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Métodos Experimentais para Ciências Mecânicas

Relatório 1
Utilização de sensores para medição de vibrações em máquinas rotativas
Nome: André Albuquerque Thomas e Brandão

1. Introdução e apresentação do problema

Na investigação experimental de sistemas a base da análise sempre é formada pelos sensores. São
estas as unidades base de coleta de dados e, assim, devem ser estudadas detalhadamente e bem
aplicadas a cada caso para que os resultados obtidos sejam confiáveis e a análise bem sucedida.

Será discutido neste relatório o caso da medição de vibrações em máquinas rotativas.rotativas Dois
sistemas principais serão considerados: (i) o primeiro mais simples se trata de um sistema eixo-mancal,
eixo
ambos considerados rígidos, sendo que há a possibilidade de contato entre eles el e há um
desbalanceamento no rotor (eixo), e (ii) um segundo modelo mais complexo que consiste em uma
turbina com pás flexíveis e um estator (carcaça) cilíndrico também flexível.

Neste relatório são apresentadas considerações preliminares sobre quais tipos


tip de sensores, e
respectivos tratamentos de sinal, que seriam necessários para a extração dos dados relevantes para a
análise dinâmica experimental destes dois sistemas. Considerações sobre as fontes de ruídos e
incertezas também serão abordadas.

2. Sistema eixo-mancal

A Figura 1 mostra um esquema bidimensional do sistema analisado. São consideradas apenas os


deslocamentos no plano da figura, ou seja, os deslocamentos perpendiculares ao eixo de rotação do
rotor.

Figura 1 - Representação gráfica 2D do modelo eixo(azul)-mancal(cinza).


eixo(azul) mancal(cinza).
Para cada um dos dois componentes será necessária a aquisição de dados de posição de
velocidade em duas direções. Este tipo de aquisição de dados é facilmente realizada com o uso de
acelerômetros, cujos transdutores transformam as informações de aceleração em voltagem,
permitindo, através do tratamento do sinal, a obtenção da posição.

Em uma análise mais criteriosa, o acelerômetro possui três etapas de transdução.

Aceleração Força Deslocamento Voltagem

Na primeira etapa, a aceleração é transformada em força através de uma massa. Na segunda, a


força é transformada em deslocamento por meio de uma elasticidade. Na terceira, o deslocamento é
transformado em voltagem através da constante piezoelétrica do cristal.

Um acelerômetro para cada componente é o suficiente. A fixação do sensor no estator não


representa grandes problemas, porém é importante notar que a massa do acelerômetro deve ser
suficientemente menor que a massa do componente, para que os resultados não sejam influenciados
pela massa adicional.

Para o caso do rotor, o fato deste estar em constante rotação dificulta a fixação do sensor. Se a
fixação for feita diretamente na superfície do eixo os efeitos da aceleração centrífuga seriam lidos pelo
sensor, adicionando uma espécie de 'ruído' na medição. Assim, estes devem ser fixados no mesmo
ponto onde as rigidezes estão conectadas, isolando, assim, o movimento rotacional para medir somente
os deslocamentos lineares, como fizeram Mohamed et al. (2012).

2.1 Tratamento do sinal e incertezas de medição

O tratamento matemático do sinal de saída do acelerômetro para a obtenção dos sinais de posição
e velocidade é simples, como mostra a Eq. 1.

= ; = (1)

onde é a aceleração, é a velocidade e é a posição. Como estas são transformações


integrativas, é necessário o conhecimento das condições iniciais do sistema para que o cálculo seja
realizado e, além disso, devido à natureza cumulativa das transformações integrativas, o ruído deve ser
mínimo, pois este se acumula ao longo da aquisição dos dados.

É importante notar que o funcionamento do acelerômetro é restrito a uma determinada faixa de


frequência, onde a frequência do sinal medido é muito menor que a frequência natural do sistema
interno do acelerômetro. A Figura 2 apresenta o gráfico da resposta em frequência típico de um
acelerômetro.
Figura 2 - Resposta em frequência típica de um acelerômetro.

O acelerômetro funciona adequadamente na faixa onde a resposta é igual a 0 . Quando a


frequência começa a se aproximar da frequência natural do acelerômetro, a inércia da massa interna do
acelerômetro combinada com a elasticidade do cristal passam a gerar um efeito de amplificação da
aceleração real aplicada ao dispositivo, gerando, assim, medições incorretas da aceleração.

3. Sistema turbina-estator

A Figura 3 ilustra o tipo de rotor com o qual trabalharemos neste caso.

Figura 3 - Ilustração da turbina axial analisada.


A turbina em questão é uma turbina axial com diversas pás e existe ainda uma carcaça cilíndrica
que a envolve, apesar de não mostrada na Figura 3. Esta carcaça fica a uma pequena distância da ponta
das pás e ajuda na redução das perdas de fuga quando a turbina está em funcionamento.

Neste caso, duas análises são pertinentes: a análise puramente dinâmica do sistema, que requer
dados de posição e velocidade em vários pontos do sistema e uma análise de integridade estrutural,
uma vez que os corpos aqui são flexíveis e tanto as tensões quanto as deformações são consideráveis.

A primeira análise pode ser feita também com o uso de acelerômetros, assim como no caso da
seção 2. Porém, como os componentes deste sistema são corpos flexíveis com diversos graus de
liberdade, devem ser utilizados vários acelerômetros para cada componente. Não há um número exato
de acelerômetros recomendável, isto dependerá da resolução desejada dos dados.

Para a segunda análise, de integridade estrutural, extensômetros são a opção mais indicada. Desta
maneira, e conhecendo-se as propriedades mecânicas do material, pode-se obter o valor da tensão em
função do tempo em pontos críticos dos componentes, como na base das pás e ao longo da
circunferência do estator.

O extensômetro consiste em uma pequena resistência que é fixada à superfície do material a ser
analisado. Durante seu funcionamento ocorrem duas etapas de transdução.

Variação da
Variação da
Deformação resistência
corrente
elétrica

A deformação imposta ao extensômetro é traduzida em uma variação de resistência elétrica,


através da variação de comprimento e seção transversal do circuito. Esta variação de resistência elétrica
é traduzida em uma variação de corrente, através da aplicação de uma voltagem constante ao circuito.

O uso dos dois tipos de sensores no rotor é complicada pelo fato da rotação. Se forem utilizados
sensores com fio, estes não poderão ser fixados nas partes móveis da turbina, por motivos óbvios.
Deverão ser utilizados, portanto acelerômetros e extensômetros sem fio que já estão disponíveis no
mercado, porém por um preço significativamente mais elevado. Sensores sem fio são utilizados em
diversas situações onde o local de medição é inacessível por diferentes motivos. Os trabalhos de Han et
al. (2008), King et al. (2008), Vilajosana et al. (2011) e Jackson et al. (2011) abordam diferentes
aplicações e soluções para o uso deste tipo de sensores.

3.1 Tratamento do sinal e incertezas de medição

Para o caso dos acelerômetros, o mesmo tratamento descrito na seção 2.1 pode ser utilizado.
Porém, neste caso, a posição encontrada não será referente ao corpo, e sim referente a um ponto do
corpo, sendo necessário o conjunto completo de medidas para descrever o movimento do corpo
completamente.

Para os extensômetros o único tratamento matemático do sinal que será necessário será para
converter a deformação em tensão, através da Eq. 2.

= ∗ (2)
onde é a tensão, é o módulo de elasticidade do material e é a deformação medida. Esta
transformação é o que se chama de 'ganho', ou seja, uma multiplicação por uma constante. Em relação
ao ruído, o ganho aumenta a o erro absoluto, mas mantém o erro relativo igual.

Poder-se-ia utilizar as informações de tensão nas pás para determinar o deslocamento desta, ao
invés da utilização dos acelerômetros, que é complicada pelo fato da rotação. Porém isto demandaria a
elaboração de um modelo matemático que relacionasse a tensão na superfície da pá com a deformação
da linha elástica, o que introduziria ainda mais incertezas nos dados de saída. Ainda assim, dadas as
complicações da aplicação do acelerômetro neste caso, a possibilidade do uso apenas dos
extensômetros deve ser considerada.

4. Conclusão

O estudo experimental de máquinas rotativas é sem dúvida de fundamental importância para a


engenharia mecânica, devido a vasta aplicação deste tipo de equipamento. Porém, esta análise
represente um desafio ao grupo de pesquisa em diversas situações. Por se tratar necessariamente de
estruturas em constante movimento, a medição da aceleração dos diversos pontos do sistema se torna
dificultada, e deve ser analisada criteriosamente.

A utilização de sensores sem fio pode ser uma excelente solução quando não houver a
possibilidade de se isolar o movimento desejado da rotação da máquina. E além desta aplicação os
sensores sem fio são usados largamente em pesquisas das mais diversas áreas. Como podemos ver nos
artigos citados, as aplicações de tais aparelhos se estendem desde a análise do movimento de tacos de
golfe e monitoramento de avalanches até aplicações biomédicas de alta tecnologia.

Acerca do tratamento de dados, nos casos mencionados, deve-se ratificar a importância da


natureza integrativa do tratamento dado ao sinal do acelerômetro. Este aspecto torna a calibração
inicial e a determinação das condições iniciais de teste extremamente importantes, e dificulta a
realização de testes de longa duração.

5. Referências

Mohamed, A. A.; Neilson, R.; MacConnell, P.; Renton, N. C., Deans, W.. Monitoring of fatigue crack
stages in a high carbon steel - Rotating shaft using vibration. Procedia Engineering (2011) 130–135.

Han, B. G.; Yu, Y.; Han, B. Z.; Ou, J. P.. Development of a wireless stress/strain measurement system
integrated with pressure-sensitive nickel powder-filled cement-based sensors. Sensors and
Actuators A 147 (2008) 536–543.

King, K.; Yoon, S. W.; Perkins, N. C.; Najafi, K.. Wireless MEMS inertial sensor system for golf swing
dynamics. Sensors and Actuators A 141 (2008) 619–630.

Vilajosana, I.; Llosa, J.; Schaefer, M.; Surinach, E.; Vilajosana, X.. Wireless sensors as a tool to explore
avalanche internal dynamics: Experiments at the Weissflühjoch Snow Chute. Cold Regions Science
and Technology 65 (2011) 242–250.

Jackson, N.; O'Keeffe, R.; O'Leary, R.; O'Neil, M.; Moriarty, M.; Mathewson, A.. Wireless Accelerometers
for Early Detection of Restenosis. Procedia Engineering 25 (2011) 563 – 566.

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