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Este trabalho é parte da pesquisa sobre representação social de criança pelos gestores de
Educação Infantil. Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada com 27 gestores, de
12 instituições privadas do Município do Rio de Janeiro, pertencentes à Associação
Brasileira de Educação Infantil – ASBREI. Está fundamentada na teoria das
representações sociais, de Serge Moscovici (1978), articulada com estudos sobre
imagens fotográficas. Foram selecionadas 16 fotografias para expressarem a noção de
desenvolvimento da autonomia, com base no Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil (BRASIL, 1998). Logo nas primeiras entrevistas percebemos a
apreensão dos entrevistados surpresos com a fotografia de crianças brigando, saltando
ou subindo escadas, sem a presença de um adulto. A foto nº 2, por exemplo, possui
várias leituras: para alguns, crianças subindo escadas sozinhas significa autonomia, para
outros se trata de uma atividade perigosa. A foto nº 15, em que um menino salta de um
pequeno banco é a que mais representa “ser criança”. Para 29,63 % dos gestores ela é a
expressão de liberdade, de conquista, do enfrentar desafios, de não ter medo. Assim, ao
conhecermos as representações sociais de criança de um grupo, será possível
trabalharmos as novas práticas de formação deste mesmo grupo.
observador que pode ver num signo muito mais que uma representação do real, ela não
passaria de um simples registro documental.
No entanto, apesar de também cumprir este papel, a fotografia ultrapassa os
limites de um simples registro, na medida em que, enquanto signo recebe um
reconhecimento particular por parte do sujeito. Ele ainda afirma que a fotografia é
sempre imagem de algo e está atrelada ao referente histórico que o gerou (BARTHES,
1980). Ler uma fotografia implica em reconstruir no tempo seu assunto, derivá-lo no
passado e conjugá-lo a um futuro virtual. Aumont (2008) assinala que a imagem existe
para ser vista por um sujeito espectador que está inserido em um contexto determinado.
Assim, o sentido que é dado a uma imagem é um sentido socialmente construído
afastando a hipótese de um olhar ocasional, vale dizer, neutro. É na relação do sujeito
que observa com o objeto de sua observação, que a imagem se constrói. Nessa relação
há uma gama de emoção, afeição, história, crença e memória. É um meio de
comunicação que além de transmitir informações, preserva memórias através da
representação da realidade. Não é apenas uma imagem congelada no tempo, mas uma
mensagem processada através dele.
No campo das representações sociais, os estudos da escola como objeto têm
revelado imagens que a identificam como um espaço simbolizado, formado de múltiplas
relações entre o real e o imaginário (SOUSA, 2007). Na identificação e compreensão
das leituras de prédios escolares de Teresina (PI) e Natal (RN), Sales (2000) se valeu de
imagens fotográficas para captar dados de natureza subjetiva relacionados ao valor
simbólico dos diversos estilos de arquitetura dos prédios escolares dessas cidades.
À semelhança deste estudo, Lustosa, Carvalho e Sales (2007) optaram por
utilizar também a fotografia em estudo sobre desvalorização da profissão docente,
utilizando fotografias de professor nos diversos locais de trabalho. O estudo concluiu
que este recurso metodológico contribuiu tanto para a mobilização quanto para a
apreensão das representações sociais de professor. Já o estudo de Sousa (2007), sobre
‘Escola: Lugar de conhecimento, compromisso, desafios para estudantes de Pedagogia e
Medicina’, discute por meio das representações sociais, as imagens da escola por
universitários paulistas, através da narrativa desenhada (desenho) combinada às técnicas
de narrativas escritas.
Fischman (2004) acredita que os processos de recepção e percepção não são atos
passivos e nem determinados por convenções sociais. Para Brennan (apud FISCHMAN,
9
2004, p. 115), a formação da visão engloba os aspectos culturais e lingüísticos e por este
motivo a fotografia alcança mais que os olhos podem enxergar.
Por serem os fenômenos sociais relacionados às representações sociais de difícil
apreensão, optou-se, neste estudo, pela utilização de fotografias, como estímulo para
fazer emergir e apreender crenças, valores e atitudes dos gestores as quais este estudo
pretende desvelar, mais precisamente, as representações sociais de criança, até porque:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
esta função, sem falar nas teorias pedagógicas e, no caso específico da Educação
Infantil, no conhecimento do desenvolvimento da criança e da aprendizagem. Para este
grupo, a prática e o intercâmbio entre os saberes das diferentes áreas, entendido por nós,
como formação continuada, são os grandes aliados no processo de gestão.
Nesse sentido, a ASBREI se destaca no papel de apoio à formação deste grupo,
graças à realização de grupos de estudo, cursos específicos nas áreas contábil e
financeira, congressos, dentre outras atividades. O fato da maioria dos gestores, já ter
desempenhado a função de professor, neste caso, não é suficiente para desempenhar a
função de gestor.
Quanto ao trabalho desenvolvido nas instituições, a pesquisa evidencia o
enfoque de natureza educacional, uma vez que os gestores relatam que sofreram pouca
ou nenhuma influência da LDB, pois já trabalhavam com a concepção de educação.
Por outro lado, foi possível identificar a força das imagens fotográficas. A
narrativa evocada por elas se propõe a ser mais um recurso metodológico no campo das
representações sociais, visto que para uma mesma imagem, encontramos vários
significados, como na foto nº 2 onde a imagem das crianças subindo escadas, foi
interpretada por uns como atividade que desenvolve a autonomia e por outros como
uma atividade perigosa.
Parece haver um consenso no grupo quanto ao binômio cuidar-educar. A
passagem do cuidar – ajudar a criança a se desenvolver enquanto ela ainda não for
capaz – para o educar – propiciar situações que contribuam para o desenvolvimento da
autonomia, difere da visão assistencialista, de guarda e proteção do século passado.
Para finalizar, constatamos que a prática pedagógica adotada pelas instituições
está intimamente ligada à representação social do gestor sobre ser criança. Assim, ao
conhecermos as representações sociais de criança de um grupo, é possível trabalharmos
as novas práticas de formação deste mesmo grupo.
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REFERÊNCIAS
IMAGENS SELECIONADAS