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RESUMO
1
Acadêmico do curso de Direito pela UEL - Universidade Estadual de Londrina.
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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Com o passar do tempo, essa visão “quase inata” de justiça passou a ser
modificada por várias legislações, as quais, munidas de fundamentação teórica,
transmutaram cada vez mais o valor representativo da reparação pecuniária oriunda
do evento danoso.
2
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 30ª Ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2008.
3
Lei das XII Tábuas, 449 a.C.
4
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 30ª Ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 345.
3
obrigação de indenizar5 decorrentes dos atos ilícitos6, conforme previsto no art. 927
do Código Civil7.
Conhecida como perda de uma chance, essa nova teoria de dano exige uma
concisa performance interpretativa dos juristas modernos para sua total
compreensão pois, tantos seus preceitos, como seus resultados, confundem-se em
muito com os danos emergentes e com os lucros cessantes.
Feito isto, iremos então analisar dois casos pioneiros em suas jurisdições,
mas distantes acerca da chance pleiteada. Ambos os casos são oriundos do
fervilhante caldeirão de embates filosóficos pelo qual é conhecido a medicina, nos
5
VENOSA, Silvio de Salvo. Código Civil Interpretado. – São Paulo: Atlas, 2010, p. 837.
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Assim definido pelo “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.” E também pelo “Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes.”
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“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo.”
8
VENOSA, Silvio de Salvo. Código Civil Interpretado. – São Paulo: Atlas, 2010, p. 838.
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trazendo visões sobre uma possível limitação da chance quando esta esbarra às
portas da vida e da morte.
médico foi obrigado a indenizar a parte requerente, uma criança que teve seus
braços desnecessariamente amputados para uma suposta facilitação do parto, em
uma indenização pecuniária.
Tal decisão foi notável, pois precedeu uma nova abordagem sobre a
responsabilidade de quem comete a infração e a flexibilização na indispensabilidade
do nexo causal, para assim se preservar os direitos de reparação à vítima.
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GUIMARÃES, Janaína Rosa. Perda de uma chance: considerações acerca de uma teoria.
Revista Jus Vigilantibus, 30 de julho de 2009. Artigo disponível no sítio: http://jusvi.com/artigos/41209,
capturado em 20.11.2010
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MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador. 2ª Ed. -
São Paulo: LTr, 2006.
6
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VENOSA, Silvio de Salvo. Código Civil Interpretado. – São Paulo: Atlas, 2010, p. 850.
17
“Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor
abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar”.
7
O dano pela perda de uma chance, por sua vez, é classificado por alguns
juristas como sendo um tipo de dano emergente e por outros, como lucros
cessantes. Já foi visto que, de acordo com a doutrina italiana, a chance pode ser de
fato um bem incorporado ao patrimônio. Se um dano ocorre perante o patrimônio
onde a chance repousa, obviamente a perda dessa chance deverá ser ressarcida,
assim como os eventuais danos emergentes ocasionados devido à chance perdida,
como, por exemplo, eventuais danos psicológicos devido à frustração. 20
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“Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor
abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar”.
“Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os
prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na
lei processual.”
19
VENOSA, Silvio de Salvo. Código Civil Interpretado. – São Paulo: Atlas, 2010, p. 851.
20
MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador. 2ª Ed. -
São Paulo: LTr, 2006.
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“É claro, então, que, se a ação se fundar em mero dano hipotético, não cabe
reparação. Mas esta será devida se se considerar, dentro na ideia de perda
de uma oportunidade (pert d’une chance) e puder situar-se na certeza do
dano.” 21
A teoria da perda de uma chance, quando iluminada por SAVI (2006), pode
ser enquadrada como uma terceira espécie de dano patrimonial, a qual se encontra
entre, e não, em danos emergentes ou em lucros cessantes:
“A perda de uma chance séria e real é hoje considerada uma lesão a uma
legítima expectativa sucessível de ser indenizada da mesma forma que a
lesão a outras espécies de bens ou qualquer outro direito subjetivo tutelado
pelo ordenamento.” 22
21
PEREIRA Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p.
45.
22
SAVI, Sérgio. Responsabilidade Civil por perda de uma chance. São Paulo: Atlas, 2006, p. 101.
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Por outro lado, Fabiana poderia sim, caso houvesse um prêmio em dinheiro,
requerer uma indenização monetária por ter perdido a chance de obter esse lucro. O
valor seria então definido de acordo com o prêmio, por exemplo, definido em milhão
de dólares, somente para quem alcançasse o primeiro lugar.
Logo, se houvessem dez competidoras no total, cada uma delas teria 10% de
chance de vitória, ou seja, no momento em que Fabiana perde a chance de
participar da prova, o valor de US$100.000,00 – os 10% de um milhão – poderá ser
reivindicado por ela, pois “o grau de probabilidade é que fará concluir pelo montante
da indenização.” 23
23
NORONHA, Fernando. Direito das obrigações. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 666.
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Uma ação por wrongful birth (nascimento injusto), é aquela impetrada pelos
pais que, na oportunidade de interromper uma gravidez 24, a fim de se evitar dar à luz
a um ser com problemas congênitos, não o fazem, por desconhecimento do fato,
devido à negligência médica.
Aglutinando situações além da esfera médica, está à ação por wrongful death
(morte injusta), onde a família pleiteará, em juízo, a reparação dos danos oriundos
do falecimento de um membro, tendo a morte deste sido causada por ato ilícito
(negligência; homicídio, etc.).
Ao fim, pode-se dizer que aquele preferiria não nascer. Este último, por sua
vez, continuar existindo.
24
Estando-se amparado pelas regulamentações legais de determinado país. No território brasileiro,
por exemplo, a prática do aborto é considerado crime contra os direitos do nascituro. Conforme
regulamentado pelo Art. 128 do Código Penal, “Não se pune Aborto praticado por médico: ‘I – se não
há outro meio de se salvar a vida da gestante; II - se a gravidez resulta de estupro e o Aborto é
precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal’.”
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O nascimento de Nicolas, per si, não configuraria um dano, nem aos pais,
nem à criança. Entretanto, no momento em que ocorre uma negligência por parte do
médico em diagnosticar o feto corretamente, este mina as possibilidades de Josette
Perruche findar a gravidez e assim evitar futuras despesas financeiras, inerentes a
condição física de seu filho. Por isso, uma indenização na importância de
$250.000,00, relativo aos custos que teriam com Nicolas, foi concedida aos pais. 26
Deste modo, comprova-se que Josette Perruche de fato perdera uma oportunidade
25
GODOY, Gabriel Gualano de. Acórdão Perruche e o Direito de Não Nascer. Curitiba:
Universidade Federal do Paraná – UFPR, 2007, p. 31.
26
LYSAUGHT, M. Therese. Wrongful life? The strange case of Nicholas Perruche. Human Life
Review; Winter: Research Library, 2002, p. 165
12
Esse pleito gera um grande entrave jurídico e filosófico, pois a vida injusta de
Nicolas é decorrente senão de sua condição excepcional de existência. Como já foi
provado, a deficiência fora causada quando este estava no útero de sua mãe, assim,
não se pode dizer que há nexo de casualidade entre a negligência médica e a
deficiência de Nicolas. Desse modo, o único meio pelo qual poderia ser evitado a
wrongful life, seria se não houvesse um nascimento, ou seja, o único meio de se
satisfazer o pleito de Nicolas seria evitando sua doença, e o único modo disso
acontecer seria por meio do aborto. Nicolas então vislumbra uma indenização não
somente por levar uma vida sofrível, mas, outrossim, pela perda de uma chance de
não ter existido.
27
Arrêt n° 457, Cass. Fr., 17 nov. 2000.
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Dito tese, pois este tem sua vontade representada por seus pais.
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Por não escutar, por não falar e por não agir, devido à inanição do corpo, o
jurista é inclinado a pensar que a vida de Nicolas não passa de uma existência
vazia; uma massa sem alma, tal como é retratado o caboclo brasileiro, estereotipado
por Monteiro Lobato, cuja existência não interfere no mundo:
“No meio da natureza brasílica, tão rica de formas e cores, onde os ipês
floridos derramam feitiços no ambiente e a infolhescência dos cedros, às primeiras
chuvas de setembro, abre a dança dos tangarás; onde há abelhas de sol,
esmeraldas vivas, cigarras, sabiás, luz, cor, perfume, vida dionisíaca em escachôo
permanente, o caboclo é o sombrio urupê de pau podre a modorrar silencioso no
recesso das grotas. Só ele não fala, não canta, não ri, não ama. Só ele, no meio de
tanta vida, não vive...” 30
29
GODOY, Gabriel Gualano de. Acórdão Perruche e o Direito de Não Nascer. Curitiba:
Universidade Federal do Paraná – UFPR, 2007, p. 4.
30
LOBATO, Monteiro. Urupês. São Paulo: Globo, 2008, p. 177.
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MATSUYAMA v. BIRNBAUM. 890 N.E.2d 819 (Mass. 2008)
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFÍA
SAVI, Sérgio. Responsabilidade Civil por perda de uma chance. São Paulo:
Atlas, 2006.
VENOSA, Silvio de Salvo. Código Civil Interpretado. – São Paulo: Atlas, 2010.