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Resumo
O presente artigo disserta sobre a teoria do ciclo vital de Erik Erikson e suas oito fases e crises
vivenciadas (confiança básica vs. desconfiança, autonomia vs. dúvida, iniciativa vs. culpa,
produtividade vs. inferioridade, identidade vs. confusão de papéis, intimidade vs. isolamento,
generatividade vs. estagnação e integridade vs. desespero). Objetivando o estudo do fenômeno social
das gerações e o conflito entre elas, à luz da teoria do desenvolvimento psicossocial humano
postulada por Erik Erikson, foi realizado um estudo teórico com base em materiais bibliográficos
publicados sobre tais temáticas, articulados ao conceito do ciclo vital humano e do desenvolvimento
dinâmico e contínuo com o conceito de diferenciação dos perfis psicográficos das diferentes gerações
mapeadas. A partir desta teoria são traçadas análises sobre o fenômeno social sobre as diferentes
gerações atuantes no mercado de trabalho (veteranos, baby boomers, geração X e geração Y) e o
conflito existente entre elas. Como considerações finais, o estudo aponta que é possível obter, com
certas restrições, um arcabouço teórico consistente para o conflito de gerações nas organizações a
partir da teoria de Erik Erikson, formulada na década de 1930.
Palavras-chave: Erik Erikson, Ciclo vital, Gerações, Conflito de gerações, Mercado de trabalho.
Abstract
The following paper is a study of Erik Erikson’s life cycle theory and the eight phases in which crisis
are faced by human beings (basic trust vs. mistrust, autonomy vs. shame and doubt, initiative vs. guilt,
industry vs. inferiority, identity vs. identity diffusion, intimacy and distanciation vs. self-absorption,
generativity vs. stagnation and integrity vs. despair and disgust). Aiming at the study of the
generations social phenomenon and the conflict among them, through the human psychosocial
development theory proposed by Erik Erikson, a theoretical study was conducted among the active
labor market generations focusing on individuals with ages between 18 and 60. Previously published
bibliographical material about the theme was used, articulated to the human vital circle concept as
well as the dynamic and continuous development regarding the differentiation of psychographic
profiles of different mapped generations. Through this theory, analysis are made regarding the social
phenomena of the new generations present in the work environment (veterans, baby boomers, gen X
and gen Y) and the conflicts between them. As final considerations, the study points out that it is
possible to obtain, with some restrictions, a consistent theoretical background to the generations
conflict in organizations based on Erik Erikson’s theory, formulated in the 1930´s decade.
Keywords: Erik Erikson, Life cycle, Generations, Generational conflicts, Work environment.
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Endereço para correspondência: Rafael Marcus Chiuzi. Universidade Metodista de São Paulo/Faculdade de
Gestão e Serviços. Rua Alfeu Tavares, 149, CEP: 09641-000. Bairro Rudge Ramos. São Bernardo do Campo –
SP. E-mail: rafael.chiuzi@metodista.br.
Sobre os autores:
Rafael Marcus Chiuzi – Psicólogo, Doutorando em Psicologia Social e do Trabalho pela USP, Mestre em
psicologia pela Universidade Metodista de São Paulo. Professor de Psicologia organizacional e do trabalho e
Gestão de recursos humanos na Universidade Metodista de São Paulo.
Bruna Ribeiro Gonçalves Peixoto – Estudante de graduação em Psicologia da Universidade Metodista de São
Paulo.
Giovanna Lorenzini Fusari – Estudante de graduação em Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo.
580 Chiuzi, R. M., Peixoto, B. R. G., & Fusari, G. L.
Erikson e o conflito de gerações 581
é oriunda da cultura norte-americana, assim eles utilizam suas carreiras como fonte
realizados a partir de registros históricos para seu desenvolvimento, não nutrindo tanto
especialmente em função da história de compromisso às empresas que atuam.
participação em guerras que, definitivamente Santana (2008), em sua análise sobre os
geraram verdadeiras cicatrizes sociais em profissionais da geração Y (em entrevista à
determinadas gerações, marcando-as de revista Exame), retrata bem este fenômeno
maneira bastante significativa. estereotipado nas organizações afirmando que
Pode-se perceber, por exemplo, de acordo eles querem tudo e agora, advertindo para
com a compilação de fatos, que os veteranos, características como impaciência na espera para
nascidos antes da Segunda Guerra Mundial a promoção, fidelidade a projetos em
foram altamente marcados, imprimindo nestes detrimento da organização empregadora em si
valores como: respeito e lealdade aos direitos além de prezar pela informalidade e contatos
civis, pela autoridade, moralidade e pela mais íntimos sem consideração a status
família. Não obstante, tais características são hierárquicos historicamente construídos.
também encenadas no ambiente de trabalho, Portanto, em se tratando de um fenômeno
fazendo dos veteranos detentores de princípio social que envolve necessariamente ciclos
ético e da memória coletiva da empresa. Em vitais, em seguida é apresentada a teoria de
função disto, tendem a crer mais no trabalho e Erik Erikson formulada a partir dos
na equipe, mas sob um prisma militar no qual pressupostos psicanalíticos presentes na
sempre está presente a figura de comando concepção de Erik Erikson.
pronta para declarar a palavra final. Buscam
estabilidade e segurança em seus empregos,
sendo assim, muitos veteranos optaram por A teoria de Erik Erikson
trabalhar em empresas governamentais
Erik Erikson (1902-1994), psicanalista
(Abrams, 1970).
nascido na Alemanha, era parte do círculo
A geração X não vivenciou uma situação
íntimo de Freud em Viena até fugir da ameaça
de guerra, seu maior desafio foi superar os
do Nazismo e ir para os Estados Unidos em
conflitos econômicos ocorridos entre os anos de
1933. Sua ampla experiência pessoal e
1970 e 1980. São filhos de pais que
profissional o levou a modificar e desdobrar a
trabalharam em excesso em detrimento da
teoria freudiana enfatizando a influência da
família e, por isso, buscam equilíbrio entre o
sociedade sobre o desenvolvimento da
trabalho e a vida familiar. Frente a esta jornada
personalidade. “Enquanto Freud sustentava que
de trabalho, inclusive de suas mães, o número
as experiências da infância moldavam
de divórcios também aumentou, sendo muitos
permanentemente a personalidade, Erikson
da geração X, filhos de pais separados.
afirmava que o desenvolvimento do ego é
Aparentemente, os integrantes da geração X
vitalício” (Papalia, 2006, p. 71). Bee (1997)
não querem viver o mesmo tipo de vida que
sobre a teoria eriksoniana afirma que
seus pais.
Sobre a geração Y, os pertencentes Erikson não deu tanta ênfase à
declaram desejar ter uma carreira de sucesso, centralização do impulso sexual,
mas tal empenho ao trabalho deve respeitar focalizando, em seu lugar, o surgimento
limites estabelecidos (comumente embasados gradativo de um senso de identidade.
nos erros da geração anterior). Assim, podem Segundo, embora ele concorde com
desfrutar de sua família, filhos e amigos. Essa Freud quanto à importância dos anos
geração demanda das organizações maneiras iniciais, defende que a identidade não
mais flexíveis de incorporar o tempo destinado está totalmente formada no final da
à vida familiar proporcionalmente ao nível de adolescência, continuando, sim, a
exigência de seu trabalho. Quando movimentar-se através de posteriores
questionados sobre suas expectativas de estágios desenvolvimentais na vida
carreira, esses jovens executivos respondem adulta .... Na visão de Erikson, a
tranquilamente que, segundo suas previsões, maturidade desempenha um papel
deverão trabalhar em três ou cinco empresas relativamente insignificante na seqüência
durante toda a carreira. Por que tantas? Devido dos estágios. Muito mais importantes são
ao fato dos mesmos terem certeza de que, cedo as demandas culturais comuns às
ou tarde, serão demitidos (Conger, 1998). E crianças de determinada idade, tais como
Erikson e o conflito de gerações 583
a demanda de que a criança esteja já formar o que Kroger (1993) chama de “uma
treinada quanto aos hábitos de nova estrutura psicológica, maior do que a
eliminação por volta dos 2 anos, que ela soma de suas partes” (p. 87). Erikson (1976)
aprenda as habilidades escolares por assinala também a existência de uma moratória
volta dos 6 a 7 anos ou que um adulto psicossocial antecedente à entrada no cenário
jovem forme uma parceria íntima. adulto, ou seja, resume-se a um período onde o
Assim, cada estágio está centrado em um indivíduo procura explorar as alternativas
determinado dilema, em uma existentes e experimentar os diferentes papéis
determinada tarefa social. A seus que permitam a ele o trabalho de elaboração
estágios Erikson denomina estágios interna, também influenciada pelas exigências e
psicossociais ao invés de estágios necessidades socioculturais. A identificação
psicossexuais ( p.62) pessoal, então, aparece quando estes jovens
elegem valores e pessoas às quais serão fiéis –
Sobre o desenvolvimento psicossocial, virtude dilatada a partir da resolução desta crise
Erikson (1976) atribui oito estágios de − em vez de simplesmente consentirem com as
passagem durante o ciclo vital completo. escolhas realizadas pelos pais.
Segundo Papalia (2006), cada estágio envolve Esta parece uma, dentre as muitas, gêneses
uma crise na personalidade – uma questão de do início formativo do conflito entre as
desenvolvimento que é particularmente gerações, isto é, os pais em diferentes estágios
importante naquele momento e que continuará do ciclo vital tendem a rejeitar, muitas vezes
tendo alguma importância durante toda a vida. em função da alegação da maior experiência,
Em sua obra O ciclo de vida completo, Erikson como Erikson (1956) já apontava, ideias e
(1998) apresenta a sequência dos estágios atitudes dos mais jovens. Estes, por sua vez,
psicossociais e identifica as crises enfrentadas enxergam como possível resposta ao
em cada um dos estágios, associando a movimento dos pais, o afastamento e alienação
resolução satisfatória destas crises com a quanto a essas divergências entre ideais e
maturação e desenvolvimento saudável do ego valores, procurando assim autonomia e
concomitante ao desenvolvimento de independência da família.
determinada virtude ou força.
A partir do convívio em grupo, são
Erikson (1976) identifica estágios elencados os valores e os comportamentos que
evolutivos aos quais se inscreve um conflito serão aceitos, desejados ou rejeitados dentro de
predominante que tem sua origem nas forças uma sociedade que compartilha uma mesma
psicossociais, dando ênfase especial ao estágio cultura. O convívio em grupo leva o homem a
da adolescência, no qual, segundo sua visão, é ter um papel e uma posição enquanto ser social,
negociado o senso de identidade, que irá porém é necessário levar em conta as
influenciar diretamente os três estágios diferenças culturais que existem e também as
seguintes, juventude, maturidade e velhice. mudanças que ocorrem ao longo do tempo.
A adolescência é vista como momento Hábitos e crenças estão diretamente ligados ao
nevrálgico dentro desta edificação contínua que momento histórico vivido, portanto, é
é o desenvolvimento, pois é nela que o inevitável afirmar que existe uma
indivíduo reorganiza os elementos identitários transformação das subjetividades de uma
da fase infantil contrapondo-os ao mundo social geração para a outra.
encenado. Assim, busca a formação de uma Posto isso, objetivando o estudo do
identidade própria, uma vez que já tem um eu fenômeno social das gerações e o conflito entre
capacitado a incorporar papéis sociais, elas, à luz da teoria do desenvolvimento
ideológicos, morais e profissionais (Erikson, psicossocial humano postulada por Erik
1956). Desta forma, no estágio da juventude os Erikson, foi realizado um estudo comparativo
indivíduos devem posicionar-se aparelhados entre as gerações que se encontram ativas no
para vincular sua identidade a outras pessoas e mercado de trabalho, focando nos indivíduos
esquadrinhar relacionamentos que abranjam com idade entre 18 e 60 anos. Foram utilizados
intimidade e parceria verdadeira. materiais bibliográficos previamente
Segundo Erikson (1976), os adolescentes publicados sobre tais temáticas, articulados ao
não constituem sua identidade imitando outras conceito do ciclo vital humano e do
pessoas como modelo, mas sim modificando e desenvolvimento dinâmico e contínuo com o
sintetizando identificações anteriores para conceito de diferenciação dos perfis
584 Chiuzi, R. M., Peixoto, B. R. G., & Fusari, G. L.
penoso porque ele nunca se sentirá importância do convívio com os outros nesta
realmente ele próprio, embora todos fase em particular indicando que
digam que ele é “alguém”(...) Assim a
A evolução fez do homem um animal
consequência duradoura da necessidade
tanto ensinante como aprendiz, visto que
de distanciamento é a presteza em
dependência e maturidade são
fortificar o território próprio de
recíprocas; O homem maduro necessita
intimidade e solidariedade e em ver
ser necessitado e a maturidade é guiada
todos os estranhos com uma fanática
pela natureza daquilo que deve ser
“supervalorização das pequenas
assistido. A generatividade é, pois, de
diferenças” entre o familiar e o
modo primordial, a preocupação em
desconhecido” (Erikson 1976, p.136).
estabelecer e orientar a geração seguinte
Erikson (1976) também fiança que à (Erikson, 1976, p. 138).
medida que as áreas de responsabilidade adulta É a partir da capacidade de estabelecer
são gradualmente delineadas, o indivíduo acaba relações íntimas com os outros, crise anterior à
subsumindo-se a um sentimento ético, que é a da generatividade, que o sujeito passa a sentir a
marca do adulto. Esse sentimento é percebido necessidade de engendrar critérios de instrução
como presente nos membros da geração X que, às próximas gerações. Nem sempre essa tarefa
diferentemente de seus pais (geração baby encontra caminhos calmos devido às diferentes
boomers), anseiam por maior comedimento características que crivam cada geração tais
entre trabalho e vida familiar. Almejam uma como a velocidade de aprendizado e a
carreira de sucesso, mas confiam que o importância dada a alguns tipos de
empenho ao trabalho deve acatar um perímetro, ensinamentos, porém, essa necessidade em
demarcado pelo fato de poderem desfrutar e passar adiante seus conhecimentos é uma
vivenciar o relacionamento íntimo com sua característica acentuada da geração baby
família e filhos. boomer. Erikson (1976) entende que as
O estágio da generatividade versus instituições tendem a reforçar a generatividade
estagnação é o período mais longo na vida visando a sucessão de seus trabalhadores.
humana, momento no qual o indivíduo institui Contudo, por mais natural que possa parecer é
um compromisso de trabalho e começa fato que, enquanto seres humanos, há sempre a
efetivamente a constituição de sua família, possibilidade do movimento contrário por parte
passando a dedicar seu tempo e energia ao de alguns em função de sentirem-se ameaçados
estabelecimento de um projeto de vida mais pelos subordinados mais jovens e, muitas vezes
produtiva, centralizando a tarefa de cuidar da de outra geração, e com isso optam por não
próxima geração (Waterman, 2004). dividir seus conhecimentos com receio da perda
hierárquica. A este fato Erikson (1976) atribui
Durante esse período, o trabalho e os uma falha na expansão de interesses do ego
relacionamentos familiares confrontam a onde o indivíduo torna-se excessivamente
pessoa com os deveres de cuidador e uma preocupado consigo mesmo, ou ainda, sofre
crescente variedade de obrigações e uma regressão e gera um sentimento de
responsabilidades, interesses e celebrações estagnação, tédio e invalidez.
(Erikson, 1998). Esses desafios que a fase Baseando-se em Erikson (1998), pode-se
propõe são essenciais ao desenvolvimento pensar que pessoas com mais idade talvez
humano saudável, e a ausência desses pode ser necessitem iniciar interações com maior
tomada por um sentimento de estagnação do frequência, pois outras pessoas podem ficar
ser. E, como Erikson (1998) insinua: “Afastar- inseguras ou pouco à vontade, sem saber como
se totalmente da generatividade, da quebrar o gelo e acrescentar que tal
criatividade, do cuidado e do convívio com os constrangimento, resultante da confusão sobre
outros, seria pior que a morte” (p. 94). como interagir com alguém que não é como
Tal realidade é bastante nítida na geração todo mundo pode privar muitos de relações
baby boomer. No trabalho, buscam gerir potenciais e intercâmbios íntimos.
pessoas por consenso e são preocupados com o A reflexão acima remete ao fenômeno
bem-estar, com a participação e a justiça para social das gerações. Um gestor fruto da geração
com sua equipe, característica esta que também baby boomer, por exemplo, que não resolveu
faz jus à teoria de Erikson, que reforça a sua crise da fase de generatividade versus
588 Chiuzi, R. M., Peixoto, B. R. G., & Fusari, G. L.
estagnação, certamente terá dificuldades ao de terem que refletir sobre o que viveram, é
lidar com um subordinado da geração X. Tais fundamental que haja uma estimulação
diferenças são esperadas justamente em presente, com desafios a serem encarados,
decorrência das diferenças características de através de trabalhos criativos, atividade política
cada geração. Entretanto, se entre essas duas ou até mesmo o simples convívio com filhos e
pessoas a relação estabelecida for saudável, o netos, mantendo-se assim envolvidos
produto dela será o amor mútuo, como aponta vitalmente na sociedade.
Erikson (1956) e a adaptação tomará seu curso A tentativa de traçar um paralelo entre a
natural. Conforme apresentado na teoria, a oitava crise de Erikson e as características
tendência apresentada é de que a geração mais principais da geração de veteranos não é tarefa
sênior pode se isolar traduzindo assim, um fácil, pois o arrolamento realizado sobre esta
conflito entre essas gerações. geração está baseado em suas ações e atitudes
O oitavo e último estágio do no mercado de trabalho, enquanto Erikson,
desenvolvimento psicossocial humano descrito apesar de explicitar a necessidade de
por Erikson é o de integridade do ego versus envolvimento com desafios e estímulos para o
desespero. Segundo Papalia (2006) a maior presente e um futuro próximo, caracteriza esta
realização da terceira idade é um senso de fase como a última fase da vida de um
integridade do ego, ou integridade do eu, indivíduo. Erikson não descarta as influências
baseado na reflexão das conquistas e situações que este indivíduo exerceu nas instituições,
diversas vivenciadas ao longo dos anos. Para porém, estas serão passadas às gerações futuras
Erikson (1998, p.112) essa “é a época de não diretamente por eles, mas sim pela forma
recapitular, avaliar e aceitar suas vidas, para como esses valores se instauraram nas mesmas.
que assim possam aceitar a chegada da morte”.
Seja qual for o abismo a que as
O autor afirma ainda que, com base nos efeitos
preocupações fundamentais possam
impetrados pelas sete crises anteriores, o
conduzir os homens, (...) o homem,
indivíduo será capaz de lutar para atingir um
como criatura psicossocial, defrontar-se-
senso de coerência e integridade ao invés de se
á, no final de sua vida com uma nova
entregar ao desespero por estar em contato mais
edição da crise de identidade que
imediato com a finitude.
poderíamos formular nas seguintes
A virtude desta fase é a sabedoria que palavras: “Eu sou o que sobrevive de
significa aceitar a vida que se viveu sem mim”. Das fases da vida, portanto,
maiores arrependimentos, sem se apegar ao que disposições tais como fé, força de
deveria ter sido feito, ou ao que poderia ter sido vontade, determinação, competência,
(Erikson, 1976). “É a aceitação pela pessoa do fidelidade, amor, desvelo, sabedoria –
seu único ciclo vital e daqueles que se tornaram tudo critérios de força vital individual –
significantes para ela como algo que tinha de também fluem para a vida das
ser e que, necessariamente, não permite instituições. Sem elas, as instituições
substituição” (Erikson, 1976, p.110). Significa definham; mas sem que o espírito das
aceitar plenamente as situações que viveram, instituições impregne os padrões de
mesmo que não tenham sido as melhores, desvelo e amor, instrução e treino
aceitar nossas imperfeições, dos que nos nenhuma força poderia emergir da
rodeiam e da vida, sabendo que a vida que cada sequência de gerações (Erikson, 1976,
um viveu é de sua própria responsabilidade. p.141).
Pessoas que não alcançam essa aceitação e
que não aceitam a morte como um fim
inevitável a todos os indivíduos são dominadas Considerações finais
pelo desespero, compreendendo que o tempo Após cautelosa leitura interpretativa
que lhes resta é escasso para procurarem outros coadunada com as representações sociais
caminhos objetivando a integração do ego. expressas por meio de veículos de comunicação
Apesar de se esperar que a integridade de massa, verifica-se que é possível estabelecer
prevaleça ao desespero, Erikson (1976) sustenta muitas relações entre a teoria de Erik Erikson e
que certo desespero é inevitável, pois a as gerações presentes no mercado de trabalho.
lamentação é uma condição intrínseca humana. Argumenta-se durante o texto que existem
Outra característica importante citada por momentos (ou fases) do desenvolvimento
Erikson sobre esta fase é o fato de que, apesar humano que evocam padrões bastante similares
Erikson e o conflito de gerações 589
entre pessoas que compartilham daquela mas também em questões periféricas tais como
construção histórica. as motivações dos mais jovens em conflito com
Sendo assim, é possível afirmar que as as motivações dos mais velhos em questões de
fases de Erikson podem prover embasamento segurança, empregabilidade e questões
suficiente para analisar determinada geração financeiras.
assim como suas interações sociais com as Contudo, ciente das limitações, ainda se
demais situações no recorte proposto por este crê na importância de novos estudos que
estudo, restringindo apenas a indivíduos abordem esta temática. Certamente tal
inseridos nas organizações de trabalho. Tal preocupação será de grande valia para o
afirmação mostra o quão atual pode ser a teoria universo acadêmico, assim como a práxis
do Ciclo Vital, uma vez que seu foco principal cotidiana organizacional. Sendo assim, este
é o humano e sua condição de existência. trabalho traçou descrição restrita sobre as
O tema escolhido é circunscrito em diferentes gerações, mas não trata de temas
relevância social e organizacional, contudo, é como retenção dos profissionais da Geração Y
relativamente novo (conflito de gerações) e há nas empresas, projetos de vida da nova geração,
extrema carência de estudos teórico ou lideranças Y (só para citar alguns).
metodológicos oriundos da Psicologia sobre
esta temática. Tal escassez de bibliografias foi
uma dificuldade encontrada na elaboração das Referências
ideias aqui apresentadas. Foi necessário
Abrams, P. (1970). Rites de Passage: the
recorrer aos estudos de Marketing existentes e
conflicts of generations in industrial society.
fontes fidedignas, porém não científicas como,
Journal of Contemporary History, 5(1),
revistas conceituadas e reportagens. Por se
175-190.
tratar de um fenômeno ainda pouco
vislumbrado por psicólogos, considera-se este Andrade, M. M. (2002). Introdução à
trabalho como uma contribuição inicial para, ao metodologia do trabalho científico:
menos, despertar o interesse e a possibilidade elaboração de trabalhos na graduação (2a.
de estudos para profissionais da área. ed.). São Paulo: Atlas.
Outro fator importante a ser considerado é
a contextualização histórico-cultural da teoria Antunes, R. (2009). Os sentidos do trabalho:
que, elaborada por volta de 1930, possui ensaio sobre a afirmação e a negação do
lacunas fomentadas pela alta diversidade trabalho (2ª. ed.). São Paulo: Boitempo.
oriunda das mudanças sociais no contexto
atual. Há que se considerar fatores como a Bauman, Z. (2009). Modernidad líquida (1ª
elevação da expectativa de vida, cenários ed.). Buenos Aires: Fondo de Cultura
econômicos que dificultam a independência Económica.
financeira de jovens (especialmente no Brasil) e Bee, H. (1997). O ciclo vital (2a. ed.). Porto
outros fatores exógenos que acabam por alargar Alegre: Artmed.
os períodos a priori definidos por Erikson
(1956). Cervo, A. L., & Bervian, P. A. (1983).
Há também que se ressaltar que questões Metodologia científica: para uso dos
mais atuais presentes no contexto de trabalho estudantes universitários (3ª. ed.). São
ainda não foram consideradas. Em um cenário Paulo: McGraw-Hill.
onde o sistema capitalista praticamente força os
mais velhos a serem retirados do sistema Conger, J. (1998, Set./Out.). Quem é a geração
produtivo e reforça a entrada de jovens a fim de X? HSM Management, pp. 128-138.
manter a própria lógica, como cita Antunes
Comte, A. (1972). Opúsculos de filosofia
(2009), devem ser contempladas em estudos
social. São Paulo: EDUSP.
futuros uma vez que o cenário do trabalho e
organizacional em sua volatilidade continua a Erikson, E. H. (1956). The problem of ego
desafiar os pressupostos outrora já identity. Journal of American
investigados. É possível imaginar que esta Psychoanalysis, 4, 56-121.
lógica capitalista também influencie o
fenômeno do conflito geracional, não somente Erikson, E. H. (1976). Identidade: juventude e
em sua essência (da diferença psicossocial), crise. Rio de Janeiro: Zahar.
590 Chiuzi, R. M., Peixoto, B. R. G., & Fusari, G. L.