Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sumário
1 - Estado, elemento essencial para o sucesso do capitalismo
2 - Onde nos conduziu um mundo de estados-nação
3 – O papel do Estado, na prática do socialismo
Por Estado entende-se o aparelho gerado e destinado à afirmação do capitalismo como modo de
produção, a partir do século XVII, com a reforma protestante, num processo cuja maturidade foi
atingida com a Revolução Francesa; e a que se seguiu um fugaz ensaio de organização social
baseado na auto-organização, a Comuna de Paris.
O Estado afirmou-se como um aparelho essencial para delimitar um território (estado-nação) para
exclusivo uso dos seus capitalistas, dos seus produtores de têxteis para exportação, dos seus
armadores de navios comerciais, dos seus piratas/corsários, dos seus banqueiros, das suas colónias
e, para a própria defesa face à concorrência. Essas funções agregaram-se sob uma ideologia – o
nacionalismo – então simbolizado por um rei e, ainda, no norte da Europa, onde o capitalismo se
mostrou mais desenvolvido, por uma igreja nacional cujo símbolo máximo era, também o rei (uma
prática que vem sendo abandonada em tempos recentes). A forte concorrência externa, a
conquista ou a rapina dos recursos do resto do planeta exigia uma escala que se iria materializar
como a propiciada pelo aparelho de Estado, que constituía o topo e o elemento agregador do
estado-nação.
1
Porque não há uma estratégia anticapitalista?
http://grazia-tanta.blogspot.com/2021/02/porque-nao-ha-uma-estrategia.html
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3/3/2021 1
Na lógica do feudalismo o conceito de Estado não se aplica; a autoridade e a arbitrariedade vinha
do senhor feudal reinante; o menos mal para o povo seria que as suas casas e campos não fossem
assolados pela guerra e pela pilhagem, que os jovens não fossem capturados para servir na guerra
ou, que as raparigas não sofressem o estupro praticado pelas soldadescas de passagem.
O estado-nação e o Estado são instrumentos criados pelo capitalismo2, com base em grupos locais
de capitalistas, organizados para a exploração exclusiva de um território; ou melhor, para a
exploração do produto do trabalho dos desapossados de meios de produção. A posse e a
exploração desse território e da sua população exigia a vigilância das fronteiras por guardas
armados, tanto para evitar intrusões vindas de fora, como a fuga de mão-de-obra para o exterior; e
o Estado, com o seu aparelho de exação fiscal encarregava-se de arcar com essas despesas. Por
outro lado, a forte concorrência na rapina colonial obrigava a uma enorme mobilização de meios
financeiros e humanos no seio de cada estado-nação, em frequente estado de guerra com os
concorrentes: ou, na subjugação dos povos coloniais e dos escravos transplantados de África.
O fomento do patriotismo em cada estado-nação pretendia gerar o dever de defesa dos bens dos
ricos e do seu Estado, por parte da maioria dos seus habitantes que nada tinha de seu para
defender: esse dever incluía mesmo o supremo sacrifício da vida, na defesa dos bens dos
capitalistas. A ideia da pátria é uma imensa mentira que faz com que os desapossados de bens
defendam o património dos seus conterrâneos ricos.
2
Sobre este tema:
https://grazia-tanta.blogspot.com/2019/12/estado-nacao-nacionalismo-instrumentos.html
https://grazia-tanta.blogspot.com/2019/12/estado-nacao-nacionalismo-instrumentos_28.html
https://grazia-tanta.blogspot.com/2020/01/estado-nacao-nacionalismo-instrumentos.html
O futuro precário do estado-nação – 1, 2, 3, 4
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/11/o-futuro-precario-do-estado-nacao-1.html
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/12/o-futuro-precario-do-estado-nacao-2.html
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2018/01/o-futuro-precario-do-estado-nacao-3.html
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2018/01/o-futuro-precario-do-estado-nacao-4.html
3
A crise do coronavírus veio a estabelecer procedimentos oligárquicos, autoritários e empobrecedores por parte dos
Estados que tanto vinham promovendo a livre circulação. Em contrapartida, os Estados promoveram os confinamentos, o
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3/3/2021 2
para mercadorias (físicas ou sob a forma digital) - e tende a reduzir os aparelhos de estado
nacionais, essencialmente, ao papel de cobradores de impostos e à pacificação da força de
trabalho. Mesmo as gloriosas forças armadas dos estados-nação passaram a ser constituídas por
profissionais e mercenários, já não através de um serviço militar obrigatório, inadequado para a
sofisticação do armamento.
Entre os precursores da atual situação, Rousseau, como ideólogo da burguesia, gerou a ideia de
contrato social entre os possidentes e os destituídos de posses, todos conformados com a sua
situação social e económica; esse contrato, embora já não referido nos dias de hoje, é o que releva
na situação atual em que o Estado e a classe política se encarregam de manter a lei e a ordem,
envolvendo o trabalho na volúpia salvítica sinteticamente representada pelo crescimento do PIB.
Esse contrato social seria, de facto, para Rousseau, o instrumento de garantia de uma coesão social
que mantivesse no poder de então, as oligarquias nobres e burguesas, tendo como símbolo dessa
unidade, um rei. O terceiro estado era a enorme e heterogénea multidão de excluídos do poder
que servia de complemento aos acima referidos, para se ter o total dos habitantes do estado-
nação. O Estado, portanto, representava e apoiava os interesses das oligarquias, no cenário interno
doentio teletrabalho, o fecho de escolas, o desemprego, a pobreza, a arrogância policial, as multas, as discriminações dos
mais pobres atulhados em transportes públicos, a par com limitações de circulação para todos. E, eventualmente
condicionando a circulação a quem não for vacinado e recuse engordar bases de dados sobre os humanos para gáudio do
Big Pharma e dos manipuladores de informação. Tudo isto para um vírus que até agora atingiu 1.52% da população
mundial e que matou 2.2% daqueles infetados entre os quais dominam os mais velhos, há muito empurrados, pelo
capitalismo para lares que mais parecem prisões… uma vez que não são competitivos!
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3/3/2021 3
ou na arena internacional e, garantia a utilização da coerção necessária para com a plebe, cujo
dever seria trabalhar e obedecer. Esse era, sumariamente, a principal razão de ser do Estado
surgido do desenvolvimento do capitalismo e até hoje.
Essa imposta coesão social é um cuidado, uma preocupação, uma coerção, inerente à própria
noção de Estado, tendo como agente concreto, uma classe política. Mais tarde, Durkheim, para
evitar os problemas causados pelas resistências dos desapossados, susceptíveis de prejudicar a
desejada acumulação de capital, inventa um Estado neutro, gerador de consensos mas sempre
atento e pronto para usar a repressão, sob a forma de lei ou do cacete, sobre os trabalhadores. A
ladainha do crescimento do PIB ainda não tinha surgido como o elemento definidor da unidade e
da felicidade do povo.
O Estado neutro não existe, nem nunca existiu. As camadas sociais que mais beneficiam da sua
existência e atuação procurarão, se não aumentar os seus privilégios, pelo menos mantê-los,
procurando neutralizar, ou cooptar parte da concorrência, se necessário; para isso, contam com a
atuação de um ou vários partidos – um género de funcionalismo especializado em tráfico de
influências - que se encarregarão de utilizar o poder estatal para benefício partidário e dos estratos
económicos mais empenhados para essa cooptação partidária4.
Assim, o Estado é um aparelho coercivo que visa garantir, por natureza, a estabilidade das
hierarquias no seio de um estado-nação; a segmentação conveniente do ponto de vista social e
político, através de uma articulação estável, aceite por ricos e pobres; evitando, através da classe
política, conflitos resultantes de desigualdades sociais; mantendo a narrativa do patriotismo como
forma de canalização para outros povos ou, outros estados-nação, das responsabilidades e
animosidades quanto a problemas que, de facto, são internos.
Onde há Estado não há democracia; ou, de modo menos lapidar, apenas fórmulas truncadas ou,
falsas da mesma. O Estado surge como um instrumento do estado-nação em geral, sob o controlo
de camadas sociais possidentes, gestoras dos principais canais de controlo social.
Nas sociedades de hoje, designa-se um estado-nação como democrático apenas porque há eleições
regulares e várias possibilidades de voto; ainda que pouco diferenciadas, no âmbito de uma
definição estreita e capciosa de democracia que permite a perpetuação das oligarquias, com baixos
níveis de conflitualidade para que não haja prejuízos para a acumulação de capital.
4
A situação vivida em Portugal – centrada no tempo de mudança do regime (1974) - é muito clara quanto às desigualdades
https://grazia-tanta.blogspot.com/2018/07/a-longa-marcha-das-desigualdades-1-o.html
https://grazia-tanta.blogspot.com/2018/08/a-longa-marcha-das-desigualdades-2-da.html
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3/3/2021 4
que tinham como contrapartida forte repressão policial. Isso, exigia um grande esforço
financeiro para a manutenção de efetivos policiais, por parte dos entes estatais – governo ou
municipalidades - quando não de grupos de arruaceiros ou criminosos pagos para quebrar
movimentos de reivindicação dos trabalhadores.
Uma geral subalternização face ao capital global, mormente financeiro, no âmbito de uma
escala onde se destacam, em patamares distintos, os que têm poder para estabelecer formas
de unilateralismo e, a esmagadora maioria dos restantes, totalmente despojada desse poder,
cuja igualdade face aos poderosos se resume a terem um hino e uma bandeira;
A existência de estados-nação continua a ser uma forma de divisão dos seres humanos, de
geração e aproveitamento de antagonismos, no âmbito de uma macro-estrutura política, na
qual a maioria desses estados-nação tem escassa ou nula margem de viabilidade ou de
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3/3/2021 5
afirmação. A sua constituição, na maioria dos casos, resultou dos arranjos e das convenientes
partilhas entre as potências coloniais na fase de ascensão e expansão geográfica do
capitalismo;
Nas últimas décadas a multiplicação de empresas transnacionais e do seu poder, agindo numa
lógica global, segmentando a produção de componentes, inúteis de per si, para melhor
dominarem a cadeia produtiva, tornaram dependentes os países onde aqueles se produzem,
destruindo naqueles qualquer lógica de integração racional a nível nacional. E, portanto,
tornando muitos estados-nação como meras plataformas logísticas, com a captura das
respetivas classes políticas, como funcionalismo local;
A dimensão das migrações por razões económicas, conflitos étnicos ou militares mostra a
falência do modelo estado-nação como entidade una e homogénea, entre iguais, criando
parcelas significativas de convenientemente excluídos, de vastas áreas tribalizadas ou
entregues ao banditismo:
Todos os estados-nação têm um Estado, uma classe política, uma burocracia, que representam
o capital nacional e, também as representações do capital global, todos empenhados no
“crescimento” que, no entanto, pouco toca a esmagadora maioria da população; a qual, pelo
contrário, é assolada pelo saque fiscal, pelo assalto aos rendimentos recebidos e, pela
normalidade da detenção de grandes dívidas; mormente para terem acesso a uma habitação,
uma vez que os Estados há muito entregaram o assunto à gula da especulação imobiliária e
financeira.
No 18 Brumário, Marx refere que a máquina do Estado é um corpo autónomo e parasitário gerido
pelo poder executivo, surgido na transição do feudalismo para o capitalismo. Nesse longo processo,
os especialistas do Ancien Regime – juristas, padres, soldados – foram-se adaptando à nova
situação, servindo o aparelho do Estado capitalista e já não como servos de um rei.
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3/3/2021 6
Marx ao centrar-se no capitalismo vigente nos países mais avançados da Europa – Inglaterra,
França e Alemanha - mostrou um determinismo optimista e linear baseado no desenvolvimento
das forças produtivas e, daí que não tivesse imaginado que a primeira revolução anticapitalista
surtisse na atrasada Rússia; mas, admitia que o resto da Humanidade se libertasse acompanhando
a evolução daqueles países mais avançados social e economicamente.
Só nos seus últimos anos de vida Marx travou conhecimento da existência dos coletivos agrários na
Rússia que ocupavam 3/5 da terra cultivada, como sementes de formas autogestionárias e alheias
ao espírito capitalista; e, apercebeu-se também que a satisfação das necessidades humanas deveria
ter a primazia sobre o abstrato processo de acumulação capitalista. Trotsky, na sua visão autoritária
e militarista da ação política, viria a esmagar aquelas estruturas económicas e sociais depois da
revolução de Outubro.
5
Ou, de uma cosmética coligação como o SED, na República Democrática Alemã
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3/3/2021 7
Na realidade, na URSS tratava-se de proceder ao desenvolvimento capitalista com um objecto
focado num acelerado “crescimento económico” de tipo keynesiano, concentrado em unidades
produtivas de grande dimensão, estatizadas, que garantissem adequados aumentos da
produtividade; por outro lado, a pequena propriedade, na indústria, no comércio e no campo, era
residual. Esperava-se que daí resultaria uma melhoria substancial do nível de vida da população e
uma saudável convivência política e social.
Na URSS a decisão técnica cabia aos membros do partido, no quadro das orientações detalhadas do
omnipresente e omnisciente Plano, produzido e de cumprimento vigiado pelas altas estruturas do
partido-estado – uma inovação política que unificava o aparelho estatal com a classe política, ao
qual todas as estruturas nacionais, da arte às minas, se enquadravam. Nessa estrutura era
fundamental cumprir à risca as orientações superiores para se singrar nas estruturas do Partido e
na vida.
Resumindo:
a) No modelo ocidental inicial, o aparelho de Estado apoia os capitalistas locais (nacionais) no seu
processo de centralização e acumulação de capital, ajudando a vencer a concorrência dos
capitalistas estrangeiros; e, inversamente, procura apoiar os capitalistas nacionais para a conquista
de mercados externos. Posteriormente, no capitalismo atual em que o papel das fronteiras se dilui,
as grandes empresas e a alta finança enlaçam-se com os capitalistas de raiz doméstica num
contexto globalizado, monitorando ou corrompendo a elite governamental de serviço.
b) No antigo modelo soviético o Estado constitui-se ele próprio como um capitalista coletivo, como
gestor da atividade económica, para superar a debilidade do capital privado nacional; e, por outro
lado, defende-se face ao investimento estrangeiro, só admitido com parcimónia ou em parceria,
nos casos em que a estrutura económica nacional(izada) não tem os meios, mormente
tecnológicos, adequados.
http://grazia-tanta.blogspot.com/
https://pt.scribd.com/uploads
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3/3/2021 8
GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 3/3/2021 9