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SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS


DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ

Sustentabilidade, Inovação e Novos Negócios

Importância da Preservação da memória para a afirmação


da identidade negra na baixada santista
Maria Cristina B Martins
Estudante do Curso de Serviço Social
Núcleo de Estudos Indígena e Afro-descendente- NEIAB
UNAERP - Universidade de Ribeirão Preto - Campus Guarujá
mbmartins@unaerp.br

André Pereira da Silva


Estudante do Curso de Educação Física
UNAERP - Universidade de Ribeirão Preto - Campus Guarujá
andre.pereirasilva@outlook.com

Mary Francisca do Careno


Docente do Curso de Pedagogia e Coordenadora do Núcleo de Estudos
Indígena e Afro-brasileiro- NEIAB - Orientadora
UNAERP - Universidade de Ribeirão Preto - Campus Guarujá
mcareno@uol.com.br

Este simpósio tem o apoio da Fundação Fernando Eduardo Lee

RESUMO
Os afrodescendentes, nessas últimas décadas, vêm conquistando apoios legais
importantes (Lei 10.639/03, Lei 11.645/08, Lei 12.711/2012 e a Lei no. 12.288/
2010), o que revela um clima relativamente propício para a realização de pesquisas
que venham fortalecer o reconhecimento das contribuições dos negros à sociedade
brasileira. Em sendo o Município do Guarujá/SP, em especial a Baixada Santista
como um todo, palco de fatos importantes para a história brasileira que necessitam
ser incorporados ao currículo escolar, a presente pesquisa, pretende i) atender as
proposituras da Lei Federal 10.639 de 09/01/2003, que alterou a LDB - Lei de
Diretrizes da Educação Nacional; ii) ajudar no processo de afirmação da identidade
negada ou distorcida e de conhecimentos a respeito da cosmovisão africana no
Brasil; iii) encontrar, nos depoimentos de habitantes mais antigos da região, as
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africanidades existentes no cotidiano passado e presente, ou seja, as marcas da


cultura de raiz africana. Para tanto, a pesquisa conta com estudo de campo,
metodologia da história oral e pesquisa quanti-qualitativa. Utiliza entrevista semi-
estruturada, relatos gravados de antepassados e de antigos habitantes. Os autores
são Lüdke; André (2008), Freire (2008), Thompson (2002) e já houve consultas a
documentos históricos e visitas a locais onde ainda são encontradas ruínas e
construções antigas, a bibliotecas, centros universitários da região e pesquisa
online. Como resultados preliminares,as respostas aos questionários demonstram a
existência de preconceitos e a desvalorização dos traços históricos culturais que
ainda são conservados por meio de fragmentos e ruínas, mas estão em via de
desaparecimento e se não forem resgatadas com urgência, parte da história regional
se apagará.
Palavras-chave: Identidade. História oral. Relações raciais. Preservação.

ABSTRACT
African descendants in this last decades, have gained significant legal restraints
(Law 10,639 / 03, Law 11,645 / 08 Law 12,711 / 2012 and Law no. 12,288 / 2010),
which shows a relatively favorable climate for conducting research that will
strengthen the recognition of the contributions of blacks to the Brazilian society.
Being in the city of Guaruja / SP, especially the Santos area as a whole, the scene of
important events for the Brazilian history that need to be incorporated into the school
curriculum, the present study, l) aims to meet the propositions of the Federal Law
10.639 of 09 / 01/2003, which amended the LDB - Guidelines Law of Education;
assist in the identity claim denied or distorted knowledge about the African worldview
process in Brazil; find, in the testimonies of the oldest inhabitants of the region,
existing Africanities past and present daily life, ie, the marks of the culture of African
origin. For this purpose, the research has field study of oral history methodology and
quantitative and qualitative research. Uses semi-structured interviews, reports of
ancestors and ancient inhabitants. The authors are Lüdke; André (2008), Freire
(2008), Thompson (2002) and there have been visits to historical documents and
visits to places where ruins and old buildings are still found; documents available in
libraries, universities in the region and online research. As preliminary results,
questionnaire responses demonstrate the existence of prejudice and devaluation of
cultural historical traces are still conserved through fragments and ruins, but are in
the process of disappearance, and if not redeemed with urgency, part of regional
history erase
Keywords: identity. Oral history. Race relations. Preservation.
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Introdução
Em tempos antigos na África, as árvores que obtinham portes maiores eram
utilizadas como símbolos de ancestralidade e de identidade local, sendo
consideradas um instrumento sagrado onde os mais velhos repassavam seus
conhecimentos e suas lições de vidas para os mais novos, dando, assim, a
continuação de seu povo e preservando suas raízes. As tradições se passavam
corriqueiramente até que o processo de escravidão veio para defasar o continente
africano, destruindo a história com o tráfico de negros para outros países, mudando
seus nomes, hábitos, religiões, forçados a aprender novas culturas e submetidos
ao trabalho escravizado. Em tempos atuais, percebe-se que o Brasil, fora do
continente africano, é o país que possui a maior população negra, embora suas
tradições de origem tenham, paulatinamente, sendo destruídas, pois desde sua
chegada no continente sul-americanos era visto como inferior e subalterno. Com o
tempo, ele foi perdendo a sua identidade, ou seja, sua história e cultura e a de seus
ancestrais foram desaparecendo da sociedade. Essa perda foi eternamente
reforçada pelo discurso político oferecido nas escolas e pela mídia. A maioria de
livros de história do Brasil, sempre escritos por colonizadores europeus: ingleses,
portugueses, franceses ou holandeses, certamente jamais iriam contar uma história
propositiva desse segmento populacional, a confirmar o antigo provérbio africano: “
Até que os leões (negros, índios, deficientes, enfim, os discriminados) escrevam
suas histórias, os contos de caça (História) glorificarão sempre o caçador (o
colonizador, a elite). Ao longo da história , o povo africano padeceu. A sociedade
brasileira não fez, por exemplo, o que os autênticos abolicionistas reivindicavam, ou
seja, uma reforma agrária, uma reforma na educação que garantissem terras aos
negros libertos e a possibilidade de que o seu cultivo lhes gerasse renda e
desenvolvimento. O resultado foi a transformação da quase totalidade dos antigos
escravizados em novos miseráveis. Tornaram-se cidadãos de segunda ou de
terceira classe.
Com relação à preservação cultural, o colonizador empregou inúmeras
formas de desumanizar e separar os membros das famílias africanas que aqui
foram trazidas; tratou-os como seres inferiores e, assim, com o tempo, ele foi
perdendo a sua identidade, os costumes, a língua, culinária, conhecimento
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tecnológicos e científicos, ou seja, a história e cultura sua e de seus ancestrais


estavam fadados ao esquecimento.
Com o passar dos anos, entretanto, sempre houve ações de resistências do
segmento negro, por meio de rebeliões, formação de quilombos, morte dos
escravizadores, incêndio de canaviais. Os movimentos grupos negros continuaram a
lutar por sua liberdade e os afrodescendentes, nessas ultimas décadas, vêm
conquistando apoios legais importantes: Lei 10.639/03, Lei 11.645, Lei 12.711/12,
Lei 12.288/10 entre as mais importantes..
A lei federal 10.639/03 determina a obrigatoriedade do ensino da História e
Cultura Africana e Afro-brasileira em todos os níveis escolares, envolvendo de certa
maneira a lei 11.645/08 que inclui também a História e Cultura Indígena nos
currículos escolares. A Lei 12.288/10 institui o Estatuto da Igualdade Racial e a Lei
12.711/12 reserva 50% de cotas para afrodescendentes. Todas elas foram criadas
com o objetivo de inclusão da população negra e indígena nas conquistas sociais
em busca de melhores oportunidades de estudo, de trabalho, de saúde e de
convivência social no País. Embora tenha havido esses avanços, ainda não são
suficientes para que as relações raciais sejam harmoniosas, considerando-se que
do total de habitantes brasileiros, 53% são negros e desses, mais de 60% ainda
permanecem abaixo da linha da pobreza. As conquistas só não têm uma eficácia
maior, devido à permanência de ideias preconceituosas ensinadas e impostas
desde o período da escravidão e por este motivo muitos negros desconhecem suas
verdadeiras origens e perderam sua identidade.
Essa permanente luta pela recuperação da própria história e as vitórias
alcançadas revelam um clima relativamente propício para a realização de pesquisas
que venham fortalecer o reconhecimento das contribuições dos negros à sociedade
brasileira. Em sendo o Município do Guarujá/SP, em especial a Baixada Santista
como um todo, palco de fatos importantes para a história brasileira que necessitam
ser incorporados ao currículo escolar, a presente pesquisa pretende i) atender as
proposituras da Lei Federal 10.639 de 09/01/2003, que alterou a LDB - Lei de
Diretrizes da Educação Nacional e torna obrigatória a temática da “História das
culturas africana e afro-brasileira” nos currículos escolares; ii) ajudar no processo de
afirmação de identidade negada ou distorcida de conhecimentos a respeito da
cosmovisão africana no Brasil; iii) encontrar, nos depoimentos de habitantes mais
antigos da região, as africanidades existentes no cotidiano passado e presente, ou
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seja, as marcas da cultura de raiz africana. Para tanto, a pesquisa conta com
estudo de campo, metodologia da história oral e pesquisa quanti-qualitativa. Utiliza
entrevista semi-estruturada, relatos de antepassados e de antigos habitantes. Os
autores são Lüdke; André (2008), Freire (2008), Thompson (2002) e já houve
consultas a documentos históricos, disponíveis em bibliotecas, centros universitários
da região e pesquisa online, além de visitas a locais onde ainda são encontradas
ruínas e construções antigas resquícios da população negra.
A finalidade da presente comunicação é resgatar o que ainda é preservado da
cultura afro-brasileira na Baixada Santista, destacando a ancestralidade, a
identidade e a autoafirmação. Como proposta, há que se divulgar a desigualdade
que ainda existe, em pleno século XXl, denunciar as marcas que a discriminação, o
preconceito e o racismo deixaram e divulgar as influências, principalmente culturais,
ainda existente nos tempos atuais.
Visto que a pesquisa está no seu início, pouco material pôde ser encontrado
contendo algum registro oficial com referência aos escravizados que viveram na
região. A pesquisa se justifica pela tendência do desaparecimento gradativo do
modo de viver e pensar o mundo, das atividades socioeconômicas, comunitárias e
culturais desse grupo étnico em estudo. Daí, a urgência em se resgatar essa cultura
africana, que ainda subsiste na Baixada Santista.
O trabalho centra-se na busca de elementos materiais e imateriais
encontrados em ruínas, contruções antigas, conhecidossomente pelos habitantes
locais. Volta-se também para os depoimentos de velhos moradores, a quem
daremos a voz, pois, com certeza, figuram em grande parte da sociedade, como
guardiões que são das lembranças do grupo negro e são referências fundamentais
da identidade coletiva. Os mais velhos merecem o respeito e a reverência dos mais
jovens, pois representam a valorização da sabedoria e da autoridade de que são
portadores.
Para o resgate das informações sobre os costumes da população negra da
região, foi elaborado um roteiro de intrevistas, um questionário semi-estruturado,
baseado em seis eixos: perfil do informante; saúde; educação, aspectos culturais;
trabalho e religião. O roteiro faz parte do projeto maior intitulado: Afroinfluências na
Baixada Santista/SP: resgate de memória e reescrita da História.
O universo da pesquisa envolve alguns critérios de escolha de informantes:
pessoas afrodescendentes, residentes há mais de 50 anos na região, pertencentes à
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faixa etária acima de 70 anos. Portanto, o trabalho centra-se no depoimentos dos


velhos moradores, a quem daremos voz, pois, com certeza, figuram, em grande
parte da sociedade da Baixada Santista, como os guardiões das lembranças do
grupo e referências aos mais jovens.
Como resultados preliminares, as respostas aos questionários demonstram a
existência de preconceitos e a desvalorização dos traços histórico- culturais que
ainda são conservados por meio de fragmentos e ruínas, mas estão em via de
desaparecimento e se não forem resgatados com urgência, parte da história regional
paulista se apagará.

Considerações finais
A tendência do desaparecimento gradativo das atividades socioeconômicas e
culturais desse grupo étnico, suas atividades comunitárias, seus modos de viver e
pensar o mundo, a pesquisa se justifica pela desaceleração do processo de
nivelamento da linguagem e atitudes, devido aos padrões urbanos atraentes
principalmente aos jovens. Daí, a urgência em se resgatar essa cultura africana, que
ainda subsiste nesses bairros.
A divulgação da história e cultura negra e indígena nos currículos escolares
torna-se essencial e imprescindível através de revistas, jornais, livros de autores
africanos e afrodescendentes, na mídia televisiva. As redes sociais podem auxiliar
na divulgação de um trabalho eficaz, passando a propagar a veracidade da história
de Matriz Africana e da identidade Afro-Brasileira.
Conhecer, valorizar e preservar o que ainda resta da história e cultura afro-
brasileira e indígena é oferecer, através da pesquisa, possibilidades de superação
da indiferença injusta e da desqualificação social.

REFERÊNCIAS

BRASIL – MEC/ SECAD. LEI No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003. Secretaria


de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília: Ministério da Edu-
cação, Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2003.

BRASIL – MEC/ CNE/ Conselho Pleno/DF. Resolução no. 1, de 17 de junho de


2004. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-
raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Brasília:
Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação/CES, 2004. Disponível em
<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/res012004.pdf> Acesso em 06 nov. 2009.
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BRASIL. Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010. Estatuto da Igualdade Racial .


Brasília/DF. Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial- SEPPIR.
2010.

BRASIL. Lei 12.711/2012. A implementação da lei de cotas. Brasília/DF.


Disponível em: <www.brasil.gov.br/educacao/2012/10/implementacao-da-lei-de-
cotas.. Acesso em: 12 out. 2014.
CARENO, Mary F. do. Nhunguara: Uma Comunidade Rural do Vale do Ribeira.
Revista de História. São Paulo: Universidade de São Paulo. 132(3): 59-67, 1995.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos.


São Paulo: Editora UNESP, 2000.

LÜDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens


qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. [11ª. Reimpressão, 2008].

THOMPSON, Paul. A voz do passado: História Oral. 3.ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2002.

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