e Grand e P a ranã " .
:es s e e x te ns o ch a pa d ão com a cota m édia d e mll metr os . s it ua d o s ôb r e o " es -
pi gão m estre " , é que t e m se rvi do p a ra d efin ir o pl a nalto cen tral do B ra s il.
Nã o h á m elh o r d er ín t ção d êss e pl a nalto , n o n os so m o do d e ve r, A êle s e r e-
f eriu se mpre o Vi scon d e de P ôr t o Seg u ro . l':le fo i u ti li za d o para ca r ac ter iza r
o r et ân gulo ge o dé s ico d e n t r o do q ua l o DI', L u iz Cr u is en ce r r ou os 14 400 q u ll ô-
met ros quadrado s q ue , d es d e a Cons ti t u içà o d e 1891, f or a m r ese r va d os para nel es
ser escolh ida a posi çã o da nova Ca p ita l,
l':ss e " es p ig ã o mest re" é o a ci d e n te g eogr áfico q ue lig-a o s ist e ma d os p ri n -
ci pais di v is ores d e água s do Bra s il ao si stema a nd ino , is t o é. à espi nh a d or sa l
d o continen t e su l-amer ica n o, onde estão con fin a d as , nos di as d e h oj e, as g elei ras
d a Am é r ica Merid io nal ,
No ponto d e vis ta m il itar , és se espi gào m es t r e é u m cam inho por o nd e se
pod e invad ir o Bras il, v in d o -s e d e Oest e .
De ve mo s r ecordar a q ui que a Coluna P r est es, q u e f o i fa m osa em sua época ,
velo do Sud oeste d o B ra s il p er seg u id a po r t od os os lad os , Q ua nd o atingiu Mato
Gros so e s e coloc ou s õb re o es pigã o m es t r e e s eus ra ma is norde s ti no s, pas s ou a
g oza r d e uma absolu t a li be rd ad e d e moviment os , F o i a Goiá s e d ali d e m a ndo u o
Nordeste , P en e t r ou n a Ba h ia e, q uan d o n ã o t eve m ai s espe r a n ças de p r om ov e r a
ínsurrelc ão po p u la r co n tra o g ov êr no, d esli sou t ra nq Uilamen t e pa ra a Bol lvln.
s em se r sec;ue r perce b ida pe la s t ropas que p re t en d ia m cer cá -Ia pe lo s setores d e
L es t e, mas q ue nã o es tavam, como es t a va o Ca p it ã o P r es tes , m on t ad os s õb r e u m
a cid e nte ge o gráfi co que lhe propo r cion a va gra n d es va n t a g ens t á tica s e es -
trat é g ica s.
De ve mos pe n sa r n a poss i bi lidade d e, u m d ia , t ê r mos d e d efe nd e r o co ração
d o B r as il co n tra um In im ig o q ue sa iba a p rov eit a r -s e , do mes mo m od o. d es s as fa -
cil idad es d e d es loca m e n to e de ataq ue ,
12 . O co n ce it o geo po lltlco d e planalt o ce n tra l nos con d u z assi m à m es ma r e-
gi ã o q u e m erece u a p r eferê n cia d e n os sos ant e pas sad os e que guio u o Dr , Lu iz
C r ul s , na oca s iã o e m q ue êle fo i d e m arcar a á r ea do no vo Dist r ito F ed e r a l, e m
v ir t u d e da Con s ti t u içã o d e 1891.
É a li p ortanto q ue deve s er es colh id a a n ova Ca p ital d o Brasil , em obed iê nci a
a o t exto co ns ti t ucional d e 18 de Se te m b r o d e 1946 .
R es sa lt a da p r óp r ia letr a d êss e t ext o. q uan d o r evi gora a anti ga e x p res são
d o "planal to ce n t r a l d o pai s", q ue a n t es d e t ud o a es col ha d a nova Ca pit al d eve
ob ed ecer a u ma ra zão d e pos ição porque r ea lm en t e aq u ilo d e q ue s e t r a t a é esco -
l he r u ma pos içã o d e on d e o B ras il va i s er ma is f à cil m en te governado, n u m p on to
d e ví sta naciona l, d e po is de d ois séc u lo s d e r eg iona li sm os que nos con d u ziram
a u m a si tuaçã o ve rdadei ra m en t e s ecu n d á r ia n o con j u n t o das na ções mo d e r na s, Essa

-
- 19 -

infer ior id a de nã o é a bs olu tamen t e u ma im pos ição da na t u r eza e s im uma co nse-


q ü ência d o des ca s o com que t emos t ra t a d o o proble ma f und am en tal d a n ossa
u n ida d e .
Dia nte d o ímp er a t ívo geopo li ti co , que ac a ba m os de ca r actcr tza r , t orna m-s e de
pequena o u d e nenhuma im port â ncia as razões clim át icas e as ra zões eco nô m ica s .
Mes mo q ue a zona que d eve s er p re fer ida , por se a ch a r no po n to ma is in -
t er es sa n t e d o " es pi gã o m est r e " , não f ôs se boa . so b o po n to d e vis ta d o c. íma e
da p r od uçã o. a inda a ssim deve r ia ser a es co lh id a , no po nto de vista da p os iç ão .
Entret ant o é u m la m en tá vel en ga no s upo r- se q ue as r azões cli mática s ou a s
ra zões eco nô micas mil it a m con t ra a á rea j á esco lh ida , des de 1892, pel a Co m issão
Ex pl o rador a de Lui z Cr u ls .
Sàmen t e q u em n a da conh ece sôb r e essa á rea , por nun ca t er al i es ta d o ou po r
n ão t er sab ido observar , se ali es t êve , se r á ca pa z d e a fi r ma r que ela nã o tem
bom cltrna , ou não s e p r esta pa ra a a gricu lt ura e à criação, ou oferec e dificul-
d a de para o a u mento d a pop ula ção. ou pa ra a co ns t r u çã o de es t r a das o u cidades ,
ou para o fl orestamen to .
13. Infeli zm en t e es tá na moda pr ocur a r des mere cer o q ue a nti gamen t e f oi
d it o, d e b om , s ób r e O B r a s il. Cert os gru pos de brasileiros pret en dem t e r a dq u t-
ri d o, na leit ura ap ressada dos li vr os es t ra nge ir os , conh eci mentos ba sta ntes para
a fi r ma r em q ue o Bra s il é um pa is per d ido, a não s er na es t re ita fa ixa on d e j á
s e desenvol veram os negócios , a gr-ícolas e Indust r ia is , g raças a o d inh e ir o a r re -
ca da d o em t od o o B ras il . ~s se s in t ér pret es levia nos da realida de naci onal , p or
esno b is mo t ulvcz, s e cont r a põem ao juízo com q ue noss os p re decess o res po r tug u êses
e bra s ileiros, e nca ra ra m sem pr e as co usas de nos so t e rrit ór io, q ue êles co nhecer a m
mu it o bem , por q u e v ía ja ru m m ui to , es t ud a ndo t od os os problemas, s ôb r'e os
qua is nos lega ra m adm iráve is ens iname nto s.
A de r r a de ira fórmu la désse es nob ismo é r ea gir contra o "por que m e u fa n is mo" ,
mas si m pl es me nt e pa ra pôr em l uga r dê le o pessi mi sm o im pe n it ente dos q ue
querem r es olver t u do nos gab in ete s da Ca pi t a l, on d e u ma es tiolad a b ur oc racia
e os fa lsos t écn icos a ind a t ripud ia m s ôb re a ign or â ncia naci ona l.
E ss a p r et e nsã o d os es n obe s é a conse q ü ência . a liás pre vis t a , d os ba ix os n íveis
a q ue des ce u o en si no chamad o s up erio r , que fêz do B rasil d e h oje o país on de
deve h a ver o m a ior n ú m er o d e dou t o r es se m nenhum con h ecim en to c ientifico .
Alber t o T ô rres d efiniu bem ês s e es t ad o d o p ens a m en t o bra sil eiro, d izend o (O P r o-
blem a Nacio n a l B r as il eiro, 3.' ed ição, p á g. 221) :
" Nes te es ta do de es p lr ito , é br io d e fra ses e d e pal avr a s , se dento de impressõ es
viole nt a s, s u bm is so a os ti pos da m od a , a n ot orieda de su bstil u iu a a ut ori da de ,
a li te r a t u ra fácil , de d ivul ga çã o, e im pres s ões li gei ra s , co lh ida s nos comp t es
r en dlls e nos noti ci á ri os , s ufoc a ram o ju ízo, o gôs t o e o d iscernimento . "

P ara os q ue co nhecem o Bra sil e s ab em be m q ue n osso pa is não é ne m a


ca na ã d os " u fa n is ta s " n em O pais p er dido d os derr oti s t as, o q u e di s se ou t ro r a
o Visconde de POrto Se guro, sô bre o p la na lt o central, o quc di sse Gl a zlou e o
que di s sera m a lguns dos aux ili ares do Dr , Lu iz Crul s, são a exp ressão da ver-
da de , q ue desa fi a con t es ta çã o .
As r egiõe s m in eiras e go ia na s que se q u er a pon t a r corno muit o s u pe r iores a o
" qua d r il át ero de Crul s " não o sã o, n em g e o l õg ica men t e nem agr olàgicamente e
muit o m enos a in da geo po li t icame n te .
Os q ue afirm am iss o, fa ze m -no sem bas e, inspi rados apena s n o d ese j o de
co nt r a r iar u m a velha aspi ração na ci on a l , para satisfação d e va ida des ou ín te-
r ês s e s , ~s s e s q ue ass im p roced em não co n h ecem q ua l é o de sti no fa t al de nos sa
na cio na lid ad e, he r d eir a dos por t u g u õs es, d esco b r ido r es d e m a res e con tinen tes e
h er d eira dos ba nd eira ntes , des br a va d or es de espigões e chapadas , caçadores de
Ind ios e fa is ca dores de ou r o .
- 20 -

14 . O Bras il está neces sà r lam ent e fa da do. pe las propor ções de seu território,
a co nstruir u ma civ ili zaç ã o trop ica l su l - g en er i s, que d es m entirá os q u e apre-
goa m a Inu t il ida de d e n os sas r e gi ões cen t ra is . cen t r o-ocldenta ls , setentrionais e
nordes t in as.
U ma ra ça q ue r ealizo u a epo péi a dos ban deir a nt es . q ue no s ch ap a d ões do
In t er io r es cr eveu páginas ép ica s d e no ss a hist ória e traçou as li nh as p ela s quais
a in da hoj e ci rc u lam os nos n os sos sertões . um a raça que n os deu o exem plo de
Cou t o d e Ma ga lh ãe s . . qu e tra ns po r to u um navio da s ca be ce iras do Paragu a i à s
ca beceiras d o Ar a guaia. e d o Coronel de En gen h eiros Eduard o Jos é de Mora is.
qu e fo i u m t ena z organizado r da na ve gaçã o d e no ss os rios Inter iores . no t e mpo
do império, u ma raça a ssim nã o pod e deixar de Im pla nt a r sua ca p it a l n o ce nt r o
d e seu t err itório . de on de po ss a irradiar seu es fôr ço p rogressista até a s fr onteiras.
ho j e a ba nd onadas . do Oes t e e at é o gran d e rio d esprezado q u e é o Am a zonas,
O mais alto pen sa m en t o geo politlco q ue se deve associar ao proble ma da
m ud ança da Cap ital é és t e : a u nidade n aciona l p r ecisa d e ser con soli d ad a p or
m ei o d c u ma n ov a estr utu r açã o p olitica q u e d eve com eçar p ela imp l antaçã o da
Cap i t al n o espiga o m estre e deve ser seg u i d a do povoam en t o de t odo o Brasil
cen t r al , em d i r eção a o O est e e ao N orte.
11:sse espigão mes tre ca ract er iza o pl an alto cen t ra l do Brasil , de uma ma ne ir a
q ue s er ia im possí vel ima gi na r me lho r .
11: por isso q ue a fi rm amos a q u i. mais u ma vez. s egu n d o as vist as d o Visconde
de Pôrto Seguro , do Dr . Luiz Crul s e do geopol ít lco a lemã o OTTO MAULL . e d e
outros . q ue o p la na lto ce n tral do Brasil, para o nd e a Constitui ção de 18 de se -
t em b ro d e 1946 man da t r a n s ferir a Ca p it al do Br a sil , é o m esm o que j á foi
uma vez exp lo rado e dem a rca do e qu e des de então perten ce de direito à Un ião.
para né le ser es tabe leci da a Capita l.
11:s se é o con cei t o geo politlco de pl a nalto ce ntral q ue d eve s er mantido .

rr
NOVA CAPITAL FEDERAL

C onsiderações g erais s6bre as bas es para seu planej am en t o e ex ecução

1. População

Co nd ição primo r d ia l para o plan ejam ent o da n ova Ca pital Fed eral é a p r évia
fixaç ã o d a m a ssa da po p ula çã o ina u gu ra l as sim como da popu lação fi nal a se r
r ecebida pe la nov a me t ró po le e seu t erritório .
2 . Du as so luçõ es extr emas po de m ser al vitra da s : po pula çã o li m it a da ao m i-
nim o com pat ível excl us iva me nt e co m as a ti vida d es dos órgãos super i or es do Go-
vêrrio da União ou p opulaçã o ab ra nge ndo to do s os órgãos centra i s da Admi nis-
tra çã o Fed eral,
3 . Evident em en te , a fim de q ue a nova Ca pital não s e t orn e u m lugar d e
d esco n for t os e p r ívaç ões pa ra os q ue forem o b r ig a d os a es sa t r a nsfer ência por
suas fun ções ofic ia is , chega -se à concl u s ão de que s e faz m is te r a in st a laçã o, desde
a d a t a d e sua in aug ur a ção. de u ma m as s a de 250-300 000 h a b ita nt es p a r a s er
pos s íve l garanti r, eco n ôm ica me nt e , uma vida loca l com t ôda s as faci lidad es soc ia is
e cu lt ura is , Ca so con t rário , li mitada essa popu la çã o inaugu ral a u ma s po u ca s
d ezenas de m ilhares de ha b itantes com as in ú m era s ex igências d e seu elevado
pad rã o de vid a , t eria o G o v ê r no Feder al de su bv enc ion ar, pe r ma ne n te m en t e , quas e
t odos os em preen dimentos e se rv iços ur b a nos de n atureza s ocial e cultu ral e
- 21 -

talvez m es m o os s er viços de u tili dade pú blica (transpo rtes. comu ni ca ções . ener -
gia. etc .) , para que se u uso nã o r es u lt as s e proibitivo à gran de pa r t e d a po pula ção .
4. Além di sso. o cus t o t ot al d a con strução e instalaç ão dos ed ifl cios e se r -
viço s p ú blicos da n ova Ca pi t a l q u e, n o ca s o de gra nde popula çã o ina u gu ral . p ode ,
com o s e m ostrará ma is ad ia n te . s er d is t r ibu ldo com o r ea l va lor iza çã o pel os lot es
de t er r enos u r ba n os. s u b ur bano s e r u rais de im ediata uti liza çã o, deverá , no ca so
de pop ulação in icia l r es tr it a, ser supor t a do. em gran de pa r t e. p elo Tesou ro Na -
ci onal, e is t o s em uma r ed uçã o impo r t ante e m seu m on tan t e , po is , em amb os os
ca so s, t er ã o de se r con s t r ui do s q uas e todos os ed ifi cios e in st a la ções de ma ior es
exi gências d e a pres en tação e de maior es cus to s de ex ec uçã o .
5. Urna g ra n de po pula ção inau g ural eom as d eco rrentes neces s ida des de uma
ma ssa enor m e de mei os de a loj a mento e d e abaste cim en to , vi rá . po r outro lado.
t o r na r eco n ôm ica a in stala çã o. no T err it ório da Ca pit a l ou em s uas vi zinhan ças ,
de in dú st rias d e m ater iai s de co n st r ução e de mercadoria s de abasteci mento. pr o-
d ut os êst es q ue, n o out ro ca so , t eriam d e s er im porta dos co m o ôn us de se u
t r a nsporte a gra nd es d istânc ias . Lim it a da s. no pri meiro caso . a s im port a ções a
um r clut lva m en tc pequ eno volu me de m er ea d or ia s d e a lto va lo r u ni tário . j á a
n ova Ca p it al poderá ser loca li za da . se m a con tra -indicaç ão d e d esvantagens eco-
n ôm icas pa ra s eus h a b it antes . mais para o In t eri or d o P a is, sa t isfa zen d o. d ês se
modo e d esd e logo. mais larga men t e a os ob jetivos da p roj et a da m udanç a .
6 . Po r t õdas essas razões. a so lu çã o a ser ad ota da de verá pr ever urna po -
p ulação ina ug u ral bastante num er osa a fim de q ue ela possa gozar, econ ômi ca -
me n t e . de t õdas a s comod idad es sociais e cult u rais. n ão deixando . ao mesmo
te m po. que o cu s to da vi da, na r e gi ã o. d eix e de of erecer u rna s ensível redução
quan do comp a rado ao vigora nt e na atual Ca p ital e a fi m de q ue a co ns t r ução da
n ova Ca p ital se po ssa r eali zar d en tro de u m pla no d e a uto-fi nanciamen to s em one -
r ar os contri b u intes da s de mais u ni d a des da Federa çã o.
7. Pode- s e . en tão . d e ac õr do com es ta diretriz , determ inar a quanto dever á
m ont ar a pop ulaç ão in a u g ural d o T errit ór io da Cap ital F edera l. Se bem q ue
n ão s e disponh a d e n ú meros ex a tos . alIás d isp ens áv eis. se rá de 200 000 a p opu-
la ção oficia l a se r tra nsf erid a para a nova Ca pit a l. co m p r een den do fun ci on ár ios
e s eu s d epen dentes . ~s s es fu nci on ários s eriam p ertencentes a :
a) órgãos s up er iores dos t rês P od er es da União (Executivc , L egisl ati vo e
J ud ici ário ) ;
b) ór gãos centrais da Adminis tr ação P ública F ed er al;
c) un idad es das fôrças m Uit ares da Un ião ;
d) órgã os ccntra ís d as Ins ti t u ições a utá rq u icas e pa ra -es tat ai s da U n ião ;
e) r ep r es ent ações do s p a ís es es t r a ngeiros e d e organ izações int ernacion ai s .
8. Além di s so, t er -se -ia de co m p uta r :
a) os órg ãos d a Ad m in istra ção do p róprio T erritó rio;
b) os s er viços público s de co ricess ão :
c) a s in stituições cu lt urais . s ocia is e des por ti va s ;
d) os es tab elecime nt os de co mé rcio e in d ús t r ia loca is ;
e) os pro fi ssi ona is li bera is e artesa na is ;
f) os t r a balh ad ores d om ésti cos e ru rais em g era!, com um to t a l es ti m á vel
de 30 a 40 000 e le me n to s a t ívos qu e. com s eus d ep ende n t es. for m a r iam
u m con ti ngen t e de 100 000 hab it a nt es .
9, Des sa pr evi st a população ina u gu ra l de 300 000 habita ntes , vcr trtca -so q ue ,
pe lo m eno s . 250 000 dev e rão se r t ra ns fe ridos para o T erritór io d a n ova Ca pita l .
por fôr ça d e s ua s f un ções ofic iais ou das necess id a des da in sta la ção e manu -
t ençã o d a cidade ; so m en t e 50 000 h ab itantes, porvent ura ex iste nt es na r eg ião,
p oderão s er a proveitad os n a s a ti vi d a des elem ent a r es . Da do. po r ém, q ue e ssa
massa de trab alha d or es b raçais ou s em i-es pecializad os . t erá de ser em p re ga da ,
- 22 -

em g rande part e, na s ex plorações agr!colas e pecuarras . parece de conven iên cia


que , n em m esmo ela , d eva j á es tar fixa da , no território escolh id o, em t erras
próprias ou a rrendadas e d is t r ib u íd as, com o de co st ume , d e m a neira es pa r sa ,
com desv a nt a gem , porta nto, de não s e poder p r om over a sua a glomeraçã o em pe -
queno s n úcleos r urais , onde se t or na ss e econôm ico pô r à s ua disposiçã o o má-
x imo p os s tvel de ser viços sociai s (ed u ca çã o, s a úde , et c. ) .
10. Com um t al 'p rog' ra rna , a dm ít ldo q ue es sa p opulação Ina u g ur al de 300 000
h abita n te s seja a bast ecida pela prod uç ão da própria re g iã o em 2/ 3 a 3/4 d e s ua s
n eces si da des de consumo e di sponha d e r ecurs os loca is de ener g ia (eletricid ad e,
á lcool, len ha , ca rv ã o vegetal ) , ga r a nti d a s , de m od o perm a nen t e e eco nô mi co, t ôd as
es ta s u til ida d es , t er -s e-á d e d esapropriar área su fici en te , di g a m os d e 50 000 k m"
para s e t er uma boa margem de s egu r a n ça a favo r d o r e gu lar des envolv im en t o
da Ca p it al e con tra o s urto d e es peculaç ã o imob ili á r ia. Dai s e con cl u i q ue se
pod e e s e deve loca li za r a no va Ca pital F ed er a l em r e giã o d e dens ida de d em ográ -
fi ca inf er ior à d e 1 h ab it a n t e por q uil ôm et r o q uadrado ,
11. Ser ia , po r ta nt o, de a con selh a r a l oca li za çã o do T er r it ór io d a Capital Fe-
d er al, so b o p on t o d e vista d e dens id a de po pu la cional, em r e giã o de m eno s d e 1
h abita nt e por km' , n ã o s om ente p ela m encio nad a conve niê nc ia d e se t o rna r fa -
cil it a do, pela Imi graçã o de t r a ba lha dor es r ura is das r e g iões circu nj a cen t es (pri-
m eiro efe it o de in fl u ência da Nova Ca pi ta l ), o es ta belec ime n t o de n úcle os rurais,
com uma raci onal d istr ibu ição d e t erra s agr-ícolas e pastoris, com o também de se
con se gu ir a r ed u ção da s des pesa s de ind e niza çã o das b enfe it ori as e t erras p or-
ventura a s erem desapr opria da s , devido a s ua men or util iza ção at ua l.
12. Entã o, por efe it o d êsse crit ério de limit a çã o da área d o plana lto cen t r a l
a s er est u da d a par a a localiza çã o da n ova Ca p it al , d eve r -se -Ia procur a r , na a t ual
fai xa cha ma d a p ioneira , a re gi ão m ai s a p r opr íada . Ela dev e ser encont r a da em
u ma da s depres s ões ou r eentrâ ncia s h oj e a pr esentadas por essa fa ixa pi on eira,
Isto é, nas zona s em qu e se man ifes t a m di fi culdades m ai or es a o avan ço n ormal
pro movid o pel as in iciativa s priva das o rd inári a s, - d ificulda de s que pod er ã o s er
ven cidas fAcil men t e pelos r ecursos e xcepciona is d o emp r eend ime nt o o ra em vista.
13. A loca ção do T erritório da nova Ca pital em um a da s atua is r eentrância s
da atual linh a d e d esenvolvimen t o econ ôm ico do p ais , estar á, por outro lado,
d ependen d o d e s u a a de q u a da a cessib ili dade pela s v ias d e t ransp or t e ex is t ente s .
:e:s t e r equis it o to r nou -se, na a t uali dade , m ui t o m en os pr opon deran te , n o q ue con-
cerne ao tra ns por t e d e pa s sa g eir os , d evido a o pro gre sso da av iaçã o co me r cial que
pe rm it e h oj e o a ce ss o , em pouca s horas, a q ual q uer p on t o da re g ião m ed it er r â nea
do Bra s il. Uma vez q ue s e ad m it a o a u t o-ab astecim ent o r eg iona l dos 2/ 3 a 3/ 4
d as n ecess ida des da popul aç ã o do T errit ór io da Cap it al F ederal, ba stará prever-se
o es tab eleci m ent o de via s de transporte t errestre para um t ráfego de u ma peq uena
part e da t on ela ge m da s m er cadorias de a bas t eci me nt o de s u a popula çã o , m erca-
dorias q ue têm de ser im p or tada s das o utra s Un id a des F ed eradas. Da d a a grande
massa da populaç ão Inaug ur a l da n ova Ca p ital se rá pos sive l a con st r uçã o d es sa s
via s de tran s por t e de prim eir a cla sse em cond ições eco n ôm icas , em ex t ens ã o de
300 a 400 q uil ômetros , com r eves t imen to es pecia l ou pav imen ta ção a conc r eto , ca -
pa zes de dar l ív r e trân sito dura n te o a no int eir o, a veloci dades su perio res a
50 km/ h or a .
14 _ Natu ralm ent e nos es t u dos pa r a a escolh a do Ter r it ó r io em causa , t er -s e-á
de leva r em conta o desenvolvlmc nto no r ma l de s ua p opula ção de acôrd o com
s uas finali da d es primo rdia is, - des en vol vim ent o no q ua l se d eve co n trar ia r t ôd a s
as in fl uência s noci va s de ex pa nsã o nat u ral ou fo rça da d e out r a s a t ív' d a d es, in -
d us t r iai s ou n ão . Is so s e pode obter por u m co n ven ie nte afastamen to da á re a
do T errit ór io r elativame n t e às li nha s -tro nc os dos sl s tern a s naci on ais d e via s de
tra n s por t e fe r r o e r od oviá r io.
- 23-

15. O T er r it ór io da Ca pital Fe deral , de fe nd ido as si m contra d esc n vol vímentos


im própr ios e inc on venient es , se evolvcr á n ormalm en t e, de a côrdo com a s t en d ên cias
de m ai or ou menor ampli ficaç ão d os ca mpo s d e atividade da Ad ministraçã o Fe-
deral . A s ua popul açã o ina u g ur a l, a cima es t ima da em 300 000 h a bi tant es , pode rá,
então, s er di s t ri b u ida, de m odo es q uemá ti co, em 200 000 habi t an t e s u r b anos loca-
liza dos na Ca pital p r op r ia men t e dita , 50 000 hab it a nt es s u bu r bano s agr up a dos
em 2-3 ci dad es-satélites a 30-60 K m de d istllnci a do centr o da ci dade e a êl e li -
ga da s p or a uto-es t rad as e 50 000 h a b it a n t es rur a is em t ôrn o de p eq ue n os n úcl eos
ou povoa do s, es t a belecidos dentro da área de suas la vou ra s.
16. O cr es cimento des sa p opulaç ã o in icia l deverá s er pr evisto pa ra um período
de 50 anos , ao fim do q ual a Ca p it a l co mportaria. no máxim o, 500 000 habitantes
urban os . As cid ad es -satélites, em nú mero co nven íc ntcmc nte ac re scid o, uns
150 000 hab itan tes e as zonas rurais perto d e 100 000. com a m eno r ta xa de des en -
vol vi me nt o p ela previ s ta mecan iza çã o progr essiva dos t r a ba lhos a gríc ola s.
17 . As ci dades-saté lites s ão aqui prop ostas p elas me smas r a zões por que o
fora m os nú cl eos rurai s , is t o é . de evit a r o d es envol vim ento u nil in ear ou di sp ers o
das popula ções s u bur b a na s ou r ura is ao lon go das es t ra da s e ca m inh os vicina is .
pela s ua con cent r a çã o em á r ea s adequada s sob forma de peq u enas c idades ou
vilas, com tôdas as co modidades d e pr ime ira or de m e com os se us pró prios locai s
d e t r ab al ho. Ass im, na pr imeira et a pa do plano d e ins talação da Ca p ital , po-
deria s er est uda da a po ssibili dade de construção de u ma cidade-s a t élite para es -
t a b elecimento dos órgãos das a dministr açõ es centrais das institu ições de P r evi-
dência Soc ia l, ou t ra para os se rv iços cen tr a is do I nstituto Bra s ile iro de Geografia
e Esta ti stica e t al vez uma t erceira , co mo cid ade In du strial . pa r a a localiza ção
co nj unt a de certas indús t rias r e gi on ai s neces sária s ao abast ec im en to da pop u-
la çã o do T erritór io . Es sa s cidades-sat élites ofer ece r ia m a inda a va n tagem de r e-
so lve r em futu ro r em oto o d es envol vlm cn t o da Capital s em o a cr és ci mo ex a ger a do
da p opu laç ã o urban a do seu nú cl eo princ ipal .
18. Pressup os to êsse d es envo lvi m en to da população do T errit óri o da Ca pita l
F ed era l e ad mi ti d a a p ermanência da po li tica d e p rover o s eu a b astecim ento em
grande par te, pelo s pr óprios r ecurs os da r e giã o, es tá-se em co nd içõ es d e se poder
es ti ma r , gr osso modo, a s upcr f íc íe do m es mo T errit ório .

2. Su pe r fície

19. Pa ra a in st al a çã o da nova Ca p ital com um núcleo urban o p rinci pa l de


capacidade fi nal d e 500 000 h a bi ta ntes, que n êle t erã o s eus loca is de trabalh o
e de r esi dência . cons t r u ídos s em con ge s tio n ame n t os h oj e co nd en ados e com ple -
t a dos com os es tabelecimentos co m erciai s , so cia is e cultu r ais exi gidos pe lo alto
n íve l da vida da pr ev ista. popu lação, ba s tará r eserva r um a á rea co mpreen dida,
esq ucm àt íca mc n tc , por uma circunf er ên cia d e 5 Km de rai o ou s ej a d e m enos de
80 Km 2 , - o q ue dará u m a d en si d a de m édi a de 65 pes soa s /h ect a r e, us an d o-se o
t êrrn o den sidade e m r elaçã o a á re a t otal e não co rno o nú mero m édio de pes s oa s
pela á r ea s om ent e do s lot es edificáveis.
20 . É verda de q u e não s e pod erá co m pa r a r es ta d en si dade com a que foi
adot a da no p la no de r em odel a ção de Londres. de ac ôrd o com as co n d içõ es r es-
triti vas im pos t as pelo r es pect ivo Cons elho, fix a da em 75,8 habitantes po r acre
de s up er!! cie t ota l (136 pessoas po r a cre ed ífl c áve l pa ra mo ra dia) par a o não
s e t er d e r em a nej ar se não 39% da po p u lação , embo ra com a obr igaçã o de prover,
par a 40% , mo ra dia em apartamentos " Se se q u is esse dota r com r es idências iso-
ladas todos os s eus h a bitantes , se teria de fi xar em 48,3 o n ú m ero de pessoas
po r acr e ; ou sej a ap r ox ima da m en te de 120 por h ect are .
21. Em nos so caso, com a li b er da de de pl anej a r em t erreno nu e com a obri-
gatoriedade de prover a in stalaçã o de ex igê n cia s esp eci a is q u a nto à repre sen taç ão
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e evo lução , não p od erá s er ti do com o exagerado o ba ixo val or da pr opost a den s i-
dade na f as e f ina l d o p revisto d es en volvtm en to d a Ca p it al em s eu nú cle o urbano
pri nci pal .
22 . 1!:sse núcleo urbano seria, es quemà ti ca mcn te , circun dado por uma coro a
d e 30-40 K m de lar gura q ue co ns titu ir ia a ci nt ura ver de pr ot eto ra da ci da de ,
n ão só co m o f im de ofe r ec er à su a populaçã o pa r q u es e flores tas pa r a r e pou so
e recr e io, como t ambém t e r r enos . pa r a a s explo rações h or ticol a s , fl or icola s e a vi-
co las neces sá r ias ao seu ab ast ecimento cômodo e econ ôm ico .
23 . Na á r ea cont ígua. compreen d ida por uma n ova co r oa de c êrca de 10
q uil ôm etros de largu ra , se ri a lo ca liz a da a p opulação s u b urbana da Ca p it al em
cidad es- sa t éli t es es tabcl ecidas para al oj a r ce r to s g r up os junto a locai s d e tra balho
que não exija m um cont a ct o imed iat o e cons ta n te com as at ivid a d es urbana s
centrais .
24 . O utr a coroa concên t r ica de l argur a adequada (15-20 Km) s eria r es ervada
à s gr a njas le it eira s, às cultura s fr u ticolas e às ex plo rações de cer tas lavouras e
cr ia çõe s peq u ena s , b em como d e fl or estas Industria is pa ra suprimento de len ha
e de ca rvão ve get a l pa r a co nsumo do méstico.
25 . D êss e mo do. s e gu ndo éste esq ue ma prim ário, t ornar-s e-iam preci sos,
em números a proxi ma do s , 10-20 000 q u ilômet r os quadrados para a ac omodação,
ampla e r aci o na l , d a pop u lação urba na , subu rb a n a e parte da populaçã o r ura l
d o T er r it ó r io, em s eu previ sto cres ci m ento até a o fim de 50 a no s .
26 . Além dêsse aglom er a d o princ ipa l, d evem se r prev istas a s zo na s das
g ran des la vou ra s de cereais (tri go, m ilho , a r r oz, etc. ) , de ca mpo s de Inv ernada
de gad o para o consu mo do T er r it ór io, do s la gos de criação de pe ix e e , se p oa s ív cl ,
das cu lturas d e cana de aç úcar e de a lgodão, a lém da s fl orest as de madeiras de
lei e da s re s erv as fl orest a is para d efes a das á gua s e d as t err as ou dos stt íos
naturais .
27 . A sa tisfaç ã o de 65-75% das ne ces s ida des da população do T erritór io pelos
próprios r ecursos da r e gi ão , em q u e os ún icos combustí vets de u so gera l dís-
po ní ve ts s er ão de or ige m veget a l , Im põe uma ce rt a la r gueza na d et erminaç ã o da
superficie t ot a l de um t erritório de que s e desc onh ecem a inda t ôdas as cond ições
natu rais . Mes mo adm iti do o sã o pr incipio de que êss e T err itório n ão d eva dcsen -
vo lver -se em u ma zon a d e produção exportáve l, parece j us t ific a do t er-s e de fixar
em 50 000 K m 2 o li mi te m lnlmo de sua supcrffcie , com um m áxim o de 100 000 Km ',
área m édia. propos t a pel os m elhores d os planos d e r ed ívls ã o t err it orial d o P a is .
28. Com uma s u pe rf fcle de t a l gra n d eza , d eixa-se a possib ilida de da ex ce ção
(p or m otivos d e ord em ec on ôm ica , d e b ar a t ea ment o das tarifas de transporte , pela
prev isão de uma massa de certos prod ut os de ex por t a çã o com o car ga d e r et õrno
dos ve ículos em tráfego) d e manter em f unci o na m ent o, n o T erritório, certas In-
dús t r ias q ue parece de verem se r esc o lh idas en t r e as d e materiais de con struçã o,
como é eviden t e; d e fato, a s indúst r ias dess a na tureza (ci m ento, madei ras es-
q u ad r iadas , m a te ri a is cer âm icos. ferro fu nd id o, etc . ) , inst ala das pa ra s u prir a
eno r me m a ssa de m at e r ia is ex igi dos pela fa s e de constr ução da n ova Ca pit a l,
em bo r a amortizadas n o t otal ou em g r ande par te, ao fi m des sa fa se, devem se r
a p r ove it a d a s . com su a prod uçã o a p r eços r eduzidos , pa ra fom en t ar o desen -
volv ím cnt o ec onômico das r egiõ es circunvizinh as , forn ecendo, a o mesmo t emp o,
o dese j ad o t r áfego d e r et õrno às emprêsas de t ran sp orte .
29 . Na superf ícte m á xima de 100 000 qu il ômc t ros q uad rad os podem se r in-
clu ída s as faix as ( de 20-50 K m de largura) a se re m desap ro p r ia das para a loca ção
das v ía s de trans porte de prim eira o r de m e pa ra a s ua devida prot eçã o con t ra
ind e sej á vei s dese nvolvim ent os ao longo de se us percurs os . Tais fa ixas , a lém de
permitirem , no futur o, o la n ça ment o d e varia n t es en tã o t ornadas ccon ômlca s pela
int ensi fi ca ção do t r á feg o, pod er ã o ser ut il iza da s co rno fl or est a s pa ra for neci men to
de carvão vegetal n ecessá r io ao consumo d os gazogên ios d os a uto-camin hõ es e
dos t ratores de va gões a copl ados em com boios r ed uzid os d e uma ou duas u n idades .

..
- 25-

3, P olfttca t er rit o r ia l
30 , A área Que fór es co lhi da e d e marca da para o Te r r it ór io d a nova Ca pit al
F ed e r a l d ev e rá s er t ra nsfer ida ao d om ín io d a Un ião , po r doação , quando s e t r a tar
d e t err a s d om in ia is d os Est a d os e Mu n ieip ios a fet a d os pela s olu çã o a p r ovada,
e por d esa p rop ri a çã o q ua nd o s e tra t a r d e propried a d es p r íva d as ,
31. Em a m bos os cas os a s be n fei t or ias d e car á t e r pe r ma ne nte. e xi st e n t es
nas p r op r ieda d es compr eend id a s n a á re a do T e rritó r io , d e ve rã o s er inde n iza das
pel o s eu va lo r a tua l c as t e r r as d os particul a r es adq u ir id as pel os va lo r es ad ota -
d os no cá lc u lo d o im pôs to t e r rito ri al d o cxe rc tc to d e 1946 .
32, Os a tuais propriet ários d esa p ro p r iad os por u t il id a d e públi ca t e rã o pra zo
s ufic ic n t e pa ra as colh e it as d a s pla n t aç ões a n ua is em d es en volv ime nto . bem como
go za r ã o d e p r ior id ad e para o apr ovei t a mento d e s uas a tividades no pl a no d e
e xecuç ã o d a no va Ca p it a l. d e p r efe r ê ncia nos m es mos sltio s e nas m esmas
oc u pações ,
33 , R eceb id as pela Un ião t údas a s terras e b enfei t or ias com p r ee n d ida s n o
t e r r it ório d em arca d o , a s ua pro g r ess iva utiliza çã o d ev erá s e r procedida de ac ôr d o
co m o pla no g eral r egul a d or d a implanta ção da n ova Ca pital. qu e, n es se m om ento.
j á es t a r á o rga n izad o em s uas li n h a s ge rais e cuj os d etalhes s erã o d csenvol v íd os
com a m arc h a dos tra balhos d e co ns t r uç ão , ga ra n ti n d o-se , se m p re q ue poss ível.
o s u p r im e n to , por fontes no p r ó p r io t e rri t ório. d e t od os os ele m e n t os necessários
à e x ecução d a s ob r a s c à m anutençã o da população r eg ion al.
34, Se gui n d o a fcli z poll tl ca t erritorial adot ada pel o G ovêrri o da Austráli a no
es t a belecim ento d e s ua cap ital fed eral - Canberra -. p olltl ca d e s ucesso hoje bem
p r ova d o por mai s d e 20 a no s de aplica çã o ap esar d a in t ercorrên ci a d e vá r ias
c r ise s eco nôm icas. é d e p rop o r -s e e d e tnst tt uír-s e, a fa vor d a U n ião , a proprie-
da d e d e tod o o Te rrit ór iO d emarca d o. q ue o utili za rá conve ni en te m e n te con forme
os ca so s . s eja e nt r e g an do -o a o d omln io pú b li co , s eja oc upand o- o co m as In st ala-
ções e e d if icações d e u so p ró p ri o ou p ú bli co . se ja a r re n d a n do -o para e x plor a ções
par ti cular es s egundo con di ções que a s s eg u r em sempr e a s i. Isto é . à coletivi dade.
as va n t a g e ns d e s ua a u to -va lo r iza ção e as fa cili d ades d e s ua eventual d esa p r o-
pr iaç ã o ul t e r io r po r necess id a d e d o d ese n volvim e nt o d os aerv í ços públic o s fed e-
r a is ou d os m elho r a me n t os e r e manej a mentos es tab ele cid os po r fu turos planos
r eg ion a is .
35 . Com es sa p olltlca t e r r it orial d e la r ga visão , s e r á a fasta d a a con taminaçã o
d o n ovo t erritório pela lepra da es peculaç ã o im obil iá ria, - c uj o s urto é mais
q ue d e t em er-s e ate ntando à s con d içõe s atuais d e co nj u n t u ra nacional. e m pl e na
cris e In fl a ci on ária . com todo s éq u it o d e tra nsaç ões tumultuária s d e mero Joso.
es ti m ula d as pel os e x cessos d e luc r o especula t óri o e pelas fa cilida d es d e cr éd ito
bancá r io ,
36 . Natur a lme nte, par a a utilização do s terren os em q ues tão. o s eu arren-
d a me n t o a particul ares nã o d e verá s er e nq ua d r a do na s antiq uad as forma s d o
In s ti t u t o d e e n fi te u se . e s im s ob nova s co n dições com pa t tve ts co m a a t ua lid ade
e com a na t ure za d e ut il tza ção d o t erren o .
37, O arr e n da m e n t o e m q u est ão se r ia instituld o m edi ante co n t ra to , com
pra zo d e 25· 30 anos c co m a ob r ig ação d e s er co ns t r u ido e utiliza d o o t e r r e no
em p r az o d eterminad o , pa r a os fi ns es pe cificad os . med ia n t e o pa ga m ento d e u m a
prest a ção pe ri ód ica , me n sa l o u n ã o, r esul ta n t e d e u m a pe rce n t a gem fixa (6-3% )
s õb r e o va lor d o ter r eno . P a ra d etermi naçã o d êsse va lo r d e b as e . os iot es se-
ri a m ofe re ci d os à li cit a çã o p ú blica a be rta s õb re u m " al ar es ti ma ti vo d e cu sto
efe tivo .
38 , O va lor de base d e ca da lot e arre nda d o es taria s u je it o a r c vt sõ e s pe ri ó-
d ica s (d e 5 a 10 anos d e in t erva lo) . Iívr c a ca da u ma d a s partes con t r a t antes d e
ped ir a sua r ev isã o a n t ecipa d a , caso s ob rev iess e m va rt a ções e x t r a or d inária s no
merca d o im ob il iá r io ,
- 26 -

39 . Seria mist er q ue lei espec ia l r e gula ss e es sa n ova for m a d e a r re n da me nt o


a fim d e q ue o a r re ndatário ti ve s se a poss ib ili d a de d e contra ir e m p ré s ti m os
d a nd o e m garan tia as con s tr u ções e b enfeitoria s po r êle custead as, obriga nd o -s e
o p r o prietário a t r a nsferir os d ir e it os d e co ntrat o d e a rre nda m en to em caso d e
e x ec u ção do emprést im o p or par te d o credo r h ipot ecá r io .
40 . Q ua nto a o a rrend amen to d e lot es pa ra con s tr uç ã o de casas r es id encia is
urba n as o u r u ra is e s ua u ti li za çã o pelo próp rio a r r enda t ári o e s ua familia, s e r ia
co nfe r id o o u so e g ôzo d e ta is t err en o s. a o arre n d a t á r io e s e us h e r d eiros d ir e t os,
como be m d e Iu m íl ía , p or te m po i n d eterm ina d o , s uj eit o tã o somen te às r evis ões
p erió d ica s d o va lor d e ba s e das p res t a çõe s d e a rre nda m e n t o.
41. F ica r ia , d êsse m o do , ga r anti d a a pe r m a nê nc ia da p ro p r iedade fa mi li ar
u rba na o u r u ra l com sua ind iv isi b il idade e im p en hora b ili d a d e, se m nece s s ita r d o
empa t e i n ici al d o capital de a q uisi ção . Ca s o o e he fe de f am ll ia q u isess e p ôr a s ua
fa mll ia a sal vo do pagamento da s f utu ra s pres ta çõe s d e a r r e nda m ent o, ba sta r ia
q ue c ons ti t u is se u m s e gu r o g ara n tin d o a cob er t u ra d es sa s p r est a ções a p ós a s ua
m or t e e por tempo in d e termi na d o.
42 . Q uanto aos lotes toma d os pa r a s ua ut il iza ção com p r éd ios r es idencia is
de locaçã o, estab eleci m en t os come rcia is ou in d us t r ia is , o a r r en d a m ento s e li m i-
t a r ia ao prazo d e 25-30 a no s, fi n d o o qua l , a va li ad a s as be n feit or ias f eitas pelo
a rrendat á r io por se u va lor a t u al, s e r ia o lot e p õst o de n ovo e m h a sta públic a ,
na q ual s e r ece b eriam as ofe r t as pa ra seu novo arrend a mento , co m a cond ição
d e im edia ta inden iza ção d o va lor das be n feitor ias a o a n ti g o a r r en d a t á r io . l::ste
pode r ia g ozar d e prefe rê ncia e s pecial pa r a o n ovo con t rat o de a r r e n d a m e n t o, In -
cl usi ve s er f a vorecido por u m li m it a do d escon t o sô b re a ofert a m a is va nt a jo sa
r ecebi da n a h a sta pública .
43 . E m q ua lq u e r t e m po, m edi a nte pré via n oti fi ca ção d e 3-5 a nos , p od er ia a
Uni ã o, d e ac ôr d o com o con tra t o d e a rren d am e nto , r escin d i-lo co m a devid a In -
d enização d a s b enfei t or ias ex ist en t es. I ss o s cri a j usti fica d o por neces s id a d e d e
s u a o cu p a ção pe los s e r viços p úbli cos ou para r e man ej a men t os do plano d iretor
da Capit a l e d e seu t er rit ór io , ca be n d o a o a n ti go arre n datá r io direit o d e pre-
rer éncía ao arr e ndamento dos im óve is r econstruid os n o m es mo loca l, se ês tcs
f õasern e n t regues a ocu pa ção d e t e rcei r os .

4. Financiame nto

44 . Apes a r d a i mpor t â nci a e d a Impon ên ci a d o em pr ee n d ime n t o é, dada a


e x igência de u m p razo de 10-15 anos p ara su a pe rfeita e xecuç ão , d e t emer-s e a
falta d e con ti n u ida d e o u r et a r da m e nto d e march a eom o conseq üe n t e inap ro vel-
ta me n to por m ui to t e m po d os ca p it a is já in ve r ti d os nas ob r a s e in st ala çõ es d a
n ova Ca pita l , o ne ra ndo a ss im o se u c u sto com a a cumu la çã o sucess iva d e juros
ve nci do s .
45 . Além disso n ã o s e ria jus t o q u e in cid is se s õb r e o T es ou r o Na cion a l e ,
portan to , s ôb re a econ omi a na ci on al, o cu sto de g r ande pa r t e da con st ruçã o da
nova Ca p ita l , q uan d o êle rev e r t e r ia e m va lorizaçã o d os t e r r e nos d o t e rritó rio,
va loriza ção q ue d ev e s e r paga por s eus us uár ios , is to é , a po pulação d e p r óp r io
T errit óri o . P od er-s e-ia d e ixa r a ca r go do T es ou r o Na cion a l somente o fi na ncia -
m e nt o das ob ra s de ca ráte r nacion al , isto é , das vias c in s tala ções d e t ran s portes
e comu n ica ções .
46 , Em vir tud e de s sa pon d e ra çã o, parece q ue a soluçã o ma is jus t a e s egura
pa r a o ca ba l fin an ciamento cio empree n d ime n t o , cu ja r e gu la r id a d e d e e x ecuçã o
fi ca ri a t a m b ém a s s im garantid a , se r ia a t ra ns fe r ê ncia d a pro pr ied a d e das t erras
desapropriad as e r ece bidas e m d oa çã o p a ra a con s titu ição do T e r ri t ório d a Ca p it a l
F ed e r a l a o s is tem a fed e ra l d e Prev id ê n cia Social .
47 . Ness e caso , os I n s ti t u tos d e P re vl d ênc ia Socia l , ou me lh or o instituto
ún ico que os d eve s uce d er cm bre ve , r ece b er ia e m pa ga m en t o d e pa rte d o atual
- 27-

débi t o do T es ouro Na cion a l para com êles , pc la n ã o r ea li za çã o de cont r tb u i ções


da Un iã o. os t er r enos em causa, por seu va lo r at u al , e ín ver t er tarn n êles pa rte
de s ua s r eser va s e di s poni b ili dad e s an uai s para a con str ução das o b ra s em in s -
t a la ções do plano de con strução d a No va Cap it a l.
48 . T er ia a s s im a P r evid ênci a Socia l en cont r a do um ca mpo para suas in-
ver s ões a nu ai s com as va nta gens da co ncentração das ati vida des e rac íon a llzaç ão
dos m eios . O cu s t o das ob r a s e in stalações púb licas, nã o r entá veis (t er -ra p len a gem,
dren a gem , pav im entação , ilum ina çã o, ed ifí cio s pú b lic os federais e t errit o r ia is ,
etc . ) s eria d is t r ibu ld o pela ma ssa de l ot es de ocu paçã o pa r ti cu lar im ed ia t a par a
fí n s r es idenc iai s , com ercia is. in d us triais e a grfc olas . Mes mo o cus t o de v ias e
in stal a ções de t r an s p or t e e comu nic aç ões pode r ia , t a lvez, se r coberto pelos ca -
pita is da Pre vi d ência Soci al e di stri bu id o da m esm a for ma .
49 . É ve rda d e q u e õss o plano d e f ina ncia men to s ó se t ornaria pra ti cáv el
se fôss e da da , de inicio , à n ova Ca p ita l. uma gr ande popula çã o, isto é . se se
previs se um gra n de nú mero d e lot es d e im edi ata ocup a çã o particul ar . De fato,
para u ma estim a ti va de 300 000 h a bita ntes à data da in au guraç ão, t er-se-ia de
di s p or d e cê rc a d e 80 000 lot es para s a tisfa zer às necess id ad es de t ôd as as es pé cies
d a pop ula ção do Terri t ório , Or a, ad m iti ndo-s e u m va lor globa l de u m b il h ão e
m e io de cr uzeir os pa ra a s ref er ida s ob r as e in stalações, ch e ga r- s e -Ia a um valor
m éd io in feri or a 20 000 cr uze iro s po r lot e , o que r esultaria muit o r a zoável e
eco nô m ico ,
50 . As r eser va s da Previdên ci a Social ser ia m apli cadas nã o s ó na aqu isi çã o
das ter ras e na exe cuçã o da s r efer id a s ob r as gera is , mas tam b ém na ins t alaçã o
de t odos os ser viços pú bl icos r emuncr ávcís (á gua , esgo tos , en er g ia e lé t r ica, etc . )
e da s explorações In d u str iais necessárias (m ateriai s d e con s t r u çã o, fl orestas In-
du s t r ia is , m oagem d e trig o. açú car e á lcool. fri g o r lfi cos . etc . ) b em com o na
con st r u çã o d e préd ios residen ciai s e com erciais para loca çã o. s u p r in d o, em to dos
os ca s os , a in suficiên cia das ini ciati vas pri va da s e garan tin do a r e gu la r idad e ,
econo m ia e perfei ção da exec u ção do pla no ge r a l d e co ns t r ução da Capital .
51. Não pode rá pr eval ecer qual qu er ob jeçã o contra a con centra çã o da a pli-
caç ão, po r mu it os a n os , das r es ervas da Previdên cia Social em uma re gi ã o r es -
t r it a do t cr r it ór io naciona l . Não s om ent e êss e e mp recnd ime nto t cria b en éf ica s
conseq üê ncia s qu e s c di s t r ibuiriam ma is tarde por tod o o Pais , co m o, p r incip al -
m en te, nã o e xi g ir ia m a is qu e a a plicação de cêrca de um t êr ço da s d isp onib il i-
da d es an ua is das in s tituições de Pre vid ência Soci al , durante o prazo de 10-15
a nos n eces sários para a exe cu ção d o pl ano .

5. Administraçiio

52. Para ga ra nti r a imprcscind lvel con ti nu idade de exec uç ão de um em p ree n -


dimcnt o d e t ão va st a en ver ga d ura e d e t ão lon ga d u ra ção. im p õe -s e q u e a s ua
d ir cçã o s up er ior s cj a ent r egu e a uma Comi ss ã o exccutiva d c pequen o n úm ero de
m em bros , três de pr ef cr ência, de indiscut íve l ca pac idade t écn ica e a d mi n is t r a ti va
e d c n ot ória idone idad e m or a l , n om eados pelo P r es idente da Rep ública para um
m a n dato de 7-9 a nos d e d u ra ção, ren ováv el em su a ex pir aç ã o .
53. Caberia a es ta Comi s sã o ex ecu tiva t od os os a to s e pro vt d ênclas de dire-
çã o s up er ior d entro d e um progr a m a gera l e plan os es pecia is p r evia m ent e a pr o-
va dos, ca bcn do a o m em b r o d esi gn a do pa r a seu pr esiden t e por d ec r eto d o P res i-
den t e d a Rep ú bli ca, a decis ão e or ientação de t od os os a tos . q ue de ver ia m se r
r ef er en dados por um d os do is ou t ro s m em b ros da Com issão , dos qua is u m s eria
desi gn a do com o s eu su bsti tu to nos e vent u a is Imp e d imentos de dura çã o inferio r
a 60 di a s .
54. Adot a d o o pl ano de f inan cia m ent o por me io da s r es er va s da Previ d ência
Socia l , s er ia const it u id o um Cons elh o Técnieo-Ad m in is t r a ti vo. co m pos t o dos três
m em b r os da Comi s sã o Exe cu t iva e de três represen t antes da s in s ti t u ições finan-
- 28 -

cia doras . A êste Co ns el ho ca b er ia di s cutir e aprovar o p rogra m a ge r al e os


planos e speciais ap r esent a dos à sua d eli b eração , b em com o os se us o r ça men t os
gera is e an ua is d as obra s e in st al a ções , a lém do o rç am en to adm in is tra tivo geral
e d os r e gu la m en t os e in stru ções gerai s d e serviço .
55 . As resol u ções dês se Conselh o s er ia m toma da s po r maioria d os votos do s
m em bros p r es en te s , com a pres ença de, pelo m enos dois t êrços de seus m emb ros ,
cabend o a o se u p res idente q ue é , ex - of ici o, o pr esiden te da Comissão Exe cu ti va
ou a seu su b s ti t u t o, 'o voto de q ualidade em ca so de em pa t e . Qu a n do, po r ém ,
em votaçã o de ca da matér ia , os vot os se d iv idissem n os dois grupos de se u s
memb r os ( Go v êrn o Fe der a l e Previdên ci a Social) , a q ue stã o, d evidamen t e Infor -
mada pel a s r esp ecti va s j ustificações de vo t o, se r ia leva da à d ecisã o s up er ior do
P r esid en t e da R ep ública .
56. O P r es id ente da Com issã o Execu tiva a presenta r á ao Pres id en t e da R e-
pú blica li sta de três t écni cos de bo m no m e p rofi ss ional e m or al para es col ha
do s u per int end en t e geral das o br a s da Nova Ca p it a l , a s er nomeado p or con-
tra t o de prazo fi xo nã o in fer ior a cinco anos, r escl n d ivel no ca so d e não satis-
fa tó rio c ump r imento de suas obr ig a çõe s . O r efer id o s upe r int en den t e g eral t eria
o dire it o de n om ea r 1 ou 2 a s s is t ent es t écnicos de su a conf ia n ça pessoa l para
a u x il iá -lo e even t ualm ente su b st it u i-ia em su a s própr ias f u nç ões .
57 . A a dm inistração púb lica d o T er r it ór io, d u r a n te a fa s e da construção da
Ca pital, ca ber ia a um Prefeit o nom ea do pelo P r es ident e da R ep ú blica entre três
n omes ap r es en tados pela Comissão Execu ti va e substituive l, even t ualmen t e, a pe-
did o da m esma Com is sã o . A êsse Pref eito caberi a a d ir eçã o de t odo s os se rv iços
estatais do Te rrit óri o, pa ra cuj o d esem penho n omea r ia do is a q uat ro s ecretários ,
en t r e os quais se riam d istr ib u id os os s er viços de ju stiça e segur a nça , d e fazenda
e finan ças , d e ob ras e s e rviços púb licos e de ed uca çã o e saú de . Comp reendem-se
bem a s r a zões da proposta di sposi ção d e Inte r depen dê ncia dê s s e Pref eito e da
Com iss ão Ex ecuti va quan do s e atente a q ue a popu la çã o d o Ter r it ór io, na fase
de cons t r uç ã o s erá cons t ttuída, em grande part e, pelo pessoa l das obras e Ins-
talações d a Ca p ital.
58 . F inalmen t e , pa r a a r egula r fi scalizaçã o da ge st ão de to do o sistema
t écn ico- adm inistrativo do T er r itó r io , na Cas e de co ns t r uçã o, seria criada , com s ede
per manent e n o m es mo T err it ór io, uma Com is sã o d e contr õle, de q ua t ro memb ro s,
d ois Indicad os pelas in s ti t u ições d e Previdên cia Soci al, e d ois n ome a dos pelo G o-
v êrno Fed er al . A es t a Com is sã o ca ber ia o exam e im ed ia to e d ir et o , a posteriori,
d e t odos os atos da Com is sã o Execu ti va e do Sup erint en d ent e Gera l , devendo so-
li citar as n ecessárias m edi das corretoras, p ropor a r espon sabil iza ção de q ua lq u er
agen t e a dmin is t rati vo e e xam ina r a s co ntas da ges tão; para is so de ver ia d ir ig lr,
a q ua lquer t em po, r epresentaçõe s à Pres idência da Com is são Ex ecu ti va e r el atórios
com a s cont a s e ba la ncet es apr ova d os , t ot al ou pa r cialm en t e, não só à r efe r ida
Pres id ên cia , como ao Presiden t e da R epú blica e ao s p r es iden t es das Ins tit ui ções
fina ncia do ra s .
59, Como foi di t o ac im a. o fi nan cia m ento d e t ôdas as ob r as e Ins t ala ções
pod er ia s er afeto à s r es erva s das In s ti tuições d e Previdência Social, ma s s eria de
justi ça q ue o Gov êr no da Un iã o custea ss e , à conta d o T es ou r o Na cio nal , a s obra s
e in sta la ções das vias de t ranspo r t e e comun ica ções (rodovias de pr imeira cla sse
e, ev entu a lmen t e , f errovia s, linha s -tron cos t el egrá Cicas e t el ef õnlca s ; es ta ções
de r á di o-tra ns m is s ão, a ero po r t os cl vis e mil it ares e ca m p os de po us o ; es t a ções
meteor oló gi ca s . et c . ) . Ness e caso, com o s e t r a ta de ob ra s a se re m exe cut a das
nos prim eiros a nos da const ruçã o da Ca pi t al, a Un ião poderia incluir em s eus
r cs pcct ívos orç a m en t os a n ua is u ma d ot aç ão co nvenient e d uran te um certo n ú m ero
de exe r cicios pa ra s er pos ta à d is pos ição d a Comiss ã o Ex ecu ti va com o sub ven çã o
des ti n a da a cus t ear a r ea li za ção d as o b ras de carát er n a cio n al.
SEG U N DA PARTE

Esclarecimentos e sugest ões (documentos sub scritos


pelo antigo Sec retário G eral do Institu to Brasileiro
de G eografia e Estatística).

I. il prop ósito de u m discurso na A ssembléia


Constitui nte - Carta ao Dep utado J oão de
.tl breu , represen tante do E stado de Goiás .
I I. Palavras de agradecimento - Carta ao Ge-
neral Djalma P oli Coelho, Chefe do S erviço
Geoçrdjico do Exército e Presidente da Co-
missão de Estudos para a localização da
nova Capital do B rasil.
lII. B RASI L IA , Capital do Brasil - Declara-
ções ao "Diário Tra balhista", do R io de
Janeiro.
I
A PROPÓSITO DE UM DI SCURSO NA ASSEl\1BLÉIA CONSTIT UINTE
( Car t a ao D ep utad o J oão d ' A b r eu, r epresentante do Est ado d e G oi ás )

Rio de Janeiro, 15 de junho de 1946


Carta
N.o 211

Ilustre Patrício,
Deputado João d' Abreu

Atenciosas saudações.
Permita-me que exprima a Vossa Exce!ência as mais vi-
vas congratulações pelo brilhante discurso proferido na
Assembléia Constituinte, no dia 6 do corrente, a propósito do
momentoso problema da mudança da Capital Federal. Con-
vencido qu e estou, há longos anos, da imperiosa necessidade
de que se proceda a essa transferência, em benefício dos al-
tos interêsses do país, tenho procurado, em diferentes oportu-
nidades, contribuir, obscura mas sinceramente, para a vitó-
ria da idéia. Encontro , assim, motivo para franco regozijo cí-
vico nas eloqüentes manifestações que ora se fazem ouvir, no
Parlamento e na imprensa, em prol do belo projeto que, até
bem pouco, era considerado uma simples utopia, embora a fa-
vor dêle também se tivessem pronunciado, em dias idos, gran-
des figuras de estadistas e patriotas, das maiores que o Brasil
tem conhecido.
Com efeito. É fácil ver , através de tão claros indícios,
que a id éia continha em si fôrça suficiente para ímpor-se à
indiferença de uns e ao ceticismo de outros, de modo a abrir
vitoriosamente o seu caminho, até converter-se na esplêndida
realidade que todos desejamos. As próprias contingências
dos dias que vivemos, eriçados de dificuldades de tôda a sorte,
sobretudo quanto ao abastecimento da população metropoli-
tana, vêm contribuindo para acentuar a justa impressão de
que o Rio de Janeiro já cumpriu a sua missão histórica de ca-
pital do Brasil, impondo-se, quanto antes, a correção do êrro
-32 -

secular, com a transferência da sede do Govêrno para o in-


t erior do país, em t êrmos que assegurem, simultâneamente,
du as grandes vantagens . Prim eiro, a de resguardá-la o mais
possível de ataques diretos de eventuais inimigos e, até, de
subversões da ordem, est imuladas por ag ressões do Exterior;
segundo, a de permitir-lhe que exerça por igual, sôbre o cor-
po inteiro do país, as funções qu e lhe devem caber, em rela-
ção ao território nacional.
É verdade que , no t ocant e à primeir a dessas van t age ns,
se pode objetar, com certa razão, que em face das modernas
conquis t as da a rt e bélica e dos cre scen tes progr essos da aero-
náutica, o seu significad o se vê de muito redu zido, em con-
fr onto com o qu e era dan tes . As mais recen tes lições da his-
t ória , t odavia, n ão são de ordem a qu e a consideremos de to-
do elim inada . Aí est á o exemplo de Moscou . Colocada em
parte bem central do imenso t erritório russo, a histórica ci-
dade foi difí cil e precàriamen te at ingida pelo mai or gênio m i-
lit ar da história , quando os recursos da gu er ra aind a n ão ha-
viam consegu ido o gra u de eficiência qu e hoje os ca ract eriza ;
mas, diretamente visada pelo poderio da máquina de gu erra
alemã, quando essa eficiência já alcançara limites t ão altos,
pôde, ainda assim , a salvo de ocupa ção, servir de sede aos ór-
gãos dirigentes das Repúblicas Soviéticas, no formidável es-
fôrço de defesa com que barraram as investidas da nação
agr essora. Quanto à segunda vantagem, de tal sorte me pa-
rece óbvia, que seria excusado referi-la. Entretanto, hei de
aludir a ela no decorrer destas breves considerações, que
formulo apenas na qualidade de brasileiro e cidadão, sin cera-
mente desejoso de ver o progresso e a felicidade de seu país.
E se reconhecemos que a idéia da mudança da capital já
amadureceu e encontra, atualmente, profunda ressonância
em todos os espíritos , parece mais do que cer to que aos ilus-
tres Constituintes de 1946 cabe o papel hist órico de dar o
passo decisivo para a execução do projeto, estabelecendo n a
Carta Const it ucional o pr azo exat o em que se deva verificar
a sua concretização e fixando, em têrmos definitivos, o local
destinado a servir de nova sede ao Govêrno da República.
É, sobretudo , quan to ao segundo ponto, que desejo expri-
mir a Vossa Excelência os meus aplausos mais calorosos às
considerações expendidas, na tribu na da Assembl éia Consti-
tuinte, em favor do p reval ecim ento das razõ es que determi-
naram a escolha do Planalto Central de Goiás, tal como es-
tava previsto, sàbiamente, na Constituição de 1891.
- 33-

Acompanhando com vivo inter êsse todos os debates em


tôrno do assunto, e as contribuições oferecidas ao seu esclare-
cimento, dispensei a merecida atenção às idéias expostas, em
discurso e entrevista à imprensa, pelo meu ilustre Amigo, De-
putado Daniel de Carvalho, - a cujo patriotismo e espírito
público rendo as minhas homenagens, - no sentido de que
a transferência se faça, não para o planalto de Formosa, e
sim para o Triângulo Mineiro. Considero, igualmente, va-
liosa contribuição para o estudo da matéria a "memória" ela-
borada pelo distinto Engenheiro Lucas Lopes, em defesa de
igual ponto de vista. Trata-se, realmente, de um trabalho
que muito recomenda a competência do autor, pelo senso ,
de objetividade com que procura demonstrar a sua tese.
Embora não pretenda, nesta oportunidade, estender de-
masiado as considerações que o problema me sugere, sinto-me
inclinado, todavia, a acentuar que , a meu ver, a razão, no ca-
so, está com Vossa Excelência, quando advoga a manutenção
do critério de escolha consagrado na Carta de !H e ratificado
pelo parecer da Comissão Exploradora sob a chefia do Pro-
fessor LuÍ!: Cruls.
E por que assim me parece? Porque acredito que a trans-
ferência da Capital se destina. sobretudo, a dar um impulso
decisivo à interiorização de nossas fôrças civilizadoras, levan-
do à hinterlândia brasileira, quase inteiramente desassistida
e desamparada, a ação de presença do Poder Central, locali-
zado até agora em área periférica, por um êr ro explicável no
seu tempo e em face das contingên cias históricas, mas que
à nossa geração incumbe corrigir. A escolha do local já de-
marcado perto da cidade de Formosa parece-me, a vários tí-
tulos, felicíssima. Êsse local está - como já foi dito, noutra
oportunidade, - "no que se poderá chamar o centro de gra-
vidade do mapa político do Brasil, que é, fisiogràficamente,
também um ponto simbólico, pois dêle fluem as águas que
se vão repartir pelas três grandes bacias brasileiras - a fran-
ciscana, a do Tocantins-Amawnas e a platina. Situa-se em
um planalto maravilhoso pelo clima, pela irrigação, pela be-
leza das paisagens, pelas possibilidades de turismo, pela ri-
queza das terras (campos, florestas, áreas de cultura). Está
no local mais protegido do território nacional quanto à possi-
bilidade de uma agressão aérea ou terrestre. E a metrópole,
ali situada, fàcilmente poderá ligar-se a t ôdas as Unidades da
Federação, e manter, com um dinamismo poderoso, a grande
unidade da vida nacional, mediante influência uniforme sõ-
br e tôda a ext ensão do território brasileiro - de nort.~~[!1'!!~
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- 34 -

e de est e a oest e". Trat a-se, porta n t o, de um local mais ou


menos eqüidist ante, em relação aos pon t os ext remos das fron-
t eiras do paí s. Sit uando-se n êle, a met rópole poder á preen-
cher, em benefício do Brasil total, a sua fu nção propulsora,
com o ful cro de progresso e civilização. Agirá, ao demais, co-
mo fiel de balança , verd adeiro fator de unida de e coesão n a-
cional . Será~ realmen t e, a cap it al do Brasil , o cérebro e o
coração da grande Pát ria que nos foi lega da pelos nossos
maiores , mas a cuj a in t egração geográfica ainda não conse -
guimos dar o n ecessá rio significad o, em t êrmos de val ência
econômica e social.
a deslocament o que se pr et ende, com a localização da
met rópole no Triâng ulo Mine iro, imp ort aria, de cert o m odo,
em elidir êsse objet ivo: estaría mos levando o gov êr n o da
Repú blica quase para o centro do Brasil M er idion al , n ão parti
o centro do B ra sil. O cen t ripetismo qu e ca ract eriza a fu nção
das met ró poles h averia de exercer-se em pr oveit o de um a re-
gí ão já de certa maneira pr ivilegiada por condições geográ-
ficas e hist óricas bem mais favor áveis do que aquelas pe-
culia res, ainda ag ora , aos "desert ões" do Br asil interior. A
sua ação catalítica manifest ar-se-ia em proveito próprio, e
n ão em benefício do pa ís, considerado como um todo, e a
exigir, por isso mesmo, cuidados especiais e mais at en ta vigi-
lância, da part e do Poder Público, justa mente em relação às
áreas onde mais desfavoráveis se a presentam as condições
de vida e onde o h omem brasileiro ainda n ão pode usufruir
um a existê ncia digna e feliz.
Sob cert os aspectos, a t ransferên cia da capit al não há
de ser um simples imperativo de ponderosa s r az ões políticas
e administ rativas . Para atingir in t egralmente todos os ob-
jetivos que a valorizam, a idéia precisa e deve ser encarada,
também, em t êrm os de solida riedade nacional. Tanto quanto
possível , a pr eferên cia pelo Planalto Cen tral de Goiás atende
a êsse obj et ivo, uma vez que a á rea n êle reservada ao fu turo
Distrito F ederal se sit ua no pa ral elo que cort a pelo m eio o
mapa do Brasil. E haverá razões suficientemente poderosas
qu e n os levem a con cluir pela contra-indicação do local esco-
lh ido, at en t as suas condições e rec u rsos na t ur ais? Tenho pa-
ra mim que não. Estou sinceramente convencido de que to-
dos os argumen tos até agora in vocados con tra a localização
da capital no ponto pr evisto na Cart a de 91 servem , exat a-
men t e, pa ra demonstrar o a c êrto e a felicidad e da escolha .
- 35 - -

Num a época qu e j á se conve ncionou ch amar de "Id ade


Atômic a ", evident emen te n ão será fá cil ao espírit o humano
prever a import ân cia que a en ergia h idráu lica a in da pode rá
ter , no futu ro, em rela ção ao progresso dos aglomerados so-
cia is. Todavia , qu er -me parecer qu e um a das r azões funda-
me nt ais para qu e se pre fir a o local escolhido n o P lanalto Cen -
tral é, exatamen te , n ão ser êle o m ais in dicado, sob êsse
aspecto, a favorecer uma alta in dus trialização . Do con t rá rio,
muit os dos objet ivos a que se procura at en der com a mudan ça
da capital, est a riam preju dicados "in liminc " .
Com efeito: qu e se pret en de, com essa mudança? Que
a sede do Go vêrri o da República fique sit uada, em condições
de scglUo.n ça - se não absolu tas, pelo meno.3 relati vas - em
local t ran qü ilo, t an to quan to possíve l a igual dist ância dos
pon t os extrem os do t erritório n acion al, para qu e a ação diri -
gen te se pro cess e em t erm os equâ nimes quanto às difer entes
re giões 1 0 pais, c n ão t en h a a af etá-la a pressão de certos fa -
t ôres preju dicia is ao en camin hamen to , em moldes am plos,
dos problema s na cionais, t an tas vêzes con fun didos, atualme n-
t e, com os que são caracter ístic a c especific am en t e l ocais, isto
é, do Distrito Federal. Ora, ba sta, pa ra tant o, qu e a localiza-
cã o se fa ça n uma cida de h igi ên ica , de bom clima, com recu r-
sos ba stant es pa ra per mitir a insta lação dos vários órg ãos do
Govêrno da Un ião e das represen t a ções estran geir as , e qu e
possa ter um bom sistema de comunicaçõ es in t eri ores com t ô-
das as Un ida des ela Federa ção.
Prever, ele logo, condições favoráveis a um rápido surto
de indu st rial iza ção, importa n o sa crifíc io, "a priori", das
con dições de t ra n q üilídade, qu e se fa zem n ecessárias, para
qu e a atua ção dos conselh os govern a men t ais se revist a da
seguran ça e isen ção imprescin díveis . Lembraria aqui, ainda
uma vez, o exem plo de Was h ing ton , que m e parece típico.
Gu ard an do-se as devidas proporçõ es, tudo o que nos cabe de-
sejar é que a n ossa n ova m etró pole, n a su a exp ressão demo-
gráfica e econ ôm ica, esteja para o Brasil assim como aque la
cidade para os Est ados Un idos. E n ão t en ho dúvida de que
o poder oso estí m ulo irradiado da capital h á de fazer-se sen-
t ir in tensamen t e, j á a gora do cen tro para a periferia, ben e-
fician do, por igu al, todo o país, in clu sive a promissora região
do Triân gulo Min eiro, qu e, por lhe estar mais próx ima e dis-
por de con dições na turais t ão favor áveis a u m brilh an t e sur-
- 36 -

to econô mico, há de convert er-se, necess àriamente, em um


dos mais poderosos pontos de apoio para êsse ma ravilhoso es-
fôrço de penetração das fôrças civilizadoras a que o patlio-
tis mo nos convoca .
Roubando o precioso tempo de Vossa Excelência com
essas despretensiosas considerações, faço-o, sobretudo, para
sign ifica r-lh e a grata con vicção em qu e estou de que , medi-
t ando sôbre o problema, não terão dúvida em forma r ao lado
dos que ad vogam o ponto de vista dos const ituint es de 1891
t odos os ilustres brasileiros que se vêm manifestando, atual-
mente, em favor de outro critério, na escolha do local para
a nova metrópole. E sob a inspiração do seu patriotismo,
assegurarão a unanimidade necessária para que o projeto se
conc ret ize a breve prazo, como o estão exigindo, agora mais
do que nunca, os supremos interêsses do Brasil.
Reiterando a Vossa Excelência as expressões do meu al-
to apr êco e cordial admiração, subscrevo-me, atenciosamen-
t e, etc .
(a) M. A. T EIXEIRA DE FREITAS
II

P ALA \"R AS DE AGR\ D ECJ:\! E:"TO

Rio, 9 de junho de 1947

Eminente Compatriota e pr ezad o Amigo ,


General Djalma Poli Coelho,

Atenciosas sauda ções.

Tenho a honra de acusar a prezada carta de V. Excia ., de


16 de abril, a que acompanhou um exemplar do seu rela tório
preliminar relativo à zona cent ral em qu e se deve localizar a
futura capital do Brasil.
O trabalho de V. Excia. , já pela segurança da argumen-
tação, já pelo bom senso que o inspira, parece-me perfeit a-
mente capaz de esclarecer a opinião pública e im por-se às de-
liberações do Govêrno.
Nenhuma autoridade teria a minha voz se pretendesse
conquistar adesões ao pensamento político tão claramente ex-
posto naquele documento. Mas como todos os brasileiros de-
vem , ao meu ver , encarar a transferência da metrópole do país
para o Planalto Central, como providência de transcendente
alcance para os destinos da Pátria, e de primeira urgência
diante do quadro escuro que a realidade nacional nos oferece,
sinto-me no dever de trazer a V. Excia. o meu irrestrito
aplauso ao seu ponto de vista e às seguras razões qu e o fun-
damentam, expondo aqui detalhadamente a maneira por que
tenho encarado êsse empolgante tema.
Desde a mocidade, há cêrca de 40 anos, dei todo o meu
entusiasmo ao ideal de renovação do mapa político do Bra-
sil. Tive, desde então, como certo, que êsse empreendimento
nacional significaria o novo ímpeto heróico - para servir-me
da expressão feliz de V. Excia. - a que estava destinada nos-
sa geração, visando integrar o Brasil na sua grandiosa missão
histórica .
- 38 -

Minha s pesquisas, come çadas em 1908, s ôbr e as condi-


ções de vida do Brasil, deram-me depressa a cert eza de qu e
uns t an tos er ros prejudica vam a eclosão n ormal das fôrça s
de pr ogresso do n osso pa ís, m algrado su as ad m ir áve is possi-
bilidades . A fa lt a de comunica ções, saúde e cducacão er a o
triângulo fa t ídico, qu e estava 11a ba se do en orm e ·hand icap
com que lu t ávam os .
Ma s t u do pa recia girar em In transpon ível círcul o vicioso .
As comunicações, para qu e se pu dessem des envo lver , preci-
sa vam de objetivos econô m icos e de r ecursos, e êstes n ão so-
brevíri a m sem essas m esm as comunicaçõ es, ac res cidas da s
ga rantias ofer ecidas pelos serviços de edu cação e saúde . Pois,
a n ão ser assim , n ão h aver ia a possibilid a de m ate rial, nem a
inicia t iva escla recida, n em a vont ade reali za dora, de qu e de-
corressem o povoa mento regu lar e o surto n orm al da s a ti vi-
dad es econôm ica s por to do o território nacion al, isto é, de
ma neira solid ária , or gâ n ica c eficiente, form ando um verda -
deiro sis tem a social .
Bsse cí rculo vicioso precisava, contudo, ser romp ido ;
mas só o con scg ..iríamos se, com verdadeira ar te política -
qu e é o uso conj ug a do e planificado de t ôdas as t écn ica s e
medida s necess ár ias ao progresso socia l - soubésse mos criar
aquelas condicõe fun dament ais à exc a n s ão harmon iosa da
coletividade n acion al . T ínll8.l110S o dever de n ão n os entre-
ga r à que la perniciosa dis plicên cia, por eufemismo ch am ada
"políti ca da m an cha de óleo", que n ão é outra sen ão o clássico
" Íaísscr aller" , t raduzido pelo h umo rismo pop ula r na con he-
cida fór mula de prud ên cia e t ran q üílidade : "deixar ficar
como está pa pa ver como é que fica". F ôssem os segui-la , mui-
tos decên ios "e escoar iam , e a con qui sta estran geira, ou a se-
cessão, se interpor ia por cer to, an te s qu e tivéssemos feit o do
Brasil a grande n ação que êle pode e deve se r desde j á .
Se a ssim falo, é cla ro que n ão sou um pessim ist a . A ver-
dade é qu e não é possível "espera r" que os n ú cleos sociais
intel'io:'es vão a pa rc.cen do POl: si n:Esm os, que su as at ivid ades
produ ti vas se organizem - mnguem sabe quando c como, em
plen o deserto - para qu e suas relações comercia is pu dessem
cust ear a post eri ori a abertur a da qu ela s mesmas est radas qu e
a í'orm a cão ele t ais núcleos norm almente pressu põem . . . Não .
Com o poder em os ficar n a con fian t e cspectat iva de que a po-
pulação se desloqu e cspon tâ n eam en t e Bra3H a dentro, e lá
con ser ve 8. sa úde c adqu ira cultura com cs seus nr ónr ics re-
cu rsos, a bra as via s de -com u n ica cão. des brave uma n atur eza
in gra t a , c crie riquezas com pcnsadora s, t entan do, por si m es-

_ _ _ _ _J
- 39-

ma , a avent u ra dessa formidável emprêsa qu e seria a "mise


en val em " do solo pátrio? Que pod eria con seguir a iniciativa
privada, sem prévios r ecursos de t ranspor te, sem o am paro
próximo - socia l e econ ôm ico - de poderosos centros u rb a-
nísticos, n em os est ím u los de um rápido enriquecime n t o, cuja
possibilidade, nas área s despovoadas, t em sido desmentida
pelas mais crueis exp eriências?
Ora, n ão se pod endo reali zar d' emblée tôda a obra de de-
vassamen to, ocupação e exploração do t errit ório nacional, é
claro que tudo se deveria empreender por partes. Isto est á
eviden t em en te cer t o. Mas, por essa diretriz n ão se poderia
entender, sob pena de fa lhar a Nação aos seus destinos, a m e-
lh or ia , a pen as , das con dições de vid a e de organização daque-
la pequ en a á rea já socializada por fôrça dos he róicos impul-
sos in icia is que criaram o Br asi l, sen ão o esfôrço de con stru-
ção n acion al , segundo o imperativo geogr áfico e o destino po-
lít ico qu e êsse próprio espaç o territo rial traçara ao país.
Êsse pens am ento n ão implic a , com o supõem al guns, o
dilu ím ento, o disp ersa r da popula ção ; n em o esban jam en t o
dos poucos r ecursos de que dispom os, - êrro que nos levasse
cegam ente a um n ível primário de vida , sem densidade social,
incapacit ados para qu alquer progresso . Significaria, ao con-
tário, a cons t rução fácil e pacífica de um verdadeiro "império
in t erior ", sem elhante aos poderosos impér ios exter iores, resul-
t antes de t antos sacrifícios, que Naç ões dem ográ fica e t err í-
to rialme nte de certo m edo fracas, como a Bélgica, a Holanda ,
Por tugal e Espanha , souberam construir sem m albaratar seu s
r ecursos, n em en fraquecer-se . Ao con t rário, engrandecendo-
se polít ica e econ ôm icame n te, ao mesmo t empo que realiza-
va m um a grande obra civilizadora, a serviço da humanidade.
Em verdade, essa expansão colon izadora, que no nos so
ca so é simplesmente "integração" n acional , n ão di spersa , n~'J
dilui, n ão malbarata re cursos human os e econômicos. Mas os
dist ribu i a pen as, com o n ecessário apoio - m ilitar ou poli-
cial , em corn êço , e polít ico, em seguida, - pelos "pontos es-
t rat égicos" da áre a a ocu par. Pon t os de onde a "vonta de de
poder" , a soberania em aç ão, depois de constr ui r fortaleza s
ou em pór ios, ou ins tituir centros metropolitanos, afirma seu
domínio r eal c propicia as cond ições sem a s qu ais a or ganiza -
çã o social e econ ômi ca n ão se poderia processa r. Não sepo-
de r ía processa r, r epito, n em cr ia r os n úcleos cu ja expansão e
intercom unicação , por sóbre extensas áreas, é exa ta men t e a
con dição de en riquecime n to, poderio e segurança, qu e as Na-
I . ções só não ambicionam quando obst ácul os irremo víveís se
- 40 -

lhes opõem, ou sob determinantes h ist óricas específicas. E


quando o ambicionam, fazem-no - não devem os perder isto
de vista - muito antes de esgotarem as possibi lidades de
expansão dentro dos espaços geográficos de que puderam ini-
cialmente dispor .
Portanto, a limitação ou o condicionamento dêsse esfôr-
ço de integração nacional se faria, sem dúvida, num certo
sent ido, territorialmente. Traduzir-se-ia, na preferência de
certas áreas escolhidas sob a preocupação de estabelecer, co-
mo pontos de afirmação daquele impulso construtivo, uma
rêde adequada, cujas malhas cobrissem sempre todo o terri-
tório nacional, embora fôssem ainda muito amplos os es-
paços intermediários.
De feito, pouco importaria a longa dist ância entre os cen-
tros dessa rêde. Se, nos grandes impérios , podem tais cen-
tros ou "bases de operações" distribuir-se por continentes e
hem isférios diferentes, para assim dominar melhor um con-
ju nto bastante diversificado de ambientes geográficos e capa-
cidades econômicas, de rotas comerciais e ricos mercados. é
claro que, dentro de um mesmo país, como no caso do Bra-
sil, por maiores que fôssem os espaços vazios entre os núcleos
de ocupação, seriam êles mais fáceis de transpor , desde que
mais fáceis de estabelecer e defender ser iam as rotas de
ligação .
Essa rêde de linhas de comunicação int erna nem sequer
constituiria um grande ônus sem compensação. Sua valori-
zação progressiva, de potencial tanto mais alt o quanto maior
a amplitude, retribuiria de sobra seu cust eio, colocando à
disposição da iniciativa particular imensas áreas marginais
que não tardaria fôssem efetivamente ocupadas, para se t or-
narem novas bases de penetração e explora ção, reduzindo pro-
gressivamente os espaços despovoados, cujos remanescentes
já seriam então, sem perigo algum , verdadei ras res ervas do
nosso "espaço geográfico". Mas reservas , n ão mais "ext erio-
res" em relação à área socializada, ou como que abandonadas
pela Nação; ao contrário, já abrangidas pela sua organização
e efetivamente colocadas sob sua vigilância . Isto porque,
graças a êsse poderoso dinamismo con str u tivo, os espaços va-
zios não teriam mais, como infelizmente se dá agora , a am-
plitude quase semicontinental, sit uados ent r e a parte organi-
zada da Nação - aliás apenas um a est reita orla marítima -
e as longínquas fronteiras ocidentais e sept en t rionais, a tes-
temunharem a mesquinhez da nossa ca pacidade de organí-

r
- 41 -

zação, a nossa imprevidência e a inutilidade de n ossa sobe-


rania sóbre um dos mais invejáveis quinhões territoriais dês-
te hemisfério.
Pontilhada que fôsse a fronteira ocidental e septentrio-
nal do Brasil, dêsses centros de ocupação, acrescidos de uns
poucos outros núcleos no grande hiato interior, todos êles ,
porém, ligados entre si - ainda que por sôbre vastos deser-
tos - , não tenhamos dúvida de que as malhas da rêde ten-
deriam irresistivelmente, e sem grande sacrifício para o po-
der público, a um progressivo estreitamento.
Não seria isto um objetivo ínalcan çá vel, ou emprêsa ab-
surda. Ao invés, tudo se encaminharia naturalmente, des-
de que se adotasse, naquele sentido, uma política bem con-
duzida e em condições de não estabelecer privilégios que re-
duzissem a um a inferioridade permanente certas partes do
território nacional.
Um tal esfôrço de gov êrno - para ser, como era pre-
ciso que fôsse , uma "obra prima de arte política ", na frase
de Alberto Torres, e uma "empr êsa h eróica" no anseio de
José Bonifácio - ca recer ia de ter um sentido de unidade,
de equilíbrio e de justiça.
Mas , se a federação sobreveio como um movimento de
defesa contra a secessão, graças ao elaste cimen to dos vín-
culos de unidade nacional, a qual ainda n ão repousava só-
lidamente na unidade social e econômica. cumpria dar ao
novo sistema um acabamento que o adequasse aos seus fins
próprios, sem sacrificar os da construção nacional , ain da
não realizados e não menos inadiáveis.
Entretanto, cometemos o grande êrro. A federação não
foi O meio de unificar melhor, diferençando, libertando e
organizando. Foi, num certo sentido, devido à sua infeliz
orientação, o virus da dissolução nacional, uma vez que, - es-
tabelecendo-a , como era justo, - não lhe exigimos, entretanto,
o complemento lógico - o equilíbrio na divisão territorial ,
por um lado, e, por outro, a cooperação - respeitados os
destinos específicos dos governos locais - entre os governos
regionais e o govêrno nacional.
Em vez de um só govêrno unitário, que ao menos nos
daria - embora perigosa e defeituosamente - a unidade
nacional, estabeleceram-se em dois planos diferentes, mui-
tos governos unitários, não eqüipotentes, que eram verda-
deiros embriões da secessão . :Itsses governos fecharam-se
num isolacionismo por princípio, que por vêzes chegou a
- 42 -

ace ntuar-se até a me açar a integridade da Pátria . Mas, na


gen eralidade elos caso s, devido à fraqueza que dessa at it ude
lhes r esu lt ou , aq uela indepen dên cia recíproca n ão se pôde
mante r con for me deveria de correr de su as lin has inst it u cio-
n ais. As várias órb ita s de govêrno e os m u ito s governos des-
sas difer entes órbitas precipit aram -se n um desgoverno ge-
ral, como resu lt a nte da m ult iplicação para lela de débeis e
in ú te is in iciat ivas . Em vez de virtual izar suas prerrogat iva s,
n a vinculação volun t ár ia , num a aç ão ampla solidà riamen te
pla n ific ad a, ca pa z de bem aproveitar os pouc os recursos d ís-
pon íveís, despiram -se de las . Não no propósit o de uma co-
lab or açã o harmonio sa, just a e livr em en t e deliberada - co-
m o estar ia certo, - e sim po r absorção progressiva, por u sur-
r aç ões re petidas, das órb itas originária ou oca sionalm en t e
m ai s fortes s ôb re as mais fraca s, - o qu e est ava du plam en t e
er rado . Isto m esmo, poré m , sem qu alquer espírit o de sist e-
m a , sem objet iva r a ra cion aliza ção ; m as para esta belecer
um parasit ism o cada vez m aior de uns grupos da Nação sô-
bre ou t ros, t endendo a formações te r atológica s qu e n ão po-
dia m en contra r sequer nor ma lida de funcional, e deixa vam
n a m isér ia, no abandon o, em baíxíssirno n ível de viela , a par-
te m aior da comunida de; e sem utiliza ção, ba ldia, "te r ra
de n in guém", as áreas m ais valiosas - e que ai n da S8.0 a qua-
se t ot alidade - do nos so ec úmeno .
Planos de engrandecim en t o n acional, pla nos ele defesa
do pa ís n os seus as pecto s fu n dam en t ais, pian os pa ra con s-
t ruir, para or gan izar a comun idad e polí t ica que deveríamos
form ar e ainda n ão formamos, nada disso, e ne m me smo pla-
nos com uns de gover nos, podíamos traçar . Po rqu e os "pla-
n os" que podem apar ecer , são forço sa m en t e, n as con dições
a t uais, plan os pa rcia is, isolados en tre si, e que delin eados
sem a fina lida de justa e o fin anciamento cue lhes dessem
vír t u alídade e viabilidade, t ornam- se pre cá rios e efêm eros,
destin ados a m alba rat ar recursos pr eciosos na in eficiên cia
doloro sa que temos visto repet ir-se in úme ras v êzcs .
Ma s o pior é que ni n guém pe rcebe, n in gu ém est ran h a
qu e isto est eja accntecen do . E a Na ção, assim, se vai sacri-
fican do e exaurindo in utilmente . A consciência nacional
ainda n ão desper tou pa ra essa t orv a r ealidade ; n ão est á
alert ada dos peri gos que a en volvem . Não t em condições pa-
r a se aperceber do êrro fun dam en t al s ôb r e que r epous a êsse
esta do de cousas . Nem de avali ar o esplêndido potencia l de
progre sso qu e o Brasil t eria di an t e de si, se soub esse valor i-
za r sua t erra e sua gen te . Não apr eendemos tão pou co os
- 43 -

pan oram as de felicid ade h umana que os filhos de sta Pátria


admirável poderia m re ali zar, como o profetizou o gên io de
Vitor Hu go, se a obra dos seus Governos sou besse e qu isesse
- com o tão fàcilmente o poderia - aproveitar, segundo um
ver dadeiro pensamen to de integri dade e grandeza nacional,
as possibilidades que nos a dvêm das ri quezas "im ensas" -
mas não "inexg otá veís " - que ainda estão à espera de n os-
sa coragem, do n osso pacífico â n imo de ccn qu íst a , do n ossso
legíti mo espírit o de aven t ura , da n ossa ca pacidade de com -
preender e de querer . E con sen ti mo s, como loucos, que m ui -
tas dessas ri queza s vão sen do des truídas im pied osa e in ut il-
me n te .
Nã o m e foi difícil sen t ir tudo ist o, desde m uit o c êdo,
através da s pes quis as esta t íst ícas , A m ed ita ção dos núme-
ros deu-me logo a certeza de que a unidade, 8. cr gani cidade
e a potencial idade da obra governa m en tal brasilei r a sobre-
viria , en t ret anto , f'àcilm en t e, e expandir -se-ia pa r a al ém de
qualqu er p revisão, desde qu e a vida naciona l pudesse ser
com preendida pelos Governos e pelo povo, no seu verdad eiro
sen t ido, n aq uela in te r p .cta ção sempre acertada que lhe deu
o gên io ele Alberto T ór res . Po rq ue dessa com preen são re sul-
t ariam o est ado de consciência e os at os de von ta de , ca pa zes
de ven cer t ôda s as dificu ldades e de enf re n t ar resolutam en t e
to dos os problem as - pro blema s dif íceis , sim, mas n ão in -
solúveis - qu e a realidade n acion al nos ofer ece .
A con strução de n úcleos urbanos, nas áre a s ín ocu pa da s,
com o pont os de a poio social , econ ôm ico e político pa ra o po-
voamento e a explora ção rural ; o esta belecim en t o de uma
r êd e de cen tros m etropolitanos de pri meira ordem, com vit a-
lidade poderosa , a poian do-se m ut uamente, c servin do de base
a tôda a organ ização nacion al, gra ça s à asso cia ção ou união
polít ica dos munícíníos den tro de âmbit os t erritoria is uni-
for m es, - o que daria express ão adequada ao n osso at é agor a
inoperan te m un icipalismo ; a distribu i ção equítativa elo ter-
rit ório nacional en tre 8.S Unidades F ederadas, eliminando .
potencialmente, as difer en ça s entre gran des e pequ enos Es-
tados ; a ação cstímul a dor a, propulsiva e equ ilib rad a do Go-
vêrrio Naci onal, a plicando os recu rsos da Na ção p ara eleva r
rapid amente, em proveito da su a verdadeira un idade e do
bem est ar de todos os memb ros da Federação, o nível de po-
voamen to e r iqueza dos Est ados deficitá rios; a açã o pode-
r osa , díferen çada regionalmen t e - mas dent ro de u m V(;1' -
dadeiro "si stem a n acion al", e exercida em espírito (C ju sti ça
social e seg u ndo os ver da deiros princípios da dem ocracia -
- 44-

dos aparelhos governamentais prepostos àqueles gran des ob-


jetivos de gestão da cousa pública, que são comuns a t ôdas
as órbitas do Poder do Estado - a educação, a saúde, as co-
municações rodoviárias, o fomento rural, a arrecadação tri-
butária (tal como já se procede em relação à pesquisa esta-
tístico-geográfica) : - tudo isto sobreviria fatalmente des-
de que , sem medo de fantasmas , nem apêgo a preconceitos in-
fantis, tivéssemos a coragem de rever a divisão política do
país dando-lhe os verdadeiros fundamentos de justiça, racio-
nalidade e respeito à tradição. Fundamentos sem os quais
o Brasil continuará a ser um "ente político" tão absurdamen-
te estruturado, que se incapacita voluntàriamente para os
seus fins sociais, exibindo perante o mundo, uma "na ção
grande", a quem os fados generosos tudo deram, mas que
se recusa, pela incompreensão ou pelo patriotismo mal en-
tendido de suas elites, a tornar-se a "grande Nação" que po-
deria e deveria ser .
Mas, para que essa mesma necessidade inelutável de re-
divisão territorial sobrevenha, e desencadeie, segundo contin-
gências fáceis de prever, a compreensão total dos problemas
brasileiros e a sua solução heróica, concatenada e lógica, é
pre ciso que uma providência inicial seja tomada. Essa pro-
vidência é, exatamente, a mudança da Capital da República
para o coração do Brasil.
Muito ao contrário do que têm afirmado opositores irre-
fletidos à idéia de redivisão do Brasil, quase tôdas as grandes
nações sentiram-se levadas pela fôrça dos imperativos histó-
ricos , a refazer seu quadro político-territorial. E várias de-
las m udaram su as capitais.
A redivisão te ve em tôda a parte o mesmo motivo e o
mesmo alcance - a justi ça na distribuição do patrimônio co-
mum e a tendência ao equilíbrio das fôrças sociais e políticas.
A mudança da Capital, porém, é providência que tem si-
do promovida sob dois principais requisitos. Ora , foi busca-
da uma posição menos exposta na hipótese de uma gu erra;
ora, pretendeu-se localização mais adequada, tendo em vista
a função da metrópole na coordenação da vida nacional.
No caso do Bras il, o início da cadeia de medidas que de-
vem renovar profundamente a vida nacional , isto é, a mu-
dança da Cap ital Federal, impõe-se ao mesmo t empo pelos
dois motivos - o da segurança e o da coordenação e propul-
são nacional.
- 45 -

tsses motivos, porém, não t êm sido bem interpretados.


Mesmo aquêles que já perceberam o duplo aspecto do pro-
blema, entenderam-nos erradamente.
Uns supõem, quando se fala de segurança nacional, pa-
ra justificar a mudança da metrópole, que se tem em vista
apenas escolher um local onde a sede do Gov êrno não possa
ser fàcilmente investida por um agressor eventual. E con-
cluem que, não havendo hoje lugar imune ao ataque das ar-
mas modernas, não tem sentido falar-se em transferência da
capital por motivo de segurança militar.
Outros, porém, pensando no papel dirigente que cabe à
cidade líder, entendem que a mudança deverá ser para o
ponto de onde essa direção se possa fazer em melhores con-
dições, mas, por isso mesmo, dentro daquela área em que a
vida da Nação já se encontre bem organizada, e possam ser
melhor mobilizados os recursos e fôrças disponíveis para a
defesa nacional.
São, evidentemente, interpretações unilaterais, incom-
pletas, erradas.
Ninguém pode imaginar que uma Capital como o Rio de
Janeiro, exposta por todos os lados a ataques terrestres, ma-
rítimos ou aéreos, esteja em condições de manter resistên-
cia a qualquer agressão, pois estará vencida desde que fique
privada, como é facílimo de conseguir, dos seus serviços de
água, luz, energia, transporte e combustível.
Daí, o nosso terrível dilema, no caso de guerra, se se
mantiver a Capital do Brasil no Rio de Janeiro. Ou perma-
necerá nela o Govêrno, ou será tentada a mudança de emer-
gência, no próprio curso do ataque. No primeiro caso, estar-
se-ia expondo desnecessàriamente a Nação a uma derrota
fulminante, pelo aprisionamento do govêrno ou rendição in-
condicional, sem haver sequer pôsto em obra seus recursos
de defesa. No segundo caso, a mudança efetuada à la diable
subverteria catastràficamente, no momento mais crítico, tô-
da a organização administrativa e os seus arquivos, sem cuja
normalidade não se compreende o próprio esfôrço de guerra.
Além disso, preferindo, na emergência, esta ou aquela cidade,
que não teria sido preparada para êsse fim , e cujas comunica-
ções não corresponderiam às necessidades da ação de govêrno ,
estaríamos instalando mal o pouco que pudéssemos levar do
aparelho administrativo, e criando-nos, assim , um sombrio
- 46 -

ha nãicap , quan t o à mo bili zação das energias e r ecursos da


Nação, exata me nte no mo men to em que entrasse em jôgo a .
sua própr ia sobr evivênc ia.
Indepen den t em en t e, porém, dessas du as sit ua ções extre-
mas - a de mu dar a Capit al du ran t e a s operações de guer r a
e a de afr ont ar o a taqu e sem t ransferi r o Govêrn o, ccor re eu-
tro aspe cto da seguran ça nacion al que nã o tem sido devida -
m en te consid er ad o nos debates s óbre o a ssunto .
Êsse aspecto é o da com plexidade e diíiculd adc do gov êrno
n acion al, qu ando os ór gãos dêsse govê rno est ão sit u ados em
loca l Que é ao m esmo t empo non to exc êntrico do t err it ór io pá-
trio e ~m gra nde emp ório e cen tro cosm opolit a como o Rio de
Jan eiro . Não h esito em a dm iti r que mais de um lXtÍ S est a rá
em situação semelhant e . M 8 S isto nã o faz desaparecer o in-
con ven iente, n em n os absolve ele im p r ev íd ên c ía . T a nto I:1 enO S
qu a n to também t em os o exem plo pru den te e salut a r da R ússia
e da Tu rquia . E se h á na ções que n ão o segu em, é porque in-
te rf ere m motivos especia is em contr ári o, m a CJ.1.E~ nã o ocor-
rem n o Brasil .
En t retan to, ningu ém pod e desconh ecer ou n ega r as a gi-
t ações pr óprias das grandes massas prol et árias : a in tlu ên-
cía in sidiosa que os grandes centros econômicos c cosm opo-
litas exer cem s ôbre os órgã os de direção governamen tal ; os
m ot ivos ím ed íat ist a s ou locais, sen ão est ranhos ou contrários
aos ín t er êsses nacionais, que a gem n as gr andes met ró poles,
s ôbr e a im pr ens a e a opin ião pública, e a ssim detêm ou su-
primem n ão r aro a liberda de de ação dos dir igentes . Essas in-
fluência t ôda s, to lh end o a dir eção dos órgãos públicos, est ão
de fa to, conscien te ou in conscientem ente, prejudican do a se-
gurança n acion a l . E a isto se junt a o sen t imen to de a ba n do-
n o que em polga a maior part e da população brasileira, quan-
do observa as nrefer êneias qu e do Go v êrno Nacional merecem
certas regiões 'em virt u de da posição periférica da m et róp ole
federal . Sendo a ssim, n ão é en tão me ridian am en te cla ro
que, num caso, como o do Br asil, havendo possibilida de e r a-
zões in úm er as para se da r ao pa ís a t ran qü ilidad e de um go-
v êrno sed iado em local a deq u ado. e eq üídistante dos pontos
ext r em os do seu vastíssimo t erritório, não se pode olhar com
d isplicência , m a ximé numa h ora histór ica t ão grave com o a
que vivemos, a perma n ência da capital no Rio de Janeiro?
Êst e é, sem dúvida, o ver dadeiro significado da quest ão,
sob o ponto de vista da seguran ça nacional. Contudo, ocor r e
t amb ém u m sentido m ais profun do, mais real, para a locali-
zação int erior da nossa m etrópole.
- 47 -

Se n os prendêssemos àquele objeti vo prim ário, de coloca r


a capital no centro - ou m esm o ap enas dentro - da á rea
socializada do país, teríamos com isso um a solu ção provisó-
ria, a pedir out ra mudança , e ainda ou t ra , até que t odo o
país est ivesse povoado. Na ver dade, o qu e a va st idão do Bra -
sil e su as diferen ciações region ais n os im põem , é a preocu pa -
ção m áxima de criar motivos de união n ac ional por s ôbre os
motivos de separação, e n enhum motivo mais - forte, n em
mais com preen sível, mais eficaz, do que a posição da m et ró-
pol e comum em pon to que config u re bem êsse seu destino , e
de fat o lhe dê essa capacidade , ou seja a posição cen t ral, dis-
pondo de uma r êd e de com uni ca ções que a ligu e I àcilm ent .e
a t ôda s as regiões do país.
Tod avia, n ão argumentaria con t ra a solu ção provisória .
pois vejo n ela m ais do qu e uma possibilidade . Consider o-a de
ne cessidade indeclinável, com o expo rei adian te. Con ta nto,
porém , qu e essa m udan ça n ão im pliqu e cons t ruir -se especia l-
mente um a cida de pa ra t al fim e qu e, de in ício, j á se desti-
nasse a perder os foros agora conferidos . E ta m bém n ão ve-
jo como se pudesse just ificar u ma interí or iza ção por sucessi-
vas esca las , uma sér ie de m ud an ças provisór ias . Nem su s-
t en t aria t ão pouco, uma soluç ão t r ans it ória - f'ôsse mesm o
uma só - que n ão se r evestisse desd e logo dos re qu isito s es-
sen ciais da transferência projetada, e n ão oferecesse forte s
m ot ivos de ordem prática, a assegurar facilidades im ediatas
pa ra o próprio encaminhamento da solu ção definitiva.
Or a , n ão poderia ser uma solução definitiva a que se
preocu passe em escolher, a gora, local intermedi ário ou cen-
tral, ou m esm o periférico, ao ocide nt e, n a área do t erritório
n acional que já se pod e con siderar povoa da e or ganizada .
Não se trata de or ganizar melhor - e assim confirmar-lhe os
privilégios - a área já fav orecida pelo progresso. Nem me s-
mo de tom á-la, sim plesme nte , como base de oper ações para
m ais uma arran cada do povoamento, da m a rcha pioneira,
Br asil a dentro. Para êsse fim somente, n ão seri a preciso
propugn ar-se uma Capital F ede ral interior. Nem, m uito m e-
nos, se pret en deria u ma séri e de locali za ções provisórias pa-
ra a Capital, pois a metrópole de uma Na ção n ão se pod eria
deslocar por et apas, como o a cam pam en t o de um exé rcito ou
um abarracamento de feirantes. Não, evidentement e.
A mudança definitiva há de ser para as proximidades do
centro geográfico do território. Mas com o menor afast a-
menta possível dêsse cen t ro, se, porven tur a , tornar-se neces-
sário um pequeno deslocamento visando atender a motivos
- 48-

de clima e salubridade, ou para facilitar a accessibilidade às


vias de comunicações terrestres. Desde que está implícita
em tal condicionamento a abundância dos mananciais que
devessem abastecer a cidade e assegurar-lhe a higiene, se-
riam secundários, ou mesmo contraproducentes, os demais
fatôres que pudessem ser tidos como importantes para uma
metrópole destinada a tornar-se um empório, um centro in-
dustrial poderoso , ou um grande núcleo isolado, capaz de au-
to-abastecimento.
A fertilidade das terras, por conseguinte, a abundância
da fôrça motriz, a posição favorável em relação a um sistema
de comunicações já construído, a posse de próximos objetivos
de turismo, a vizinhança de áreas fornecedoras de matérias
primas para a indústria, a existência de reservas florestais,
são fatôres que não nos devem importar como condições de
preferência. Mesmo a existência abundante de materiais de
construção não seria de real sígníríca ção .
Com efeito.
A melhor posição da nova metrópole, para o seu destino
político, é tudo. Sendo a mudança da capital o remédio he-
róico que a Nação vai buscar a fito de transformar sua pró-
pria mentalidade, e se para isso, antes de tudo, o ponto a es-
colher deve ser central, - então, essa localização é o que
cumpre conseguir custe o que custar; sejam quais forem tô-
das as outras condições, que se hão de transformar, ou com-
pensar, como fôr preciso, para que se mantenha o requisito
fundamental, e assim alcance integralmente sua finalidade.
no futuro, a Capital coração e cérebro da República.
Satisfeita a condição básica, escolhido o ponto central
mais conveniente, a rêde de comunicações, destinada a ligar
a metrópole a tôdas as partes do país, surgirá de pronto. A
const rução dessa r êde não somente será o objetivo precípuo
do govêrno federal, mas também dos próprios governos re-
gionais e locais, como resultante do mesmo centripetismo
que já estabeleceu a convergência de quase tôda a rêde rodo-
viária atual na direção do Rio de Janeiro.
Os materiais de construcão virão de onde existam de boa
qualidade e menor preço. Isto não exigirá, no Brasil cen-
tral, o transporte em extensos percursos, que encarecesse
proibitivamente a construção. As reservas florestais não
condicionam a construção; como riqueza, fator climático, ou
objetivos de t u rismo, poderão ser fàcilmente obtidas mais
tarde, na área escolhida.
-49 -

E como a nova Brasília não seria a metrópole de uma re-


gião, nem a réplica sertaneja do Rio e São Paulo , nem mes-
mo a grande feira de uma área possuidora de desenvolvida
agricultura, nem ainda um formidável centro industrial co-
mo se destina a ser Belo Horizonte, - pouco impor t aria que
em suas vizinhanças não existissem grandes r ebanhos, far-
tas searas, poderosas usinas, ou centros mineiros em explo-
ração. Surjam por todo o país essas áreas de trabalho orga-
nizado, onde as condições locais estimulem ou favoreçam o
seu desenvolvimento . E que elas abasteçam a metrópole na-
cional, tendo-a como um dos seus mercados. O fim da Ca-
pital, o seu destino , é outro. E basta que a nova "urbs" o
r ealize, a êle - e a êle só - , condigna e apropriadamente.
Com o ser um pobre centro agrícola não é que o Rio não
foi a capital ideal. E porque constitui um grande empório
comercial, e já agora um poderoso centro industrial, é que
sua posição, sendo também excêntrica e excessivamente ex-
posta a ataques externos, acumulou condições particular-
mente desfavoráveis ao seu presente destino de metrópole
federal.
A nova Capital reclama ambiente genuinamente brasi-
leiro, tranqüilo, resguardado, em que a política const rutiva
do govêrno nacional se possa expandir normalmente, sem a
pressão das agitações sociais (sempre agudas nos grandes
centros), e em condições de perfeita justiça em r elação a tô-
da a comunidade. O que de nenhuma forma se realiza no
Rio de Janeiro, de onde o govêrno federal não se pode liber-
tar de influências perturbadoras, nem utilizar senão peque-
níssima parcela dos recursos da Nação, para evitar imposições
violentas que as circunstâncias locais possibilitem.
Pouco importa, portanto, que a cidade surja artificial-
mente, lutando mesmo com certas dificuldades iniciais quan-
to a matérias primas e abastecimento . A fiel adequação à
sua finalidade política retribuirá tudo isto. E n ão tardará
que sua presença, por isso mesmo, estimule esforços de orga-
n ização em áreas interiores hoje desertas e inacessíveis, mas
que apresentam largas possibilidades de exploração e podem
oferecer aquêles recursos . Dessa forma, essas áreas enri-
quer-se- ão a si mesmas, enriquecendo o país, auxiliando a
construção da nova Capital e criando para esta, desde logo,
um amplo círculo de influência econômica direta, mediante
o surto de atividades de tôda a sorte e de poderosas correntes
comerciais, não em um, mas em muitos pontos da hinterlân-

4
- 50 -

dia brasileira. E nisto já estará o comêço da poderosa "ação


de presen ça" que a m etrópole interior exercerá em benefício
de todo o Brasil.
Demais, t ão conveniente é que a nova Capital n ão se ve-
nha a t ornar u m a cidade tentacular, que a mais elementar
prudência acon selh aria uma legi slação severa, destinada a
im pedir se transforme a n ova "u rb s" em poderoso empório
comercial ou num grande parque industrial . É, ali á s, o qu e
se fêz n os Estados Unidos, em r ela ção a Wash ingto n . Só
ass im se evit a ria o desvirtuamento, que seria fa tal de outro
m odo, da capacidade propulsíva da n ova Ca pital, a cabando
por transformá-la em polvo abs orv ente, em vez do gra n de
cen tro re gulador e coordenador que se destina a ser .
Ora, como da mentalidade nacional n ão se pode esp erar,
instável e insegur a como ainda é, um permanen t e esfôrç o de
defesa vigilant e ; como a pressão dos inter êsses econômi cos
poria fàc ilm en te abaixo as dificuldades artificiais qu e se t en-
tasse estabelecer para a defesa dos fins políticos, se ac as o a s
condições natura is permitissem que aqu êles interêss es se lo-
calizassem dent ro da Capital , o mais perto possível do Poder ,
segundo a tendência natural que os dirige; se a ssim acon-
tece, bem será que as "con dições naturais" da zona n eutrali-
zem aquela t endência ou lh e oponham embargo peremptó-
rio . Quero diz er , não permitam a concentração econômica
junto à Capital, a acarretar novamente a concentração de-
mográfica, a fim de que a nova metrópole não se desvirtue e
venha a ficar privada, por essa forma, do seu natural e legíti-
mo sentido, isto é, o de um centro distribuidor e promotor do
progresso nacional, que não do açambarcamento dos r ecur-
sos do país em proveito de um grupo e em detrimento de to-
do o resto da Nação.
Qu e êsses centros de produção, os empórios comerciais.
as pod erosas concentrações industriais, surjam - sem dúvi-
da, sob a ação benéfica e equânime do Govêrno Central - .
onde qu er que as condições lh es forem favoráveis. Seja ao
norte ou ao sul, seja na orla marítima ou nas lindes ociden-
tais . Em quantos mais pontos, em quantas mais especializa-
ções , melhor . Aproveitando sempre as condições naturais:
portos, jazidas, glebas férteis , campos nativos. .. Porque só
assim tudo isto dará ao Brasil uma poderosa estrutura eco-
nômica e política , cu jo equ ilíbr io a Capital Central manterá ,
se ela souber ser , de fato, ap enas aquela bela e tranqüila ci-
dade-jardim, a dominar e ordenar o país tão somente pela
fôr ça do seu mandato, em vez do Leviatã marítimo, resumín-.
- 51 -

do - e concentrando cada vez ma is - um Bra sil mac rocé-


falo , para exa u r í-Io, dest ruí-lo, lentamente, por in anição do
seu im en so corpo abandon a do.
Só assim - repito - evitaremos qu e o Bra sil se t ran s-
forme numa monst ruosa criação políti ca , a evolu ir ao arre-
pio do seu legítim o dest in o h ist órico.
Con tudo, u ma interrogaç ão é cabível .
Se se t rata de con str uir - n ão , emb ora , uma gran de me-
trópole, - mas, de qualquer for ma , u ma bela e con for tável
cidade, tarefa qu e n ão é fá cil, n em rápida, ne m ba rata ; se
é preciso qu e essa cida de se sit ue n a á rea que ocupa posi-
ção central no mapa do Brasil; se essa localiza ção n ão deve
ser t rocada por ou tra a preço n enhum, pois veda-o a condi-
ção essencial da sua predestinação hi stórica; se, por dis-
posi ção providencial , a zona que satisfaz a êss e r equi sito ofe-
re ce, além de magníficas condições de clima e beleza , caracte-
rísticas que a to rnam de fato, geogràficamente, o centro do
nosso t erritório , como o ponto de união das suas dif er entes
partes, constituídas pelas bacias potamográficas primárias
qu e ali se en contram, e dali riscam aos quatro rumos o es-
qu ema indelével, criado pela própria natureza, da efetiva e
real unidade n acional; se, para atender a êsses imperativos
indeclinávei s forçoso será enfrentar a tarefa difícil de cons-
truir uma cidade em pleno deserto, repetindo-se o gr an de fei-
to da República australiana, e o não menos audacioso Ím-
peto, de qu e nós mesmos já fomos capazes, quando erigimos
Belo Horiz onte e Goiânia; se a mudança se pode con sidera r ,
em todos os sentidos a medida política mais urgente no mo-
mento, dado que do seu prevalecimento dep ende o corretivo
da maneir a de compreender e dirigir os destinos nacionais,
pois condiciona a facilitação , o encaminhamento de todos
os problemas de base que ainda estão intactos diante de nós,
desafiando nosso patriotismo, nossa inteligência e nossa co-
ragem ; - se tal acontece, como conciliar a urgência da
construção com a sua dificuldade? Não seria desconhecer a
mentalidade brasileira acreditarmos qu e a no va Capital se
viesse efetivamente a const ru ir, sem uma arrancada impe-
tuosa e h erói ca , que leva sse o empreendimento avante e a t êr-
mo em pequeno prazo ? E o ser impossível materialmente
essa pressa , n ão retira à Nação a possibilidade de manter o
â n imo realizador, tornando inevitável o retôrno à inércia
e à dísc íplíc êncía, o novo abandono da id éia com o sacrifí-
cio irreparável do futuro do país?
- 52 -

É fora de dúvida, - parece-me - se a mudança da ca-


pital dependesse da prévia ereção de uma cidade, a trans-
ferência só seria viável no caso de poder realizar-se a constru-
ção dentro de cur tíssimo prazo. Qualquer delonga - bem o
sabemos - que ultrapassasse a duração do govêrno respon-
sável pela iniciativa, traria o sacrifício irremediável do em-
preendimento.
Assim, à primeira vista, estamos diante de um dilema fa-
tal: construir muito depressa a nova capital, ou não se
transferír mais a sede do Govêrno, voltando a ser letra mor-
ta o novo dispositivo constitucional que nos criou esta magní-
fica oportunidade de mudar os destinos do Brasil. Mas , se
construir a nova capital assim tão depressa é impossível, se
a temos de erigir no planalto central - onde não há povoa-
mento, nem comunicações para que se possa promovê-lo, -
o dilema implica a conclusão de que a ernpr êsa é inviável, se
não tivermos um meio de fugir-lhe às pontas fatais ...
Mas êsse meio existe. A cidade se deve construir, sem
dúvida, com o devido vagar e segundo planos maduramente
estabelecidos, em etapas sucessivas que se vão preparando
umas às outras. Isto, porém, sem que se inutilizem, se en-
t orpeçam ou sejam esquecidos os fatôres políticos e psicoló-
gicos que possibilitam agora a grandiosa empr êsa ,
Para tanto, é preciso apenas quebrar hàbilmente um ta-
bu, sem permitir que se crie um outro.
Como todo cometimento social, por mais lógi co, mais
defensável que seja, e por mais graves e sagrados que se apre-
sentem os interêsses coletivos que a emprêsa envolva, êste, da
mu da nça da capital brasileira, tem opositores. E temíveis
op osit ores, porque contam êles, que são sagazes e persisten-
t es, com a indiferença da coletividade, pois esta ainda n ão
possu i a consciência viva de que está em jôgo um seu supr e-
m o interê sse . Demais, julgam êles cousa certa a fadiga dos
dirigentes que movem a cam pa nh a , diante das su postas difi-
culdades da emprêsa, bem como a falta de estímulo por parte
da opinião nacional.
A êsses opositores não cabe sombra de razão . Mas n ão
se pode dizer que n ão sejam sinceros. Não vêem que sua
oposição procura impedir m edida de salvação nacional. São
movidos, porém, por convicções que su põem ju st as ou pa-
trióticas , devido à errada visão, ou mesmo incom preensão,
tanto do in t er êsse próprio como do interêsse colet ivo. E é
- 53-

isso que é preciso combater se não queremos perder a par-


tida, deixando que sossobrem os esforços que procuram apon-
tar ao país a direção certa da sua rota histórica.
Muitos dêsses que se opõem à transferência imaginam
que, mudando-se do Rio de Janeiro o Govêmo Federal, esta
cidade decairá de importância social, econômica e política.
Não se lembram do exemplo de New York. E receiam desva-
lorização de suas propriedades, declínio dos seus negócios,
diminuição de prestígio para as instituições a que perten-
cem ; e, ainda, a perda do confôrto de uma grande metrópo-
le, se forem forçados a acompanhar, na mudança para a no -
va sede, a repartição de que devam ser servidores. Ou en-
tão, menos pessoais em seus motivos, mas vendo tudo atra-
vés de um estreito bairrismo, que não os deixa perceber a
realidade das cousas, não querem que o Rio de Janeiro, de-
pois de haver herdado os foros metropolitanos da antiga
Salvador, e com isto se transformado em grande centro de
civilização, venha a seu turno a perdê-los sem qualquer com-
pensação, entrando assim - é o que supõem - numa fase
de menor prestígio social, político e cultural.
É fácil desfazer êsses preconceitos todos, que se baseiam
invariàvelmente em equívocos, senão na observação errada
dos fatos. Mas êles renascerão sempre, apesar de todos os
esclarecimentos que se formulem, uma vez que a mudança,
não se faça logo.
E alcançamos assim a verdadeira chave do problema. É
preciso, é indispensável, se a nossa geração qu er de fato dar
ao Brasil as verdadeiras condições de vida e desenvolvime nto,
mudemos depressa a Capital para o planalto central ; mas
que também a nova cidade destinada a recebê-la a título de-
finitivo, se construa com estudo e vagar.
Não h á contradição e incompatibilidade entre as duas
diretiva s. Implicam, porém, a contingência inafastável de
uma - mas um a só - mudança provisória, que r esolva r à-
pidamente a dificuldade psicológica, quebre o tabu da capi-
tal-carioca, mas - n ão se perca isto de vista - em condições
de n ão permitir o surt o de um outro tabu, no local de estacio-
namento provisór io durante a construção da sede definitiva.
Com o conseguir-se isto?
A mudança provisória da Capital, para poder efetuar-se
de pronto, e em condições plenamente satisfatórias, exi giria:
- 54-

1.0 - que a mudança se fizesse para um ponto qu e jus-


ti fica sse a im ediat a t ransferência, em virtude do fato de já
se achar êle incluído na grande área central do Brasil e de
coinc idir com u m local mais favorável sob o ponto de vista
da defesa militar e de onde fôsse mais fác il conduzir as ope-
ra ções ligadas, não só ao desenvolvimento rápido da área de
acesso à metrópole definitiva, como à própria construção
desta;
2.° - que se realizasse a transferência para uma cida-
de já existente, de bom clima, adiantada, e onde o funciona-
mento do Govêrno Federal já encontrasse um ambiente ur-
banistico condigno e dotado de um sistema de comunicações
em relação a todo o país ;
3.° - que se efetuasse a mudança para uma cidade,
contudo, cuja distância e comunicações relativamente ao
Rio de Janeiro se apresentassem tais que permitissem, sem
embargo, a permanência nesta cidade (enquanto fôsse isso
necessário à própria mudança provisória, por partes, ou
mesmo à mudança definitiva) da quase totalidade dos apa-
relhos técnicos, administrativos e culturais diretamente liga-
gados à metrópole federal;
4.° - que a "urbs" preferida para a transferência fôs-
se uma cidade, ainda, de que se pudesse fàcilmente reti-
rar uma parte dos elementos que a formam; mas, de tal
modo, que se abrisse, assim, a imediata possibilidade, sem
novas e especiais construções, para a localização dos órgãos
in tegrantes do núcleo central do Govêrno da União, ou sej a ,
dos próprios três Poderes - o Executivo, o Legislativo e o
J udiciário, - que deveriam transferir-se de pronto;
5.° - mas, que a transferência se efetivasse de forma
que aquêles elementos retirados tivessem, por sua vez, des-
tin o p reest abelecido, e também em condições de reduzir ao
mínim o as despesas destinadas a novas construções ou adap-
tações.
Ora, essa cidade existe. Não haverá uma voz que a não
reconheça sem hesitação. É Belo Horizonte.
Enquanto nela permanecesse, a met rópole nacional já
se encontraria no ambiente mais segu ro e mais tranqüilo do
"planalto central". A pro ximidade e facilidade de comuni-
cações com o Rio de Janeiro dar-Ihe-ia quase, em relação a
est a, a sign ificação de uma cidade de repouso, como Petró-
polis, e a t ingível de fato, por via aérea, em menor tempo que
esta, on de, aliás, o Chefe do Govêrno estaciona todos os anos
por lon gos meses sem qualquer inconveniente.
- 55-

Belo Horizonte é centro de um sist ema de comunicacões


que a liga a t odos os Estados. Além disso, esta situada" na
direção do lugar da futura Brasília, a um têrço da distância
total, e a bem dizer já quase na orla ocidental da faixa regu-
larmente povoada do Brasil marítimo. Na "bôca do sertão",
portanto. As medidas para melhorar as comunicações e pro-
vocar o povoamento entre o planalto de Formosa e Belo Ho-
rizonte são fáceis, dados os recursos já existentes. E mais
fáceis ainda se tornariam com a presença ali do Govêrno Fe-
deral.
Para atingir o Planalto Central de Goiás , enquanto fôs-
sem tomadas as medidas preliminares para a construção de
Brasília, em condições de assegurar o acesso da zona, o seu
rápido povoamento e o início da construção, bastaria lançar
a ponta de lança ferroviária constituída pela convergência,
no local escolhido, da Estrada de Ferro de Goiás e da Estra-
da de Ferro Central do Brasil. Tarefa sem maior dificul-
dade, visto como a esta última o gênio de Frontin já permi-
tiu vencer o maior obstáculo, ou seja a transposição do São
Francisco em Pirapora, ponto êsse além do qual as condições
do terreno são bastante favoráveis.
Suplementarmente, far-se-ia a ligação e me lhoria dos
trechos rodoviários que já nos dão quase a metade da Trans-
brasiliana (a grande longitudinal rodoviária), desde Santa
Ana do Livramento. E bem rápida poderia ser a construção
do trecho daquela grande rota interior, que a levaria a Be-
lém, estabelecendo, assim, para a nova Capital, o apoio da
"coluna dorsal" do Brasil, que seria ao mesmo tempo o eixo
central de que se desprenderia em breve um excelente siste-
ma de estradas, mediante fácil e natural esfôrço dos Esta-
dos, procurando orientar n esse sentido sua polí tica rodoviá-
ria, e valorizando , a liás , pela procurada conv er gência na di-
reção de Brasília , longos trechos, já existentes, que podem ser
utilizados pa ra aqu êle fim.
Por outro lado , cedida à Un ião a área de Belo Horizonte,
como município neutro, para sede provisória da nova Capital
Brasileira, a met rópole mineira encontraria também uma
outra excelente sede em Juiz de Fora.
Essa cidade t em, de fato , condições para acolher os ór-
gãos centrais da administração do Estado . E isto bastaria,
dado que os demais órgãos do Govêrno Mineiro poderiam
continuar em Belo Horizonte durante o t empo que fôsse ne-
cessário, até ultimar-se com vagar, método e economia o pla-
no total da transferência.
- 56-

A simples mudança dêsses órgãos centrais para Juiz de


Fora cederia lugar aos três poderes da União e ainda, possi-
velme nte, aos órgãos adminitsrativos mais necessários jun-
to ao Poder Execut ivo, como a Secretaria do Estado do In-
terior e Justiça.
Nisto que fica dito já está provada não só a necessidade,
como a conveniência e possibilidade, da "mudança imediata"
da metrópole federal, a fim de tornar exeqüível a construção
pausada da sua sede definitiva. Um mínimo de mudanças
e dispêndios, em um mínimo de tempo.
Cumpre, entretanto, examinar certos outros aspectos do
problema, se é que desejamos uma solução racional, e da
qual se possa dizer que é capaz de conciliar, harmonizar e
servir a todos - absolutamente a todos - os interêsses em
jôgo , sem ferir , sob nenhum aspecto, nem os sentimentos re-
gionalistas, nem o espírito conservador das populações, ain-
da quando não consintam uns e outros em sotopor-se sim-
plesmente aos grandes interêsses nacionais que reclamam a.
transferência em projeto.
Há no caso em jôgo , e precisando ser harmonizados, os
interêsses do Brasil e os de Minas, em primeiro plano; de-
pois , os do Distrito Federal, de Belo Horizonte e de Juiz de
Fora; intercorrentemente, os do Estado do Rio de Janeiro.
Vejamos, primeiro , em tôdas as suas conseqüências o es-
quema que as circunstâncias nos apontam, e, em seguida, de
que forma e com que alcance a solução proposta afetaria
aquêles interêsses.
A quem refletir um pouco sôbre o assunto impor-se-á
sem dificuldade esta conclusão. O que tudo está indicando
como solução "ótima" em todos os sentidos, e para todos os
interê sses, é o acôrdo político entre o Govêrno da União, de
um lad o. e os Govêrnos dos Estados do Rio e Minas e do
Distr ito Fed eral, do outro, com o objetivo de, obtido o as sen-
timento prévio das correntes partidárias, ficarem assentadas
e serem promovidas na forma da Con st ituição, as seguintes
medidas:
a) em adequada forma de associação política, e com
uma estrutu ra interna sub-federativa (que a Con stituição
não im pede) , a união entre os Estados de Minas e do Rio de
Janeir o; prevendo-se, porém, que ao novo Estado , daí r e-
sultante, se faria a incorporação do Distrito Federal , sob a
condição de vir a ser sua capital a cidade do Rio de Janeiro ;
isto sem im pedir que ambos os Estados mantivessem suas
- 57 -

capitais próprias, como metrópoles das sub-unidades políti-


cas que subsistiriam dentro da nova Un idade Federal;
b) o entendimento para que o govêrno e a administra-
ção do novo Estado se organizassem de maneira a lhes ficar
ass egurada uma equitatíva participação das organizações
políticas e administrativas das três unidades territoriais
associadas ;
c) o ac ôrdo com Minas Gerais para que a cidade de
Belo Horizonte, quando no futuro se transfira para Brasília
a Capital Federal, adquirisse novos e privilegiados foros, que
lhe compensassem aquela mudança, seja como um Distrito
Federal sob estatuto apropriado para tornar-se um grande
centro industrial autônomo sob a égide da União Federal,
seja como metrópole da região septentrional do Estado, pre-
vista para êsse fim , desde já, a sua autonomia com os mes-
mos foros que viessem a caber agora a Niterói e Juiz de Fora;
d) o acôrdo, ainda, entre o novo Estado (por intermé-
dio dos seus elementos formadores) e a União, não só sô-
bre os próprios nacionais que esta deveria ceder àquele em
troca do que recebesse em Belo Horizonte, e ainda o finan-
ciamento federal, em prazo razoável, dos planos de adapta-
ção de Juiz de Fora ao seu novo destino de Capital mineira.
Passemos a examinar agora o conteúdo da fórmula sob
o ponto de vista da harmonização dos interêsses, ainda quan-
do sejam êstes estritamente invocados à revelia dos verdadei-
ros e superiores imperativos da Pátria.
Vejamos, pois, até que ponto, e como, as diretrizes dêsse
esquema afetam os interêsses, sentimentos ou preconceitos
em jôgo.
O resguardo da autonomia em primeiro lugar.
Segundo certa mentalidade muito primária, a autono-
mia, a liberdade, a soberania, fica m atingidas ou destruídas
se intercorre qualquer disciplina lim itadora do seu exercício.
Mas, evidentemente, não é êsse o conc eito verdadeiro , que de-
vemos atribuir aos que se pronunciarem s ôbre a matéria. A
soberania de uma Nação, a liberdade de um indivíduo, a au-
tonomia do membro de uma federação, - todos o compreen-
dem bem - não são tal senão na medida em que livremente
se limitam através de vínculos jurídicos baseados em mútuo
assentimento. A disciplina, a obrigação, o compromisso,
aceitos livremente, em benefício de um objetivo de bem co-
mum, é que dão valor a qualquer estatuto pessoal de auto-
determinação.
- 58 -

Só não se obr iga m os qu e n ão sã o livres, ou são inc a pa-


zes de aut odeterm in a r-se . As cri an ças, os esc ravos ou os
lou cos; ou as coletividades sob dom ínio estrangei ro . Essa
vinculação - ou m elhor, o com plexo dessas vinc ulações -
do ente autônomo, livr e ou soberan o, é que dá sen t ido, con-
t eú do e nobreza ao exe rcí cio da sua vontade livre, e impri-
m e sign ifica do humano, social ou político ao papel que a li-
berdade seja chamada a des empenhar.
O indivíduo ou o grupo qu e se isola , se ab stém de rela-
ções, a nada se obriga; m ove-se num pequeno âmbito fe-
chado; n ão pod e realizar causa alguma . Não abriu aque-
las est radas largas das r elações e normas mutuamente con-
sentidas, dentro das quais se possa m ovimentar à vont a de,
r ealiz ando o seu destino da m elhor forma, sem os emb a r a-
ços do isolamento, da não-coopera ção, ou dos cho ques m ais
ou m enos rudes em r ela ção aos demais entes livres.
Atrav és dês ses vínculos , en tr et an to, achado e fixado o
status de equilíbr io, justiça e conveniência mútua no grupo
a que pertença o ente livre ou autônomo , obte m êle em troca
de um mínimo de disciplina e harmoniza ção dos seus inte-
r êsses em relação aos demais, t ôda a colabora çã o - e até a
pro teção - de que carecer. Is to coloca ao seu di spor, faz
qu e o sirvam , as fôrças livres de que depen da a livre e côm o-
da r ealização de todos os seus objetivos.
Bem compreendida esta verdade, é fá cil ver qu e, quando
se pensa na redivisão t erritorial do Brasil por m eio de a cô r-
dos ent re suas unidades políticas, ou qu ando são lembrados
os con sórcios intermunicipais, a fim de darm os ao nosso mu-
n icipali smo a pot encialidade econô m ica e política que êle
precisa t er; ou qu ando, ain da , se cogita de estabelecer um
status de estreita cooperação en t re as ór bit as do pod er pú-
blic o qu e se dif er enciam segu n do âmbito s t errit oriais sobre-
postos, no p ropósi to de lhes imprimir aos obj etivos comu n s,
unidade, siste m a e eficiência; - não vai nisso, como pen -
sam al guns, a idéia de sa crifica r, t olh er, r eduzir a autonomia
das pessoas de direito público que deliberarem êsses acordos.
É , ao contrário, valorizar, en gran decer, virtualiza r essa
aut on omia, levando-a a su pera r a sua própria limitação ins-
titucional. É traze r par a o âmbito do direito público inter-
no a mais alta significação da sober ania no direito públi co
exte rn o . É , por t anto, est abelecer ent re aquelas entidades, de
u ma forma perfeitamente consen tânea com o re gim e dem o-
crático, um campo de vínculos cooperativos qu e, conser van-
do-lhes as vantag ens e prerrogati va s da autonomia e distin-
- 59-

ção de compet ências, permit a in staurar por sôbre elas, ca -


pacit a ndo-as ao m áximo para o progresso, uma trama de
vincu lações que lhes assegure de fato a va rieda de na u nida-
de. Êsse objet ivo é tanto ma is n ecessário qua n to é certo que
essas diversificações de a ut oridade, jurisdição e competên-
cia não se fa zem ap enas no sent ido h ori zontal, ou ap enas
no sentido geogr áfico, m as t am bém no sentido vertical , isto
é, com uma certa hi erarquia de valores e um significado or-
gânico, que tornam indispe ns ável a interdependência, o sen -
so de complementariedade e a capacidade de suplementação,
na complexa estrutura que tais entes políti cos formam den-
tro da Nação.
Portanto, no caso particular de que tratamos, quando
pensamos em fazer surgir um novo Estado-membro dentro
da República Federativa Brasileira, por meio do mútuo con -
senso, da União de um lado, e das entidades dir etamente in-
t eressadas do outro (Distrito Fed eral e Estados de Minas e
do Rio de Janeiro), est amos pensa ndo em substituir um cer-
to regime de auton omia, ora vigoran te para os t erritórios in -
teressados, por um ou tro , muit o mais rico de possibilidades
e, portanto, mais capaz de servir aos interêsses das resp ecti-
vas populações e do Bra sil. Aí não há, não haveria de ne-
nhuma forma , para essas populações, supressão - ou si-
quer limitação - de au t onomia se, no exercíc io dessa mes-
ma autonomia, deseja rem ela s apresentar-se, em fa ce da
Un ião, como um só poder autônomo, mas de expressão polí-
ti ca ínc omp ar àvelmen te mais vigorosa, em vez dos t rês po-
deres a utônomos a tuais, na verdade ba stante limit ados em
su a capacidade, devido aos emba raç os e deficiência s qu e essa
auton omia t ripa rt it e e não un ificada lh es aca rreta, quando
enfrentam a solu ção dos problemas que se lh es apresen .am
solid àriamen t e, ist o é, como prob lemas comuns. e dependem
de condições complemen t a res dos respectivos territ órios
cost a ma rít ima, p ôrto de mar e área in t erior.
Mas, - dir-se-á - n ão obstan te isso, o pr econceito de
auton omia criou um h ábit o respe it ável para as populações .
Assim , deve êle pr eval ecer; ainda mesmo prejudicando in-
t er êsses mais altos dessas mesmas populações.
En tão, - responderei - n ão se conden e a solução por-
que não se qu eira conden ar o preconceit o. Pa ra t odos os
problemas humanos há fór mulas . Principalmente no te rre-
no político, ond e a mat éria prima é mais plást ica e maleável.
O qu e é preciso, n esse caso, - sem prejudicar o ínterêsse
mais alto - é poupar o precon ceito , u ma vez qu e se admita
- 60-

ser êle, até certo ponto, um le gít im o sentimento conservador,


tradicionalista.
E essa con ciliação é possível? Sem dúvida.
Faça-se para isso a "un ião" ent re os três t erritórios, e
não a sua simples "unificação " em um só Estado. Se som os
uma federaç ão, para sermos assim mais fort es, mais ricos e
mais felize s; se, pois, temos por bom e legítimo o princípio
federativo; se para êle já apelamos para salvaguardar a uni-
dade nacional; - ent ão r ecorramos ainda a gora a êle, para
êsse fim particular de unidade, de que precisamos.
O novo Estado não fund irá, n ão incorporará, simples-
mente, os t erritórios - carioca, fluminens e e mineiro, num
só Estado autônomo "unitário".
Se nenhuma unidade da Federação est á diminuida, hu-
milhada ou constrangida no seio da grande Pátria Brasilei-
ra, senão que participando do seu poderio, do seu prestígio,
das facilidad es e possibilidades do progresso que essa convi-
vência frat ernal a tôdas acarreta; se as Nações da América
não se sentem mal caminhando, como estão , para formar o
grandioso sistema político de que é premissa e primeira for-
ma a União Panamericana; se as Nações livres do mundo
estão se coobrigando, por livre vontade e mútua solidarieda-
de , a instituir, manter e aceitar as atividades de in úm eros
organismos internacionais, no seio dos quais somente, al-
guns dos seus próprios interêsses poderão ficar atendidos,
desde que em harmonia com os interêsses corre lat os dos de-
mais governos co-vinculados pela Organização das Nações
Unidas; se é assim, fácil se torna concluir que não é criação
exótica, n em constrangedora do princípio de autonomia, nem
violadora das tradições, mas, ao contrário, compatível com
os princípios do direito público, com a letra e o espírito da
Con stituição, e destinada a salvaguardar exatamente o sen-
t im ento trad icion a lista, essa id éia de dar ao Brasil um gran-
de Estado central que t enha como capital esta cidade e co-
mo território jurisdicionado o dos atuais Estados do Rio e de
Minas, mediante um especial estatuto federativo. Isto é,
uma pequena fed eração dentro da Federação. Ou uma sub-
federação, se quiserem.
Com a aplicação dêsse princípio, estabelecidas de comum
acôrdo as bases da a ssociação política, a pareceria peran te a
F ede ração o n ovo Estado-membro, formado da s t rês atuais
unidades. Mas , em vez de uma organização unitária como a
dos Estados atuais (aliás - dí -lo-eí de passagem - já ago -
-61-

ra in compatível com os problemas políticos do Brasil, como


já se tem demonstrado), teríamos a fórmula federativa, que
ladearia a dificuldade, estabelecendo um precedente e um
modêlo cuja imitação traria ao país inéditas possibilidades de
progresso e autonomia regional efetiva, sem os perigos e a s
contra-indicações da "confederação", e também sem os em-
baraços de uma redivisão territorial sistemática, de iniciativa
da União.
Assim, nessa "federação", ou "sub-federação", m in eiro-
flum inense-carioca, ficaria o Distrito Federal como municí-
pio neutro e metropolitano (conservando, em relação ao no-
vo Estado, as mesmas prerrogativas que tem atualmente em
relação ao Brasil), e caberia aos Estados do Rio e de Minas -
como Estados Associados - o papel de províncias autôno-
mas do novo "Estado Federado". E todos juntos formariam
essa nova e poderosa unidade da constelação política brasi-
leira, como estrêla de primeira grandeza. Estado que seria,
sem dúvida, uma das colunas mestras da vida, do poder e da
unidade nacional.
Eis aí o sentimento tradicionalista atendido no que êle
tem de mais expressivo, que é o exercício da autonomia den-
tro dos atuais limites territoriais.
A psicologia popular, porém, é exigente. Possivelmente,
não lhe agradaria também que as atuais cidades metropoli-
tanas perdessem os seus foros nem mudassem de nome;
nem ainda, talvez, que as atuais unidades passassem mesmo
a uma nova designação. 1tsses são, porém, pontos de some-
nos, que um pouco de habilidade resolverá a contento, con-
forme as reações da opinião pública.
Se se entender que os nomes atuais devam prevalecer nos
planos mais altos da organização política, temos a fórmula
felicíssima, de dar ao novo Estado o nome do seu maior for-
mador - Minas Gerais - e para a sua Capital o mesmo no-
me que ela já tem, pois que êsse n ome resguardará ao mes-
mo tempo a tradição e perpetuará, em condições de eq üiva-
lente signrãcado, a designação da terceira unidade formado-
ra. Teríamos então o Estado de Minas Gerais, Capital Rio
de Janeiro.
Nesse caso , seria preciso pensar-se apenas nos novos no-
mes para as províncias em que se constituíssem os territó-
rios mineiro e fluminense, como unidades associadas. Pare-
ce que Guanabara ou Paraíba do Sul, para o Estado do Rio,
e Mantiqueira, ou Minas Altas, para Minas Gerais, resolve-
- 62 -

riam bem a dificu ldade, com bom fundamento tanto geogr á-


fico com o hist órico .
P referido que I ôsse, porém, cons ervarem-se aos Est ados
at uais seus presen t es nomes, n ão h á dúvida qu e obt eriam I à-
cilmen t e o con senso geral o no me de Gu anabara destinado à
Cap ital do novo Estado, e para êste, u ma das designações -
Mantiqu eira, Minas-Rio, Sidéria ou Sid erlân dia (as duas úl-
timas evocando, ao mesmo t em po, as imens as ja zida s minei-
ras , de Min as, e a grandeza de Volta Redonda, no Estado do
Rio) .
Quanto aos foros metropolitanos, não parece qu e os me-
lindres populares, os interês ses econômicos , ou o espírito tra-
dicionalista tivessem o qu e objetar . A cidade do Rio de Ja-
neiro terá que deixar de ser Cap it al do Brasil, para ser uma
espécie de "cidade livr e" - a formar u ma grande cab eça
sem corpo . Seria uma situação desvantajosa sob todos os
pontos de vist a .
Tal estatuto polí ti co acarretar-lhe-ia dificuldades finan-
ceiras muito sérias. E não ap roveitaria convenientemente a
capacidade de liderança que a importância desta bela cidade
lhe confere indubitàvelmente .
A solução lembrada, en t reta n t o, restituir-lhe-Ia os foros
de metrópole. E em relação a um grande Estado, que será
tanto mais pod eroso, quanto maior o Brasil se tornar por
fôrça da ín t er ior íza ção da Capital da República.
Dado, por ém , que sua influência e importância, como tal,
se completariam com a importância e influência que terá em
qualquer hipót ese sôbre a vida da federação brasileira e, em
particular, s ôbre a nova Capital do Brasil, visto qu e será
para esta o pôrto marítimo e o maior centro industrial e
cultural com ela em ligação direta, pode-se bem dizer que,
politicamente, est a cidade nada perderia. E se alguma causa
perdesse, seria , por seguro, muito menos do que perderia se
acaso ficasse ap enas como Cidade-Estado.
Lemb re-se ainda que, servindo o Rio de Capital a um
grande Estado, em vez de tornar-se uma Cidade-Estado, a sua
posição política se tornará bem mais firme, vindo a represen-
tar, com tôdas as vantagens e nenhum inconveniente, uma
grande fôr ça renovadora no país. Isto porque, como é óbvio, as
correntes pa rtidárias de uma cidade de vida cultural agitada,
como esta, têm sempre ideais mais avançados, e dentro da-
quela fórmula tais tendências encontrariam compensação e
equilíbrio nas organizações partidárias do interior, que são,
- 63-

mais cons ervadoras . E assim se afast aria o risco de que o


centro de maior prestí gio cul tural do país avançasse de mais
em seu isolam en to, no seio da Federação, ap ressa n do perig o-
samente a evolução n acional, qu ando o certo é qu e sua atua-
ção deve ser pioneira, sim, mas pruden t e e não desvin culada
das determinantes ger ais da comun hão brasil eira.
Belo Horizonte, a sua vez, t rocaria su a con diçã o atual
pela de metrópole provisória do Brasil, ficando-lhe de logo
ass egurada a confir mação do prestígio e desen volvimen to qu e
viesse a adquiri r com isso, fixa ndo-se no papel, que lh e reser-
va o fu turo, de grande centro industrial situ ado en tre a po-
derosa metrópole ma rítima do Rio de J aneiro , na Gu anabara,
e a metrópole política , do Plan alto Cen t ral.
Para tal fim , Iícar-lh e-iarn reservados foros políticos ade-
qu ados , isto é, volt aria de novo à condição de me trópole,
quando a Minas atual se viesse a bipartir , - mas sempre
den tro do novo Estado de Minas Gerais, - em Minas do
Norte e Min as do Sul, com org anização política subfederativa
semelhante à associa ção ori ginária Minas-Rio, qu e passaria.
a ficar então tripartite .
Venci da s as difi culdades de ordem jurídi co-política e
psicológica , resta a part e econômica.
Será que qualqu er das t rês u nidades interessadas no
consórcio su gerido t ivesse algo a perd er com essa medida.
política ? Porventura Minas, o Estado do Rio e o Distrito
F ederal perderiam fôsse o que fôsse se intervinculadas por
uma ad equada e hábil união política?
A resposta negativa impõe-se com uma clareza in exce-
dível.
A cidade do Rio de Janeiro , qu e teria de bastar-se a si
mesm a como Cidad e-Estado , voltaria a ter de no vo as van ta-
gens de sede de um gra nde org anism o político e econômico.
Enrique cimen to econô mico e maior prestígio e Import ância;
eviden t emen te .
O Estado do Rio n ão sofreria nenhuma alteração, a não
ser a participação no govêrn o que se estabelecesse nesta
cidade para o novo Estado , em cu ja econom ia passaria a
desemp enhar privilegiado papel . O que desse êle pa ra cu stear
êsse governo ser-lhe-Ia res ti tuído com excesso em benefícios
advindos dêsse poderoso cen tro dependente de su a cooperação
e colocado sob sua imediat a in fluênc ia . Assim, desfrut aria
a prosperidade do novo Estado , decorrentemente da sua po--
- 64-

siçao geográfica, condições de povoamento e organização


econômica, e sobretudo do seu próprio destino em face da
nova metrópole interior no Planalto de Formosa, com a qual
est a ria em lig ação direta através de uma vasta região desti-
nada a desenvolver-se vertiginosamente.
Quanto a Minas, se lhe caberia dar à União sua Capital,
isto seria em benefício atual e futuro do engrandecimento
desta, e do progresso de todo o Estado, que ficaria assim
colocado sob o influxo mais imediato do Governo Federal. A
par disso , teri a oportunidade de desenvolver uma outra gran-
de cidade - Juiz de Fora, cuja atuação civilizadora se faria
sentir de forma notável, principalmente sôbre as zonas da
Mata e do Sul do Estado, - enquanto o Govêrno Federal
promovesse o povoamento e a expansão do oeste e do noroeste
mineiros . Mas, êsse mesmo desenvolvimento de Juiz de Fora,
acrescente-se, teria lugar com o amplo auxílio que a União
não poderia recusar em boa justiça.
Isto significaria que Minas progrediria sob o impulso
elas três grandes metrópoles - Rio de Janeiro, Juiz de Fora
e Belo Horizonte, aguardando os novos benefícios que lhe
traria a inauguração de Brasília no coração do Brasil, bem
sua vizinha e nela própria apoiada, econômica e socialmente.
1!:sses os t êrmos do problema sob o ponto de vista econô-
mico, no que toca às três unidades, se apenas tomarmos em
consideração o aspecto superficial das vantagens imediatas,
visíve is, da união proposta.
Há que considerar, entretanto, certos outros lados mais
p rofun dos da questão, que tomam grande relêvo pela sua
art iculação com o problema da nova Capital do Brasil.
Temos de reconhecer, em primeiro lugar, que a divisão
empírica do Brasil colonial deixou para Minas e o Estado do
Rio, como unidades autônomas da Federação Brasileira, uma
situação precária, irracional e mutuamente prejudicial.
O Estado do Rio é uma nesga estreita da costa, sem uma
hi n t erlândia vítalízadora que lhe permitisse tirar partido
da sua própria situação marítima, bem dotada de portos, e
efetuar o saneamento da área alagadiça da baixada.
Minas é uma grande potência econômica - na agricul-
tura, na pecuária, na indústria estrativa e metalúrgica, na
a tividade fabril em geral. Mas está enclausurada, sem respi-
radouros sôbre a costa, da qual entretanto não dista mais
.de algumas dezenas de quilômetros. E essa barreira que
- 65 -

separa Minas do mar em desafio à lógica, ao bom senso e à


justiça, se prolonga por mais de mil quilômetros, do sul
da Bahia ao sul fluminense. E' uma configuração geogr áfica
absurda, sem eqüidade, indiscutivelmente sem justificativa
alguma.
As situações de Minas e Rio já são assim nitidamente
complementares en tre si, tendo-se em vista a exte nsa costa
em qu e o oceano banha o pequeno território de um, e a
enorme ext en são do outro sem saída para o mar . Mas acon-
t ece ainda qu e as condições dos dois Estados se completam
reciprocamente, e são , sob muitos pontos de vista , l ógica-
mente destinadas a se in t egrarem em um sistema econômico,
em o qual cert as fas es das atividades operativas se devem
execut a r no planalt o interior , e outras nos portos de mar
ou em zon as pró ximas, a fim de que uma gran de e diferen-
ciada organização industrial, e pod erosas corr en t es comer-
ciais, tanto internas como extern as , se expan dam n a confor-
m idade justa do magnífico potencial qu e a n atureza aq ui
dispô s. A indústria siderúrgica, com as suas ja zidas em Minas
e os altos for nos no Estado do Rio, é um expressivo exemplo.
Por seu lado, a cidade do Rio de Janeiro é a cidade ideal,
como centro metropolitano, como adiantado centro de cultura,
como pôrto de mar e empório comercial, como poderoso
parque industrial, para integrar, unir, con solidar e desenvol-
ver a privilegiada organização econômica a que a natureza
e a história destinaram o binômio político-territorial -
Minas-Rio.
Tudo isto , porém, não esqueçamos , com uma significação
esp ecial em face da unidade e do progresso do Brasil. Porque,
por mais uma feliz predestinação, en tre as muitas que podem
engrandecer o Brasil se os seus dirigentes quiserem ouvir
as vozes da natureza , da história e da razão, esta área riquís-
sima, de tão elevada capacidade de pro gr esso, pres tes a de-
sencadear-se mediante al gumas poucas transposições políti-
cas fáceis de executar , está situada em posição rel ativamente
cen t ral do nosso mapa, na direção norte-sul.
Isto significa que a eclosão e expansã o dêsse formidável
dinamismo político-econômico qu e fàcilmente podemos pro-
vocar, não merece sequer a restrição, ou o receio, de pod er
trazer a hipertrofia ou heg emonia de uma extremidade do
país, e provocar desequilíbrios de perigosos reflexos no que
concerne à unidade nacional. Pelo contrário, aqui , onde a
vigorosa expansão se deve processar, a medida alvitrada
- 66-

suscit ará um conjunto de fôrças capaz de erigir um complexo


sistema econômico, mas criando com êle ao mesmo tempo,
e em têrmos definitivos, exatamente aqu êle núcleo central
que é reclamado como sólido apoio à verdadeira grandeza e
unidade do Brasil .
Note-se , em primeiro lu gar, que essa expansão se irra-
diará, necessàriamente, para o norte, para o sul e para o
oeste, com profundas e estimuladoras repercussões. E lem-
bre-se também o fa to de que o esfôrço de expansão do Brasil
interior, - du r an te a construção da nova Capital, para lhe
dar a oeste e ao norte as condições de povoamento e interco-
munica ção , e depois de concluída a cidade, integrando-a no
seu papel de centro coordenador e propulsor de tôda a vida
nacional, - todo êsse esfôrço vai ter, de início, como bas e
de operações, e em seguida, como ponto de partida, a organi-
zação do grande Estado ao mes mo tempo marítimo e central,
do interior do qual o Govêrno Federal , sediado em Belo Hori-
zonte, promover á e distribuirá as atividades construtivas
necessárias .
Além disso, em sua periferia marítima t erá êsse Estado
a cidade do Rio de Janeiro ou Guanabara, destinada a per-
manecer a verdadeira Capital biodinâmica do Brasil, a qual ,
assim, se constituirá o principal elemen to propulsor desta
larga faixa definitivamente organizada, dessa magnífica es-
teira de civiliza ção qu e, partindo da ba ía da Guanabara, e
passando por Juiz de Fora e Belo Hor izon te, alcançará em
breve Brasília , no planalto de Formosa, para dali pro sseguir,
t endendo a alargar-se e expandir-se por todo o território
nacional, na direção das regiões inexploradas e desocupadas
do remoto e abandonado no roeste.
O que virá a ser isto para o Brasil, e o qu e possa signi-
ficar para est a cidade e áreas fluminenses adjacentes, o rápi-
do progresso - assim provocado - dêsse imenso Brasil inte-
rior, que é seu tributário natural, torna-se difícil prever, em
têrmos de medida exata. Contudo, não haverá brasileiro qu e
não sinta qu e será algo de inédito, de grandioso, de decisivo
para a vida nacional e para os destinos do país. E' também ,
sem dú vida, mui to além de qualquer pr evisão, uma dádiva
magnífica, um benefício in superável às populações beneficia-
das pela união política de qu e resultar o desencadeament o
dessas ene rgias construtivas. Mas tudo isto , sem lhes atribuir
qu alquer privilégio in justificado, nenhuma hegemonia em
detrimento de outras regiões brasileiras, antes propiciando
a tôdas elas m agníficas oportunidades, devido à potente
- 67-

expansão econômica que resultará daí para o país inteiro.


Apenas como decorrência natural, como corolário justo do
seu espíri t o de compreensão e da sua solidariedade, resol-
vendo em comum, e em condições de superior lógica política,
os seus próprios problemas, mas em função dos super iores
problema s do Brasil. Milagre da cooperação ; t an to quanto
do bom senso, sempre que êst e saiba servir tamb ém à justi ça .
Não creio que jam ais uma tão profunda t rans form ação
polí tica, social e econ ômica se te n ha impôsto a qu alquer povo
com semelhante fôrça de razão, tanta evidência, tanto poder
de persuasão, tão fortes imperativos de ordem geográfica e
humana, dentro de fórmulas de máxima simplicidade, e con-
seguindo de maneira tão perfeita uma harmonização de todos
os interêsses em causa, qual acontece agora para a Nação
Brasileira quanto ao problema em exa me. Qual o carioca,
qual o fluminens e, qual o mineiro, qual o brasileiro, que se
pudesse considerar roubado no seu patrimônio, desiludido em
seus ideais, ferido em seus sentimentos, constrangido nas
suas atividades, com êsse singelo esquema de recomposição
política do país? Se nesse plano há lugar para tôdas as aspi-
rações, e benefícios a acrescer em todos os sentidos; perspec-
ti vas enormes de enriquecimento oferecidas a todos sem
exceção al guma; largas e flexíveis possibilidades de ficarem
atendidas tôdas as conveniências e compensadas tôdas as
conc essões qu e a comodidade, a prefer ência ou o interêsse
pessoal pudesse invocar ; respeito a todos os melindres e pre-
con ceitos; - se é ass im , como recusá-lo, obr igando a Nação
a fech a r os olhos para não ver sua própria reali dade n a dura
reali dade do mundo hodierno, forçando-a mes mo ao gesto
suicida de abandonar sua vocação histórica?
Certo não haverá grande emprêsa, de sentido renovador
como esta, que n ão exija ímpeto heróico , espírit o de aventura.
E o alcance transcendente para os destinos nacionais, que
ofer ece a t ransformação prevista, justificaria qualquer sacri-
fício . Entretanto, nem isto mesmo a mais cega oposição
pod eria alegar. Nenhum risco ocorre. Não há sacrifício
algum a fazer. A não ser o do comodismo, o da in ércia, ou o
do espírito de contradição sistemática . E pod emos bem dizer
qu e outra emprêsa não se ofereceria ao Brasil tão com pen-
sadora , que tanto possa seduzir o espírito de iniciativa de
um povo audacioso, e que se apresente tão bela no seu nobre
sentido humano, de paz e pro gres so, e de verdadeira frater-
n idade. Nem outra haveria que fôsse ao m esmo te mpo, em
seu empolgante esquema, t ão fá cil de conduzir, tão desmon-

_ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _
- 68-

tável em sucessivas pequenas mudanças pouco disp endiosas,


t ão desdobrável no tempo, tão fàcilmente articulável em seus
desen volvim en t os . E ainda tão fecunda em seus mais imedia-
tos r esultados, e tão universalmente conciliadora de todos os
sen ti m en tos, interêsses, obj etivos e fatôres intercorrentes.
Essas considerações hão de pesar, por certo, no ânimo
da Comissão a qu e V. Ex. ê, meu General, preside com elevado
pat rioti smo e uma visão perfeita dos destinos do Brasil.
A Comissão não poderá deixar de lhe dar "razão", quando
V. Ex. a susten t a com "razões" tão excelentes, que a área
da nov a Capital já est á escolhida e qu e só resta marcar-lhe
o quadro urbano, sem embargo, contudo - creio qu e isto
também está no seu pensamento - de um certo alargamen-
to, senão um pequeno deslocamento, que vise abranger, na
delimitação a ser feita, um ponto próximo que seja ainda
mais central, ou de melhores condições para a localização
em estudo. Digo isto pensando na inclusão da Chapada dos
Vead eíro s no futuro Distrito Federal, onde, pelo clima euro-
peu qu e ali se desfruta, se não fôsse encontrada a localização
ideal para a nova Capital, estaria sem dúvida um ponto
m agn ífico para uma cidade de veraneio e repouso , bem perto
daquela e quase um seu complemento, a sua Petrópolis, mas
dentro do próprio Distrito Federal. E, por certo, a Comissão
quererá que a construção se faça com pausa e método, seguin-
do um plano que leve em consideração t ôdas as circunstân-
cias ponderáveis e os complexos objetivos a alcançar.
Mas, como brasileiro, ouso esperar t ambém que V. Ex. a
e seus eminentes pares, - árbitros que estão sendo, neste
momento, dos destinos do Brasil, não perderão de vista o
outro aspecto da questão. E aceitarão sem dificuldade:
- que a mudança da capital para o interior, não é só
indispensável, mas também urgentíssima; porque é neste
instante o problema "nú mero um" do Brasil, aquêle de cuja
solução depende uma transformação radical, de transcen-
den t e alcance econômico e político, em todos os aspectos da
vida nacional;
- que , havendo de ser longo o prazo para a construção
da nova capital fed eral, a mudança da sede do Govêrno,
para o interior, deve, sem embargo, ser efet ivada qu an t o
antes;
- que essa contingência, condicionando de maneira ab-
soluta a realização do patriótico objetivo em vista, torna obri-
gatória a escolha de Belo Horizonte como sede federal provi-
- 69-

sór ia e base de operações para tudo quanto se refira à grande


emprêsa;
- que essa circunst ância oferece ao Brasil uma oportu-
nidade excelen t e e única para imprimir ao acontecimento
um sentido ainda mais profundo, transcendente mesmo , qual
seja o de dar à cidade do Rio de Janeiro o papel de metró-
pole política de uma unidade federal condigna e que, por
êsse mesmo fato, em virtude de sua situação geográfica no
mapa do Brasil, da sua condição de p ôrto de mar para a
capital interior, da variedade das suas riquezas, do potencial
e qualidade do seu elemento humano, e dos fatôres de pro-
gresso já acumulados em seu território pelo trabalho de todos
os br asileiros, seja o fulcro da nacionalidade, a coluna mestra
da grandeza do Brasil .
Essas premissas atendem bem à oportuna advertência
de Canabarro Reichardt, em seu recente opúsculo - A Geo-
política e a Consciência Geográfica da Nação: " A situação
geográfica do Brasil vai adquirindo importância tão capital
no mundo, que não devemos perdê-la de vista um momento
sequer e preparar-nos para tirar dela as vantagens econô-
micas e políticas a que faz jus, por meio de diretrizes admi-
nistrativas de larga visão".
Profun damen t e reconhecido a V. Ex.a pela feliz oportu-
nidade que me deu para formular êsse resumo do aspecto
fundamental do plano de reconstrução nacional em que
venho há longo tempo meditando, coloco-me inteiramente ao
seu dispor para qualquer outro esclarecimento que lhe pare-
cer necessário. E faço votos por que a Comissão, o Gov êrno
e todos os nossos conci dadãos, cheguem a compreender o
que há de lógico, de justo e de oportuno no ponto de vist a
que V. Ex.a propugna e n o empreendimento patriótico a
que se dedica neste momento.
Com os sentimentos de alto apr êço e estima,
De V. Ex.a , etc.
(a) M. A. T EI X E IR A DE FREITAS
IH
BRASÍLIA. CAPITAL DO BRASIL *

Uma "entrevista" que não fOi l]revista. - De considerações sôbre


a Educação passa-se a um plano de redivisão política do Brasil. - A
seguir justifica-se a mudança da Capital para o Planalto de Formosa.

Procurando conhecer a deficiência da obra educativa


no Brasil

o Ministério da Educação, por varies dos seus órgãos,


realiza exaustivas investigações sôbre os problemas da educa-
ção e da saúde. Um dos centros dêsses estudos é o "Serviço
de Estatística da Educação e Saúde" - o SEES -, que
pertence também, como uma das suas "repartições centrais",
ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
As estatísticas que o SEES elabora têm por objeto a edu-
cação, a cultura, a saúde e o bem estar social . Visam carac-
terizar as condições de vida do país, a começar dos distritos e
municípios. Era, pois, por seu intermédio que o "Diário
Trabalhista" poderia obter certos dados recentes, de que pre-
cisava, relativamente ao ensino brasileiro.
Atendeu-nos o Sr. Teixeira de Freitas, diretor da reparti-
ção desde 1931, quando foi esta criada como órgão da Secre-
taria de Estado do recém-instalado Ministério da Educação
e Saúde.
Não conhecíamos as publicações do SEES. Os seus tra-
balhos são divulgados em coletâneas editadas pelo Ministério
da Educação, ou então através das publicações do Instituto
de que faz parte, o conhecido IBGE, que tantos amigos conta
em cada uma das nossas cidades ou vilas. Resume-os para
o grande público, o Anuário Estatístico. Nossa estatística
educacional, porém, aparece em detalhe na publicação anual
"O Ensino no Brasil", que está sendo editada desde 1932.
~sse repertório numérico - esclareceu-nos o diretor - obe-
o Entrevista con cedida a o " Diá rio Trabalh ista", do Ri o de J aneiro. e publicada
em r esumo em sua edição de 13-IX-1948.
- 72 -

dece ao plano traçado pelo Convênio de Estatísticas Educa-


cionais de 20 de dezembro de 1931, celebrado entre a União
e os Est ados. Tal Convênio foi devido a uma feliz e vitoriosa
iniciativa da Associação Brasileira de Educação, e obedeceu
às diretrizes aprovadas pelo 4.° Congresso Nacional de Edu-
cação.
Não leváramos a intenção de obter uma entrevista do
Sr . Teixeira de Freitas. Mas iniciada a nossa palestra, logo
percebemos que o assunto se prestava a uma interessante
reportagem . Esta, entretanto, tomou rumo imprevisto.
No correr da nossa visita, foram naturalmente focaliza-
das as conhecidas e dolorosas deficiências da educação nacio-
nal. Deficiências que o Ministro Clem ente Mariani, com a
colaboração do Prof. Lourenço Filho, vem procurando ate-
nuar como o permitem as atuais condições do país. Anotamos
os índices mais gerais que traduzem a situação calamitosa
de quase todos os Estados nos diferentes ramos do ensino,
a começar do ensino primário.
Enquanto, por ém, ouvíamos a "lição dos números" -
aliás de extraordinária eloqüência - nossa atenção era tam-
bém atraída por um mapa colorido do Brasil, desenhado
sôbre madeira, que se via na parede à nossa frente. D êsse
mapa constavam trinta unidades políticas, têdas de área
mais ou menos equivalente, com exceção do Distrito Federal,
que era bem menor .
A uma interpelação do reporter sôbre as causas que
estariam determinando a persistência das desfavoráveis con-
dições em que se encontra a nação brasileira em matéria de
educação, o SI'. Teixeira de Freitas imprime maior vivacidade
às suas palavras e começa uma fluente exposição que, con-
duzida por nós com oportunas interrupções, nos proporcio-
nou as notas para a presente reportagem, em cujas in forma-
ções os nossos leitores encon trarão por certo bastan te opor-
tunidade.

Brasil, país a organizar

- E' realmente - diz-nos o diretor do SEES - um


quadro sombrio, êsse que nos oferece a nossa Pátria. Mas
não há uma causa específica para o atraso da educação
nacional. A causa é de ordem geral. E' aquela a qu e aludia
sempre Alberto T ôrr es , O Brasil é um país a organizar. Tudo
nêle ainda está "desarrumado". Não havendo organização
adequada, os esforços de progresso não se solidarizam entre
-73 -

si nem podem tornar-se convergentes. Daí sua ineficiência,


da qual resultam inacreditáveis desperdícios de energias pre-
ciosas. Desperdícios que sacrificam também tempo e recursos,
que a Nação precisaria aproveit ar melhor. A organização
necessária, porém, para adquirir consistência, para val er
alguma cousa, teria de assumir caráter sistemático, forma
racional. E para isso um com êço lógico: partir dos fun da-
mentos mesmos da vida da Federação.
- Onde estaria êsse ponto de partida?
- Lê naquele mapa que vem atraindo sua atenção, a
frase já quase apagada - "O meu Brasil"?
- Reparo agora. Mas a que Brasil se refere, com essa
divisão territorial tão diferente da que está em vigor?
- ~ste é o mapa que ilustrou, há dezesseis anos, a minha
conferência realizada a 28 de outubro de 1932, no Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro. Foi a defesa, com algumas
ligeiras modificações, do chamado "Plano Segadas Viana"
para a redivisão territorial da Federação. Chamei-o o mapa
do "meu Brasil". Porque ali está o Brasil como o meu patrio-
tismo desejaria que êle fôsse , a fim de que se pudesse organi-
zar de modo racional e assim fazer a felicidade do nosso povo
e garan t ir melhor os seus destinos históricos. Segundo êsse
plano, o Brasil está dividido em 29 Estados-membros . Mas
alguns dêles - é claro - deveriam constituir apenas, em
com êço, "Províncias" ou "Territórios", devido ao despovoa-
mento. Todos têm quase a mesma área. Não menos de 250
mil nem mais de 350 mil quilômetros quadrados. Tal " gaba-
rito" ou padrão é determinado pelas condições históricas.
Nêle se enquadrariam vários dos Estados atuais. E os de-
mais poderiam adaptar-se a êle mediante associação ou des-
membramento. Essa extensão territorial típica é a condição
fundamental para que se consiga, no futuro, uma relativa
eq üíval ência de possibilidades e de progresso entre as Uni-
dades Federadas. Exige-a, aliás, o próprio princípio federa-
tivo que preside a nossa organização política.

A Capital da União no Planalto Central

- O seu mapa - noto-o agora - inclui também a


providência que o Govêrno está em caminho de realizar: a
Capital da União transferida para o Planalto Central.
- E' verdade; mas prevendo sua localização, a título
provisório, em Belo Horizonte. Para os que estão habituados
- 74 -

a meditar sôbre as raízes mais profundas dos nossos males


econômicos, sociais e políticos, e sabem ouvir as graves
advertências da realidade geográfica e histórica do Brasil,
vinha causan do a maior angústia patriótica o desinterêsse,
a ap atia dos governos do Brasil em face dos verdadeiros
"problemas de base" da vida nacional. Êsse mal estar torna-
va-se tanto mais penoso quanto era certo que nem mesmo
aquêle problema mais urgente entre todos, e de cuja solução
tudo mais poderia resultar, não fôra sequer colocado em
têrmos positivos .
- Refere-se à mudança da Capital para o interior?
- Exatamente. A inteligência mais medíocre, mesmo a
mais acanhada e sem o hábito de considerar os problemas
coletivos, é capaz de compreender, com evidência perfeita, o
risco muito grave que tem ameaçado o Brasil, e o prejuízo
enorme que está sofrendo em seu progresso, pelo fato do
govêrno nacional ter sede nesta grande metrópole.
Entretanto, ninguém se sobressaltava com isto. Havia
um estado patológico mas não se cuidava de encontrar o
remédio. Graças a Deus, parece que acordamos afinal diante
do iminente perigo. Prova-o a mensagem, datada de Corum-
bá, - não sei se por mera coincidência ou por intencional e
evocativo simbolismo - que o Chefe do Govêrno acaba de
encaminhar ao Congresso. Dê o Presidente Dutra ao Brasil
a mudança da Capital para o Planalto de Formosa, tal como
a delineou a Comissão presidida pelo patriotismo vigilante
e esclarecido do General Poli Coelho, e terá realizado a maior
obra de govêrno possível neste momento .
- Êsse ponto interessa muito ao Diário Trabalhista.
Poderia dizer-lhe em resumo quais as razões mais fortes
dessa afirmativa?

A Capital interior e a Segurança Nacional

- Pois não. Em primeiro lugar a razão da segurança


nacional. Esta cidade é evidentemente um dos pontos vitais
do Brasil. Entretanto, ela é, ao mesmo tempo, um dos luga-
res mais expostos à agressão e dos mais difíceis de proteger.
E para defender o Rio, ou reavê-lo se êle fôr perdido, e assim
salvar o Brasil, a condição primeira é que o Govêrno Nacional
não caia em mãos do inimigo se o Rio cair; nem seja obrigado
a mudar-se precipitadamente para local não apropriado, e
sem levar consigo todo o aparelho administrativo, cuja inte-
-75 -

gridade, tanto quanto ao pessoal especializado com o no que


toca aos seus arquivos e elementos de trabalho , são condições
essenciais de eficiência na defesa do país. Além disso, a
Capital do Brasil, na situação periférica que tem atualmente,
está provocando, por motivos fáceis de compreender mas di-
fíceis de evitar, a concentração excessiva dos seus elementos
de defesa. E' intuitivo quanto isto comprometerá a segurança
da República no caso de hostilidades bem sucedidas contra
a região da atual metrópole. Ocorre, porém, cousa muito
mais grave.
- Não considera primordial, no caso, a questão da segu-
rança?
- Considero. Mas vista de um outro ângulo. Merecem
meditação, sem dúvida, os casos da Rússia e da Turquia. Esta,
retirando a Capital de um ponto excessivamente exposto.
E aquela, fazendo-a retornar à localização que, em circuns-
tâncias épicas, a história, por duas vêzes, já demonstrou ser
a mais segura. Realmente, a verdadeira segurança de um
país não está apenas em poder defender bem a metrópole.
Está, antes, em torná-la menos exposta a um ataque direto
e imediato, conservando ao mesmo tempo as cousas dispostas
de modo que os recursos da defesa nacional fiquem bem
distribuídos e possam ser mobilizados com segurança, e de
diferentes maneiras, do ponto em que se encontrar o Govêr-
no, tornando possível a resistência, mesmo dep ois de repeti-
dos insucessos iniciais. E' preciso, pois, que a sede do Govêr-
no fique o mais resguardada possível contra um golpe even-
tualmente bem sucedido, custe êsse golpe ou não grandes
sacrifícios ao inimigo. Insta, pois, que a metrópole nacional
não pretenda concentrar em si a maior parte dos recursos
da defesa do país, mas conserve todos os pontos em que esteja
feita essa concentração, também êles bem resguardados e
inteiramente sob a mão do Govêrno.
Pois bem, essas essenciais condições estão inteiramente
desatendidas pela "urbs" carioca. Por isso mesmo que ela é
"maravilhosa" pela natureza e pela situação, como um magní-
fico e accessível pôrto de mar, tornou-se o grande entreposto
do Brasil, nas suas trocas internacionais. Cresceu, enrique-
ceu-se e se transformou em uma das maiores metrópoles da
América, em riqueza, civilização e cultura. Ora, sendo Brasil
um país semi-continental, seu desenvolvimento, a não ser que
haja muita prudência e tino político no seu govêrno, não se
processará sem ameaças bastante graves à sua unidade. E se
queremos ver essa unidade preservada a todo o custo, é preciso
-76 -

que o Govêrno nacional evit e permanecer numa cida de que,


al ém de periférica , tão exposta e ameaçada pode ficar de um
momento para outro, tanto interna como externamente, em
conseqüência mesmo daquelas condições e da sua posição no
mapa do país. Mas felizmente os nos sos di rigentes já compre-
enderam qu e n ão nos convém o Rio como capital política da
Federação e quanto é imperiosa a mudança da sede do Gov êr-
n o para re giã o mais adequada. Eis aí a Constituição que a
p rescreve; a í está a decisão de realizá-la, em que se encontra
o atual Govêrno. E a escolha do seu local já foi feita por uma
comissão técnica .

A escolha do Planalto de Formosa

Mas pode-se considerar uma conclusão feliz e defini-


tiva essa que elegeu a mesma área do ret ângulo Cruls para
a const ru ção da nova Capital?
- Creio que sou um dos brasileiros que têm estudado
êsse problema com entusiasmo, perseverança e confiança, no
propósito de verificar qual a solução mais favorável aos des-
ti nos do Brasil. Pois bem. Tais as razões que encontro, sin-
to-me convencido de que todos os meus concidadãos que exa-
minarem a fundo , sem preocupações imediatistas, e sem a
er rada ambição de quererem fazer da Capital do Brasil uma
das "metrópoles tentaculares" do mundo moderno, ch egarão
à m esm a conclusão a que cheguei. A escolha feita foi felicís-
sima; qualquer outra estaria errada .
- Não será demasiado peremptória a afirmação, tra-
t ando-se de uma questão tão complexa e sendo ainda tão pou-
co conhecido o Brasil inter ior ?
- Há engano nisso, meu caro jornalista. A escolha teria
de atender a umas tantas condições fundamentais. E essas
condições só se realizam se a Nova Capital fôr situada no
local que a Comissão indicou.
- Poderia dar urna idéia clara dessa conclusão?
- Pois não . O primeiro ponto é êste . A situação da
nova Capital não precisa ser - e mesmo não deve ser
"resultante" da evolução histórica . Ela será - isso sim - ,
ela terá de ser uma "det er min an t e" dos rumos definitivos
que a vida brasileira deverá tomar. A nova Capital não
interessa uma posição ótima para ficar dirigindo cômoda-
mente a configuração demográfica e econômica atual do
-77 -

país. Não se trata de construí-la na suposição de que a sua


escolha deva atender apenas aos interêsses do grupo popula-
cional, por maior que êle seja, aglomerado ao sul e a leste,
A nova metrópole terá que ser situada segundo a visão total
do mapa do Brasil, e sob a consideração de que os nossos t erri-
tórios vazios continuem brasileiros, e de brasileiros natos ou
naturalizados se povoem , no fu turo, tão densamente quanto
estão hoje povoados o sul e o leste. Porque a êsses brasileiros
caberá o mesmo direito de participar da grande vida do país
nas equit a tivas condições, de um ponto de vista nacional ,
que hoje coub erem às massas estabelecidas nas regiõ es orien-
tal e meridional. É cla ro, também , que n ão seria razoável
pensar-se na const rução su cessiva de novas capitais, Pois ,
além de tudo mais que tornar ia tal solu ção absurda, com isso
se retiraria à nova metrópole o papel pioneiro que ela deve
ter, constituindo-se pela sua capacidad e econômica, finan-
ceira e cultural, o in strumento mais poderoso - e tal vez o
único de natureza política - para integrar o Brasil na
plena posse de si mesmo. Lemb re-se que a mudança da
Capi tal é qu e vai desperta r para a civilização as grandes
á reas septentrionais e ocidentais que devemos ocupar e valo-
rizar, E lembre-se também que a hi stória nos impõe para
isso uma sanção in exorável . Teremos de ocupar e explor ar
o nosso vasto território interior - deserto mas valiosíssimo e
inegualado em todo o planeta - sob pena de devermos
perdê-lo. Perdê-lo, sim, por se haver provado e comprovado
que fomos incapazes de assumi- a missão histórica e humana
que nos decorreu da posse dessa imensa área geográfica,
pois , até agora , deixamo-la ficar inútil para a humanidade
e para nós mes m os,
- Suas palavras mostram apenas que o local da nova
metrópole deve ser procurado na área central do nosso mapa,
tendo em vista uma posição de eqüidistância em relação aos
territórios fronteiriços. E sem preocupação alguma decorrente
do fa to de se tratar de uma área ai nda deserta.
- Isto mesm o . E a té, que seja uma área deserta, tanto
melhor . Melh or, em primeiro lugar, porque tal circunstância
facilitará a edificação da cidade. E melhor, ainda, porque
então já a própria construção da nova "urbs" e das suas
vias de acesso est ará dando sentido imediato à missão pio-
neira que lhe deve cab er, como fator de integração do Brasil
graças à "mise en valeur" de todo o seu imenso "espaço
geográfico" ,
-78-

- Não haveria que temer o isolamento da Capital em


relação às á reas econômicamente já bem desenvolvidas? E
ist o em prejuízo dêsse mesmo progre sso que se quer pro-
mover ?
- De forma alguma. Isolamento, quanto a comunica-
ções, n ão é mais uma ocorrência possí vel, dados os recursos
de que a civilização hoj e dispõe . E quanto aos transportes,
n ão se poàeria temê-lo t ão pouco. A construção pod e ser
começada , sem falar na aviação, com duas ou três linhas
de acesso rodoviário . Ora, não é difícil consegui-Ias para
qualquer ponto do Brasil Central. O t empo n ecessário à
construção da cidade seria suficiente para criar a r êde essen-
cial ao tráfego que ligasse a Capital às várias regiões do país.
Veja bem. A p rópria construção já acarretaria necessària-
mente ligações ferroviárias e rodovi árias indispensáveis ao
Brasil e qu e, de outra forma, ficariam adiadas para as calen-
das gregas . Isto reforça a preliminar de ser até preferível
que a localização se faça em área inexplorada . Porque, sem
o imperioso motivo da construção da Capital, essas comuni-
cações não se fariam, e com isso se enfraqueceria o sentido
pion eiro do empreendimento. Os recursos da Nação , se ou tras
fôssem as condições da região, aplicar-se-iam restritamente
a edificar a cidade depois de onerosas desapropriações, e
em realizações que enriqueceriam territórios já favorecidos.
Continuariam em abandono as áreas cuja ocupação precisa
ser feita com êsse "ímpet o bandeirante" que só a construção
da Capital em região ainda despovoada pod eria provocar com
uma significação verdadeiramente nacional. Nacional, digo,
porque para benefício de tôda a República .
- lÊste, porém, não é o aspecto único a considerar.
- Certo que não é . Não bastará qu e a Nova Capital
surja em ponto central, não importando que tal ponto já
esteja incorporado ou não ao acúmeno de nossa civilização.
E' preciso também pensar nas suas condições de habitabili-
dade, quanto ao clima, salubridade, boa irrigação, abundân-
cia dos materiais de construção, suficiente potência hidráu-
lica. Essas condições , aliás, são primordiais. Tanto que po-
dem determinar, de modo justo, um certo afastamento do
ponto a escolher em relação ao verdadeiro centro do mapa
geográfico do país . Mas os requisitos de habitabilidade exis-
tem , e existem otimamen te, no ponto escolhido pela Comissão.
í:sse pon to é o que reduz ao mínimo possível o deslocamento
da cidade para o sul e para o leste, relativamente à situação
ideal sob o ponto de vista exclusivamente geográfico. Êsse
-79 -

afastamento, contudo, - advirta-se não é acentuado de


mais para deixar desatendido o imperativo da posição cen-
tral. E justifica-se bem, mesmo sob o aspecto da segurança
nacional, por óbvios motivos geopolíticos, que não vale a
pena desenvolver aqui. Não existindo, portanto, nenhum
outro ponto de características tão favoráveis, nem mais para
o norte, nem mais para o oeste, de modo que ficassem pràti-
camente iguais as distâncias dêle em relação às fronteiras
extremas ao sul, ao norte, a nordeste e a noroeste, a posição
escolhida é, sem dúvida possível, a melhor. Abandoná-la por
outra mais orieniul ou mais meridional seria fugir da pos í-
ção certa e resultaria em sacrificar, sem justificativa, a posi-
ção, tão central quanto possível, que se deve procurar. Seria,
mesmo, inutilizar, em grande parte, o alcance pioneiro do
empreendimento, e sacrificar, sobretudo, o destino futuro da
metrópole, a qual deve ser sempre, de tato, a Capital do
"Brasil total", e não, apenas do "Brasil oriental" ou do
"Brasil meridional". Essa conclusão assume significado defi-
nitivo quando se pondera que qualquer deslocamento reali-
zado retiraria à nova metrópole aqu êle optimum de seguran-
ça e de capacidade para coordenar tôda a defesa nacional,
decorrente não só do fato de ficar a cavaleiro do espigão
mestre e em ponto estratégico admirável, de predestinado
papel na geopolítica brasileira, mas também de achar-se,
ainda, o mais "ao norte" que é possível em satisfatórias con-
dições, e como tanto convém para facilitar sua ação futura
sôbre a Amazônia.

A nova Capital não deve ser mais uma "cidade tentacular"


- Mas será que esta conclusão deveria sobrepor-se mes-
mo ao fato de poderem existir outros pontos onde as terras
sejam mais férteis, onde existam mais florestas, ou se encon-
trem poderosas fontes de energia elétrica ou ricas jazidas
minerais, capazes de possibilitar brilhante futuro industrial
à nova cidade?
- Não se pode responder senão afirmativamente. Já
vimos que não deve ser preocupação do Brasil fazer da sua
nova Capital mais uma "cidade tentacular". Nem um formi-
dável "empório cosmopolita". Nem uma grande "feira" OU
um r ico "centro" de abastecimento. Nem uma enorme "urbs
industrial", ou um "arsenal" de ilimitada capacidade. Nada
disso. O objetivo é, al ém do m ais e a par da maior segurança,
libertar exatamente o Govêrno da República, em sua nova
sede, da pressão perigosa e incômoda, não só da trepidante
- 80-

vida dos grandes centros urbanos, mas também dos proble-


mas locais e dos interêsses de classes, de grupos, de fôrças
econômicas, às vêzes conduzidas do estrangeiro, que nesses
centros se organizam fàcilmente e tudo fazem para se sobre-
por aos verdadeiros interêsses nacionais . Assim , uma vez
que, perto ou longe do local escolh ido, áreas existirem favo-
ráveis à multiplicação dêsses núcleos de poderosa vitalidade
social e econômica, nisto não há razão para que o Govêrno
da República procu re colocar-se dentro de um dêles, subme-
tido à sua inafastável e, certamente, perigosa influência. Ao
contrário . Tudo indica que o Govêrno fiqu e fora dêsses
grandes centros a fim de melhor pod er multiplicá-los , desen-
volvê-los e, sobret udo, articulá-los racionalmen t e, e assim ,
de modo mais fácil, con struir a gr andeza nacional . Como
me disse al guém , mais vale que a nova Cap ital fique liberta
t anto do signo do "Ca rangueijo" como do sign o do "Leão";
muito melhor lhe ficará o signo da "Balanç a " . .. Tanto o
seu plan o qu anto a sua legislação devem evitar com cuida do
que ela deixe de ser a "Cidade-Jardim", e entre a cresc er
desme didament e, na alucinante altura dos edifícios tanto
quanto na fôrça dos seus dín amos ou na ca ixa dos seus
Bancos, para transformar-se numa Cosmópole, num dêsses
monstros babélicos que são o orgulho e entretanto mereciam
ser a vergonha, o estígma, da civilização moderna. Pois
destinam-se a produzir a riqueza, propiciar a cultura, garan-
tir bem estar aos seus habitantes, mas só o conseguem para
alguns poucos , em condições excessivas, e à custa ou a par
.da mais horrível miséria e degradação para as grandes massas
que dominam e sacrificam.
- Que a nossa Brasília seja, numa palavra - continuou
depois de uma pausa o nosso entrevistado - a "Washin gt on
Brasileira", e não uma Nova York, uma Londres ou uma
Paris , é o que de melhor podemos desejar. Cidades sem
.con t a , perto dela, longe dela, até a mais remota fronteira,
SE' desenvolvam , cresçam e se enriqueçam, sob sua influência
propulsora e equilibrante de tôda a vida nacional . Mas sem
que ela mesma se faça grande demais, a impedir com isso
qu e o crescimento e a grandeza pertençam, como devem per-
tenc er , a todo o Brasil e não à sua Capital e ár ea adjacente.
- Apesar de tudo, a Capital, no Planalto de Formosa,
não ficará longe demais do Oceano e dos nossos grandes
centros - Rio e São Paulo?
- Ficasse ela um pouco mais longe ainda, mas nas
.m esmas condições que terá perto de Formosa, e seria melhor
- 81-

Porque da profundidade dessa "interiorização" que pretende-


mos realizar é que vão depender duas cousas fundamentais
para o Brasil. A primeira é o ímpeto e a extensão do esfôrço
de civilização que deve incorporar quanto antes à vida
nacional os cinco e meio milhões de quilômetros quadrados
que se acham a oeste do grande eixo meridiano que a proje-
tada rodovia, já denominada a "Transbrasiliana", traçará no
mapa do Brasil, de Sant'Ana do Livramento a Belém, passan-
do pelo novo Distrito Federal. E a segunda é a fixação da
área, que seria de desejar a mais ampla possível, dentro da
qual se vão verificar, afinal, "condições normais" para o
nosso desenvolvimento social e econômico.
- Como assim?

A área de "condições normais"

- VOU explicar meu pensamento, diz o Sr. Teixeira de


Freitas. A linha norte-sul que passa pela nova Metrópole -
e essa linha será a própria Transbrasiliana, uma vez locali-
zada a Capital no Planalto de Formosa - marcará o limite
da área dentro da qual a corrida da população e da riqueza -
corrida atualmente insopitável - na direção do mar, encon-
trará, a neutralizá-la, a influência em sentido contrário, a
ser exercida pela Capital política quando sediada no coração
do país. Essa circunstância criará na vida brasileira uma
bipolaridade - o mar e o sertão. Porque, bem lá no interior,
a nova metrópole, com as suas potentes fôrças atrativas e
propulsoras, multiplicará, articulará e distribuirá melhor os
recursos coletivos e os esforços de civilização por sôbre a
área interposta entre a Capital e a orla marítima. Essa
área, que representa cêrca de um têrço do Brasil com quase
tôda a sua população atual, oferecerá assim, tôda ela, in é-
ditas e extremamente favoráveis condiçõ es de vida. E nesse
novo estado de cousas cessará, ou atenuar-se-á grandemente ,
ou, ainda, será compensada por um moviinento de sentido
contrário, aquela torrencial "corrida" para leste, que preci-
samos deter, seja como fôr. ~sse êxodo está esvaziando catas-
tràficamente o Brasil interior, dos seus melhores valores hu-
manos, e estancando a maior parte das fontes econômicas.
Mas nem sequer para alcançar, apesar de tão grande sacrifí-
cio, qualquer objetivo grandioso, que significasse algo de
magnífico, ou apenas de útil, para os destinos da Nação.
Ao contrário. O que estamos vendo é a hipertrofia, nas
piores condições possíveis, tanto do ponto de vista social ,
6
- 83 -

Por que um "Distrito Federal" de 70 000 km~?

São realmente impressionantes estas razões e tais


prognósticos. Mas dois outros pontos de interrogação ainda
ocorrem. Será mesmo necessário um Distrito Federal com
a área de 70 000 quilômetros quadrados, conforme a proposta
da Comissão de Estudos? E a mudança da Capital se poderá
1 esolver sem cogitar-se previamente do destino político que
se deva dar à cidade do Rio de Janeiro?
- Tem razão. São pontos que pedem resposta.
- Que lhe ocorre dizer sôbre o primeiro ponto?
I - Direi que a Comissão andou muito acertada no seu
projeto. Já é tempo de evitarmos que a Capital da República
viva à custa dos sacrifícios continuados da comunidade na-
cional, absorvendo-lhe cada vez mais os parcos recursos. Im-
pedido, por medidas firmes e cautelosas, o desenvolvimento
sumptuário ou inadequado da nova Capital, já com isso se
terá estabelecido uma natural limitação àquela tendência à
macrocefalia, de que resulta para a Nação a anemia protun-
da , a caquexía, a miséria orgânica. Algo mais, contudo, é
preciso. A Comissão andou muito bem avisada quando aten-
deu a isso, procurando assegurar à metrópole condições de
auto-suficiência. O futuro Distrito Federal, com os seus
70 000 quilômetros quadrados, terá sede na magnífica cidade-
jardim que será Brasília, e abrangerá ainda umas tantas
cidades satélites de destino especializado, na original e feliz
concepção do General Poli Coelho, digno Presidente da Co-
missão de Estudos. Graças ao privilegiado território, e por
isso que disporá de um clima magnífico, bastante frio na
parte mais alta (Chapada dos Veadeiros) e temperado na
parte restante, ficará dotado de uma economia diferenciada
c riquíssima, como região agrícola e industrial, mas podendo
contar também com estações de repouso e recreio, de grande
vitalidade econômica. Portanto, mercê do espírito de previ-
são que inspirou a escolha do local, o futuro Distrito Federal
terá possibilidades financeiras próprias e bem acima das
suas necessidades essenciais. Isto desobrigará inteiramente
o Govêrno Nacional , como convém, de qualquer assistência
a nova metrópole à custa dos recursos da União. ~stes fica-
rão totalmente disponíveis, - e assim é preciso, - para pro-
mover com eqüidade o verdadeiro progresso do país, em 'vez
de se aplicarem, como acontece agora, em benefícios locais
sem qualquer expressão em face das necessidades e dos
- 82 -

como do econômico, e m esmo do político, de algumas me-


trópoles orientais, principalmente Rio e São Paulo. Ora,
colocada a Capital no Planalto de Formosa, será fàcilmente
deti da por medidas adequadas, já então possíveis, a calami-
dad e nacional em que se tornou o descontrolado afluxo das
popu lações interiores para as metrópoles orientais. E essa
p ara lisa çã o se verificará exatamente na parte onde o fenô-
m en o tem alarmante significação, isto é, na área em que se
acham mais de 80 % da nossa população rur ícola , Só com
isso haverá necessàriamente melhoria generalizada nas con-
dições de vida do país . Melhorarão as cidades interiores;
desenvolver-se-á ràpídamente a r êde de comunicações; mul-
típlicar-se- ão, em um sistema altamente diferenciado, os cen-
tros de produção e os mercados internos . A vida rural se
to nificará de maneira poderosa, organizando-se definitiva-
mente. E então a obra governamental poderá incrementar
a produção, amparando-a e aparelhando-a melhor, com o
aproveitamento das energias e dos valores que hoje se deslo-
cam desorientadamente e sem empr êgo útil, ou dedicando-se
a atividades parasitárias . Donde decorrerão, de pronto, bem
me lhores condições de saúde, de subsistência, de bem estar
e de cultura para a quase totalidade da população brasileira.
- Não lhe parece claro agora quanto crescerá de súbito
o Brasil sob o influxo polivalente da nova Capital? - per-
guntou-nos o Sr. Teixeira de Freitas. E continuou.
- Na direção do leste, corrige-se a grande diátese social
e econômica que nos está debilitando a olhos vistos , com os
prognósticos mais sombrios. Nesses três milhões de quilôme-
tros quadrados o Brasil crescerá, a bem dizer, verticalmente.
I Mas, para a região do oeste é que surgirá a grande oportuni-
dade. Os 5 milhões e meio de quilômetros quadrados, que
d
II o Brasil tem em reserva para lá do eixo da Transbrasiliana,
verão nascer o seu dia para a civilização. E o povoamento
e a exploração dêsse imenso latifúndio vão constituir o nosso
crescimento horizontal, até que ali também o progresso
possa altear-se, numa solidariedade perfeita, com a civiliza-
ção oriental. E' a integração assim do grande todo que será
o Brasil do futuro , com o seu coração a palpitar magnlfica-
mente, "num peito de ferro", servido pelo cérebro iluminado
dos seus grandes centros de cultura e pelos membros fortes
das suas cidades industriais e comerciais. Tudo formando
o corpo harmonioso, saudável, eufórico, que será a Nação
Brasileira quando se sen t ir na posse efetiva de todos os seus
r ecursos.

I,
- 83 -

Por que um "Distrito Federal" de 70 000 km~?

São realmente impressionantes estas razões e tais


prognósticos. Mas dois outros pontos de interrogação ainda
ocorrem. Será mesmo necessário um Distrito Federal com
a área de 70 000 quilômetros quadrados, conforme a proposta
da Comissão de Estudos? E a mudança da Capital se poderá
1 esolver sem cogitar-se previamente do destino político que
se deva dar à cidade do Rio de Janeiro?
- Tem razão. São pontos que pedem resposta.
- Que lhe ocorre dizer sôbre o primeiro ponto?
I - Direi que a Comissão andou muito acertada no seu
projeto. Já é tempo de evitarmos que a Capital da República
viva à custa dos sacrifícios continuados da comunidade na-
cional, absorvendo-lhe cada vez mais os parcos recursos. Im-
pedido, por medidas firmes e cautelosas, o desenvolvimento
sumptuário ou inadequado da nova Capital, já com isso se
terá estabelecido uma natural limitação àquela tendência à
macrocefalia, de que resulta para a Nação a anemia protun-
da , a caquexía, a miséria orgânica. Algo mais, contudo, é
preciso. A Comissão andou muito bem avisada quando aten-
deu a isso, procurando assegurar à metrópole condições de
auto-suficiência. O futuro Distrito Federal, com os seus
70 000 quilômetros quadrados, terá sede na magnífica cidade-
jardim que será Brasília, e abrangerá ainda umas tantas
cidades satélites de destino especializado, na original e feliz
concepção do General Poli Coelho, digno Presidente da Co-
missão de Estudos. Graças ao privilegiado território, e por
isso que disporá de um clima magnífico, bastante frio na
parte mais alta (Chapada dos Veadeiros) e temperado na
parte restante, ficará dotado de uma economia diferenciada
c riquíssima, como região agrícola e industrial, mas podendo
contar também com estações de repouso e recreio, de grande
vitalidade econômica. Portanto, mercê do espírito de previ-
são que inspirou a escolha do local, o futuro Distrito Federal
terá possibilidades financeiras próprias e bem acima das
suas necessidades essenciais. Isto desobrigará inteiramente
o Govêrno Nacional , como convém, de qualquer assistência
a nova metrópole à custa dos recursos da União. ~stes fica-
rão totalmente disponíveis, - e assim é preciso, - para pro-
mover com eqüidade o verdadeiro progresso do país, em 'vez
de se aplicarem, como acontece agora, em benefícios locais
sem qualquer expressão em face das necessidades e dos
- - 85 --

não seria difícil obter. E conviria que o íôsse como medida


geral, que encaminhasse Jogo o aparecimento, por expon-
tânea deliberação dos Estados pequenos, de outras "associa-
ções" semelhantes, as quais dariam ao quadro político da
Federação um aspecto muito mais lógico e eqüitativo. Nem
só. Elas propiciariam à Nação largas e inéditas possíbílídades
de progresso. Tanto mais oportuna tal medida, uma vez
tomada em têrrnos expressos, quanto é certo que seria tam-
bém uma sugestão poderosa para a organização imediata das
"Uniões Municipais", como diferenciação política interna dos
Estados-membros, a constituir oportuno recurso de vitalidade
comunal . Dêsse modo, as atuais metrópoles continuariam
, com a sua privilegiada situação. E a tradicional autonomia,
que a exprime, também subsistiria. A conclusão a que se
chega é esta. À "união" de atuais Estados para formarem
um novo Estado-membro, juntar-se-ia a possibilidade das
"Uniões Municipais", integrando a estrutura político-admi-
nistrativa dos Estados-membros. resultassem êstes, ou não,
da associacão entre os atuais Estados. E dessa forma estaria
encontradá a "chave" para dar-se ótimo destino a esta cida-
de. Com a solução sugerida estariam afastados também, de
modo excelente, os velhos "handicaps" com que lutam Minas
e o Estado do Rio. Quero aludir à falta de costa marítima
c organização portuária. para Minas, e à insuficiência terri-
torial, para a terra fluminense.
- Parece certo. Mas , apesar de tudo, poderia causar
receios e impressionar mal o provável declínio social e eco-
nômico da "Cidade Maravilhosa" , quando houvesse de passar,
da condição de metrópole do Brasil, para a de Capital de
um dos Estados, fôsse embora o mais importante de todos
êles ,
- Engano seu , meu caro jornalista. Em primeiro lugar.
o que objeta não chega a ser um argumento contra a solução
alvitrada. A perda dos foros de Capit.al do Brasil, mesmo
que ocasionasse ao Rio um declínio, é preceito constitucional
a ser cumprido de qualquer forma. E' providência aceita
para bem da República. E' medida de salvação nacional. O
que se trata de saber agora é se o Rio ganharia ou perderia
em vir a ser apenas uma Cidade-Estado ou investir-se nos
privilégios de metrópole de um grande Estado, quando per-
der os foros de capital política do Brasil. Creio que não hesi-
tará em reconhecer que a cidade tudo ganharia e nada per-
deria, fazendo-se a cabeça de um corpo magnífico como aqu ê-
le que alvitramos, em vez de tornar-se apenas o Estado da

.t _
- 84 -

problemas nacionais que ao Gov êrno Federal. exclusivamente,


compete a tender.
- Muito bem. E quanto ao Rio, que lhe parece minha
pergunta?

Dest ino condigno para a "Cidade Maravilhosa"


Rio de Janeiro capitul de )Iinas Gerais

Dou-lhe inteira razão. Não julgo possível destituir


o Rio dos seus atuais foros de metrópole federal sem que
se lhe deixe previamente assegurada a plena auto-suficiência
financeira. Digo mais. Sem que se lhe dê justa compensação
política. bem merecida pela sua formidável capacidade pro-
pulsora e como centro econômico e cultural. Essa compen-
sação só pode resultar - é claro - de se lhe reservar rele-
vante papel de liderança na vida da Federação. Um destino
político, repito, dos mais eminentes.
- Como seria isto? Tem-se falado em fazer da cidade
a Capital do Estado do Rio de Janeiro. Não há dúvida que
já seria uma solução.
- Solução insuficiente. E' muito pouco. O Rio, em
verdade, não poderia ser uma cidade-Estado, como pensaram
os Constituintes de 1891. E não lhe bastaria - porque não
seria solução razoável nem do ponto de vista econômico e
cultural, nem sob o aspecto político - que ela viesse a ser
metrópole de um dos menores Estados da República. Para
que o Rio dê ao Brasil tudo que êle pode dar - e é muitís-
simo - faz-se mister que a cidade se torne a capital de um
dos mais importantes Estados da Federação. Nas condições
I atuais, enquanto não se efetivar a redivisão sistemática do
,I Brasil, a única solução possível é fazer do Rio a capital do
Estado-membro que se formar pela união dos a tuaís Estados
de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.
- Com o desaparecimento dêsses Estados?! Retirando-
se os foros de "capital" a Belo Horizonte e a Niterói? Talvez
fôsse inexeqüível.
- Não. Aquêles Estados permaneceriam como entidades
autônomas. Mas "associados", constituindo um só Estado-
membro, naquela nova condição a que já aludimos. A "asso-
ciação" de entidades livres não lhes suprime a liberdade e
expande-lhes a capacidade construtiva. Talvez essa "associa-
ção" exigisse providência constitucional, dado o seu alcance
político e principalmente devido à urgência. Isto, porém,
- - 85 --

não seria difícil obter. E conviria que o íôsse como medida


geral, que encaminhasse Jogo o aparecimento, por expon-
tânea deliberação dos Estados pequenos, de outras "associa-
ções" semelhantes, as quais dariam ao quadro político da
Federação um aspecto muito mais lógico e eqüitativo. Nem
só. Elas propiciariam à Nação largas e inéditas possíbílídades
de progresso. Tanto mais oportuna tal medida, uma vez
tomada em têrrnos expressos, quanto é certo que seria tam-
bém uma sugestão poderosa para a organização imediata das
"Uniões Municipais", como diferenciação política interna dos
Estados-membros, a constituir oportuno recurso de vitalidade
comunal . Dêsse modo, as atuais metrópoles continuariam
, com a sua privilegiada situação. E a tradicional autonomia,
que a exprime, também subsistiria. A conclusão a que se
chega é esta. À "união" de atuais Estados para formarem
um novo Estado-membro, juntar-se-ia a possibilidade das
"Uniões Municipais", integrando a estrutura político-admi-
nistrativa dos Estados-membros. resultassem êstes, ou não,
da associacão entre os atuais Estados. E dessa forma estaria
encontradá a "chave" para dar-se ótimo destino a esta cida-
de. Com a solução sugerida estariam afastados também, de
modo excelente, os velhos "handicaps" com que lutam Minas
e o Estado do Rio. Quero aludir à falta de costa marítima
c organização portuária. para Minas, e à insuficiência terri-
torial, para a terra fluminense.
- Parece certo. Mas , apesar de tudo, poderia causar
receios e impressionar mal o provável declínio social e eco-
nômico da "Cidade Maravilhosa" , quando houvesse de passar,
da condição de metrópole do Brasil, para a de Capital de
um dos Estados, fôsse embora o mais importante de todos
êles ,
- Engano seu , meu caro jornalista. Em primeiro lugar.
o que objeta não chega a ser um argumento contra a solução
alvitrada. A perda dos foros de Capit.al do Brasil, mesmo
que ocasionasse ao Rio um declínio, é preceito constitucional
a ser cumprido de qualquer forma. E' providência aceita
para bem da República. E' medida de salvação nacional. O
que se trata de saber agora é se o Rio ganharia ou perderia
em vir a ser apenas uma Cidade-Estado ou investir-se nos
privilégios de metrópole de um grande Estado, quando per-
der os foros de capital política do Brasil. Creio que não hesi-
tará em reconhecer que a cidade tudo ganharia e nada per-
deria, fazendo-se a cabeça de um corpo magnífico como aqu ê-
le que alvitramos, em vez de tornar-se apenas o Estado da

.t _
- 86-

Guanabara . Mas vou mais longe . Afirmo que o Rio ele


Janeiro também nada perderia por deixar de ser a metrópole
do Brasil, e passando à condição de completa autonomia, por
que tanto aspira sua população. Para isso bastaria que o
evento resultasse da mudança da capital para o interior do
país . Como disse alguém, o Rio será sempre a "capital bío-
dinâmica" do Brasil, Mas ocorre ainda outra circunstância.
Tudo que se fizer para desenvolver a hinterlândia brasileira.
principalmente na sua área central, tudo que contribuir para
dar ao Brasil vigorosos impulsos de progresso e maior rique-
za - e nenhuma realização serviria melhor a êsse objetivo
do que a mudança da Capital para o Planalto de Formosa -
reverteria em beneficio do Rio e da Unidade Política a cujos
destinos a cidade presidir,
- Por que?
- Porque o influxo civilizador da nova Capital da Re-
pública se fará sentir com intensidade maior exatamente na
á rea que lhe ficar a leste, até o mar. E essa área poderá ser,
na h ipótese alvitrada, principalmente a do grande Estado a
que se desse como capital o Rio. O povoamento, o progresso
social e a riqueza econômica que se propiciarem nessa vasta
área, pela ação de presença da metrópole interior e a ela
contígua, a oeste, se traduzirá em maiores possibilidades de
comércio, de atividades industriais e de progresso cultural
para o Rio, como pôr to de mar, principal centro urbano e
me trópole política dessa privilegiada zona.

Será obra sumptu árta a construção de nova capital '?


Ou medida de recuperação nacional '?

- Já nada tenho a objetar, Contudo, desejo provocar


ainda um esclarecimento. Fala-se que a construção da nova
Capital custará ao Brasil coisa de sete bilhões de cruzeiros, ..
E estranha-se que a Nação empregue tão vultosa quantia
numa obra que se pode considerar sumptuária. Isto parece
tanto mais grave quanto é certo que não ternos dinheiro
sequer para dar educação, saúde e transportes à população
brasileira . E é disso que ela mais precisa para produzir mui-
to, enriquecer-se , ser feliz e fazer a grandeza do Brasil.
- É mais um mal-entendido que cumpre desfazer.
Advirta-se , de começo, que a situação de depauperamento
progressivo em que se encontra o Brasil não seria modificada
se d estinássemos a com batê-la aqueles sete bilhões de cru-
zeiro s, Nem o triplo, o quíntuplo, ou talvez mesmo o décuplo
- 87-

dessa importância , se dispuséssemos de tanto, ou se "fabri-


cássemos" para esse fim papel moeda em tal quantidade,
bastaria para resolver satisfatoriamente, nas condições atuais,
aquêles problemas. A nossa deficiência em matéria de saúde,
educação e transporte decorre da estrutura social e econô-
mica. e mesmo política, que demos ao país, e das tendências
conseqüentes aos erros anteriormente cometidos. Tôdas as
medidas parciais que têm sido aventadas, ou tentadas sem
remover as causas essenciais dos nossos males, fracassarão ou
darão resultados mesquinhos, por mais caras que sejam.
A terapêutica de que precisamos terá de atingir as ori-
gens profundas dos erros que motivaram a tremenda diátese
social e econômica em que o país se debate, Ora, o remédio
heróico para o nosso quadro patológico é exatamente aquela
mudança de rumos na vida nacional. Aquela valorização das
terras interiores. Aquela obra de povoamento e a conseqüen-
te fixação do homem ao sertão . Aquela maior capacidade de
produção. aquela satisfatória r êde de comunicações; aquêles
suficien tes sistemas de educacão e assistência sanitária. En-
fim tudo aquilo que só a capital interior estará em condições
- senão de suscitar de improviso - pelo menos de provocar,
de propiciar, de encaminhar, por isso que não poderá deixar
de fazer surgir e manter as condições novas para essa conti-
nuada e eficaz obra de governo . Basta ver que o Govêrno da
República, dominando, do alto do Planalto Central, o pano-
rama da vida nacional, terá diante de si tôdas as necessida-
des do país, vistas no seu conjunto e diretamente, e não
apenas percebidas a través de uma longínqua ressonância ou
de algumas manifestações locais dêsses problemas nas gran-
des metrópoles. Não poderá fugir aos im perativos dessa com-
preensão total da vida brasileira, nem deixar esquecidos e
desarticulados os problemas que sentirá em tôda sua reali-
dade . E a solução dêsses problemas se imporá forçosamente
como o único meio para que, entre a metrópole federal e
as cidades litorâneas, não prevaleça - como não poderá pre-
valecer - - êsse cenário de deserto, de miséria ou de abandono.
que caracteriza atualmente a paisagem social do Brasil.
Abençoado seria , portanto. aqu êle dispêndio, qualquer que
fôsse o sa crifício exigido. Desde que nos desse êle a condição
sem a qual não mudaremos jamais o curso dos acontecimen-
tos. E tanto mais o bendiremos quanto mais convencidos
estivermos de que, se continuarem, no seu encadeamento de
agora , as tristes contingências a que o Brasil está pr êso,
elas no s arrastarão fatalmente à falência, à conquista estran-
geira ou à separação.
- 88-

Brasília, uma ernprê sa grandiosa mas plenamente possire]

- E' um quad ro ameaçador êste , que suas palavras


traçam.
- Advertir não é ameaçar. Mas, meu amigo, há com-
pensação. Se existe êsse lado sombrio, também vemos um
la do luminoso. Não é outra cousa a certeza de uma grande
vitória para a grandiosa emprêsa que o Brasil vai tentar.
As medidas tomadas para dar comê ço à construção da nova
Capital cabem no programa das obras que possam ser aten-
dida.'; pelos orçamentos anuais. E cabem, não como despesas
extraord inárias, que não tenham outro motivo senão a cons-
t ru ção da cidade; mas corno medidas úteis em si mesmas e
qu e valorizarão de logo o Brasil interior, dando início ao
esfôrço de recuperação que, por influência de sua nova sede,
o Govêrn o Federal continuará em seguida. Realize o Brasil
essas obras. procurando reter para benefício da coletividade
a valorização que delas resultar, e a importância despendida,
seja ela de sete ou dez bilhões de cruzeiros, será recuperada
com grande margem , deixando ao pais muito melhores con-
dições de vida e permanentes recursos para o seu desenvolvi-
mento ulterior. Só assim o povoamento e o progresso atin-
girão, afinal c depressa, "o grande deserto ocidental", cuia
ex íst ên cía const itui um opróbrio para nossa civilização. Quan-
to à con strução, propriamente dita, da Capital, ela exige de-
sapropriações e obras. Pode-se admitir que operações de cré-
d ito internas resolveriam bem o problema, quanto às despesas
essenciais, pois teriam tais operações excelente lastro nas
á reas sob valorização intensiva que se incorporassem ao
patrimônio nacional . Mediante concessões dos principais ser-
viços públicos, entretanto, muita cousa poderia ficar a cargo
de ernprêsas pr ivadas , nacionais ou estrangeiras. A verdade
é qu e se trata apenas de empregar com excelentes garantias
u m certo capital, que terá em futuro muito próximo farta
retribuição. Empobrecendo a Nação? Certamente que não.
E' a te rra valorizada, povoada e explorada, que retribuirá o
capital c o trabalho que S€ lhe dedicarem, propiciando ao
mesmo tempo existência feliz a milhões de brasíleíros. . aos
quais não tardará se [u ntem centenas de milhares de estran-
geir os de boa vontade e ansiosos por um ambiente tranqüilo
para o seu labor. Uns c outros se sentirão atraídos pelas
possibilidades inauditas de trabalho reprodutivo, que o inte-
r ior brasileiro não tardará a oferecer.
- 89-

A mudan ça da C;lpit:lI será "nbra de loucos" ?

Então a emp resa da mudança da Capital não será,


como se tem dito, "uma obra de loucos"?
- Será obra de loucos, mas se quiserem admitir que
foram loucos os homens que tiveram a visão profunda dos
acon tecimen tos futuros e se sentiram empolgados pelas em-
prêsas heróicas ou pelos corretivos enérgicos dos grandes
erros históricos, e souberam arrostar dificuldades a servico
de um generoso ideal. Nesse sentido foi obra de loucos tudo
que deu ao Brasil sua grandeza e suas inúmeras possibili-
dades. Loucos foram os jesuítas em sua obra missionária.
Loucos , os bandeirantes, em suas arrancadas que vararam
o continente e balizaram metade d êle para formar o Brasil.
Loucos, José Bonifácio e Pedro I, dando a soberania, entre
tantos riscos , a uma grande nação. Loucos foram Mau á e
Caxias. Loucos, também Castro Alves e Isabel, a Redentora,
aqu êle, preparando, e esta realizando, a libertação dos escra-
vos, sem temor ao colapso econômico que poderia sobrevir.
Loucos igualmente, Rondon e seus gloriosos legionários; lou-
cos, Afonso Penna e quantos o ajudaram a transferir a Ca-
pital de .Min as para Belo Horizonte; loucos, da mesma subli-
me maneira, os goianos com Pedro Ludovico à frente, a cons-
t ruir Goiânia em pleno deserto. Entre tais loucos se inscre-
vem os que construiram a Madeira-Mamoré e a Noroeste do
Brasil, através de sacrifícios incríveis; loucos, enfim, seriam
os brasileiros que, como Couto de Magalhães, Teófilo Otoni,
Murtlnho, Rodrigues Alves, Oswaldo Cruz, Belisário Penna,
Paulo de Frontin - tiveram a visão de um Brasil melhor e
por êle trabalharam em arrancadas intrépidas, sem medir
a grandeza das tarefas, nem a enormidade dos riscos a en-
fren tar. nem a mesquinhez dos meios disponíveis. E que
sejam "loucos" dêsse jaez o Presidente Dutra, o General Poli
Coelho e todos os patriotas que os vão ajudar a dar Brasília
ao Brasil, "custe o que custar". Abençoados loucos , serão
êles . Os brasileiros lhe s consagrarão estátuas no futuro,
como tributo ele eterna gratidão. E talvez acabem reconhe-
cen do - e será a pura verdade - que loucos t emos sido os
desta geração, incapazes de ver e de compreender as grandes
cousas que poderíamos ter feito, pelo bem do Brasil, se a
mais tempo houvéssemos realizado êsse arrojado empreendi-
men to com o qual vamos afinal despertar para a civilização
os sertões brasileiros.
-9Q-

Sem a mudança provisória para Belo Horfzonte


talvez nada se faça

- Mas os homens passam, e a emprêsa grandiosa ficará


inacabada. .. Pois é grande demais para ser realizada por
um só govêrno ,
- Tem muita razão. Mas em parte. A ernprêsa, sem
dúvida, não é obra que um só govêrno possa iniciar e con-
cluir . .. E é quase certo que se um a iniciar apenas , oime-
diato não a prosseguirá. Entretanto , também é certo que
pod e ser obra de um govêrno tomar medidas tais que ponham
o empreendimento em marcha, sem mais possibilidaàes de
ficar detido. Talvez até uma só medida assim bastasse. Creio
que se o atual Govêrno predispuser imediatamente o condig-
no destino político a ser dado ao Rio, quando houver de per-
der os foros de metrópole do Brasil, e , a seguir, se transferi!'
para uma cidade interior bem escolhida, estará tudo garan-
t ido . O Govêrno levaria consigo o mínimo possível da má-
quina administrativa. Digamos, apenas os órgãos cuja pre-
sença junto ao Chefe do Governo fôssc essencial. A cidade
capaz de oferecer a sede provisória não poderia ser outra,
por todos os motivos, senão Belo Horizonte. E' fácil perceber
que essa solução seria ótima. Primeiro, porque ficaria que-
brado o "tabu" da capital carioca, c o acontecimento histó-
r ico estaria em marcha, irresistivelmente. Em segundo lugar,
porque, colocada a sede "provisória" do Govêrno Federal em
Belo Horizonte, isto seria, além de um recurso muito feliz
para fa cilita r a constituição da "grande Minas Gerais", um
estímulo permanente à continuação do programa para a
construção de Brasília - a Capital definitiva. E terceiro
ainda, em virtude das facilidades que teria o Govêrno em
Belo Horizonte para controlar e dirigir não só as obras pla-
nejadas, mas também o esfôrço de povoamento e organização
interior, a fim de levar a civilização e recuperação rural,
desde a orla marítima até a grande longitudinal formada
pela Transbrasiliana. Êsse não é o "espaço vital" do Brasil.
Mas é, a bem dizer, o espaço em que o Brasil está vivendo
de fato . Nêle se acham mais de 80 I~) da nossa população. E
tudo que fizer aí o govêrno sediado em Belo Horizonte, para
preparar a atuação futura da Capital situada entre Minas
e Bahia, de um lado, e Goiás (êste provàvelmente dividido
em dois Esta dos) do outro lado, tudo isso já estará sendo a
regeneração do Brasil. O cenário da vida nacional, com essas
prim eir as medidas, já se estará transformando.
- 91-

o gigante acordado .. .

- E a t riste realidade atual - conclui o Sr . Teixeira de


Freitas -- começará a iluminar-se e já deixará entrever a
maravilhosa gr an deza da nossa Pátria . qu e bem merece êsse
belo futuro. Para trás ficaria o "g igan te adormecido" ...
Erguendo-se rapidamente, seria então, para a fase definitiva
de nos sa história , o "giga n te acordado". Acordado e de pé.
Vigilante e laborioso. Amigo da pa z, campeão da justiça, e
invencível.
Com estas palavras de con fian ça e en t usias mo. o nosso
en trevistado levantou-se e fitou por al guns instantes a quê le
mapa do "Brasil renovad o" , que dera sen tido especial à
nossa en t revist a . E acr escentou. concluindo : - Isto n ão é
um sonho, não ; é a nossa "vocação histórica". Atentem bem
nesses fatos os que respondem pela segurança da Pátria e
pela felicida de do nosso povo .
Agradecemos a aco lhida cordial qu e nos fôra disp ensada
e desp edimo-nos. Mas não pod íamos deixar de comunicar
aos nossos leitores e aos trabalhadores de todo o Brasil a
súmula de tão movimentada e oportuna palestra. E' o que
deixamos feito neste fiel relato.

--- D - - -

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