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CURITIBA - PARANÁ
2009
LÍGIA HENZ SILVA
CURITIBA – PARANÁ
2009
RESUMO
Esta revisão tem como objetivos descrever a ansiedade por separação em cães e
gatos; estabelecer os diagnósticos diferencial e definitivo, determinar os sinais
precoces, definir o tratamento e discutir o manejo da síndrome. A ansiedade de
separação afeta um considerável percentual de cães. Devido à complexidade e
diversidade de sinais relacionados às reações à separação foi introduzido o termo
síndrome de ansiedade por separação (SAS). A SAS prejudica o bem-estar dos cães
e donos, por implicar em sofrimento para os cães e pelos problemas associados
(destruição de pertences e queixas de vizinhos) que levam à rejeição, abandono e
eutanásia. A SAS é caracterizada por sinais clínicos comportamentais que podem
incluir destruição, vocalização, eliminação imprópria de urina e fezes, anorexia e
salivação excessiva na ausência do dono. O diagnóstico da SAS e feito após
descartar outras causas para esses sinais tais como falha na aprendizagem, tédio,
causas metabólicas de eliminação inapropriada, marcação territorial, problemas
cognitivos devido à idade avançada. A hipervinculação é um fator necessário para o
diagnóstico da SAS. O tratamento mais eficaz para a SAS é a terapia
comportamental aliada a um fármaco, pois faz com que o proprietário se envolva no
tratamento, diminuindo o risco de desistência.
Palavras-chave: cães, ansiedade, separação, gatos.
ABSTRACT
The present review has as objectives describe the separation anxiety in dogs and cats,
establish the differential and definitive diagnosis, determine early signs, define the
treatment and discuss the control of the illness. The separation anxiety affects a
considerable percentage of dogs. Due to the complexity and diversity of signs related to
the separation reactions the term separation anxiety syndrome (SAS) was introduced.
The SAS harms the welfare of dogs and owners and cause suffering to the dogs and
because of the associated problems (belongings destruction and neighbor complaint)
that lead to rejection, abandon and euthanasia. The SAS is characterized by behavioral
signs that include destruction, vocalization, urine and feces improper elimination,
anorexia and excessive salivation in the absence of the owner. The diagnosis of SAS is
done after discard other causes of these signs like learning fail, boring, metabolic causes
of improper elimination, territory marking and age- related cognitive problem. The
hypervinculation is a necessary factor for the diagnosis of SAS. The most efficient
treatment for SAS is a behavior therapy allied to a drug because helps the involvement
of the owner to the treatment, reducing the desistance.
Key-words: dogs, anxiety, separation, cats.
1. INTRODUÇÃO Formatado: Tabulações: 17 cm, À
esquerda + 18 cm, À esquerda +
18,25 cm, À esquerda
O comportamento é uma área que necessita de maior atenção por parte dos
clínicos de pequenos animais. Muitos clientes acreditam que se trata de uma área que
não compete ao médico veterinário. Entretanto, é do nosso conhecimento que um
conceito mais amplo de saúde abrange mais do que somente a saúde física.
O estudo do comportamento animal, mais especificamente dos distúrbios de
comportamento dos animais de companhia, é uma das áreas mais interessantes e
instigantes da medicina veterinária. Embora a origem da observação e do estudo de
comportamento dos animais domésticos se perca nos primórdios da história, só muito
recentemente na medicina veterinária se iniciou o estudo sistemático, científico e em
nível clínico dos distúrbios comportamentais dos animais de companhia. A população
em geral e mesmo certo contingente de médicos veterinários, manifesta sua estranheza e
até certo descrédito ao ouvir falar em terapia comportamental aplicada ao cão e ao gato,
por se tratar de algo relativamente novo, sobretudo no Brasil (PEREIRA, 1996).
Nos últimos anos tem se tornado cada vez mais comum para os veterinários
encontrarem na prática médica animais que apresentam problemas comportamentais
(BEAVER, 2004). Tem-se estimado que na prática veterinária nos Estados Unidos um
mínimo de 14% dos pacientes caninos exibem sinais de ansiedade de separação
(OVERALL, 2001 b). Horwitz (2000) afirma que casos de ansiedade de separação
ocupam de 5 a 21% dos casos clínicos. Mas, de acordo com Seksel e Lindeman (2001),
esse percentual pode alcançar 40%, sendo um dos três problemas de comportamento
mais freqüentes apresentados na Clínica de Comportamento Animal da Universidade de
Cornell (EUA), juntamente com agressões aos proprietários e a estranhos (TAKEUCHI
et al., 2001). Um estudo (SOARES, 2007) encontrou 59,22% dos cães acometidos por
essa síndrome na população de cães de apartamento do bairro de Icaraí e de outros com
as mesmas características em Niterói-RJ.
Embora o cão apresente uma elasticidade comportamental considerável, muitas
vezes dele se exige mais que ele pode realizar. Surgem então os distúrbios que, na
maioria das vezes, são comportamentos espécie-específicos normais, porém inaceitáveis
para o ser humano. Assim, não é apropriado classificar esse tipo de comportamento
como “anormal”, termo este que deve ser reservado para padrões comportamentais que
são realmente decorrentes de má-adaptação e aparentemente sem finalidade (PEREIRA,
1996). Em parte, isso reflete a mudança importante no papel do cão na sociedade, de um
animal de trabalho em fazenda ou habitante de quintal para um membro da família. Os
proprietários podem não saber qual é o comportamento canino normal ou podem ter
expectativas irreais em relação ao cão, pois eles só conheceram cães individuais como
membros de família e não observaram os aspectos mais universais dos comportamentos
caninos (BEAVER, 2004). Em conseqüência, a existência de um comportamento animal
reputado como inaceitável pelo dono, leva a deterioração da relação “proprietário-
animal”, tornando o animal de companhia não uma fonte de prazer e bem-estar, mas sim
uma “cruz que se é obrigado a carregar” (PEREIRA, 1996).
A ansiedade de separação é um problema comportamental comum em cães, pois
cães são animais sociais e o apego é fundamental para a socialibidade do cão, e em
conseqüência, para sua sobrevivência. Esse vínculo pode ser tão próximo que o cão se
torna extremamente ansioso quando separado de seu dono ou outra figura de ligação
(objeto de afeto) na família (HORWITZ, 2002). Esse problema ocorre quando o
proprietário não está em casa, ou quando ele está, mas o acesso do cão a ele está
bloqueado. É um problema comportamental aflitivo, com sérias conseqüências para o
proprietário e para o animal (LANDSBERG et al., 2004). Embora não se saiba
exatamente como os animais se sentem, a ansiedade de separação tem sido comparada
com alguns comportamentos de dor em jovens crianças quando se perdem de seus pais
em um shopping. Cães com ansiedade de separação apresentam verdadeiro sofrimento e
requerem tratamento comportamental e possível intervenção médica (HORWITZ,
2002). É uma doença mais comum do que boa parte dos clínicos tem conhecimento e
que poderia ser melhor diagnosticada e tratada se a importância do aspecto psicológico
para a saúde dos pacientes não fosse subestimada.
O presente trabalho busca a melhor compreensão da SAS, através da literatura
atual sobre o assunto, na busca de meios para seu diagnóstico, prevenção e tratamento.
2. DIAGNÓSTICO
O levantamento do histórico comportamental é o centro da terapia de
comportamento de animais de companhia (LANDSBERG et al., 2004). Na maioria dos
casos comportamentais, a maior parte das informações virá a partir da história. O
objetivo principal é obter uma descrição precisa de todos os aspectos importantes do
problema, incluindo informações relevantes acerca do animal de estimação, dos seres
humanos associados e do ambiente (BEAVER, 2004). A descrição, feita por um
membro da família, de como o animal passa um dia habitual pode ser relevante. O
clínico deve perguntar onde o animal é mantido quando a família está em casa, fora ou
dormindo, assim como onde ele passa o tempo quando há visitas e amigos. Se o animal
fica confinado longe dos convidados, é importante descobrir por que isso é feito. Na
maior parte dos casos, o animal é separado dos visitantes em razão de algum problema
comportamental. Perguntar também sobre quanto exercício o animal faz, se ele tem
brinquedos preferidos, quando e o que ele come, qual a natureza social do animal
(incluindo como ele se dá com outros animais e se ele fica relaxado, nervoso ou
agressivo quando encontra pessoas não familiares) (LANDSBERG et al., 2004). Pistas
sutis, como alerta excessivo, agressão em direção a qualquer coisa que se mova, postura
da cauda, interação entre proprietário e cão, marcha anormal e relutância em romper o
contato visual, proporcionam muitas informações complementares. Podem-se armar
situações para observar melhor as reações do cão. Pode-se tentar fazer o cão encontrar
outro, fitar o cão e oferecer comida no chão. Até deixar que cães não agressivos vaguem
na sala de exame fornece um discernimento sobre como eles se comportam e como seus
proprietários reagem. Outro objetivo consiste em identificar as conseqüências imediatas
do comportamento, compreender o desenvolvimento do comportamento, e descobrir
outros problemas relacionados que podem estar presentes. No entanto, no caso dos
problemas vistos tipicamente em uma situação de consulta, os proprietários geralmente
descreverão o problema como eles o vêem. (BEAVER, 2004). O terapeuta pode ter de
confiar em informações incompletas vindas de um proprietário emocionalmente
envolvido, que pode ver o animal de uma forma antropomórfica demais e pode não ter
estado presente quando boa parte do comportamento indesejável ocorreu. Isso pode
dificultar um diagnóstico sólido em alguns casos e impossibilitá-lo em outros
(LANDSBERG et al., 2004).
Pode ser útil começar essas discussões por perguntas aos proprietários acerca de
onde eles adquiriram o animal de estimação e se eles sabem alguma coisa sobre seus
pais. Depois, perguntar sobre a descrição da história vital do animal de estimação até o
presente. As quatro questões gerais a serem respondidas em qualquer sessão de
anamnese são o quê acontece, onde acontece, quando ocorre e quando começou
(BEAVER, 2004). Outra pergunta pertinente é “Por que você acha que o animal faz
isso?” Os proprietários devem fornecer um relato detalhado do que o animal faz,
incluindo posturas corporais e expressões faciais (LANDSBERG et al., 2004). A
filmagem do cão após a saída do proprietário pode ser útil para determinar a extensão
verdadeira do problema (HORWITZ, 2002) e ajudar a descartar outras causas dos
mesmos sinais (BEAVER, 2004).
A família deve descrever todos os métodos que têm sido usados para corrigir o
problema e quais resultados foram observados (LANDSBERG et al., 2004). O
conhecimento de que uma terapia específica já foi tentada apropriadamente significa
que ela não precisa ser realizada novamente. Em alguns casos, essa informação pode
descartar determinadas possibilidades em uma lista de diagnósticos diferenciais. Caso se
tenha tentado uma terapia, mas ela foi interrompida antes que pudesse mostrar
resultados ou se a obediência ao protocolo aceito foi fraca, pode-se tentá-la novamente
com ênfase nos métodos corretos (BEAVER, 2004).
Perguntas sobre punição devem ser feitas de maneira cuidadosa. Se o terapeuta
perguntar “Você já bateu no animal para corrigir o problema?”, o proprietário pode ficar
relutante em admitir isso e responder “Não”. Pode ser melhor perguntar, de forma trivial
“Bater no animal ajudou?” (LANDSBERG et al., 2004).
O histórico médico deve se concentrar nos sinais que podem ser indicativos de
um processo patológico ou um estado de ansiedade crônica (como taquicardia,
taquipnéia, salivação, distúrbios gastrintestinais, dermatopatias, comportamentos
autolesivos, e evacuação induzida por estresse e excitação). Aumento de sede e micção,
alteração no apetite, obesidade, perda de peso acentuada, alterações na higiene,
diminuição de responsividade a estímulos e alterações no padrão de sono podem ser
todos indicativos de distúrbios médicos ou comportamentais mais generalizados
(LANDSBERG et al., 2004). Depois de se obter uma história completa, o passo
seguinte é um exame físico completo. Como é normalmente feito, o animal deve ser
avaliado com relação ao peso corporal, a temperatura, a respiração e o pulso. O abdome
deve ser palpado e o tórax deve ser auscultado. Pode-se precisar colocar uma ênfase
particular em uma avaliação neurológica, um exame ocular, uma avaliação
musculoesquelética, um exame prostático e uma avaliação de qualquer lesão cutânea ou
dos sacos anais. Os problemas físicos devem ser observados e avaliados no contexto
total. As afecções médicas podem ser fatores de risco comuns em cães trazidos à clínica
por problemas comportamentais. (BEAVER, 2004). Antes de realizar a consulta
comportamental efetiva, é muito importante que se realize um exame físico completo e
que afecções médicas subjacentes sejam descartadas ou tratadas. Por exemplo, o uso de
modificação comportamental no caso de um gato com micção inapropriada seria contra
produtivo se a causa subjacente fosse uma doença do trato urinário inferior
(LANDSBERG et al., 2004).
Um fator que deve ser levado em consideração é a necessidade que o cão tem,
desde seus ancestrais selvagens, de viver em grupo (BEAVER, 2004), bem como uma
predisposição genética, haja visto que cães são criados para serem socialmente
dependentes e devotados aos humanos. Além disso muitas vezes o comportamento
dependente e infantilizado dos cães é, mesmo que de forma não intencional, encorajado
e reforçado pelos donos.
2.2.2. Idade
É comum filhotes apresentarem sinais de ansiedade de separação, pois estes
estão se adaptando a uma nova realidade, já foram separados dos irmãos de ninhada, da
mãe e dos primeiros humanos com que tiveram contato. Nesta fase também podem
ocorrer as maiores dificuldades para o diagnóstico da SAS, pois esta pode estar
associada a quadros de mastigação infantil e educação sanitária incompleta (BEAVER,
2004).
A média de idade dos cães quando do surgimento dos sinais de SAS é de cerca
de um ano e meio (TAKEUCHI et al., 2001). Um estudo (LUND et al., 1996) realizado
em 2.238 cães relatou que cerca de 80% dos problemas comportamentais foram
relatados dentro dos três primeiros anos de vida. Para alguns cães, os primeiros sinais da
SAS ocorrem ocasionalmente; então se intensificam com o passar do tempo –
possivelmente quando o cão torna-se mais velho. Porém cães idosos são mais
suscetíveis ao desenvolvimento da síndrome em virtude das alterações metabólicas
decorrentes da idade. Distúrbios de eliminação decorrentes da perda (total ou parcial) de
controle dos esfíncteres anal e uretral provocam reações dos donos, que passam a
manter o cão preso em canil ou restringir seu acesso aos espaços de convívio mais
íntimo com a família. Estudos sugerem que até 50% de cães idosos podem exibir algum
comportamento de SAS (HORWITZ, 2001). Sabe-se também que existem mudanças
idiopáticas que ocorrem em cães mais velhos e, sem nenhuma razão aparente, um cão
que era capaz de permanecer sozinho por toda sua vida não pode mais ser deixado
sozinho (OVERALL, 2001 b).
De acordo com Beaver (2004), o aprendizado estável começa com oito a nove
semanas de idade em cães e as experiências traumáticas para o cão nessa fase da vida
não são esquecidas e podem afetar seu comportamento e bem-estar. Em certos casos, o
comportamento começa pouco depois que o cão ingressa na família. Em outros casos,
nenhuma causa pode ser identificada (HORWITZ, 2002).
Riva et al. (2008), comparando 20 cães ansiosos com um grupo controle de 13
cães normais, observaram uma correlação significativa (P < 0.05) entre ansiedade e
adoções tardias. Enquanto no grupo controle 77% dos cães foram adotados no período
considerado correto - entre 60 e 90 dias (OVERALL, 1997), no grupo dos cães ansiosos
40% desses cães foram adotados após três meses de idade.
No entanto Soares (2007) observou uma relação inversa a esta. Uma relação
significativa entre a idade de aquisição e o desenvolvimento da SAS foi observada,
mostrando assim que animais adquiridos até os três meses de idade mostraram-se mais [U1] Comentário: Como assim? Se
fossem mais velhos, a incidência
predispostos para a síndrome. Outro achado foi a relação estatisticamente significativa diminuiria? Então é uma correlação inversa
à de Riva? É necessáiro explicar melhor
este parágrafo.
entre ter pedigree e o desenvolvimento da SAS. Tal achado pode ser explicado pelo
seguinte fato: dentre os 36 animais com pedigree, 29 (80,0%) foram adquiridos dentro
do período de socialização primária (três primeiros meses de vida) e desses, 22 (61,1%) [U2] Comentário: Em geral, para
porcentuais utiliza-se somente uma casa
foram considerados positivos para SAS. decimal.
Apesar desses autores terem encontrado resultados opostos, ambos apontam para
a importância do período de sociabilização primária nos cães, no qual os cães formam
vínculos e são mais suscetíveis a traumas. Esses resultados conflitantes poderiam ser
explicados pela diferente origem dos animais dos grupos de cães ansiosos em relação ao
grupo de cães normais estudados por Riva et al. (2008).
na cama, 45% na cesta própria para o cão e 10% em outros lugares comparados com
todos os cães do grupo controle que dormiam na cesta. A cesta deveria representar um
local relaxante e protetor para o cão. Outro achado no mesmo estudo (RIVA et al.,
2008) foi que cães do grupo controle não tinham sempre comida a disposição, enquanto
35% dos cães ansiosos tinham comida continuamente à disposição (P<0.05). Acredita-
se distribuição de comida em séries de atos regulares e rítmicos permite uma clara
hierarquia entre o cão e seu proprietário (HORWITZ, 2002). Soares (2007) encontrou
um número elevado de animais (71,43%) caracterizado como negativo para a SAS, mas
que apresentava hipervinculação. Embora essa característica seja necessária para o
diagnóstico da SAS (HORWITZ, 2001) ela pode ocorrer sem que a síndrome ocorra.
A hipervinculação é uma característica da relação ser humano-cão e se torna um
complicador para o tratamento da SAS por envolver o emocional do proprietário
(SOARES, 2007).
3. TRATAMENTO
De acordo com boa parte dos autores a melhor opção é usar a terapia
comportamental e modificação ambiental em conjunção com uma droga (HORWITZ,
2000; KING, 2000; LANDSBERG et al., 2005; SEKSEL; LINDEMAN, 2001;
SIMPSOM, 2000, ; TAKEUSHI et al., 2000; ). Apesar da terapia comportamental
sozinha, em médio e longo prazo, obter resultados positivos na redução dos sinais de
SAS, o uso de medicamentos tem algumas vantagens. A terapia medicamentosa pode
reduzir em até três vezes o tempo de tratamento e, com isso, estimular os proprietários a
continuarem com a terapia comportamental (KING et al, 2003). Além disso, a terapia
medicamentosa diminui o nível de ansiedade do paciente, favorecendo a resposta para
terapia comportamental (HORWITZ, 2000).
Os princípios da terapia comportamental incluem não castigar (por exemplo,
por destruição ou eliminação dentro de casa), incrementar o exercício, reduzir a emoção
nos momentos de partida ou reuniões sociais, não associar nenhum evento com a saída
do dono, bem como dessensibilizar o cão às saídas e ausências do dono (TAKEUSHI et
al., 2000). A melhora quanto à destruição, defecação ou micção foi comunicada em 50-
57% dos cães dentro dos três primeiros meses da terapia comportamental (KING,
2000). Uma dificuldade que se encontra é que os donos, na prática, muitas vezes não
têm vontade ou condições de implementar programas completos de terapia
comportamental (TAKEUSHI et al., 2000). Tais programas exigem tempo e disciplina
dos proprietários. Outro fator a ser levado em consideração é o lado emocional do
cliente. Pode ser traumático tanto para o cão quanto para o proprietário quebrar o
vínculo excessivo. Uma vez que esses clientes são muito apegados ao seus animais,
ignorá-los pode ser muito difícil para eles.
As medidas corretivas para os comportamentos indesejáveis devem ser baseadas
nos fatores que os geraram. Não se obtém bons resultados simplesmente punindo o cão
por ele latir, sujar ou destruir a casa.
As coleiras anti-latido contêm um dispositivo que gera um impulso elétrico ou
desprende uma pequena porção de líquido como a citronela, ambos causam uma
sensação desagradável no cão no momento em que este começa a latir. Nos casos de
ansiedade de separação o uso dessas coleiras como técnica punitiva é contra-indicado.
Apesar dessas coleiras serem eficientes em diminuir os latidos, elas aumentam
significativamente o estresse do animal (BEAVER, 2004).
O simples confinamento do animal em uma caixa ou canil não constitui uma
solução em curto ou longo prazo, pois esses cães podem ficar extremamente ansiosos e
destruir o canil, podendo machucar suas patas ou boca tentando sair (BEAVER, 2004).
3.2.3. Habituação
A maior parte dos cães com ansiedade de separação aprendeu a associar dicas
específicas com a saída do proprietário. A presença dessas dicas de saída normalmente
criará ansiedade acerca de uma iminente ausência do proprietário. Até que o animal
tenha se habituado a essas dicas, estas devem ser evitadas sempre que possível durante
as saídas reais (LANDSBERG et al., 2004).
O proprietário é instruído para agir como se estivesse deixando a casa, mas não
partindo de fato. O dono deve ir com precisão pela rotina de partida normal da mesma
maneira como se realmente estivesse partindo (apanhar as chaves, vestir casaco, chapéu,
caminhar para a porta), entretanto, guardar tudo e permanecer na casa. É importante
incluir na sugestão de partida todos os sinais que o cão foi acostumado a presenciar (ver
o dono se vestindo, sucessão de eventos, gestos físicos e sinais vocais, interação do
proprietário com o animal). Quando o cão tem isso como um comportamento normal, o
processo é repetido. O exercício inteiro deve ser feito três a cinco vezes pela noite
(HORWITZ, 2002).
A repetição do exercício deve ser feita até o cão não exibir mais o
comportamento de ansiedade relacionado à atividade de partida do dono. Nesse
momento, o dono deve sair brevemente e então voltar pra casa. Se o cão não exibe o
comportamento de ansiedade de separação o tratamento pode progredir para partidas
mais longas (HORWITZ, 2002).
3.2.4. Dessensibilização
3. PREVENÇÃO
5. PROGNÓSTICO
Nos últimos anos os problemas comportamentais têm se tornado cada vez mais
freqüentes. Apesar disso o comportamento dos animais no Brasil ainda não tem
recebido a atenção que deveria por parte dos veterinários e seus clientes. A saúde de um
indivíduo abrange também o seu bem-estar mental, e isso não é diferente nos animais.
A prática clínica veterinária no Brasil mostra certo atraso no que diz respeito ao
comportamento animal em relação a outros países. Como consequência os proprietários
e a população em geral também possuem menos conhecimento sobre a área. A
participação do médico veterinário nos meios de comunicação tem sido fraca, em
relação ao provimento de informações para prevenir problemas comportamentais. O
veterinário deveria informar as pessoas e ajudar a formar opiniões.
Os donos precisam entender melhor a natureza do cão e respeitá-la, o que
evitaria frustrações em ambas as partes, prevenindo distúrbios comportamentais. Essa
consciência deveria existir nos proprietários mesmo antes da adoção de um animal. Tal
medida ajudaria inclusive na escolha do animal, em relação a características típicas da
espécie e raça ou a características do indivíduo.
Diferentemente do que muitos veterinários pensam, gatos também podem ser
acometidos pela SAS. Embora gatos sejam sociáveis por natureza, quando adultos eles
não requerem contato com humanos ou outros gatos para sobreviver. Além disso, existe
uma variação individual muito maior na sociabilidade entre gatos que entre cães, na
qual alguns gatos são de fato solitários e outros são mais socialmente dependentes. Essa
variedade social pode ser explicada em parte pelo fato de os gatos não terem sido
sistematicamente domesticados, comparados aos cães.
Da mesma forma que faz parte da natureza do cão se afeiçoar ao dono e sentir a
sua falta, gostar de um animal que goste de nós e sinta nossa falta também faz parte da
natureza humana. Alguns proprietários por desinformação ou desatenção permitem que
se forme uma relação de dependência exagerada entre ele e seu animal, por meio de
atitudes como satisfazer os desejos do animal o tempo todo e chamar o cão sempre que
ele estiver fora de sua vista em vez de o estimular a ficar sozinho. É semelhante ao que
acontece com as crianças mimadas. Grande parte dos cães com ansiedade de separação
pertence a pessoas ansiosas, que se despedem calorosamente do cão e ao chegar em casa
estimulam uma recepção calorosa. O cão é capaz de perceber que o dono está ansioso, o
que por sua vez gera ansiedade no cão.
Levando em consideração que a maioria dos maus comportamentos do cão foi
permitida ou incentivada pelo proprietário, ele tem o dever de buscar uma solução para
o problema, particularmente se o seu animal está sofrendo. A menos que o cão
represente uma ameaça à saúde física das pessoas, a eutanásia não deveria ser
considerada.
Quando um cão é acolhido, o dono precisa saber que é responsável por toda a
vida do animal, pois mesmo após atingir a idade adulta, o cão não é capaz de garantir
sua adequada alimentação e segurança. A domesticação do cão trouxe como
conseqüência a sua dependência em relação à espécie humana. Os seres humanos
deveriam ser, de certa forma, considerados os responsáveis pelo bem-estar dos cães, em
especial daqueles cães que eles abrigaram e educaram à sua maneira.
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