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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS

GABRIEL SANTANA ARAUJO FERREIRA

GUITARRAS E EFEITOS SONOROS:


A DINÂMICA ENTRE TECNOLOGIAS EMPREGADAS E A
MUSICALIDADE RESULTANTE

Goiânia
2019
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GABRIEL SANTANA ARAUJO FERREIRA

GUITARRAS E EFEITOS SONOROS:


A DINÂMICA ENTRE TECNOLOGIAS EMPREGADAS E A
MUSICALIDADE RESULTANTE

Pré-Projeto de pesquisa apresentado ao Programa de


Pesquisa e Pós-Graduação em Música da Escola de
Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de
Goiás como pré-requisito para a obtenção do título de
LICENCIADO EM MÚSICA – Habilitação em Ensino
Musical Escolar.

Área de Concentração: Música na Contemporaneidade


Linha de Pesquisa: Pesquisa Exploratória
Orientador: Anselmo Guerra

Goiânia
2019
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RESUMO

A guitarra elétrica é um instrumento recente ao se comparar com outros instrumentos


estudados dentro da academia de música. Tendo sua invenção ligada aos avanços
tecnológicos do início do século XX, percebe-se uma constante apropriação e
implementação de novas tecnologias ao que se entende pelo seu formato e timbre no
decorrer dos anos desde sua criação. Entretanto, a percepção comum sobre a influência
destas inovações dentro da criação musical ainda pode se considerar subjugada perante
o estado atual do debate sobre o presente assunto. Este trabalho discute como essas
implementações construíram a organologia do instrumento e como também interferem na
criação musical e identidade musical de quem os utiliza, a partir de revisão bibliográfica e
análise documental, por fim, refletindo sobre este material coletado.

Palavras-chave: ​Organologia da Guitarra; Efeitos Sonoros; Timbre; Musicalidade;


Identidade Musical.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO……………………………………………………………………...
1.1. Apresentação do
Tema…………………………………………………………...
1.2. Justificativa………………………………………………………………………...
1.3. Objetivos…………………………………………………………………………....
1.4. Metodologia………………………………………………………………………...

2. INTERSECÇÃO FLUTUANTE ENTRE RUÍDO E SOM


MUSICAL…………………………………………………………..………………………..

3. A GUITARRA COMO UM INSTRUMENTO AUMENTADO…………………...

4. DA CONCEPÇÃO À VIRTUALIZAÇÃO DA GUITARRA……………………...


4.1. Primórdios: Da década de 1920 até 1960……………………………………..
4.2. Primeiros pedais de efeito: Anos 60…………………………………………...
4.3. Inovações e "Pedalização" dos efeitos sonoros: Anos 70………………...
4.4. A era dos ​racks​: Década de 1980……………………………………………....
4.5. De volta ao ​pedalboard:​ Anos 90……………………………………………….
4.6. Proliferação, experimentalismo e vanguardismo: Século XXI…………....

5. TIMBRE E MUSICALIDADE: ANÁLISE DE CASOS HISTÓRICOS


GLOBAIS SELECIONADOS……………………………………………………………...

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………….

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………………………...………...

APÊNDICES………………………………………………………………………...
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ANEXOS……………………………………………………………………………..
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DA CONCEPÇÃO À VIRTUALIZAÇÃO DA GUITARRA

“A guitarra elétrica, como seu nome indica, é acima de tudo uma ​guitarra
[acústica]” (Lähdeoja, Navarret, Quintans, Sèdes. 2010). A partir deste
pensamento, concluímos que o que a diferencia de seu “parente” musical mais
próximo (o violão) é justamente a ​eletricidade.​ Em outras palavras, o que
possibilita sua deflagração como um instrumento diferenciado é a utilização da
tecnologia em benefício da caracterização do seu som – sua ​sonoridade,​ seu
timbre e possibilidades sonoras.
Tal qual a conhecemos hoje, surge somente no século XX, podendo assim
ser considerada como um instrumento recente ao se comparar com diversos
outros que possuem tradições seculares, como por exemplo, o piano,
desenvolvido por volta dos anos 1700.
Sua invenção foi possibilitada através do advento da energia elétrica e do
domínio de conhecimentos como a captação eletromagnética, duas tecnologias
que estão intimamente ligados a sua composição organológica.
Porém, podemos dizer que “a guitarra elétrica vem passando por
modificações tecnológicas constantes, sem que sua identidade seja
substancialmente alterada” (Castro, 2007). Isto é, diversas implementações a sua
interface, funcionamento e, principalmente, timbre, vem sendo desenvolvidas de
forma consideravelmente acelerada, fundamentando a forma com qual
compreendemos este instrumento, todavia, como o autor coloca, sem deturpar sua
identidade. Podemos dizer que este instrumento não se reduz a sua primeira
implementação, tendo estas “modificações tecnológicas” ocorrendo desde sua
concepção até os dias de hoje.
Ao longo desta pesquisa, percebemos que diversas ferramentas e
tecnologias surgidas devido aos avanços científicos do século XX têm alterado
nossa percepção em relação a ​sonoridade deste instrumento. Podemos definir
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sonoridade como “uma característica imanante do som, mas que se relaciona


simbolicamente com seu contexto de criação, elaboração, uso e significação”
(Castro 2007). A ​sonoridade é então a qualidade sonora pela a qual percebemos
– através de associações construídas simbolicamente e sócio-culturalmente – a
identidade de um objeto sonoro ou mesmo obra musical.
Através do delineamento destas tecnologias que afetam tão profundamente
o desenvolvimento deste instrumento, podemos entender o como percebemos
sonoridade​ da guitarra elétrica.
O uso de tecnologia para a produção do som da guitarra elétrica é
imprescindível à própria concepção do instrumento, pois, fundamentalmente, é o
uso desta que motivou a sua criação. Foi do desejo por parte de violonistas e
inventores de instrumentos musicais de se possuir um violão que produzisse sons
cada vez mais “altos”/potentes, que competíssem com a massa sonora de outros
instrumentos em um conjunto ou orquestra, que levou aos primeiros experimentos
com microfones e amplificadores sonoros, que acabaram resultando no
desenvolvimento do captador eletromagnético, do amplificador e, por
consequëncia, da guitarra.
Desde o princípio, podemos inferir que a guitarra possui um som “artificial”.
Quero dizer com isto que, diferente de outros instrumentos, o som produzido pelo
corpo estrutural desta (caixa de ressonância, braço, cordas, etc) não é o mesmo
som que escutamos, pois este é produzido pela tradução das ondas
eletromagnéticas pelo captador, potencialmente conduzido através de unidades de
efeito e processamento que modificam este sinal, até ser transmitido pelos
alto-falantes de um amplificador (este que também é geralmente dotado de
processamentos sonoros) mais uma vez moldando o som “natural” do instrumento
(Carfoot, 2007).
De acordo com Marcel Eduardo Leal Rocha, “o som passa por um número
de equipamentos elétrico-eletrônicos, artefatos tecnológicos que agem em par
com o elemento humano para resultar na produção sonora final”, desta forma,
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defendendo que a tecnologia implementada por todas estas ferramentas


exteriores ao corpo do instrumento são tão relevante quanto a guitarra em si.
Esta idéia precede uma discussão sobre a guitarra como ​interface do
gestual humano, já que ela é – originalmente – o local tátil de criação e
manipulação técnico-musical durante a performance, enquanto o emissor sonoro é
um objeto extra-corpóreo ao instrumento – o amplificador.

[...] Vemos que a guitarra (o corpo do instrumento) se aproxima mais do


conceito de interface entre o gesto musical e a fonte sonora, que neste
caso é o amplificador de guitarra. E, como tal, permite uma interação
bastante ampla, uma vez que o amplificador (principalmente quando
usado em conjunto com os efeitos) responde ao toque em uma guitarra
de uma maneira diferente da resposta que ocorreria ao toque em seu
parente acústico mais próximo, o violão.” (CASTRO, 2007 ​apud ​LEMME,
2003)

Podemos então perceber a guitarra como um instrumento “aumentado”,


pois o resultado sonoro final – aquele percebido por nossos ouvidos em uma
apresentação musical, por exemplo – é esculpido em conseqüencia de uma
cadeia de tecnologias que modificam um sinal captado original até este resultado
percebido por nosso sistema auditivo. Dizemos que entendemos a guitarra como
um instrumento “aumentado” devido a modularidade percebida por esta rede de
ferramentas que transmitem e modificam o som gerado pelo instrumento, além de
sua própria criação ser concebida através de “hibridizações” tecnológicas que o
possibilitam. Estas características são intrínsecas ao instrumento, conforme
exposto no artigo Electric Guitar: An Augmented Instrument and a Tool for Musical
Composition​:

De forma a se utilizar todo o espectro sonoro do instrumento, o músico


necessita conectar a guitarra a um amplificador, de fato construíndo o
timbre a partir da associação de diversos módulos e zonas de controle
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como por exemplo os potenciômetros de volume e ​tone da própria


guitarra e vários controles do amplificador (Lähdeoja, Navarret, Quintans,
Sèdes. 2010)

Este aparato tecnológico que acerca o resultado sonoro é algo que se


mostra como propositadamente almejado pelo instrumentista, então sendo de
forma consciente ou inconsciente, o guitarrista busca por ferramentas que tornem
sua ​sonoridade a mais única e reconhecível, conforme o instrumentista possua
acesso às tecnologias que busca implementar a sua “rede modular” de criação
timbrística – o músico busca se equipar de ferramentas tecnológicas pra formar
sua identidade músical,
De acordo com ​Lähdeoja, Navarret, Quintans e Sèdes (2007), esta
individualidade sonora do instrumentista é formada por um processo análogo à
“bricolagem”, conforme a definição dada pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss: O
processo de obtenção de uma identidade sonora (timbre e musicalidade)
diferenciada é resultado da soma de diversos fatores na vida do instrumentista – é
a mistura entre os recursos que ele possui disponível, a forma com que ele utiliza,
as formas inusitadas e inovadoras que podem transparecer em seu “som”, tudo
isso perpassando pela influência cultural e social que o indivíduo se encontra.
Hoje, “nunca foi tão fácil, barato e incrivelmente criativo produzir timbres
cada vez mais perfeitos e originais dentro de sua própria casa” (Martins, 2004).
Isto devido a uma crescente acessibilidade aos diversos equipamentos de
modelagem sonora disponíveis no mercado aos instrumentistas – estes
equipamentos por sua vez , podemos dizer que são aliados fundamentais nesta
“produção de timbres cada vez mais originais”, aliados a musicalidade advinda do
tocar​, da habilidade técnica, composicional e improvisacional do guitarrista, desta
forma, são “atributos originados não apenas nas mãos dos guitarristas, mas
também a partir do processamento sonoro de seus instrumentos cujo sinal
passava por pedais e racks de efeitos (Rocha, 2011)
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No decorrer deste capítulo, será concisamente delineado a trajetória deste


instrumento, desde suas origens voltadas a resolver o problema de projeção
sonora do violão, até as novas fronteiras de possibilidades que se apresentam
atualmente à guitarra elétrica, com sua iminente virtualização.
Veremos também que esta constante implementação tecnológica no fazer
artístico dos instrumentistas ao longo das décadas de desenvolvimento da guitarra
elétrica é explicitamente ligado tanto à disponibilidade de novas ferramentas, tão
como o criativo re-aproveitamento de tecnologias não desenvolvidas para práticas
musicais (ou mesmo para as finalidades as quais acabaram sendo
implementadas).

Primórdios: Da década de 1920 até 1960


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