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A Cultura No Processo Do Ensino e Aprendizagem Da Educação Infantil
A Cultura No Processo Do Ensino e Aprendizagem Da Educação Infantil
INFANTIL
Resumo: o presente artigo tem por objetivo discutir o conceito de cultura no âmbito educacional tendo
por base a dimensão lúdica dentro do espaço escolar. Nesse sentido, o texto faz uma reflexão sobre a
cultura no processo de ensino-aprendizagem para vida. Além disso, pensar em educação tem por base a
discussão sobre sua função social que é formar cidadão competente para as atividades cotidianas. Bem
como, prezar os valores primordiais humanos de sociabilidade entre sujeitos. Feito isso, divide-se o
trabalho em cinco partes: inicia discutindo o que é cultura para processo educacional, discorre pela
formação histórico-cultural, sintetiza a função essencial da cultura, prioriza sua aplicação no ambiente
escolar e finaliza dentro de uma perspectiva metodológica lúdica cultural.
INTRODUÇÃO
Quando se fala em cultura, a maioria das pessoas pensa em: literatura, culinária, cinema,
arte, música enfim, uma gama de habilidade que o ser humano desenvolveu ao longo da sua
trajetória de vida; porém seu sentido é bem mais abrangente, pois cultura pode ser considerada
como tudo que o homem, consegue produzir (OLIVEIRA, 2003). Segundo Lopes, Mendes e
Faria (2005, p. 13), a cultura refere-se às “teias de significados tecidas pelo homem ao longo
de sua existência. Tudo o que envolve o homem e que é adquirido e significado por ele ao longo
de sua vida a partir da relação com a sociedade”.
Além disso, ao conceituar cultura percebe-se o quanto ela é importante nas relações
histórico-sociais. Podemos inclusive dizer que é a cultura a massa que permite a continuidade
de um dado grupo social. Ela possui muitas características e manifesta-se no cotidiano, nos
comportamentos e produções físicas e imateriais. O que é escrito no exato momento e pensado
nos últimos segundos são reflexos da história de uma vida, de uma sociedade: Sua trajetória,
seus valores. Esses acervos de conhecimentos são, na verdade, adquiridos ao longo dos anos e
atribuídos a todos os indivíduos ao mesmo tempo em que resultado da vivência desses mesmos
indivíduos.
As funções que um indivíduo exerce na sociedade ou aquilo que ele faz, são
características transmitidas a partir da família ou pelo próprio grupo social. E, dessa forma, a
sociedade se mantém e se preserva. Como sugere Guareschi (1989), comentando o “modo de
produção capitalista”, há dois modos de se conservar uma sociedade. O primeiro pela
reprodução humana do ponto de vista genético pela qual se retransmitem as características
tipicamente humanas. Assim se mantém a raça humana. Outra forma de preservar a sociedade
é aquela executada pelos processos sociais e culturais. São frutos dos relacionamentos sociais
acumulados em casa, na praça, igreja, mercado, escola, dentro do estabelecimento de serviço:
é o processo cultural.
A presente reflexão sobre a cultura terá como ponto de partida o universo da criança.
Partiremos desta questão: a cultura que a criança traz de casa pode ajudá-la no processo de
ensino-aprendizagem? O suporte cultural herdado pela criança e construído a partir de seu lar
pode ajudá-la na construção de novos saberes?
Para este trabalho tomaremos cultura não em sua amplidão antropológica, mas na forma
de manifestações culturais que refletem os saberes relacionados às artes, uma vez que o
estudante deve aprender, não só com os livros, mas também com “o cinema, com a música, a
dança, o teatro, a linguagem e a arte” (KRAMER, 1998, p. 22), pois tudo isso se constitui
elementos da cultura.
1. SIGNIFICADO DE CULTURA
ensinado e deve ser aprendido pelas novas gerações as quais se encarregam de preservar essa
produção.
Segundo Oliveira (2003, p. 135), “cada povo tem uma cultura própria. Cada sociedade
elabora sua própria cultura e recebe a influência de outras. […]. Desde que nasce um individuo
é influenciado pelo meio social em que vive”. Logo, não há ser humano desprovido de cultura.
Conforme Freire (1979, p 30) “cultura é tudo o que é criado pelo homem”. A cultura é “a vida
total de um povo, a herança social que o individuo adquire de seu grupo. Ou pode ser
considerada a parte do ambiente que o próprio homem criou”, afirma o antropólogo, Kluckhohn
(1963, apud OLIVEIRA, 2003, p.135). Portanto, “cultura é o conjunto dos objetos resultantes
das atividades produtivas, sociais e simbólicas dos homens” (SEVERINO, 1994, p. 81).
Portanto, quando falamos em cultura estamos nos referindo àquilo que o ser humano
produziu e preservou como um bem social. A cultura, portanto, está relacionada aos valores de
um grupo social. Ela é vivenciada pelos indivíduos, mas é um bem ou um valor social.
Nesse caso as crianças chegam à escola carregando sua história de vida que são seus
conhecimentos. Este saber vindo do cotidiano fomenta a curiosidade de conhecer o que implica
em ampliar seus saberes. Essa história de vida é o motor principal que norteia a vida do
indivíduo. Nisto é que está a importância da contribuição da cultura para a vida escolar. Com
base nisso é que se pode dizer que os valores trazidos do universo familiar podem ser vistos
como ponto de partida para novas aprendizagens.
Concordando com Freire (1979), somos levados a concluir que a escola precisa, de fato,
fomentar ideias inovadoras ajudando a criança a ser um estudante. Contudo, já se passaram
alguns anos desde a proposição de uma escola voltada para o aluno e seus saberes e ainda não
temos a educação que almejamos. Entretanto, busca-se esse ideal: uma educação para a
mudança.
Partindo desses desafios somos levados a nos indagar: a cultura, de que ela é capaz?
Cabe, ao problematizar dada situação, buscar nortes na busca de sua solução. No caso da
cultura, ela é intrínseca de cada indivíduo? Os saberes de uma pessoa são únicos? Nisso está à
importância cultural: ser o fundamento e ponto de partida para o desenvolvimento pessoal e
social.
Mas porque a cultura popular não é aceita no grupo dominante? Giroux (2006) faz esse
questionamento, constatando que nas escolas a cultura nem sempre é bem aceita. A escola, seus
métodos de ensino e seus valores representam o grupo dominante. Sendo assim, o processo de
ensino-aprendizagem ainda não representa as expectativas populares e, portanto, ainda não são
expressões de um processo de liberdade.
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Como afirma Freire (1979, p. 30), “O homem está no mundo e com o mundo. Se apenas
estivesse no mundo não haveria transcendência nem se objetivaria a si mesmo. Mas como pode
objetivar-se, pode também distinguir entre um eu e um não eu”. Esse indivíduo simboliza a
formação de elementos imaginários que vão tornar realidade a partir das experiências realizadas
no âmbito social. Atribui significação subjetiva a partir da consciência do objeto (SEVERINO,
1994), salientada em uma metáfora da rede e o peixe, (ALVES, 2007, p. 17), onde diz: “Meu
mundo é aquilo sobre o que posso falar. A linguagem estabelece uma ontologia. [...] O mesmo
aconteceria se as pessoas lhes falavam de cores, cheiros, sentimentos, música, poesia, amor,
felicidade. Essas coisas, não há redes de barbante que as peguem”.
Com efeito, simbolizar exige da mente do sujeito ações subjetivas complexas para
concretizar um dado suposto no imaginário e na intimidade do indivíduo (SEVERINO, 1994).
Porque “a linguagem, as narrativas, os textos, os discursos, não apenas descrevem ou falam
sobre as coisas. Ao fazer isso eles instituem as coisas, inventando sua realidade” (KUENZER,
2002, p. 32).
Partindo dessa afirmação, tomamos as palavras de Freire (1979, p. 28), “o homem deve
ser o sujeito de sua própria educação”, sendo capaz de transformar sua realidade a partir das
relações históricas aonde a cultura local venha propiciar o alicerce que tanto urge o pós-
modernismo.
Nessa ótica, Kerschensteiner apud Bamberger (2002), diz que é através dos bens
culturais que o indivíduo se ajusta à estrutura da sociedade. Em outras palavras, significa que a
criança, como um ser pensante, capaz de adquirir conhecimento, está intimadamente
comprometida em construir um mundo melhor. Isso se dará caso a sociedade ao transmitir
valores que correspondam ao mundo escolar, tenha em mente que cada um pode transformar o
meio.
É interessante notar que ao longo dos tempos o ser humano desenvolveu habilidades
para viver em sociedade a qual resulta de seu trabalho, ou seja, de sua cultura (FREIRE, 1983).
Assim sendo, valorizar a cultura é uma forma de dar continuidade ao ser histórico, à sociedade
em que ele está inserido. Ou seja, a construção da sociedade se dá na mesma proporção em que
se preservam os valores culturais dessa sociedade.
Mas também é necessário que esse saber seja pautado na cidadania e no diálogo entre
sujeitos. Cabe aqui respeito entre os indivíduos para uma vida social que tem por base a cultura
trazida do mundo moderno. Outro aspecto relevante é saber quão interessante é esse processo
de ensino em que estão indissociáveis o ensino e a aprendizagem, pois é desse interesse que
decorre o processo da aprendizagem.
Logo, uma educação que tenha por pressuposto o conhecimento prévio do educando
pode ser visto como um processo alicerçado nas exigências da atualidade e, ao mesmo tempo,
valoriza sua história e os elementos de sua cultura, valoriza sua identidade.
Nesse sentido, Kramer (1998, p.16), afirma que “uma escola básica que se compromete
com a cidadania e com a democracia precisa ter na formação cultural um de seus elementos
básicos” para uma cidadania plena. Porque o processo de ensino-aprendizagem ao longo dos
tempos foi muito diverso, ou seja, valorizava-se apenas a proposta do professor em detrimento
dos saberes do estudante (REGO, 1995). Esses conhecimentos trouxeram à importância de
perceber o quanto a cultura trabalhada de forma diversificada pode possibilitar ao indivíduo
mecanismos saudável de aceitação para as futuras gerações. E isso acompanhará o indivíduo
no decorrer de toda vida.
Segundo Libâneo (2004, p. 61), “é preciso considerar, além disso, que os alunos trazem
para a escola e para as salas de aula um conjunto de significados, valores, crenças, modos de
agir, resultante de aprendizagens informais, que muitos autores chamam de cultura paralela ou
currículo extraescolar”. Na verdade esses são conhecimentos construídos no seio do mundo.
Esses valores vão dar suporte fundamental na hora de elaborar uma ideia ou uma concepção da
realidade (FREIRE, 1996).
No entanto, essa é uma perspectiva moderna, que se desenvolve a partir do século XX.
A afirmação que brota daí diz que a infância possibilita o desenvolvimento de um processo
simbólico, desenvolvedor da subjetividade humana (SARMENTO, 2000), tendo por base
elementos culturais simbólicos sedimentados ao longo dos tempos.
Para tanto Kramer (1998), no Brasil a cultura no universo educativo é pouco conhecida
pelos profissionais da educação, porém configura-se como um interessante material teórico
especial que possibilita ao educador buscar métodos que se fundamentem na cultura. Entretanto
ela pode ser crucial na abertura de aceitação dos diversos valores, no processo de socialização,
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baseado na passagem da teoria para a prática docente. Consequentemente pode ser um campo
promissor para o processo de ensino-aprendizagem para a criança.
5. A LUDICIDADE NA INFÂNCIA
Ao brincar a criança vivencia modos de vida e atribui regras e comportamento que dão
origem a novas brincadeiras. A isso chamamos de cultura lúdica. Na infância a brincadeira é
tão significante para suas relações que vão surgindo novas brincadeiras.
Assim sendo, Lopes, Mendes e Farias, citando Barbosa comentam a importância das
brincadeiras do faz de conta:
Esse conhecimento que a criança desenvolve ao brincar vale como subsidio para a vida
adulta do sujeito. Sua trajetória pode ser cada vez melhor se forem ampliados seus horizontes.
Terão melhores perspectivas futuras. Valendo-se do acervo cultural no processo da formação
de valores.
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A criança aprende com os colegas, na escola, no bairro, na praça, etc. Esse jogo de
criação imaginário (cultura subjetiva, por vezes carregada de valores) visa à formação do
indivíduo, bem como saberes necessário para a vida adulta. É tão importante e, principalmente,
relevante a assimilação aos adultos para a aquisição de novos valores. Resulta nas relações de
cultura que se pressupõe uma aprendizagem social (WAJSKOP, 2009).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisando o que dizem vários autores percebemos que quão fundamentais são os
elementos culturais e artísticos para a formação da criança. Podemos até dizer que eles são o
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centro da formação da criança. Esses elementos possibilitam aceitação nas mais diversas formas
de pensar, de questionar e agir no mundo hodierno, onde os saberes estão cada vez mais
supérfluos, a consequência disso é uma sociedade provisória.
Todavia, uma proposta sócio-cultual que tem por base a perspectiva Vygostskyana. Onde
seu desenvolvimento é pautado nas relações sociais oriundas do meio, na qual a criança está
inserida. Esse conhecimento é construído através das relações sociais no seio da família, no
cotidiano vivido pela criança.
Esse saber oriundo no meio social é tão importante para o ensino-aprendizagem que
pode ser um norte na formulação de material pedagógico onde o professor busca relacionar os
conteúdos trabalhados por meio de uma atividade da atualidade. Visto que faz sentido com a
realidade dos estudantes, mas também fomentam para novos saberes.
REFERÊNCIAS
BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. 7 ed. São Paulo: Ática, 2002.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. (Trad.) Moacir Gadotti e Lillian Lopes Martins. 23.
ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
KRAMER, Sonia (Org.). Infância e produção cultural. 2. ed. Campinas: Papirus, 1998.
LIBANÊO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e pratica. ed. São Paulo:
Alternativa, 2004.
LOPES, Karina Rizek ; MENDES, Roseana Pereira; FARIA ,Vitória Líbia Barreto de (Orgs.).
Coleção proinfantil modulo II unidade 3 livro de estudo - vol. 2. Brasília: MEC. 2005.
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/mod_ii_vol2unid3.pdf>
Acesso em 10 mar. 2015.
MOREIRA, Antonio Flavio Barboza; SILVA, Tomaz Tadeu da (Orgs.). Currículo, cultura e
sociedade. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à sociologia. 24 ed. São Paulo: Ática, 2003.