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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO

ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO EM CÃES E GATOS


REVISÃO DE LITERATURA

LÍGIA HENZ SILVA

CURITIBA - PARANÁ
2009
LÍGIA HENZ SILVA

ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO EM CÃES E GATOS


REVISÃO DE LITERATURA

Monografia apresentada à Universidade


Federal do Semi-Árido- UFERSA,
Departamento de Ciências Animais, como
requisito parcial para a obtenção do título
de especialista em Clínica Médica de
Pequenos Animais
Orientadora: Dra. Carla Molento

CURITIBA – PARANÁ
2009
RESUMO

Esta revisão tem como objetivos descrever a ansiedade por separação em cães e
gatos; estabelecer os diagnósticos diferencial e definitivo, determinar os sinais
precoces, definir o tratamento e discutir o manejo da síndrome. A ansiedade de
separação afeta um considerável percentual de cães. Devido à complexidade e
diversidade de sinais relacionados às reações à separação foi introduzido o termo
síndrome de ansiedade por separação (SAS). A SAS prejudica o bem-estar dos cães
e donos, por implicar em sofrimento para os cães e pelos problemas associados
(destruição de pertences e queixas de vizinhos) que levam à rejeição, abandono e
eutanásia. A SAS é caracterizada por sinais clínicos comportamentais que podem
incluir destruição, vocalização, eliminação imprópria de urina e fezes, anorexia e
salivação excessiva na ausência do dono. O diagnóstico da SAS e feito após
descartar outras causas para esses sinais tais como falha na aprendizagem, tédio,
causas metabólicas de eliminação inapropriada, marcação territorial, problemas
cognitivos devido à idade avançada. A hipervinculação é um fator necessário para o
diagnóstico da SAS. O tratamento mais eficaz para a SAS é a terapia
comportamental aliada a um fármaco, pois faz com que o proprietário se envolva no
tratamento, diminuindo o risco de desistência.
Palavras-chave: cães, ansiedade, separação, gatos.
ABSTRACT

The present review has as objectives describe the separation anxiety in dogs and cats,
establish the differential and definitive diagnosis, determine early signs, define the
treatment and discuss the control of the illness. The separation anxiety affects a
considerable percentage of dogs. Due to the complexity and diversity of signs related to
the separation reactions the term separation anxiety syndrome (SAS) was introduced.
The SAS harms the welfare of dogs and owners and cause suffering to the dogs and
because of the associated problems (belongings destruction and neighbor complaint)
that lead to rejection, abandon and euthanasia. The SAS is characterized by behavioral
signs that include destruction, vocalization, urine and feces improper elimination,
anorexia and excessive salivation in the absence of the owner. The diagnosis of SAS is
done after discard other causes of these signs like learning fail, boring, metabolic causes
of improper elimination, territory marking and age- related cognitive problem. The
hypervinculation is a necessary factor for the diagnosis of SAS. The most efficient
treatment for SAS is a behavior therapy allied to a drug because helps the involvement
of the owner to the treatment, reducing the desistance.
Key-words: dogs, anxiety, separation, cats.
1. INTRODUÇÃO Formatado: Tabulações: 17 cm, À
esquerda + 18 cm, À esquerda +
18,25 cm, À esquerda

O comportamento é uma área que necessita de maior atenção por parte dos
clínicos de pequenos animais. Muitos clientes acreditam que se trata de uma área que
não compete ao médico veterinário. Entretanto, é do nosso conhecimento que um
conceito mais amplo de saúde abrange mais do que somente a saúde física.
O estudo do comportamento animal, mais especificamente dos distúrbios de
comportamento dos animais de companhia, é uma das áreas mais interessantes e
instigantes da medicina veterinária. Embora a origem da observação e do estudo de
comportamento dos animais domésticos se perca nos primórdios da história, só muito
recentemente na medicina veterinária se iniciou o estudo sistemático, científico e em
nível clínico dos distúrbios comportamentais dos animais de companhia. A população
em geral e mesmo certo contingente de médicos veterinários, manifesta sua estranheza e
até certo descrédito ao ouvir falar em terapia comportamental aplicada ao cão e ao gato,
por se tratar de algo relativamente novo, sobretudo no Brasil (PEREIRA, 1996).
Nos últimos anos tem se tornado cada vez mais comum para os veterinários
encontrarem na prática médica animais que apresentam problemas comportamentais
(BEAVER, 2004). Tem-se estimado que na prática veterinária nos Estados Unidos um
mínimo de 14% dos pacientes caninos exibem sinais de ansiedade de separação
(OVERALL, 2001 b). Horwitz (2000) afirma que casos de ansiedade de separação
ocupam de 5 a 21% dos casos clínicos. Mas, de acordo com Seksel e Lindeman (2001),
esse percentual pode alcançar 40%, sendo um dos três problemas de comportamento
mais freqüentes apresentados na Clínica de Comportamento Animal da Universidade de
Cornell (EUA), juntamente com agressões aos proprietários e a estranhos (TAKEUCHI
et al., 2001). Um estudo (SOARES, 2007) encontrou 59,22% dos cães acometidos por
essa síndrome na população de cães de apartamento do bairro de Icaraí e de outros com
as mesmas características em Niterói-RJ.
Embora o cão apresente uma elasticidade comportamental considerável, muitas
vezes dele se exige mais que ele pode realizar. Surgem então os distúrbios que, na
maioria das vezes, são comportamentos espécie-específicos normais, porém inaceitáveis
para o ser humano. Assim, não é apropriado classificar esse tipo de comportamento
como “anormal”, termo este que deve ser reservado para padrões comportamentais que
são realmente decorrentes de má-adaptação e aparentemente sem finalidade (PEREIRA,
1996). Em parte, isso reflete a mudança importante no papel do cão na sociedade, de um
animal de trabalho em fazenda ou habitante de quintal para um membro da família. Os
proprietários podem não saber qual é o comportamento canino normal ou podem ter
expectativas irreais em relação ao cão, pois eles só conheceram cães individuais como
membros de família e não observaram os aspectos mais universais dos comportamentos
caninos (BEAVER, 2004). Em conseqüência, a existência de um comportamento animal
reputado como inaceitável pelo dono, leva a deterioração da relação “proprietário-
animal”, tornando o animal de companhia não uma fonte de prazer e bem-estar, mas sim
uma “cruz que se é obrigado a carregar” (PEREIRA, 1996).
A ansiedade de separação é um problema comportamental comum em cães, pois
cães são animais sociais e o apego é fundamental para a socialibidade do cão, e em
conseqüência, para sua sobrevivência. Esse vínculo pode ser tão próximo que o cão se
torna extremamente ansioso quando separado de seu dono ou outra figura de ligação
(objeto de afeto) na família (HORWITZ, 2002). Esse problema ocorre quando o
proprietário não está em casa, ou quando ele está, mas o acesso do cão a ele está
bloqueado. É um problema comportamental aflitivo, com sérias conseqüências para o
proprietário e para o animal (LANDSBERG et al., 2004). Embora não se saiba
exatamente como os animais se sentem, a ansiedade de separação tem sido comparada
com alguns comportamentos de dor em jovens crianças quando se perdem de seus pais
em um shopping. Cães com ansiedade de separação apresentam verdadeiro sofrimento e
requerem tratamento comportamental e possível intervenção médica (HORWITZ,
2002). É uma doença mais comum do que boa parte dos clínicos tem conhecimento e
que poderia ser melhor diagnosticada e tratada se a importância do aspecto psicológico
para a saúde dos pacientes não fosse subestimada.
O presente trabalho busca a melhor compreensão da SAS, através da literatura
atual sobre o assunto, na busca de meios para seu diagnóstico, prevenção e tratamento.

2. DIAGNÓSTICO
O levantamento do histórico comportamental é o centro da terapia de
comportamento de animais de companhia (LANDSBERG et al., 2004). Na maioria dos
casos comportamentais, a maior parte das informações virá a partir da história. O
objetivo principal é obter uma descrição precisa de todos os aspectos importantes do
problema, incluindo informações relevantes acerca do animal de estimação, dos seres
humanos associados e do ambiente (BEAVER, 2004). A descrição, feita por um
membro da família, de como o animal passa um dia habitual pode ser relevante. O
clínico deve perguntar onde o animal é mantido quando a família está em casa, fora ou
dormindo, assim como onde ele passa o tempo quando há visitas e amigos. Se o animal
fica confinado longe dos convidados, é importante descobrir por que isso é feito. Na
maior parte dos casos, o animal é separado dos visitantes em razão de algum problema
comportamental. Perguntar também sobre quanto exercício o animal faz, se ele tem
brinquedos preferidos, quando e o que ele come, qual a natureza social do animal
(incluindo como ele se dá com outros animais e se ele fica relaxado, nervoso ou
agressivo quando encontra pessoas não familiares) (LANDSBERG et al., 2004). Pistas
sutis, como alerta excessivo, agressão em direção a qualquer coisa que se mova, postura
da cauda, interação entre proprietário e cão, marcha anormal e relutância em romper o
contato visual, proporcionam muitas informações complementares. Podem-se armar
situações para observar melhor as reações do cão. Pode-se tentar fazer o cão encontrar
outro, fitar o cão e oferecer comida no chão. Até deixar que cães não agressivos vaguem
na sala de exame fornece um discernimento sobre como eles se comportam e como seus
proprietários reagem. Outro objetivo consiste em identificar as conseqüências imediatas
do comportamento, compreender o desenvolvimento do comportamento, e descobrir
outros problemas relacionados que podem estar presentes. No entanto, no caso dos
problemas vistos tipicamente em uma situação de consulta, os proprietários geralmente
descreverão o problema como eles o vêem. (BEAVER, 2004). O terapeuta pode ter de
confiar em informações incompletas vindas de um proprietário emocionalmente
envolvido, que pode ver o animal de uma forma antropomórfica demais e pode não ter
estado presente quando boa parte do comportamento indesejável ocorreu. Isso pode
dificultar um diagnóstico sólido em alguns casos e impossibilitá-lo em outros
(LANDSBERG et al., 2004).
Pode ser útil começar essas discussões por perguntas aos proprietários acerca de
onde eles adquiriram o animal de estimação e se eles sabem alguma coisa sobre seus
pais. Depois, perguntar sobre a descrição da história vital do animal de estimação até o
presente. As quatro questões gerais a serem respondidas em qualquer sessão de
anamnese são o quê acontece, onde acontece, quando ocorre e quando começou
(BEAVER, 2004). Outra pergunta pertinente é “Por que você acha que o animal faz
isso?” Os proprietários devem fornecer um relato detalhado do que o animal faz,
incluindo posturas corporais e expressões faciais (LANDSBERG et al., 2004). A
filmagem do cão após a saída do proprietário pode ser útil para determinar a extensão
verdadeira do problema (HORWITZ, 2002) e ajudar a descartar outras causas dos
mesmos sinais (BEAVER, 2004).
A família deve descrever todos os métodos que têm sido usados para corrigir o
problema e quais resultados foram observados (LANDSBERG et al., 2004). O
conhecimento de que uma terapia específica já foi tentada apropriadamente significa
que ela não precisa ser realizada novamente. Em alguns casos, essa informação pode
descartar determinadas possibilidades em uma lista de diagnósticos diferenciais. Caso se
tenha tentado uma terapia, mas ela foi interrompida antes que pudesse mostrar
resultados ou se a obediência ao protocolo aceito foi fraca, pode-se tentá-la novamente
com ênfase nos métodos corretos (BEAVER, 2004).
Perguntas sobre punição devem ser feitas de maneira cuidadosa. Se o terapeuta
perguntar “Você já bateu no animal para corrigir o problema?”, o proprietário pode ficar
relutante em admitir isso e responder “Não”. Pode ser melhor perguntar, de forma trivial
“Bater no animal ajudou?” (LANDSBERG et al., 2004).
O histórico médico deve se concentrar nos sinais que podem ser indicativos de
um processo patológico ou um estado de ansiedade crônica (como taquicardia,
taquipnéia, salivação, distúrbios gastrintestinais, dermatopatias, comportamentos
autolesivos, e evacuação induzida por estresse e excitação). Aumento de sede e micção,
alteração no apetite, obesidade, perda de peso acentuada, alterações na higiene,
diminuição de responsividade a estímulos e alterações no padrão de sono podem ser
todos indicativos de distúrbios médicos ou comportamentais mais generalizados
(LANDSBERG et al., 2004). Depois de se obter uma história completa, o passo
seguinte é um exame físico completo. Como é normalmente feito, o animal deve ser
avaliado com relação ao peso corporal, a temperatura, a respiração e o pulso. O abdome
deve ser palpado e o tórax deve ser auscultado. Pode-se precisar colocar uma ênfase
particular em uma avaliação neurológica, um exame ocular, uma avaliação
musculoesquelética, um exame prostático e uma avaliação de qualquer lesão cutânea ou
dos sacos anais. Os problemas físicos devem ser observados e avaliados no contexto
total. As afecções médicas podem ser fatores de risco comuns em cães trazidos à clínica
por problemas comportamentais. (BEAVER, 2004). Antes de realizar a consulta
comportamental efetiva, é muito importante que se realize um exame físico completo e
que afecções médicas subjacentes sejam descartadas ou tratadas. Por exemplo, o uso de
modificação comportamental no caso de um gato com micção inapropriada seria contra
produtivo se a causa subjacente fosse uma doença do trato urinário inferior
(LANDSBERG et al., 2004).

2.1. SINAIS CLÍNICOS

Segundo Overall (2001 b) a ansiedade é a antecipação apreensiva de perigo


futuro acompanhado de um sentimento de disforia em humanos e sinais somáticos de
tensão, tais como vigilância, hiperatividade, atividade motora aumentada e tensão. A
autora aponta como condição necessária para o diagnóstico de ansiedade de separação
sinais clínicos ou comportamentais de distresse exibidos pelo animal somente na
ausência do dono ou na impossibilidade de acesso a ele.
Uma resposta natural dos cães ao abandono é o aumento na atividade de
vocalização (VOITH, 1989), micção e defecação inapropriada, mastigação destrutiva e
escavação. Outros sinais clínicos incluem comportamento medroso, tremores, vômito,
diarréia, lambedura excessiva, automutilação, procura excessiva por atenção, agressão
direcionada ao dono no momento em que este deixa a casa (BEAVER, 2004) salivação,
eliminação e destruição exibidas somente na ausência real ou virtual do cliente
(HORWITZ, 2002; OVERALL, 1997). Além dos comportamentos citados, podem se
desenvolver comportamentos compulsivos, que caracterizam o transtorno compulsivo
(TC) e são definidos como movimentos repetidos intensamente e fora de contexto,
atribuídos a uma tentativa de reduzir a ansiedade (BEAVER, 2004). Estes
comportamentos são mais severos no momento mais próximo da separação, e muitos
comportamentos relacionados à ansiedade podem se tornar aparentes quando o dono
demonstra que vai sair de casa (OVERALL, 2001 b).
Dos sinais, a vocalização excessiva é possivelmente um dos mais incômodos,
pois afeta diretamente não só aos proprietários como toda a vizinhança. O latido de um
cão pode atingir mais de 100 decibéis (dB) e, mesmo com o cão latindo em área externa,
para um ouvinte dentro de um ambiente fechado pode chegar a 55 dB, o que ainda é
muito comparado a um nível de ruído aceitável, abaixo de 40 dB (BEAVER, 2004).
Proprietários freqüentemente relatam que essas vocalizações são diferentes daqueles
feitas pelo cão em outros momentos e descrevem os sons como tristes (HORWITZ,
2000). O tom é tipicamente um pouco mais agudo que o observado em outros tipos de
latido (LANDSBERG et al., 2004). Os donos de cachorros com ansiedade de separação
geralmente não sabem que os seus cães vocalizam na hora da partida. Tipicamente, o
dono parte muito depressa para ouvir ou há outros barulhos como o motor do carro ou a
porta da garagem abrindo e fechando, que impedem o dono de ouvir as vocalizações do
cachorro (HORWITZ, 2002). Um registrador auditivo ou vídeo podem ser úteis em
casos nos quais o dono não saiba ao certo se a vocalização ocorre ou não (HORWITZ,
2002).
Animais com síndrome de ansiedade de separação (SAS) em geral evacuarão na
casa todas as vezes que o proprietário sair (LANDSBERG et al., 2004), sendo que a
eliminação só ocorrerá quando o dono não estiver em casa (HORWITZ, 2002). Uma
exceção a isso pode ocorrer quando o proprietário está fisicamente presente, mas
mentalmente ausente. Isso pode acontecer quando o proprietário está ignorando o cão e
prestando atenção a um novo bebê ou parceiro social (LANDSBERG et al., 2004).
Tipicamente a eliminação acontece até 30 minutos após a partida do dono e não tem
conexão a um período excessivamente longo desde o último acesso para o local de
eliminação normal do cão. Quando ambas as formas de eliminação acontecem durante o
mesmo episódio e só na ausência do dono, é provável que o diagnóstico seja ansiedade
de separação porque poucas condições médicas resultam em tais sinais clínicos
simultâneos. Entretanto, se o cão não é completamente treinado para ficar em casa,
então micção e defecação podem ocorrer de forma concomitante (HORWITZ, 2002).
Em casos de SAS, a destruição acontece só na ausência da figura de ligação ou
objeto de afeto (HORWITZ, 2002). Boa parte do comportamento destrutivo também
começa logo após a saída do proprietário. Esse é um momento em que a ansiedade do
animal e o nível de excitação são mais altos (LANDSBERG et al., 2004). Alguns
proprietários estão convencidos de que os comportamentos de destruição são
propositalmente direcionados a eles, pois o animal está “se vingando” por ter sido
deixado sozinho ou confinado. Parte desse raciocínio se deve ao fato de que os objetos
comumente danificados incluem itens pessoais do proprietário (como livros, roupas,
sapatos e assentos de sofá). O que esses objetos têm em comum é o fato de serem
manipulados pelo proprietário com freqüência e de conterem o odor do proprietário. O
contato com esses itens pode servir para o animal lembrar-se do proprietário ausente,
causando ansiedade, o que provoca comportamento de deslocamento destrutivo
(LANDSBERG et al., 2004). Outros alvos comuns de destruição por parte do cão são
pontos de saída da casa. Portas e bordas de janelas são arranhadas ou mastigadas,
janelas podem ser quebradas e suas molduras arrancadas, tapetes e pavimentos podem
ser arranhados. A destruição pode acontecer como resultado de tentativa do cão em se
reunir com o dono (HORWITZ, 2002).
Nem todos os cães afetados pela síndrome exibem os mesmos sinais, ou exibem
sinais com a mesma intensidade. Sialorréia ocorre em uma porcentagem pequena de
cães que exibem SAS. O dono pode achar poças de saliva no chão ou o cão se apresenta
molhado com sua própria saliva, ou ambos. Outros sinais às vezes associados à
ansiedade de separação são: o cão tenta fisicamente bloquear a saída do dono;
lambedura excessiva; perda do apetite; inatividade quando separado da figura de ligação
(objeto de afeto); diarréia ou vômito. Muitos cães também têm ataque de pânico,
durante os quais eles desesperadamente tentam escapar do local onde estão (HORWITZ,
2002). Soares (2007) encontrou também uma alta incidência de quadros depressivos
(31,15%). Beaver (2004) afirma que os quadros da SAS estão associados ao surgimento
de comportamentos compulsivos em cães.
Uma alteração no padrão de comportamento foi observada (SOARES, 2007) nos
animais mais velhos. O grupo de animais considerado positivo para SAS e com mais de
sete anos de idade mostrou um padrão de reações à partida do dono diferente daquele
apresentado pelo grupo de positivos para SAS com menos de sete anos. O grupo de
idosos, ao antecipar a partida do proprietário, comportou-se de maneira mais passiva, se
isolando em um local específico e remoto da casa, o que pode sugerir uma forma de
adaptação a uma realidade imutável para esses animais.
Acredita-se que gatos também possam vir a desenvolver ansiedade de separação.
Segundo Beaver (2005), alguns gatos demandam atenção particular desde a infância.
Esses gatos podem perambular e vocalizar caso o dono não esteja prontamente
disponível, até o ponto de interferir no sono do proprietário. O comportamento de apego
excessivo pode aumentar à medida que o gato envelhece, sendo considerado uma das
principais causas de eutanásia de gatos idosos, porém saudáveis (HOUPT, 2001). Um
estudo (SCHWARTZ, 2003) realizado com 136 registros médicos coletados ao longo de
dez anos, de gatos com sinais clínicos da síndrome (eliminação inapropriada,
vocalização excessiva, destruição ou automutilação) foram analisados. Defecação
inapropriada estava presente em uma percentagem maior em fêmeas castradas do que
em machos. Setenta e cinco por cento dos gatos que apresentavam eliminação imprópria
urinavam exclusivamente na cama do dono. A ansiedade decorrente da separação foi
apenas recentemente definida como um problema em gatos, apesar de ser conhecida
desde que foi descrita em cães (BEAVER, 2005).
O diagnóstico da SAS pode ser difícil porque os sinais mais óbvios, tais como
vocalização, eliminação imprópria e destruição, podem ser vistos em muitas outras
desordens comportamentais. Isso ficou evidente no estudo de Flannigan; Dodman
(2001). Eles criaram e desenvolveram um índice para ajudar a diagnosticar a ansiedade
por separação que não se encaixava nesses comportamentos óbvios. Em vez disso, os
três comportamentos usados para gerar um índice foram: comportamento de recepção
aumentado, ansiedade causada por sinais de despedida, e comportamento de
acompanhar exageradamente o dono. Eles foram graduados em uma escala de 0 a 5 (0=
ausente, 5=extremo). Os autores sugeriram que um diagnóstico de ansiedade por
separação é viável para índices de 10 a 15. Mesmo assim, um bom julgamento clínico é
indispensável. O índice é apenas um auxílio para se diagnosticar problemas
comportamentais corretamente, com o propósito de assegurar o correto tratamento.
Overall et al. (2001) também buscaram um meio de diagnosticar corretamente
problemas comportamentais em seu estudo de caso comparando a presença de
ansiedade por separação e fobias de barulho e de tempestades em cães. O estudo
mostrou que cães acometidos por ansiedade de separação mais provavelmente teriam
também fobia de barulho e de tempestades assim como cães com fobia de barulho e de
tempestades eram aqueles que mais provavelmente teriam ansiedade de separação. Isso
indica que para se tratar os cães corretamente e melhorar seu bem-estar, reduzindo medo
e ansiedade, é uma boa idéia investigar as duas outras desordens se um cão é
apresentado com uma das três.
Alguns animais podem apresentar sinais clínicos da SAS somente em algumas
ocasiões e outros podem não exibir tais sinais por serem deixados sozinhos raramente
ou nunca (SOARES, 2007).
2.2. FATORES DE RISCO

As pesquisas sobre SAS têm se concentrado na compreensão dos


comportamentos e fatores de risco, prevenção de problemas comportamentais, detecção
e tratamento precoces da ansiedade por separação com a terapia comportamental
associada com a droga correta, quando é recomendável associar uma droga. As causas
da SAS geralmente envolvem experiências negativas precoces (abandono e abrigo de
animais), apego excessivo ao dono, experiências traumáticas que ocorreram quando o
cão estava sozinho, uma mudança na família ou meio, a necessidade de convívio social
inerente à espécie, ou uma alteração na quantidade de tempo que o proprietário e o cão
gastam juntos.

2.2.1 Necessidade de convívio social

Um fator que deve ser levado em consideração é a necessidade que o cão tem,
desde seus ancestrais selvagens, de viver em grupo (BEAVER, 2004), bem como uma
predisposição genética, haja visto que cães são criados para serem socialmente
dependentes e devotados aos humanos. Além disso muitas vezes o comportamento
dependente e infantilizado dos cães é, mesmo que de forma não intencional, encorajado
e reforçado pelos donos.

2.2.2. Idade
É comum filhotes apresentarem sinais de ansiedade de separação, pois estes
estão se adaptando a uma nova realidade, já foram separados dos irmãos de ninhada, da
mãe e dos primeiros humanos com que tiveram contato. Nesta fase também podem
ocorrer as maiores dificuldades para o diagnóstico da SAS, pois esta pode estar
associada a quadros de mastigação infantil e educação sanitária incompleta (BEAVER,
2004).
A média de idade dos cães quando do surgimento dos sinais de SAS é de cerca
de um ano e meio (TAKEUCHI et al., 2001). Um estudo (LUND et al., 1996) realizado
em 2.238 cães relatou que cerca de 80% dos problemas comportamentais foram
relatados dentro dos três primeiros anos de vida. Para alguns cães, os primeiros sinais da
SAS ocorrem ocasionalmente; então se intensificam com o passar do tempo –
possivelmente quando o cão torna-se mais velho. Porém cães idosos são mais
suscetíveis ao desenvolvimento da síndrome em virtude das alterações metabólicas
decorrentes da idade. Distúrbios de eliminação decorrentes da perda (total ou parcial) de
controle dos esfíncteres anal e uretral provocam reações dos donos, que passam a
manter o cão preso em canil ou restringir seu acesso aos espaços de convívio mais
íntimo com a família. Estudos sugerem que até 50% de cães idosos podem exibir algum
comportamento de SAS (HORWITZ, 2001). Sabe-se também que existem mudanças
idiopáticas que ocorrem em cães mais velhos e, sem nenhuma razão aparente, um cão
que era capaz de permanecer sozinho por toda sua vida não pode mais ser deixado
sozinho (OVERALL, 2001 b).

2.2.3. Idade de adoção

De acordo com Beaver (2004), o aprendizado estável começa com oito a nove
semanas de idade em cães e as experiências traumáticas para o cão nessa fase da vida
não são esquecidas e podem afetar seu comportamento e bem-estar. Em certos casos, o
comportamento começa pouco depois que o cão ingressa na família. Em outros casos,
nenhuma causa pode ser identificada (HORWITZ, 2002).
Riva et al. (2008), comparando 20 cães ansiosos com um grupo controle de 13
cães normais, observaram uma correlação significativa (P < 0.05) entre ansiedade e
adoções tardias. Enquanto no grupo controle 77% dos cães foram adotados no período
considerado correto - entre 60 e 90 dias (OVERALL, 1997), no grupo dos cães ansiosos
40% desses cães foram adotados após três meses de idade.
No entanto Soares (2007) observou uma relação inversa a esta. Uma relação
significativa entre a idade de aquisição e o desenvolvimento da SAS foi observada,
mostrando assim que animais adquiridos até os três meses de idade mostraram-se mais [U1] Comentário: Como assim? Se
fossem mais velhos, a incidência
predispostos para a síndrome. Outro achado foi a relação estatisticamente significativa diminuiria? Então é uma correlação inversa
à de Riva? É necessáiro explicar melhor
este parágrafo.
entre ter pedigree e o desenvolvimento da SAS. Tal achado pode ser explicado pelo
seguinte fato: dentre os 36 animais com pedigree, 29 (80,0%) foram adquiridos dentro
do período de socialização primária (três primeiros meses de vida) e desses, 22 (61,1%) [U2] Comentário: Em geral, para
porcentuais utiliza-se somente uma casa
foram considerados positivos para SAS. decimal.

Apesar desses autores terem encontrado resultados opostos, ambos apontam para
a importância do período de sociabilização primária nos cães, no qual os cães formam
vínculos e são mais suscetíveis a traumas. Esses resultados conflitantes poderiam ser
explicados pela diferente origem dos animais dos grupos de cães ansiosos em relação ao
grupo de cães normais estudados por Riva et al. (2008).

2.2.4. Origem dos animais

Riva et al. (2008) encontraram uma diferença significativa (P < 0.05) em


relação a origem dos cães: 35% dos 20 cães ansiosos tinham vindo de um abrigo para
cães ou canil ou foram encontrados por acaso contra 0% dos 13 cães não ansiosos do [U3] Comentário: Explique

grupo controle. [U4] Comentário: Que vinha de onde?

Flannigan et al. (2001) descobriram que cães adotados da rua ou de um abrigo


desenvolveram ansiedade de separação mais comumente do que cães adquiridos de um
criador, amigo ou pet shop. Parte do risco de se relocar um cão proveniente de um
abrigo em outro lar está provavelmente associado ao fato de que os sinais associados
com a ansiedade de separação são um dos mais comuns motivos do abandono desses
animais (BEAVER, 2005; FLANNIGAN; DODMAN, 2001; HORWITZ, 2000).
Segurson (2003) desenvolveu um teste com o objetivo de determinar a adotabilidade de
um cão, bem como para determinar se o cão é um risco à saúde publica e para
determinar quando pode ser feita alguma coisa para aumentar a adotabilidade de um
cão.
Segurson et al. (2005) analisaram um questionário comportamental utilizado em
abrigos animais quanto à presença de resultados equivocados. Proprietários que
abandonaram seus cães e concordaram em completar o questionário comportamental
foram alternadamente separados em dois grupos. Esses proprietários foram alertados se
as informações por eles providas seriam confidenciais ou não. Os dados das
informações confidenciais e não confidenciais foram comparados e os primeiros foram
comparados com um grupo de cães domiciliados. Análises revelaram diferenças
significativas em duas áreas do comportamento relatado entre o grupo de informações
confidenciais e o de não confidenciais: agressão direcionada ao dono e medo
direcionado a estranhos. Comparados aos dados de cães domiciliados, mais cães
abandonados em abrigos no grupo de informações confidenciais foram relatados
apresentando agressão direcionada ao dono, agressão direcionada a cães ou medo,
agressão direcionada a estranhos, medo de estranhos, fobia não social e
comportamentos relacionados à separação. Esses resultados sugerem que questionários
comportamentais podem algumas vezes prover informação com pouca acurácia em um
abrigo, mas as informações podem ainda ser úteis quando se avalia o comportamento de
cães abandonados.

2.2.5. Erros na educação do cão

A SAS geralmente é provocada por uma falha na socialização primária do cão,


quando o vínculo primário não é quebrado como deveria naturalmente acontecer ou
quando os proprietários reforçam comportamentos ansiosos dos cães.
Takeuchi et al. (2001) analisaram muitas variáveis em casos de problemas
comportamentais em cães (78 casos de SAS). Descobriram que somente 36,6% tinham
sido treinados para obediência. Beaver (2004) afirma que cães treinados para obediência
apresentam uma incidência diferente de problemas comportamentais, incluindo a
ansiedade de separação, do que cães sem treinamento. Takeuchi et al. (2001) apontam
também que 70% dos cães com a doença receberam apenas punições verbais em seu
processo de educação. Então pode-se concluir que a falta de uma educação correta e
consciente é um fator predisponente para a ansiedade de separação.

2.2.6. Relação ser humano-animal e hipervinculação

A maioria dos animais com SAS vive em apartamentos na área urbana


(TAKEUCHI et al., 2001). Na maioria dos casos de ansiedade de separação, uma
ligação muito íntima existe entre o cão e seu dono ou outro membro da família (objeto
de afeto) (HORWITZ, 2002). Tal ligação exagerada tem sido chamada de
hipervinculação (KING, 2000). Quando o proprietário está em casa, o animal pode
mantê-lo continuamente dentro de seu campo de visão ou pode ficar o tempo todo ao
seu lado. Porém, esse não é um achado consistente já que há alguns animais com
ansiedade de separação que não buscam contato físico contínuo quando os membros da
família estão em casa (LANDSBERG et al., 2004). O principal candidato a esse tipo de
problema é um cão com temperamento ligeiramente ansioso, que solicita a atenção do
proprietário com sucesso sempre que quiser, e é bastante sensível a alterações
ambientais. A presença ou adição de outro animal de estimação não diminui os sinais de
ansiedade de separação (HORWITZ, 2000). Quando a figura de ligação se prepara para
partir, esse cão pode se tornar crescentemente ansioso e apreensivo, demonstrando
sinais como ganido, procura de atenção do proprietário, ou postura imóvel. O animal [U5] Comentário: Melhorar a frase,
escreva com mais cuidado... Exemplos em
pode também em vez disso, parecer triste ou deprimido, recusando-se a pegar petiscos, uma frase necessitam de formato coerente –
ou sempre verbos no infinitivo, ou sempre
verbos conjugados, ou sempre substantivos,
podendo apresentar ainda alterações físicas como vômito, taquicardia, sialorréia e etc.

ofegação (HORWITZ, 2002). Esses sinais ocorrem em resposta a dicas de partida


reconhecíveis, como pegar a chave do carro, vestir um casaco, pegar uma maleta, dentre
outras (LANDSBERG et al, 2004). Quando a figura de ligação retorna à casa, o cão
demonstra excitação extrema por períodos prolongados. O comportamento extravagante
de saudação como correr, saltar e vocalizar pode persistir durante 10 minutos ou mais.
O comportamento extremo de saudação pode eventualmente ocorrer quando a figura de
ligação deixa a casa só brevemente. Freqüentemente, figuras de ligação exacerbam esse
comportamento ao ceder uma quantia irregular de atenção ao cão no retorno,
recompensando indevidamente o animal por seu comportamento entusiasmado. Em
alguns casos, o cão não exibe sinais de ansiedade de separação todas as vezes que o
dono deixa a casa (HORWITZ, 2002).
Riva et al. (2008) observaram mais cães ansiosos em relação ao grupo controle [U6] Comentário: Estudos não
encontram...
(50% vs. 10%; P < 0.05) vivendo com um casal ao invés de uma família com criança. A
estrutura familiar parece, de fato, ter relação com distúrbios de comportamento ansiosos
no cão, o que também pode interferir nos planos de tratamento (FLANNIGAN;
DODMAN, 2001). Muitas vezes o cão pode ser tratado como um bebê. Este estudo de
Riva et al. (2008) também mostrou uma diferença significativa (P < 0.005) em relação [U7] Comentário: Ou se põe o valor de
P ou se fala "estatisticamente" – são duas
ao local onde o cão dorme. Dentro do grupo de cães ansiosos, 45% dormiam no sofá ou formas de se expressar a mesma idéia.

na cama, 45% na cesta própria para o cão e 10% em outros lugares comparados com
todos os cães do grupo controle que dormiam na cesta. A cesta deveria representar um
local relaxante e protetor para o cão. Outro achado no mesmo estudo (RIVA et al.,
2008) foi que cães do grupo controle não tinham sempre comida a disposição, enquanto
35% dos cães ansiosos tinham comida continuamente à disposição (P<0.05). Acredita-
se distribuição de comida em séries de atos regulares e rítmicos permite uma clara
hierarquia entre o cão e seu proprietário (HORWITZ, 2002). Soares (2007) encontrou
um número elevado de animais (71,43%) caracterizado como negativo para a SAS, mas
que apresentava hipervinculação. Embora essa característica seja necessária para o
diagnóstico da SAS (HORWITZ, 2001) ela pode ocorrer sem que a síndrome ocorra.
A hipervinculação é uma característica da relação ser humano-cão e se torna um
complicador para o tratamento da SAS por envolver o emocional do proprietário
(SOARES, 2007).

2.2.7. Níveis plasmáticos de hormônios e neurotransmissores

Hennessy et al. (2001) realizaram um estudo em cães de um abrigo, após a


adoção desses cães, para procurar fatores predisponentes para problemas
comportamentais. Eles usaram níveis de cortisol plasmático e um teste comportamental
que seria útil para selecionar cães para a adoção e para aumentar o bem-estar detectando
quais cães precisam de terapia comportamental. Os primeiros poucos dias em um abrigo
para animais são supostamente muito estressantes para os cães, então os níveis de
cortisol foram medidos nos dias dois e nove. Foram também testadas as reações de cada
cão em relação a ficar sozinho, com pessoas e a vários estímulos. Questionários para
acompanhamento foram entregues a novos proprietários duas vezes após a adoção. O
primeiro questionário foi entregue duas semanas após a adoção e o segundo após seis
meses de adoção. Foram realizadas análises estatísticas sobre todos os dados coletados.
Descobriram que filhotes que tiveram contato com estímulos ameaçadores no teste
tiveram os maiores problemas comportamentais em casa. Também se descobriu que
cães com menores níveis de cortisol plasmático exibiram os comportamentos mais
indesejáveis mais tarde. Uma correlação paralela a essa já havia sido feita na medicina
humana envolvendo baixos níveis de cortisol e problemas comportamentais em
crianças. Isto nos dá a primeira indicação de que seria possível usar uma mensuração
endócrina para prever problemas comportamentais em cães incluindo a SAS. Entretanto
precisam ser feitos mais trabalhos dentro desse conceito, com mais cães e
acompanhamento mais detalhado.
Tem-se estudado a correlação entre problemas comportamentais e
neurotransmissores. Dois dos neurotransmissores, serotonina e norepinefrina, são
importantes no desenvolvimento de respostas emocionais. Níveis de serotonina
aumentados em certas partes do cérebro reduzirão angústia e medo, sinais associados
em cães com ansiedade de separação (HORWITZ, 2000). A correlação entre a
serotonina e o comportamento agressivo foi experimentalmente obtida através de lesões
na células serotoninérgicas da rafe em ratos de laboratório: animais foram se tornando
irritáveis, reagindo de forma exagerada a estímulos leves (MICZEK e DONAT, 1989
apud RIVA et al., 2008). Níveis de norepinefrina aumentados em certas partes do
cérebro podem aumentar a capacidade de aprender de alguns cães, melhorarando o
resultado da terapia de modificação de comportamento (HORWITZ, 2002). Acredita-se
que dopamina esteja envolvida no processo cognitivo da memória do trabalho
(BEAVER, 2004), e em padrões de comportamento ativo como comportamento sexual e
agressão. Segundo Riva et al. (2008) níveis plasmáticos de dopamina e serotonina são
significativamente maiores em cães ansiosos, enquanto os níveis de norepinefrina são
semelhantes aos observados em cães não ansiosos. As concentrações plaquetárias de
serotonina mostram uma tendência a menores níveis de concentração nos cães ansiosos
em comparação aos cães controle. Tais resultados demostram que os sistemas
serotoninérgico e dopaminérgico podem desempenhar um importante papel em relação
a exibição de problemas relacionados a comportamentos de ansiedade. No entanto Riva
et al.apontaram para o fato de não se saber ao certo a possibilidade de níveis
plasmáticos dos neurotransmissores avaliados refletirem o que está acontecendo em
nível cerebral. Então essa hipótese precisa ser confirmada em uma amostra maior de
cães na qual os níveis plaquetários de serotonina devam ser comparados aos níveis de
serotonina no sistema nervoso central.

2.2.8. Eventos predisponentes

A doença pode se desenvolver gradualmente, ou rapidamente quando


associada a um evento traumatizante, como permanecer no meio de um incêndio, ou em
casa durante um assalto. Cães nessas situações podem ter uma experiência pior do que
aqueles cães nos quais a doença se desenvolve de forma gradual e podem se beneficiar
de um tratamento imediato com medicamentos ansiolíticos combinados com
modificação comportamental (OVERALL, 2001 b).

2.2.9. Mudança no cotidiano

Em muitos casos de SAS, o comportamento inapropriado só é aparente após uma


mudança no cotidiano. A princípio, o cão está bem até as 17h30 ou 18h00 quando o
cliente está acostumado a chegar a sua casa. Se a rotina do cliente muda e ele agora não
está em casa até as 20h00, o cão pode começar a exibir sinais de pânico as 18h00
(OVERALL, 2001 b). Soares (2007) observou que dentre 45 cães avaliados como
positivos para a SAS, sete (15,56%) apresentaram histórico de desenvolver os sinais de
SAS apenas em condições específicas e quatro relataram que seus cães apresentavam os
sinais quando havia mudanças na rotina.
2.2.10. Raça e sexo

Acredita-se que haja predisposição genética para diversos problemas


comportamentais e que esta possa estar relacionada aos níveis de neurotransmissores
e/ou à eficiência de seus receptores no SNC, causando o surgimento de ansiedade, entre
outros problemas (TAKEUCHI; HOUP, 2003).
Flannigan; Dodman (2001) também procuraram fatores predisponentes para a
SAS em um estudo de caso de 200 cães afetados. Descobriram que dentre 131 raças
puras com a síndrome, a maioria foi de Pastor Alemão, seguido por um número
significativo de Labradores, Golden Retrievers, English Springer Spaniels e English
Cocker Spaniels. Takeuchi et al. (2001) descobriram que um alto percentual de raças
puras com ansiedade por separação eram raças de caça e tiro. Já Lund et al. (1996)
encontraram resultados diferentes destes em seu um estudo de caso-controle. Nesse
estudo compararam 13 raças ou grupos raciais incluindo raças mestiças com um grupo
de referência formado unicamente por animais da raça Labrador Retriever e
encontraram um maior risco para a ansiedade em Poodles e Fox Terriers, em relação ao
grupo controle, de Labradores. Relataram também que Dachshunds, terriers com
exceção do Fox Terrier e raças mestiças parecem ter menor risco para ansiedade e maior
risco para problemas relacionados à falha de treinamento e todos os tipos de agressão.
Beaver (2004) afirma que ocorrem diferenças raciais com relação ao
comportamento, no entanto, podem ocorrer problemas com uma raça particular, de
acordo com a sua popularidade, sua localização geral e o tempo. Ocorrem tendências
nacionais, mas o fato de que determinadas raças se posicionam no topo da lista de cães-
problema pode não ser significativo. A incidência relativa de um problema
comportamental específico em uma raça pode variar com a localização. Uma razão é
que, algumas vezes, uma raça é mais popular em uma área que em outras. A incidência
de um problema comportamental dentro de uma raça pode variar com o tempo
(BEAVER, 2004).
O que se pode concluir a respeito do alto percentual das raças acima citadas
dentre os animais acometidos por SAS é que essas raças foram originalmente criadas
para desempenhar um trabalho, como caça e tiro. Supõe-se que esses cães tornem-se
estressados sem a atividade mental que eles naturalmente usariam se estivessem
desempenhando tais funções.
Há descrição de um número maior de machos desenvolvendo SAS (KING et al.,
2000; TAKEUCHI et al., 2001). Entretanto Soares (2007) encontrou uma
predominância estatisticamente significativa de fêmeas castradas em relação aos
machos, em um estudo realizado em cães de apartamento em Niterói.

2.2.11. Interação com o proprietário

Soares (2007) avaliou a interatividade a partir de dois parâmetros: a rotina de


passeios e um índice que denominou interação mínima desejável. A interação
considerada com a mínima desejável incluiu brincadeiras ou escovações diárias ou
quatro passeios diários de 20 minutos. Foi observado que o número de casos de SAS foi
menor no grupo de cães que passeavam diariamente e maior no grupo em que animais
interagiam menos com seus “donos”. Tais achados sugerem que a interação com o
proprietário interfere de forma positiva, diminuindo os riscos de desenvolvimento de
problemas relacionados a separação.

3. TRATAMENTO

De acordo com boa parte dos autores a melhor opção é usar a terapia
comportamental e modificação ambiental em conjunção com uma droga (HORWITZ,
2000; KING, 2000; LANDSBERG et al., 2005; SEKSEL; LINDEMAN, 2001;
SIMPSOM, 2000, ; TAKEUSHI et al., 2000; ). Apesar da terapia comportamental
sozinha, em médio e longo prazo, obter resultados positivos na redução dos sinais de
SAS, o uso de medicamentos tem algumas vantagens. A terapia medicamentosa pode
reduzir em até três vezes o tempo de tratamento e, com isso, estimular os proprietários a
continuarem com a terapia comportamental (KING et al, 2003). Além disso, a terapia
medicamentosa diminui o nível de ansiedade do paciente, favorecendo a resposta para
terapia comportamental (HORWITZ, 2000).
Os princípios da terapia comportamental incluem não castigar (por exemplo,
por destruição ou eliminação dentro de casa), incrementar o exercício, reduzir a emoção
nos momentos de partida ou reuniões sociais, não associar nenhum evento com a saída
do dono, bem como dessensibilizar o cão às saídas e ausências do dono (TAKEUSHI et
al., 2000). A melhora quanto à destruição, defecação ou micção foi comunicada em 50-
57% dos cães dentro dos três primeiros meses da terapia comportamental (KING,
2000). Uma dificuldade que se encontra é que os donos, na prática, muitas vezes não
têm vontade ou condições de implementar programas completos de terapia
comportamental (TAKEUSHI et al., 2000). Tais programas exigem tempo e disciplina
dos proprietários. Outro fator a ser levado em consideração é o lado emocional do
cliente. Pode ser traumático tanto para o cão quanto para o proprietário quebrar o
vínculo excessivo. Uma vez que esses clientes são muito apegados ao seus animais,
ignorá-los pode ser muito difícil para eles.
As medidas corretivas para os comportamentos indesejáveis devem ser baseadas
nos fatores que os geraram. Não se obtém bons resultados simplesmente punindo o cão
por ele latir, sujar ou destruir a casa.
As coleiras anti-latido contêm um dispositivo que gera um impulso elétrico ou
desprende uma pequena porção de líquido como a citronela, ambos causam uma
sensação desagradável no cão no momento em que este começa a latir. Nos casos de
ansiedade de separação o uso dessas coleiras como técnica punitiva é contra-indicado.
Apesar dessas coleiras serem eficientes em diminuir os latidos, elas aumentam
significativamente o estresse do animal (BEAVER, 2004).
O simples confinamento do animal em uma caixa ou canil não constitui uma
solução em curto ou longo prazo, pois esses cães podem ficar extremamente ansiosos e
destruir o canil, podendo machucar suas patas ou boca tentando sair (BEAVER, 2004).

3.1. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO

A intervenção farmacológica pode ser um tratamento auxiliar muito importante


para cães com problemas graves. No caso de situações em que um proprietário frustrado
não consegue mais tolerar o comportamento do animal, ela pode salvar a vida do cão.
Exames físicos e avaliações laboratoriais pré-tratamento são importantes, já que
a maior parte das medicações psicoativas requer funções hepática e renal normais para
garantir um metabolismo apropriado (LANDSBERG et al., 2004).
No tratamento da ansiedade de separação canina, o objetivo do medicamento é
reduzir o nível de ansiedade global do paciente. Quando o nível de ansiedade do
paciente é diminuído, a resposta para terapia de comportamento deve ser maior e mais
rápida (HORWITZ, 2000).
Em gatos, o tratamento da ansiedade de separação pode ser mais dependente de
fármacos que o tratamento típico destinado aos cães. Segundo os proprietários, vários
gatos afetados são muito ansiosos e nervosos, de modo que drogas como
antidepressivos tricíclicos (TCA) e inibidores seletivos da recaptação da serotonina
(SSRI) são apropriadas. A dessensibilização gradativa à saída do proprietário pode ser
ensinada, podendo ser associada ao fornecimento de alimento, como um fator contra
condicionador. É necessário descartar a possibilidade de desvio de ciclo sono-vigília,
que pode ser tratado com melatonina, e disfunção cognitiva felina. Caso o diagnóstico
seja de ansiedade de separação, a terapia comportamental pode propiciar ao gato
tolerância aos curtos períodos de ausência do proprietário, podendo a duração de tais
períodos ser aumentada gradativamente (BEAVER, 2005).
A droga mais comumente usada e documentada para o tratamento de cães com
ansiedade de separação é o cloridrato de clomipramina, com a administração adicional
de benzodiazepínicos em casos severos (KING, 2000). A dose da clomipramina é 1 a 2
mg/kg PO BID, via oral (PETIT et al., 1999; KING, 2000).
Overall (2001 a) afirma que amitriptilina é usada com sucesso no tratamento de
ansiedade de separação e ansiedade generalizada, mas pelo fato dessa droga ser menos
seletiva na recaptação da serotonina ela se apresenta menos efetiva e com mais efeitos
sedativos e anticolinérgicos (KING, 2000). A dose da amitriptilina é 1-4 mg/kg – BID
ou SID, via oral (MENTZEL, 2000).
Outras drogas serotoninérgicas, como a fluoxetina (Reconsile®, Lilly, cujo uso
foi aprovado pelo FDA no tratamento da ansiedade por separação) também têm
indicação no tratamento da síndrome em conjunção com a terapia de modificação
comportamental (OVERALL, 2001 b). A dose da fluoxetina é 1 mg /kg – SID, via oral
(BEAVER, 2004).
De acordo com Overall (2001), benzodiazepínicos são essenciais para o
tratamento de eventos esporádicos envolvendo profunda ansiedade ou pânico (por
exemplo: trovoadas, fogos, pânico associado a sinais de despedidas, alarmes). Para
essas drogas serem eficazes, elas devem ser administradas no mínimo uma hora antes do
estimulo antecipado, e minimamente após os pacientes exibirem sinais de distresse
(SIMPSON, 2000). Benzodiazepínicos são potentes ansiolíticos e seu efeito se dá
através da potencialização do neurotransmissor inibidor ácido α-amino-butírico. Eles
não devem ser usados em longo prazo no tratamento dessa doença devido a seu efeito
sobre a memória, com o qual se imagina que seja diminuída a receptividade do cão à
terapia comportamental (SIMPSON, 2000; KING, 2000). Beaver (2004) afirma que os
benzodiazepínicos podem causar reações paradoxais.
O cloridrato de selegilina (Selgian ®) também conhecido como L-deprenyl
(Anipryl®) é um inibidor da monoamina oxidase B e pode ajudar em alguns casos.
Deve-se considerá-lo para uso em animais mais velhos, que também podem exibir sinais
de disfunção cognitiva (LANDSBERG et al., 2005). King (2000) afirmou que não havia
dados que provassem a eficácia do L-deprenyl na SAS. Apesar de o uso da selegilina
em cães estar aprovado mundialmente , seu uso para tratar ansiedade de separação está
aprovado apenas em alguns países da Europa. A dose do cloridrato de selegilina é 0,5-1
mg /kg – SID, via oral (MENTZEL, 2000).
Já os fenotiazínicos podem proporcionar alguma sedação e reduzir a atividade,
mas, em geral, não são escolhas eficazes contra a ansiedade. A dosagem exigida para
interromper por completo comportamentos indesejáveis por parte de cães gravemente
afetados causará, em geral, sedação excessiva (LANDSBERG et al., 2005).
O Dog Apeasing Pheromone (D.A.P) é um feromônio tranqüilizante canino que
também pode ajudar a acalmar o cão e reduzir sua ansiedade (LANDSBERG et al.,
2005). É um produto com efeito calmante que se administra por meio de um difusor
ambiental para uma superfície de 50-70 m2 (MENTZEL, 2000).
A droga mais comumente usada e mais indicada para o tratamento da SAS é o
cloridrato de clomipramina. Seksel e Lindeman (2001) testaram uma terapia
comportamental combinada com a clomipramina em 24 cães com ansiedade por
separação. O uso da droga reduziu o medo, permitindo uma aprendizagem com sucesso
em um estado não-ansioso. Lem (2002) relatou um caso de ansiedade por separação em
um Pointer Cross de dois anos de idade, tratado com sucesso com o uso da
farmacoterapia (Cloridrato de clomipramina) aliada a um programa de modificação
comportamental. Um estudo clínico (PETIT et al., 1999) comparou a eficácia de quatro
doses de Clomipramina- 0,25 a 0,5 mg/kg, 0,51 a 1 mg/kg, 1,1 a 2 mg/kg e 2,1 a 4
mg/kg, em duas administrações diárias, contra um placebo em associação a terapia
comportamental para ansiedade de separação. Foram incluídos cães de várias raças,
sexo e idade. A ansiedade foi avaliada pelo veterinário e pelo proprietário nos dias 7,
14, 21, 28 e 60, em relação aos sinais de ansiedade (vocalização, destruições e mau-
comportamento) e sua relação com o proprietário. A dose mais eficaz encontrada foi a
de 2 a 4 mg/kg por dia em duas administrações. A taxa de remissão dos sinais clínicos
foi de 70% nessa dose contra 20 a 30 % nos outros grupos. A tolerância ao tratamento
foi muito boa, em todas as doses da droga.
Um estudo duplo-cego randomizado (KING et al., 2003) comparou a eficácia de
uma dose padrão de clomipramina (1 a 2 mg/kg PO 12-12h) com uma dose reduzida da
droga (0,5 a 1 ml/kg PO 12-12h) e um placebo (PO 12-12h). Os 95 cães randomizados
entre os três grupos foram avaliados em quatro ocasiões (dias 0, 28, 56 e 84) após o
início da terapia. Os cães que receberam a dose padrão de clomipramina mostraram
progressos em relação a sinais de destruição, defecação e eliminação de urina. Não
houve diferenças estatisticamente significativas quanto à vocalização. A dose reduzida
não produziu efeitos estatisticamente significativos em relação ao placebo. Vômitos
esporádicos e pouco severos foram os efeitos colaterais observados em um grupo
pequeno de cães.
Overall (2001 a) relata que a maioria dos cães tratados com clomipramina
alcançou níveis séricos estáveis em três a cinco dias, atingindo picos de concentração
plasmática em aproximadamente uma a três horas, com meia-vida de 1-16 horas do
componente primário e 1-2 horas dos metabólitos intermediários ativos, sugerindo que
cães podem requerer maiores dosagens ou dosagens mais freqüentes do que humanos
tratados com tais medicações. O uso de antidepressivos tricíclicos é contra-indicado em
animais com histórico de retenção urinária, e arritmias severas e não-compensadas e
uma consulta cardíaca, incluindo um eletrocardiograma (ECG), pode ser parte de um
exame inicial padrão. Os efeitos colaterais comuns dos tricíclicos manifestados ao ECG
incluem ondas T achatadas, intervalos Q-T prolongados e segmentos S-T mais baixos.
Em animais mais velhos ou com problemas concomitantes avaliações laboratoriais
completas são requeridas pois sabe-se que altas doses de tricíclicos alteram níveis de
enzimas hepáticas. Doses extremamente altas são associadas com convulsões,
anormalidades cardíacas e hepatotoxidade. Antidepressivos tricíclicos podem interferir
com a medicação utilizada no tratamento dos distúrbios da tireóide, necessitando de
monitorização consciente se ambas as medicações são administradas concorrentemente.
Gatos são mais freqüentemente sensíveis a todos os tricíclicos do que os cães porque os
tricíclicos são metabolizados via glucoronização (OVERALL, 2001 a).
Parece não haver uma necessidade de fazer uma diminuição gradual da dose de
clomipramina no fim da terapia, já que a retirada súbita da droga depois de dois a três
meses de tratamento não tem sido associado com algum efeito adverso. No entanto,
tem-se observado a relação entre a retirada súbita dos tricíclicos, incluindo a
clomipramina, e a piora das condutas estereotipadas em humanos. De acordo com esses
dados, a redução gradual da dose depois de tratamentos prolongados é uma precaução
prudente. Estudos clínicos tem mostrado que o índice de resposta é bom e o índice de
recaída se apresenta quando a clomipramina é dada por dois a três meses e então
retirada (KING, 2000; PETIT et al., 1999). Desse modo, pode-se recomendar um tempo
de tratamento mínimo de dois meses, mas alguns cães podem requerer tratamentos mais
longos. Se tratamentos em longo prazo forem necessários, pode ser necessário reduzir a
dose até a mínima dose efetiva. Voith (1989) recomenda dividir pela metade a dose de
drogas ansiolíticas depois de 15 a 20 saídas bem sucedidas do dono e retirar a droga
uma vez que a dose seja tão baixa que possa provavelmente ser inefetiva. Simpson
(2000) recomenda continuar com a Clomipramina por um a dois meses após os sinais
terem sido controlados.

3.2. MODIFICAÇÃO COMPORTAMENTAL

Em alguns cães com ansiedade de separação os comportamentos anormais


podem cessar na presença de outra pessoa quando o seu dono encontra-se ausente. Tais
cães podem ficar em creches para cães ou ter uma babá (BEAVER, 2004), mas tais
ações não beneficiarão cães que precisam da presença de uma pessoa em especial e
estes continuarão exibindo sinais de ansiedade mesmo na presença de outra pessoa
(OVERALL, 2001 b). Alguns cães podem ser acalmados, durante o período em que o
proprietário se ausenta, com objetos que contenham o odor do seu proprietário, como
um pedaço de pano ou uma roupa que seu dono tenha usado (BEAVER, 2004).
A modificação comportamental é o principal meio de correção ou controle de
comportamentos indesejáveis. Portanto, é fundamental que os terapeutas entendam os
princípios básicos de aprendizado e motivação, caso pretendam realizar aconselhamento
comportamental na clínica (LANDSBERG et al., 2004). O veterinário pode ajudar o
proprietário a entender a técnica de modificação de comportamento usada na terapia
(HORWITZ, 2002). É também importante só recompensar comportamentos não
relacionados a um estado ansioso (BEAVER, 2004). Takeuchi et al. (2001) acreditam
que quanto mais cedo o cão é apresentado melhores serão os resultados dos tratamentos.
Muitos cães com ansiedade de separação também exibem comportamento de
chamar a atenção do proprietário constantemente. O proprietário é aconselhado a não
responder as tentativas do cachorro de obter atenção. O cachorro não deve receber
atenção ao mostrar comportamentos inadequados como ganidos ou bater com as patas
no proprietário. O objetivo não é ignorar o cão, mas eliminar o comportamento
indesejado. O cão só deve receber atenção quando estiver calmo, tranqüilo (HORWITZ,
2000). De acordo com Beaver (2004), a dessensibilização sistemática constitui a melhor
maneira de tratar essa doença, independentemente da utilização de uma terapia com
drogas.
Outra técnica de modificação comportamental é a extinção. Determinados
comportamentos podem ser extintos por meio da remoção de todos os reforçadores. Os
cães aprendem rapidamente que podem conseguir atenção de um proprietário para um
comportamento específico, e a obtenção de atenção então reforça o comportamento.
Através de uma interrupção simples da atenção, o proprietário também pode fazer com
que o comportamento pare gradualmente. Por exemplo, o cão que late à noite é
freqüentemente alvo de gritos por parte do proprietário. O cão aprende que os latidos
resultam em uma interação com o proprietário, e talvez mesmo o proprietário aparecerá
ou deixará o animal entrar em casa. A maneira mais simples de parar os latidos é que o
proprietário o ignore. Inicialmente, isso pode ser difícil, e o cão pode na verdade latir
mais. Quando o animal de estimação aprende que o efeito desejado não acontecerá, a
quantidade de latidos diminui para níveis normais (BEAVER, 2004).
Outra ferramenta útil é pedir que o cão responda a um comando, como “senta”
antes de receber qualquer coisa. Todos os membros da família deveriam agir da mesma
maneira nesse treinamento. Logo, o dono é instruído para chamar a atenção do cachorro
quando o mesmo não estiver buscando atenção. Quando o cão responder aos comandos
de “venha”, depois “senta” então o dono acaricia o cão. Desta maneira atenção é
prestada ao cão quando o dono inicia a atenção, não quando o cão exige atenção
(HORWITZ, 2002).
3.2.1. Treinamento de independência

Geralmente, cachorros com ansiedade de separação são unidos fortemente aos


seus donos. Esses cães constantemente seguem seus donos pela casa. Por isso, outro
elemento do tratamento é treinar a “independência”. O proprietário é instruído para
treinar o cachorro a permanecer a uma distância dele. Geralmente, o cão é treinado para
ficar em outro quarto, longe do seu dono (HORWITZ, 2002). O animal deve se
habituar a idéia de que nem sempre poderá estar com os membros da família
(LANDSBERG et al., 2004).
O dono é instruído para começar o treinamento de independência ensinando o
cachorro a tolerar o comando “fica” por períodos curtos. Gradualmente, o dono move-
se para mais longe pelo quarto do cão durante o “fica”. O cão é recompensado com
comida e elogios por manter o “fica”. À medida que o cachorro obedece constantemente
o comando o dono parte para outro quarto durante “fica”. Em tempos, é estendido o
período durante o qual o cão é deixado sozinho no quarto por 15 a 30 minutos
(HORWITZ, 2002).

3.2.2. Aumento nas atividades

Os proprietários são encorajados a passarem o tempo com seus cães em


atividades estruturais que provêem exercício e companhia para cão, mas de uma
maneira que reforce que o dono controla a situação. Obediência, exercícios de
treinamento, caminhadas com a guia e buscar objetos são exemplos de atividades úteis
apropriadas a esta meta (HORWITZ, 2002). Sessões freqüentes de exercícios têm efeito
calmante, reduzem a ansiedade e proporcionam interação social adequada
(LANDSBERG et al., 2004).

3.2.3. Habituação
A maior parte dos cães com ansiedade de separação aprendeu a associar dicas
específicas com a saída do proprietário. A presença dessas dicas de saída normalmente
criará ansiedade acerca de uma iminente ausência do proprietário. Até que o animal
tenha se habituado a essas dicas, estas devem ser evitadas sempre que possível durante
as saídas reais (LANDSBERG et al., 2004).
O proprietário é instruído para agir como se estivesse deixando a casa, mas não
partindo de fato. O dono deve ir com precisão pela rotina de partida normal da mesma
maneira como se realmente estivesse partindo (apanhar as chaves, vestir casaco, chapéu,
caminhar para a porta), entretanto, guardar tudo e permanecer na casa. É importante
incluir na sugestão de partida todos os sinais que o cão foi acostumado a presenciar (ver
o dono se vestindo, sucessão de eventos, gestos físicos e sinais vocais, interação do
proprietário com o animal). Quando o cão tem isso como um comportamento normal, o
processo é repetido. O exercício inteiro deve ser feito três a cinco vezes pela noite
(HORWITZ, 2002).
A repetição do exercício deve ser feita até o cão não exibir mais o
comportamento de ansiedade relacionado à atividade de partida do dono. Nesse
momento, o dono deve sair brevemente e então voltar pra casa. Se o cão não exibe o
comportamento de ansiedade de separação o tratamento pode progredir para partidas
mais longas (HORWITZ, 2002).

3.2.4. Dessensibilização

Quando um cão exibe uma quantidade excessiva de medo, sensibilidade ou


reatividade a um estímulo, ele pode ser dessensibilizado a esse estímulo por meio do
aprendizado. A dessensibilização pode ser obtida em duas maneiras gerais. Uma técnica
é a habituação, na qual o estímulo provocado de reação é repetido até que não dispare
mais uma resposta. No caso do cão que corre latindo para a porta em resposta a uma
campainha que toca, pode-se tocar essa campainha repetidamente até que o cão pare de
latir. A segunda técnica de dessensibilização introduz o estímulo, mas em uma
quantidade tão pequena que não ocorre nenhuma reação. Aumenta-se gradualmente a
quantidade de estímulo, mas nunca demasiadamente rápido para disparar uma resposta.
O cão que tem medo de trovão pode ser dessensibilizado por meio da execução de
gravações de sons bastante suavemente em um ambiente não ameaçador. O volume
deve ser aumentado bastante lentamente. Uma dessensibilização como essa pode estar
acoplada com um contra condicionamento através da adição de uma brincadeira ou de
um estímulo comestível ao mesmo tempo em que se está aumentando o volume
(BEAVER, 2004).

3.2.5. Contra condicionamento

Condicionamento é o tipo de aprendizado que começa quando um estímulo não-


condicionado (ENC), provoca um comportamento, chamado de resposta não-
condicionada (RNC). Um estímulo neutro (EN) que não tem influência na resposta é
associado repetidamente (bem antes do ENC), até que se torne um estímulo
condicionado (EC), o qual é capaz de provocar a resposta por si só. A resposta a um EC
é referida como uma resposta condicionada (RC) (LANDSBERG et al., 2004). Os
reforçadores são geralmente utilizados junto com o condicionamento para modificar o
comportamento (BEAVER, 2004). Beaver (2004) denomina como reforço qualquer tipo
de recompensa ou punição se ele reforçar positiva ou negativamente um comportamento
específico. Para que o animal associe a recompensa com o comportamento, a
conseqüência satisfatória deve ocorrer entre 5 e 20 segundos do comportamento
desejado. É essencial lembrar que a recompensa deve seguir imediatamente o
comportamento. Nenhum outro comportamento deve ocorrer entre o comportamento
desejado e a recompensa; ou senão o outro comportamento mais recente será reforçado
(HORWITZ, 2002).
Ansiedade com relação à rotina de partida pode ser diminuída por meio de
contra condicionamento. O cão é treinado para sentar ou ficar em um local conhecido
para que ele se sinta confortável enquanto o dono se prepara para partir. O dono sai
então por alguns segundos e quando retorna, recompensa o cão por ficar (HORWITZ,
2002). Mudanças devem começar com o padrão de comportamento do proprietário
quando ele deixa e retorna à casa. O cão deve ser ignorado durante 20 a 30 minutos
antes da partida rápida e silenciosa do dono, que deve evitar dar sinais de partida para o
cão. O retorno deve ser também silencioso, e o cão deve ser ignorado novamente por 20
a 30 minutos para que as recompensas por comportamento ansioso do animal sejam
evitadas. Uma saudação entusiasmada e prolongada do cachorro não deve ser
encorajada. Só o comportamento tranqüilo do cão deve ser recompensado. Todos os
membros da família devem usar esse plano cada vez que deixam e retornam à casa
(HORWITZ, 2002).
Outra forma de contra condicionar é prover o cão com um brinquedo de
mastigar, cheio de comida, enquanto o dono se prepara para uma partida diária de
rotina. Com isso, o animal pode ficar menos ansioso quando o dono se prepara para
partir, porque normalmente comer é uma atividade anti-ansiedade para os cães.
Também, o cão pode exibir uma diminuição ou ausência de ansiedade de separação
quando o dono partiu. O brinquedo de mastigar só deve ser usado como uma
recompensa para compensar a partida do dono e deve ser removido assim que ele
retorne (HORWITZ, 2002).

3. PREVENÇÃO

Quando o proprietário prevê uma alteração significativa na rotina ou na


quantidade de tempo gasto com o animal, deve-se fazer a mudança de sistema o mais
lentamente possível. As alterações devem ser feitas de forma muito gradual, de maneira
que possa ser facilmente tolerada pelo animal. Pode-se considerar uma medicação como
preventivo, mas ela deve ser iniciada pelo menos quatro semanas antes de alterações
importantes. Um pouco de antecipação ajudará a evitar a ansiedade que pode se
desenvolver em associação com alterações súbitas e importantes na vida do animal
(LANDSBERG et al., 2004).
4. EDUCAÇÃO DO PROPRIETÁRIO

Quando os clientes estão conscientes a respeito do que está acontecendo,


percebem com mais clareza quais problemas têm maior probabilidade de serem
eliminados por completo, quais provavelmente podem apenas ser reduzidos e quais não
têm probabilidade de ser alterados. De acordo com um estudo realizado no Brasil
(SOARES, 2007), os proprietários percebem os comportamentos característicos da
síndrome, mas de forma equivocada. A maioria dos proprietários que percebe os sinais
(58,7%) os associa à pirraça. Mesmo assim pode-se perceber que a SAS causa impacto
na qualidade de vida dos proprietários, que em 50,8% dos casos positivos para SAS
passaram a buscar recursos para que seus cães não ficassem sozinhos em casa, como,
por exemplo, algum membro da família deixar de sair para fazer companhia ao cão.
Uma vez que a família seja bem informada sobre a situação e as opções de
tratamento, pode decidir conviver com o problema em vez de se instituir passos
necessários para sua correção, embora outros possam decidir que doar ou sacrificar o
animal são escolhas mais apropriadas e seguras para suas circunstâncias (LANDSBERG
et al., 2004).

5. PROGNÓSTICO

Antes de se poder dar um prognóstico ou mesmo se desenvolver um plano


terapêutico, é importante determinar o nível de compreensão do proprietário e da
família. Para isso, é útil perguntar aos proprietários quais são os seus sentimentos acerca
de seus cães e quais são seus objetivos para o programa de tratamento comportamental
(BEAVER, 2004). Se a família tiver objetivos irreais ou se houver pouca cooperação, as
chances de resolução satisfatória se reduzirão (LANDSBERG et al., 2004). Se o plano
terapêutico envolver um comprometimento importante de tempo e esforço, o
proprietário precisará saber disso antecipadamente em vez de percebê-lo posteriormente
e ficar possivelmente desencorajado. Ele deve não somente querer, mas também ser
capaz de realizar o trabalho do programa (BEAVER, 2004). O sucesso torna-se mais
provável se a família tiver um comprometimento forte com o animal e uma boa
memória no seguimento de instruções. A família deve ter a capacidade de entender as
condições que influenciaram a existência do problema e os princípios básicos do
programa de tratamento. (LANDSBERG et al., 2004). A duração do problema
determina freqüentemente quanto tempo levará para tratar o problema (BEAVER,
2004). Comportamentos que ocorrem com muita freqüência quase sempre se
desenvolvem em hábitos que são difíceis de erradicar (LANDSBERG et al., 2004). Isso
vale especialmente quando se envolve aprendizado, já que o animal terá de desaprender
o comportamento inaceitável além de aprender o comportamento desejado. Se tiver uma
duração longa, o comportamento levará mais tempo para ser desaprendido (BEAVER,
2004). No entanto, problemas que têm ocorrido com baixa freqüência também podem
ser complicados. Por exemplo, alguns problemas destrutivos ocorrem com tão pouca
freqüência que descobrir a(s) causa(s) exata(s) para o comportamento pode ser bem
difícil e o prognóstico permanece de reservado a ruim (LANDSBERG et al., 2004). Um
outro fator crítico é a obediência do proprietário. Quando a terapia consiste em uma
pílula por dia, a obediência é razoável. Quanto mais complexo um plano de modificação
comportamental se torna, mais baixa será a taxa de sucesso global. O ambiente em que
os membros da família vivem pode ser importante, assim como sua capacidade de
controlá-lo ou modificá-lo. A incapacidade para se controlar tempestades fortes,
freqüentes e imprevisíveis torna o tratamento de fobias de trovoadas um desafio maior.
No caso de alguns ambientes domésticos, não é possível melhorar o problema do animal
para a satisfação de todas as partes preocupadas. Nesses casos, o proprietário e o
terapeuta precisarão determinar se o a melhor opção para o animal é permancer no lar
ou se a melhor opção é removê-lo desse ambiente doméstico. Há casos em que pode ser
possível procurar um lar mais adequado para o animal, mas quando há risco de lesões,
quando o animal está sofrendo, quando os donos não podem ou não conseguem lidar
com a situação e não é possível achar um lar alternativo apropriado, muitos sugerem
que a eutanásia é a opção que resta (LANDSBERG et al., 2004). Segundo Lund (1996)
apenas para 5,5% dos cães que apresentaram problemas comportamentais foi sugerida a
eutanásia ou ela foi realizada de fato. Supõe-se que esses cães podem ter levados a
eutanásia por representarem um perigo a saúde física de pessoas. O fato de esses
comportamentos terem sido gerados na maioria das vezes pelos donos talvez seja um
argumento válido para dissuadir clientes em vias de desistir de seus cães.
As expectativas do proprietário também são importantes. Algumas pessoas
ficam agradecidas com uma melhora pequena, enquanto outras esperam milagres
(BEAVER, 2004). A complexidade da situação é outro fator, já que um animal com um
único problema comportamental tem melhores chances de ser tratado de forma bem-
sucedida que um animal com problemas múltiplos (LANDSBERG et al., 2004). No
caso de problemas comportamentais, o exame minucioso do caso é importante. O
acompanhamento com o proprietário proporciona uma experiência de aprendizado
excelente para o veterinário acerca das respostas às várias terapias. Logo, pode
aumentar o nível de experiência de um veterinário (BEAVER, 2004). O
acompanhamento também é uma oportunidade importante para educar e interagir com a
família. É essencial que o terapeuta continue a monitorar cada caso para se certificar de
que a família está seguindo as recomendações de tratamento de maneira correta e que o
caso está progredindo conforme o esperado. Isso proporciona também uma
oportunidade para reunir mais informações sobre a situação em geral. Isso é
particularmente importante quando há múltiplas opções de tratamento e o diagnóstico
inicial foi feito de maneira experimental. Quando drogas foram administradas, torna-se
essencial um acompanhamento regular. Em alguns casos, serão exigidos mais testes
diagnósticos e informações do proprietário após consulta inicial, de forma que pode ser
necessário uma consulta ou um acompanhamento telefônico formal. Na maioria dos
casos, contatos de acompanhamento iniciais com duas, quatro e doze semanas
proporcionam uma boa avaliação do progresso (LANDSBERG et al., 2004). Tais ações
de acompanhamento asseguram ao proprietário que o veterinário se importa. Eles
também fornecem um incentivo adicional para o proprietário continuar com o esforço
(BEAVER, 2004).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos últimos anos os problemas comportamentais têm se tornado cada vez mais
freqüentes. Apesar disso o comportamento dos animais no Brasil ainda não tem
recebido a atenção que deveria por parte dos veterinários e seus clientes. A saúde de um
indivíduo abrange também o seu bem-estar mental, e isso não é diferente nos animais.
A prática clínica veterinária no Brasil mostra certo atraso no que diz respeito ao
comportamento animal em relação a outros países. Como consequência os proprietários
e a população em geral também possuem menos conhecimento sobre a área. A
participação do médico veterinário nos meios de comunicação tem sido fraca, em
relação ao provimento de informações para prevenir problemas comportamentais. O
veterinário deveria informar as pessoas e ajudar a formar opiniões.
Os donos precisam entender melhor a natureza do cão e respeitá-la, o que
evitaria frustrações em ambas as partes, prevenindo distúrbios comportamentais. Essa
consciência deveria existir nos proprietários mesmo antes da adoção de um animal. Tal
medida ajudaria inclusive na escolha do animal, em relação a características típicas da
espécie e raça ou a características do indivíduo.
Diferentemente do que muitos veterinários pensam, gatos também podem ser
acometidos pela SAS. Embora gatos sejam sociáveis por natureza, quando adultos eles
não requerem contato com humanos ou outros gatos para sobreviver. Além disso, existe
uma variação individual muito maior na sociabilidade entre gatos que entre cães, na
qual alguns gatos são de fato solitários e outros são mais socialmente dependentes. Essa
variedade social pode ser explicada em parte pelo fato de os gatos não terem sido
sistematicamente domesticados, comparados aos cães.
Da mesma forma que faz parte da natureza do cão se afeiçoar ao dono e sentir a
sua falta, gostar de um animal que goste de nós e sinta nossa falta também faz parte da
natureza humana. Alguns proprietários por desinformação ou desatenção permitem que
se forme uma relação de dependência exagerada entre ele e seu animal, por meio de
atitudes como satisfazer os desejos do animal o tempo todo e chamar o cão sempre que
ele estiver fora de sua vista em vez de o estimular a ficar sozinho. É semelhante ao que
acontece com as crianças mimadas. Grande parte dos cães com ansiedade de separação
pertence a pessoas ansiosas, que se despedem calorosamente do cão e ao chegar em casa
estimulam uma recepção calorosa. O cão é capaz de perceber que o dono está ansioso, o
que por sua vez gera ansiedade no cão.
Levando em consideração que a maioria dos maus comportamentos do cão foi
permitida ou incentivada pelo proprietário, ele tem o dever de buscar uma solução para
o problema, particularmente se o seu animal está sofrendo. A menos que o cão
represente uma ameaça à saúde física das pessoas, a eutanásia não deveria ser
considerada.
Quando um cão é acolhido, o dono precisa saber que é responsável por toda a
vida do animal, pois mesmo após atingir a idade adulta, o cão não é capaz de garantir
sua adequada alimentação e segurança. A domesticação do cão trouxe como
conseqüência a sua dependência em relação à espécie humana. Os seres humanos
deveriam ser, de certa forma, considerados os responsáveis pelo bem-estar dos cães, em
especial daqueles cães que eles abrigaram e educaram à sua maneira.
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