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Empilhamento de rejeito como alternativa frente à disposição em barragem: um estudo de caso

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO


Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto
Departamento de Engenharia de Minas
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral – PPGEM Sumário

1. INTRODUÇÃO.................................................................................... 1

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................. 3

3. ESTUDO DE CASO: FERRO + MINERAÇÃO................................. 6


EMPILHAMENTO DE REJEITO COMO ALTERNATIVA FRENTE À
DISPOSIÇÃO EM BARRAGENS: UM ESTUDO DE CASO 4. RESULTADOS E CONCLUSÕES..................................................... 11

REFERÊNCIAS.............................................................................................. 12
Viviane da Silva Borges Barbosa
xviviborges@yahoo.com.br
Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral - PPGEM
Campus Universitário Morro do Cruzeiro, 35400-000, Ouro Preto, Minas Gerais

Palavras chave: empilhamento drenado, barragem de rejeito, minério de ferro

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Empilhamento de rejeito como alternativa frente à disposição em barragem: um estudo de caso

Por meio de um estudo de caso, este trabalho descreverá como o empilhamento drenado é
uma alternativa real para o atual cenário econômico brasileiro e, em especial, para os rejeitos
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO provenientes do minério de ferro.
Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto
Departamento de Engenharia de Minas
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral – PPGEM
1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo geral


1 INTRODUÇÃO
O objetivo geral deste trabalho é descrever o método de empilhamento drenado por meio
de um estudo de caso, dando foco às operações de carga e transporte do material.
As barragens de rejeito na mineração são estruturas de contenção para rejeitos provenientes
do beneficiamento mineral. Os rejeitos são inevitavelmente produzidos ao longo do processo
de concentração e devido ao monumental volume gerado, eles devem ser descartados em
grandes estruturas que possibilitam seu estoque seguro e isolamento por tempo indeterminado. 1.1.2 Objetivos específicos
Entretanto, graves acidentes registrados nos últimos anos levantaram ceticismos quanto ao Para que o objetivo geral proposto seja cumprido, pretende-se:
processo construtivo de barragens de rejeito e incertezas com relação a sua segurança,
pressionando mineradoras a recorrerem à métodos alternativos de disposição, mesmo que esses • Mostrar que as barragens de rejeitos não serão uma opção de disposição em um futuro
sejam mais caros. Só em Minas Gerais, 5 notórios acidentes envolvendo rompimento de próximo para a mineração no Quadrilátero Ferrífero e, por isso, surge a necessidade de
barragem de rejeitos foram amplamente divulgados pela mídia, a saber: Barragem da Mineração se avaliar métodos alternativos;
Rio Verde (2001), Barragem da Indústria Cataguases de Papel (2003), Barragem da Mineradora • Identificar as condições necessárias que possibilitam o empilhamento drenado de
Rio Pomba Cataguases (2007), Barragem da Herculano Mineração (2014) e Barragem de rejeito;
Fundão (2015). • Descrever os equipamentos e sistemas envolvidos nas atividades de carga e transporte
do empilhamento drenado da mineradora Ferro + Mineração, através de informações
O último grave acidente envolvendo o rompimento de Fundão ocorreu em novembro de coletadas junto à empresa e/ou disponíveis na literatura.
2015, resultando na morte de 19 pessoas, soterramento de residências e no lançamento de mais
de 50 milhões de metros cúbicos de lama que percorrem mais de 800 km ao longo do vale do
Rio Doce, até desembocarem no oceano Atlântico (BRANCO & PONSO, 2015). A dimensão
de tal acidente, que teve percussão internacional, retomou a questão sobre o barramento de
rejeito sob um viés negativo (LACAZ et al., 2017). Autoridades têm entendido que essas
estruturas devem ser evitadas a todo custo, de forma que novos licenciamentos para barragens
de rejeitos têm se tornado impraticáveis – o novo parecer do Estado de Minas Gerais é que
todas as alternativas para disposição de rejeitos devem ser consideradas em termos técnicos e
econômicos por meio de estudos e só depois que essas alternativas tiverem sido esgotadas,
projetos de barragem poderão ser licenciados.
A proibição ou mesmo o desincentivo por construção de barragens de rejeito não resolve
o problema sobre a estocagem dos grandes volumes de polpa gerados durante a fase de
beneficiamento. Para essa questão, novas alternativas são consideradas como, por exemplo,
empilhamento ou ensacamento de rejeito, fabricação de pasta mineral e co-disposição de
rejeitos e estéreis, a fim de evitar-se o seu lançamento em barramentos. Apesar de mais
onerosas, tais técnicas têm apresentado maiores índices de segurança e menores áreas
impactadas em caso de rupturas.
Dentre as alternativas apontadas, esse trabalho objetiva descrever a aplicabilidade da
técnica de empilhamento drenado, também conhecida como disposição em aterro hidráulico.
Serão descritas as condições necessárias para a aplicação desse método, no que diz respeito às
características do rejeito e aos equipamentos utilizados nos sistemas de carga e transporte.
Espera-se delinear as restrições físico-químicas dos rejeitos e questões operacionais que
resultam no empilhamento drenado como alternativa para a mineração.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Adicionalmente às questões dos entraves, o alteamento de barragens a montante foi
proibido pelo Estado de Minas Gerais, apesar de tal método poder corresponder a uma estrutura
segura para ambientes de baixa sismicidade, como afirmou a Associação Brasileira de
2.1 Barragens de rejeitos Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica em sua Carta Aberta sobre Barragens de
Disposição de Rejeitos (2016).
Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT 13028, 2017), barragens
para disposição de rejeitos são “estruturas utilizadas para reter, de forma planejada, projetada e As barragens de rejeito não são bem quistas somente no Estado de Minas Gerais. Davie
controlada, volumes de rejeitos advindos do processo de beneficiamento de minério.” A partir (2011) observa que elas devem ser evitadas ao máximo em regiões de escassez de água. O autor
da promulgação da Lei Nº 12.334, de 20 de setembro de 2010, que estabelece a Política afirma que, apesar de haver uma extensa documentação sobre pastas minerais e carência de
Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), compete a Agência Nacional de Mineração informações sobre empilhamento drenado, essa última metodologia têm sido uma alternativa
(ANM) fiscalizar a implementação dos planos de segurança por parte dos seus empreendedores, recorrente para a disposição de rejeitos, depois das barragens, em países como o Chile, Austrália
assim como classificar e monitorar as estruturas existentes no país. e Canadá. A Figura 1 mostra que o empilhamento drenado é uma forte tendência na mineração
nesses países e, por isso, as condições de sua aplicabilidade devem ser bem entendidas, a fim
Dessa forma, a ANM deve classificar as barragens de rejeito segundo a sua categoria de
de se evitar erros conceituais de projeto (DAVIE et al., 2010) .
risco (alto, médio ou baixo), dando potencial (alto, médio ou baixo) e classe (A, B, C, D e E),
esse último resultado da combinação das 2 variáveis anteriores, como mostra a Tabela 1 (ANM,
2018). A categoria de risco leva em consideração características técnicas da barragem, como
seu estado de conservação e o atendimento, por parte do empreendedor, do Plano de Segurança
de Barragem; o dano potencial é estimado ao considerar-se a ruptura da estrutura (Dam Break)
e as perdas humanas e impactos socioambientais advindos desse evento.
Tabela 1 – Classes das barragens de rejeito

Dano potencial associado

Categoria de risco Alto Médio Baixo

Alto A B C

Médio B C D Figura 1 – Número aproximado de empreendimentos que optaram por não dispor seus
rejeitos em barragens.
Baixo C D E
Fonte: Davie et al. (2010)
No Quadrilátero Ferrífero, existem 169 estruturas registradas no Sistema Integrado de
Gestão de Segurança de Barragens de Mineração (SIGBM), publicado pela ANM. 2.2 Empilhamento drenado
O acirramento na classificação e fiscalização das barragens de rejeito adveio depois do O empilhamento drenado, ou aterro hidráulico, é a configuração em forma de pilha
rompimento da barragem de Fundão, mencionado anteriormente. Entraves de ordem técnica e resultante da disposição controlada de rejeitos granulares. O material deve apresentar boas
jurídica passaram a permeiar a questão de novos licenciamentos, caracterizando a política clara características de permeabilidade para que a água seja drenada do aterro natualmente, mesmo
de desincentivo para a construção de tais estruturas. que o material seja disposto com umidade considerável. Comparado com o método de
Observa-se que a definição sobre barragens adotada pela ABNT não especifica as disposição tradicional, o empilhamento drenado apresenta menor risco geotécnico por não
propriedades físico-química dos rejeitos que estão sendo dispostos no barramento. Rejeitos com armazenar água em sua estrutura.
teor de sólidos acima de 60%, cujo espraiamento seria limitado a uma pequena área em caso de Em geral, rejeitos com granulometria predominantemente arenosa (areia fina a média)
Dam Break, são considerados como fluidos newtonianos para a determinação de dano potencial apresentam permeabilidades suficientes para servirem como material de construção dos aterros
associado, ou seja, o dano é simulado como a onda de cheia potencialmente inundaria as áreas hidráulicos. Alguns autores definem a distribuição granulométrica do material como a mais
de vale a jusante. Assim, barragens de polpa acabam por obter uma classificação importante característica a ser observada em sistemas de disposição segundo a técnica de
demasiadamente conservadora por desconsiderar-se as verdadeiras características de empilhamento drenado (FIGUEIREDO, 2007 apud MELENT’EV et al., 1973 e YUFINY,
viscosidade dos rejeitos. Além disso, os responsáveis técnicos pela barragem são forçados a 1965).
emitirem uma Declaração de Condição de Estabilidade, responsabilizando-se criminalmente
Figueiredo (2007) descreve 3 metodologias que podem ser consideradas como alternativas
por estruturas complexas, cuja condição de instabilidade não pode ser prevista mesmo com o
ao barramento de rejeitos. A aplicabilidade do aterro hidráulico, da fabricação de pasta mineral
uso das mais modernas tecnologias (como os sismos).
e da co-disposição de rejeitos e estéreis em superfície dependem, fundamentalmente, das
características físico-químicas do rejeito, dos sistemas mecânicos envolvidos na deposição e da

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topografia local. Para o empreendimento estudado, o autor mostrou que o rejeito da flotação 3 ESTUDO DE CASO: FERRO + MINERAÇÃO
reunia características suficientes para ser disposto em pilhas, por possuir granulometria
predominantemente grosseira (+0,074 mm) e boa permeabilidade (5 x 10-4 cm/s). O autor se
Criada em 2007, a Ferro + Mineração, uma mineradora pertencente ao grupo J. Mendes,
baseia na norma soviética SNIP-II-53-73 que correlaciona materiais arenosos que apresentam
está localizada nos municípios de Ouro Preto e Congonhas, com capacidade produtiva igual a
razoável segregação hidráulica com seus valores de D10, D60 e D50.
4 milhões de toneladas por ano e movimentação total igual a 14 milhões de toneladas por ano.
Mohallem (2018), na sua dissertação, descreve a combinação de técnicas de empilhamento Os produtos provenientes do minério de ferro comercializados pela mina são o lump,
drenado e co-disposição de estéril e rejeito na Mina Serra Azul, da Arcelor Mittal. Três tipos hematitinha, sinter e pellet feed.
de rejeito são gerados pelo processo de beneficiamento, sendo eles provenientes de
O processo de beneficiamento é bem simplicado, uma vez que a mineradora lavra um
concentração gravítica (jigue), magnética e de superfície (flotação). O rejeito total da planta é
minério de ferro de boa qualidade. Com a britagem e classificação, são obtidos os 3 produtos
separado na fração grossa (underflow) e na fração fina (overflow) por meio de hidrociclones.
mais grosseiros. Ao material mais fino é adicionado água e ele segue para a concentração
Enquanto o underflow é encaminhado imediatamente para a pilha de desaguamento, o overflow
magnética: o concentrado desse processo é o pellet feed fines e o rejeito, que é formado por
é encaminhado para secagem nas baias de sedimentação. Depois de seco, o rejeito fino é
todo o material abaixo de 0,5 mm e que não foi capturado pelo campo magnético, é
retomado das baias e disposto em camadas alternadas, juntos com o underflow. A co-disposição
encaminhado para as baia de rejeitos, um sistema projetado para desaguamento do material.
também é uma técnica adotada pela mina, que produz uma mistura com proporção rejeito-estéril
de 1:1, para o caso de rejeitos finos, e de 2:1, para o caso de rejeitos grossos, para formar o Na Ferro + Mineração, as baias são estruturas em forma de trincheira, com
material de construção da pilha final. aproximadamente 10 metros de largura, 100 de extensão e 10 de profundidade. Elas servem
para estocar a polpa de rejeito provisoriamente, para possibilitar a operação de desaguamento
O empilhamento drenado foi uma solução interessante para o problema da proximidade do
que se dará por evaporação natural. À essa polpa é adicionado um floculante para acelerar a
término da vida útil da barragem de rejeitos da Mina Serra Azul. Ainda, a execução de estruturas
sedimentação do material sólido. Atualmente, existem 4 baias em operação na Ferro +, que
de disposição de rejeitos pôde ser feito nos domínios de propriedade da empresa, o que não
levam aproximadamente 8 horas para serem preenchidas com polpa de rejeito. A Figura 2
ocorreria com a opção de implantação de uma nova barragem (MOHALLEM, 2018).
mostra detalhes dessas estruturas.

B
A

C D

Figura 2 – (A) Imagem de satélite das 4 baias; (B) Polpa de rejeito sendo descarregado
em uma baia; (C) Escavadeira retirando material de uma baia para carregar o caminhão; (D)
Escavadeira carregando caminhão com polpa.

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Enquanto uma baia é carregada com polpa de rejeito, as outras são revolvidas por uma uma
escavadeira que fica dedicada à operação. O operador da escavadeira é orientado a tranferir o
material do fundo de uma baia para a baia vizinha que se encontra mais seca, por meio de uma
operação que é chamada de “chacoalhamento de concha”: ao carregar a polpa, o operador
movimenta a concha da escavadeira da esquerda para a direita, para que a maior parte da água
abandone o material. Assim, o material com menos água é depositado na baia adjacente, e o
processo se repete indefinidamente. Além de tranferir o material de uma baia para a outra, a
escavadeira deve carregar os caminhões que transportarão a polpa para o depósito final, como
mostrado na Figura 2.
O desaguamento através de baias foi a solução que a mina encontrou para interromper a
linha de filtragem de rejeitos e dedicá-la à filtragem de um novo concentrado. No começo da
operação, a canga de ferro não era processada e o rejeito, além de ser mais grosseiro que o atual,
era filtrado antes de ser encaminhado para a pilha. Portanto, a operação de mina se reinventou
para possibilitar a produção de pellet feed, mas trouxe novos desafios à questão de descarte dos
rejeitos, pois o processamento de canga gera ultrafinos, com P50 menor que 45 µm.
A fim de reduzir a umidade do rejeito, além da operação de desaguamento em baias, foi
construída uma pilha intermediária para descarte, que funciona como um estoque pulmão da
pilha final de rejeitos. O material que sai das baias por meio de caminhões, pode ser
encaminhado para esse ponto de basculamento, para ser retomado posteriormente e, enfim,
encaminhado para a pilha final. A pilha intermediária também serve para dar flexibilidade à
operação de transporte de rejeitos, servindo como possível ponto de basculamento quando, por
alguma razão, a pilha final de rejeito está impossibilitada de receber material. A Figura 3
identifica a pilha intermediária e o sistema de baias da mineradora Ferro +.

Figura 4 – Pilha de rejeito e sentido de escoamento de água.

Tabela 3 – Classificação das barragens da Ferro + Mineração, segundo a ANM.

Barragem Categoria de Risco Dano Potencial Classe

Captação de água J8 Baixo Médio D

Josino Baixo Médio D

Figura 3 – Sistema de baias, à esquerda, e pilha intermediária, à direita Fonte: SIGBM (ANM, 2018)

O destino final, portanto, é a pilha de rejeito. A polpa proveniente do sistema de baias ou É interessante notar que a dificuldade de licenciamento de novas áreas de servidão no
retomado da pilha intermediária é levado para a pilha final, que atualmente possui 80 metros de Quadrilátero Ferrífero forçou as mineradoras a buscarem pela maximazação da capacidade
altura, bermas de 10 metros, ângulo de talude entre 28 e 32º e corrimento de 1% em cada banco. volumétrica de suas pilhas existentes, seja de estéril ou de rejeito. No caso da Ferro +, é utilizado
Tanto o projeto como a operação da pilha de rejeito é muito similar ao de uma pilha de estéril. um rolo compactador na pilha de rejeito para auxiliar na expulsão da umidade ainda
remanescente, melhorando, assim, as características de resistência do material. Tal
No que diz respeito ao projeto de drenagem da pilha de rejeito, a Figura 4 mostra, equipamento é incomum na operação mineira que, via de regra, utiliza-se apenas do movimento
esquematicamente, a direção dos drenos internos e a direção da percolação superficial da água. de máquinas como caminhões, escavadeiras e tratores para promover a compactação do
Uma série de 4 barramentos foram colocadas a jusante para diminuir a turbidez da água material. A compactação em pilhas na mineração têm assumido mais notoriedade nos últimos
proveniente da pilha, antes dela retornar ao meio ambiente por meio da evaporação ou anos, seja porque melhora o fator de segurança ou porque aumenta a sua capacidade
subterrâneamente. As barragens identificadas pelas letras “A” e “B” indicam barragens volumétrica.
classificadas pela ANM, como demonstra a Tabela 3. Existem, também, alguns drenos saindo
das faces de bancos superiores para encaminhar a água para canaletas, como foi observado no Comparada à pilha de estéril, a pilha de rejeito é mais vulnerável à formação de erosões
campo. nas faces dos taludes, devido a maior umidade da polpa empilhada. Por isso, a equipe de
operação dedica inspeções especiais às canaletas, para verificar se estão em bom estado ou

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obstruídas. A pilha tem mostrado ter bom projeto de drenagem, sem registro de nenhuma perder parte da sua capacidade de estocar rejeito, o material leva muito mais tempo para atingir
ocorrência de instabilidade grave, desde o início da operação em 2007, mesmo durante chuvas uma umidade adequada antes de ser encaminhado para a pilha final.
torrenciais.
O “penteamento de taludes” é feito com escavadeiras e serve para adequar o ângulo de
face. Após realizada essa operação, é colocada uma microtela verde nas faces voltadas para a
rodovia que tem como objetivo reduzir o nível de poeira e, principalmente, o impacto visual. O
capim gordura desenvolveu-se naturalmente sobre a face de alguns taludes da pilha de rejeito,
auxiliando na redução dos impactos citados.
Entretanto, o crescimento do campim gordura é polêmico. O clima do Quadrilátero
Ferrífero é extremamente favorável para o desenvolvimento de tal gramínea, nativa da África,
que foi introduzida na região ao longo do século XVIII, provalmente durante o Ciclo do Ouro.
Ele é considerado como uma praga nas unidades de conservação ambiental, por colonizar
rapidamente as áreas que germina e impedir que espécies nativas se desenvolvam.
Pesquisadores que tentam impedir que tal espécie progrida no Parque do Rola Moça, localizado
a 50 km da Ferro + Mineração, acusam condôminos e mineradoras por facilitarem a proliferação
dessa espécie que tem devastado espécies típicas do cerrado, como as orquídeas, bromélias,
canela-de-ema e capim-flechinha (HOLANDA, 2012).
A Figura 5 mostra imagens relacionadas a pilha de rejeito da Ferro + Mineração.

A B

C D

Figura 5 – (A) Ao fundo, a pilha de rejeito; (B) Microtela verde recobrindo as faces dos
taludes; (C) Vegetação que cresceu naturalmente sobre a pilha de rejeito; (D) Faces e
barragens de contenção de água.

Este estudo de caso foi realizado no período de estiagem, não abordando, portanto, os
problemas operacionais associados à operação das baias no período chuvoso. Além da estrutura

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4 RESULTADOS E CONCLUSÕES REFERÊNCIAS

No Quadrilátero Ferrífero, a difuldade para obtenção de licenças socioambientais para 1. ABMS. (2016). Associação Brasileira de Mecância dos Solos e Engenharia Geotécnica.
novos projetos de barragem de mineração têm levado as mineradoras a buscarem por Carta aberta da ABMS sobre barragens de disposição de rejeitos. Publicada em outubro
alternativas de disposição, quadro que se intensificou após o rompimento da barragem de de 2016.
Fundão. Dentre essas alternativas, o empilhamento drenado é um método tecnicamente viável
para materiais de granulometria arenosa, podendo ser implantado em domínios de propriedade
da mineradora (como cavas exauridas) evitando, assim, a opção de implantação de uma nova 2. ABNT 13028. (2017). Associação Brasileira de Normas Técnicas. Mineração –
barragem. Elaboração e apresentação de projeto de barragens para disposição de rejeitos,
contenção de sedimentos e reservação de água – Requisitos
O empilhamento drenado estudado utiliza um sistema de baias, em substituição a antiga
linha de filtragem, para promover a redução de umidade do rejeito, proveniente da separação
magnética. A operação de carga e transporte envolve caminhões e escavadeiras como 3. ANM. (2018). Agência Nacional de Mineração. Disponível em:
equipamentos dedicados, uma pilha intermediária para dar flexibilidade ao transporte e a pilha <http://www.anm.gov.br/assuntos/barragens/classificacao-das-barragens-de-
final, cuja configuração é análoga a uma pilha de estéril. Ainda, a operação de compactação é mineracao>.
auxiliada por um rolo compactador, equipamento até então incomum em minas em geral.
A água proveniente do interior da pilha é dirigida por meio de drenos de fundo aos 4
barramentos situados a jusante em um vale encaixado, para reduzir a turbidez. Essas barragens 4. BRANCO M. & PONSO F. (2015). Maior desastre ambiental do Brasil, tragédia de
foram classificadas como classe D, mostrando o grau de conservadorismo dos órgãos Mariana deixou 19 mortos. O Globo [online]. Publicado em: 17/10/2016.
reguladores. Existe uma discussão entre a ANM e mineradoras, para que barragens como as da
Ferro + sejam desvinculadas do SIGBM, para não serem taxadas como barragens de rejeito. A
descaracterização de barragens de rejeito é outro assunto polêmico, discutido em fóruns e 5. DAVIES, M. (2011). Filtered dry stacked tailings–the fundamentals. In: Proceedings
congressos, mas mantido reacionário na forma da lei. tailings and mine waste (pp. 6-9).

A operação de desaguamento em baias de sedimentação apresenta como desvantagens


o aumento do tempo de manutenção dos equipamentos envolvidos por trabalharem em 6. DAVIES, M. P., et al. (2010). Dewatered tailings practice–trends and observations.
condições mais críticas e a perda de capacidade volumétrica no período chuvoso. A depender In: Proceedings of Tailings and Mine Waste (Vol. 10).
da chuva, as baias podem ficar interditadas por dias, paralisando imediatamente a produção de
pellet feed.
7. FIGUEIREDO, M.M. (2007). Estudo de metodologias alternativas de disposição de
Devido aos problemas causados pelas baias, a Ferro + Mineração estuda a viabilidade
rejeitos para a mineração Casa de Pedra–Congonhas/MG. Dissertação em mestrado
econômica de instalação de filtros-prensas e, alternativamente, a co-disposição de rejeito e
profissional em Engenharia Geotécnica. Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP),
estéril.
Ouro Preto.
Em geral, as empresas de médio a grande porte no Quadrilátero Ferrífero, pressionadas
pela mídia e pelos órgãos reguladores, passaram a avaliar rotas de rejeito, com o objetivo de
evitar a disposição em barragens. Percebe-se que as propriedades físico-químicas impingidas 8. HOLANDA, T. (2012). Capim-gordura domina paisagem e favorece incêndios no
pelo minério na frente de lavra determinam, de maneira contundente, as propriedades do rejeito Parque Rola Moça. Estado de Minas [online]. Publicado em: 06/12/2012.
gerado, de forma que a operação de empilhamento drenado varia muito de mina para mina.

9. LACAZ, F.A.D.C., et al. (2017). Tragédias brasileiras contemporâneas: o caso do


rompimento da barragem de rejeitos de Fundão/Samarco. Revista Brasileira de Saúde
Ocupacional. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, nº 42, ed. 9.

10. MOHALLEM, S.D.S. (2018). Análise de sistema de co-disposição dos rejeitos de


minério de ferro gerados na Mina Serra Azul – Itatiaiuçu/MG. Dissertação em mestrado
profissional em Engenharia Geotécnica. Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP),
Ouro Preto.

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