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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUÍZ DE FORA (UFJF)

DIREITO

Mônica Sette Lopes

"O juiz e o fato"

GOVERNADOR VALADADES-MINAS GERAIS

2021

Jaíne Vitória Lino Oliveira


O texto "O juiz e o fato" de Mônica Sette Lopes têm como foco
mostrar que os juízes podem ser escritores, leitores e interpretados, ou seja,
como esses conceitos em uma determinada circunstância estão diretamente
ligados. Eles possuem a obrigação de expor o que o direito remete em
situações reais e cotidianas, participando diretamente da abordagem.

Monica Sette Lopes possui graduação e doutorado (com a tese


intitulada "A equidade na formação e na conformação da norma judicial) em
Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, onde hodiernamente é
professora e Vice-Diretora da Faculdade de Direito. Mônica também é
desembargadora aposentada do tribunal regional do trabalho da 3ª região,
possui várias produções bibliográficas, como: Uma mensagem sobre o direito
aos pedaços: a reforma trabalhista, as contingências e a equidade; A saúde e a
segurança do empregado: uma perspectiva narrativa; O cartão de ponto e os
sonhos dos juízes; O juiz como agente de sua independência: entre o diálogo e
o medo; entre outras. Fluente em inglês, espanhol, italiano, francês e alemão,
Monica já participou de eventos variados do direito.

A autora discorre algumas posições se baseando em trechos das


obras do italiano Ítalo Calvino, onde mostra que o leitor sempre participa dessa
construção, visto que, o livro traz a possibilidade de uma mistura entre "livro e
intérprete", logo, esse jogo é constituído de pontos positivos, onde o sujeito que
conhece o mundo não irá constituir visões rasas e isoladas. Pode-se dizer que
a busca por um leitor-ideal, e consequentemente, um juiz-ideal se apoie em
uma única possibilidade de interpretação.

Quando nos referimos sobre a aproximação do direito e da narrativa


literária percebemos que essa é uma experiência passageira, visto que, no
momento atual, a perspectiva analógica e a tentativa de explicar o mundo a
partir da inter-relação são consideradas superiores. Todavia, para estar no
mundo do direito, a literatura não deve ser totalmente desprezada, já que
ambos possuem bases referentes à realidade, cada um do seu modo, mas
sempre desejando preservar os conflitos humanos e entende-los. Quando um
juiz exerce o seu poder de solucionar algum conflito, ele reconta uma
história/situação, ao mesmo tempo, é um leitor e um personagem na proporção
em que seu engajamento se aprofunda, tendo que agregar suas especialidades
pelas normas processuais e a sua vivência sobre os padrões de conduta,
podendo gerar um caso individual, específico no sistema jurídico. A linguagem
no âmbito jurídico é essencial que se tenha uma técnica especializada, com
objetivo de dar ilusão de domínios seguros, contudo, não se deve ser usado
quando se trata de termos ou expressões (exceto quando é exigência de uma
própria lei), pois poderiam passar uma ideia de padrão artificial e vazio de
conhecimento, principalmente, quando tratamos de juízes e advogados, que á
vista disso, são agentes do direito e criadores de significados.
Segundo Monica, a lei morta acontece quando o autor-intérprete (emissor)
utiliza um vocabulário que não é compreendido, às vezes até por aqueles que
compõem o sistema, nesse sentido, essa problemática ocorre em função do
conflito, por isto, é importante a interpretação de vários indivíduos, para que se
possa ter uma nova dimensão da realidade e mudá-la se necessário. Contudo,
quando se tem um falta de significado deve-se analisar os diferentes
participantes sociais, até encontrar um caminho que direciona as condutas e
escolhas, fazendo que o ator crie efeitos nos planos individuais e gerais.

O juiz é um intérprete participante, visto que, é convocado pela


própria lei com o objetivo de estruturar padrões e fixa-lhos, mas como a lei
nunca é constante, cada caso pode ser único e depender especialmente de
algum ramo do direito, ainda assim, mesmo que tal seja útil, o conceito só
ficará completo com absorção analógica do caso (visão do juiz). Se as intrigas
narradas nos tribunais se transformam em texto jurídico, passam a integrar o
sistema, mas ela não demanda requisitos formais ou uma qualidade estética
(mesmo ambos sendo fundamentais no texto jurídico).

Monica relata que desejar o texto jurídico de uma maneira leve é


estranho, dado que, as expressões do campo jurídico são exatamente o
contrário, isto é, um peso de manifestações, gerando assim um paradoxo
quando levantamos a questão de que é necessária a compreensão geral das
emissões normativas. Contudo, só iríamos alcançar essa "leveza" se a
linguagem jurídica não se espelhasse em citações em latim, referência sem
fundamento, repetições, reproduções exaustivas, entre outros, pois, o leitor iria
sentir o prazer de ler, passaria á compreender, podendo recorrer até mesmo à
imaginação literária. Os institutos jurídicos possuem uma ligação com a história
humana, sendo necessária a compreensão e participação da sociedade como
um todo, com o desejo de evolução e agregação de várias áreas. Essa
evolução se baseia na incompletude do direito e na exploração dos institutos,
sempre analisando novos caminhos ou retornando aqueles já percorridos,
buscando assim, um processo constante de adaptação. Os caminhos para
leveza não são os mesmos, nem pertencem a um ambiente completo, e essa
variedade pode fazer com que o juiz se esconda de suas dificuldades e se
abrigue em um ambiente técnico, com objetivo de ocultar a instabilidade do
sistema, como acontece na distribuição de ônus da prova.

A rapidez para a autora é considerada inicialmente como uma


expectativa da repetição de padrões vivenciados ou conhecidos, e assim,
utilizado com certeza e segurança. O direito, em princípio, se seguisse esse
ideal, seria um ambiente de repetições, pois todo processo de aplicação
resultaria em constantes recorrências de situações, frases, fórmulas,
acontecimentos, entre outros. Todavia, devemos analisar dois pontos: de que
as histórias não se repetem no processo e mesmo que haja uma repetição não
se repita sua apropriação jurídica. Se o processo jurídico de interpretação se
repetir, levaria a uniformidade, as leis chegariam ao mesmo destino, ou seja, as
chamadas margens de manobra (espaço para que se possa movimentar ou
atingir um resultado), e automaticamente, se conectariam ao princípio da
rapidez, possibilitando uma relação entre fato e tempo (que ainda não sabemos
qual o período necessário qual o direito de assimilação olímpica de todos os
envolvidos na situação). Essa situação pode resultar em uma exaustão de
expectativas, visto que, a escrita do direito que carrega um peso pode não ser
acolhida com uma determinada rapidez, devido á precariedade de
interpretação, o que seria paradoxo, já que a rapidez nas decisões devolvem á
vida, e um processo que não seja conduzido dessa forma mostra como uma
instituição não consegue administrar as suas operações, devido vários fatores
de distanciamento.

Mônica mostra que para Calvino a exatidão envolveria três passos:


um projeto bem definido, a utilização de imagens visuais nítidas e memoráveis,
e uma linguagem que seja mais específica no âmbito jurídico (com a
capacidade de traduzir qualquer tipo de pensamento ou imaginação). Por essa
razão, percebe-se que a utilização de artimanhas já manuseadas, como um
grande volume de folhas, a linguagem ganha repetição e as argumentações
montadas, perdem suas forças de expressão e se tornam vazias, e
consequentemente, torna-se uma obra não calculada, sem imagens visuais
necessárias para o convencimento. Não obstante, essa inconsistência parte de
outra época, visto que, o ideal de racionalidade do mecanismo jurídico,
reservava apenas a lei como a solução, excluindo a interpretação, o que é
totalmente equivocado, pois essa visão fechada geraria conflitos e soluções
artificiais. É necessária uma estabilidade entre as palavras e as coisas.

Por conseguinte, Monica fala sobre o processo de visibilidade e


recomposição dos fatos, que ocorrem através da narrativa e da argumentação
de todas as partes vinculadas, e obviamente, procura-se convencer que a sua
posição é a correta, por essa razão, cabe ao juiz à construção de um texto
jurídico através de um relato visual, minucioso e aberto sobre os fatores que o
levou a essa determinação (assim como no texto literário). Quando é narrativa
do juiz se baseia através de uma prova, ele se torna frágil, uma vez que,
decifrar a história já não é mais um dever de compartilhar sua visão e a
realidade. Mas, quando o juiz é o leitor das histórias narradas, ele consegue
desenvolver sua própria expressão, chegando a sua qualidade de leitor-ideal, e
consequentemente, atribuindo benefícios a seus leitores. Visto isso, o aspecto
essencial da visibilidade no direito é trazer para o texto a maior clareza
possível.

Mônica levanta outro ponto interessante, quando define que a cena


fática (que também pode ser um discurso) é um percurso, que deve ser feito a
partir de uma rota linear, inicialmente é preciso apurar o fato, depois
compreender a narrativa de todos os aspectos relevantes e por último é definir
a extensão do fato a partir do quadro normativo, contudo, essa "lapidação" é
feita de maneiras diferentes (até mesmo, nos julgamentos de recursos) pelos
autores-juízes, pois cada um pode perceber o fato de um determinado jeito,
podendo mudar toda a composição dos fatos processuais. Assim, a base do
texto jurídico é valorizar a multiplicidade e tornar o seu uso presente em todos
os parâmetros disponíveis.
A consistência, outro fragmento levantado, pode ser utilizada para
sintetizar o processo de redação jurídico, em especial, a lei. Com uma
linguagem informal, ela pode ser considerada para verificar os fatos e a suas
exposições, a partir de uma cena incompleta (que se deve acrescentar o
sistema normativo e seus parâmetros).

De modo geral, a autora apoia-se em diversos escritores/estudiosos


para emitir suas conclusões. Em uma dessas considerações que mais me
chamou atenção foi o fato dela defender que um determinado texto deve
possuir com si uma especialidade de cada situação, visto que, a originalidade
do caso tratado nos remete relevância, ou seja, em minha concepção, ela é o
rumo para o problema constituído, e o juiz nesse sistema atua como um
observador envolvido na negociação do sentido e na validade das ações. Sua
conclusão apoia-se também em Habermas, onde mostra em suas citações que
a linguagem participa de três funções que podem ser comparadas ao texto
jurídico, em especial, aquelas que possuem o uso de uma linguagem nas
direções apontadas, ainda que o juiz pertença ao papel de observador
(assimilando características da emissão e do resultado da concepção).

Com sólidos conhecimentos acerca do assunto, a autora empenha-


se em apresentar de forma clara e detalhada como o texto jurídico se abre para
o leitor e se constrói na memória do direito, levando-nos a compreender e
analisar como os autores e leitores carregam consigo um mundo inteiro de
conhecimentos e de palavras, e, sobretudo, quando os leitores (juiz ou leitores
do juiz) compreendem essa carga que se interpõe no processo de expressão
jurídica. É uma leitura que exige alguns conhecimentos para ser entendida,
contudo, com algumas pesquisas e releituras aos conceitos conseguimos
entender as explicações passadas, uma vez que as conclusões da autora se
baseiam a partir de esclarecimentos e posições de outros estudiosos.

Finalmente, com o estudo desse texto, consigo pensar mais sobre o


conceito de juiz-ideal, e como sua interpretação e participação é de certa forma
incontestável (devido utilização de artifícios técnicos, para que o juiz não
precise se esconder atrás de textos obscuros e que dão voltas para chegar a
um mesmo lugar), contudo, como é de se esperar que todos os indivíduos
tenham duvidas e experiências diferentes, esse conceito passa a ser quase
impossível de existir.

Desse modo, após analisar todo o texto, consegui compreender


como Monica se preocupa em nos ensinar sobre o processo de leitura, que é
carregado por visões e interesses distintos, criando assim, uma variedade de
interpretações e decisões, visto que, seria um pouco paradoxo se um sistema
tão completo como esse não possuísse múltiplas observações.

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