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Resíduos Sólidos
1- Resíduos Sólidos
1.1 Introdução
Hoje a questão de resíduos sólidos no Brasil é alarmante: dados do IBGE demonstram que a
maior parte de nossos municípios não dispõe seus resíduos de forma adequada; eles são deixados
em lixões sem nenhum controle ambiental.
Dos 5.507 municípios brasileiros, 63,6% utilizam lixões a céu aberto, 18,4% aterros
controlados e 13,8% destinam seus resíduos para aterros sanitários.
Que tal conhecermos um pouco das definições de resíduos para que possamos mudar nossas
práticas e assim colaborar com o nosso meio ambiente e melhorar nossa própria qualidade de
vida? Vamos nessa?
A Norma ABNT número 10.004, de setembro de 1987 (reforçada na 12.305/2010), define resíduos
sólidos como:
Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades da comunidade de origem:
industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varridão.
Ficam incluídos nessa definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles
gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos
cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de
água, ou exijam para isso soluções técnicas economicamente viáveis em face à melhor tecnologia
disponível.
São os restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis
ou descartáveis. Normalmente apresentam-se sob estado sólido, semissólido ou semilíquido
(IPT/CEMPRE, 1995).
Todo e qualquer resíduo resultante das atividades diárias do homem na sociedade. Estes resíduos
são, basicamente, sobras de alimentos, papéis, papelões, plásticos, trapos, couros, madeiras,
latas, vidros, lamas, gases, vapores, poeiras, sabões, detergentes e outras substâncias
descartadas de forma consciente (PROSAB, 1999).
Ainda do ponto de vista normativo, podemos citar a Diretiva Europeia 156/91/CE, que apresenta a
seguinte definição:
É qualquer substância ou objeto do qual se desfaça seu possuidor ou que tenha a obrigação de se
desfazer em virtude das disposições nacionais vigentes. Em todo o caso, tem a definição de
resíduo todos aqueles que figurem na lista europeia de resíduos (LER) aprovada pelas instituições
comunitárias.
Como se percebe, essas são definições amplas, porém, são elas que têm apoiado o
estabelecimento de políticas de resíduos desenvolvidas por diversos países ao longo dos últimos
anos.
O pressuposto que regulava essa ação de gestão baseava-se na percepção de que o ambiente
possuía uma capacidade ilimitada de receber os “subprodutos” da ação de produção e consumo
da sociedade.
Porém, o aumento dos níveis de qualidade de vida, associado com o crescimento demográfico da
população, acabou por determinar também uma produção de resíduos mais elevada, tanto em
qualidade como em quantidade, acrescentando novos problemas de espaço e de formas de
tratamento das contaminações tóxicas e bioacumulativas dos resíduos.
Os tipos de resíduos produzidos pela atividade humana são muitos. Fica até difícil de
mensurarmos de forma precisa, mas de maneira geral, podemos falar em uma classificação
consensual de autores como:
- Resíduos industriais
a) Resíduos similares aos urbanos;
b) Inertes;
c) Perigosos.
a) Inflamabilidade;
b) Corrosividade;
c) Reatividade;
d) Toxicidade;
e) Patogenicidade.
Resíduos classe II – Não perigosos Também tratados como resíduos classe II A – não
inertes.
Tabela 01: definições de resíduos segundo a NBR 10.004/ 2004 (reforçada pela 12.305/2010).
Quanto a natureza ou origem, podemos agrupar os diversos tipos de resíduos em cinco classes:
Numa visão geral, os resíduos sólidos urbanos podem ser perigosos ou não perigosos, que para
muitos autores são os gerados nos espaços urbanizados como consequência das atividades de
consumo (habitações, hotelaria, hospitais, escritórios, comércio em geral, transportes etc.).
Os resíduos não perigosos no meio urbano são os gerados pelas residências, pelo comércio em
geral, pelos escritórios ou outras atividades de serviço, além daqueles que não tenham a
classificação de perigosos e que, por sua natureza ou composição, podem ser similares aos não
perigosos.
Uma possível classificação dos resíduos não perigosos urbanos é a divisão em resíduos orgânicos
e inorgânicos:
Orgânicos Inorgânicos
Matéria orgânica fermentável (resíduos de Vidros
alimentação)
Papel Latas de metal
Papelão Alumínio
Plásticos Outros metais
Têxteis Pó
Borracha Cinzas
Couro
Resíduos de jardim ou poda
Madeira
Outros produtos orgânicos
Tabela 02: composição típica de uma amostra de RSU doméstico (adaptado de Tchobanoglous, Theisen e Vigil, 1996,
apud Funiber, 2009).
b) Resíduos perigosos
1
No Brasil, a definição de resíduos perigosos atende à Norma NBR 10.004/2004.
• Não degradabilidade e persistência no lugar de despejo;
• Possibilidade de efeitos nocivos por acumulação;
• Possibilidade de produzir transformações biológicas, que aumentem seus efeitos
prejudiciais;
• Conteúdo elevado em componentes tóxicos.
- Resíduos de tintas;
- Resíduos de solventes;
- Pesticidas;
- Pilhas e baterias;
- Lâmpadas fluorescentes;
- Medicamentos;
- Óleos;
- Aerossóis;
- Embalagens de produtos químicos;
- Produtos químicos de fotografia, entre outros.
II – Resíduos industriais
São resíduos muito variados que apresentam características diversificadas, pois dependem do tipo
de produto manufaturado pelas indústrias. Adota-se a NBR 10.004 da ABNT para classificar os
resíduos industriais: classe I (perigosos), classe II (não inertes) e classe III (inertes).
b) Inertes
São definidos como resíduos inertes aqueles que, por suas características intrínsecas, não
oferecem riscos à saúde e ao meio ambiente, e que, quando amostrados de forma representativa,
segundo a norma NBR 10.007, e submetidos a um contato estático ou dinâmico com água
destilada ou deionizada, a temperatura ambiente, conforme teste de solubilização segundo a
norma NBR 10.006, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações
superiores aos padrões de potabilidade da água, conforme listagem número 8 (Anexo H da NBR
10.004), excetuando-se os padrões de aspecto, cor, turbidez e sabor (IBAM, 2001).
Esses tipos de resíduos são gerados nas atividades de construção de edificações, demolições e
escavações, sempre que não produzam alterações graves no ambiente.
c) Perigosos
Conforme a Lei do Saneamento Básico (Lei nº 11.445 do Ministério das Cidades), temos como
atividades de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: coleta, transporte, transbordo,
tratamento e disposição final dos resíduos provenientes dos domicílios, varrição e afins em vias e
logradouros públicos.
c) Seletiva;
A coleta é feita sempre nos mesmos dias e ocorre normalmente em dias alternados. Somente será
feita diariamente onde a produção de resíduos for muito alta, como em locais de comércio e locais
onde não há espaço para o armazenamento para mais de um dia (favelas e comunidades
carentes).
Em locais com baixa densidade demográfica, a coleta é feita duas vezes por semana, de modo a
poder coletar em locais diferentes.
Quanto aos horários, serão variados, conforme a estratégia da administração pública, mas devem
levar em conta uma série de fatores como trânsito, encargos trabalhistas, barulho, maior
possibilidade de fiscalização, entre outros.
Acondicionamento: a forma como os resíduos devem estar no local da geração para que a coleta
seja feita é extremamente importante para que haja eficácia no processo. Esta atividade é de
responsabilidade do gerador.
O acondicionamento é importante pois evita acidentes, proliferação de vetores, poluição visual e
olfativa, faz a separação de diferentes tipos de resíduos e facilita a coleta. Deve ser feito em tipo
de recipiente apropriado, que depende das características do resíduo, da quantidade e da
frequência da coleta.
No Brasil, utilizamos latas, caixotes e sacos plásticos. Quando há coleta manual, o peso máximo
de 30 quilos deve ser respeitado (já incluindo o próprio recipiente, que deve ser seguro para
evitar acidentes), tem de estar fechado e acondicionado de forma a permitir seu deslocamento.
Conforme costumes da cultura brasileira, há uma projeção média ideal de resíduos/dia, que seria
de 0,7 kg de resíduos por habitante.
A média de habitantes por residência é de cinco pessoas, gerando um peso específico médio de
3,5 quilos.
Se a coleta é realizada em dias alternados, como é o caso da maioria dos municípios, teríamos
que ter 7 kg de resíduos, mas não é bem desta forma que ocorre.
O IBGE não divulga publicamente os dados há anos, mas há algumas informações disponíveis,
como a que segue:
Figura 01: lixo per capita no Brasil. Fonte: Abril Online (disponível em: <http://info.abril.com.br/noticias/tecnologias-
verdes/fotonoticias/quanto-lixo-os-brasileiros-geram-por-dia-em-cada-estado.shtml>, de 01/06/2013; acesso em: 03
mar. 2016).
a) Caminhão com caçamba simples (conhecido como Prefeitura): usado para menores cargas
(ordem de 10m3), pois é flexível para outros tipos de serviços também. Neste caso, há a
necessidade de levantar os recipientes a uma altura aproximada de 1,70 m acima do solo
(o que exige esforço do trabalhador) e também de haver uma pessoa no interior da
caçamba para acomodar os resíduos.
É importante sabermos que a velocidade com que se efetua a coleta depende da guarnição
(equipe coletora) e é um fator decisivo para o dimensionamento da frota. A quantidade de
trabalhadores varia em função de cada região (quantidade de resíduos, topografia da região,
acondicionamento, clima etc.).
Vamos refletir: o tratamento dado, até então, para a gestão de resíduos esteve focado em
medidas corretivas (realizadas ao fim do processo de produção de resíduos com a utilização de
técnicas e métodos específicos de tratamento de resíduos). Isto já não responde à situação atual
de produção de resíduos.
Podemos avaliar até aqui que há uma lacuna muito grande entre o que é apresentado em norma
e o que é observado na realidade. É necessária uma mudança de paradigma na concepção da
gestão de resíduos: o que a sociedade pode fazer para não gerar resíduos?
2.1 – Introdução
Como vimos nas nossas aulas, a tarefa de coletar, tratar e assegurar a correta destinação dos
resíduos é da rede pública, mas devido a vários fatores, principalmente à inexistência de uma
política brasileira eficiente na área de resíduos sólidos, as coisas ficam um tanto desequilibradas,
tornando quase todo o sistema ineficiente.
Lembrando que, dentre esse desequilíbrio colocado aqui, temos como exemplos orçamentos
inadequados, deficiência de capacitação técnica desde a coleta até a gestão, entre outros.
Portanto, o processamento de resíduos sólidos e/ou sua reutilização (da forma que seja) acaba
dependendo de forma direta dos processos que o antecedem e estão voltados principalmente
para a redução de seu volume, seu potencial de poluição ambiental ou ainda seu potencial de
agressão à saúde humana.
2.2 Processamento do lixo
O lixo é um problema muito crítico no Brasil, pois apesar de termos extensas áreas, temos poucas
destinadas ao processamento/ tratamento e disposição do lixo, que é produzido em quantidade
crescente.
O processo chamado de processamento nada mais é do que transformar o lixo “bruto” coletado
em quantidades menores ou em material que possa ser reaproveitado e/ou gerar energia.
A tendência atual é que a terminologia “processamento” deixe de existir, pois muitos autores o
consideram já um tratamento, tanto que, em termos de referências bibliográfica atuais, não são
mais encontrados como sendo conceitos diferentes.
Há países pioneiros nesse quesito, como os europeus Alemanha, Holanda, Bélgica, Áustria, Suíça
e Suécia; estes convertem mais de 50% de seu lixo em matéria-prima para indústria, adubos e
energia.
Em especial na Suíça, mais de 50% do processamento do lixo gera energia, segundo o comissário
europeu para o Meio Ambiente, Janez Potocnik (fonte: <http://www.dw.com/pt/tratamento-de-
lixo-na-alemanha-est%C3%A1-entre-os-mais-eficientes-da-europa/a-15905514>; acesso em: 3
mar. 2016).
Temos fábricas próprias para essa atividade que utilizam ímãs industriais, separadores de
materiais não ferrosos, peneiramento, separação gravimétrica (por densidade do material)
e até a separação manual (chamada de catação).
Aqui também ocorre a lavagem do material que será enviado para a reciclagem. Temos
que ter cuidado, pois locais de processamento mecânico são muito semelhantes a locais de
recuperação de materiais, quando não estão no mesmo espaço (instalações de recuperação
de materiais - IRM). Esta é uma fase preparatória para o processamento/ tratamento
biológico.
2.3 Reciclagem
Temos perante nós três alternativas de nos livramos de materiais indesejados (lixo): reutilizar,
reciclar ou descartar.
Segundo Vesilind e Morgan (2011), na reutilização, um indivíduo usa os produtos novamente para
a mesma finalidade ou os coloca para um segundo uso, frequentemente criativo.
Um exemplo disso é comprar leite ou refrigerante em embalagens de vidro e devolver os
vasilhames à loja para que o distribuidor de leite ou refrigerante os limpe e coloque neles
produtos frescos.
No último caso, empregar sacolas de compra de papel e plástico para o descarte de lixo é um uso
secundário para elas. Criar um comedouro para pássaros a partir de um vasilhame plástico de
bebidas é um uso secundário. Vários são os exemplos, pois a reutilização amplia a vida do produto
original e, assim, reduz os resíduos.
Nesse sentido, é importante saber que cada tipo de resíduo exige um procedimento próprio para a
reciclagem, na qual se faz necessária a triagem ou coleta seletiva (que, em termos de resíduos
sólidos urbanos, é realizada de acordo com sua composição).
Para termos uma ideia do cenário brasileiro na coleta seletiva, dados da ABRELPE disponibilizados
em 2013 (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais)
demonstram que aproximadamente 62% dos municípios brasileiros apresentaram alguma
iniciativa.
Salientamos no entanto que, embora esse número pareça expressivo, estão relacionados a
convênios com cooperativas de catadores ou entregas voluntárias, o que não abrange todo o
território do município, o que pode nos sugerir que basta ter um único ponto de coleta seletiva
para entrar nesse censo.
b) Médio índice de recuperação: materiais que precisam de tratamento industrial para que
seja reutilizado, como os metais e plásticos;
c) Baixo índice de recuperação: materiais que são utilizados como matéria-prima para gerar
calor, numa incineração.
Segundo Funiber (2009), com a reciclagem pretende-se solucionar dois problemas ao mesmo
tempo: por um lado, desfazer-se dos resíduos sem ocupar espaço no aterro e, por outro lado,
aproveitar o que se pode recuperar.
- Economia de energia;
- Economia de recursos naturais;
- Redução do volume de resíduos a serem eliminados;
- Proteção do meio ambiente.
Os materiais coletados para a reciclagem podem ser reprocessados de duas formas, segundo
Miller Junior (2007):
Ainda segundo o autor, e de acordo com os cientistas, há dois tipos de resíduos que podem ser
classificados:
1) O item realmente será reciclado? Por vezes, os resíduos separados coletados para reciclagem
são misturados com outros resíduos e enviados para aterros sanitários ou incineradores, o que
pode acontecer quando os preços de matérias-primas recicladas caem muito;
Nos EUA, consomem-se 2,5 milhões de garrafas plásticas por hora. O consumismo insustentável
dos países ricos poderá aumentar de quatro ou cinco vezes o volume do lixo produzido até 2025.
- Uma árvore com 15 anos de idade é abatida para produzir apenas 700 sacos de papel, que são
consumidos rapidamente em um supermercado e cada americano consome sete árvores por ano
na forma de papel-madeira;
- Se os EUA reciclassem os seus jornais de domingo, salvariam 500 árvores por semana (mais do
que o consumo de toda a América do Sul).
As nações mais ricas respondem pela quase totalidade do consumo de recursos naturais da Terra
(cerca de 80%).
Observe as proporções de consumo entre bebês de diferentes países: o que um bebê americano
consome de fraudas descartáveis corresponde a dois bebês suecos, 13 brasileiros, 35 indianos e
280 haitianos.
Então quando se fala em crescimento populacional e se despeja a culpa sobre os países pobres,
podemos notar que a questão não é bem assim. O que precisamos é buscar e almejar um novo
estilo de vida.
3.1 – Introdução
Como vimos, os resíduos eram considerados o material para o qual se podia encontrar uma única
solução de tratamento: a disposição final.
Hoje, já temos um cenário diferenciado, em que os resíduos são separados por seus
componentes, cada um destes necessitando de tipos diversos de coleta seletiva, transporte,
tratamento e até mesmo a destinação mais adequada.
Ao começarmos a falar de gestão, num sentido de critérios mais adequados conforme a PNRS,
não deve existir mais somente um fluxo único de resíduos.
Devemos considerar os resíduos em um ciclo completo, desde seu processo de produção até sua
disposição final, trabalhando com fluxos distintos de tratamento que, partindo de componentes
diferenciados, utilizam procedimentos e tipos específicos de tratamento, segundo a característica
de cada caso.
Segundo alguns autores, entre eles Funiber (2010), o processo de gestão, que antes possuía uma
frente única de atuação, hoje se delineia como um sistema de gestão integrada, que prevê
diferentes possibilidades de tratamento e disposição em função dos diversos fluxos que o
processo de gestão possa definir.
Que tal discutirmos um pouco mais sobre esse processo de gestão e gerenciamento de resíduos?
3.2 – Prioridades
Como lidar com os resíduos? Esta é uma pergunta que gera grandes desafios perante tudo o que
produzimos de lixo: temos a opção de gerenciar a quantidade de resíduos pré-consumo e pós-
consumo ou deixarmos de gerá-los, ou seja, reduzir a quantidade de resíduos pela não geração.
A redução de resíduos, por sua vez, é uma abordagem ligada à baixa produção de resíduos, que
reconhece não haver uma forma de descartá-los.
Tabela 01: soluções - prioridades sugeridas para gerenciar a utilização de materiais e resíduos sólidos. Até o
momento, essas prioridades não estão sendo seguidas nos Estados Unidos nem na maioria dos outros países. Em vez
disso, a maior parte dos esforços é dedicada ao gerenciamento de resíduos (queimá-los ou enterrá-los). Fonte:
Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, apud Miller Junior (2007).
Atualmente, as prioridades para o tratamento dos resíduos sólidos na maioria dos países
desenvolvidos são o oposto das sugeridas por proeminentes cientistas e mostradas na tabela 01.
Não precisa ser assim.
Alguns cientistas e economistas estimam que de 60% a 80% dos resíduos sólidos produzidos
podem ser eliminados reduzindo-se a produção de resíduos, reaproveitando e reciclando os
materiais (inclusive por compostagem) e reprojetando as instalações e processos de fabricação
para que produzam menos resíduos.
A partir da análise deste texto, podemos nos aprofundar mais. Como nosso interesse principal no
contexto de nossa disciplina é o meio urbano, então vamos nos atentar a isso.
Também temos que ter ciência, nesse contexto, da denominação do manejo, que é o conjunto de
atividades envolvidas com os resíduos sólidos, sob o aspecto operacional, envolvendo sua coleta,
transporte, acondicionamento, tratamento e disposição final.
Dessa forma, vemos que o gerenciamento é muito mais abrangente que o manejo de resíduos.
Assim, poderíamos nos atrever a dizer que o gerenciamento é o instrumento ideal para se ter uma
qualidade melhor de vida e cumprimento da PNRS.
É fundamental analisarmos estratégias para a gestão integrada dos resíduos, para que possamos
continuar a ter uma qualidade de vida real, mesmo com a superpopulação do mundo.
Como já comentamos, a solução para a gestão de resíduos deve passar por uma gestão integrada
e eficaz com uma mudança de comportamento baseada na prevenção, quer dizer, a minimização
dos resíduos e correto reaproveitamento dos materiais.
Dessa maneira, será possível reduzir a quantidade de resíduos que atualmente se destinam aos
aterros e outras formas de disposição final que quando não possuem tratamento adequado
podem gerar graves problemas ambientais.
Temos uma série de propostas que discutem a política de tratamento de resíduos, mas de forma
sucinta, vamos analisar a proposta de Funiber (2009), que a coloca nas seguintes fases:
No Brasil, embora já tenhamos uma Política Nacional de Resíduos Sólidos desde 2010
(12.305/2010), ainda não há uma consciência generalizada de sua existência e real necessidade
de cumprimento, no que tange a ter suas estratégias, mesmo que apoiada em leis, ainda não
seguidas.
Uma questão a ser ressaltada é que, em âmbito estadual, já temos no Brasil a prática de algumas
Leis Estaduais de Resíduos Sólidos aprovadas desde 2005.
Essa estratégia ocorre em oito estados brasileiros: Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato
Grosso, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
A Bahia atua em relação aos resíduos sólidos com base na lei ambiental estadual. Em 14 estados,
o processo de criação da lei encontra-se em andamento e está em discussão: AC, AL, ES, PA, PB,
PI, RJ, RN, RR, SE, SP, TO. Nos seis restantes não iniciaram a discussão: AM, DF, MA, MG e RO.
Do ponto de vista conceitual, muitos autores apontam instrumentos essenciais para a gestão
integrada de resíduos sólidos e seus processos tecnológicos, econômicos, comunicativos, sociais e
ambientais envolvidos:
a) Aplicação de linhas de tratamento (tecnologias limpas), que priorizem a redução e a
valorização de resíduos sólidos;
b) Correto financiamento do serviço, garantindo a economia e a viabilidade do serviço público
prestado;
c) Ações de comunicação e educação ambiental com envolvimento dos diferentes
protagonistas sociais;
d) Ações de inclusão social de emprego;
e) Observação de aspectos sanitários e dos riscos à saúde humana.
Para o sucesso dessa gestão integrada, é necessária uma participação efetiva de todos os atores
do processo de forma direta e indireta. São eles:
• A população municipal;
• Os catadores ou recicladores;
• Os poderes executivo e legislativo municipais;
• Prestadores de serviços e as indústrias — tanto de reciclagem quanto as que produzem
parte do que a população irá transformar em resíduo (as embalagens, por exemplo).
Observando todo esse complexo contexto, vemos que um modelo de gestão integrada deve
associar a redução de resíduos em sua fonte geradora com políticas de promoção social e
ambiental nos espaços municipais.
Vemos que, para desenvolver ações de gestão dos resíduos sólidos, é fundamental utilizar os
instrumentos legais existentes que disciplinam esta área. Com este conjunto de normas e
legislações é possível realizar, em nível municipal, ações que promovam sistemas de gestão
integrada de resíduos sólidos (Funiber, 2009).
É importante reforçar que o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), que discute e
elabora regulamentos específicos sobre questões atinentes ao meio ambiente, também
regulamenta a gestão de resíduos sólidos urbanos.
4.1 – Introdução
Um quilo e oitocentos gramas de lixo por dia não parece muito, até essa quantidade ser
multiplicada pelo número total de pessoas. Repentinamente, aqui no Brasil, 363 milhões de quilos
de lixo por dia ganha sua real dimensão — um imenso monte de detritos (população de 202
milhões, segundo o IBGE/ 2014).
O que deve ser feito com esses resíduos sólidos de nossa sociedade “efluente”? A busca por uma
resposta representa um monstruoso desafio aos profissionais do meio ambiente e da engenharia.
Vamos refletir sobre algumas ponderações. Há uma forma pela qual podemos afetar a quantidade
e o conteúdo da vazão de resíduos sólidos: selecionar cuidadosamente os materiais e produtos
que utilizamos e, portanto, temos que jogar fora.
Segundo Vesilind e Morgan (2011), existe muito a ser dito sobre ser seletivo em relação ao tipo
de embalagens aceito para diversos produtos. Por exemplo: embalagens de isopor e plástico das
cadeias de fast food têm pouca utilidade.
Um pedaço de papel funciona igualmente bem, como muitas cadeias descobriram assim que seus
clientes começaram a reclamar (e, em alguns casos, aprovaram decretos locais proibindo tais
embalagens).
Rejeitar sacolas inúteis nas lojas quando uma sacola não é necessária não é falta de educação.
Todos nós podemos fazer pequenas coisas que causam um grande impacto na quantidade e na
composição da vazão de resíduos sólidos.
É muito difícil abordarmos rapidamente todas as técnicas de tratamento de resíduos, uma vez que
a cada dia novas tecnologias surgem e são implementadas. Desta forma, vamos aqui falar sobre
os processos mais usuais de tratamento e disposição de resíduos sólidos no Brasil.
Algumas técnicas de tratamento dos resíduos são muito antigas, como é o caso da compostagem,
que transforma os resíduos orgânicos em adubo, assim como é o caso da reciclagem (como vimos
na aula 2) e também como os lixões, mas os mais importantes hoje para um plano de gestão de
resíduos são os aterros e a incineração.
De uma forma muito rápida, até porque são muito conhecidos por nós, podemos dizer que os
lixões ainda são os métodos mais utilizados no Brasil. Neles, os resíduos são jogados sem
separação (ou seja, misturados), com acondicionamento precário (despejado a céu aberto), na
presença de pessoas e animais e em terrenos que podem ser dentro das cidades.
4.2.1 - Incineração
Este é um processo, em primeiro lugar, de valorização energética, que segue a legislação vigente
e, a partir da combustão controlada, transforma a fração combustível dos resíduos sólidos em
materiais inertes e gases.
Segundo o autor, a incineração não é um sistema de eliminação completa, já que os restos, cinzas
e gases finais exigem medidas complementares de tratamento, porém, possuem numerosas
vantagens frente ao despejo.
Essa redução depende, basicamente, da composição dos resíduos e pode-se dizer que, em termos
gerais, a redução de volume oscila entre 80 e 90% e a redução em peso em torno de 75 a 89%.
A diminuição dos custos de transporte deve-se à redução da distância entre os pontos de coleta e
de localização das incineradoras, situadas, geralmente, em volta de núcleos populacionais.
No mundo, os resíduos sólidos urbanos são queimados em mais de mil gigantescos incineradores
de produção de energia, que fervem a água a fim de produzir vapor para aquecer água ou
ambientes, ou para produzir eletricidade.
O Japão e a Suíça queimam mais da metade de seus resíduos sólidos urbanos em incineradores,
contra 16% nos Estados Unidos e cerca de 8% no Canadá.
Desde 1985, mais de 280 novos projetos de incineradores foram adiados ou cancelados nos
Estados Unidos em função dos altos custos, da preocupação com a poluição do ar e da forte
oposição dos cidadãos (Miller Junior, 2007).
Figura 01: processo de disposição final por incineração (disponível em: <http://www.intensiv-
filter.com/fileadmin/user_upload/fc_entsorgung2.jpg>, acesso em: 04 mar. 2016).
Os aterros sanitários são obras de engenharia realizadas dentro de padrões que levam em conta o
prévio planejamento de utilização da área onde serão dispostos os resíduos sólidos da região.
Os resíduos são colocados em camadas de pouca espessura e compactados para diminuir seu
volume.
Assim, realiza-se uma cobertura diária com material adequado para minimizar os riscos de
contaminação ambiental e favorecer a transformação biológica dos materiais fermentáveis.
Normalmente, utiliza-se como material de recobrimento uma camada de terra para prevenir a
proliferação de insetos e roedores, o vôo de lixos, os perigos de incêndio, os maus odores e o
mau aspecto do aterro (Funiber, 2009).
Segundo o autor, o uso de aterro sanitário se converte em uma obra de engenharia, fazendo-se
necessário um correto planejamento e projeto preliminar, assim como uma supervisão
competente durante as etapas de execução e operação do aterro.
Vantagens Desvantagens
- Ausência de queimadas a céu aberto - Ruído e tráfego
- Pouco odor - Poeira
- Baixa poluição da água subterrânea se - Poluição do ar por gases tóxicos e compostos
assentados da forma correta orgânicos voláteis
- Baixos custos operacionais - Liberam gases que causam o efeito estufa
(metano e CO2), a menos que sejam coletados
- Comportam grandes quantidades de resíduos - Contaminação da água subterrânea
- Área aterrada pode ser utilizada para outro - Lenta decomposição dos resíduos
fim
- Em muitas áreas, não existe escassez de - Desestimulam a reciclagem e diminuição dos
espaço para os aterros resíduos
- Podem ser construídos rapidamente - Podem vazar em algum momento e
contaminar a água subterrânea
Tabela 01: vantagens e desvantagens em utilizar os aterros sanitários para despejar os resíduos sólidos (fonte: Miller
Junior, 2007).
4.2.3 - Aterro sanitário controlado
Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (1985) – NBR 8.849/1985, aterro
sanitário controlado (ou aterro controlado) é:
Uma técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos ou riscos à
saúde pública e à sua segurança, reduzindo os impactos ambientais. Esse método utiliza princípios
de engenharia para confinar os resíduos sólidos, cobrindo-os com uma camada de material inerte
na conclusão de cada jornada de trabalho.
Observação: esse não é um método considerado eficiente, pois, apesar dos resíduos sólidos
estarem dispostos em uma área bem definida, similar ao sistema de um aterro sanitário, ainda
assim gera poluição localizada, já que este tipo de sistema é, geralmente, empregado na tentativa
de remediação de depósitos a céu aberto (lixões) já existentes.
É um método preferível aos depósitos a céu aberto (lixões), e sua implantação deve seguir
avaliações e critérios técnicos, sendo uma solução intermediária para a disposição dos resíduos
sólidos municipais (IPT/CEMPRE, 1995 apud Funiber, 2009).
4.2.4 - Compostagem
Outra definição de compostagem é fornecida por Soliva (2000, apud Funiber 2009):
O processo de compostagem é um método simples que copia a natureza para reciclar alguns dos
resíduos orgânicos biodegradáveis que produzimos.
O material orgânico produzido pela compostagem pode ser adicionado ao solo para fornecer
nutrientes para as plantas, frear a erosão do solo, reter a água e melhorar o rendimento das
plantações (Miller Junior, 2007).
O material compostado resultante pode ser empregado como fertilizante orgânico, cobertura para
o solo ou para aterro. Também pode ser utilizado para ajudar a restaurar o solo erodido nas
encostas e ao longo das estradas, áreas pastoreadas em excesso e terras de plantio erodidas,
ainda conforme o mesmo autor.
Para ser bem-sucedido, um programa de compostagem de larga escala deve ser alocado com
cuidado e os odores devem ser controlados, pois as pessoas não querem viver perto de uma
gigantesca pilha de lixo ou fábrica de compostagem (Miller Junior, 2007).
Você mesmo pode fazer compostagem coletando os resíduos orgânicos em um contêiner próprio
para jardim.
Figura 03: compostagem (disponível em: <http://meioambienteturma3302.pbworks.com/f/Lixo1-compostagem.jpg>;
acesso em: 4 mar. 2016).
Estudo de caso: Fazendo a transição para um a sociedade que produz m enos resíduos
(Miller Junior, 2007)
De acordo com o físico Albert Einstein, “uma pessoa inteligente soluciona um problema; uma
pessoa sábia o evita”. Para prevenir a poluição e reduzir os resíduos, muitos cientistas ambientais
nos alertam a compreender e praticar quatro princípios-chave:
Tais mudanças começam lentamente, mas podem acelerar à medida que suas vantagens
econômicas, ecológicas e de saúde se tornem mais aparentes para investidores, grandes
empresários, políticos eleitos e cidadãos.
Considerando tudo o que vimos até agora, podemos dizer que o futuro dos resíduos deverá
centrar-se em três linhas básicas de atuação, que são:
1ª: Prevenção
- Evitar, na medida do possível, que sejam gerados resíduos desnecessários através do uso de
tecnologias limpas, que reduzam ao máximo possível sua produção;
- Promover a produção de produtos limpos que produzam o mínimo impacto possível sobre o
meio ambiente. Promulgar o desenvolvimento de produtos de longa duração;
2ª: Recuperação
- Para conseguir essa linha de trabalho, é necessário promover o desenvolvimento das técnicas
de reutilização e reciclagem, otimizar estes processos, reduzir os custos externos destes
trabalhos e, por último, dar saída aos produtos reutilizados e reciclados;
- Por outro lado, também faz-se necessário desenvolver um trabalho continuado de educação
ambiental e envolvimento comunitário que estimule a participação da sociedade tanto para a
separação adequada dos resíduos sólidos produzidos como também para sua reciclagem.
- Uma vez executados todos os processos de tratamento dos resíduos, os que não puderem
ser aproveitados deverão ser dispostos sem risco para o meio.;
- Esses tratamentos deverão reduzir ao máximo o impacto que possam criar sobre o meio
ambiente. Todos esses processos deverão estar regulados rigorosamente pela legislação, com
a finalidade de proteger o meio ambiente e determinar a responsabilidade civil pelos danos
que ocasionarem.
No Brasil, temos que ter ações urgentes para minimizar a situação caótica que vivemos em
relação aos locais de disposição de resíduos. Isto é declarado pelo Panorama dos Resíduos
Sólidos, que detém dados importantes no quesito da magnitude do problema, de sua influência
nos impactos ambientais, à saúde das pessoas e ao desenvolvimento econômico do país.
Temos um abismo entre tanta riqueza e fartura no mundo, por um lado, e miséria, degradação
ambiental e ausência de parâmetros mínimos de educação e cidadania, de outro lado.
Claro que isso gera um enorme desequilíbrio no modelo econômico vigente. Desta forma, temos a
ideia do desenvolvimento sustentável como uma corda a nos segurar, no sentido de sua proposta
ser a conciliação do desenvolvimento econômico, melhoria de qualidade de vida e conservação
ambiental.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PHILIPPI JR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de Andrade; BRUNA, Gilda Collet (editores). Curso de
Gestão Ambiental. Barueri, SP: Manole, 2004.
Genebaldo Freire Dias. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. Ed. São Paulo: Gaia, 2004.
JACOBI, Pedro. Gestão compartilhada de resíduos sólidos. São Paulo: Anablume, 2006.
LIMA, Luiz Mário Queiroz. Lixo: tratamento e biorremediação. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo:
Hemus, 2004.
MATTOS, Neide Simões de; GRANATO, Suzana Facchini. Lixo: problema nosso de cada dia -
cidadania, reciclagem e uso sustentável. São Paulo: Saraiva, 2005.
ZANIN, Maria; MANCINI, Sandro Donnini. Resíduos plásticos e reciclagem: aspectos gerais e
tecnologia. São Carlos: EDUFSCAR.