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COMPORTAMENTO
ORGANIZACIONAL DE ARRANJOS
PRODUTIVOS LOCAIS: UM ESTUDO
APLICATIVO NO SETOR DE
CONFECÇÕES
Resumo
Em decorrência das constantes mudanças ocorridas no ambiente
organizacional, as empresas vêm adotando múltiplas formas de
atuação e comportamento que podem interferir na atuação dos
arranjos produtivos locais (APLs). Neste sentido, o objetivo deste
artigo é identificar o comportamento predominante adotado pelo APL
de Confecções do Agreste Pernambucano, através da aplicação da
Matriz ConFlex proposta por Pinto e Loiola (2007). Tal matriz permite
identificar o comportamento predominante de um APL: competição ou
cooperação, a partir da avaliação das respectivas dimensões e
componentes: Confiança - transparência, honestidade e
relacionamento interpessoal; e Flexibilidade - pró-atividade e
reconfiguração. A pesquisa realizada pode ser caracterizada como
exploratória e descritiva, conduzida sob a forma de estudo de caso,
utilizando como técnicas a pesquisa bibliográfica e a análise
documental, sendo ainda caracterizada como um estudo qualitativo, a
partir da utilização da técnica análise de conteúdo. Os resultados
constataram que o APL em análise apresenta alta competição como
comportamento predominante, identificado a partir da resistência à
construção de relacionamentos duradouros no arranjo - baixo nível de
confiança - e atuação mais reativa frente às transformações do
mercado - baixo nível de flexibilidade.
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Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras
Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008
Abstract
As a result of constant changes in organizational context, enterprises
are adopting multiple forms of action behaviour which can interfere
with the performance of local production arrangements (APLs). In this
sense, the purpose of this artiicle is to identify the behaviour
predominance adopted by APL of cloth in agreste Pernambucano, by
applying the Matrix ConFlex proposed by Pinto and Loiola (2007).
This matrix identifies the behavior of a dominant in APL: competition
or cooperation from the assessment of their size and components:
Confidence - transparency, honesty and interpersonal relationships,
and more - pro-business and reconfiguration. The survey can be
characterized as exploratory and descriptive, conducted as a case
study, using techniques as a literature search and analysis
documentary and is still characterized as a qualitative study, from the
use of technical analysis of content. The results found that in APL
analysis shows high performance competition as predominant,
identified from the resistance to building lasting relationships in the
arrangement - a low level of confidence - and more reactive
performance front to change the market - low level of flexibility.
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1. INTRODUÇÃO
Nesta perspectiva, uma das formas organizacionais mais evidenciadas têm sido as
redes de empresas no formato de arranjos produtivos locais (APLs), a qual permite um maior
fortalecimento competitivo, assim como uma postura diferenciada em que prevalece novas
práticas de gestão, utilizando-se de princípios como redes sociais, cooperação, parceria e
complementaridade.
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2. REFERENCIAL TEÓRICO
O crescente dinamismo apresentado pelo atual cenário de negócios fez com que as
organizações redefinissem seu modo de atuação, adequando-se aos novos formatos
organizacionais, entre eles, as redes interempresariais. A necessidade de informação requerida
por esse contexto atrelada ao maior conhecimento das empresas em um ambiente competitivo
remete para que haja de fato uma mudança de comportamento baseada nos princípios de
compartilhamento e união das empresas, a fim de alcançarem de forma consolidada seus reais
objetivos.
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Segundo Casarotto Filho e Pires (2002), a formação de arranjos pode ser entendida
como estruturas complexas formadas por empresas que, conscientemente, admitem possuir
limitações estruturais, financeiras e competitivas que restringem as condições de
sobrevivência e desenvolvimento. Desse modo, os arranjos resultantes de tal formação são
confeccionados com base em uma estrutura que contempla atividades agregadoras de valor
para os clientes, o que ocasiona em maior poder de competição para as empresas inter-
relacionadas. As organizações individuais seriam menos competitivas quando comparadas
com as organizações que atuam em base coletiva.
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isolada, tornando-se rivais por mercados, clientes, fornecedores, entre outros, coexistindo
assim uma relação de ganhar-perder.
Por outro lado, a cooperação torna-se um processo pelo qual as organizações seguem
suas próprias metas e desse modo, preservam sua autonomia, enquanto, simultaneamente,
orientam suas ações para a resolução de um problema comum (HALL, 1984). De acordo com
Amato Neto (2000), a cooperação interempresarial pode viabilizar o atendimento de uma série
de necessidades, entre elas: combinar competências e utilizar o know-how de outras empresas;
dividir ônus para realização de pesquisas tecnológicas, compartilhando o conhecimento
adquirido; partilhar riscos e custos de explorar novas oportunidades; exercer uma maior
pressão sobre o mercado; além de proporcionar incentivos para atuação em mercados
internacionais.
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Competição Cooperação
FLEXIBILIDADE
ALTA
(Baixa) (Alta)
Competição
(Alta) Cooperação
BAIXA
(Baixa)
BAIXA ALTA
CONFIANÇA
Fonte: Pinto e Loiola (2007)
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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa realizada pode ser caracterizada como exploratória e descritiva, conduzida
sob a forma de estudo de caso, uma vez que busca a compreensão de fenômenos sociais a
partir da localização, avaliação e síntese de dados e informações em determinado período.
O trabalho desta pesquisa foi executado com base em dados secundários, obtidos a
partir do acesso ao estudo desenvolvido pelo SEBRAE intitulado: Caracterização Econômica
e Estudo da Imagem do Pólo de Confecção do Agreste Pernambucano (2003).
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De acordo com a análise dos resultados, foi identificado que devido a significativa
informalidade presente nas empresas, o funcionamento do referido APL não apresenta clareza
nos relacionamentos existentes em relação às ações e atuação das empresas, constituindo uma
forma de atuação individual para ganhar vantagens em relação às demais empresas. A
incipiente transparência resulta da própria visão dos comerciantes que não buscam um
entrosamento entre eles para melhor competirem no mercado, o que representa um entrave
para o processo de cooperação no arranjo e pode ser evidenciado de várias formas, seja
através da falta de interesse em formar associações de negócios, assim como o não
compartilhamento de informações sobre produtos, processos ou tecnologias.
“(...) como a informalidade é grande, fica difícil ele ter nota fiscal. O próprio comércio não é
estruturado nem organizado, o cliente compra com cheque de terceiro...”.
“Porque o produto da feira, noventa por cento, a gente não pode generalizar, não tem
qualidade, o preço é lá embaixo; você que trabalha legalmente não tem como colocar o preço
daquele, mesmo que você tenha qualidade no seu produto, mas não tem como você competir
com eles”.
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competitivas, mesmo que não estejam adotando medidas adequadas e em conformidade com a
lei.
“O cliente informal só te paga se estiver vendendo. É uma dificuldade que o atacado tem,
porque se a mercadoria sai, se ele vender, ele te paga; se ele não vender, ele vai te deixar na
mão” .
“(...) é pouca demais a quantidade de pessoas que está totalmente regularizada. Então a
gente vende como pessoa física, não vende como empresa, e isso é que é complicado. Existe
uma pressão muito grande, acham que a gente é que sonega ou que faz alguma coisa, só que
há uma necessidade, quase obrigatória, para se fazer isso” .
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De acordo com a pesquisa realizada, verificou-se que existe uma significativa rede de
relacionamentos entre as empresas inseridas no APL de Confecção do Agreste
Pernambucano, motivadas pela necessidade de compartilhar processos (sub-contratação)
como forma de obter vantagens com a redução de custos, compra de equipamentos, tecidos e
aviamentos e comercialização dos produtos nas feiras e lojas instaladas no próprio APL.
Foi verificado ainda, que o APL apresenta tipos de relações incipientes (entre
fornecedores, clientes, e em algumas circunstâncias entre as próprias empresas) que são
caracterizadoras deste componente, logo, faz-se importante abordar que o relacionamento
existente não é suficiente por ocorrer de forma momentânea e pouco intensiva, conforme
exposto na fala a seguir:
“Nós compramos diretamente do fabricante, das grandes indústrias de São Paulo, Minas,
Santa Catarina, e daqui é feita a distribuição, tanto para grandes confeccionistas como para
pequenos confeccionistas” .
Vale ressaltar, que há um incentivo envolta deste APL para que sejam construídos e
fortalecidos esses relacionamentos, tendo em vista a presença considerável de centros de
pesquisa, associações de negócios e instituições de ensino superior (Associação Caruaruense
de Ensino Superior, Campus avançado da Universidade de Pernambuco, Senai, Senac, Sebrae,
entre outros). Todavia, a mera presença dessas instituições não representa avanços em termos
de cooperação entre esses agentes, exigindo maior envolvimento e valorização dessas
instituições por parte das empresas.
Um outro ponto a ser destacado é o fato de que deve ser reforçado entre os
empresários a importância de estabelecer relações com os fornecedores da região, com o
objetivo de criar e fortalecer o vínculo local e regional, paralelo aos vínculos que podem está
sendo construídos entre as empresas e fornecedores de outras regiões. Diante do exposto,
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Tal fato torna-se evidente através da baixa qualificação dos profissionais em geral,
além de uma reduzida presença de programas de treinamento, investimentos em pesquisa e
desenvolvimento, entre outros. De acordo com a pesquisa, são poucas as empresas que vêm a
adoção a esses tipos de programas como sendo uma atitude eficaz e pró-ativa diante a
imprevisibilidade do ambiente organizacional, na medida em que têm-se uma grande
quantidade de funcionários que nunca receberam treinamentos. As falas mais representativas
para o componente em análise estão dispostas abaixo:
“....faço parte de uma associação de lojistas lá na feira e eu vejo a dificuldade que a gente
tem em lidar com esse pessoal, diz que não tem tempo, não aparece numa reunião, essas
coisas todas” .
“Eu acho que o incentivo parte de cada pessoa. Aqui tem o Senai, o Senac. Você acredita que
a gente inscreve o nosso pessoal pra fazer treinamento, e esses cursos são adiados duas, três,
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quatro, cinco vezes por falta de gente pra integrar o grupo? Então a melhoria deve partir de
cada um, porque os órgãos existem; mas ninguém vai atrás do que eles oferecem”.
“Crescer em todos os sentidos; atrair mais indústrias, atrair compradores, vender até para o
exterior se houver ajuda, incentivo ao mercado, pois aqui, o pessoal que trabalha,
fabricantes, donos de fábricas, são bem dispostos para trabalhar mesmo, para desenvolver”.
Com os resultados obtidos, pode-se concluir que as empresas que compõem o APL em
análise são de fato adaptáveis às transformações que se dão no ambiente onde estão inseridas,
o que resulta em uma análise positiva quanto a este componente.
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Competição Cooperação
FLEXIBILIDADE
ALTA
(Baixa) (Alta)
COMPETIÇÃO
(Alta)
Cooperação
BAIXA
APL de Confecções do (Baixa)
Agreste Pernambucano
BAIXA ALTA
CONFIANÇA
Fonte: Dados da pesquisa (2007)
Com base na aplicação da referida matriz e dos conseqüentes resultados obtidos, pode-
se afirmar que o APL de Confecção do Agreste Pernambucano apresenta o comportamento
orientado por características predominantemente de Competição Alta. Neste sentido, apesar
das empresas atuarem de forma conjunta em um mesmo território e em torno de uma
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atividade principal (o que sugere práticas cooperativas), ainda atuam em sua maioria de forma
individualizada. O tipo de comportamento identificado ocasiona na necessidade de estimular
práticas de cooperação como forma de fortalecer o arranjo com um todo, promovendo assim o
desenvolvimento do mesmo e, por conseguinte, da região.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de tais constatações, torna-se relevante enfatizar que em todo e qualquer APL o
ideal é que sejam encontrados comportamentos predominantemente cooperativos, pelas
próprias características que constituem um arranjo. Dessa forma, uma das medidas
recomendadas é promover o fortalecimento das interações entre as empresas, e entre estas
com as instituições locais, como forma de estimular ações conjuntas e assim, estarem aptas
para um efetivo atendimento às exigências do ambiente.
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6. REFERÊNCIAS
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Anais eletrônicos... Salvador: ENANPAD, 2002. Disponível em:
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Revista Eletrônica de Gestão Organizacional. Recife. v. 5, n. 1. jan.-mai. 2007.
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Dec. 1998.
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