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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GS
Nº 70080998883 (Nº CNJ: 0071797-65.2019.8.21.7000)
2019/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO


ESPECIFICADO. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM
PAGAMENTO. PRELIMINAR CONTRARRECURSAL
ACOLHIDA. RECURSO INTERPOSTO APÓS O
PRAZO LEGAL.
De acordo com o artigo 1.003, §5º do CPC o prazo para
interposição do recurso de apelação é de 15 dias.
Recurso que restou protocolado quando já escoado o prazo
legal.
Honorários sucumbenciais do patrono da ré majorados, nos
termos do § 11º do artigo 85 do CPC.
PRELIMINAR ACOLHIDA. APELAÇÃO NÃO
CONHECIDA.

APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL

Nº 70080998883 (Nº CNJ: 0071797- COMARCA DE CACHOEIRINHA


65.2019.8.21.7000)

CADIZ CONSTRUCOES LTDA APELANTE

FABIO SCOTT FERREIRA APELADO

LUCIANE CARDOSO DE OLIVEIRA APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Primeira Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em não conhecer da apelação.
Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes


Senhores DES. BAYARD NEY DE FREITAS BARCELLOS E DES.ª KATIA
ELENISE OLIVEIRA DA SILVA.
Porto Alegre, 08 de maio de 2019.

DES. GUINTHER SPODE,

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PODER JUDICIÁRIO
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GS
Nº 70080998883 (Nº CNJ: 0071797-65.2019.8.21.7000)
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Presidente e Relator.

RELATÓRIO
DES. GUINTHER SPODE (PRESIDENTE E RELATOR)

Trata-se de recurso de apelação interposto por CADIZ CONSTRUÇÕES


LTDA, porque inconformada com a sentença que julgou improcedente a ação de
consignação em pagamento ajuizado por FABIO SCOTT FERREIRA e LUCIANE
CARDOSO DE OLIVEIRA.

Adoto o relatório do decisum, exarado nos seguintes termos:


Fábio Scott Ferreira e Luciane Cardoso de Oliveira
ajuizaram ação de consignação em pagamento contra Cadiz
Construções Ltda, narrando, em síntese, que, no ano de
2000, ingressaram com a ação tombada sob o nº
086/1.03.0001991-1 em face da construtora ré, versando a
referida demanda acerca de um Contrato de Compra e
Venda, posteriormente transformado em Escritura Pública
com Pacto Adjeto de Alienação Fiduciária em Garantia,
firmado entre as partes para aquisição de um imóvel.
Aduziram que também postularam indenização por danos
materiais, em decorrência dos vícios existentes no imóvel.
Informaram que a aludido processo foi julgado em
27/01/2009 e está pendente do julgamento do recurso de
apelação desde 10/09/2009. Referiu que também
ingressaram com ação revisional de contrato, objetivando
rediscutir o saldo devedor. Relataram que tal processo foi
julgado em 10/12/2008, estando pendente o julgamento de
Recurso Especial. Alegaram que os fatos elencados
demonstram que as partes seguem litigando sobre o imóvel
objeto do contrato antes referido, de modo que não
poderiam ser exigidos quaisquer valores. Aduziram que,
apesar disso, foram surpreendidos com uma intimação do
Registro de Imóveis de Cachoeirinha determinando o
pagamento da quantia de R$ 50.945,84, sob pena de ser
consolidada a propriedade do imóvel antes mencionado em
favor da construtora requerida. Narraram que ingressaram
com ação junto à Justiça Federal visando à liberação do
seu saldo de FGTS para purgar a mora e quitar o imóvel,
tendo o Magistrado declarado a incompetência do juízo.
Relataram que, após tal negativa, ajuizaram ação
declaratória de inexistência de dívida junto à Justiça
Estadual, tendo o Juiz se declarado incompetente para o
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julgamento do feito. Referiram que obtiveram através de


empréstimo o valor necessário para a purga da mora.
Aduziram, no entanto, que ao procurar o representante da
construtora para efetuar o pagamento, foram informados
que ainda deveriam pagar R$ 47.000,00 referente ao uso da
casa durante a tramitação dos processos. Disseram que não
vislumbraram outra solução a não ser o ajuizamento da
presente ação consignatória. Postularam, liminarmente, o
depósito em juízo da quantia exigida, devendo ser garantido
o seu domínio e propriedade sobre o imóvel até o
julgamento das ações pendentes de recurso. No mérito,
postularam a confirmação da liminar requerida.
Postularam o benefício da AJG. Juntaram documentos (fls.
10/41).
Intimada, a parte autora emendou a inicial (fls. 43/44).
Restaram deferidos o pedido liminar e o benefício da
gratuidade da justiça (fls. 45/46). O depósito judicial foi
realizado (fl. 51).
Citada, a parte ré apresentou contestação (fls. 55/66).
Alegou, em síntese, que os autores foram imitidos na posse
do imóvel no ano de 1998 e cessaram os pagamentos
relativos ao contrato a partir de 1999. Referiu que o
depósito realizado em juízo se mostra insuficiente para
purgar a mora, tendo em vista que o valor anteriormente
informado não considerou os consectários decorrentes da
mora, sendo de R$ 111.193,56 o valor total da dívida.
Referiu que o seu crédito é exigível, uma vez que decorrente
do inadimplemento do contrato entabulado entre as partes.
Postulou o levantamento dos valores já depositados e, caso
não seja complementado o depósito, a improcedência da
ação. Acostou documentos (fls. 67/108).
Houve réplica (fl. 111).
Foi deferido o levantamento dos valores depositados (fl.
123).
Realizada perícia contábil, aportou ao feito o respectivo
laudo (fls. 173/184), do qual as partes foram intimadas e se
manifestaram (fls. 186/189 e 190). O Sr. Perito apresentou
resposta aos quesitos complementares (fls. 193/194). As
partes impugnaram o laudo pericial (fls. 196/201, 202/204 e
207/210). O Expert prestou novos esclarecimentos (fls.
212/214). As partes renovaram as impugnações realizadas
(fls. 216/218 e 219).
Encerrada a instrução, foi oportunizado prazo para
apresentação de memoriais, ocasião em que as partes de
manifestaram (fls. 229/231 e 235/239).

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Vieram os autos conclusos para sentença.


É o relatório.

Acrescento que o dispositivo da sentença possui o seguinte teor:


Diante do exposto, considerando que o depósito realizado
não foi integral, JULGO IMPROCEDENTE o pedido
formulado por Fábio Scott Ferreira e Luciane Cardoso de
Oliveira contra Cadiz Construções Ltda, revogando a
liminar deferida.
Em razão da sucumbência, CONDENO a parte autora ao
pagamento das custas processuais, bem como de honorários
advocatícios, que fixo em 10% do valor atualizado da
causa, em favor do patrono da parte ré, considerando o
tempo de tramitação do feito, o trabalho realizado pelo
causídico e a natureza da demanda, com fulcro no art. 85,
§2º, do CPC. Suspendo, no entanto, a exigibilidade do
pagamento de tais verbas, tendo em conta que a parte
autora litigou sob o amparo do benefício da gratuidade da
justiça, na forma do art. 98, §2º e §3º, do CPC.
Essa decisão valerá como título hábil à execução do saldo
não depositado (arts. 899, §2º, do CPC/73 e 545, §2º, do
NCPC), que corresponde ao valor de R$ 17.379,67, que
deverá ser corrigido monetariamente pelo INCC-M, a
contar do laudo pericial (fl. 173/184), e acrescido de juros
moratórios de 1% ao mês, a contar do depósito judicial
realizado de forma insuficiente (fl. 51).

Em suas razões recursais o apelante sustenta que, muito embora a ação de


consignação tenha sido julgada improcedente, a requerida, ora apelada, não pode deixar de
se insurgir quanto ao cálculo apresentado pelo perito que restou homologado. Argumenta
que os autores foram imitidos na posse do imóvel vendido pela ré em 04/08/1998, sendo que
a partir de 08/09/1998, nada mais pagaram. Enfatiza que os autores estão há 20 anos vivendo
no imóvel. Insurge-se quanto ao cálculo, porque restaram desconsiderados os juros de mora.
Requer que seja reformada a decisão a quo.
A parte apresentou contrarrazões consoante fls.274-279, alegando,
preliminarmente, a intempestividade do recurso.
Vieram os autos conclusos para julgamento.

É o relatório.
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VOTOS

DES. GUINTHER SPODE (PRESIDENTE E RELATOR)


Adianto que a preliminar contrarrecursal deve ser acolhida.

Conforme estabelece o artigo 1.003, §5º, do Código de Processo Civil, o


prazo para interpor o recurso de apelação é de 15 dias úteis:

Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se


da data em que os advogados, a sociedade de advogados, a
Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério
Público são intimados da decisão.
(...)
§5° Excetuados os embargos de declaração, o prazo para
interpor os recursos e para responder-lhes é de 15 (quinze)
dias.

Compulsando os autos, verifica-se que a sentença de improcedência da ação


de consignação em pagamento foi publicada no Diário de Justiça Eletrônico por meio da
Nota de expediente nº 847/2018, a qual restou disponibilizada no Diário da Justiça
Eletrônico no dia 07/12/2018.
Destarte, de acordo com o dispositivo legal já mencionado, o prazo final
para a interposição do presente recurso seria em 30/01/2019.
Contudo, em consulta ao sistema informativo deste Tribunal de Justiça, o
presente recurso restou recebido no protocolo geral do Fórum da Comarca de
Cachoeirinha/RS, em 01/02/2019, ou seja, quando já extrapolado o prazo legal para tanto.

Neste sentido, o julgado de caso similar:

APELAÇÃO CÍVEL. DECISÃO MONOCRÁTICA. POSSE.


BENS IMÓVEIS. AÇÃO REIVINDICATÓRIA.
INTEMPESTIVIDADE. Caso em que se mostra intempestivo
o recurso, pois interposto quando já decorrido o prazo do
art. 1.003, § 5° do CPC/15, especialmente considerando que
o pedido de suspensão do prazo não interrompe e nem
suspende o prazo para interposição de recurso.
APELAÇÃO NÃO CONHECIDA. (Apelação Cível Nº
70081217168, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Heleno Tregnago Saraiva, Julgado
em 22/04/2019)
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2019/CÍVEL

Diante do exposto, acolho a preliminar contrarrecursal para não


conhecer do recurso, tendo em vista que intempestivo.

Em face do resultado deste julgamento, majoro os honorários sucumbenciais


do patrono da ré para 15% sobre o valor atualizado da causa, nos termos do § 11º do artigo
85 do Código de Processo Civil.
Mantida a inexigibilidade dos ônus da sucumbência em relação à parte
autora, pois beneficiária da gratuidade de justiça.
É como voto.

DES. BAYARD NEY DE FREITAS BARCELLOS - De acordo com o(a) Relator(a).


DES.ª KATIA ELENISE OLIVEIRA DA SILVA - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. GUINTHER SPODE - Presidente - Apelação Cível nº 70080998883, Comarca de


Cachoeirinha: "À UNANIMIDADE, ACOLHERAM A PRELIMINAR
CONTRARRECURSAL PARA NÃO CONHECER DO RECURSO."

Julgador(a) de 1º Grau: LUCIA RECHDEN LOBATO

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