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DISCIPLINA: CVCAV PROFESSORA: CARLA 2020.

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APOSTILA 1

1) CAMPOS ESCALARES OU FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS


1.1) DEFINIÇÕES
O volume V de um cilindro circular é dado por V  r2h, onde r é o raio da base e h é a altura do
cilindro. O volume do cilindro depende de duas variáveis, r e h. Escrevemos então V(r; h)  r2h, e
dizemos que esta é uma função de duas variáveis.
n  R T
A equação de estado de um gás nas CNTP é dada por P  , sendo P a pressão, V o
V
volume ocupado pelo gás, T a temperatura em que se encontra, n o número de moles e R a constante
n  R T
molar do gás. A pressão é uma função de três variáveis, n, T e V, denotada por P(n; T; V)  .
V
O gráfico de uma função de duas variáveis é uma superfície no espaço IR³, uma vez que é
necessária a marcação de três valores: um para cada variável e outro para o valor da função. No
volume V, o gráfico seria o conjunto dos pontos (r; h; V) que satisfazem a equação V(r; h)  r2h.
Já o gráfico de uma função de três variáveis precisaria da marcação de quatro valores, ou seja, seria
um gráfico em quatro dimensões. Como não é possível visualizá-lo, para ter ideia do comportamento da
função em geral trabalhamos com superfícies de nível, sobre as quais o valor da função é constante.
Existem funções que dependem de um número de variáveis superior a três, como a que dá o custo
final de fabricação de um produto, por exemplo. Porém, nos concentraremos no estudo das funções de
duas ou de três variáveis, generalizando quando possível.
Funções de várias variáveis são também chamadas de campos escalares, pois podem ser vistas
como campos em que um vetor (em IR²IR³, etc.) é associado a um escalar (número real).
Fazendo uma analogia com a notação para funções reais, f: IR IR, y  f(x), em geral denotamos
as funções de duas variáveis por f: IR2 IR , z  f(x; y), as de três por f: IR³ IR , w  f(x; y; z), e as
de n variáveis por f(x1; x2; x3; ...; xn).

1.2) INTERPRETAÇÃO GEOMÉTRICA DAS DERIVADAS PARCIAIS


Nas funções de uma variável, y  f(x), a derivada f '(x0) mede a inclinação da reta tangente ao
gráfico da função – que é uma curva – no ponto (x0; y0). Nas funções de duas variáveis, z  f(x; y), as
derivadas parciais fx e fy medem inclinações de retas tangentes ao gráfico da função – que é uma
superfície – no ponto (x0; y0; z0). Para calcular fx (x0; y0), seccionamos a superfície pelo plano y  y0,
para manter y constante e obter uma curva cuja equação envolva apenas x e z. A derivada desta curva
em relação a x, calculada no ponto (x0; y0; z0), será fx(x0; y0). No cálculo de fy (x0; y0), o corte é feito
pelo plano x  x0, para manter x constante. É obtida uma curva cuja equação envolve y e z. Sua
derivada em relação a y, calculada no ponto (x0; y0; z0), será fy(x0; y0).
z
A figura ao lado ilustra os cortes, as curvas obtidas
e as inclinações.

y0 y f
x0 ; y0   f x x0 ; y0   tg
x
x0
f
x x0 ; y0   f y x0 ; y0   tg
y
Uma função de uma variável é diferenciável se sua função derivada existe. Uma função de duas
variáveis é diferenciável se suas derivadas parciais de primeira ordem existem e são contínuas. Neste
caso, podemos calcular a diferencial total da função:
f f
df  dx  dy.
x y
Por exemplo, a função z  x 2  4y 2 , cujo gráfico é a metade superior de uma superfície cônica,
não é diferenciável no ponto (0; 0), pois zx não existe para x  y  0 (nem zy).

1.3) GRADIENTE E DERIVADAS DIRECIONAIS DE CAMPOS ESCALARES


Dados um ponto P(x0; y0; z0) e um campo escalar f(x; y; z), estamos interessados em calcular a
taxa com que os valores de f variam quando nos deslocamos, a partir de P, em uma determinada
direção, e também em descobrir qual é a direção que provoca a maior/menor taxa de variação. O
sentido do deslocamento é sempre partir do ponto P e afastar-se dele, por isso, em geral só
mencionamos a direção. Também por isso, o vetor que dá a direção de deslocamento é sempre
representado com a origem no ponto P.
Quando as direções de deslocamento forem as dos eixos coordenados Ox (vetor î  (1; 0; 0)), Oy
(vetor ĵ  (0; 1; 0)) e Oz (vetor k̂  (0; 0; 1)), as taxas de variação serão as derivadas parciais do
campo, fx, fy e fz, respectivamente, calculadas no ponto P.

Quando a direção for dada por um vetor qualquer v  aî  bĵ  c k̂ , primeiro calculamos o módulo

 v 
de v para encontrar o versor û   , unitário, com mesma direção e sentido de v . Em seguida,
v
fazemos uma espécie de 'média ponderada' das derivadas parciais, com pesos a, b e c, que será a
derivada direcional da função f no ponto P, na direção dada por û:

f
Dû f P  ou 
P   1 a  f x  b  f y  c  f z   û ( f x î  fy ĵ  fz k̂ )P ,
û v
P

onde o símbolo  representa o produto escalar e a notação P significa "calculado em P".


Observe que a derivada direcional é um número. Ela nos dá a velocidade com que a função f
varia, ou a taxa de variação da função f, a partir do ponto P, na direção indicada por û.

O vetor (f x î  fy ĵ  fz k̂ )P , que aparece na derivada direcional, é chamado de gradiente de f no


ponto P, representado por f (P) ou grad f(P):
grad f(P) ou f(P)  f x î  fy ĵ  fz k̂ P.
  
Obs. O operador  ("nabla") pode ser representado formalmente pelo vetor   î ĵ k̂ , e
x y z
dará origem também à divergência e ao rotacional de um campo vetorial, que veremos mais adiante.
Lembrando ainda que o produto escalar de dois vetores é o produto de seus módulos e do cosseno
do ângulo entre eles, podemos também escrever a derivada direcional assim:
f
Dû f P  ou P   û  f(P)  || û ||||f(P)||cos(∡(û; f(P))),
û
onde ∡(û; f(P)) denota o menor ângulo formado por û e f(P). Como û é unitário, || û ||  1, logo:
f
Dû f P  ou P   ||f(P)||cos(∡(û; f(P))).
û
Desta representação, podemos tirar várias conclusões.
 Quando cos(∡(û; f(P)))  1, obtemos o valor máximo de Dû f P  — valor máximo da taxa de
variação de f em P, igual a ||f(P)||.

2
 cos(∡(û; f(P)))  1 significa que ∡(û; f(P))  0º, logo û e f(P) têm mesma direção e sentido.
f  P 
Assim, a direção na qual obtemos o valor máximo de Dû f P  é û  .
f  P 
 Quando cos(∡(û; f(P)))  1, obtemos o valor mínimo de Dû f P  — valor mínimo da taxa de
variação de f em P, igual a  ||f(P)||.
 cos(∡(û; f(P)))  1 significa que ∡(û; f(P))  180º, logo û e f(P) têm mesma direção e sentidos
f  P 
opostos. A direção na qual obtemos o valor mínimo de Dû f P  é û   .
f  P 
 Sobre uma curva de nível, no caso de f(x; y), ou uma superfície de nível, para f(x; y; z), a função f
é constante, logo se û é tangente à curva ou à superfície de nível no ponto P, teremos Dû f P   0.
Mas, Dû f P   0  ||f(P)||cos(∡(û; f(P)))  0  ||f(P)||  0  cos(∡(û; f(P)))  0.

Se ||f(P)||  0 então f(P)  0 . Todas as derivadas direcionais são nulas em P, ou seja, a
função é constante em uma vizinhança de P.
Se ||f(P)||  0 e cos(∡(û; f(P)))  0, os vetores û e f(P) são perpendiculares, ou seja, f(P)
aplicado em P é perpendicular à curva ou superfície de nível que passa por P.
Exemplos:
a) Calcule o gradiente da função f: IR2 IR, f(x; y)  6  2x  3y no ponto P(1; 1) e esboce-o no plano,
com origem no ponto (1; 1).
Resolução: Como f é uma função de duas variáveis, f(P)  f x î  fy ĵ P  fx  2; fy  3 
 f(P)  2î  3ĵ P  2î  3ĵ
O vetor gradiente é constante, ou seja, é o mesmo independente do ponto em que seja calculado. Isto
já era esperado, pois o gráfico de z  6  2x  3y é um plano. Em todos os pontos, a direção da maior
taxa de variação será sempre a mesma, assim como sua taxa de variação máxima, ||f(P)||  13 .
y

Ao lado, a representação gráfica.


Em vermelho, as curvas de nível de f(x; y)  6  2x  3y,



retas paralelas c  6  2x  3y , quando c  0.

Em azul, as curvas de nível de f(x; y)  6  2x  3y, retas


 paralelas c  6  2x  3y, quando c  0.

x Em verde, a curva de nível que passa por P(1; 1), a reta


      
1  6  2x  3y.


Em marrom, o vetor gradiente f(P)  2î  3ĵ, que
aponta a direção de maior crescimento de f em P e é
perpendicular à curva de nível que passa por P.


b) Dados f: IR2 IR, f(x; y)  x2  y2, os pontos P1(0; 0), P2(1; 1), P3(2; 1) e o vetor ûz   ĵ, calcule,
em cada 
ponto
(i) o gradiente de f ;
(ii) a derivada direcional de f na direção de û;

(iii) o valor máximo da derivada direcional.
Resolução:
P1(0; 0)

(i) f(0; 0)  f x î  fy ĵ P1  f(0; 0)  2x î  2y ĵ P1  0 î  0 ĵ  0 
todas as derivadas parciais são nulas.
(ii) todas as derivadas direcionais são nulas em (0; 0).
(iii) o valor máximo da derivada direcional de f em (0; 0) é ||f(0; 0)||  0. y
x
P2(1; 1)
3
(i) f(1; 1)  2x î  2y ĵ P2  2 î  2 ĵ
(ii) Dû f (1; 1)  (2 î  2 ĵ)( ĵ)  2 (em (1; 1), nesta direção f decresce)
(iii) valor máximo da derivada direcional: ||f(1; 1)||  2 2 .
P3(2; 1)
(i) f(2; 1)  2x î  2y ĵ P3  4 î  2 ĵ
(ii) Dû f (2; 1)  (4 î  2 ĵ)( ĵ)  2 (em (2; 1), nesta direção f cresce)
(iii) valor máximo da derivada direcional: ||f(2; 1)||  20  2 5 .
A seguir está a representação gráfica dos gradientes.
y

Em azul, algumas das curvas de nível de


 f(x; y)  x2  y2: circunferências de centro
(0; 0), c  x2  y2 para c  0.

Em verde, a curva de nível que passa por


 P(1; 1), circunferência 2  x2  y2.

 Em vermelho, o vetor gradiente f(1; 1).


x
Em azul claro, a curva de nível que passa
         
por P(2; 1), circunferência 5  x2  y2.


Em marrom, o vetor gradiente f(2; 1).










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