Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
César Lucas Caetano de Abreu Lopes 1, Maico Roris Severino 1 e Marcelo Nunes Fonseca 1
Resumo
Considerando que, hoje, as indústrias geram muitos impactos ambientais, durante todas
as atividades transformadoras que compõem o ciclo produtivo dos bens e dos serviços, e
o fato de que é notório o aumento da preocupação ambiental nas últimas décadas, as
indústrias aos poucos alteram sua estratégia para atender à exigência de seu mercado
consumidor, optando pela adoção do conceito de Green Supply Chain Management, e
dentre suas vertentes principais, destaca-se a produção sustentável ou Green
Manufacturing. Pensando mais propriamente na vertente consumo energético, o objetivo
geral deste trabalho é analisar a viabilidade da implantação de uma usina fotovoltaica para
suprimento da demanda energética de uma fábrica do ramo de agronegócio, localizada no
centro-oeste brasileiro. Para tanto, o estudo foi dividido em cinco etapas denominadas:
bibliometria, definição do objeto de estudo, dimensionamento de bancos de baterias,
dimensionamento de sistemas fotovoltaicos e, por fim, análise de viabilidade econômica.
Como resultados, foram desenvolvidos quatro cenários testes, um on-grid e três off-grid.
Para os cenários off-grid foram considerados armazenamentos em bancos de baterias.
Como conclusão, pode-se perceber que apenas o cenário on-grid apresentou valor
positivo para o VPL, além de TIR maior que a TMA considerada e um tempo de payback
de 20 anos. Os demais cenários se apresentaram alto custo de investimento em tecnologias
de baterias, instigando estudos futuros para desenvolvimento de trabalhos com
tecnologias de armazenamento distintas e verificação da viabilidade econômica diante do
tema proposto.
Palavras chave
Green Manufacturing, banco de baterias, sistemas fotovoltaicos, análise de viabilidade
econômica
1. Introdução
1
As indústrias geram muitos impactos ambientais durante suas atividades
transformadoras que compõem o ciclo produtivo dos bens e dos serviços. Estes são
gerados desde a extração de matérias-primas até o desenvolvimento do produto final, na
utilização de água e energia, emissões atmosféricas devido ao transporte de carga, além
dos impactos ambientais gerados durante a utilização dos produtos e, principalmente, o
descarte de resíduos por parte da empresa e dos consumidores (González-Benito;
González-Benito, 2006). A partir disso, nota-se a necessidade, por parte das organizações
empresariais, em manter a competitividade de mercado, contudo, desenvolvendo
atividades de cunho sustentável.
Para o desenvolvimento desta adequação, diversas práticas vêm sendo desenvolvidas
na área de Gestão de Operações, dentre elas, destaca-se a prática intitulada Green Supply
Chain Management (GSCM), tendo como possível tradução para a língua portuguesa
Gestão Sustentável da Cadeia de Suprimentos.
O processo de implementação das práticas de GSCM nos sistemas produtivos é
cercado de desafios. Isto, pois, encontra-se de início uma agravante dificuldade em
relação às empresas, individualmente, adotarem medidas sustentáveis. Ao tratar-se de
práticas compartilhadas por diferentes empresas de uma mesma cadeia de suprimentos, o
problema torna-se ainda mais complexo.
Joshi (2012) destaca a importância desta prática para a eficiência dos recursos (eco
eficiência) e para a gestão do fluxo de resíduos de volta ao meio ambiente. Pode-se
afirmar que toda a GSCM tem como base a Green Manufacturing (GM), em que existem
investimentos em processos tecnológicos capazes de maximizar a utilização de recursos
e ao mesmo tempo reduzir consumo de energia e poluição, coordenando o tempo de
produção.
Uma das possibilidades da implementação do GM é partir do uso de energia
renovável, ou seja, buscar alternativas as fontes energéticas tradicionais, que conforme
(LUTHRA et al., 2016), fontes com origem fósseis como carvão, petróleo e gás natural
podem ser rotulados como os principais fatores relacionados a poluição ambiental e
aquecimento global. Mesmo que a grande maioria da energia elétrica no Brasil seja de
origem hidrelétrica (PENA, 2019), sabe-se que com o acobertamento permanente da
matéria orgânica existente em áreas antes do represamento da água desencadeia processos
químicos ao longo do tempo com consequências como acidulação da água e liberação de
gases estufas, dentre eles o metano.
2
Uma alternativa as fontes comuns de geração de energia seria o sistema de módulos
fotovoltaicos, baseado na geração de energia elétrica por meio da radiação solar,
considerada, portanto, um método de geração de energia limpa. Contudo, Trepani e Millar
(2016) questionam a viabilidade do uso deste tipo de sistemas devido a variabilidade e
intermitência da energia gerada, dependendo de fatores como horas solar disponível e
condições climáticas, demandando sistemas híbridos ou auxílio de armazenamento de
energia em bancos de baterias, elevando o valor de investimento e dificultando a
viabilidade econômica do projeto.
Ainda, vale ressaltar que o conceito de GSCM ainda é recente e existem poucos
estudos referentes ao tema. Isso se torna um desafio ainda maior quando se limita o
universo de pesquisa a termos de Brasil e especificamente, sobre sua vertente, Green
Manufacturing. Existe, portanto, a necessidade de contribuir no preenchimento desta
lacuna da literatura, bem como, contribuir para que a indústria brasileira faça uso das
práticas relativas ao GM e uso de recursos energéticos de cunho renovável.
Desta forma o objetivo geral deste trabalho é analisar a viabilidade da implantação de
uma usina fotovoltaica para suprimento da demanda energética de uma fábrica do ramo
de agronegócio, localizada no centro-oeste brasileiro. Como objetivos secundários tem-
se: dimensionamento de sistemas fotovoltaicos com banco de bateria para diferentes
cenários off-grid, dimensionamento de sistema fotovoltaico para o caso de suprimento da
demanda total, cálculo dos indicadores Valor Presente Líquido (VPL) e Taxa Interna de
Retorno (TIR), análise de sensibilidade econômica e estudo bibliométrico.
2. Referencial teórico
2.1 Sustentabilidade
No decorrer dos anos, tem se iniciado diversos debates com relação a questão
climática e ambiental. Um dos pontos tratados seriam as fontes tradicionais de energia
como carvão, petróleo e gás natural, assinaladas como principais contribuintes para o
aquecimento global (LUTHRA et al., 2016).
Com isso, as empresas vêm se preocupando com o posicionamento referente ao
desempenho sustentável e como isso pode refletir em sua imagem. Como alternativa a
este evento, tem-se a GSCM que segundo Zheng (2010) leva como fator preponderante
3
as questões ambientais, envolvendo práticas relacionadas à compra, projeto, venda,
consumo, disposição de materiais e, conforme o enfoque do projeto, a produção
sustentável (Green Manufacturing).
Geralmente, ao utilizar o termo produção sustentável, remete-se a processos de
logística reversa, reaproveitamento de materiais no ciclo produtivo e diminuição ou
reaproveitamento de resíduos. Contudo, existe um forte fator, a fonte de geração de
energia do sistema, que dependendo da natureza e do quantitativo demandado, pode ser
classificado como um dos principais fatores poluentes no processo produtivo.
Ao se tratar de combustíveis fósseis, o principal fator seriam a liberação dos
chamados gases de efeito estufa (GEE), muitas vezes gerados pela queima incompleta do
combustível. Dentre eles, podemos destacar o CO (monóxido de carbono), CO2 (dióxido
de carbono) e CH4 (metano), considerado os piores agentes do aquecimento global.
Com base nisso, em dezembro de 2015, no período da Vigésima Primeira
Conferência das Partes (COP21) da Convenção Quadro das Nações Unidades com tema
referido a mudanças climáticas, o Brasil estipulou-se como meta a redução, em 2025, as
emissões de gases efeito estufa em 37% em relação aos níveis gerados no ano de 2005.
Ainda, para os anos seguintes, deveria reduzir até 2030, as emissões de GEE em 43%
também em relação ao ano de 2005 (EPE, 2019b).
Para tanto, medidas vêm sendo tomadas e houve implementações no cenário
brasileiro, no setor energético, do conceito de energia renovável como fator
preponderante para alcançar a meta proposta. Onde surgem temas como implementação
de fontes limpas como a eólica e solar. Contudo, na Figura 1 elaborada a partir dos dados
encontrados em EPE (2019d), nota-se evolução na emissão de GEE entre os anos de 2005
a 2025, de cerca de 43,34%, com previsão de certa estabilidade para os próximos anos.
Nota-se ainda que, o principal setor responsável pela emissão de GEE seria o de
transportes, representando 44,26% de toda a liberação de GEE do grupo em 2005 e
42,69% em 2015, e evolução de 38,27% no período de 2005 a 2015. Logo após, vem o
setor industrial, abordando 19,55% de toda emissão do grupo em 2005 e 19,37% em
20015, evoluindo os níveis de emissão em 41,96% no período de 2005 a 2015. É dizer,
juntando os dois setores, tem-se cerca de 62% de toda emissão de GEE em 2015 no Brasil
(EPE, 2019d).
Para melhor compreensão da importância da sustentabilidade neste setor, se faz
necessário entender como se dá o consumo energético no Brasil.
4
No decorrer dos anos, tem se iniciado diversos debates com relação a questão climática e
ambiental. Um dos pontos tratados seriam as fontes tradicionais de energia como carvão,
petróleo e gás natural, assinaladas como principais contribuintes para o aquecimento
global (LUTHRA et al., 2016).
450
400
95
350 92
88 84
300
Industrial
250 Transportes
62
Agropecuário
200 233
219 Residencial
194 201
150 Setor Energético
140
100
20 21
16 18 19
50 22 22
26 19 20
23 32 32 36 38
0
2005 2015 2020 2025 2027
Figura 1: Evolução da participação setorial nas emissões de GEE pela produção e uso de energia
(milhões de toneladas de CO2)
5
Tabela 1: Evolução da população brasileira e do número de habitantes por domicílios
População Domicílios
Ano
(milhões) (milhões)
2017 208,4 67,6
2018 209,9 68,8
2019 211,4 69,9
2020 212,8 71,1
2021 214,1 72,2
2022 215,4 73,4
2023 216,6 74,5
2024 217,8 75,6
2025 218,9 76,7
2026 219,9 77,8
2027 220,9 78,9
O fato é que o consumo de eletricidade no Brasil não está relacionado apenas ao setor
residencial, conforme abordado na Tabela 2, verifica-se que no Brasil o setor com maior
consumo percentual é o industrial seguido do setor de transportes, conforme Figura 2
elaborada a partir de dados oriundos de EPE (2019d), sendo estes responsáveis por
33,26% e 32,51% consecutivamente, de todo o consumo energético do país no ano de
2017 e com previsão de aumento relativo em cada setor consecutivamente em Mtep de
20,9% e 22,65%.
Considerando o grande percentual de participação do setor industrial, faz-se
necessário evidenciar o representativo por fonte de energia. Destaca-se, portanto, o
consumo de energia elétrica em ambos os anos apresentado na Figura 3, que foi elaborado
a partir das informações de EPE (2019d), de modo que, apesar da redução do percentual
relativo total, é previsto um aumento do consumo de energia elétrica do setor em 2027 de
34,17%.
6
120,00 35,00
100,00 30,00
25,00
80,00
20,00
60,00
15,00
40,00
10,00
20,00 5,00
0,00 0,00
25,0 25,0
20,0 20,0
15,0 15,0
10,0 10,0
5,0 5,0
0,0 0,0
Gás Natural Carvão Lenha e Derivados Eletricidade Demais Derivados
Mineral e Carvão da Cana Fontes de Petróleo
Derivados Vegetal
Figura 3: Fontes de energia para setor industrial nos anos de 2017 e 2027
7
Tabela 3: Consumo nacional de energia elétrica na rede por classe
8
400,00 368,95
350,00 324,16
293,49
300,00
250,00
194,30
200,00 169,78
166,81
150,00
0,00
2017 2022 2027
2027 53 47
2022 52 48
2017 57 43
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
9
12000
10000 9553
8892
8000
6000
4169 4174 2017
3644
4000 3313 2018
1351
2000 1280
191 204 88 72
74 298
0
Lixívia Eólica Biodiesel Outras Biogás Gás Solar
biomassas industrial de
carvão
vegetal
Por outro lado, ainda no Figura 6, nota-se no ano de 2017 o setor de geração solar
com pouca expressividade, com apenas 72 Mtep produzidos no ano. Contudo, apresenta
313,89% de evolução no período de 2017 a 2018, sendo o segmento que mais evoluiu
percentualmente de todo o grupo, alcançando 1,5% da representatividade no segmento
das fontes renováveis no ano de 2018, assim como apontado na Figura 7.
1,03% 0,44%
1,50% Lixívia
6,81%
Eólica
Biodiesel
21,04%
48,16% Outras biomassas
Biogás
10
2.4 Sistemas fotovoltaicos
11
Dentre as vantagens da utilização do sistema, Silveira, Tuna e Lamas (2013),
afirmam que apesar de altos custos iniciais, o sistema apresenta alta confiabilidade e baixa
manutenção e custos operacionais. Já para Hernandez et al. (2012), além dessas
vantagens, a energia solar é limpa e está livre para uso. Ainda, Ameen, Pasupuleti e
Khatib (2015) destaca que estes tipos de sistemas são considerados de energia
relativamente simples, confiável, econômica, ambientalmente amigável e com baixos
custos de manutenção.
Ao mencionar sistemas fotovoltaicos, podemos caracterizá-los em dois grupos: on-
grid e off-gride. O primeiro funciona com conexão à rede de transmissão, como abordado
na Figura 9, de maneira que a energia produzida em excesso e não consumida é
direcionado à rede e é convertida em créditos, os quais tem validade de até 3 anos (Boso,
2015). Em contrapartida, o sistema off-grid, apresentado na Figura 10, é um sistema
autônomo que necessita de baterias para armazenar a energia produzidas pelas placas
fotovoltaicas.
Como em sistemas fotovoltaicos do tipo off-grid são necessárias baterias para
armazenamento de energia, entende-se necessário a estruturação de como desenvolver os
cálculos matemáticos para dimensionamento de bancos de baterias.
12
Figura 10: Sistema Off-Grid
Fonte: Ecomais, 2019
2.5 Baterias
Segundo Rezende e Pereira (2018), um dos problemas relacionados a geração de
energia fotovoltaica está relacionado a não coincidência dos fatores geração e consumo,
devido a fatores aleatórios da irradiação solar, desta forma uma alternativa seria o uso de
baterias.
Cada tipo de bateria possui parâmetros elétricos diferentes que dependem do tamanho,
tipologia da ligação das células e elementos constituintes. Disto isto, as principais
variáveis a serem levadas em consideração seriam: Corrente Elétrica, fluxo de cargas
elétricas medidas na unidade Ampére (A); Tensão Elétrica, definido como diferença de
potencial entre dois pontos mensurada em Volts (V); Capacidade, identificada como a
quantidade de energia que pode ser retirada da bateria e é medida usualmente em Ampére-
hora (Ah) (OLIVEIRA, 2019).
Ao mencionar o uso de baterias em sistemas fotovoltaicos, deve-se focar no
dimensionamento do banco de baterias. Os instrumentos podem ser posicionados em série
ou em paralelo, de forma que, ao associá-las em série o resultado é um valor de tensão
maior enquanto a associação em paralelo fornece mais corrente com o mesmo valor de
tensão (VILLALVA; GAZOLI, 2012).
Primeiramente define-se o número de baterias em série por meio da relação entre a
tensão das baterias usadas e a tensão do banco de baterias (VILLALVA; GAZOLI, 2012).
13
Desta forma, o a quantidade de baterias em série pode ser mensurada por meio da Equação
2.5.1:
𝑉 banco
NBS = (2.5.1)
𝑉𝑏𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎
Onde:
• NBS = Número de baterias ligadas em série;
• Vbanco = Tensão desejada do banco de baterias (V);
• Vbateria = Tensão das baterias utilizadas para compor o banco (V).
Posteriormente, deve-se medir a quantidade de energia que o banco deve armazenar,
Equação 2.5.2, para isto relaciona-se o quantitativo de energia consumido pelo sistema a
ser alimentado e um fator conhecido como profundidade de descarga. Conforme Rezende
e Pereira (2018), um valor a ser considerado para a profundidade é de 20% uma vez que
se busca maximizar a vida útil da mesma.
𝐸𝑐
EA = (2.5.2)
𝑃𝐷
Onde:
• EA = Energia a ser armazenada no banco (Wh);
• Ec = Energia a ser consumida (Wh);
• PD = Profundidade de descarga (20%).
Ainda, tem-se a capacidade do banco (Cbanco), calculada por meio da relação entre
EA e a tensão do banco (Vbanco), conforme a equação 2.5.3:
𝐸𝑎
Cbanco = (2.5.3)
𝑉 𝑏𝑎𝑛𝑐𝑜
Por fim, deve-se determinar o tipo e bateria a ser empregado no sistema levando em
consideração a capacidade da bateria empregada (Cbateria). Assim, relacionando este
fator com a Cbanco temos o número de baterias em paralelo (NBP), conforme Equação
2.5.4:
𝐶 𝑏𝑎𝑛𝑐𝑜
NBP = (2.5.4)
𝐶 𝑏𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎
Para ter exatamente o número de baterias empregadas no banco, basta multiplicar o
número de baterias em série pelo número de baterias em paralelo, resultando, portanto,
na matriz de baterias.
14
Após, dimensionamento do projeto como um todo, abordando tanto o sistema
fotovoltaico quanto o banco de baterias e os equipamentos necessários para instalação, é
necessário análise sólida para verificar a viabilidade econômica, o que irá apoiar a decisão
de execução ou não do projeto.
15
aplicação do montante desejável. Neste sentido, os representantes do projeto devem
realizar pagamentos periódicos para a instituição financeira, e em cada pagamento é pago
uma parte do salvo devedor (amortização) e juros incidentes deste saldo. Casarotto e
Kopittke (2010) definem este fenômeno de devolução do montante adquirido somado aos
juros como “sistemas de amortização”.
Existem dois principais sistemas de amortização da dívida, o SAC e o PRICE, sendo
que o primeiro consiste em um plano de amortização de uma dívida em prestações
periódicas, sucessivas e decrescentes, em progressão aritmética, dentro do conceito de
termos vencidos, em que o valor de cada prestação é composto por uma parcela de juros
e outra parcela de capital. (SANTOS et al., 2007)
A parcela de capital é obtida dividindo-se o valor do financiamento pelo número do
tempo de amortização das dívidas, enquanto o valor da parcela de juros é obtido pela
multiplicação da taxa de juros pelo saldo devedor existente no período imediatamente
anterior Vieira Sobrinho (1997).
Já no sistema PRICE, um Sistema Francês de Amortização, as prestações são
constantes e correspondem a uma série de pagamentos uniforme. Sendo assim é diferente
o modo de cálculo da incidência de juros, segundo Nogueira (2002) o saldo devedor nunca
deduz o juro que foi pago e para cada parcela paga, deve-se deduzir do total pago somente
uma parte que é a amortização, obtida através da diferença entre a prestação e o juro.
3 . Metodologia
16
Figura 11: Framework da pesquisa
3.1 Bibliometria
17
sem nomes e duplicados dentro das próprias bases, de forma que foram selecionados 168
artigos para análise bibliométrica.
Com a base consolidada, é possível utilizando o software Excel o desenvolvimento de
análises estatísticas dos dados, apresentando o estado da arte do tema do trabalho ao longo
dos anos. As principais evidências foram: publicações por ano, número de trabalhos por
autor, publicações por país, tipo de trabalhos, principais revistas da área, fator de impacto
das revistas.
Com todo o apanhado reunido, foi possível, então, perceber as diretrizes necessárias
para o desenvolvimento da pesquisa, direcionando a para uma das áreas do GM (consumo
energético). Nesta etapa, o desafio foi identificar uma empresa parceira para fornecer as
informações referentes ao consumo e pagamento de tarifas energéticas.
Foi estabelecido contato com 4 indústrias localizadas na região centro-oeste do país.
A primeira atua no ramo de cartonagem, contudo apresentava demanda energética muito
elevada e atuam no mercado livre de energia. Desta forma, não apresentaram interesse
em formalizar parceria para desenvolvimento do estudo.
A segunda empresa atua no ramo de moveleiros, se disponbilizou a ceder as
informações necessários, porém devido ao porte da empresa, possuem turno único no
horário comercial, inviabilizando a análise nos períodos de ponta energética.
Ainda, conseguiu-se o apoio de uma empresa alimentícia, mas também devido ao
porte da mesma, obteve-se dificuldades para seguimento, uma vez que, o contrato com a
conssessora não apresenta variação na tarifa entre os horários de ponta e fora de ponta.
Por fim, foi firmado acordo com uma empresa do ramo de agronegócio com atuação
em todas as regiões do Brasil. Foi cedido o valor tarifário de uma de suas indústrias
produtoras e o consumo energético dos últimos 12 meses, considerada a data de
fornecimento. Contudo, foi requisitado o não fornecimento do nome da empresa.
A próxima etapa se iniciou com a mensuração da demanda energética pela fábrica nos
horários de ponta ao longo do período fornecido. Considerando uma demanda instável ao
longo do ano, desenvolveu-se 3 cenários diferentes para análise. O primeiro baseado na
18
média anual em kWh, somou-se os 12 meses fornecidos e dividiu-se o montante pela
quantidade de meses. O segundo cenário foi baseado no valor de maior consumo do
período e o terceiro o de menor consumo.
Com os valores fixados, utilizou-se as equações da seção 2.5 do referencial teórico
para calcular o número de baterias que constituiriam o banco de armazenamento de
energia para os cenários citados acima, utilizado para fornecimento de energia durante o
período de ponta.
Além dos cenários off-grid citados no tópico anterior, tem-se o cenário “full”
considerando a demanda energética tanto no horário de ponta quanto fora de ponta. Nesta
fase do trabalho, o objetivo foi dimensionar a usina fotovoltaica para cada um dos 4
cenários apresentados.
Para tanto, utilizou-se como marco referencial a capacidade do banco de bateria em
cada cenário e, no caso do cenário full, a demanda energética média anual. Desta maneira,
considerando o valor média de horas solares disponíveis na região , conforme Cresesb
(2019), desenvolveu-se uma planilha em Excel para dimensionamento dos diferentes
cenários, de maneira que, para os casos que envolvem armazenamento: ao longo do dia
fosse capaz de alimentar o banco de baterias, para a demanda do horário de ponta; para o
sistema ligado na rede: ao longo do dia gerasse energia para alimentar a demanda da
fábrica nos horários de ponta e fora de ponta.
19
se tornar viável, ou quanto a tarifa energética deveria ser mais cara para também ser viável
o projeto.
4 Resultados e discussões
20
Outro fator importante a ser abordado seria a contribuição dos autores para o
desenvolvimento do tema, um indicador interessante desenvolvido com a amostra é o
número de publicações por autor, assim como apresentado na Figura 13. Para construção
do indicador, trabalhos com mais de um autor foram considerados pontuados a cada autor,
somando assim a cada autor artigos exclusivos e em grupo. Além disso, foram abordados
na imagem autores com pelo menos 4 trabalhos. Ainda, deve-se destacar o principal
contribuinte da amostra Sangwan K.S. com 11 trabalhos publicados.
Com respeito aos países onde foram desenvolvidas as pesquisas, fator importante para
analisarmos quais regiões ao longo do globo estão sendo influenciadas pela tendência do
GM e engajadas com o tema, apresenta-se na Figura 14 o quantitativo de trabalhos por
país com o critério de pelo menos quatro trabalhos na amostra.
21
Analisando a Figura 15, é interessante destacar a expressão no principal contribuinte
a China, com 60 publicações, correspondendo a quase 36% dos trabalhos de toda a
amostra e a quase 46% do montante apresentado na imagem. Em sequência tem-se a Índia
com 39 trabalhos, juntos estes dois países correspondem a quase 60% de todos os
trabalhos da amostra, o que nos leva a perceber um forte interesse daquela região para
com o tema em análise.
22
Além do número de publicações por revista, é interessante ressaltar o fator de impacto
das mesmas, evidenciando o nível de expressividade das revistas. Mesmo que a
quantidade de publicações não seja alta, as principais revistas apresentadas têm fator de
impacto interessante, tal como a Journal Of Cleaner Production, com 6,39 que são fatores
cobiçados e de expressividade no meio acadêmico, evidenciando alta qualidade das
publicações e grande reconhecimento pelo meio científico para com o tema em análise.
Por fim, apresenta-se a Figura 17, abordando a contribuição de cada base para a
construção do banco de dados e, portanto, a origem dos trabalhos que constituem a
bibliometria apresentada. Nota-se que a grande maioria tem como origem a base Scopus
com 118 itens exclusivos, um representativo de 70% da amostra. Já a base Web of Science
teve como resultado 33 trabalhos exclusivos, com um montante de 20% da amostra.
Ainda, havia aqueles trabalhos que se apresentavam em ambas as bases, totalizando 17
itens que correspondem a 10% da amostra construída.
23
O primeiro passo para o dimensionamento é estabelecer a demanda energética da
fábrica nos horários de ponta. Desta maneira, apresenta-se na Figura 18 os valores do
consumo energético, no horário de ponta, da fábrica em análise.
9000
8000
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
Com valores que apresentam grande oscilação ao longo do ano devido período de
safra e entressafra produtiva, foi decidido ampliar a análise em 3 cenários diferentes,
nomeando-os em 1, 2 e 3, com relação ao menor valor de consumo anual, a média anual
e o maior valor, respectivamente, os quais são apresentados na Tabela 4.
24
Tabela 5: Resultados do dimensionamento do banco de baterias por cenário
25
Tabela 6: Redução de eficiência
Ao dividir o consumo mensal considerado por cada cenário, pela quantidade de dias
no mês e pelas horas corrigidas disponíveis diárias, tem-se a potência corrigida, conforme
Tabela 7:
Tabela 7: Potência calculada por cenário
26
60,00
50,00 47,96
40,00
30,00 27,42
20,55
20,00
8,42
10,00
3,61 4,81 5,10
2,18 2,91 2,62 1,12 1,50
0,00
4 3 2 1
Figura 19: Níveis de liberação em toneladas de CO2 por fonte e nível de redução anual
1 R$ 47.455,26
2 R$ 79.596,88
3 R$ 104.882,81
4 R$ 255.577,37
27
O horizonte de avalição do projeto é de 25 anos, tempo de utilização do sistema
fotovoltaico. Os valores de investimento para cada cenário proposto estão apresentados
na Tabela 8, considerando já a troca do inversor após 12 anos de execução e do banco de
baterias a cada cinco anos:
Tabela 8: Relações de investimento por cenário proposto
Nota-se maior expressividade na taxa de investimento por kWp nos cenários que
envolvem utilização dos bancos de baterias, em média 5 vezes maior, comprovando que
ainda há um alto custo no investimento em sistemas off-grid dada a tecnologia atual.
Para tanto, a análise de viabilidade de cada cenário proposto foi realizada. Com
relação aos cálculos, foi levado em consideração o investimento, apresentado por meio
de orçamento com fornecedor real de acordo com a dimensão do projeto para cada
cenário; custo de operação e manutenção de 3% a.a, conforme fornecedor; depreciação
do sistema fotovoltaico de 4% a.a e 20% a.a para as baterias, conforme ANEEL (2019);
30% a.a de impostos (IRPJ e CSLL), uma vez que a empresa se enquadra no grupo lucro
real; redução de eficiência do sistema em 0,08% a.a; inflação tarifária do fornecedor de
energia de 4%.
Contudo, apenas o tempo de payback não é satisfatório para dizer se o projeto é viável,
caso exista payback, a única informação seria que o projeto se paga dentro de alguns anos.
Desta maneira, é necessário analisar pelo menos dois cenários e comparar os rendimentos
28
destes para afirmarmos qual seria mais rentável. Para isto, adotamos o WACC descontado
pela inflação de 10,35% ao ano, conforme calculado por Fonseca (2017).
Com base na TMA apresentada, temos o valor de VPL e TIR calculados para cada
cenário apresentado na Tabela 9.
Aprofundando a análise, tem-se que apesar de negativos, dentre o grupo dos off-grids,
o cenário 1 obteve o maior VPL, seguido do cenário 2 e por fim cenário 3. Há indícios de
correlação para o efeito estar diretamente relacionado ao volume de baterias apresentado
para composição do banco, visto que, o valor de investimento por kwp foram similares,
contudo, o maior agravante seria a quantidade de energia a ser armazenada, e
consequentemente, o número de baterias.
29
Tabela 10: Valores mínimos do investimento para VPL igual a 0
Pensando no valor da tarifa no horário de ponta, pode-se calcular o quanto deveria ser
de custo mais elevado para que o sistema proposto atingisse o ponto de equilíbrio. Desta
maneira, apresenta-se na Tabela 11 os dados das novas tarifas para cada cenário.
Cenário R$/kWh
1 R$ 2,23
2 R$ 3,29
3 R$ 3,84
5. Conclusão
Este trabalho teve por objetivo geral propor diferentes simulações de cenários de
dimensionamento de usinas fotovoltaicos, de maneira a avaliar as condições de
viabilidade econômico para cada cenário proposto. Para tanto, dividiu-se a pesquisa com
foco em: desenvolvimento de material bibliométrico referente ao tema abordado;
dimensionamento de bancos de baterias; dimensionamento de sistemas fotovoltaicos e
ganhos com a implantação; análise de viabilidade econômica.
30
diretrizes dos principais autores que publicaram na área, visando o direcionamento
consistente para o estudo.
Referências
AMEEN, A. M.; PASUPULETI, J.; KHATIB, T.; 2015. Simplified performance models
of photovoltaic/diesel generator/battery system considering typical control strategies.
Energy Conversion and Management, v.99, 313–326.
31
ARNOLD, T.; CRACK, T. F.; 2004. Using the WACC to value real options. Financial
Analysts Journal, 60.6: 78-82.
CABRAL, I.; VIEIRA, R.; 2012. Viabilidade econômica x viabilidade ambiental do uso
de energia fotovoltaica no caso brasileiro: uma abordagem no período recente. In: III
Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental.
EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Consumo Anual de Energia Elétrica por classe
(nacional). Disponível em: < http://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-dados-
abertos/publicacoes/Consumo-Anual-de-Energia-Eletrica-por-classe-nacional > Acessado em:
22/11/2019.
32
FONSECA, M. N.; 2017. Proposta para configuração ótima de Projetos Híbridos Isolados
de geração de energia.
LUTHRA, S.; GOVINDAN, K.; KHARB, R. K.; MANGLA, S. K.; 2016. Evaluating the
enablers in solar power developments in the current scenario using fuzzy DEMATEL: An
Indian perspective. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v.63, 379–397.
33
QUEIROZ, A. R.; LIMA, L. M. M.; LIMA, J. W. M., SILVA, B. C.; SCIANNI, L. A.;
2016. Climate Change Impacts in the Energy Supply of the Brazilian Hydro-dominant
Power System. Renewable Energy, 99: 379-389.
SANTOS, H. L.; LEGEY, L. F. L.; 2013. A model for long-term electricity expansion
planning with endogenous environmental costs. Electrical Power and Energy Systems,
v.51, 98-105.
SANTOS, E. D., MANSO, A. M., PEREIRA, D. W., & DE SOUSA, K. H.; 2007.
Matemática Financeira. Uma Abordagem Contextual. UEL.
SILVEIRA, J. L.; TUNA, C. E.; LAMAS, W. Q.; 2013. The need of subsidy for the
implementation of photovoltaic solar energy as supporting of decentralized electrical
power generation in Brazil. Renewable and Sustainable Energy Reviews V.20, 133-141.
TORRINI, F. C.; SOUZA, C. R.; OLIVEIRA, F. L. C.; PESSANHA, J. F. M.; 2016. Long
term electricity consumption forecast in Brazil: A fuzzy logic approach. Socio-Economic
Planning Sciences. V.54, 18-27.
TREPANI, K.; MILLAR, D. L.; 2016. Floating photovoltaic arrays to power the mining
industry: A case study for the McFaulds Lake (Ring on Fire). Environmental Progress &
Sustainable Energy, v.35, 898-905.
ZHENG, F.; 2010. Practices and Research on Green Supply Chain Management in China
and abroad. In: International Conference on E-Product E-Service and E-Entertainment
(ICEEE), 2010. Henan. Proceedings, pp. 1-4.
34