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A CULTURA NO PROCESSO DO ENSINO E APRENDIZAGEM DA EDUCAÇÃO

INFANTIL

Antonio Ferreira Geraldo1


Neri de Paula Carneiro2

Resumo: o presente artigo tem por objetivo discutir o conceito de cultura no âmbito educacional tendo
por base a dimensão lúdica dentro do espaço escolar. Nesse sentido, o texto faz uma reflexão sobre a
cultura no processo de ensino-aprendizagem para vida. Além disso, pensar em educação tem por base a
discussão sobre sua função social que é formar cidadão competente para as atividades cotidianas. Bem
como, prezar os valores primordiais humanos de sociabilidade entre sujeitos. Feito isso, divide-se o
trabalho em cinco partes: inicia discutindo o que é cultura para processo educacional, discorre pela
formação histórico-cultural, sintetiza a função essencial da cultura, prioriza sua aplicação no ambiente
escolar e finaliza dentro de uma perspectiva metodológica lúdica cultural.

Palavras-chave: Cultura. Educação. Ensino-aprendizagem.

INTRODUÇÃO

Quando se fala em cultura, a maioria das pessoas pensa em: literatura, culinária, cinema,
arte, música enfim, uma gama de habilidade que o ser humano desenvolveu ao longo da sua
trajetória de vida; porém seu sentido é bem mais abrangente, pois cultura pode ser considerada
como tudo que o homem, consegue produzir (OLIVEIRA, 2003). Segundo Lopes, Mendes e
Faria (2005, p. 13), a cultura refere-se às “teias de significados tecidas pelo homem ao longo
de sua existência. Tudo o que envolve o homem e que é adquirido e significado por ele ao longo
de sua vida a partir da relação com a sociedade”.

Além disso, ao conceituar cultura percebe-se o quanto ela é importante nas relações
histórico-sociais. Podemos inclusive dizer que é a cultura a massa que permite a continuidade
de um dado grupo social. Ela possui muitas características e manifesta-se no cotidiano, nos
comportamentos e produções físicas e imateriais. O que é escrito no exato momento e pensado
nos últimos segundos são reflexos da história de uma vida, de uma sociedade: Sua trajetória,
seus valores. Esses acervos de conhecimentos são, na verdade, adquiridos ao longo dos anos e

1 - Acadêmico do VIII período de Pedagogia da Faculdade de Pimenta (FAP), E-mail:


antonio98geraldo@gmail.com
2 - Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador, professor de filosofia e sociologia na Faculdade
de Pimenta (FAP) - E-mail: neri.car@hotmail.com
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atribuídos a todos os indivíduos ao mesmo tempo em que resultado da vivência desses mesmos
indivíduos.

As funções que um indivíduo exerce na sociedade ou aquilo que ele faz, são
características transmitidas a partir da família ou pelo próprio grupo social. E, dessa forma, a
sociedade se mantém e se preserva. Como sugere Guareschi (1989), comentando o “modo de
produção capitalista”, há dois modos de se conservar uma sociedade. O primeiro pela
reprodução humana do ponto de vista genético pela qual se retransmitem as características
tipicamente humanas. Assim se mantém a raça humana. Outra forma de preservar a sociedade
é aquela executada pelos processos sociais e culturais. São frutos dos relacionamentos sociais
acumulados em casa, na praça, igreja, mercado, escola, dentro do estabelecimento de serviço:
é o processo cultural.

Nesse processo estão inseridos inúmeros comportamentos e manifestações: a


alimentação, a língua, os costumes, os hábitos, as crenças e todos os demais aprendizados que
os seres humanos adquirem informal ou formalmente. Tudo isso representa as manifestações
de cultura. E muitas destas manifestações e comportamentos são originárias das relações
familiares.

A presente reflexão sobre a cultura terá como ponto de partida o universo da criança.
Partiremos desta questão: a cultura que a criança traz de casa pode ajudá-la no processo de
ensino-aprendizagem? O suporte cultural herdado pela criança e construído a partir de seu lar
pode ajudá-la na construção de novos saberes?

Para este trabalho tomaremos cultura não em sua amplidão antropológica, mas na forma
de manifestações culturais que refletem os saberes relacionados às artes, uma vez que o
estudante deve aprender, não só com os livros, mas também com “o cinema, com a música, a
dança, o teatro, a linguagem e a arte” (KRAMER, 1998, p. 22), pois tudo isso se constitui
elementos da cultura.

1. SIGNIFICADO DE CULTURA

Quando falamos em cultura estamos nos referindo às produções humanas. E são


produções que podem ser repassadas, ensinadas e aprendidas. Não são espontâneas, mas
resultado da ação humana. Por esse motivo, a cultura também é um elemento que pode ser
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ensinado e deve ser aprendido pelas novas gerações as quais se encarregam de preservar essa
produção.

O que significa a palavra cultura, quando se fala da função de transmissão


cultural da educação? Essencialmente, um patrimônio de conhecimentos e
competências, de instituições, de valores e de símbolos, constituído ao longo
de gerações e característico de uma comunidade humana particular, definida
de modo mais ou menos amplo e mais ou menos exclusivo, sendo obra
coletiva e bem coletivo. (FORQUIN, 1993. p. 12)

Segundo Oliveira (2003, p. 135), “cada povo tem uma cultura própria. Cada sociedade
elabora sua própria cultura e recebe a influência de outras. […]. Desde que nasce um individuo
é influenciado pelo meio social em que vive”. Logo, não há ser humano desprovido de cultura.
Conforme Freire (1979, p 30) “cultura é tudo o que é criado pelo homem”. A cultura é “a vida
total de um povo, a herança social que o individuo adquire de seu grupo. Ou pode ser
considerada a parte do ambiente que o próprio homem criou”, afirma o antropólogo, Kluckhohn
(1963, apud OLIVEIRA, 2003, p.135). Portanto, “cultura é o conjunto dos objetos resultantes
das atividades produtivas, sociais e simbólicas dos homens” (SEVERINO, 1994, p. 81).

Também Lopes, Mendes e Faria, citando Vygostsky comentam o significado de cultura,


dizendo que:

Olhando para esses conceitos e a partir dessas definições, podemos entender


que pode ser chamado cultura aquilo que está ao redor do homem, tudo o que
ele vê, ouve, compreende ao longo de sua vida, tudo o que ele aprende a
conhecer por intermédio da sua relação com outros homens e, em grande parte,
aquilo que o constitui. Tudo o que diz respeito aos seres humanos e suas
interações, ou seja, a vida em sociedade. E, principalmente, tudo o que ele
produz: bens materiais (as coisas, os objetos) e bens simbólicos (os
significados). Tudo o que nos rodeia e que foi criado pela mão do homem,
todo o mundo da cultura, diferentemente do mundo da natureza, tudo isso é
produto da imaginação e da criação humana. (VYGOSTSKY, apud LOPES;
MENDES; FARIA (Orgs.) 2005, p. 14)

Portanto, quando falamos em cultura estamos nos referindo àquilo que o ser humano
produziu e preservou como um bem social. A cultura, portanto, está relacionada aos valores de
um grupo social. Ela é vivenciada pelos indivíduos, mas é um bem ou um valor social.

2. CULTURA: A FASE INICIAL DA EDUCAÇÃO

No decorrer da vida humana há algo muito relevante para o processo de ensino e


aprendizagem: trata-se do período compreendido entre o nascimento até sua puberdade. Este é
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um período fundamental para o desenvolvimento da pessoa. Período em que a criança


desenvolve sua percepção do mundo. Pimentel (2008), afirma que é na infância que se
desencadeia uma dimensão privilegiada na aprendizagem significativa da criança. Seu
desenvolvimento está ligado à multiplicidade social.

A formação histórico-cultural pressupõe afeto, valores, desenvolvimento motor,


cognitivo, psicomotor da criança. Essas dimensões, entretanto, jamais, devem ser separadas, ou
desintegradas na construção do saber cientifico. São na verdade, as bases do conhecimento de
toda a humanidade.

Nesse caso as crianças chegam à escola carregando sua história de vida que são seus
conhecimentos. Este saber vindo do cotidiano fomenta a curiosidade de conhecer o que implica
em ampliar seus saberes. Essa história de vida é o motor principal que norteia a vida do
indivíduo. Nisto é que está a importância da contribuição da cultura para a vida escolar. Com
base nisso é que se pode dizer que os valores trazidos do universo familiar podem ser vistos
como ponto de partida para novas aprendizagens.

Concordando com Freire (1979), somos levados a concluir que a escola precisa, de fato,
fomentar ideias inovadoras ajudando a criança a ser um estudante. Contudo, já se passaram
alguns anos desde a proposição de uma escola voltada para o aluno e seus saberes e ainda não
temos a educação que almejamos. Entretanto, busca-se esse ideal: uma educação para a
mudança.

Partindo desses desafios somos levados a nos indagar: a cultura, de que ela é capaz?
Cabe, ao problematizar dada situação, buscar nortes na busca de sua solução. No caso da
cultura, ela é intrínseca de cada indivíduo? Os saberes de uma pessoa são únicos? Nisso está à
importância cultural: ser o fundamento e ponto de partida para o desenvolvimento pessoal e
social.

Mas porque a cultura popular não é aceita no grupo dominante? Giroux (2006) faz esse
questionamento, constatando que nas escolas a cultura nem sempre é bem aceita. A escola, seus
métodos de ensino e seus valores representam o grupo dominante. Sendo assim, o processo de
ensino-aprendizagem ainda não representa as expectativas populares e, portanto, ainda não são
expressões de um processo de liberdade.
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Como afirma Freire (1979, p. 30), “O homem está no mundo e com o mundo. Se apenas
estivesse no mundo não haveria transcendência nem se objetivaria a si mesmo. Mas como pode
objetivar-se, pode também distinguir entre um eu e um não eu”. Esse indivíduo simboliza a
formação de elementos imaginários que vão tornar realidade a partir das experiências realizadas
no âmbito social. Atribui significação subjetiva a partir da consciência do objeto (SEVERINO,
1994), salientada em uma metáfora da rede e o peixe, (ALVES, 2007, p. 17), onde diz: “Meu
mundo é aquilo sobre o que posso falar. A linguagem estabelece uma ontologia. [...] O mesmo
aconteceria se as pessoas lhes falavam de cores, cheiros, sentimentos, música, poesia, amor,
felicidade. Essas coisas, não há redes de barbante que as peguem”.

Podemos levar em conta o que diz Severino (1994, p. 80):

a subjetividade é contemporânea à origem da espécie humana, emergindo


como estratégia da vida e equipamento para ação. Podemos dizer, então, que,
do ponto de vista antropológico, a consciência surge embutida e intimamente
ligada ao processo do agir.

Com efeito, simbolizar exige da mente do sujeito ações subjetivas complexas para
concretizar um dado suposto no imaginário e na intimidade do indivíduo (SEVERINO, 1994).
Porque “a linguagem, as narrativas, os textos, os discursos, não apenas descrevem ou falam
sobre as coisas. Ao fazer isso eles instituem as coisas, inventando sua realidade” (KUENZER,
2002, p. 32).

Partindo dessa afirmação, tomamos as palavras de Freire (1979, p. 28), “o homem deve
ser o sujeito de sua própria educação”, sendo capaz de transformar sua realidade a partir das
relações históricas aonde a cultura local venha propiciar o alicerce que tanto urge o pós-
modernismo.

Nessa ótica, Kerschensteiner apud Bamberger (2002), diz que é através dos bens
culturais que o indivíduo se ajusta à estrutura da sociedade. Em outras palavras, significa que a
criança, como um ser pensante, capaz de adquirir conhecimento, está intimadamente
comprometida em construir um mundo melhor. Isso se dará caso a sociedade ao transmitir
valores que correspondam ao mundo escolar, tenha em mente que cada um pode transformar o
meio.

3. CONSTRUINDO A IDENTIDADE SOCIAL

E aqui vem a grande questão. Em se tratando da construção da identidade infantil, qual


é a função da cultura no fomento do ensino-aprendizagem da criança? Ela pode direcionar o
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posicionamento diante do mundo, bem como desenvolver o processo de aprendizado a partir


dos conhecimentos prévios. Esses conhecimentos visam uma educação plena, baseada na
construção da identidade do indivíduo e do seu caráter cidadão.

É interessante notar que ao longo dos tempos o ser humano desenvolveu habilidades
para viver em sociedade a qual resulta de seu trabalho, ou seja, de sua cultura (FREIRE, 1983).
Assim sendo, valorizar a cultura é uma forma de dar continuidade ao ser histórico, à sociedade
em que ele está inserido. Ou seja, a construção da sociedade se dá na mesma proporção em que
se preservam os valores culturais dessa sociedade.

Nesse prisma, Kramer (1998, p. 22) afirma que “a importância simultaneamente da


tradição cultural de cada grupo, de seus valores, suas trajetórias, suas experiências, seu saber, e
do acesso ao acervo cultural disponível” podem favorecer o desenvolvimento da pessoa. Dentro
dele a principal fonte de inspiração filosófica que caminha para saberes que proporcionam a
aprendizagem como um todo. Os elementos culturais ao serem disseminados entre os povos
trouxeram influências que foram capazes de impulsionar os indivíduos.

Há muita relevância nisso, pois estes processos histórico-sociais caracterizam os


modelos de educação (REGO, 1995). E são tão importantes que ainda hoje podemos observar
suas influências. Além do mais, trazem harmonia na construção do saber. Para cada período da
história houve um ensino, uma medida e um conceito. Por isso é fundamental conhecer os
alunos e sua história de vida, sua cultura, seu saber para que se desenvolvam métodos de ensino-
aprendizagem significativos para as crianças hodiernas que conhecem muito.

Mas também é necessário que esse saber seja pautado na cidadania e no diálogo entre
sujeitos. Cabe aqui respeito entre os indivíduos para uma vida social que tem por base a cultura
trazida do mundo moderno. Outro aspecto relevante é saber quão interessante é esse processo
de ensino em que estão indissociáveis o ensino e a aprendizagem, pois é desse interesse que
decorre o processo da aprendizagem.

Logo, uma educação que tenha por pressuposto o conhecimento prévio do educando
pode ser visto como um processo alicerçado nas exigências da atualidade e, ao mesmo tempo,
valoriza sua história e os elementos de sua cultura, valoriza sua identidade.

4. A CULTURA NO PROCESSO EDUCATIVO


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A cultura, no processo educativo está previsto na legislação. O art. 26 da Lei


12796/2013, alterando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 9394/96)
coloca a cultura como necessária e obrigatória no processo educativo. Visto que “nenhuma
ação educativa pode prescindir de uma reflexão sobre o homem e de uma análise sobre suas
condições culturais”. (FREIRE, 1979, p. 61, grifo nosso)

Nesse sentido, Kramer (1998, p.16), afirma que “uma escola básica que se compromete
com a cidadania e com a democracia precisa ter na formação cultural um de seus elementos
básicos” para uma cidadania plena. Porque o processo de ensino-aprendizagem ao longo dos
tempos foi muito diverso, ou seja, valorizava-se apenas a proposta do professor em detrimento
dos saberes do estudante (REGO, 1995). Esses conhecimentos trouxeram à importância de
perceber o quanto a cultura trabalhada de forma diversificada pode possibilitar ao indivíduo
mecanismos saudável de aceitação para as futuras gerações. E isso acompanhará o indivíduo
no decorrer de toda vida.

[...] É crucial que todos – crianças e adultos – possam, de um lado, apropriar-


se dos conhecimentos científicos básicos e, de outro aprender com a história,
com os livros, com o cinema, com a música, a dança, o teatro, com a
linguagem e a arte, pois a experiência com essas produções constitui a
formação cultural e humana necessária para enfrentar desafios ainda mais
graves da vida contemporânea. (KRAMER, 1998, p. 22)

Segundo Libâneo (2004, p. 61), “é preciso considerar, além disso, que os alunos trazem
para a escola e para as salas de aula um conjunto de significados, valores, crenças, modos de
agir, resultante de aprendizagens informais, que muitos autores chamam de cultura paralela ou
currículo extraescolar”. Na verdade esses são conhecimentos construídos no seio do mundo.
Esses valores vão dar suporte fundamental na hora de elaborar uma ideia ou uma concepção da
realidade (FREIRE, 1996).

No entanto, essa é uma perspectiva moderna, que se desenvolve a partir do século XX.
A afirmação que brota daí diz que a infância possibilita o desenvolvimento de um processo
simbólico, desenvolvedor da subjetividade humana (SARMENTO, 2000), tendo por base
elementos culturais simbólicos sedimentados ao longo dos tempos.

Para tanto Kramer (1998), no Brasil a cultura no universo educativo é pouco conhecida
pelos profissionais da educação, porém configura-se como um interessante material teórico
especial que possibilita ao educador buscar métodos que se fundamentem na cultura. Entretanto
ela pode ser crucial na abertura de aceitação dos diversos valores, no processo de socialização,
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baseado na passagem da teoria para a prática docente. Consequentemente pode ser um campo
promissor para o processo de ensino-aprendizagem para a criança.

Utilizar os elementos da cultura – música, teatro, e outros produtos culturais – pode


ajudar a criança, (sujeito), a ampliar seu modo de vida, suas relações com outras crianças, visto
que elas também são atraídas por manifestações da cultura. Haja vista a influência da mídia
sobre os comportamentos das crianças e adultos.

5. A LUDICIDADE NA INFÂNCIA

Ao brincar a criança vivencia modos de vida e atribui regras e comportamento que dão
origem a novas brincadeiras. A isso chamamos de cultura lúdica. Na infância a brincadeira é
tão significante para suas relações que vão surgindo novas brincadeiras.

Assim sendo, Lopes, Mendes e Farias, citando Barbosa comentam a importância das
brincadeiras do faz de conta:

[Numa escola de Educação Infantil algumas crianças estão à espera do sinal


da entrada.] (sic) Cris está correndo na parte de cimento que fica junto à
entrada. Vai e volta. Bel observa a amiga e diz para uma outra menina que a
amiga está correndo. Cris, então, para e diz que está brincando e explica: “tem
que ir até o portão verde e voltar”. Ela criou a brincadeira e explica as suas
regras. Faz isso mais três vezes. Outras quatro crianças estão sentadas,
observando. Um menino decide ir brincar de correr também. Cris explica que
tem que ir até o final da quadra e voltar. Logo são três crianças indo e vindo
(...). Uma menina maior segura a mão da irmã menor. Cris, que começou a
brincadeira, logo impõe: “não, não pode segurar a mão, assim não vale”. As
meninas obedecem e logo soltam as mãos. (BARBOSA apud LOPES;
MENDES; FARIA (Orgs.) 2005, p. 21)

Esse jogo de faz de conta é fundamental no desenvolvimento. Ele proporciona à criança


criatividade, comportamento, regras, enfim meios que servirão de base para a fase adulta. “A
criança desenvolve-se pela experiência social, nas interações que estabelece, desde cedo, com
a experiência sócio-histórica dos adultos e do mundo por ele criado” (WASJSKOP, 2009, p.
25).

Esse conhecimento que a criança desenvolve ao brincar vale como subsidio para a vida
adulta do sujeito. Sua trajetória pode ser cada vez melhor se forem ampliados seus horizontes.
Terão melhores perspectivas futuras. Valendo-se do acervo cultural no processo da formação
de valores.
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A brincadeira humana supõe um contexto social e cultural. [...] A criança está


inserida, desde o seu nascimento, num contexto social e seus comportamentos
estão impregnados por essa imersão inevitável. Não existe na criança uma
brincadeira natural. A brincadeira é um processo de relações interindividuais
(relação de uma pessoa com a outra), portanto, de cultura. É preciso partir dos
elementos que ela vai encontrar em seu ambiente imediato, em parte
estruturado por seu meio, para se adaptar às suas capacidades. A brincadeira
pressupõe uma aprendizagem social: aprende-se a brincar. A brincadeira não
é inata (no sentido de que a criança já nasce com esse potencial de brincar). A
criança pequena é iniciada na brincadeira por pessoas que cuidam dela.
(BROUGÈRE apud LOPES, MENDES E FARIA (Orgs.) 2005, p. 19)

A criança aprende com os colegas, na escola, no bairro, na praça, etc. Esse jogo de
criação imaginário (cultura subjetiva, por vezes carregada de valores) visa à formação do
indivíduo, bem como saberes necessário para a vida adulta. É tão importante e, principalmente,
relevante a assimilação aos adultos para a aquisição de novos valores. Resulta nas relações de
cultura que se pressupõe uma aprendizagem social (WAJSKOP, 2009).

Empregar um termo não é um ato solidário. Subentende todo um grupo social


que o compreende, fala e pensa da mesma forma. Considerar, [...], a aplicação
de uma experiência ou de uma categoria fornecida pela sociedade, vinculada
pela língua enquanto instrumento de cultura dessa sociedade. Toda
denominação pressupõe um quadro sociocultural transmitido pela linguagem
e aplicado ao real. (KISHIMOTO 2006, p. 16)

A educação é um trabalho coletivo de criação histórico-cultural, ou seja, uma ação


humana conjunta pela transformação/manutenção do mundo – enfim, enquanto processo
conceitual da pedagogia escolar para uma aceitação dos valores intrinsecamente humano que
se chama cultura. Esses conhecimentos são características marcantes que fecundam um ser,
sendo capaz de construir, com efeito, uma educação para toda vida. Porém, “estes processos
não são inatos, eles se originam nas relações entre indivíduos humanos e se desenvolvem ao
longo do processo de internalizarão de formas culturais de comportamentos” (REGO, 1995, p.
39). Daí a afirmação de que o universo cultural pode e deve favorecer o processo educacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisando a importância da cultura – dança, canto, teatro, entre outras – no processo


de ensino-aprendizagem para a Educação Infantil, percebe-se o quanto é essencial que sejam
consideradas as características prévias dos estudantes.

Analisando o que dizem vários autores percebemos que quão fundamentais são os
elementos culturais e artísticos para a formação da criança. Podemos até dizer que eles são o
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centro da formação da criança. Esses elementos possibilitam aceitação nas mais diversas formas
de pensar, de questionar e agir no mundo hodierno, onde os saberes estão cada vez mais
supérfluos, a consequência disso é uma sociedade provisória.

Todavia, uma proposta sócio-cultual que tem por base a perspectiva Vygostskyana. Onde
seu desenvolvimento é pautado nas relações sociais oriundas do meio, na qual a criança está
inserida. Esse conhecimento é construído através das relações sociais no seio da família, no
cotidiano vivido pela criança.

Esse saber oriundo no meio social é tão importante para o ensino-aprendizagem que
pode ser um norte na formulação de material pedagógico onde o professor busca relacionar os
conteúdos trabalhados por meio de uma atividade da atualidade. Visto que faz sentido com a
realidade dos estudantes, mas também fomentam para novos saberes.

Para finalizar, os elementos da cultura bem trabalhados desenvolvem uma melhor


aceitação das diferenças existentes, porque somos oriundos de uma sociedade formada a partir
da miscigenação onde cada aspecto cultural é muito relevante para cada pessoa.

REFERÊNCIAS

ALVES, Rubem. O que é científico. ed. São Paulo: Loyola, 2007.

BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. 7 ed. São Paulo: Ática, 2002.

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1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação
dos profissionais da educação e dar outras providências. Subchefia para assuntos jurídicos,
Brasília, 2013. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
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___________________Coleção proinfantil modulo II unidade 7 livro de estudo - vol. 2.


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