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DOI: 10.1590/1413-81232014194.

08302013 1041

ARTIGO ARTICLE
A sociologia da saúde no Brasil – a construção de uma identidade

The sociology of health in Brazil – the creation of an identity

Everardo Duarte Nunes 1

Abstract This article analyzes the historical, so- Resumo O artigo analisa na perspectiva de Wolf
cial and cognitive dimensions of the sociology of Lepenies as três dimensões – histórica, social e
medicine in the construction of its identity, from cognitiva – o campo da sociologia da saúde na
Wolf Lepenies’ perspective. It is understood that construção de sua identidade. Entende-se que a
the construction of an identity does not end with construção de uma identidade não se encerra com
the first historical manifestations, but is consoli- as primeiras manifestações históricas, mas se con-
dated when it is institutionalized and structured solida quando se institucionaliza e progressiva-
as a field of knowledge by creating its own forms mente se estrutura como campo do conhecimento
of cognitive expression. The text is divided into criando suas formas próprias de expressão cogni-
three parts: in the first the precursors are pre- tiva. O texto está dividido em três partes: na pri-
sented, highlighting the role played by some trav- meira, são apresentados os precursores, destacan-
elers, naturalists and folklore scholars, followed do o papel desempenhado por alguns viajantes,
by “social physicians-scientists” and the first so- naturalistas e estudiosos do folclore, seguidos pe-
cial scientists (1940-1969). In the second part, los “médicos-cientistas sociais” e pelos primeiros
aspects of the consolidation of the social sciences cientistas sociais (1940-1969); na segunda, aspec-
in health are presented at two significant mo- tos da consolidação das ciências sociais em saúde
ments, namely the 1970s and 1980s. In the third – dois momentos: os anos 70 e os anos 80; na ter-
part, the issues raised by the field are addressed in ceira parte, de forma geral, são abordados os te-
general terms. It is considered that once the main mas tratados pelo campo. Considera-se que, com-
structural stages are in place there is still a need pletadas as principais fases de sua disciplinariza-
for the formation of new generations of social sci- ção há ainda a necessidade de que se estruturem
entists in health. It is also essential to disseminate os canais para a formação das novas gerações de
scientific production and to ensure that the rela- cientistas sociais em saúde, se desenvolvam meios
tions are studied in depth and institutionalized de divulgação da produção científica e se apro-
1
Departamento de Saúde with the sociological matrices on the one hand fundem e se institucionalizem as relações, de um
Coletiva, Faculdade de
and with the field of health on the other. lado, com as matrizes sociológicas e de outro com
Ciências Médicas,
Universidade Estadual de Key words The sociology of health, Historical o campo da saúde.
Campinas. Cidade identity, Social identity, Cognitive identity Palavras-chave Sociologia da saúde, Identidade
Universitária, Barão
Gerado. 13.081-970
histórica, Identidade social, Identidade cognitiva
Campinas SP Brasil.
evernunes@uol.com.br

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Introdução literatura brasileira). Retomamos essa noção que


nos parece adequada para caracterizar os mo-
Muitos trabalhos, ao longo dos últimos anos, mentos iniciais de um campo de conhecimento
procuraram desvendar a trajetória dos estudos que ainda não era sistematizado e cuja instituci-
sociológicos em saúde no Brasil e dentro do onalização ocorreria muitas décadas mais tarde.
material empírico utilizado e das formulações
teóricas que os embasam tornaram-se a fonte de Os precursores
informações para os estudiosos da sociologia da
ciência, da história do pensamento social em saú- Os viajantes
de e da sociologia da saúde. Laurentino Gomes4 cita que em 1949, o his-
Neste artigo, analisamos o processo de cons- toriador e pioneiro da biblioteconomia no Bra-
trução da sociologia da saúde tomando como sil, Rubens Borba de Morais, catalogou um total
referência a perspectiva do sociólogo alemão Wolf de 266 viajantes classificados em cinco grupos:
Lepenies de analisar um campo do conhecimen- comerciantes, mineradores e outros homens de
to a partir de três dimensões que lhe conferem negócio; nobres, diplomatas, militares e funcio-
identidade: a histórica, a social e a cognitiva1. nários de governo; cientistas; pintores e paisagis-
Entendemos que a construção de uma iden- tas; aventureiros, curiosos e gente que chegou ao
tidade não se encerra com as primeiras manifes- país quase por acaso.
tações históricas, mas se consolida quando se Entre os viajantes que se voltaram para as
institucionaliza e progressivamente se estrutura questões das doenças o principal nome é de José
como campo do conhecimento, criando suas for- Francisco Xavier Sigaud [1796-1856]. Segundo
mas próprias de expressão cognitiva. Apresenta- Ferreira5, o livro desse médico e naturalista fran-
mos o texto em três partes: na primeira, os pre- cês, naturalizado brasileiro, médico da família
cursores, destacando o papel desempenhado por imperial brasileira, Du climat et des maladies du
alguns viajantes, naturalistas e estudiosos do fol- Brésil (1844), “Escrito sob a influência do neo-
clore, seguidos pelos “médicos-cientistas sociais” hipocratismo, exigiu de Sigaud vasto conhecimen-
e pelos primeiros cientistas sociais (1940-1969); to da história natural, cultural e social das pro-
na segunda, aspectos da consolidação das ciênci- víncias do Império do Brasil. Seu pressuposto
as sociais em saúde – dois momentos: os anos 70 teórico era que existia forte correlação entre os
e os anos 80; na terceira parte, de forma geral, fenômenos patológicos, o ambiente natural e o
são abordados os temas tratados pelo campo. padrão sociocultural vigente”. Nele o viajante trata
da climatologia, da geografia médica, da patolo-
Identidade histórica gia intertropical e da estatística médica do Brasil,
revelando “o talento de Sigaud como higienista e
Quando analisamos as origens das ciências historiador da saúde”. Segundo Ferreira5, o au-
sociais em saúde no Brasil, constatamos, que, tor inaugura “a tradição de investigação científi-
embora esse campo tenha se firmado a partir de ca dedicada ao tema das “doenças nacionais”, que
datas muito recentes (segunda metade dos anos sobreviveria ao esgotamento do modelo higie-
60 do século XX), apresenta um passado rico em nista clássico”. Em outro trabalho, Ferreira6 irá
ensaios, pesquisas, propostas para o ensino e destacar a importância desse livro no pensamento
projetos de intervenção, notadamente, por meio de Gilberto Freyre para a compreensão da socie-
das atividades em educação sanitária. São ensai- dade brasileira, sendo um dos autores mais cita-
os sobre a medicina, a saúde, os remédios, os dos em Casa Grande e Senzala quanto trata da
hospitais, as chamadas “doenças tropicais” com questão relacionada à insalubridade do clima tro-
incursões em várias disciplinas, como a sociolo- pical como obstáculo ao projeto colonizador
gia, a antropologia, a educação, a história, a geo- português.
grafia e o folclore. Esta revisão não pretende es- Outro destaque é o médico francês Alphonse
gotar todos os nossos “antecedentes”, mas apon- Rendu, que entre 1844 e 1845, foi encarregado
tar o que estamos considerando como precurso- pelo ministério da Instrução Pública da França
res e pioneiros. Novaes2 ao traçar a trajetória do de inventariar as doenças que mais acometiam
pensamento social em saúde, recupera a noção os habitantes locais e os europeus que vinham se
utilizada por Antônio Cândido3 quando se refere fixar no Brasil. Edler7 salienta que esse trabalho
a “manifestações” (“manifestações literárias” para “permitirá destacar uma fase característica da-
distingui-las dos “sistemas literários” – articula- quele ramo da medicina acadêmica europeia, a
ção entre autor, obra e público – na formação da geografia médica, que institucionalizou a viagem

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exploratória como condição inerente à produ- dita”, como: “medicina rústica”, “medicina popu-
ção do conhecimento médico e à formação pro- lar”, “medicina mágica”, “medicina religiosa” e
fissional do médico cujo tirocínio fosse voltado outras. Para Araujo11, a medicina rústica é o “con-
para as populações residentes nos trópicos”. junto de técnicas, de fórmulas, de remédios, de
Entretanto, antes desses médicos, outros via- práticas, de gestos de que o morador da região
jantes também deixaram informações sobre as estudada lança mão para o restabelecimento da
enfermidades de diversas regiões do Brasil no saúde ou prevenção de doenças”.
século XIX. É o caso dos naturalistas Johann Queiroz e Canesqui13 criticam que “De um
Baptiste von Spix [1781-1826] e Karl Friedrich modo geral, a maioria dos autores “folcloristas”,
von Martius [1794–1868]. Ambos formaram-se quando apresentam uma preocupação teórica ou
em medicina; Spix dedicou-se à zoologia e von uma elaboração mais complexa do tema, como
Martius à botânica. Em circunstanciado traba- ocorre, por exemplo, com Cabral e Araújo, con-
lho Lisboa8 conta-nos sobre a viagem e o relato sideram a “medicina popular” como um conjun-
que fizeram ao percorrerem o Brasil de 1817 a to de crenças e práticas “rústicas” e “imitativas”,
1820, procurando “perfilar a visão de natureza resultado da difusão de medicinas eruditas pas-
dos autores” e “identificar as bases do ‘projeto sadas e das diferentes etnias que compuseram a
civilizatório” desses viajantes. população brasileira”. Ressaltam que dois traba-
lhos iriam marcar diferença quando compara-
Os folcloristas dos a esses, os de Fernandes14 com pesquisas so-
O historiador da medicina Santos Filho9 rela- bre folclore realizadas em 1942 e Fontenelle15.
ta que até o século XIX a prática médica no Brasil, Witter16 salienta que foram os antropólogos e
pela precariedade da formação em medicina, es- os sociólogos os primeiros a se dedicarem aos
teve a cargo, de forma preponderante, da medici- estudos sobre as “práticas de cura entre os popu-
na popular. Novaes2 escreve que não se pode “ne- lares”, e mais tarde (década de 1990) os historiado-
gligenciar a importância das medicinas dos índi- res. Para ela os trabalhos de Loyola17, Montero18,
os do Brasil, das medicinas religiosas nem das Oliveira19, “fugiram das abordagens folclóricas e
crenças e práticas terapêuticas populares”, pois religiosas acerca das práticas de cura populares e
constituem parte dessa configuração pluralista da encontraram nelas e em seus praticantes uma co-
medicina brasileira, sendo que “No Brasil, por erência nas ideias relativas ao funcionamento do
longo tempo, a etnomedicina dominou largamen- corpo e às ações do mundo e dos homens sobre
te a produção na área da antropologia médica”. ele”. Acrescenta que, “a diferença de entendimento
Ressalte-se que a partir dos anos 50 são pu- advinha de uma racionalidade específica e de ne-
blicados alguns dos textos mais expressivos dos cessidades práticas e simbólicas diferentes, mas
estudos folclóricos em saúde, como os de Ca- não destituídas de valor, nem atrasadas ou fruto
bral10 e Araújo11. Segundo Carvalho12, é o perío- simplesmente da ignorância e da superstição. Pelo
do marcado pelas ideias de moderno e de pro- contrário, as práticas de cura populares seriam
gresso, no sentido de superação de etapas – “com uma criação original e não simplesmente reativa
a modernização da agricultura e sua adequação a outros saberes ou à falta deles”.
às exigências do progresso, dando lugar à indus- Na pesquisa sobre as ciências sociais em saú-
trialização, símbolo máximo da modernização de na América Latina, período de 1950-1985, a
daqueles tempos”. Ao mesmo tempo, foi nessa categoria “medicina tradicional” englobava 18,4%
década que ocorreu o “movimento folclórico”, da produção; de 1950-1979, totalizava 26,8% e
iniciado em 1947, estende-se e atravessa a década decrescia para 5,6%, de 1980-198520.
de 1950 visando o reconhecimento do folclore Para Vilhena21 (apud Novaes2), “o movimen-
como saber científico. Nesse período é realizado o to folclórico se viu derrotado ao longo do pro-
Primeiro Congresso do Movimento Folclórico do cesso de consolidação do campo intelectual bra-
Brasil (1951) que não somente definiu fato fol- sileiro e, no entanto, durante a década de 50
clórico – “maneiras de pensar, sentir e agir de um mostrou vigor e capacidade para responder aos
povo, preservadas pela tradição popular e pela dilemas intelectuais e institucionais que afligiam
imitação” –, mas reconheceu o seu estudo como os nossos intelectuais. Contudo, seus membros
integrante das ciências antropológicas e culturais12. foram reconhecidos menos por esse papel e mais
Lembramos que em suas relações com a me- pelos esforços de alguns deles em compor obras
dicina e a doença existem várias denominações e trajetórias influentes em antropologia e socio-
para se contraporem à chamada “medicina eru- logia”.

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Os médicos cientistas-sociais Entre os que vieram para a recém-criada


Geralmente, na referência aos médicos-cien- FFCL, destacamos Roger Bastide [1898-1974].
tistas sociais, o primeiro nome que se destaca é o Chegou em 1938, permaneceu no Brasil durante
de Nina Rodrigues [1862-1906]. Paiva22 chama a dezesseis anos e formou as primeiras gerações de
atenção para a importância que teve o estudo de sociólogos brasileiros (Florestan Fernandes,
Mariza Correa23 sobre esse médico e antropólo- Maria Isaura Pereira de Queiroz, Gilda de Mello
go que dá nome à escola formada por Arthur e Souza, Fernando Henrique Cardoso e muitos
Ramos [1903-1949] e Afrânio Peixoto [1876- outros). Realizou marcantes trabalhos no cam-
1947], mas como observou Corrêa, há distanci- po da sociologia e da antropologia, incluindo os
amentos entre os projetos de cada geração de estudos de psiquiatria social, psicanálise e doen-
pesquisadores. ça mental, relações raciais, folclore. Embora pre-
Esses médicos voltaram-se para a antropo- cedida por vários trabalhos25,26, a sua principal
logia, num momento em que não existia uma obra no campo da sociologia da doença será
formação especializada nesse campo, associan- publicada em 1965, tratando da doença mental27.
do-a à psiquiatria, à medicina forense, aos estu- Para a ELSP, chegou em 1939 o antropólogo
dos sobre raça e eugenia. norte-americano Donald Pierson [1900-1995]
Para Novaes2, “Nina Rodrigues tipifica o inte- formado pela Escola Sociológica de Chicago e
lectual aderido a uma das formas que o pensa- que teve forte influência sobre a primeira gera-
mento social em saúde teve no Brasil: o pensa- ção de pós-graduandos em sociologia e antro-
mento higienista”. Autor de uma diversidade bas- pologia no Brasil. Entre seus orientandos cita-
tante grande de pesquisas – das questões do sa- mos Oracy Nogueira [1917-1996] com seu estu-
neamento sanitário à questão racial, dentro dos do sobre pacientes tuberculosos internados28.
enfoques das teorias eugênicas então vigentes –, Entre os orientandos de outro antropólogo da
Nina Rodrigues defendia um estado centraliza- ELSP, Herbert Baldus [1899-1970], que chegou
dor e uma visão unicausal da doença e era adepto ao Brasil em 1923, voltou para a Alemanha
da teoria dos miasmas para explicar a propaga- (1928), para estudar etnologia e, em 1933, trans-
ção das doenças. Cumpre destacar, como faz feriu-se definitivamente para o Brasil, assumin-
Maio24, que Participante ativo do processo de ins- do em 1939 a cadeira de Etnologia Brasileira da
titucionalização da medicina na virada do século, ELSP, citamos Gioconda Mussolini [1913-1969],
Nina canalizou suas ações para uma série de inves- com a pesquisa sobre a doença e morte em duas
timentos que resultaram no avanço da autonomia tribos brasileiras29. Outro ex-aluno da ELSP, Al-
da categoria médica. Para isso, competiu com a tra- ceu Maynard de Araújo11, após a conclusão do
dição clínica, até então dominante, demarcando o bacharelado em 1944, participou de pesquisas de
espaço de atuação específica da medicina legal. comunidade no Projeto de Pesquisas no Vale do
São Francisco (1950), orientadas por Pierson,
Dos anos 40 à década de 60 publicou em 1959, Medicina rústica, com parte
do material pesquisado, como é detalhadamente
Nesta tentativa de traçarmos alguns aspectos descrito por Oliveira30.
da trajetória histórica da sociologia da saúde, um Data, também, dos anos 40, o trabalho de
período especialmente instigante e recentemente outro egresso da pós-graduação da ELSP e que
revisitado pelos historiadores da saúde, sociólo- se tornaria referência maior da sociologia brasi-
gos da saúde, educadores e antropólogos é aque- leira – Florestan Fernandes. Sua dissertação de
le que se estende do final dos anos 30 até meados mestrado, de 1947, orientada por Herbert Bal-
dos anos 60 do século XX. Nessa época desta- dus, versou sobre a organização social dos Tupi-
cam-se os cientistas sociais estrangeiros que aqui nambá, e nesse mesmo ano da defesa ele publi-
chegaram logo após a criação da Escola Livre de cou dez artigos sobre a “Viagem ao Tocantins”
Sociologia e Política de São Paulo – ELSP (1933), do médico Júlio Paternostro que ele denominou
atual Fundação Escola de Sociologia e Política de “Um retrato do Brasil”. Fernandes31 “se apoiou
São Paulo (FESPSP) e, da Faculdade de Filosofia, naquela fonte para discutir o significado da opo-
Ciências e Letras – FFCL, da USP (1934), atual sição entre litoral e sertão e indicar a necessidade
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Huma- de pesquisas feitas por especialistas sobre as po-
nas (FFLCH - USP). Acrescente-se a criação do pulações e as relações sociais no interior do país.
SESP (Serviço Especial de Saúde Pública), em 1942, Ressaltou ser o trabalho de Paternostro um tra-
que teria papel importante no campo da saúde e balho “interessado”, motivado pelas convicções
das atividades de antropólogos e sociólogos. socialistas do médico, o que conferia um caráter

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de denúncia ao livro, que via como aspecto posi- nia, assume a direção da DES, “define as primei-
tivo, a despeito de apontar simplificações, omis- ras diretrizes para um programa de educação
sões e superficialidade no tratamento de algu- sanitária dirigido aos escolares, aos setores po-
mas questões”, como analisam Maio e Lima32. pulares das áreas rurais e das periferias urbanas
Fernandes31, no que se refere à saúde, aponta a e ao treinamento de pessoal”34. Em “A educação
presença e importância da medicina popular e sanitária no Brasil” Wagley41 irá desenvolver suas
suas relações com a medicina científica, incluin- ideias sobre a educação sanitária, relacionando-
do a utilização de curandeiros, defendida por a com o problema da alimentação, na modifica-
Paternostro, após algum treinamento com os ção de hábitos e atitudes relativos à saúde, ao
médicos. papel do médico que deveria “determinar o que
Essas manifestações fazem parte do momen- deve ser ensinado ao povo”, pois “a classe médica
to inaugural das ciências sociais em São Paulo, é o grupo melhor preparado cientificamente no
como atividade acadêmica e que se completa com Brasil”. Propõe a utilização dos recursos audio-
os cientistas sociais que participaram dos proje- visuais devido à elevada proporção de analfabe-
tos em saúde pública. Essa vertente inicia as ati- tos no Brasil (Censo de 1940), com projetores de
vidades nos anos 40, estendendo-se por toda a filmes e slides, aparelhos de som, máquinas fo-
década de 50, também teve a participação estran- tográficas importados dos Estados Unidos. Ob-
geira, relacionou-se diretamente com o projeto serve-se que os filmes abordando temas da saú-
de educação sanitária, desenvolvido pelo SESP. de têm forte componente ideológico, visando di-
Estudos recentes32-37 têm resgatado a contri- fundir valores a serem incorporados pelas ca-
buição trazida por muitos cientistas sociais que madas populares. O alto custo dos filmes e as
participaram desse movimento no campo da saú- dificuldades de seu uso conduziram à busca de
de pública, destacando-se Jose Arthur Rios [1921]. outros meios mais adequados às características
Seus artigos “Ciências sociais e saúde pública” e das camadas populares das áreas rurais e perifé-
“A saúde como valor social” foram publicados ricas. Na história do SESP irá ocorrer a sua inte-
em 195338,39. Foi coordenador da seção de Pes- gração com outras instituições, como a articula-
quisa Social do SESP (criada em 1953) da qual ção com a Campanha de Educação de Adoles-
fariam parte dois outros cientistas sociais, Luiz centes e Adultos, em 1947, e, em 1948, na avalia-
Fernando Raposo Fontenelle [1929-2008] autor ção realizada pelos sanitaristas do Serviço será
de “Aimorés: análise antropológica de um pro- apontada a necessidade de incluir a assistência
grama de saúde”15 e Carlos Alberto de Medina médica curativa e as medidas preventivas. Nos
[1932-2010] que também se dedicaria aos estu- anos 50, ocorrerão grandes mudanças no SESP –
dos urbanos, favelas, família40. convênios com os estados, novas propostas de
Como escreve Cardoso37, esses cientistas exer- educação para a saúde e a incorporação das no-
ceram forte influência no campo dos estudos vas ideias sobre o desenvolvimento econômico
conhecidos como “estudos de comunidades” e (modelo de Rostow), incluindo a proposta de
“conduzidos de modo a implantar no país um realização de estudos de comunidades34. O mo-
modelo de saúde preventiva baseado na pers- delo adotado pelo SESP será alvo de críticas, in-
pectiva de organização das comunidades assisti- clusive pelos sanitaristas do Serviço que fazem,
das”. A educação sanitária seria parte integrante em 1956, uma autocrítica (citada por Braga e
dessa corrente de pensamento, preocupada em Paula42) ressaltando a tentativa de aplicar em
“formar a consciência sanitária como um dos nosso país esquemas utilizados em outros paí-
objetivos prioritários para o sucesso de sua in- ses, sem considerar as diferenças econômicas,
tervenção”. sociais e tecnológicas.
Nesse processo, dois antropólogos norte- Ainda na década 1940-1950 há destaques im-
americanos serão personagens importantes: portantes para o conhecimento da saúde no Bra-
Charles Wagley [1913-1991] e Kalervo Oberg sil. Citamos Josué de Castro [1908-1973] médi-
[1901-1973]. co, geógrafo, cientista social, Gilberto Freyre
Lembre-se que, inicialmente, a educação para [1900-1987] sociólogo, antropólogo, historiador
a saúde não se apresenta como prática sanitária, e o sociólogo Alberto Guerreiro Ramos [1915-
mas como programa para formação e aperfei- 1982]. O primeiro, pelos estudos em nutrição e
çoamento de profissionais que ingressam no alimentação, desde os anos 30, e a publicação de
SESP e somente em 1944 é que se estabelece a Geografia da fome, em 194643; o segundo, que
Divisão de Educação Sanitária – DES. Nessa data, após ministrar um curso de sociologia médica,
Charles Wagley, que já havia estado na Amazô- no Recife em 1965, publicaria, em 1967, Sociolo-

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gia da medicina44 e Guerreiro Ramos, que na dé- pelo processo de institucionalização através do
cada de 1950 procurou “articular problemas so- qual a disciplina procura se estabilizar do ponto
ciais como a mortalidade infantil a uma perspec- de vista de sua organização”47, a sociologia inicia
tiva de desenvolvimento nacional segundo a qual este processo com a criação dos primeiros cur-
a industrialização e o crescimento econômico ala- sos de sociologia (ELSP, 1933, USP, 1944, Univer-
vancados pelo Estado constituíam as principais sidade do Distrito Federal/RJ, criada em 1935 e
vias de transformação das condições sanitárias extinta em 1939), e a saúde coletiva com a criação
do país”45. de uma associação que estatuiu os seus objetivos
O período que estamos analisando em rela- de ensino, pesquisa e extensão, em 1979, criando
ção às ciências sociais em saúde foi pesquisado a Abrasco (Associação de Pós-Graduação em
por Villas Bôas que se dedicou à produção bra- Saúde Coletiva) e, quase vinte anos depois,
sileira das ciências sociais, lato senso, dos anos iniciando a publicação da sua revista – Ciência e
de 1945-1964, onde podem ser distinguidas duas Saúde Coletiva, em 1996 .
categorias de estudos – “científicos” e “ideológi- Podemos dizer que as ciências sociais, de for-
cos”46. Como interpreta a autora, “Produzir co- ma geral, passam a fazer parte da academia no
nhecimento naquele contexto histórico, certa- momento em que o seu ensino é introduzido de
mente significava contribuir para o processo de forma sistematizada nas escolas médicas, na
transformações e consumação de um projeto metade dos anos 60, posteriormente na enfer-
histórico”47. Estas observações não são estranhas magem e, na pós-graduação, nos anos 70. Ao
às ciências sociais em saúde desse período, como mesmo tempo é a partir dos anos 70 que cientis-
visto nos parágrafos anteriores, quando alguns tas sociais defendem suas teses de doutorado com
projetos almejavam contribuir para um proces- temáticas da saúde, em diversas instituições uni-
so de mudanças. versitárias brasileiras como UNICAMP, USP,
O crescente interesse pelas ciências sociais a UERJ, UFMG, dentre outras. Tendo conseguido
partir da metade dos anos 60 e início dos 70 esta- efetivar o seu projeto no campo pedagógico, a
rá associado a um projeto de mudança de cará- sociologia da saúde, no final dos anos 70 e nos
ter institucional – o ensino médico. Como resul- anos 80, estende suas atividades para a esfera das
tado de discussões que ocorreram desde a se- políticas de saúde, num momento em que as pro-
gunda metade dos anos 50, acentuam-se as críti- postas de reforma sanitária brasileira tornam-se
cas aos modelos que estruturavam a educação ponto de referência de médicos, cientistas, políti-
médica na América Latina e que em outros países cos, educadores, como parte do processo de re-
já haviam produzido tentativas de reformas do democratização da política nacional. Muitos dos
ensino, dirigidos à atenção integral aos pacien- sociólogos que participaram desse movimento
tes, assim como à integração dos conhecimentos são os mesmos que haviam participado da in-
biológicos, psicológicos e sociais na compreen- trodução do ensino na área da saúde e continu-
são do processo da doença. Além das questões aram nas décadas de 80 e 90 junto ao movimen-
educacionais contatava-se a presença de preocu- to de formalização da Saúde Coletiva. Sem dúvi-
pantes indicadores de saúde mostrando a alta da, neste campo os cientistas sociais têm sido
mortalidade infantil e o desamparo oficial de ex- protagonistas de vanguarda e a colaboração tra-
tensas camadas da população sem atenção mé- zida, que se iniciara nos cursos de graduação,
dica básica. Os caminhos encontrados: incremen- volta-se novamente para a graduação da saúde
tar estudos que dessem conta dos aspectos soci- coletiva, na formação de sanitaristas, que até en-
ais e coletivos da saúde, formar pessoal especi- tão acontecia somente em cursos de pós-gradua-
alizado quer seja na especialização em saúde pú- ção e especialização.
blica, quer seja nos cursos de pós-graduação e Sem dúvida, o magistério foi a porta de en-
formalizar apoios financeiros para as pesquisas trada do cientista social no campo da saúde, e
em saúde. segundo pesquisa recente a partir de informa-
ções da Plataforma Lattes foram encontrados 238
Identidade social cientistas sociais com atividades no campo da
saúde48, em sua maioria como professores e pes-
Para se entender o momento em que a socio- quisadores.
logia da saúde inicia o estabelecimento de sua A diversificação de atividades é constatada
identidade social, fazemos inicialmente uma re- por Barros49 no estudo sobre a inserção dos ci-
ferência à sociologia e à saúde coletiva no Brasil. entistas sociais na gestão dos serviços de saúde.
Entendendo-se que a identidade social “é forjada Nessa pesquisa foram identificados 31 profissi-

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onais e 14 pesquisados em profundidade nos 645 sociologia, fazem-se presentes temas relaciona-
municípios do Estado de São Paulo (70,7% res- dos a: descentralização, conselhos, participação,
ponderam à consulta telefônica) e que exerciam cidadania e movimentos sociais, saúde da famí-
atividades junto às Secretaria Estadual e Munici- lia; em relação à epidemiologia, mais de 1/3 dos
pais de Saúde. O autor trabalha com as ideias de trabalhos enviados reportam-se à questão saú-
credencial, conhecimento e contradição constru- de-doença em diferentes abordagens.
indo uma tipologia que tem como tipo ideal a Estudo sobre o V Congresso de Ciências So-
presença de forte credencial com muito conheci- ciais e Humanas, em 201152, aponta que os 21
mento, mas existente somente no plano ideal. A Grupos de Trabalho totalizaram 1.482 trabalhos.
célula que apresenta fraca credencial e pouco co- Em número de trabalhos apresentados, os cinco
nhecimento seria exemplificada pelos cientistas principais grupos foram: movimentos sociais e
sociais que estão na rede de serviços de saúde. educação popular em saúde (156), integralidade,
Outra forma de comprovação que assegura mediações sociais e justiça na demanda por cui-
que a sociologia da saúde encaminha-se para dado em saúde (137), humanidade e humaniza-
formalizar a construção da sua identidade social ção em saúde (132), análise de narrativa e expe-
pode ser vista na constituição de grupos de pes- riência de saúde, adoecimento e cuidado (130),
quisa, seminários e congressos. Pesquisa sobre análise de políticas públicas e de saúde no Brasil
os grupos de pesquisa em saúde no Brasil cons- (107). Duas tendências são apontadas: “a pulve-
tatou a existência de 42 grupos específicos de so- rização de temas ou questões abordadas” e a “pre-
ciologia da saúde no campo da saúde coletiva valência de análises microssociais”.
que totaliza 653 grupos. Pode parecer um núme-
ro pequeno (1,87%), mas deve-se levar em con- Identidade cognitiva
sideração que muitos dos outros 47 campos dis-
ciplinares da saúde coletiva também utilizam Lepenies estabelece que a identidade cogniti-
métodos e teorias das ciências sociais50. va emerge quando é possível identificar clara-
A visibilidade do campo pode, ainda, ser cons- mente as orientações de pesquisa, os paradig-
tatada pela realização de atividades coletivas. A mas, os problemas e os instrumentos em um
área já realizou seis congressos nacionais, tendo campo específico de conhecimento. Foi com base
o sexto ocorrido em novembro de 2013, no Rio nessa dimensão que Villas Bôas46 realizou exten-
de Janeiro. Foram também realizados dois semi- sa pesquisa em 700 livros, do período de 1940-
nários em Campinas (2011 e 2012) e um Con- 1964, a fim de analisar a produção científica das
gresso Latino-Americano de Ciências Sociais em ciências sociais no Brasil.
Saúde (2004). Acrescente-se que a Sociedade Bra- Tanto na identidade histórica como na so-
sileira de Sociologia (SBS) incorporou entre os cial, o campo foi cotejado com a produção cien-
grupos de trabalho o de Saúde e Sociedade e a tífica, mas ao tratarmos da identidade cognitiva
Associação Nacional de Pós-Graduação em Ci- destacamos, de forma geral, o período que se
ências Sociais (ANPOCS) incluiu entre os seus inicia nos anos 70.
seminários temáticos a questão da saúde e políti- Nessa década as ciências sociais em saúde
cas públicas. marcam de forma clara sua presença no cenário
A produção científica desses congressos vem do conhecimento. Isto ocorre em diferentes ins-
sendo analisada fornecendo importantes apor- tituições onde aparecem muitos trabalhos que
tes para a área. O trabalho de Gomes e Goldem- utilizam teorias, conceitos e métodos sociológi-
berg51 revisa os encontros e os congressos de Ci- cos caminhando para uma produção sistemati-
ências Sociais em Saúde (1993, 1995 e 1999) apon- zada e regular. A produção estende-se por diver-
tando um crescente desenvolvimento de temáti- sas áreas e temáticas, salientando-se os estudos
cas e enfoques nos campos da antropologia, so- epidemiológicos, as análises sobre as relações
ciologia e epidemiologia. Dos achados do traba- saúde e trabalho, prática médica, empresas mé-
lho destacamos no âmbito da antropologia, não dicas, produção de medicamentos, assistência
somente uma “permanência do passado nas te- médica, prática de saúde53. Ilustraremos com uns
máticas voltadas para as práticas tradicionais”, poucos exemplos. São teses e livros que tratam
vistas em momentos anteriores, mas a preocu- de assuntos pioneiros na literatura nacional, e
pação com “as racionalidades embutidas nessas que incluem trabalhos de cientistas sociais, mé-
práticas e nas relativas à medicina oficial” – antes dicos e outros profissionais, como o estudo so-
denominadas sistemas tradicionais, agora cha- bre o processo de estigmatização da lepra54, es-
madas de práticas alternativas; no âmbito da colha da medicina como profissão55, hábitos ali-

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mentares56, análise crítica da medicina preventi- realizadas no âmbito dos cursos de pós-gradua-
va57, mercado de trabalho médico58, emergência ção em saúde coletiva. Predominam temas rela-
da medicina comunitária59, enfermagem como cionados à política e instituições de saúde, saúde
profissão60, origens da medicina social brasileira e sociedade, recursos humanos, planejamento,
e da psiquiatria61, instituições de saúde62, o tra- gestão e avaliação dos serviços de saúde e, logo
balho médico na perspectiva do materialismo abaixo os movimentos sociais e saúde, educação
histórico63, e muitos outros trabalhos. e comunicação em saúde, saúde reprodutiva, se-
Sem dúvida, nos anos 70, o social como ana- xualidade e gênero, teoria e metodologia da pes-
lisou Donnangelo53, referindo-se aos estudos epi- quisa, sistemas terapêuticos ou alternativos de
demiológicos, mas que estendemos aos demais, cura, violência e saúde66.
“não aparece sob a forma de uma variável adici- No início dos anos 2000 a diversidade temá-
onada ao elenco de fatores causais da doença, tica continua presente; além dos temas anterio-
mas como um campo estruturado no interior res consolidam-se aqueles voltados para o estu-
do qual a doença adquire um específico signifi- do social da ciência e da técnica, políticas públi-
cado social”. As pesquisas realizadas abriam um cas e de saúde, racionalidades e práticas em
caminho e demarcavam um campo que nas dé- medicina(s) e saúde, subjetividade e cultura, gê-
cadas seguintes seria amplamente desenvolvido. nero e saúde. Outros temas como avaliação de
Assim, um estudo de uma amostra da pro- políticas de saúde e programas, comunicação e
dução nos anos 90 evidencia o interesse em se redes de informação, violência e saúde e constru-
“pensar a área”64, reafirmando as amplas possi- ção social da saúde e da doença aparecem em
bilidades das análises sociológicas, em diversos menores proporções67.
temas, mas com poucos trabalhos de caráter epis- A partir de 2000, diversos trabalhos procura-
têmico, em que as questões teóricas estejam pre- ram mapear a produção científica de diversas
sentes de forma detalhada. maneiras sendo que a análise de artigos aparece
Ao longo dos anos o campo foi se estrutu- em diversos deles. Em uma análise de 411 artigos
rando em vertentes teóricas, situando-o no mes- e 87 resenhas de sete periódicos da área da saúde
mo nível de outros campos de interesse da socio- coletiva, período de 1997-2007, que se autorreferi-
logia, antropologia e ciência política. Nesse senti- ram como pesquisa qualitativa não foram encon-
do, trava-se um debate frente à crise dos mode- tradas marcantes diferenças com as pesquisas já
los das grandes explicações, totalizantes, o que realizadas. Sobre as temáticas, em ordem decres-
conduz à percepção da necessidade de se traba- cente pelo volume da produção, os destaques são
lhar os micros aspectos sociais, a subjetividade, a para políticas e instituições de saúde, saúde e do-
questão da construção das identidades coletivas, ença, gênero e saúde, violência e saúde, velhice e
com a utilização de conceitos que permitissem a envelhecimento, recursos humanos, profissões e
mediação entre estrutura e ação social. Também formação, estudos sociais das ciências e das técni-
critica-se o caráter restritivo que ocorreu na aná- cas e educação e comunicação em saúde68.
lise das relações do Estado com as políticas de Nesta cartografia do campo, a pesquisa de
saúde quando da utilização de uma perspectiva Deslandes e Iriart69 em 266 artigos publicados
estrutural. Novamente, volta-se a comentar a em três periódicos (Ciência e Saúde Coletiva,
necessidade de se articular as dimensões macro e Cadernos de Saúde Pública e Interface), selecio-
micro, associadas ao resgate dos atores coleti- nados a partir da leitura de 1.128 resumos como
vos. De outro lado, a doença passa a ser estuda- pertencentes ao campo das ciências sociais e hu-
da em seus aspectos simbólicos, por meio das manas encontrou alguns dados que são de inte-
próprias narrativas dos sujeitos adoecidos. As resse para a nossa apresentação. Segundo os au-
trajetórias profissionais irão acrescentar ao cam- tores, “Um total de 124 artigos (46,6%) define
po dos estudos das profissões de saúde, especial- claramente sua filiação a um referencial teórico
mente a médica, uma nova perspectiva, comple- metodológico”, procedentes de uma grande vari-
tando os aspectos histórico-sociais que já vinham edade de perspectivas das diversas disciplinas das
sendo objeto de investigação, numa vertente de ciências sociais e humanas. Evidenciam que os
pesquisas qualitativas extremamente originais65. estudos utilizam diferentes definições de repre-
A década de 90 seria um momento de conso- sentações sociais, das abordagens hermenêuti-
lidação das pesquisas em ciências sociais, ampli- cas, construtivistas/construcionistas e das mais
ando temáticas, incluindo novas; é também o diversas correntes teóricas como estudos cultu-
momento em que há um movimento ascendente rais, interacionistas simbólicos, materialismo his-
de pesquisas fora do campo exclusivo daquelas tórico, etc. Chamam a atenção que do ponto de

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vista da análise dos dados da pesquisa a quase Considerações finais
total predominância da análise de conteúdo.
Importante contribuição para a compreen- À construção da identidade subjaz uma poderosa
são do campo na perspectiva do conhecimento construção social e ao longo dessa trajetória onde
foi trazida por Minayo70 ao analisar os “cami- se cruzam biografias, historia e estrutura, para usar
nhos do pensamento” em ciências sociais e hu- uma ideia de Wright Mills72, as ciências sociais em
manas sem a preocupação de estabelecer divi- saúde, e em particular a sociologia da saúde foram
sões disciplinares. Após o levantamento de 1.757 descobrindo passagens, trilhas, caminhos, estra-
artigos de sete revistas - Revista de Saúde Públi- das buscando a sua institucionalização.
ca, Cadernos de Saúde Pública, Ciência & Saúde De certa forma, repete-se no campo particu-
Coletiva, Physis, Interface, História, Ciência e lar, o que havia ocorrido no campo maior da
Saúde e Saúde e Sociedade - (período de janeiro sociologia. Ortiz73, ao analisar o campo dos es-
de 2011 a agosto de 2012), encontrou 545 (33,0% tudos culturais, lembra que “No Brasil, para utili-
do total) que são de ciências sociais e humanas zar um termo caro à intelectualidade latino-ame-
stricto sensu ou de saúde coletiva que utilizam o ricana, a institucionalização das ciências sociais é
referencial teórico ou metodológico dessas áreas. ‘tardia’. A ‘escola paulista’ de sociologia, personi-
Ao classificar essa produção constata a existên- ficada na figura de Florestan Fernandes, data dos
cia das seguintes temáticas: status das ciências anos de 1950". Nesse momento, outras discipli-
sociais e humanas em saúde; instituições; inter- nas, como a antropologia, certamente existiam,
pretação das ações e fenômenos humanos e so- mas apenas de forma incipiente, desenvolvendo-
ciais que afetam a saúde; relações de poder e pro- se em pontos distantes e desconectados do país e
fissionais; sentidos atribuídos pelos atores à saú- praticadas por um número bastante reduzido de
de, doença e ao sistema (este é o item que contém pessoas (a ciência política não existia ainda como
maior número de artigos); saúde de grupos es- especialização).
pecíficos. Relevante é a consideração que “As abor- As ciências sociais se consolidam nos anos 70
dagens conceituais e metodológicas são as mais e 80, com a emergência de um sistema nacional
diversas, passando por teorias sociais que privi- de pós-graduação, no momento em que se inici-
legiam o papel do ator, os estudos instituciona- ava um processo de formação dos primeiros
listas, a historiografia e a história oral, as abor- “grupos” de cientistas sociais em saúde e tam-
dagens econômicas, a fenomenologia, o compre- bém da pós-graduação em saúde pública e saúde
ensivismo, a hermenêutica, o referencial marxis- coletiva. Neste sentido, cumpre destacar que di-
ta, as teorias empiristas, a etnografia, a etnome- ferente de outros países (Estados Unidos), as ci-
todologia e, embora em resquício, algumas abor- ências sociais em saúde tiveram um estreito vín-
dagens funcionalistas”. culo com a área da saúde e não com a área das
Toda esta revisão destaca a presença das ciên- humanidades no campo universitário. Há, in-
cias sociais em saúde como parte integrante do clusive, em alguns momentos da sua trajetória,
conhecimento, caracterizando-se por uma pers- especialmente nos anos 80, quando “estabiliza-
pectiva teórica pluralista e por uma diversidade ram-se no alcance de institucionalização”2 uma
metodológica ampla, com forte referência à pes- visão “instrumental e restrita que tendia a identi-
quisa qualitativa. Já nos anos 80, Pereira71, ao ficá-las pelo exclusivo e limitado recorte da polí-
elaborar o primeiro trabalho de análise teórica tica de saúde”. Para Novaes2 a visão utilitarista e
das teorias subjacentes ao campo da medicina instrumental previa que o cientista social perde-
social, apontava que os referenciais da sociologia ria a sua importância e papel no momento em
a partir do funcionalismo estrutural, materialis- que a Reforma Sanitária concluísse o seu proces-
mo histórico e sociologia compreensiva estavam so, o que não ocorreu.
presentes nas pesquisas realizadas. Ao resgatar Em realidade, a expansão atual, inclusive com
alguns exemplares produzidos na década de 70, a publicação de coletâneas e livros, não analisa-
Pereira desvelava a presença dos grandes teóri- dos neste artigo, conduziu a uma melhor qualifi-
cos da sociologia no campo das pesquisas em cação das pesquisas e a retomada da metodolo-
medicina/saúde. gia sociológica como fundamental para as pes-
quisas em saúde, com ênfase na pesquisa quali-
tativa e uma pluralidade teórica, sem as polari-
zações de décadas anteriores.

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Como mostramos em outros trabalhos e de, se ampliem e se criem novos meios de divul-
neste artigo, a identidade da Sociologia da Saúde gação da produção científica e se aprofundem e
está sendo construída e passada a “fase heróica” se institucionalizem as relações, de um lado com
enfrentada pelos primeiros cientistas sociais. As- as matrizes sociológicas e de outro, com o cam-
sim, compreendemos que há a necessidade de po da saúde. O presente estudo é parte do Projeto
que se formalizem os canais para a formação História da Sociologia da Saúde, Bolsa de Produ-
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